- O documento descreve a Guerra do Paraguai entre 1864-1870, que envolveu Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai em um longo conflito que deixou dezenas de milhares de mortos e enfraqueceu o Império Brasileiro. O documento também discute a abolição da escravidão no Brasil em 1888.
2. A Batalha do Avaí (1872-1877), óleo sobre tela de Pedro Américo (1843-1905),
representa um momento decisivo da Guerra do Paraguai.
A Crise do Segundo Reinado
3. Até recentemente, o fim da escravidão era comemorado no dia 13 de maio, já que
nesse dia, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, que aboliu oficialmente o trabalho
escravo.
A reação do movimento negro foi reconhecida como legítima pelo povo brasileiro, e assim,
em janeiro de 2003, foi estabelecido o dia 20 de novembro, como Dia Nacional da
Consciência Negra, data que faz alusão à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
Entretanto, a data não era aceita pelo movimento negro, já que a comemoração dava a
impressão de que a Lei Áurea havia sido um presente dado pelo governo aos escravos, além
de deixar de lado a luta de milhares de pessoas, brancas e negras, contra a violência e a
escravidão.
A Crise do Segundo Reinado
4. Essa questão deu origem ao considerado maior conflito da América do Sul, a Guerra do
Paraguai, que se estendeu de 1864 a 1870, deixando dezenas de milhares de mortos e
abalando as estruturas do Império Brasileiro.
Apesar disso, não conseguiu desviar o foco dos diplomatas e homens públicos brasileiros: a
demarcação das fronteiras do sul do país.
Com o intuito de restabelecer a ordem política e social do Brasil, abalada durante o Período
Regencial e o início do Segundo Reinado, dom Pedro II promoveu algumas mudanças
políticas.
Um Foco de Problemas
5. O Paraguai apoiava o governo do presidente uruguaio, que foi deposto com a ajuda do Brasil.
O Paraguai não aceitava a intervenção brasileira nos assuntos internos do Uruguai.
Em agosto de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai com o objetivo de derrubar o
governo vigente e ajudar a oposição a tomar o poder.
Além dessa questão, tanto o Brasil quanto a Argentina procuravam influenciar a política
interna do Uruguai.
Em meados do século XIX, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – que haviam conquistado a
independência havia poucas décadas – ainda não tinham definido suas fronteiras e temiam
que apenas um deles pudesse controlar a navegação dos rios Paraná e Prata e o estuário do
rio da Prata – regiões importantes para o escoamento dos produtos destinados à exportação.
A Guerra do Paraguai
Como resposta à intervenção brasileira na política uruguaia,
o governo paraguaio declarou guerra ao Brasil em dezembro de 1864, invadindo assim as
terras de Mato Grosso.
7. Em janeiro de 1865, o governo paraguaio solicitou autorização à Argentina para
que suas tropas cruzassem o território argentino rumo ao Uruguai com o objetivo
de restabelecer o poder do governo deposto.
A guerra envolveu os quatro países (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) em um longo e
sangrento conflito, que levou homens, mulheres e crianças à morte, numa lenta
conquista de posições que ocupava povoados e cidades inteiros.
Diante desses fatos, o governo brasileiro firmou acordo com os governos da Argentina e
do Uruguai, num documento conhecido como Tratado da Tríplice Aliança, que tinha
como objetivo tirar o poder de Solano López (presidente do Paraguai) e proteger o livre
acesso dos três países à região disputada.
Os argentinos negaram o pedido, o que levou o Paraguai a declarar
guerra à Argentina.
A Tríplice Aliança
8. Os acampamentos militares
tinham problemas sanitários e
os soldados estavam
subnutridos, tendo sido
assolados por epidemias de
cólera e varíola, o que
contribuiu para tornar a guerra
cada vez mais impopular entre a
população brasileira,
provocando muitas críticas em
relação ao governo imperial.
Charge de Ângelo Agostini representa o general Francisco Solano López se divertindo ao fotografar acampamento do
exército brasileiro. O presidente paraguaio e seus oficiais consideravam as tropas brasileiras inferiores ao seu exército,
segundo jornais paraguaios da época.
Críticas ao Governo Imperial
9. O Paraguai saiu da guerra arrasado, com suas cidades e economia destruídas, a população
masculina dizimada e a perda de parte de seu território para os adversários.
No Brasil, estima-se que pelo menos
30 mil soldados tenham morrido e a
economia brasileira se enfraqueceu
por conta dos altos custos da guerra.
A única consequência
boa para o Brasil foi o
fortalecimento do Exército, que a
partir de então se tornou uma força
política importante para o império.
A Guerra do Paraguai só terminou em 1870, quando as tropas aliadas conseguiram cercar e
matar Solano López.
Esta fotografia, de cerca de 1867, mostra uma família paraguaia. Na
imagem, estão retratadas apenas mulheres e crianças, pois os homens em
sua quase totalidade haviam sido convocados pelo exército paraguaio.
As Conseqüências da Guerra
10. Com o início da Guerra do Paraguai,
visando aumentar o efetivo do Exército,
o governo criou uma força especial
denominada Voluntários da Pátria, que
recebia homens que se alistassem,
aparentemente, por vontade própria;
entretanto, na prática, muitos jovens
eram recrutados à força.
Até a Guerra do Paraguai, as Forças
Armadas eram compostas de cerca de 18
mil militares despreparados e com pouco
armamento – até então, os negros não
podiam fazer parte do Exército.
Quem fazia parte do Exército Brasileiro?
11. Os Voluntários da Pátria reuniam pessoas de diferentes origens: pobres, classe
média urbana e negros livres, já que os membros da elite evitavam se alistar,
preferindo pagar para que outra pessoa fosse em seu lugar, o que era permitido na
época.
A maior parte dos soldados mobilizados pelo Exército brasileiro na Guerra do Paraguai, era
composta de negros e mestiços, supondo-se que alguns tenham se alistado em troca da
liberdade.
Além disso, em 1866, foi aprovada uma lei que concedia a liberdade aos escravos dispostos a
lutar na guerra. Assim, muitos deles se alistaram e partiram para o campo de batalha, numa
medida que fez com que o Exército brasileiro passasse a contar com cerca de 139 mil
combatentes.
Além dos Voluntários da Pátria, o governo incorporou ao Exército a Guarda Nacional, que era
formada por civis e não tinha nem a mesma disciplina nem a mesma organização do Exército.
Quem fazia parte do Exército Brasileiro?
12. Indígenas de algumas etnias também
participaram da guerra. Terenas, Guarás,
Kadiwéus, Bororos e Kayapós trabalhavam
abrindo trilhas na mata, fazendo
reconhecimento do território e protegendo
as fronteiras.
Soldados da etnia Terena e
Kadiwéu durante a Guerra do
Paraguai.
Mulheres também participaram da guerra
fabricando munição, cuidando dos feridos e
preparando a comida dos soldados. Em alguns
casos elas também iam para o campo de
batalha.
Quem fazia parte do Exército Brasileiro?
13. Por outro lado, os cativos eram a
principal mão de obra nas lavouras
cafeicultoras, o que colocou o governo
em posição de impasse, já que o fim
da escravidão representaria a perda
do apoio político dos produtores de
café.
Ilustração de Ângelo Agostini (publicada na revista A Vida Fluminense,
Rio de Janeiro) que representa o desfile e a festa na chegada dos
soldados brasileiros vindos do Paraguai em 1870, após a guerra.
Durante a Guerra do Paraguai, negros e
brancos lutaram em torno do mesmo
ideal, o que, ao fim do conflito, levou ao
questionamento por parte dos soldados
brancos, da manutenção do sistema
escravista.
A Campanha Abolicionista
14. A Inglaterra era a principal crítica da manutenção do sistema escravista
no Brasil.
Os fazendeiros da região Sudeste passaram a comprar cativos de outras regiões, em especial
do nordeste, estimando-se que, num período de 35 anos, cerca de 300 mil escravos do
nordeste tenham sido vendidos para produtores agrícolas do sudeste.
Com a aprovação da Lei Eusébio de Queirós, houve um aumento do comércio de escravos
entre as regiões do Brasil.
Além do argumento humanitário, os ingleses buscavam o aumento do mercado consumidor
para suas mercadorias. Dessa forma, defendiam a ideia de que os fazendeiros deveriam
investir em maquinário, e não em mais escravos.
Os Interesses da Inglaterra
15. O surgimento de associações abolicionistas em todo o
país, somado à pressão inglesa pelo fim do sistema
escravista, deram início à Campanha abolicionista.
Na segunda metade do século XIX, as formas de luta
se intensificaram e muitos escravos conseguiram,
assim, escapar de seus senhores e se emancipar.
Os escravos buscavam, por meio de reivindicações
judiciais, fugas e motins, resistir à sua condição e
conseguir a liberdade.
Primeira página de exemplar do jornal abolicionista O
Amigo do Escravo, que circulou no Rio de Janeiro em
1883.
Finalmente, é Abolida a Escravidão
16. Após longos e polêmicos debates, em 28 de setembro de 1871, a Assembleia Geral
(que reunia a Câmara dos Deputados e o Senado) aprovou a Lei do Ventre Livre, que
estabelecia que os filhos de escravos que nascessem a partir daquela data seriam
considerados livres.
Na prática, a lei era mais uma forma de o governo ganhar tempo e não se desgastar junto aos
proprietários de escravos.
Entretanto, havia uma condição: essas crianças permaneceriam sob os cuidados do senhor
até os 8 anos de idade – após esse período, o proprietário poderia doar a criança ao governo
em troca de uma indenização ou permanecer com ela até que completasse 21 anos. Por todo
esse tempo, ela trabalharia para o proprietário.
Finalmente, é Abolida a Escravidão
17. • A partir da década de 1880, a Campanha
abolicionista foi às ruas, unindo pessoas das
mais variadas classes sociais num movimento
que ganhava grandes proporções;
Representação do político e escritor Joaquim Nabuco (1849-1910), líder antiescravista, em
caricatura de Pereira Neto para o jornal O Mequetrefe, de 1881. Na charge, o também diplomata
faz campanha eleitoral em que apregoa suas ideias de emancipação dos escravos.
• No Ceará, um grupo de jangadeiros se
recusou a transportar escravos para os
navios que os levariam a outras regiões do
país.
• Em diversas regiões do Brasil surgiu todo tipo de
organização abolicionista, entre as quais, podemos
destacar jornais e charges pró-abolição;
Finalmente, é Abolida a Escravidão
18. Em 1885, tentando não desagradar nem aos grandes fazendeiros nem aos abolicionistas, o
governo aprovou a Lei dos Sexagenários, que concedia a liberdade a todos os escravos com
mais de 60 anos.
Cerca de 720 mil escravos foram libertados.
Assim, em 13 de maio de 1888, o governo aprovou a Lei Áurea, pela qual era abolida a
escravidão no Brasil.
Nesse contexto, poucos ainda defendiam a escravidão, tendo em vista que até nas fazendas
de café, já se procurava outra alternativa para substituir a mão de obra escrava: os imigrantes.
A Lei dos Sexagenários também não produziu os efeitos desejados, já que poucos escravos
chegavam aos 60 anos causa dos longos anos de trabalho pesado a que eram submetidos.
Finalmente, é Abolida a Escravidão
19. Com a Lei Áurea, muitos fazendeiros que ainda apoiavam o governo de dom Pedro II
passaram a fazer oposição a ele, o que fez com que o governo imperial ficasse cada
vez mais isolado, até que, em 1889, o imperador foi deposto por militares, que
implantaram a República no Brasil.
Festa diante da Câmara Municipal da
cidade de Penedo (AL) logo após a
notícia da Lei da Abolição, 1888.
Finalmente, é Abolida a Escravidão