1) O documento discute a importância da qualidade e da gerência de riscos para as seguradoras brasileiras.
2) Ele argumenta que o treinamento de técnicos e a aplicação de conceitos de gerência de riscos pelas seguradoras são fundamentais para avaliar corretamente os riscos dos contratos de seguros.
3) Também defende que as seguradoras devem se engajar mais no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade para incorporar aspectos da gestão da qualidade na avaliação de riscos.
Tábuas biométricas de mortalidade e sobrevivência fenaseg
A qualidade e o gerenciamento de riscos
1.
2. Gerência de Riscos
Trabalhando com qualidade
o treinamento de técnicos e a colocação emprática dos conceitos de gerência
de riscos pelas seguradoras são fundamentais para o conhecimento e avaliação dos tipos
de perdas repassáveis a um contrato de seguros
uito se tem dito sobre a qua- pressionar os órgãos de
lidade, inclusive como uma
M
classe das seguradoras
das panacéias da humani- com vistas a revisões de
dade. Fala-se sobre a quali- tarifas.
dade de produto, qualidade de aten- Qualidade é um concei-
dimento, qualidade de fabricação e ou- to tão abrangente que che-
tras qualidades mais. ga a ser quase abstrato.
Quando a gerência de riscos foi lan- Quem nunca ouviu falarda
çada no Brasil, muito também se falava qualidade do aço das espa-
nela. Inclusive que, a partir da sua im- das de Toledo, ou da qua-
plantação, a aceitação dos riscos vulto- lidade da pintura flamenga
sos seria. bem melhor. O engenheiro do século XVII, ou das pis-
Antônio Femando Navarro traça um tolas Lugger? Em princí-
paralelo entre a gerência de riscos e a pio, a qualidade está
qualidade, aplicando os conceitos ad- voltada para o aspecto da
quiridos na área de seguros. robustez ou da durabili-
A gerência de riscos é uma técnica de dade de um produto. Em
análise qualitativa e quantitativa, que linhas gerais, dentro desta
busca identificar, avaliar e tratar riscos conceituação, talvez não
emergenciais ou latentes, que possam estivesse em jogo os an-
provocar perdas financeiras, pessoais, Antônio Fernando Navarro seios ou necessidades do
patrimoniais, de imagem e de respon- consumidor, mas tão so-
sabilidades, afetando bens ou insta- riscos, voltados para a prevenção das mente a aparência do produto. Porém,
lações. O gerenciamento de riscos é um perdas e o controle dos contratos de sua conceituação não é bem esta. (Ver
contínuo processo de busca de defeitos seguros. Graças a esses, houve uma o quadro.)
com vistas à sua prevenção. É um pro- sensível redução dos montantes de prê- "Comose vê", diz Navarro, "pelasde-
cesso dinâmico, que incorpora uma sé- mios de seguros pagos. Outro fato tam- finições é errôneo pensar somente em
rie de técnicas de caráter preventivo, bém interessante é que com a criação da robustez ou durabilidade,quando se fala
enfocando o patrimônio da empresa, associação que englobava os setores de em qualidade,que é mais um atendimen-
afetando ou sendo afetado por perdas. todas essas empresas, começou-se a to aos anseios de um consumidor."
No Brasil, segundo Navarro, logo
que implantada em fins da década de
70, a gerência de riscos passou a atuar Qualidade - é a característica de um produto capaz de servir a um propósito ou
na área de análise de riscos, voltada à atingir um objetivo, obtida ao menor custo possível;
Tolerância
assunção, por parte das seguradoras, de - é assim denominada a diferença existente entre as características
seguros incêndio-vultosos. "Porproble- teóricas fixadas em projeto e as que foram verificadas na prática,
mas diversos, inclusive falta de treina- como resultantes da execução do mesmo projeto;
mento específico por parte da
Controle da Qualidade - tem por objetivo verificar, segundo critérios técnicos, a qualidade
dos produtos obtidos, a orientar esforços para a melhoria de projeto
Funenseg, o caráter obrigatório trans- e de fabricação e a permitir que a produção seja realizada em níveis
formou-se em facultativo. A idéia ini- mais econômicos, com observância de exigências técnicas que
cial, porém, foi preservada pelas permitam o produto atingir o fim ou servir à finalidade para a qual
tenha sido destinado.
seguradoras", diz Navarro. Um fato que Garantia da Qualidade
cabe ser destacado, continua o enge- - é uma provisâo de evidências ou provas de que os requisitos
contratuais foram atingidos e observados.
nheiro, é que as grandes empresas, com Confiabilidade
- é a expressão de capacidade que um produto revela para funcionar
alto valor de patrimônio, criaram depar- com êxito, em dado período e em certo ambiente.
tamentos e setores de gerenciamento de
28 A PREVIDÊNCIA, NOV/DEZ, 1991
3. ,
I
o governo federal, dentro do 32 Plano "Por ocasião do 32 Plano Básico de A norma NBR 19004 da ABNT,
Básico de Desenvolvimento Científico e . DesenvolvimentoCientíficoe Tecnol6- "Gestão da Qualidade e Elementos do
Tecnol6gico (1980/1985), alocou alta gico", diz Navarro, "tive a oportunidade Sistema da Qualidade -
Diretrizes",
prioridaue à formulação e execução de de representar o mercado segurador nas também conhecida como ISO 9004, lo-
uma política brasileira em metrologia, reuniões setoriais e subcomitês. O enfo- go em seu início menciona que, para a
normalização e qualidade industrial, vi- que da participação das seguradoras, en- empresa ser bem sucedida deverá ofe-
sando à adoção integral do Sistema Inter- tão, era o de apoiar a iniciativa do recer produtos ou serviços que:
nacional de Unidades, à implementação
da Metrologia Legal, Científica e Indus-
governo, de implantação de um programa
de certificação, através de um estudo de · Correspondam a uma necessidade,
trial, bem como à estruturação de um
sistema de conformidade capaz de avaliar
reduções de taxas de seguros para os
produtos certificados pelo INMElRO.
Na ocasião, discutiu-se a inviabilidade da
·
utilização ou aplicação bem defmida;
Satisfaçam às expectativas dos
consumidores;
e atestar o controle de qualidade realizado
pelas empresas. O objetivo era a coloca- proposta quando enfocada de forma iso- ·Atendam a normas e especificações
ção do produto brasileiro nos mercados
interno e externo, bem como a defesa do
lada, abrangendo apenas produtos e não
sistemas. Aproveitamos a oportunidade ·
aplicáveis;
Atendam a requisitos regulamen-
tares da sociedade;
consumidor e a compatibilização do sis-
tema de Certificação de Conformidade
para apresentar uma proposta que abran-
gia, inclusive, a revisão das tarifas de · Estejam disponíveis a preços com-
do país com os procedimentos interna-
cionais adotados, inclusive, a nível do
Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegá-
seguros. "
As soluções para a integração a esse
chamamento do governo poderão ser inú-
·
petitivos;
Sejam providos a um custo que pro-
porcione lucro.
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rias e Comércio, GATI. meras, passando porém, necessaria-
Mais recentemente, o governo fede- mente, pela revisão dos atuais conceitos. A mesma norma, nas considerações
ral, em uma nova investi da na área, Navarro apresenta algumas sugestões: relativas aos riscos para a empresa,
lançou, em 7 de novembro de 1990, o 1. Criação de um f6rum de debates menciona: "Devem ser considerados os
Programa Brasileiro da Qualidade e encarregado de ouvir e propor ao mer- riscos relativos aos produtos ou servi-
Produtividade, PBQP, instituindo, atra- cado modificações nos atuais planos de ços deficientes que acarretem a perda
vés do decreto 99.675, o Comitê Nacio- seguros; de imagem ou reputação, perda de mer-
nal da Qualidade e Produtividade, e do 2. Desenvolvimento de uma nova cado, queixas, reclamações, respon-
decreto 99.676, o ano de 1991 como o mentalidade tarifária onde todos os des- sabilidades civis e desperdício de
Ano da Qualidade e Produtividade. contos possíveis, devidos a fatores am- recursos humanos e financeiros."
O PBQP foi dividido em subprogra- bientais, operacionais ou de proteção, já "Ora", continua Navarro, "se os pre-
mas gerais enfocando conscientização e fossem incorporados às taxas. Caso as ços têm que ser competitivos, deve-se
motivação para a qualidade e produtivi- inspeções de riscos demonstrassem a evitar que a empresa tenha custos adi-
dade; desenvolvimento e métodos de não existência dessas condições rele- cionais repondo perdas patrimoniais fa-
gestão; capacitação de recursos huma- vantes, agravar-se-iam as taxas. Com cilmente repassáveis a uma seguradora,
nos; adequação dos serviços tecnol6gicos isso haveria uma sensível redução no o mesmo ocorrendo com os riscos de
para a qualidade; articulação institucio- número de processos e nos trabalhos responsabilidade civil. Observe-se que
naI. Interagindo matricialmente com os das comissões, que passariam a ser me- o seguro está intimamente ligado ao
subprogramas gerais foram desen- ramente 6rgãos de consulta e aprimora- Programa de Qualidade, visto ser um
volvidos os subprogramas setoriais mento das condições tarifárias. elemento de reparação das perdas da
abrangendo: complexos industriais; seg- 3. O mercado segurador deve passar a empresa. Além deste fato, as segura-
mentos da administração pública; pro- trabalhar com uma taxa líquida de resse- doras trabalham de forma preventiva
gramas estaduais e demais setores da guro, fornecida pelo ou pelos ressegura- aos riscos, com todo um programa de
economia. . dores. A seguradora apresentaria a seu análise de riscos e mesmo de gerencia-
O subcomitê que envolve o mercado cliente essa taxa acrescida dos carrega- mento de riscos. O que se deve fazer é
segurador é o da Avaliação Institucional, mentos normais praticados. Dentro dessa agrupar estes conceitos, voltando-os
promovendo a articulação entre o gover- linha, a menor taxa seria a da seguradora para a qualidade."
no, indústria, comércio, setor de serviços que apresentasse o menor carregamento. Que o Programa Brasileiro da Quali-
e entidades de educação, ciência e tecno- Porém, a taxa devido ao risco seria pre- dade e Produtividade é irreversível não
logia, visando ao desenvolvimento da servada, evitando-se o problema comen- se tem qualquer dúvida. Que é necessá-
qualidade e produtividade. Objetiva-se a tado anteriormente, onde os níveis de rio ao nosso desenvolvimento, também
atuação junto às empresas e entidades descontos chegaram a limites impensá- não. O que se questiona é que o mercado
seguradoJ;aS,com vistas à incorporação, veis. Cada ressegurador cobraria de acor- segurador brasileiro não está ainda pre-
na avaliação de riscos, de aspectos rela- do com a sua experiência, descar- parado para raciocinar em qualidade.
cionados à gestão da qualidade. Obvia- telizandoo mercado. "Neste momento estamos precisando
mente, pretende-se que as seguradoras, 4. Através de fundações de ensino de divulgação e de conscientização da
parte interessada na prevenção de perdas, seriam criados cursos específicos, que importância da qualidade como vetor
venham a se engajar na política do gover- permitissem uma completa análise do do crescimento das empresas", conclui
no. risco assumido pelo segurador. Navarro. 8
A PREVID~NCIA. NOV/DEZ, 1991