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Car regando o Brasil nas costas:
      trabalho e saúde das
trabalhadoras e trabalhadores
    do ramo de transportes
                                       AUTORA
                                      Leny Sato
 Doutora em Psicologia Social, professora do Departamento de Psicologia Social e do
          Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.


                                     COLABORADORES
  Diretores da CNTT-CUT: Marta Carlota de Oliveira, Eduardo Alves Pacheco, João Braz Pereira,
 Luiz Antonio de Queiroz. Coordenadora de secretaria da CNTT-CUT: Tania Macedo. Secretário de
   Saúde do Sindicato dos Metroviários de São Paulo: Sérgio Roque. À CC.OO. (Federación de
 Comunicación y Transporte) um agradecimento especial pelo rico material produzido sobre condi-
ções de trabalho e saúde das trabalhadoras e trabalhadores no ramo de transporte, o qual forneceu
                     subsídios importantes para a elaboração desse manual.
Trabalhadores no ramo de transportes




             Índice




             APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5



             CARREGANDO O
             BRASIL NAS COSTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6



             CONDIÇÕES DE TRABALHO
             E SAÚDE DAS
             TRABALHADORAS(ES)
             EM TRANSPORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8



             A AÇÃO DAS
             ENTIDADES SINDICAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18



             ENRIQUECENDO AS
             INFORMAÇÕES
             SOBRE A SAÚDE
             DOS TRABALHADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20




                                                           -4-
Apresentação


    A CNTT-CUT vem participando de diversas atividades ligadas ao tema
Saúde e Condições de Trabalho das trabalhadoras(es) em transportes. Seja
por terra, água ou ar, este é um assunto que tem merecido nossa atenção.
    Neste caderno, abordaremos de forma suscinta, alguns agentes causado-
res de sofrimento, doenças e lesões, assim como as ações que estamos
desenvolvendo no sentido de orientar os sindicatos no reconhecimento das
causas e encaminhamento das soluções necessárias. Questões como as
novas tecnologias, que estão sendo implementadas nos sistemas de transpor-
tes, que deveriam estar voltadas também a amenizar a exposição dos traba-
lhadores a condições de penúria, são impostas sem que se discutam seus
riscos e benefícios.
    É preciso reconhecer que, "carregar o Brasil nas costas" é tarefa de muita
responsabilidade, que requer seja reconhecida como atividade essencial
também na hora de discutir condições de trabalho para quem a realiza.
    Com esta simples leitura você conhecerá um pouco da história dessa cate-
goria que, embora tão explorada, sente-se orgulhosa por ser responsável pelo
transporte do progresso do país. Falam com palavras simples e gírias, muitas
vezes se sentem incompreendidos e discriminados devido a falta de prioridade
de alguns governos no que concerne às questões relacionadas a melhorias,
sejam salariais, de condições de trabalho, saúde, entre outras que não são
menos importantes.
    Ora! Se as empresas investem na manutenção de seus maquinários, veí-
culos e outros bens, nada mais justo que invista para que trabalhadoras(es)
também estejam em boas condições, inclusive de satisfação pessoal. Que
valorizem o trabalho desses profissionais!




                                                   Remigio Todeschini
                                                  Executiva Nacional da CUT e
 A DIREÇÃO DACNTT-CUT                       Coordenador do Coletivo Nacional deSaúde
                                                  no Trabalho e Meio Ambiente




                                     -5 -
Trabalhadores no ramo de transportes

         CARREGANDO O                                  uso em outras indústrias, enfim, uma infini-
       BRASIL NAS COSTAS...                            dade de coisas. Trabalhadoras(es) do setor
                                                       primário, plantam, colhem e extraem miné-
    Certo dia, na cidade de São Paulo, um              rios. Mas quem os faz chegar em seus desti-
motorista de ônibus urbano, ao fim de uma              nos são as trabalhadoras(es) em transporte.
longa conversa, com um misto de desabafo e             São essas trabalhadoras e trabalhadores
de orgulho, disse: "o motorista é totalmente o         que dinamizam a economia, garantindo o
progresso do país".                                    funcionamento do mercado e a vida social.
    Antes, ele falava sobre o seu trabalho,            E, mais ainda, garantem o transporte de tra-
sobre as dificuldades em realizá-lo, mas               balhadoras(es) para seus locais de trabalho,
também sobre aquilo que lhe dava satisfação,           de seus filhos para as escolas, para as
numa conversa cheia de gírias e jargões pró-           festas, para os estádios de futebol e para os
prios da linguagem da categoria, relatando             sindicatos. Transportam também os empre-
acontecimentos que só os que pertencem a               sários e executivos para fechar seus negó-
essa categoria profissional vivem e testemu-           cios e os políticos.
nham.                                                      E carrega-se por ar, por terra e por mar...
    Essa é uma das                                                                  O ramo de trans-
frases que transmite                                                            portes define-se como
uma das idéias que                                                              aquele que presta ser-
pode ajudar a caracte-                                                          viços, o que provê ser-
rizar o que é o trabalho                                                        viços essenciais à
no ramo de transpor-                                                            população.        Como
tes. Juntamente com                                                             também dizem algu-
ela, vem uma outra                                                              mas         trabalhado-
frase dita por trabalha-                                                        ras(es), "é um gênero
doras(es) desse ramo,                                                           de primeira necessi-
que é:                                                                          dade". E, se assim
    "a gente carrega o                                                          não fôsse, não existi-
Brasil nas costas".                                                             ria um dispositivo
    O sentido dessa                                                             específico na lei de
frase     leva-nos     a                                                        greve que põe algu-
pensar no complexo                                                              mas restrições quanto
produtivo e de traba-                                                           à realização de parali-
lho do Brasil. Ve m o s                                                         sações nesse ramo,
que trabalhadoras(es)                                                           tais como a exigência
dos ramos industriais                                                           em notificar com ante-
fabricam bens mate-                                                             cedência a decisão da
riais, como os alimen-                                                          categoria em realizá-
tos, o vestuário, os                                                            la e a manutenção de
eletrodomésticos, as                                                            um mínimo de funcio-
máquinas, os remé-                                                              namento de atividade
dios, os automóveis,                                                            (por exemplo: manter
a materia-prima para                                                            uma porcentagem da

                                                 -6-
frota em funcionamento). Essa lei refere-se                          Setores que compõem
aos serviços considerados essenciais, como                           o ramo de transportes
é o caso também das trabalhadoras(es) no
setor saúde.                                                    A história das trabalhadoras(es) em trans-
     Os outros segmentos de trabalhadoras(es)               porte no Brasil está intimamente relacionada
também consideram o ramo de transportes                     com a política nacional adotada pelos sucessi-
essencial, e isso pode ser observado em situa-              vos governos para esse ramo. Tais políticas
ções de greves. Uma greve no setor ferroviário,             levaram ao crescimento e à diminuição de
portuário, marítimo e de transporte rodoviário              investimentos e de incentivos aos distintos
de cargas pode levar à interrupção de abasteci-             meios de transporte existentes. Assim, presen-
mento de bens de consumo; no setor metroviá-                ciamos hoje o longo processo de desmantela-
rio, ferroviário, aeroportuário e rodoviário inter-         mento do transporte ferroviário que deu espaço
municipal e interestadual pode significar que               às grandes rodovias e, com isso o crescimento,
pessoas não irão trabalhar, não irão à escola ...           da categoria de trabalhadoras(es) rodoviários e
Uma greve no ramo de transportes certamente                 a diminuição dos ferroviários. Nos grandes cen-
trará repercussões em outros setores do traba-              tros urbanos emerge a categoria dos metroviá-
lho e da economia, pois interrompe-se um elo                rios a partir da década de 70. Grandes empre-
importante do ciclo produtivo.                              sários centralizam o setor rodoviário e aéreo,
     O caderno de resoluções do IV Congresso                formando um verdadeiro cartel. Privatizam-se
da CNTT/CUT assim define o setor de trans-                  rodovias e empresas de transporte. Também
portes:                                                     como decorrência da política nacional de trans-
     "Uma característica essencial dos transpor-            portes, observam-se diferenças de oferta de
tes é que eles não constituem um fim em si                  meios de transporte nas áreas urbanas e rurais
mesmo. Ao contrário, eles devem ser pensados                do Brasil. Em geral, os moradores das zonas
como atividades meio, isto é, como alavanca                 rurais têm poucos meios de transportes coleti-
fundamental para o processo de desenvolvi-                  vos, sendo que muitos deles, como é o caso
mento econômico e social do País. Os trans-                 dos bóias-frias, são transportados em cami-
portes constituem assim, um setor estratégico               nhões, expondo-os a maiores riscos de aciden-
para a melhoria da mobilidade das pessoas e                 tes de trajeto.
de bens , contribuindo dessa forma para a                       Apolítica de transportes no Brasil incentivou
melhoria da qualidade de vida" (p. 18)                      o transporte individual, articulando-se ao cresci-
     Uma outra característica também impor-                 mento da indústria automobilística, em detri-
tante, presente em quase todas as atividades                mento do transporte coletivo. Assim, fez uma
desse ramo, é o fato de os usuários (os consu-              opção política e pouco democrática, já que esta
midores) estarem presentes no momento em                    opção sustenta-se no poder de consumo indivi-
que o serviço é prestado (consumido). Como                  dual das cidadãs(ãos).
será visto adiante, isso tem implicações impor-                 A CUT tem em sua base cerca de 703.463
tantes para as condições de trabalho e para a               trabalhadoras(es) dos setores de transporte
saúde das trabalhadoras(es), mas, ao mesmo                  Aéreo, Terrestre e Marítimo
tempo, significa a possibilidade de ter nos usuá-               Há uma grande diversidade de situações de
rios - muitos deles também trabalhadoras(es) -              trabalho internamente a esse ramo o que impli-
um aliado importante para a conquista de                    cará em condições de trabalho variadas. Disso
melhoria de condições de trabalho.                          decorrem diversos problemas de saúde e as

                                                      -7-
Trabalhadores no ramo de transportes
ameaças à integridade física das trabalhado-               de funções e cargos. Estão presentes, por
ras(es).                                                   exemplo, a secretária, o controlador de tráfego,
    A prática sindical visando a melhoria das              o conferente de cargas portuárias, o cobra-
condições de trabalho e saúde requer a adoção              dor/trocador de ônibus, o bilheteiro de uma
de estratégias e meios para reconhecer e equa-             estação de metrô, o funileiro, o mecânico, o
cionar esses problemas bem como para enca-                 pintor. Essa é apenas parte de uma longa lista
minhar a sua resolução.                                    de trabalhadoras(es) que, além dos operado-
                                                           res, estão envolvidos na garantia dos desloca-
   CONDIÇÕES DE TRABALHO                                   mentos, lista esta impossível de ser esgotada
         E SAÚDE DAS                                       nesse manual.
    TRABALHADORAS(ES) EM                                       Essa grande diversidade tem implicações
         TRANSPORTE                                        diretas na conformação das condições de tra-
                                                           balho e, portanto, dos riscos aos quais os traba-
    É muito fácil ter-se a idéia de que o ramo de          lhadoras(es) estão expostos. Estão presentes
transporte congrega apenas aqueles trabalha-               riscos de natureza:
dores que operam os                                                                  física, como o ruído,
meios de transporte,                                                                vibração e radiação;
como por exemplo, o                                                                  química, como os
motorista, o motor-                                                                 solventes e metais
neiro, o operador de                                                                pesados;
metrô, o piloto de aero-                                                             mecânica, como
naves. No entanto,                                                                  aqueles que provocam
deslocar pessoas e                                                                  acidentes de trabalho
coisas envolve um                                                                   (máquinas e equipa-
complexo       processo                                                             mentos);
que garanta a condi-                                                                 ergonômica, como a
ção dos meios para                                                                  exigência de adoção de
que o transporte se dê,                                                             posturas incômodas e
bem como a própria                                                                  forçadas;
atividade de transpor-                                                               as situações decor-
tar. Isto exige ativida-                                                            rentes da forma como
des características do                                                              se organiza o processo
setor industrial (por exemplo nas atividades de            de trabalho, como o trabalho em turnos e
manutenção) e de serviços propriamente (ope-               noturno, o trabalho aos finais de semana, o
ração, administração e tráfego). Internamente a            ritmo de trabalho, as relações interpessoais, o
cada um desses tipos de atividade - manuten-               conteúdo do trabalho.
ção, operação, administração e tráfego - há
também diferenças importantes quando se                        O quê determina as condições
compara os setores Rodoviário, Aéreo, Ferro-                       de trabalho e a saúde
viário, Metroviário, Viário e Portuário.                          das trabalhadoras(es)?
    São distintas formas de organização do tra-
balho, de instrumentos de trabalho e de traba-                A exposição a esses riscos não é uma reali-
lho propriamente, definindo a grande variedade             dade naturalmente dada. Pelo contrário, a

                                                    -8 -
adoção de tal ou qual tecnologia, de tal ou qual          nossa sociedade é a busca do lucro para os
condição de trabalho é determinada pela forma             proprietários.
como se dão as relações de trabalho.                          Mesmo quando se trata de empresas estatais,
     Numa sociedade capitalista, o processo de            a lógica é a de mercado. Nesse contexto, o traba-
trabalho visa cumprir a função de gerar lucro             lhador, de pessoa fica reduzido a recurso humano.
para os empresários e não o bem-estar dos                     Desta forma, as condições de trabalho e de
cidadãos. Há basicamente duas formas para                 saúde dos trabalhadoras(es), passa a ser uma
fazer isso: cobrar mais pelos serviços presta-            questão de natureza política e econômica e não
dos e economizar no modo como se faz esse                 apenas de ordem técnica.
serviço. Na segunda forma busca-se economi-
zar nos meios de produção (instrumentos de                            Principais riscos
trabalho, produtos utilizados, local de trabalho,             à saúde das trabalhadoras(es)
por exemplo) e super-explorar o trabalho                               em transporte
humano (extender a jornada de trabalho e
intensificar o ritmo de trabalho, por exemplo).               Esse manual não tem por objetivo esgotar a
     Vale dizer, então, que não é natural que se          discussão de todos esses riscos e de seus efei-
trabalhe em situações com altos níveis de                 tos para a saúde. Para suprir essas informa-
ruído, manuseando produtos químicos como o                ções, sugere-se consultar os outros fascículos
chumbo e o benzeno, que se operem máquinas                da coleção Cadernos de Saúde do Trabalha-
e equipamentos perigosos e em ritmo intenso;              dor do INST-CUT. Eles tratam do ruído, lesões
que não é naturalmente                                                        por esforços repetitivos,
necessário adotar postu-                                                      acidentes com máquinas,
ras incômodas e força-                                                        riscos químicos e sobre os
das. E por isso, as condi-                                                    métodos de avaliação de
ções de trabalho são                                                          riscos e de acidentes. Faz
determinadas pela forma                                                       parte dessa coletânea,
como o trabalho humano                                                        manuais que se dedicam
é visto na sociedade - ou                                                     a outras categorias profis-
seja a ideologia de traba-                                                    sionais e, também estes
lho - que está associada                                                      poderão trazer conteúdos
às relações de trabalho.                                                      que sejam úteis para as
No nosso caso, o capita-                                                      trabalhadoras(es)       em
lista (proprietário dos                                                       transporte. Por isso, suge-
meios de produção)                                                            rimos que eles sejam con-
compra o trabalho ven-                                                        sultados.
dido pelos trabalhado-                                                            Apresentamos abaixo
ras(es). O trabalho não é                                                     um quadro com os riscos
realizado visando garan-                                                      mais frequentes a que
tir bem-estar e boa quali-                                                    estão expostos os traba-
dade de vida e saúde                                                          lhadoras(es) de manuten-
aos trabalhadoras(es) e                                                       ção do ramo de transpor-
à população em geral. A                                                       tes. Decerto, uma série de
lógica que o governa em                                                       outros riscos não citados

                                                    -9-
Trabalhadores no ramo de transportes

                                           QUADRO I

      Principais riscos de acidentes de trabalho     , de doenças
            e de intoxicações para os trabalhadoras(es)
              de manutenção no ramo de transportes
 Acidentes de trabalho                    projeção de partículas - esmirilhadora,rebarbadora
                                          explosão por soldagem alogênica
                                          golpes com amoladoras, rebarbadoras
                                          incêndio com produtos inflamáveis
                                          queda de objetos metálicos e outros
                                          explosão de atmosferas deflagrantes
                                          queda de altura e no mesmo nível
                                          eletricidade
                                          radiação


 Doenças e intoxicações                   ruído
                                          vibração
                                          inalação de gases, fumos e vapores
                                          contato com solventes, tintas, etc...
                                          exposição à intempéries
                                          trabalho noturno e em turno alternado
                                          posturas forçadas e incômodas


poderão ser encontrados a depender da espe-                 venham a dificultar não só a continuidade de
cificidade de cada setor.                                   trabalho na mesma atividade, mas gozar a vida
     Há uma série de produtos químicos utiliza-             social e familiar plenamente.
dos nas atividades de manutenção, os quais                      Já as atividades administrativas, técnicas e
podem causar diversos problemas, como por                   de atendimento ao público apresentam as
exemplo os neurológicos (tremores, esqueci-                 seguintes características: trabalho com compu-
mento, dificuldade de manter atenção, nervo-                tadores (com risco de contrair as lesões por
sismo, etc..). Alguns desses produtos são os                esforços repetitivos); trabalho de atendimento
solventes que podem conter benzeno, tolueno,                telefônico ao público, presentes, por exemplo,
estireno, xileno e os metais pesados ferro,                 nas companhias aéreas; trabalho de atendi-
cobre, níquel, zinco, chumbo. Emprega-se                    mento pessoal ao público; diversas atividades
ainda o amianto, uma fibra mineral cancerí-                 administrativas e técnicas de retaguarda às ativi-
gena, em juntas de motor e lonas de freio.                  dades de operação, manutenção e viário. O tra-
     Por sua vez, os acidentes de trabalho (quei-           balho nessas situações oferece poucos riscos de
maduras, queda, cortes, perfuração) podem                   acidente de trabalho propriamente, mas explica
levar a perdas com sequelas importantes que                 muitos problemas de saúde física e mental.

                                                    -10 -
Na operação temos grande diversidade de                  Essas frases, que povoam as conversas
situações a depender do setor. Os trabalhado-            dessas trabalhadoras(es), dizem muito sobre
res no setor rodoviário urbano não podem                 quais são as principais agruras no seu trabalho:
escapar do tráfego e da poluição ambiental (do           é a grande exigência de esforço físico e mental
ar, sonora, visual); para os rodoviários intermu-        que trazem como conseqüência a fadiga e os
nicipais, interestaduais e internacionais há os          problemas de saúde mental.
riscos de acidentes graves e os impedimentos                 Os problemas de saúde associados ao
de convívio familiar; também os aeronautas               esforço físico e mental são de tal modo impor-
sofrem essas dificuldades quanto aos relacio-            tantes - acometem um grande número de traba-
namentos familiares e as constantes mudanças             lhadoras(es) - que tem feito com que diversos
de fuso horário, no caso das viagens de longa            estudos sejam desenvolvidos, buscando carac-
distância; para os metroviários há o trabalho            terizar as condições de trabalho que deman-
isolado, em ambientes em geral monótonos; os             dam esses esforços e os efeitos para a saúde
ferroviários têm vivenciado situações seme-              das trabalhadoras(es). São estudos realizados
lhantes às acima citadas e a crescente automa-           por serviços públicos da área da saúde e do tra-
ção do trabalho.                                         balho, por universidades e institutos de pes-
    Por sua vez, no tráfego viário, ao organizar         quisa, pelos sindicatos e centrais de trabalha-
a circulação de veículos e pedestres, fiscaliza          doras(es) e pelas empresas.
e promove práticas educativas. Por serem ativi-              Sabemos que essas queixas também estão
dades realizadas ao ar livre, as trabalhado-             presentes entre trabalhadoras(es) desse ramo
ras(es) estão sujeitas às intempéries e à polui-         em outros países, inclusive nos de Primeiro
ção (sonora, visual e do ar) durante longas jor -        Mundo, como Suécia, Dinamarca, Noruega,
nadas de trabalho em pé, ocasionando proble-             Inglaterra e Espanha. Se nesses países, onde
mas de articulação dos membros inferiores, de            as condições de vida são melhores identificam-
coluna e de perda auditiva.                              se problemas significativos de saúde entre
                                                         essas trabalhadoras(es), podemos ter uma
          Um problema generalizado:                      idéia de como eles se agravam quando nos
           o esforço físico e mental                     voltamos às condições de trabalho em países
                                                         como o Brasil, onde as condições de infra-
    Quando vamos aprofundando o conheci-                 estrutura viária, portuária e aeroportuária é
mento sobre os problemas que acometem as                 precária; onde as condições de vida da popula-
trabalhadoras(es) de transporte, vemos que há            ção que transporta bem como a que se serve
algo presente de modo quase generalizado entre           dos transportes muitas vezes ultrapassou o
eles, independente da função e do setor em que           limite da dignidade; onde não há prioridade
trabalham. Começamos a compreender porque                para o transporte coletivo; onde pessoas
eles sentem que carregam o Brasil nas costas.            podem gastar até 2 horas por dia para serem
    Se ouvirmos os motoristas de coletivos               transportadas de suas casas ao trabalho; onde
urbanos, é muito comum vê-los dizendo que                a violência em alguns centros urbanos faz
chapéu de bico mistura, os metroviários                parte do cotidiano e, infelizmente, seja visto
dizendo que fulano é código 13, os aeropor-            como normal.
tuários consideram que o trabalho é pesado,                  Nos países europeus há vários estudos
que eles ficam transpassados, que o trabalho             sobre problemas físicos, como os de coluna, e
abala o sistema nervoso etc...                           problemas mentais, como o que denominamos

                                                 -11 -
Trabalhadores no ramo de transportes
de stress. Há também um grande número de                   nado? Será a tecnologia empregada pelas
estudos sobre o trabalho e a saúde dos pilotos             empresas? Será o conteúdo do trabalho que
de aeronaves pois considera-se que a segu-                 demanda muita responsabilidade ou, ao con-
rança dos passageiros depende grandemente                  trário, é monótono demais? Poderíamos con-
das condições de trabalho e da saúde dessas                cluir que se deve à rigidez de procedimentos
trabalhadoras(es). Motoristas de coletivos urba-           ou à existência de procedimentos incon-
nos são também muito estudados pois basta                  gruentes? Não seriam então as relações
olhar o seu trabalho para concluir-se que é um             interpessoais, muitas vezes com o público, e
trabalho desgastante. Os motoristas rodoviários            o poder advindo dos escalões superiores da
também são bastante estudados pois as longas               hierarquia? Na verdade, é tudo isso e muitas
jornadas, o trabalho isolado e a pressão do                outras coisas mais. E isso tudo é determi-
tempo são importantes para os problemas de                 nado pela forma como se organiza o pro-
saúde. Enfim, há muito conhecimento acumu-                 cesso de trabalho.
lado sobre as trabalhadoras(es) do ramo de                     No caso dos problemas de esforço físico e
transporte. Todos esses estudos confirmam a                mental não se pode dizer que há apenas um
vivência das trabalhadoras(es).                            fator que seja exclusivamente responsável. Ao
    Sabe-se que há uma série de problemas de               contrário, dizemos que há um contexto de tra-
saúde associadas ao esforço físico e mental,               balho conformado pela presença e interação
como por exemplo:                                          entre todos aqueles fatores citados acima, e
 os problemas de coluna e articulações                    outros mais, que também mudam a cada dia de
 as lesões por esforço repetitivo                         trabalho e a cada momento.
 irritabilidade emocional
 nervosismo em suas distintas manifesta-                                     A fadiga
ções
 sensação de esgotamento mental (dificulda-                   A alta freqüência da fadiga entre as traba-
des em manter a atenção, em desenvolver o                  lhadoras(es) em transporte é inegável. Isso
raciocínio, dificuldades de memorização, etc...)           pode ser observado pelo fato de existirem publi-
 problemas gástricos e intestinais (úlceras,              cações de entidades sindicais específicas
gastrites, colites, dores de estômago)                     sobre esse assunto.
 hipertensão e problemas cardíacos                            A fadiga é caracterizada por sensações de
 abuso de bebidas alcoólicas e uso de esti-               cansaço físico e mental e ela passa a ser consi-
mulantes                                                   derada fadiga patológica ou crônica quando o
    Interessante notar que as trabalhadoras(es)            cansaço não é recuperado com os períodos de
do ramo de transportes reconhecem bem que                  sono e descanso. Começam a aparecer distúr-
esses são os problemas de saúde que os atin-               bios de sono, insônia, irritabilidade, sensação
gem. Reconhecem pelas informações dadas                    de desânimo, dificuldade para realizar qualquer
pelos colegas e pela experiência pessoal no                atividade, de trabalho ou não, perda de apetite.
trabalho.                                                  Sentimo-nos fatigados quando temos a sensa-
    É difícil dizer o quê especificamente no               ção de que não dá mais para trabalhar, de
trabalho em transporte pode explicar esses                 que já passou do limite, quando estamos
problemas: Será o ritmo de trabalho, a pres-               transpassados.
são para cumprir horários e metas, ou a dura-                  Muitas vezes pensamos que a fadiga é um
ção da jornada ou o trabalho em turno alter-               problema apenas físico (o corpo cansado) e

                                                   - 12-
devido aos esforços físicos no trabalho, como            aspecto desgastante do trabalho. Cada cliente
por exemplo, quando se carregam e tranpor-               atendido tem suas exigências, sua pressa e,
tam pesos manualmente (como as contínuas                 por vezes, pouca disponibilidade para com-
exigências de movimentação no carregamento               preender que quem os atende também é gente.
de objetos na carga e descarga de trabalho                    Muitas vezes, esses clientes trazem proble-
nos portos e aeroportos); o trabalho dos moto-           mas a serem resolvidos mas nem sempre o
ristas e ajudantes de caminhão; as diversas              atendente tem autonomia ou condições para
funções nos setores de manutenção. No                    responder às solicitações pois, em geral, as
entanto, isso é apenas parcialmente verda-               regras de funcionamento das empresas dão
deiro. Ocorre que, além de a fadiga estar                pouca margem para contemplar a situação par-
associada a esses esforços devido à atividade            ticular de cada cliente.
física intensa, há também uma série de situa-                 Em geral, aquelas trabalhadoras(es) que
ções nas quais aparentemente não há esforço              estão em contato direto com os clientes/usuá-
do corpo, como por exemplo o trabalho de                 rios - mesmo que através de um atendimento
controle de tráfego nas salas de controle do             telefônico - são consideradas o cartão de visitas
metrô e na ferrovia, nos aeroportos e no sis-            da empresa e, por isso, muitas exigências lhes
tema viário das cidades; nas diversas ativida-           são feitas, como: aparência física, cordialidade,
des administrativas e técnicas em todos os               tom de voz, etc. Ser considerado o cartão de
ramos. Ficar sentado, operando a vigilância de           visitas da empresa sem dúvida implica em muito
equipamentos automatizados e esperando                   esforço mental e emocional. Pode-se observar
que alguma intercorrência apareça para atuar             essa situação no caso das(os) comissárias(os)
pode ser sentido como tão desgastante                    de bordo, das(os) atendentes de balcão em
quanto transportar várias caixas de objetos              empresas aéreas, etc.
durante a mesma jornada de trabalho. Isso                     Da mesma forma que essas atividades não
porque o nosso corpo também requer movi-                 implicam em esforço mental apenas, o traba-
mentação. Ser obrigado a ficar parado, com               lho de caminhoneiros, de manutenção e de
pouco espaço de movimentação também                      carga e descarga também não demanda
exige esforço físico.                                    apenas esforço físico. Eles têm que estar
    Ao lado disso, muitas vezes esses traba-             atentos para cumprir metas, para não cometer
lhos de vigilância de equipamentos têm uma               erros no trabalho, sofrem a pressão por faze-
dupla exigência de natureza contraditória:               rem parte de um processo de trabalho que
manter-se atento e pronto a atuar frente às              nem sempre lhes dá condições adequadas de
intercorrências mas, ao mesmo tempo, o local             trabalho. Trabalhar no setor viário implica
de trabalho pode ser extremamente monó-                  também em ter nas mãos grande responsabili-
tono. É um trabalho que gera a sonolência,               dade, onde acidentes de trânsito, às vezes de
mas, ao mesmo tempo, requer atenção. Esse                grandes proporções, podem ocorrer ou causar
exemplo, que não é o único, mostra que há o              grandes transtornos para a população como
esforço mental.                                          um todo, principalmente nos grandes centros
    Há ainda aqueles tipos de atividade nas              urbanos, nas ferrovias e rodovias. Dado o
quais o trabalho dá-se mediante o grande con-            crescimento do tráfego aéreo em aeroportos
tato com o público, ainda que não requeira               de grandes centros, os riscos de acidentes
grande movimentação física. O contato inter-             aumentaram.
pessoal com o público é sabidamente um                        É importante ressaltar que todo e qualquer

                                                 - 13-
Trabalhadores no ramo de transportes
trabalho sempre demandará algum nível de                    los que exigem sua ação. Em geral as situa-
esforço físico e mental simultaneamente, ainda              ções que causam acidentes aparecem rapida-
que possa ser identificada a preponderância de              mente, requerem trabalhadoras(es) alertas,
uma ou de outra. É impossível separar corpo e               descansados e tranqüilos. Além disso, o mais
mente. Importante ressaltar também que dentre               importante, é contar com máquinas e equipa-
os esforços mentais estão os de ordem emocio-               mentos que sejam seguros.
nal e não apenas a atenção, o raciocínio e a                    Os motoristas rodoviários, com o objetivo
responsabilidade.                                           de cumprir metas tomam os famosos rebites,
    As diversas solicitações, os diversos proble-           o que agrava ainda mais o problema e, ao
mas e demandas no trabalho (conteúdo de tra-                mesmo tempo, tomam para si a responsabili-
balho, tipo de atividade, contato ou não com o              dade de dar conta do trabalho. Tomar os rebi-
público) serão agravados caso a jornada de tra-             tes é declarar que são os motoristas que
balho seja muito longa; caso as viagens impli-              devem se adaptar às condições para cumprir
quem em mudanças de fuso horário; caso os                   os prazos impostos pelas empresas.
prazos sejam apertados, muitas vezes impossí-                   Diante da complexidade que caracteriza a
veis de serem cumpridos; caso o trabalho seja               fadiga, o mais adequado é dizer que ela é
organizado em turnos alternados, com siste-                 simultaneamente física e mental, até porque, o
mas de folgas que não respeitem os finais de                corpo e a mente não podem ser separados.
semana; caso o trabalho exija que as pessoas
pousem fora de casa, como ocorre no trans-                                  Os problemas de
porte rodoviário, ferroviário, portuário e aero-                             saúde mental
nauta. Entre as aeronautas, são freqüentes as
alterações do ciclo menstrual devido às mudan-                   o nervoso que eu sinto deve-se ao meu
ças de fuso horário.                                        jeito ou ao trabalho que faço?
    Um dos aspectos mais estudados com rela-                     Sinto-me assim por causa da minha natureza?
ção ao trabalho em turnos alternados refere-se                   Será que eu sou fraco?
ao descanso e sono. Sabidamente, o sono                          Essas são perguntas que sempre nos fazemos.
noturno tem uma qualidade melhor do que o                   Sempre queremos saber a causa dos problemas
sono diurno. Para driblar a irregularidade dos              vividos. E sempre buscamos uma única causa.
horários de sono, há casos de trabalhado-                        Na nossa sociedade temos por hábito con-
ras(es) que adotam a auto-medicação. Tomam                  cluir que os problemas de saúde mental
estimulantes para se manterem acordados à                   sempre se devem ao jeito e às estórias de vida
noite, e remédios para dormir de dia, forçando o            das pessoas: ela sempre foi nervosa, a famí-
corpo a funcionar não de acordo com o relógio               lia dele tem problemas, ele teve um problema
biológico, mas de acordo com o relógio criado               quando era criança. Esse tipo de explicação
pela empresa. Essa é uma prática perigosa                   acaba culpabilizando as pessoas pelo seu sofri-
para a saúde, e há casos em que essa combi-                 mento no trabalho. Quando adotamos esse
nação de remédios foi determinante para a                   raciocínio para pensar os problemas de saúde
ocorrência de acidentes.                                    mental das trabalhadoras(es), é como se as
    Afadiga está associada a ocorrência de aci-             pessoas tivessem a obrigação de se encaixar
dentes de trabalho, incluindo-se os de trânsito.            nas regras que organizam o nosso trabalho.
Isto porque, a fadiga leva as trabalhadoras(es)             Parece que dizemos o seguinte: o trabalho é
a perderem a capacidade de resposta a estímu-               assim mesmo, a gente deve se adaptar a ele.

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Como se a organização do trabalho fosse algo              serviço que é nervoso; b) independente do jeito
natural criado por Deus e não pelos homens.             de ser da trabalhadora(dor) haverá um
   Essa explicação que culpabiliza as pessoas             momento no qual ele também não aguentará;
simplesmente esquece que pessoas são dife-                c) mesmo a trabalhadora(dor) santa(o) tem
rentes, têm estórias diferentes, gostam de                um limite. Sendo assim, a causa dos problemas
coisas diferentes, têm diferentes habilidades,            de saúde mental no trabalho reside na falta de
têm diferentes ritmos, constróem diferentes               sintonia na relação trabalho-trabalhador. E a
expectativas e projetos de vida. Há dias em que           sintonia é possibilitada pelo exercício de con-
estão bem-humoradas e outros não, há dias em              trole da trabalhadora(dor) sobre os contextos
que estão com toda a paciência do mundo e em              de trabalho. Ter controle significa poder interfe-
outros não querem ver ninguém pela frente. E              rir no planejamento do trabalho.
as pessoas têm o direito de ser como são.                      Pode-se identificar essa falta de sintonia no
                                                          relacionamento com os usuários, com o funcio-
                Gente é assim!                            namento e ritmo das máquinas e equipamen-
                                                          tos, nos relacionamentos com colegas de traba-
    Acontece que quando as empresas contra-               lho, com os chefes e subordinados, aos horá-
tam as pessoas, o fazem adotando uma lógica,              rios apertados, à desorganização, à impossibili-
um raciocínio que acredita que pessoas podem              dade de compatibilizar o cumprimento de
ser transformadas em recursos humanos. Se                 regras e procedimentos com o andamento real
pensarmos bem, a palavra recurso reduz a                  do trabalho, dentre outras coisas.
pessoa a coisa, a objeto, a máquina. Uma                       Quando não é possível exercer essa ação
máquina bem-humorada sempre, que não falhe,               que sintonize o trabalho com o jeito do trabalha-
que não tenha preferências, e que não reclame.            dor, os problemas de saúde mental aparecem,
É certo que em algumas funções e cargos quer-             sinalizando que o limite foi ultrapassado. Eles
se que essa máquina seja inteligente e criativa,          não se manifestam apenas na forma de doen-
mas ainda assim não deixa de ser uma máquina.             ças estruturadas; não necessariamente fazem
    Muitas vezes, o trabalho é organizado de tal          com que as trabalhadoras(es) sejam afastados
forma que as possibilidades de as trabalhado-             do trabalho porque podem aparecer como sofri-
ras(es) regularem os acontecimentos são míni-             mento emocional, cansaço mental, perda da
mas e não deixam espaço para que elas procu-              paciência, pensamentos depressivos, agressi-
rem adequar as exigências do trabalho ao jeito            vidade, necessidade de descarregar em
de cada um naquele dia. Dizemos que há traba-             alguém, dificuldade de raciocinar e de se man-
lhos nos quais as trabalhadoras(es) têm pouco             terem atentos.
controle. Ter pouca possibilidade de controle                  Enfim, como dizem as trabalhadoras(es): o
implica em desrespeitar o limite que cada um              sistema nervoso fica abalado
de nós agüenta. E não podemos negar que                        Nesse momento, alguém poderia dizer:
pessoas têm limite, que varia de dia para dia e           mas isso é muito complicado!. Diríamos que é
de hora para hora.                                        complexo e não complicado. Diríamos ainda
    Sabiamente, um trabalhador do ramo de                 que querer simplificar essa complexidade nos
transportes disse: a pessoa pode ser o maior             conduz a transformar pessoas em recursos
santo, mas uma hora ela também vai acabar                 humanos. É também essa complexidade que
estourando. Esse serviço é nervoso. Essa fala            nos explica por que, de 20 pessoas trabalhando
mostra-nos alguns aspectos importantes: a) o              na mesma função, na mesma empresa e sub-

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Trabalhadores no ramo de transportes
metidas às mesmas regras, podemos ter 10                   sas desses controladores mostram que a falta
que adoecem e outras 10 que suportam apa-                  de equipamentos adequados e de condições
rentemente bem trabalhar sob essas condi-                  mínimas de trabalho exigem esforços sobre-
ções. Das 10 que adoecem, temos ainda uma                  humanos para garantir a segurança dos vôos.
variedade de quadros: alguns sentem dor de                 Eles têm crises emocionais, sofrem de depres-
estômago, outras têm colite, outras ainda                  são e relatam problemas de convívio familiar e
observam a pressão arterial sofrer alterações.             social devido às altas exigências do trabalho.
Por outro lado, observamos que pessoas traba-              Essa situação se agrava ainda mais porque o
lhando em situações completamente diferentes               número de vôos aumenta a cada dia e, conse-
desenvolvem quadros patológicos semelhan-                  qüentemente, o volume de trabalho. Condições
tes: o mecânico de manutenção, o maquinista,               semelhantes são vividas pelos controladores
o controlador de tráfego e o bilheteiro de esta-           de tráfego ferroviário e metroviário.
ção podem, por exemplo, desenvolver gastrite                   Entre os aeroportuários, observa-se que o
e sofrimento emocional.                                    trabalho realizado no pátio implica em grande
    Além do sofrimento vivido pelas próprias               esforço físico e mental, estando expostos às
trabalhadoras(es), os problemas de saúde                   intempéries, ao barulho em níveis absurdos. Tra-
mental podem repercutir no relacionamento                  balham em condições nas quais há excesso de
familiar, explicando conflitos e violência contra          estimulações (visual, auditiva e poluição do ar).
cônjuges, filhos e parentes próximos. Muitas               Assim, é inevitável que eles fiquem zuretas.
vezes as trabalhadoras(es) demonstram seu
sofrimento através do desinteresse pelas ativi-                            Automação no
dades de lazer e culturais.                                              ramo de transportes
    Uma frase freqüentemente dita pelas traba-
lhadoras(es) do ramo de transportes é: eu                     A introdução da automação no ramo de
gosto do que eu faço mas não do jeito que tem              transportes tem crescido significativamente, prin-
que fazer. Vemos que de modo geral, sentem                cipalmente em alguns setores nas áreas de ope-
orgulho do que fazem, conhecem e valorizam o               ração, de controle de tráfego, de atendimento e
significado social e econômico do seu trabalho,            de administração. E, mais recentemente, vimos
mas gostariam de poder fazê-lo de um modo                  a introdução da catraca eletrônica no transporte
diferente. Gostariam de poder interferir no pla-           rodoviário urbano. Se de um lado a automação
nejamento do trabalho e contar com equipa-                 pode significar maior segurança e conforto; de
mentos adequados de modo a diminuir o                      outro, ela está associada a maior esforço mental,
esforço físico e mental e, conseqüentemente, a             problemas visuais, à lesão por esforço repetitivo,
fadiga e os problemas de saúde mental.                     à monotonia. De modo geral, o planejamento do
    Uma menção especial deve ser feita à situa-            trabalho é realizado privilegiando-se a otimiza-
ção dos controladores de tráfego aéreo (aero-              ção da tecnologia implantada e não conside-
portuários e militares da aeronáutica) que car-            rando o limite das pessoas. Além disso, como o
regam em suas mãos grande responsabilidade                 emprego de tecnologias informatizadas requer
pelo transporte de aeronaves. Trata-se de um               menos quantidade de trabalho humano, opta-se
trabalho extremamente nervoso pois a                     por reduzir o número de postos de trabalho ao
tomada de decisão que orienta os pilotos de                invés de reduzir a jornada semanal de trabalho,
aeronaves pode evitar a ocorrência de grandes              o que manteria o nível de empregos.
acidentes aéreos. Relatos dramáticos de espo-                  A adoção de novas formas de organização

                                                    -16-
do processo de trabalho e da automação pode                podem gerar benefícios para os usuários -
modificar o conteúdo do trabalho, do ritmo e o             quando, por exemplo, o operador imprime
modo como se dinamizam as relações interpes-               maior velocidade nos carros - e para gerentes
soais. Cada vez mais os controles gerenciais               e empresários, ao burlarem regras inaplicáveis
sobre as trabalhadoras(es) estão embutidos                 frente aos problemas reais ou aumentando a
nos equipamentos informatizados, muitas                    produtividade. É por isso que quando aeronau-
vezes prescindindo do encarregado ou supervi-              tas e aeroviários fazem a operação-padrão, o
sor para garantir as metas gerenciais. Ao lado             ritmo de trabalho diminui, a produtividade cai,
disso, criam-se novos papéis de trabalho atra-             reduzem-se os lucros dos empresários e os
vés dos quais se exige a polivalência e o                  usuários ficam irritados.
aumento de responsabilidade sem com isso                       Esses jeitinhos melhoram o trabalho e
aumentar a autonomia das trabalhadoras(es)                 fazem o trabalho andar mais.
sobre as atividades que desenvolvem.
    Diante das contínuas inovações novos pro-                        O trabalho no ramo
blemas de saúde poderão emergir.                                   de transportes é penoso

              Buscando amenizar                                 Dadas as características do trabalho no ramo
           as exigências do trabalho                       de transportes, muitas das atividades aí exerci-
                                                           das foram consideradas penosas pela lei da Pre-
    As trabalhadoras(es) não ficam passivos                vidência Social que em 1960 definiu as regras
frente às diversas exigências do trabalho. Ao              para a aposentadoria especial . Alógica adotada
contrário, buscam evitar ao máximo as conse-               por essa lei é a de que há determinadas ativida-
qüências da falta de sintonia entre os contextos           des profissionais que potencialmente desgastam
de trabalho e o jeito de cada um. Desta forma,             mais a saúde dos trabalhadoras(es) e, por isso,
procuram evitar ao máximo as doenças, os aci-              eles teriam direito a se aposentar com menor
dentes e o sofrimento no trabalho. Para tanto,             tempo de trabalho do que outros. Dentre esses
criam jeitinhos próprios para lidar com a                motivos estava a penosidade, que, embora não
situação. São formas de se adaptar e de mudar              contasse com uma clara definição, podia-se
as prescrições do trabalho de modo a amoldar,              deduzir que era devido a esforços, sofrimentos
o máximo possível, o que deve ser feito às                 físicos e mentais.
características pessoais de cada um.                            Mas alguém poderia contra-argumentar:
    Tais práticas funcionam como se fôsse um               mas qualquer trabalho gera sofrimento! De
desabafo. Em geral, os(as) trabalhadoras(es)               fato, momentos de sofrimento, de esforço e de
constróem essas estratégias de adaptação                   incômodo estão presentes em qualquer traba-
coletivamente; constróem também uma lingua-                lho, mesmo naqueles que gostamos e que
gem própria que possibilita manter a privaci-              escolhemos fazer. Porém, o problema é quando
dade mesmo estando em público.                             eles são sentidos como demasiados, quando
    Se de um lado, esses jeitinhos possibili-            sentimos que fomos transpassados, denun-
tam amenizar os esforços demandados pelo                   ciando que o limite subjetivo foi desrespeitado
trabalho, de outro eles não resolvem o pro-                e, além disso, não temos meios para interferir
blema em sua origem (mudando as regras, o                  no trabalho. Quando o sofrimento, o esforço e o
ritmo de trabalho e os procedimentos). É bom               incômodo passam a explicar os problemas de
frisar que algumas dessas práticas também                  saúde física e mental.

                                                   -17 -
Trabalhadores no ramo de transportes
                                                        do trabalhador requerem um trabalho contínuo
              A AÇÃO DAS                                de identificação e análise dos problemas, elei-
              ENTIDADES                                 ção de prioridades e definição de estratégias
               SINDICAIS                                para atuar em vários níveis.
                                                         por ser um ramo iminentemente prestador de
    Para dar conta desses problemas acima dis-          serviços, deve-se, quando possível, articular
cutidos, deve-se:                                       ação sindical com o movimento social mais
 organizar as Comissões de Saúde e Traba-              amplo, ou seja, com a população que se utiliza
lho (COMSATs) nos sindicatos;                           dos serviços prestados.
 atuar em sintonia com a CUT nas diversas
instâncias;                                                            Identificando
 organizar a ação sindical no local de traba-                         e analisando
lho, através das CIPAs etc...                                          os problemas
    Alguns aspectos devem ser reconhecidos
como norteadores da ação sindical em saúde:                 1. Um princípio: uma primeira pergunta diz
 ter como meta alcançar a melhoria das con-            respeito a quem pode identificar os problemas
dições e da organização do trabalho. Isto               de condições/organização do trabalho e de
porque, se são elas que não respeitam o limite          saúde. Entendemos que são as trabalhado-
das pessoas, de nada adianta apenas tratar as           ras(es) que vivenciam cotidianamente e reali-
trabalhadoras(es) já adoecidas(os) e acidenta-          zam o trabalho os que têm um conhecimento
das(os);                                                insubstituível sobre o que é bom e o que é ruim
 as condições de trabalho que afetam a                 na atividade laboral. Em função disso, deve-se
saúde dos trabalhadores também afetam a                 iniciar a identificação desses problemas pelo
segurança e a quali-                                                            que dizem as trabalha-
dade dos serviços pres-                                                         doras(es). Essa visão é
tados à população;                                                               contrária àquela de que
 não existem procedi-                                                          apenas os técnicos
mentos-padrão       que                                                         especializados podem
poderão ser adotados                                                            proceder à identificação
para todas as catego-                                                           e análise dos proble-
rias e situações;                                                               mas.
 essas ações não                                                                   2. níveis de identifi-
poderão ter apenas                                                              cação dos problemas
uma abordagem téc-                                                              de saúde e condi-
nica, mas requererá                                                              ções/organização do
uma ação política, atra-                                                        trabalho: (a) no âmbito
vés das centrais sindi-                                                         de cada categoria de
cais, sindicatos, comis-                                                        trabalhadoras(es); (b)
sões por local de traba-                                                        no âmbito da base de
lho e CIPAs, envol-                                                             cada sindicato; (c) no
vendo ativamente os                                                             âmbito de cada local
trabalhadores de base;                                                          de trabalho. É em
 as ações em saúde                                                             função da existência

                                                 -18-
desses vários níveis que se coloca a importân-           goria. O mesmo pode ser buscado nos servi-
cia em contar com organizações de trabalha-              ços públicos de saúde que atendam adultos.
dores em cada local de trabalho que poderão              (d) No âmbito de cada local de trabalho
atuar juntamente com os diretores sindicais              podem ser empregadas as reuniões com
para o delineamento de uma política sindical             grupos de trabalhadoras(es) por área, setor,
de saúde.                                                turno, etc...; as conversas individuais; aplica-
    3. como fazer o levantamento dos proble-             ção de questionários. Uma metodologia
mas. Não existe um jeito melhor de se fazer              importante a ser empregada é o mapeamento
esse levantamento. Tudo vai depender da                  de riscos, já bastante disseminada no meio
organização das trabalhadora(es) no local de             sindical no Brasil, influenciada pelo movi-
trabalho e em seus sindicatos. Vai depender              mento sindical italiano. Quanto aos acidentes
também das condições materiais que se têm.               de trabalho, há a metodologia da árvore de
A técnica não é o mais importante, mas sim               causas.
garantir que as trabalhadoras(es) efetiva-                   4. a busca de assessoria e informações téc-
mente participem de modo a possibilitar o                nicas: Após a identificação dos problemas de
delineamento de uma ação sindical em                     condições/organização do trabalho e saúde a
saúde. (a) É importante haver um espaço nos              partir do que informam os trabalhadores, muitas
sindicatos no qual trabalhadoras(es), mesmo              vezes teremos necessidade de aprofundar o
individualmente, possam apresentar suas                  conhecimento sobre efeitos à saúde, de melhor
queixas e problemas. E talvez os sindicatos              caracterizar os problemas de saúde e as doen-
possam aproveitar estruturas que já possuem              ças, de identificar as formas de melhoria das
e que são procurados por muitos trabalhado-              condições/organização do trabalho e também
res, como por exemplo os serviços de asses-              as de tratamento dos problemas de saúde já
soria jurídica. Cada uma dessas queixas indi-            instalados. O aprofundamento da análise
viduais poderá fazer parte de um banco de                poderá ser obtido através de informações e
dados que, ao lado de outras fontes, poderá              assessoria técnica na CUT, nas Universidades,
elaborar um perfil de problemas naquela base             nos Serviços Públicos de Saúde do Trabalho e
sindical. Há diversos modos de construir um              órgãos de pesquisa.
mapeamento de problemas na categoria e                       5. definindo prioridades de ação: aqui também
precisamos dele para elegermos prioridades               não há um melhor jeito de definir as prioridades. O
de ação sindical em saúde. (b) Os encontros,             importante é que elas sejam discutidas e elabora-
seminários e cursos sobre saúde e condi-                 das com as trabalhadoras(es) envolvidas em
ções/organização do trabalho oferecidos                  cada situação e/ou local de trabalho.
também para trabalhadoras(es) de base é
uma oportunidade na qual duas atividades                                A formação em
podem ocorrer simultaneamente: a de forma-                             saúde e trabalho
ção e a de identificação de problemas. (c) Nos
locais onde existam Centros de Referência de                 De acordo com o IV Congresso Nacional da
Saúde do Trabalhador (CRSTs), além de os                 CNTT, os sindicatos e a CUTdevem:
sindicatos participarem ativamente de sua                 formar conselheiros de saúde, assessores,
gestão e das ações nas empresas de sua                   cipeiros através de seminários e cursos;
base, pode-se buscar informações sobre                    realizar pesquisas caracterizando o impacto
atendimentos de trabalhadoras(es) da cate-               das condições de saúde sobre a saúde;

                                                 -19 -
Trabalhadores no ramo de transportes
 formar dirigentes;                                      CC.OO. - Apuntes para um método de tra-
 divulgar a metodologia de Árvore de Causas;            bajo con los delegados de prevención. Espa-
 promover cursos de iniciação para cipeiros;            nha, s.d.
 promover formação voltada para atacar os                CNTT-CUT - Resoluções e memória do IV
efeitos da periculosidade, penosidade e insalu-          Congresso Nacional de Trabalhadores em
bridade, buscando a superação destas condi-              Transporte da CUT. São Paulo, setembro de
ções de trabalho e da monetização da saúde.              1999.
    Sugerimos que seja consultado o fascículo             CUT - Saúde, meio ambiente e condições de
1 dos Cadernos de Saúde do Trabalhador do                trabalho - conteúdos básicos para uma ação
INST-CUT, Construindo a organização no local            sindical em saúde. São Paulo, outubro de 1997.
de trabalho – Manual de ação sindical em                  Dejours, Ch. - A loucura do trabalho - estudo
saúde do trabalhador e meio ambiente, espe-             de psicopatologia do trabalho. São Paulo:
cialmente dedicado à ação sindical em saúde.             Oboré, 1987.
                                                          D I E S AT - As condições de trabalho na
                                                         área operativa - estudo na OPM realizado
         ENRIQUECENDO                                    pelo DIESAT e Sindicato dos Metroviários
        AS INFORMAÇÕES                                   de São Paulo. Relatório de Pesquisa,
         SOBRE A SAÚDE                                   mímeo, 1985.
      DOS TRABALHADORES                                   DIESAT - De que adoecem e morrem os tra-
                                                         balhadores. São Paulo, Imesp, 1984.
    Recomendamos a consulta dos manuais que               DIESAT - Insalubridade - morte lenta no tra-
fazem parte dessa série de publicações da CUT.           balho. São Paulo, DIESAT/Oboré, 1989.
Recomendamos                                                                    DIESAT - Relatório
também a busca de                                                              sobre condições de tra-
informações na central                                                         balho e saúde dos aero-
sindical, em sindicatos                                                        nautas. Relatório de pes-
e bibliotecas das facul-                                                       quisa, 1984.
dades, universidades                                                            Fetcomar-CC.OO. -
e órgãos de pesquisa.                                                          Fatiga y conducción en
Em geral, as centrais                                                          carretera. Madrid, 1997.
sindicais e os sindica-                                                         Ministerio de Trabajo,
tos mantêm intercâm-                                                           Empleo y Formación de
bio com sindicatos e                                                           Recursos       Humanos.
centrais de outros                                                             Encuesta sobre condicio-
países,     os    quais                                                        nes de trabajo en el
enviam material de                                                             transporte internacional
interesse dos trabalha-                                                        de cargas por carreteras.
dores. Abaixo encon-                                                           (Mercosur, sub-grupo de
tram-se algumas indi-                                                          trabajo 10, comisión
cações de leitura.                                                             temática 3). Argentina,
 Acordos coletivos                                                            abril 2000.
dos diversos setores                                                            Sato, L. - A r e p r e-
que compõem o ramo.                                                            sentação social do tra-

                                                  -20-
balho penoso. In: M.J.P. Spink (org.) O                trabalho   dominado.    Rio   de   Janeiro:
conhecimento no cotidiano - as representa-             Cortez/UFRJ Editora, 1994.
ções sociais na perspectiva da psicologia               Sindicato dos Trabalhadores em Trans-
social. São Paulo: Brasiliense, 1993.                  porte de São Paulo, Departamento de Medi-
 Seligmann-Silva, E. - Saúde mental e auto-           cina Preventiva da Faculdade de Medicina da
mação: a propósito de um estudo de caso no             USP, Fundacentro-CTN - Estudo das condi-
setor ferroviário. Cadernos de Saúde Pública,          ções de trabalho e saúde dos motoristas e
13(supl. 2): 95-109, 1997.                             cobradores urbanos de São Paulo. Relatório
 Seligmann-Silva, E. - Desgaste mental no             de Pesquisa, 1991.




                                                -21-
-22-
Rua Caetano Pinto, 575 - Brás
 São Paulo - CEP 03041-000
   Tel.: (0XX11) 3272 9411
      ramais: 153 e 291
   Fax: (0XX11) 3272 9610
Homepage: www.instcut.org.br
  E-mail: inst@instcut.org.br


     Diretor responsável
    Remigio Todeschini


     EQUIPE TÉCNICA
   Coordenador executivo
     Domingos Lino
      Consultor técnico
       Nilton Freitas
    Assessores técnicos
       Fátima Pianta
   Luiz Humberto Sivieri


  EQUIPE DE FORMAÇÃO
     Escola São Paulo
        São Paulo/SP
          Escola Sul
       Florianópolis/SC
  Escola Sete de Outubro
     Belo Horizonte/MG
                                                 CENTRALÚNICADOS TRABALHADORES
    Escola Centro Oeste
                                                 Rua Caetano Pinto, 575 - Brás - CEP03041-000 - São Paulo - SP- BRASIL
         Goiânia/GO
                                                 Tel.: (0XX11) 3272 9411 - Fax: 3272 9610
Escola Marise Paiva de Moraes                    Homepage: www.cut.org.br - E-mail: executiva@cut.org.br
          Recife/PE
     Escola Amazonas
           Belém/PA
                                          EXECUTIVA NACIONAL DACUT - 1997/2000
   Escola Chico Mendes          Presidente: João Antonio Felício. Vice-Presidente: Mônica Valente.
       Porto Velho/RO           Secretário Geral: Carlos Alberto Grana. Primeiro Secretário: Remígio
                                Todeschini. Tesoureiro: João Vaccari Neto. Secretário de Relações
          Capa                  Internacionais: Kjeld Aagaard Jakobsen. Secretária de Política Sindical:
       Marco Godoy              Gilda Almeida de Souza. Secretário de Formação: Altemir Antonio Tortelli.
Projeto gráfico e diagramação   Secretária de Comunicação: Sandra Rodrigues Cabral. Secretário de
PIXEL Comunicação e Design      Políticas Sociais: Pascoal Carneiro. Secretário de Organização: Rafael
                                Freire Neto. Diretoria Executiva: José Jairo Ferreira Cabral, Maria
          Fotolito              Ednalva Bezerra de Lima, Elisangela dos Santos Araújo, Luzia de Oliveira
         Kingpress              Fati, Rita de Cássia Evaristo, Lúcia Regina dos Santos Reis, Jorge Luis
                                Martins, Lujan Maria Bacelar de Miranda, Temístocles Marcelos Neto, José
         Impressão
                                Maria de Almeida, Júnia da Silva Gouvêa, Wagner Gomes, Gilson Luis
 Kingraf - gráfica e editora
                                Reis, Júlio Turra. Suplentes: José Gerônimo Brumatti, Francisco Alano,
                                Aldanir Carlos dos Santos, Wanderley Antunes Bezerra, Rosane da Silva,
      OUTUBRO 2000              Dirceu Travesso, Mônica Cristina da S. Custódio.

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Transporte essencial

  • 1. Car regando o Brasil nas costas: trabalho e saúde das trabalhadoras e trabalhadores do ramo de transportes AUTORA Leny Sato Doutora em Psicologia Social, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. COLABORADORES Diretores da CNTT-CUT: Marta Carlota de Oliveira, Eduardo Alves Pacheco, João Braz Pereira, Luiz Antonio de Queiroz. Coordenadora de secretaria da CNTT-CUT: Tania Macedo. Secretário de Saúde do Sindicato dos Metroviários de São Paulo: Sérgio Roque. À CC.OO. (Federación de Comunicación y Transporte) um agradecimento especial pelo rico material produzido sobre condi- ções de trabalho e saúde das trabalhadoras e trabalhadores no ramo de transporte, o qual forneceu subsídios importantes para a elaboração desse manual.
  • 2. Trabalhadores no ramo de transportes Índice APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5 CARREGANDO O BRASIL NAS COSTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DAS TRABALHADORAS(ES) EM TRANSPORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 A AÇÃO DAS ENTIDADES SINDICAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 ENRIQUECENDO AS INFORMAÇÕES SOBRE A SAÚDE DOS TRABALHADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 -4-
  • 3. Apresentação A CNTT-CUT vem participando de diversas atividades ligadas ao tema Saúde e Condições de Trabalho das trabalhadoras(es) em transportes. Seja por terra, água ou ar, este é um assunto que tem merecido nossa atenção. Neste caderno, abordaremos de forma suscinta, alguns agentes causado- res de sofrimento, doenças e lesões, assim como as ações que estamos desenvolvendo no sentido de orientar os sindicatos no reconhecimento das causas e encaminhamento das soluções necessárias. Questões como as novas tecnologias, que estão sendo implementadas nos sistemas de transpor- tes, que deveriam estar voltadas também a amenizar a exposição dos traba- lhadores a condições de penúria, são impostas sem que se discutam seus riscos e benefícios. É preciso reconhecer que, "carregar o Brasil nas costas" é tarefa de muita responsabilidade, que requer seja reconhecida como atividade essencial também na hora de discutir condições de trabalho para quem a realiza. Com esta simples leitura você conhecerá um pouco da história dessa cate- goria que, embora tão explorada, sente-se orgulhosa por ser responsável pelo transporte do progresso do país. Falam com palavras simples e gírias, muitas vezes se sentem incompreendidos e discriminados devido a falta de prioridade de alguns governos no que concerne às questões relacionadas a melhorias, sejam salariais, de condições de trabalho, saúde, entre outras que não são menos importantes. Ora! Se as empresas investem na manutenção de seus maquinários, veí- culos e outros bens, nada mais justo que invista para que trabalhadoras(es) também estejam em boas condições, inclusive de satisfação pessoal. Que valorizem o trabalho desses profissionais! Remigio Todeschini Executiva Nacional da CUT e A DIREÇÃO DACNTT-CUT Coordenador do Coletivo Nacional deSaúde no Trabalho e Meio Ambiente -5 -
  • 4. Trabalhadores no ramo de transportes CARREGANDO O uso em outras indústrias, enfim, uma infini- BRASIL NAS COSTAS... dade de coisas. Trabalhadoras(es) do setor primário, plantam, colhem e extraem miné- Certo dia, na cidade de São Paulo, um rios. Mas quem os faz chegar em seus desti- motorista de ônibus urbano, ao fim de uma nos são as trabalhadoras(es) em transporte. longa conversa, com um misto de desabafo e São essas trabalhadoras e trabalhadores de orgulho, disse: "o motorista é totalmente o que dinamizam a economia, garantindo o progresso do país". funcionamento do mercado e a vida social. Antes, ele falava sobre o seu trabalho, E, mais ainda, garantem o transporte de tra- sobre as dificuldades em realizá-lo, mas balhadoras(es) para seus locais de trabalho, também sobre aquilo que lhe dava satisfação, de seus filhos para as escolas, para as numa conversa cheia de gírias e jargões pró- festas, para os estádios de futebol e para os prios da linguagem da categoria, relatando sindicatos. Transportam também os empre- acontecimentos que só os que pertencem a sários e executivos para fechar seus negó- essa categoria profissional vivem e testemu- cios e os políticos. nham. E carrega-se por ar, por terra e por mar... Essa é uma das O ramo de trans- frases que transmite portes define-se como uma das idéias que aquele que presta ser- pode ajudar a caracte- viços, o que provê ser- rizar o que é o trabalho viços essenciais à no ramo de transpor- população. Como tes. Juntamente com também dizem algu- ela, vem uma outra mas trabalhado- frase dita por trabalha- ras(es), "é um gênero doras(es) desse ramo, de primeira necessi- que é: dade". E, se assim "a gente carrega o não fôsse, não existi- Brasil nas costas". ria um dispositivo O sentido dessa específico na lei de frase leva-nos a greve que põe algu- pensar no complexo mas restrições quanto produtivo e de traba- à realização de parali- lho do Brasil. Ve m o s sações nesse ramo, que trabalhadoras(es) tais como a exigência dos ramos industriais em notificar com ante- fabricam bens mate- cedência a decisão da riais, como os alimen- categoria em realizá- tos, o vestuário, os la e a manutenção de eletrodomésticos, as um mínimo de funcio- máquinas, os remé- namento de atividade dios, os automóveis, (por exemplo: manter a materia-prima para uma porcentagem da -6-
  • 5. frota em funcionamento). Essa lei refere-se Setores que compõem aos serviços considerados essenciais, como o ramo de transportes é o caso também das trabalhadoras(es) no setor saúde. A história das trabalhadoras(es) em trans- Os outros segmentos de trabalhadoras(es) porte no Brasil está intimamente relacionada também consideram o ramo de transportes com a política nacional adotada pelos sucessi- essencial, e isso pode ser observado em situa- vos governos para esse ramo. Tais políticas ções de greves. Uma greve no setor ferroviário, levaram ao crescimento e à diminuição de portuário, marítimo e de transporte rodoviário investimentos e de incentivos aos distintos de cargas pode levar à interrupção de abasteci- meios de transporte existentes. Assim, presen- mento de bens de consumo; no setor metroviá- ciamos hoje o longo processo de desmantela- rio, ferroviário, aeroportuário e rodoviário inter- mento do transporte ferroviário que deu espaço municipal e interestadual pode significar que às grandes rodovias e, com isso o crescimento, pessoas não irão trabalhar, não irão à escola ... da categoria de trabalhadoras(es) rodoviários e Uma greve no ramo de transportes certamente a diminuição dos ferroviários. Nos grandes cen- trará repercussões em outros setores do traba- tros urbanos emerge a categoria dos metroviá- lho e da economia, pois interrompe-se um elo rios a partir da década de 70. Grandes empre- importante do ciclo produtivo. sários centralizam o setor rodoviário e aéreo, O caderno de resoluções do IV Congresso formando um verdadeiro cartel. Privatizam-se da CNTT/CUT assim define o setor de trans- rodovias e empresas de transporte. Também portes: como decorrência da política nacional de trans- "Uma característica essencial dos transpor- portes, observam-se diferenças de oferta de tes é que eles não constituem um fim em si meios de transporte nas áreas urbanas e rurais mesmo. Ao contrário, eles devem ser pensados do Brasil. Em geral, os moradores das zonas como atividades meio, isto é, como alavanca rurais têm poucos meios de transportes coleti- fundamental para o processo de desenvolvi- vos, sendo que muitos deles, como é o caso mento econômico e social do País. Os trans- dos bóias-frias, são transportados em cami- portes constituem assim, um setor estratégico nhões, expondo-os a maiores riscos de aciden- para a melhoria da mobilidade das pessoas e tes de trajeto. de bens , contribuindo dessa forma para a Apolítica de transportes no Brasil incentivou melhoria da qualidade de vida" (p. 18) o transporte individual, articulando-se ao cresci- Uma outra característica também impor- mento da indústria automobilística, em detri- tante, presente em quase todas as atividades mento do transporte coletivo. Assim, fez uma desse ramo, é o fato de os usuários (os consu- opção política e pouco democrática, já que esta midores) estarem presentes no momento em opção sustenta-se no poder de consumo indivi- que o serviço é prestado (consumido). Como dual das cidadãs(ãos). será visto adiante, isso tem implicações impor- A CUT tem em sua base cerca de 703.463 tantes para as condições de trabalho e para a trabalhadoras(es) dos setores de transporte saúde das trabalhadoras(es), mas, ao mesmo Aéreo, Terrestre e Marítimo tempo, significa a possibilidade de ter nos usuá- Há uma grande diversidade de situações de rios - muitos deles também trabalhadoras(es) - trabalho internamente a esse ramo o que impli- um aliado importante para a conquista de cará em condições de trabalho variadas. Disso melhoria de condições de trabalho. decorrem diversos problemas de saúde e as -7-
  • 6. Trabalhadores no ramo de transportes ameaças à integridade física das trabalhado- de funções e cargos. Estão presentes, por ras(es). exemplo, a secretária, o controlador de tráfego, A prática sindical visando a melhoria das o conferente de cargas portuárias, o cobra- condições de trabalho e saúde requer a adoção dor/trocador de ônibus, o bilheteiro de uma de estratégias e meios para reconhecer e equa- estação de metrô, o funileiro, o mecânico, o cionar esses problemas bem como para enca- pintor. Essa é apenas parte de uma longa lista minhar a sua resolução. de trabalhadoras(es) que, além dos operado- res, estão envolvidos na garantia dos desloca- CONDIÇÕES DE TRABALHO mentos, lista esta impossível de ser esgotada E SAÚDE DAS nesse manual. TRABALHADORAS(ES) EM Essa grande diversidade tem implicações TRANSPORTE diretas na conformação das condições de tra- balho e, portanto, dos riscos aos quais os traba- É muito fácil ter-se a idéia de que o ramo de lhadoras(es) estão expostos. Estão presentes transporte congrega apenas aqueles trabalha- riscos de natureza: dores que operam os física, como o ruído, meios de transporte, vibração e radiação; como por exemplo, o química, como os motorista, o motor- solventes e metais neiro, o operador de pesados; metrô, o piloto de aero- mecânica, como naves. No entanto, aqueles que provocam deslocar pessoas e acidentes de trabalho coisas envolve um (máquinas e equipa- complexo processo mentos); que garanta a condi- ergonômica, como a ção dos meios para exigência de adoção de que o transporte se dê, posturas incômodas e bem como a própria forçadas; atividade de transpor- as situações decor- tar. Isto exige ativida- rentes da forma como des características do se organiza o processo setor industrial (por exemplo nas atividades de de trabalho, como o trabalho em turnos e manutenção) e de serviços propriamente (ope- noturno, o trabalho aos finais de semana, o ração, administração e tráfego). Internamente a ritmo de trabalho, as relações interpessoais, o cada um desses tipos de atividade - manuten- conteúdo do trabalho. ção, operação, administração e tráfego - há também diferenças importantes quando se O quê determina as condições compara os setores Rodoviário, Aéreo, Ferro- de trabalho e a saúde viário, Metroviário, Viário e Portuário. das trabalhadoras(es)? São distintas formas de organização do tra- balho, de instrumentos de trabalho e de traba- A exposição a esses riscos não é uma reali- lho propriamente, definindo a grande variedade dade naturalmente dada. Pelo contrário, a -8 -
  • 7. adoção de tal ou qual tecnologia, de tal ou qual nossa sociedade é a busca do lucro para os condição de trabalho é determinada pela forma proprietários. como se dão as relações de trabalho. Mesmo quando se trata de empresas estatais, Numa sociedade capitalista, o processo de a lógica é a de mercado. Nesse contexto, o traba- trabalho visa cumprir a função de gerar lucro lhador, de pessoa fica reduzido a recurso humano. para os empresários e não o bem-estar dos Desta forma, as condições de trabalho e de cidadãos. Há basicamente duas formas para saúde dos trabalhadoras(es), passa a ser uma fazer isso: cobrar mais pelos serviços presta- questão de natureza política e econômica e não dos e economizar no modo como se faz esse apenas de ordem técnica. serviço. Na segunda forma busca-se economi- zar nos meios de produção (instrumentos de Principais riscos trabalho, produtos utilizados, local de trabalho, à saúde das trabalhadoras(es) por exemplo) e super-explorar o trabalho em transporte humano (extender a jornada de trabalho e intensificar o ritmo de trabalho, por exemplo). Esse manual não tem por objetivo esgotar a Vale dizer, então, que não é natural que se discussão de todos esses riscos e de seus efei- trabalhe em situações com altos níveis de tos para a saúde. Para suprir essas informa- ruído, manuseando produtos químicos como o ções, sugere-se consultar os outros fascículos chumbo e o benzeno, que se operem máquinas da coleção Cadernos de Saúde do Trabalha- e equipamentos perigosos e em ritmo intenso; dor do INST-CUT. Eles tratam do ruído, lesões que não é naturalmente por esforços repetitivos, necessário adotar postu- acidentes com máquinas, ras incômodas e força- riscos químicos e sobre os das. E por isso, as condi- métodos de avaliação de ções de trabalho são riscos e de acidentes. Faz determinadas pela forma parte dessa coletânea, como o trabalho humano manuais que se dedicam é visto na sociedade - ou a outras categorias profis- seja a ideologia de traba- sionais e, também estes lho - que está associada poderão trazer conteúdos às relações de trabalho. que sejam úteis para as No nosso caso, o capita- trabalhadoras(es) em lista (proprietário dos transporte. Por isso, suge- meios de produção) rimos que eles sejam con- compra o trabalho ven- sultados. dido pelos trabalhado- Apresentamos abaixo ras(es). O trabalho não é um quadro com os riscos realizado visando garan- mais frequentes a que tir bem-estar e boa quali- estão expostos os traba- dade de vida e saúde lhadoras(es) de manuten- aos trabalhadoras(es) e ção do ramo de transpor- à população em geral. A tes. Decerto, uma série de lógica que o governa em outros riscos não citados -9-
  • 8. Trabalhadores no ramo de transportes QUADRO I Principais riscos de acidentes de trabalho , de doenças e de intoxicações para os trabalhadoras(es) de manutenção no ramo de transportes Acidentes de trabalho projeção de partículas - esmirilhadora,rebarbadora explosão por soldagem alogênica golpes com amoladoras, rebarbadoras incêndio com produtos inflamáveis queda de objetos metálicos e outros explosão de atmosferas deflagrantes queda de altura e no mesmo nível eletricidade radiação Doenças e intoxicações ruído vibração inalação de gases, fumos e vapores contato com solventes, tintas, etc... exposição à intempéries trabalho noturno e em turno alternado posturas forçadas e incômodas poderão ser encontrados a depender da espe- venham a dificultar não só a continuidade de cificidade de cada setor. trabalho na mesma atividade, mas gozar a vida Há uma série de produtos químicos utiliza- social e familiar plenamente. dos nas atividades de manutenção, os quais Já as atividades administrativas, técnicas e podem causar diversos problemas, como por de atendimento ao público apresentam as exemplo os neurológicos (tremores, esqueci- seguintes características: trabalho com compu- mento, dificuldade de manter atenção, nervo- tadores (com risco de contrair as lesões por sismo, etc..). Alguns desses produtos são os esforços repetitivos); trabalho de atendimento solventes que podem conter benzeno, tolueno, telefônico ao público, presentes, por exemplo, estireno, xileno e os metais pesados ferro, nas companhias aéreas; trabalho de atendi- cobre, níquel, zinco, chumbo. Emprega-se mento pessoal ao público; diversas atividades ainda o amianto, uma fibra mineral cancerí- administrativas e técnicas de retaguarda às ativi- gena, em juntas de motor e lonas de freio. dades de operação, manutenção e viário. O tra- Por sua vez, os acidentes de trabalho (quei- balho nessas situações oferece poucos riscos de maduras, queda, cortes, perfuração) podem acidente de trabalho propriamente, mas explica levar a perdas com sequelas importantes que muitos problemas de saúde física e mental. -10 -
  • 9. Na operação temos grande diversidade de Essas frases, que povoam as conversas situações a depender do setor. Os trabalhado- dessas trabalhadoras(es), dizem muito sobre res no setor rodoviário urbano não podem quais são as principais agruras no seu trabalho: escapar do tráfego e da poluição ambiental (do é a grande exigência de esforço físico e mental ar, sonora, visual); para os rodoviários intermu- que trazem como conseqüência a fadiga e os nicipais, interestaduais e internacionais há os problemas de saúde mental. riscos de acidentes graves e os impedimentos Os problemas de saúde associados ao de convívio familiar; também os aeronautas esforço físico e mental são de tal modo impor- sofrem essas dificuldades quanto aos relacio- tantes - acometem um grande número de traba- namentos familiares e as constantes mudanças lhadoras(es) - que tem feito com que diversos de fuso horário, no caso das viagens de longa estudos sejam desenvolvidos, buscando carac- distância; para os metroviários há o trabalho terizar as condições de trabalho que deman- isolado, em ambientes em geral monótonos; os dam esses esforços e os efeitos para a saúde ferroviários têm vivenciado situações seme- das trabalhadoras(es). São estudos realizados lhantes às acima citadas e a crescente automa- por serviços públicos da área da saúde e do tra- ção do trabalho. balho, por universidades e institutos de pes- Por sua vez, no tráfego viário, ao organizar quisa, pelos sindicatos e centrais de trabalha- a circulação de veículos e pedestres, fiscaliza doras(es) e pelas empresas. e promove práticas educativas. Por serem ativi- Sabemos que essas queixas também estão dades realizadas ao ar livre, as trabalhado- presentes entre trabalhadoras(es) desse ramo ras(es) estão sujeitas às intempéries e à polui- em outros países, inclusive nos de Primeiro ção (sonora, visual e do ar) durante longas jor - Mundo, como Suécia, Dinamarca, Noruega, nadas de trabalho em pé, ocasionando proble- Inglaterra e Espanha. Se nesses países, onde mas de articulação dos membros inferiores, de as condições de vida são melhores identificam- coluna e de perda auditiva. se problemas significativos de saúde entre essas trabalhadoras(es), podemos ter uma Um problema generalizado: idéia de como eles se agravam quando nos o esforço físico e mental voltamos às condições de trabalho em países como o Brasil, onde as condições de infra- Quando vamos aprofundando o conheci- estrutura viária, portuária e aeroportuária é mento sobre os problemas que acometem as precária; onde as condições de vida da popula- trabalhadoras(es) de transporte, vemos que há ção que transporta bem como a que se serve algo presente de modo quase generalizado entre dos transportes muitas vezes ultrapassou o eles, independente da função e do setor em que limite da dignidade; onde não há prioridade trabalham. Começamos a compreender porque para o transporte coletivo; onde pessoas eles sentem que carregam o Brasil nas costas. podem gastar até 2 horas por dia para serem Se ouvirmos os motoristas de coletivos transportadas de suas casas ao trabalho; onde urbanos, é muito comum vê-los dizendo que a violência em alguns centros urbanos faz chapéu de bico mistura, os metroviários parte do cotidiano e, infelizmente, seja visto dizendo que fulano é código 13, os aeropor- como normal. tuários consideram que o trabalho é pesado, Nos países europeus há vários estudos que eles ficam transpassados, que o trabalho sobre problemas físicos, como os de coluna, e abala o sistema nervoso etc... problemas mentais, como o que denominamos -11 -
  • 10. Trabalhadores no ramo de transportes de stress. Há também um grande número de nado? Será a tecnologia empregada pelas estudos sobre o trabalho e a saúde dos pilotos empresas? Será o conteúdo do trabalho que de aeronaves pois considera-se que a segu- demanda muita responsabilidade ou, ao con- rança dos passageiros depende grandemente trário, é monótono demais? Poderíamos con- das condições de trabalho e da saúde dessas cluir que se deve à rigidez de procedimentos trabalhadoras(es). Motoristas de coletivos urba- ou à existência de procedimentos incon- nos são também muito estudados pois basta gruentes? Não seriam então as relações olhar o seu trabalho para concluir-se que é um interpessoais, muitas vezes com o público, e trabalho desgastante. Os motoristas rodoviários o poder advindo dos escalões superiores da também são bastante estudados pois as longas hierarquia? Na verdade, é tudo isso e muitas jornadas, o trabalho isolado e a pressão do outras coisas mais. E isso tudo é determi- tempo são importantes para os problemas de nado pela forma como se organiza o pro- saúde. Enfim, há muito conhecimento acumu- cesso de trabalho. lado sobre as trabalhadoras(es) do ramo de No caso dos problemas de esforço físico e transporte. Todos esses estudos confirmam a mental não se pode dizer que há apenas um vivência das trabalhadoras(es). fator que seja exclusivamente responsável. Ao Sabe-se que há uma série de problemas de contrário, dizemos que há um contexto de tra- saúde associadas ao esforço físico e mental, balho conformado pela presença e interação como por exemplo: entre todos aqueles fatores citados acima, e os problemas de coluna e articulações outros mais, que também mudam a cada dia de as lesões por esforço repetitivo trabalho e a cada momento. irritabilidade emocional nervosismo em suas distintas manifesta- A fadiga ções sensação de esgotamento mental (dificulda- A alta freqüência da fadiga entre as traba- des em manter a atenção, em desenvolver o lhadoras(es) em transporte é inegável. Isso raciocínio, dificuldades de memorização, etc...) pode ser observado pelo fato de existirem publi- problemas gástricos e intestinais (úlceras, cações de entidades sindicais específicas gastrites, colites, dores de estômago) sobre esse assunto. hipertensão e problemas cardíacos A fadiga é caracterizada por sensações de abuso de bebidas alcoólicas e uso de esti- cansaço físico e mental e ela passa a ser consi- mulantes derada fadiga patológica ou crônica quando o Interessante notar que as trabalhadoras(es) cansaço não é recuperado com os períodos de do ramo de transportes reconhecem bem que sono e descanso. Começam a aparecer distúr- esses são os problemas de saúde que os atin- bios de sono, insônia, irritabilidade, sensação gem. Reconhecem pelas informações dadas de desânimo, dificuldade para realizar qualquer pelos colegas e pela experiência pessoal no atividade, de trabalho ou não, perda de apetite. trabalho. Sentimo-nos fatigados quando temos a sensa- É difícil dizer o quê especificamente no ção de que não dá mais para trabalhar, de trabalho em transporte pode explicar esses que já passou do limite, quando estamos problemas: Será o ritmo de trabalho, a pres- transpassados. são para cumprir horários e metas, ou a dura- Muitas vezes pensamos que a fadiga é um ção da jornada ou o trabalho em turno alter- problema apenas físico (o corpo cansado) e - 12-
  • 11. devido aos esforços físicos no trabalho, como aspecto desgastante do trabalho. Cada cliente por exemplo, quando se carregam e tranpor- atendido tem suas exigências, sua pressa e, tam pesos manualmente (como as contínuas por vezes, pouca disponibilidade para com- exigências de movimentação no carregamento preender que quem os atende também é gente. de objetos na carga e descarga de trabalho Muitas vezes, esses clientes trazem proble- nos portos e aeroportos); o trabalho dos moto- mas a serem resolvidos mas nem sempre o ristas e ajudantes de caminhão; as diversas atendente tem autonomia ou condições para funções nos setores de manutenção. No responder às solicitações pois, em geral, as entanto, isso é apenas parcialmente verda- regras de funcionamento das empresas dão deiro. Ocorre que, além de a fadiga estar pouca margem para contemplar a situação par- associada a esses esforços devido à atividade ticular de cada cliente. física intensa, há também uma série de situa- Em geral, aquelas trabalhadoras(es) que ções nas quais aparentemente não há esforço estão em contato direto com os clientes/usuá- do corpo, como por exemplo o trabalho de rios - mesmo que através de um atendimento controle de tráfego nas salas de controle do telefônico - são consideradas o cartão de visitas metrô e na ferrovia, nos aeroportos e no sis- da empresa e, por isso, muitas exigências lhes tema viário das cidades; nas diversas ativida- são feitas, como: aparência física, cordialidade, des administrativas e técnicas em todos os tom de voz, etc. Ser considerado o cartão de ramos. Ficar sentado, operando a vigilância de visitas da empresa sem dúvida implica em muito equipamentos automatizados e esperando esforço mental e emocional. Pode-se observar que alguma intercorrência apareça para atuar essa situação no caso das(os) comissárias(os) pode ser sentido como tão desgastante de bordo, das(os) atendentes de balcão em quanto transportar várias caixas de objetos empresas aéreas, etc. durante a mesma jornada de trabalho. Isso Da mesma forma que essas atividades não porque o nosso corpo também requer movi- implicam em esforço mental apenas, o traba- mentação. Ser obrigado a ficar parado, com lho de caminhoneiros, de manutenção e de pouco espaço de movimentação também carga e descarga também não demanda exige esforço físico. apenas esforço físico. Eles têm que estar Ao lado disso, muitas vezes esses traba- atentos para cumprir metas, para não cometer lhos de vigilância de equipamentos têm uma erros no trabalho, sofrem a pressão por faze- dupla exigência de natureza contraditória: rem parte de um processo de trabalho que manter-se atento e pronto a atuar frente às nem sempre lhes dá condições adequadas de intercorrências mas, ao mesmo tempo, o local trabalho. Trabalhar no setor viário implica de trabalho pode ser extremamente monó- também em ter nas mãos grande responsabili- tono. É um trabalho que gera a sonolência, dade, onde acidentes de trânsito, às vezes de mas, ao mesmo tempo, requer atenção. Esse grandes proporções, podem ocorrer ou causar exemplo, que não é o único, mostra que há o grandes transtornos para a população como esforço mental. um todo, principalmente nos grandes centros Há ainda aqueles tipos de atividade nas urbanos, nas ferrovias e rodovias. Dado o quais o trabalho dá-se mediante o grande con- crescimento do tráfego aéreo em aeroportos tato com o público, ainda que não requeira de grandes centros, os riscos de acidentes grande movimentação física. O contato inter- aumentaram. pessoal com o público é sabidamente um É importante ressaltar que todo e qualquer - 13-
  • 12. Trabalhadores no ramo de transportes trabalho sempre demandará algum nível de los que exigem sua ação. Em geral as situa- esforço físico e mental simultaneamente, ainda ções que causam acidentes aparecem rapida- que possa ser identificada a preponderância de mente, requerem trabalhadoras(es) alertas, uma ou de outra. É impossível separar corpo e descansados e tranqüilos. Além disso, o mais mente. Importante ressaltar também que dentre importante, é contar com máquinas e equipa- os esforços mentais estão os de ordem emocio- mentos que sejam seguros. nal e não apenas a atenção, o raciocínio e a Os motoristas rodoviários, com o objetivo responsabilidade. de cumprir metas tomam os famosos rebites, As diversas solicitações, os diversos proble- o que agrava ainda mais o problema e, ao mas e demandas no trabalho (conteúdo de tra- mesmo tempo, tomam para si a responsabili- balho, tipo de atividade, contato ou não com o dade de dar conta do trabalho. Tomar os rebi- público) serão agravados caso a jornada de tra- tes é declarar que são os motoristas que balho seja muito longa; caso as viagens impli- devem se adaptar às condições para cumprir quem em mudanças de fuso horário; caso os os prazos impostos pelas empresas. prazos sejam apertados, muitas vezes impossí- Diante da complexidade que caracteriza a veis de serem cumpridos; caso o trabalho seja fadiga, o mais adequado é dizer que ela é organizado em turnos alternados, com siste- simultaneamente física e mental, até porque, o mas de folgas que não respeitem os finais de corpo e a mente não podem ser separados. semana; caso o trabalho exija que as pessoas pousem fora de casa, como ocorre no trans- Os problemas de porte rodoviário, ferroviário, portuário e aero- saúde mental nauta. Entre as aeronautas, são freqüentes as alterações do ciclo menstrual devido às mudan- o nervoso que eu sinto deve-se ao meu ças de fuso horário. jeito ou ao trabalho que faço? Um dos aspectos mais estudados com rela- Sinto-me assim por causa da minha natureza? ção ao trabalho em turnos alternados refere-se Será que eu sou fraco? ao descanso e sono. Sabidamente, o sono Essas são perguntas que sempre nos fazemos. noturno tem uma qualidade melhor do que o Sempre queremos saber a causa dos problemas sono diurno. Para driblar a irregularidade dos vividos. E sempre buscamos uma única causa. horários de sono, há casos de trabalhado- Na nossa sociedade temos por hábito con- ras(es) que adotam a auto-medicação. Tomam cluir que os problemas de saúde mental estimulantes para se manterem acordados à sempre se devem ao jeito e às estórias de vida noite, e remédios para dormir de dia, forçando o das pessoas: ela sempre foi nervosa, a famí- corpo a funcionar não de acordo com o relógio lia dele tem problemas, ele teve um problema biológico, mas de acordo com o relógio criado quando era criança. Esse tipo de explicação pela empresa. Essa é uma prática perigosa acaba culpabilizando as pessoas pelo seu sofri- para a saúde, e há casos em que essa combi- mento no trabalho. Quando adotamos esse nação de remédios foi determinante para a raciocínio para pensar os problemas de saúde ocorrência de acidentes. mental das trabalhadoras(es), é como se as Afadiga está associada a ocorrência de aci- pessoas tivessem a obrigação de se encaixar dentes de trabalho, incluindo-se os de trânsito. nas regras que organizam o nosso trabalho. Isto porque, a fadiga leva as trabalhadoras(es) Parece que dizemos o seguinte: o trabalho é a perderem a capacidade de resposta a estímu- assim mesmo, a gente deve se adaptar a ele. -14 -
  • 13. Como se a organização do trabalho fosse algo serviço que é nervoso; b) independente do jeito natural criado por Deus e não pelos homens. de ser da trabalhadora(dor) haverá um Essa explicação que culpabiliza as pessoas momento no qual ele também não aguentará; simplesmente esquece que pessoas são dife- c) mesmo a trabalhadora(dor) santa(o) tem rentes, têm estórias diferentes, gostam de um limite. Sendo assim, a causa dos problemas coisas diferentes, têm diferentes habilidades, de saúde mental no trabalho reside na falta de têm diferentes ritmos, constróem diferentes sintonia na relação trabalho-trabalhador. E a expectativas e projetos de vida. Há dias em que sintonia é possibilitada pelo exercício de con- estão bem-humoradas e outros não, há dias em trole da trabalhadora(dor) sobre os contextos que estão com toda a paciência do mundo e em de trabalho. Ter controle significa poder interfe- outros não querem ver ninguém pela frente. E rir no planejamento do trabalho. as pessoas têm o direito de ser como são. Pode-se identificar essa falta de sintonia no relacionamento com os usuários, com o funcio- Gente é assim! namento e ritmo das máquinas e equipamen- tos, nos relacionamentos com colegas de traba- Acontece que quando as empresas contra- lho, com os chefes e subordinados, aos horá- tam as pessoas, o fazem adotando uma lógica, rios apertados, à desorganização, à impossibili- um raciocínio que acredita que pessoas podem dade de compatibilizar o cumprimento de ser transformadas em recursos humanos. Se regras e procedimentos com o andamento real pensarmos bem, a palavra recurso reduz a do trabalho, dentre outras coisas. pessoa a coisa, a objeto, a máquina. Uma Quando não é possível exercer essa ação máquina bem-humorada sempre, que não falhe, que sintonize o trabalho com o jeito do trabalha- que não tenha preferências, e que não reclame. dor, os problemas de saúde mental aparecem, É certo que em algumas funções e cargos quer- sinalizando que o limite foi ultrapassado. Eles se que essa máquina seja inteligente e criativa, não se manifestam apenas na forma de doen- mas ainda assim não deixa de ser uma máquina. ças estruturadas; não necessariamente fazem Muitas vezes, o trabalho é organizado de tal com que as trabalhadoras(es) sejam afastados forma que as possibilidades de as trabalhado- do trabalho porque podem aparecer como sofri- ras(es) regularem os acontecimentos são míni- mento emocional, cansaço mental, perda da mas e não deixam espaço para que elas procu- paciência, pensamentos depressivos, agressi- rem adequar as exigências do trabalho ao jeito vidade, necessidade de descarregar em de cada um naquele dia. Dizemos que há traba- alguém, dificuldade de raciocinar e de se man- lhos nos quais as trabalhadoras(es) têm pouco terem atentos. controle. Ter pouca possibilidade de controle Enfim, como dizem as trabalhadoras(es): o implica em desrespeitar o limite que cada um sistema nervoso fica abalado de nós agüenta. E não podemos negar que Nesse momento, alguém poderia dizer: pessoas têm limite, que varia de dia para dia e mas isso é muito complicado!. Diríamos que é de hora para hora. complexo e não complicado. Diríamos ainda Sabiamente, um trabalhador do ramo de que querer simplificar essa complexidade nos transportes disse: a pessoa pode ser o maior conduz a transformar pessoas em recursos santo, mas uma hora ela também vai acabar humanos. É também essa complexidade que estourando. Esse serviço é nervoso. Essa fala nos explica por que, de 20 pessoas trabalhando mostra-nos alguns aspectos importantes: a) o na mesma função, na mesma empresa e sub- -15 -
  • 14. Trabalhadores no ramo de transportes metidas às mesmas regras, podemos ter 10 sas desses controladores mostram que a falta que adoecem e outras 10 que suportam apa- de equipamentos adequados e de condições rentemente bem trabalhar sob essas condi- mínimas de trabalho exigem esforços sobre- ções. Das 10 que adoecem, temos ainda uma humanos para garantir a segurança dos vôos. variedade de quadros: alguns sentem dor de Eles têm crises emocionais, sofrem de depres- estômago, outras têm colite, outras ainda são e relatam problemas de convívio familiar e observam a pressão arterial sofrer alterações. social devido às altas exigências do trabalho. Por outro lado, observamos que pessoas traba- Essa situação se agrava ainda mais porque o lhando em situações completamente diferentes número de vôos aumenta a cada dia e, conse- desenvolvem quadros patológicos semelhan- qüentemente, o volume de trabalho. Condições tes: o mecânico de manutenção, o maquinista, semelhantes são vividas pelos controladores o controlador de tráfego e o bilheteiro de esta- de tráfego ferroviário e metroviário. ção podem, por exemplo, desenvolver gastrite Entre os aeroportuários, observa-se que o e sofrimento emocional. trabalho realizado no pátio implica em grande Além do sofrimento vivido pelas próprias esforço físico e mental, estando expostos às trabalhadoras(es), os problemas de saúde intempéries, ao barulho em níveis absurdos. Tra- mental podem repercutir no relacionamento balham em condições nas quais há excesso de familiar, explicando conflitos e violência contra estimulações (visual, auditiva e poluição do ar). cônjuges, filhos e parentes próximos. Muitas Assim, é inevitável que eles fiquem zuretas. vezes as trabalhadoras(es) demonstram seu sofrimento através do desinteresse pelas ativi- Automação no dades de lazer e culturais. ramo de transportes Uma frase freqüentemente dita pelas traba- lhadoras(es) do ramo de transportes é: eu A introdução da automação no ramo de gosto do que eu faço mas não do jeito que tem transportes tem crescido significativamente, prin- que fazer. Vemos que de modo geral, sentem cipalmente em alguns setores nas áreas de ope- orgulho do que fazem, conhecem e valorizam o ração, de controle de tráfego, de atendimento e significado social e econômico do seu trabalho, de administração. E, mais recentemente, vimos mas gostariam de poder fazê-lo de um modo a introdução da catraca eletrônica no transporte diferente. Gostariam de poder interferir no pla- rodoviário urbano. Se de um lado a automação nejamento do trabalho e contar com equipa- pode significar maior segurança e conforto; de mentos adequados de modo a diminuir o outro, ela está associada a maior esforço mental, esforço físico e mental e, conseqüentemente, a problemas visuais, à lesão por esforço repetitivo, fadiga e os problemas de saúde mental. à monotonia. De modo geral, o planejamento do Uma menção especial deve ser feita à situa- trabalho é realizado privilegiando-se a otimiza- ção dos controladores de tráfego aéreo (aero- ção da tecnologia implantada e não conside- portuários e militares da aeronáutica) que car- rando o limite das pessoas. Além disso, como o regam em suas mãos grande responsabilidade emprego de tecnologias informatizadas requer pelo transporte de aeronaves. Trata-se de um menos quantidade de trabalho humano, opta-se trabalho extremamente nervoso pois a por reduzir o número de postos de trabalho ao tomada de decisão que orienta os pilotos de invés de reduzir a jornada semanal de trabalho, aeronaves pode evitar a ocorrência de grandes o que manteria o nível de empregos. acidentes aéreos. Relatos dramáticos de espo- A adoção de novas formas de organização -16-
  • 15. do processo de trabalho e da automação pode podem gerar benefícios para os usuários - modificar o conteúdo do trabalho, do ritmo e o quando, por exemplo, o operador imprime modo como se dinamizam as relações interpes- maior velocidade nos carros - e para gerentes soais. Cada vez mais os controles gerenciais e empresários, ao burlarem regras inaplicáveis sobre as trabalhadoras(es) estão embutidos frente aos problemas reais ou aumentando a nos equipamentos informatizados, muitas produtividade. É por isso que quando aeronau- vezes prescindindo do encarregado ou supervi- tas e aeroviários fazem a operação-padrão, o sor para garantir as metas gerenciais. Ao lado ritmo de trabalho diminui, a produtividade cai, disso, criam-se novos papéis de trabalho atra- reduzem-se os lucros dos empresários e os vés dos quais se exige a polivalência e o usuários ficam irritados. aumento de responsabilidade sem com isso Esses jeitinhos melhoram o trabalho e aumentar a autonomia das trabalhadoras(es) fazem o trabalho andar mais. sobre as atividades que desenvolvem. Diante das contínuas inovações novos pro- O trabalho no ramo blemas de saúde poderão emergir. de transportes é penoso Buscando amenizar Dadas as características do trabalho no ramo as exigências do trabalho de transportes, muitas das atividades aí exerci- das foram consideradas penosas pela lei da Pre- As trabalhadoras(es) não ficam passivos vidência Social que em 1960 definiu as regras frente às diversas exigências do trabalho. Ao para a aposentadoria especial . Alógica adotada contrário, buscam evitar ao máximo as conse- por essa lei é a de que há determinadas ativida- qüências da falta de sintonia entre os contextos des profissionais que potencialmente desgastam de trabalho e o jeito de cada um. Desta forma, mais a saúde dos trabalhadoras(es) e, por isso, procuram evitar ao máximo as doenças, os aci- eles teriam direito a se aposentar com menor dentes e o sofrimento no trabalho. Para tanto, tempo de trabalho do que outros. Dentre esses criam jeitinhos próprios para lidar com a motivos estava a penosidade, que, embora não situação. São formas de se adaptar e de mudar contasse com uma clara definição, podia-se as prescrições do trabalho de modo a amoldar, deduzir que era devido a esforços, sofrimentos o máximo possível, o que deve ser feito às físicos e mentais. características pessoais de cada um. Mas alguém poderia contra-argumentar: Tais práticas funcionam como se fôsse um mas qualquer trabalho gera sofrimento! De desabafo. Em geral, os(as) trabalhadoras(es) fato, momentos de sofrimento, de esforço e de constróem essas estratégias de adaptação incômodo estão presentes em qualquer traba- coletivamente; constróem também uma lingua- lho, mesmo naqueles que gostamos e que gem própria que possibilita manter a privaci- escolhemos fazer. Porém, o problema é quando dade mesmo estando em público. eles são sentidos como demasiados, quando Se de um lado, esses jeitinhos possibili- sentimos que fomos transpassados, denun- tam amenizar os esforços demandados pelo ciando que o limite subjetivo foi desrespeitado trabalho, de outro eles não resolvem o pro- e, além disso, não temos meios para interferir blema em sua origem (mudando as regras, o no trabalho. Quando o sofrimento, o esforço e o ritmo de trabalho e os procedimentos). É bom incômodo passam a explicar os problemas de frisar que algumas dessas práticas também saúde física e mental. -17 -
  • 16. Trabalhadores no ramo de transportes do trabalhador requerem um trabalho contínuo A AÇÃO DAS de identificação e análise dos problemas, elei- ENTIDADES ção de prioridades e definição de estratégias SINDICAIS para atuar em vários níveis. por ser um ramo iminentemente prestador de Para dar conta desses problemas acima dis- serviços, deve-se, quando possível, articular cutidos, deve-se: ação sindical com o movimento social mais organizar as Comissões de Saúde e Traba- amplo, ou seja, com a população que se utiliza lho (COMSATs) nos sindicatos; dos serviços prestados. atuar em sintonia com a CUT nas diversas instâncias; Identificando organizar a ação sindical no local de traba- e analisando lho, através das CIPAs etc... os problemas Alguns aspectos devem ser reconhecidos como norteadores da ação sindical em saúde: 1. Um princípio: uma primeira pergunta diz ter como meta alcançar a melhoria das con- respeito a quem pode identificar os problemas dições e da organização do trabalho. Isto de condições/organização do trabalho e de porque, se são elas que não respeitam o limite saúde. Entendemos que são as trabalhado- das pessoas, de nada adianta apenas tratar as ras(es) que vivenciam cotidianamente e reali- trabalhadoras(es) já adoecidas(os) e acidenta- zam o trabalho os que têm um conhecimento das(os); insubstituível sobre o que é bom e o que é ruim as condições de trabalho que afetam a na atividade laboral. Em função disso, deve-se saúde dos trabalhadores também afetam a iniciar a identificação desses problemas pelo segurança e a quali- que dizem as trabalha- dade dos serviços pres- doras(es). Essa visão é tados à população; contrária àquela de que não existem procedi- apenas os técnicos mentos-padrão que especializados podem poderão ser adotados proceder à identificação para todas as catego- e análise dos proble- rias e situações; mas. essas ações não 2. níveis de identifi- poderão ter apenas cação dos problemas uma abordagem téc- de saúde e condi- nica, mas requererá ções/organização do uma ação política, atra- trabalho: (a) no âmbito vés das centrais sindi- de cada categoria de cais, sindicatos, comis- trabalhadoras(es); (b) sões por local de traba- no âmbito da base de lho e CIPAs, envol- cada sindicato; (c) no vendo ativamente os âmbito de cada local trabalhadores de base; de trabalho. É em as ações em saúde função da existência -18-
  • 17. desses vários níveis que se coloca a importân- goria. O mesmo pode ser buscado nos servi- cia em contar com organizações de trabalha- ços públicos de saúde que atendam adultos. dores em cada local de trabalho que poderão (d) No âmbito de cada local de trabalho atuar juntamente com os diretores sindicais podem ser empregadas as reuniões com para o delineamento de uma política sindical grupos de trabalhadoras(es) por área, setor, de saúde. turno, etc...; as conversas individuais; aplica- 3. como fazer o levantamento dos proble- ção de questionários. Uma metodologia mas. Não existe um jeito melhor de se fazer importante a ser empregada é o mapeamento esse levantamento. Tudo vai depender da de riscos, já bastante disseminada no meio organização das trabalhadora(es) no local de sindical no Brasil, influenciada pelo movi- trabalho e em seus sindicatos. Vai depender mento sindical italiano. Quanto aos acidentes também das condições materiais que se têm. de trabalho, há a metodologia da árvore de A técnica não é o mais importante, mas sim causas. garantir que as trabalhadoras(es) efetiva- 4. a busca de assessoria e informações téc- mente participem de modo a possibilitar o nicas: Após a identificação dos problemas de delineamento de uma ação sindical em condições/organização do trabalho e saúde a saúde. (a) É importante haver um espaço nos partir do que informam os trabalhadores, muitas sindicatos no qual trabalhadoras(es), mesmo vezes teremos necessidade de aprofundar o individualmente, possam apresentar suas conhecimento sobre efeitos à saúde, de melhor queixas e problemas. E talvez os sindicatos caracterizar os problemas de saúde e as doen- possam aproveitar estruturas que já possuem ças, de identificar as formas de melhoria das e que são procurados por muitos trabalhado- condições/organização do trabalho e também res, como por exemplo os serviços de asses- as de tratamento dos problemas de saúde já soria jurídica. Cada uma dessas queixas indi- instalados. O aprofundamento da análise viduais poderá fazer parte de um banco de poderá ser obtido através de informações e dados que, ao lado de outras fontes, poderá assessoria técnica na CUT, nas Universidades, elaborar um perfil de problemas naquela base nos Serviços Públicos de Saúde do Trabalho e sindical. Há diversos modos de construir um órgãos de pesquisa. mapeamento de problemas na categoria e 5. definindo prioridades de ação: aqui também precisamos dele para elegermos prioridades não há um melhor jeito de definir as prioridades. O de ação sindical em saúde. (b) Os encontros, importante é que elas sejam discutidas e elabora- seminários e cursos sobre saúde e condi- das com as trabalhadoras(es) envolvidas em ções/organização do trabalho oferecidos cada situação e/ou local de trabalho. também para trabalhadoras(es) de base é uma oportunidade na qual duas atividades A formação em podem ocorrer simultaneamente: a de forma- saúde e trabalho ção e a de identificação de problemas. (c) Nos locais onde existam Centros de Referência de De acordo com o IV Congresso Nacional da Saúde do Trabalhador (CRSTs), além de os CNTT, os sindicatos e a CUTdevem: sindicatos participarem ativamente de sua formar conselheiros de saúde, assessores, gestão e das ações nas empresas de sua cipeiros através de seminários e cursos; base, pode-se buscar informações sobre realizar pesquisas caracterizando o impacto atendimentos de trabalhadoras(es) da cate- das condições de saúde sobre a saúde; -19 -
  • 18. Trabalhadores no ramo de transportes formar dirigentes; CC.OO. - Apuntes para um método de tra- divulgar a metodologia de Árvore de Causas; bajo con los delegados de prevención. Espa- promover cursos de iniciação para cipeiros; nha, s.d. promover formação voltada para atacar os CNTT-CUT - Resoluções e memória do IV efeitos da periculosidade, penosidade e insalu- Congresso Nacional de Trabalhadores em bridade, buscando a superação destas condi- Transporte da CUT. São Paulo, setembro de ções de trabalho e da monetização da saúde. 1999. Sugerimos que seja consultado o fascículo CUT - Saúde, meio ambiente e condições de 1 dos Cadernos de Saúde do Trabalhador do trabalho - conteúdos básicos para uma ação INST-CUT, Construindo a organização no local sindical em saúde. São Paulo, outubro de 1997. de trabalho – Manual de ação sindical em Dejours, Ch. - A loucura do trabalho - estudo saúde do trabalhador e meio ambiente, espe- de psicopatologia do trabalho. São Paulo: cialmente dedicado à ação sindical em saúde. Oboré, 1987. D I E S AT - As condições de trabalho na área operativa - estudo na OPM realizado ENRIQUECENDO pelo DIESAT e Sindicato dos Metroviários AS INFORMAÇÕES de São Paulo. Relatório de Pesquisa, SOBRE A SAÚDE mímeo, 1985. DOS TRABALHADORES DIESAT - De que adoecem e morrem os tra- balhadores. São Paulo, Imesp, 1984. Recomendamos a consulta dos manuais que DIESAT - Insalubridade - morte lenta no tra- fazem parte dessa série de publicações da CUT. balho. São Paulo, DIESAT/Oboré, 1989. Recomendamos DIESAT - Relatório também a busca de sobre condições de tra- informações na central balho e saúde dos aero- sindical, em sindicatos nautas. Relatório de pes- e bibliotecas das facul- quisa, 1984. dades, universidades Fetcomar-CC.OO. - e órgãos de pesquisa. Fatiga y conducción en Em geral, as centrais carretera. Madrid, 1997. sindicais e os sindica- Ministerio de Trabajo, tos mantêm intercâm- Empleo y Formación de bio com sindicatos e Recursos Humanos. centrais de outros Encuesta sobre condicio- países, os quais nes de trabajo en el enviam material de transporte internacional interesse dos trabalha- de cargas por carreteras. dores. Abaixo encon- (Mercosur, sub-grupo de tram-se algumas indi- trabajo 10, comisión cações de leitura. temática 3). Argentina, Acordos coletivos abril 2000. dos diversos setores Sato, L. - A r e p r e- que compõem o ramo. sentação social do tra- -20-
  • 19. balho penoso. In: M.J.P. Spink (org.) O trabalho dominado. Rio de Janeiro: conhecimento no cotidiano - as representa- Cortez/UFRJ Editora, 1994. ções sociais na perspectiva da psicologia Sindicato dos Trabalhadores em Trans- social. São Paulo: Brasiliense, 1993. porte de São Paulo, Departamento de Medi- Seligmann-Silva, E. - Saúde mental e auto- cina Preventiva da Faculdade de Medicina da mação: a propósito de um estudo de caso no USP, Fundacentro-CTN - Estudo das condi- setor ferroviário. Cadernos de Saúde Pública, ções de trabalho e saúde dos motoristas e 13(supl. 2): 95-109, 1997. cobradores urbanos de São Paulo. Relatório Seligmann-Silva, E. - Desgaste mental no de Pesquisa, 1991. -21-
  • 20. -22-
  • 21. Rua Caetano Pinto, 575 - Brás São Paulo - CEP 03041-000 Tel.: (0XX11) 3272 9411 ramais: 153 e 291 Fax: (0XX11) 3272 9610 Homepage: www.instcut.org.br E-mail: inst@instcut.org.br Diretor responsável Remigio Todeschini EQUIPE TÉCNICA Coordenador executivo Domingos Lino Consultor técnico Nilton Freitas Assessores técnicos Fátima Pianta Luiz Humberto Sivieri EQUIPE DE FORMAÇÃO Escola São Paulo São Paulo/SP Escola Sul Florianópolis/SC Escola Sete de Outubro Belo Horizonte/MG CENTRALÚNICADOS TRABALHADORES Escola Centro Oeste Rua Caetano Pinto, 575 - Brás - CEP03041-000 - São Paulo - SP- BRASIL Goiânia/GO Tel.: (0XX11) 3272 9411 - Fax: 3272 9610 Escola Marise Paiva de Moraes Homepage: www.cut.org.br - E-mail: executiva@cut.org.br Recife/PE Escola Amazonas Belém/PA EXECUTIVA NACIONAL DACUT - 1997/2000 Escola Chico Mendes Presidente: João Antonio Felício. Vice-Presidente: Mônica Valente. Porto Velho/RO Secretário Geral: Carlos Alberto Grana. Primeiro Secretário: Remígio Todeschini. Tesoureiro: João Vaccari Neto. Secretário de Relações Capa Internacionais: Kjeld Aagaard Jakobsen. Secretária de Política Sindical: Marco Godoy Gilda Almeida de Souza. Secretário de Formação: Altemir Antonio Tortelli. Projeto gráfico e diagramação Secretária de Comunicação: Sandra Rodrigues Cabral. Secretário de PIXEL Comunicação e Design Políticas Sociais: Pascoal Carneiro. Secretário de Organização: Rafael Freire Neto. Diretoria Executiva: José Jairo Ferreira Cabral, Maria Fotolito Ednalva Bezerra de Lima, Elisangela dos Santos Araújo, Luzia de Oliveira Kingpress Fati, Rita de Cássia Evaristo, Lúcia Regina dos Santos Reis, Jorge Luis Martins, Lujan Maria Bacelar de Miranda, Temístocles Marcelos Neto, José Impressão Maria de Almeida, Júnia da Silva Gouvêa, Wagner Gomes, Gilson Luis Kingraf - gráfica e editora Reis, Júlio Turra. Suplentes: José Gerônimo Brumatti, Francisco Alano, Aldanir Carlos dos Santos, Wanderley Antunes Bezerra, Rosane da Silva, OUTUBRO 2000 Dirceu Travesso, Mônica Cristina da S. Custódio.