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A Corporeidade aprendida com a Gravidez 
o corpo de um pequeno como guia 
Beatriz Rinaldini Santos 
São Paulo - 2014
"Crescer é aprender, e descobrir como aprender só cada um pode faze-lo" 
Eusébio Lôbo da Silva
Ao Mae, 
o pai.
Agradeço por poder pesquisar este tema neste trabalho 
de conclusão de curso , 
qual foi atravessado por uma gravidez. 
E que assim não poderia deixar de ser marcado. 
Gratidão por evidenciar no meu estudo meu 
aprendizado pessoal, dedicando-me em sua 
compreensão.
Resumo 
Os processos de aprendizado observados no conviver e relacionados a técnicas de dança. A 
Relação de aprendizado materno-infantil através da corporeidade, compreendendo a gravidez , o 
parto e o desenvolvimento da criança. O corpo fêmea e seu espetáculo biológico. O Parto como 
epifania, em suma , a épica trajetória de mudanças e dinâmicas corporais com a chegada de uma 
criança. 
Palavras Chave: Relação Materno-infantil. Gravidez em sílabos de dança. Observação de 
organizações corporais no bebê.
Introdução 
Há relação de aprendizado entre mãe e filho desde sua concepção. Durante a 
gravidez, parto e seus processos de desenvolvimento motor. 
" O amor é a emoção, a disposição corporal dinâmica que constitui em nós a 
operacionalidade das ações de coexistência em aceitação mútua" VERDE-ZÖLLER, 
Gerda , 2004. 
Através dos verbos, apresentados no começo de cada capitulo, os evocaremos da 
boca da mãe e do corpo falante de sua cria. Considerando o olhar de cada um e 
compreendendo os aprendizados dessa corporeidade, dos 2 seres, intrínseca no 
iniciar da vida. 
Intrínsecas, 
pois os corpos necessitam um do outro por questão de vida. A dinâmica de 
reverberações no corpo-mãe para o corpo-filho e vice-versa são de constante 
aprendizado, mútuo estimulo e afeto.Estamos tratando de questões biológicas , 
comuns a todos os humanos , que persiste em se revelar como o mais ilustre 
acontecimento. Invadindo a todos com a possibilidade de mais uma vez tentar, 
nascendo ou parindo. 
Parindo ou nascendo, eis o mistério do ovo e da galinha. Quem veio primeiro, e 
ensinou a quem ? 
Da separação de dois corpos se inicia uma relação de construções. Reciprocas: 
a partir de projeções espaciais dos corpos. A existência do bebê e o renascimento 
do corpo receptáculo, são vitalmente responsáveis um pelo outro. Revelando um 
corporeidade de estado único. E uma reconciliação do dual, quase sempre visto 
com polos, este , é entrelaçado. Dois que funcionam como Um. 
O corpo materno que aprendeu e desaprendeu, agora reúne em si informações 
e conhecimentos de práticas que surgem pela exigência de um choro de um 
pequeno bebê cheio de saberes.
MULHER INSANA 
dilatação 
ENFURECERA 
gritarA , chamarA 
ativa músculos 
ser grande para caber dois 
centrar FORÇA 
é femininA 
o sexo evidente 
Atravessar o portal 
V de agina 
"empurra na próxima com toda 
força que vai nascer"
Capitulo Mãe 
O processo de desenvolvimento da gravidez representado numa caminhada, crescendo, inflando, fortalecendo. 
Embaraçada, criando por dentro. 
Para ao fim rachar-se ao meio, 
abrir-se. 
O Eixo da coluna retifica-se na lombar para o peso extra ir se encaixando crescentemente. Numa postura base inicial , como 
kamae "A base física dessa postura é o joelho ligeiramente flexionado , o centro da gravidade colocado no quadril, o corpo 
estável, firme e natural"( OGAWA, Felicia Megumi, A idéia do físico corpóreo em transformação, 2006). Iniciando um longo 
trabalho físico com o " ato de estar de pé, consciente de todo o campo de forças, mantendo-se em equilíbrio dentro dele e 
também emitindo a força do Ki" , este para dentro, concentrado. 
A bacia sofre amolecimento, 
e expansão constantes até o dia do parto, no seu ápice. Criando espaço, se agigantando para caber, 
para conter, para conduzir um pequeno corpo até a vida. 
As pernas ganham força, forma e câimbras. 
Braços também mais fortes para ninar e lavar um infinidade de coisas de neném. 
Coluna por dois, 
o seu centro emprestado, sua força emprestada, 
vulnerabilidade valente. 
A gravidez é o estado do supercorpo capaz de tudo o que necessita. 
Incluindo limitações e restrições necessárias para se resguardar, protegendo-se. 
Este corpo complexo fala por si tão bem. É mistério de encantamento sobre como se conduz numa inteligência biológica de 
tamanha precisão. Hoje fora desse corpo cabe a mim trata-lo com o arquétipo da mulher selvagem , tão bem tratado em 
Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estes, 1999.
Pois falar de maneira realista e literal sobre o corpo grávida e o parto é 
não olhar para a maior característica desse estado: 
a ausência de racionalismos. A Fêmea prenha não partilha de 
comunicação com este mundo prático. A fêmea é inundada por si mesma 
e pelos processos naturais. A fêmea é um bicho seguindo seus ritmos, seu 
hormônios.- Movimentos. Este corpo tem muitas mudanças por fora e por 
dentro. É um festival de acontecimentos. Por dentro ofereço ao bebê 
múltiplas sinfonias de meu organismo em funcionamento. Meus 
acontecimentos de rotina fisiológica são seu entretenimento. São 
experiências rítmicas, musicais. 
" Após a íntima relação no útero entre o bebê que cresce e sua mãe, o 
processo epigênico inicial mais importante para o desenvolvimento da 
consciência humana ocorre na musicalidade elementar dos ritmos 
corporais vibratórios e sonoros da relação materno-infantil, enquanto a 
mãe dá de mamar, acaricia, embala, fala, acalanta e balança o berço do 
recém-nascido." Amar e brincar - O brincar na relação materno-infantil 
de Humberto R. Maturana - Gerda Verden-Zöller. 
Os processos físicos do parto não são de experiência de descontrole, 
onde é tomada pela natureza. Uma mulher é o mar, é um furacão , é um 
vulcão. É arrebatamento. Mulher é deus que cria por baixo.
"A dor - tão desprestigiada nos tempos modernos - é necessária no 
resguardo.Para se conectar com partes muito escondidas de nosso 
ser, para investigar bem lá dentro e sair do tempo e do espaço reais . 
Para entrar em um nível de consciência intermediário, um pouco fora 
da realidade . A dor permite que nos desliguemos do mundo 
pensante, percamos o controlem esqueçamos a forma, o correto. A 
dor é nossa amiga , nos leva pela mão até um mundo sutil, ali onde o 
bebe reside e se conecta conosco. Perdemos a noção de tempo e 
espaço. Para entrar no túnel da ruptura , é indispensável abandonar 
mentalmente o mundo concreto. Porque parir é passar de um estágio 
a outro. É um rompimento espiritual. E, como todo rompimento, 
provoca dor. O parto não é uma enfermidade a ser curada. É uma 
passagem para outra dimensão. " GUTMAN, página 50 de 
Maternidade o encontro com a própria sombra. 
O rios de hormônios jorram. Dilatação , fúria. O parto epifânia. Cura 
sim, as questões existenciais. O que as palavras não podem contar 
sobre parir , sobre a loucura da fêmea prenha é expressado com 
rigorosidade em rompantes de fúria, no descontrole e entrega as 
forças do acaso. Do acaso de si , que inunda e cria correntezas.
"A partir do imergir em uma autovisitção, a constatação de 
uma certeza: o pulsar da vida dentro do corpo.(...) Esse 
movimento sequenciado apresenta um padrão de realidade 
que acelera e desacelera, que interrompe e inicia de acordo 
com sua necessidade,(...) para buscar as garantias de que o 
corpo segue em crescimento . Dessa imersão, o voltar à tona, 
emegir para a possibilidade de entender esse mover e esses 
ritmos , criar novas maneiras de mover com eles junto deles, 
interpenetrando-se corpo e ritmo ou tangenciando , corpo e 
ritmo. 
Relações de dependência , interdependência , reverencia ou 
simplesmente companhia. Do ritmo e da sequencia , em 
direção à música , para preencher o corpo enquanto ele se 
move, para delinear sua trajetória e seu contorno , para fazer 
o corpo mover enquanto ele , em si, se move: o sentir do 
ritmo que altera o ritmo enquanto o corpo se move . O corpo 
se emociona, treme, ebule, aparentemente inerte ou 
deliberadamente móvel. O movimento dentro do movimento 
do corpo. E todo o corpo segue, pulsa, vibra, tanto no silencio 
quanto na ausência dele, tanto na suavidade quanto na 
ausência dela, tanto na forma quanto na intenção." 
MANSUR,Fauzi.2003.
DAR à LUZ 
A musculatura do nascer e suas 
Curvas 
DESLANCHAR 
A Cor Dar 
Espreguiçar 
SAUDOSISMO 
Das paredes do ÚTERO 
E sininhos 
DAR A BARRIGA 
Espirrar e levantar as 2 pernas 
Fazer Festinha 
Ninar: a dança 
À dois.
Capitulo Bebê 
Depois do portal atravessado, o parto. Já não é mais possível 
acessa-lo de maneira simples. Tais momentos passaram, 
celebrados e ritualizados. Foram-se. 
Após parir a mãe também se transfere a um corpo-bebê 
revivendo a corporeidade característica. Reencontrando e 
reorganizando movimentos , expressões e sons : verbos. 
Refazendo a si própria , que foi "rachada ao meio" ao parir. 
O bebê é um reencontro com o conhecido. Sabemos tudo o que 
um bebê experimenta fazer pela primeira vez, no entanto , não 
lembramos mais como foi que aprendemos. Não recordamos 
vivamente de nossa infância, a vemos e compreendemos 
através das crianças ao redor. Assim é possível observar que 
cada verbo de ação é construído com experiência de vida de 
alta importância. Um estalar de dedos é pura magia para um 
bebê, e quaisquer movimentos que se utilizem de habilidades 
finas Pois estes movimentos são muito distantes da apropriação 
física dos bebês.
Coroar e Nascer 
Minha cabeça é a primeira a sair. Assim tenho meu crânio comprimido. O 
mundo me coroa . 
Empurrado por contrações de meu primeiro colo. Ser parido. Ser cuspido para 
o mundo. Sair da curva fetal em mim mesmo. Ativar minha musculatura, 
expandir. Minha coluna se desdobrando. Vestir minhas pernas, as esticando 
vigorosamente. Meu peito se abrindo, expandindo. Olhos bem abertos. Dedos 
dos pés e das mãos como raízes. 
O primeiro respirar. 
Me movo (pela 1a vez) livre de tudo descoordenadamente, mas com meu 
pequeno corpo inteiro. 
Durmo e ao acordar espreguiço-me como quando nasci. Há sabedorias em 
mim sobre a manutenção do meu corpo. Sobre meu bem estar. A segunda 
curva de minha vida. "Cambre" como alguns dizem. Verificando minha ligação 
céfalo-pélvica, ativando toda minha coluna. Me estico completamente antes 
de abrir os olhos. Espreguiço-me até minhas extremidades, meus punhos 
tremelicam como sininhos. 
Tenho resquícios dos reflexos que tinha dentro do útero, minhas mãos se 
esticam como se eu estivesse envolvido completamente. 
Amo o toque do corpo de minha mãe e seu abrigo. 
Preciso de ritmo. De passos e o pulso do coração. Fora da barriga, ensino um 
verbo: Ninar. Ninar é dançar hipnotizando suavemente provocando sono. 
Ensinado isso aos que me amam, estes ficam com esse cacoete, quando de pé 
ninam. Quando leem ninam. Quando cozinham, ninam. Quando se abraçam, 
ninam.
Dois meses depois de meu nascimento aprecio muito ficar solto, deitado, 
sozinho sentindo meu corpo. Meus pés e braços esticados. Tenho os 
joelhos como chamam, Andeor , naturalmente apontados para os lados. 
Desenho um pliet. Meu abdômen dispõe de uma força concentrada. Meu 
centro ativo. Quando espirro levanto minhas duas pernas. Pois funciono 
de maneira integrada. Me movo completamente quando uma parte de 
mim é estimulada. E quando uma felicidade me inunda me movo 
completamente numa festa. Meus braços e pernas se movem 
comemorando a si mesmos. 
Aos poucos afino a comunicação através de meu corpo. Dar a barriga, me 
oferecendo à preencher colos. Convidando para uma dinâmica troca de 
movimentos. Dizendo, pegue-me. Erga-me. Balance-me. Eu conduzo. E 
busco as luzes e cores dos ambientes, quero conhece-los. Quero ganha-los 
para meu mundo. 
Certo dia ganho um presente que me enriqueceria muito. Um sino em 
forma de girafa é colocado no bebê-conforto. Me mostram o seu som. E 
me instiga procurar como interagir. Mexo meus braços em direção dela, a 
acerto rapidamente. E denovo e denovo. Eu produzo sons através desse 
brinquedo. Eu brinco! Mostro a minha mãe que o processo do brincar 
leva a riquezas de aprendizado muito maiores do que o calculável. 
Descubro: posso interagir com tudo o que está ao meu redor! 
Eu vejo e escuto > Me movo para tocar > Com a repetição aprimoro meus 
movimentos momento à momento. - Posso repetir o mesmo processo 
com outros objetos.
Outros objetos, e tudo que está ao meu redor. Da minha fralda de boca, à meus pais. Que agora são acordados com nada 
delicados socos e puxões de cabelos, muito bem recebidos por compreenderem a apropriação de um novo saber. Logo 
ganho um movimento com os braços chamando a quem quero. O jogo na direção e logo este rebate em mim mesmo com 
força. 
Gosto de exercitar as pernas, fazendo força contra o corpo de minha mãe. Brincando de ser bípede por alguns segundos. 
Cada vez com mais força. Cada vez por mais tempo.Falam comigo e quando encontro algo novo paro para refletir e 
absorver o novo. Mas, meus pés, ou dedos da mão reverberam meu raciocínio. Meus dedos deduzem os fatos. Enquanto 
penso meus pés pensam junto. A segmentação do meu corpo só ocorre de maneira inconsciente. 
Me apresentam um novo ponto de vista desse mundo me colocando de barriga para baixo. " Apoiando o peso do 
abdômen (estabilizando a parte inferior) e tentando levantar o peito do chão (mobilizando a parte superior)" como diria 
Ciane Fernandes em Corpo e movimento : o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa nas artes-cênicas.
Mães e filhos no puerpério não se surpreendem com o mistério, 
há o ovo na galinha e há galinha no ovo. 
Os ciclos formam círculos. 
Coesos , inteiros, saberes completos sobre si.
Sobre a oportunidade de trocar de corpo em meio ao curso. 
Sim, trocar. Meu corpo não cresceu , pariu "simplesmente", no 
completar do meu terceiro septênio eu mudei de corpo. Isso me 
proporcionou conhecimento além de mim. Além daquela kinosfera 
conhecida, esguia e magra. Desenvolvi outros conceitos dos quais 
nunca saberia. Ter peso, mudar constantemente o ponto de 
equilíbrio gravitacional do corpo. A experiência em si mais o 
conhecimento agregado , sobre anatomia, fisiologia e estudo dos 
movimentos , fez de mim consciente de meu corpo em meu parto, 
uma automia e me faz consciente sobre o corpo de meu filho a fim 
de observa-lo e educa-lo. 
O aprendizado é intrínseco a vida de ambos. Juntos. Este artigo foi 
escrito em boa parte com Uirá , meu filho , em meu colo. Digitado 
em alguns momentos com uma das mão para que pudesse 
amamentar. Essa necessidade corpórea um do outro pede 
desdobramentos e soluções únicas. Estamos juntos desde a 
respiração celular. E somos fortemente conectados por ela. Sei 
acalma-lo através de minha respiração. Aprendemos juntos muitos 
conceitos sobre contato. Aguçada percepção um sob o outro.Nossas 
peles se comunicam desde o útero. Ele me conhece por dentro. Eu o 
conheço por completo. Reverberamos um no outro nossos 
movimentos , criamos para nós uma corporeidade que nos 
comunica. Nos instrumentaliza para vivermos juntos. Para nossas 
necessidades físicas e emocionais serem sanadas.
O bebê aprende experiência e a consolida com a repetição do movimento , respondendo a uma questão da educação 
contemporânea , aliando técnicas somáticas as tradicionais. E eu tenho a oportunidade diária de me reeducar. De 
compreender caminhos novos para coisas que reproduzo automaticamente. Na gravidez reeduquei a me levantar em etapas, a 
fazer movimentos em etapas. Podendo compreender os caminhos e transferências de peso. Hoje aprendo sobre a fluidez dos 
processos, o intervalo do passo a passo. E ele no meu colo se sente seguro para descobrir o mundo, e todos os passos que 
estão por vir. 
Brincar é pretexto para criar e criar é pretexto para brincar. Através de meus movimentos o entretenho , mostrando 
mudras.Seu peso aumenta e minha força de centro pede que eu copie a dele para não me causar danos na lombar. Mãe tem 
dor nas costas. Ele se diverte com meus pés enquanto faço alguns exercícios de barra solo. Todos os dias ao acordar 
espreguiço-me como ele me ensinou, vigorosamente , acordando cada parte do corpo. É necessário o arranjo de minha 
bagagem de exercícios e conhecimentos adquiridos para faze-lo parar de chorar, se aquietar, dormir. 
Nosso encontro presente, concluímos o começo de reverberações corporais reciprocas por toda nossa relação de vida. Isso 
parece muito obvio na relação mãe e filho, mas é também a chave para um aprender mais acordado , lúcido , quisto de vida 
em movimento.
BIBLIOGRAFIA 
MATURANA, Humberto R., e VERDE-ZÖLLER, Gerda. Amar e 
Brincar - O Brincar na relação materno-infantil - Editora Palas 
Athena.2004. 
GUTMAN, Laura. Maternidade - O encontro com a própria 
sombra. 2014, página 50. 
OGAWA, Felicia Megumi. - A idéia do físico-corpóreo em 
transformação. 2006. 
MANSUR, Fauzi. Sobre o movimento , educar o movimento e 
dançar. 2003 , página 212. 
FERNANDES, Ciane. O Corpo em movimento: o sistema 
Laban/Bartenieff na formação e pesquisa de artes cênicas. 
Segunda edição 2006 , página 58. 
ESTES, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos, 
1999.
Trabalho de Conclusão de curso de 
Beatriz Rinaldini Santos 
ETEC das Artes, São Paulo - 2014
A Corporeidade aprendida com a Gravidez, o corpo de um pequeno como guia

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  • 2. "Crescer é aprender, e descobrir como aprender só cada um pode faze-lo" Eusébio Lôbo da Silva
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  • 4. Agradeço por poder pesquisar este tema neste trabalho de conclusão de curso , qual foi atravessado por uma gravidez. E que assim não poderia deixar de ser marcado. Gratidão por evidenciar no meu estudo meu aprendizado pessoal, dedicando-me em sua compreensão.
  • 5. Resumo Os processos de aprendizado observados no conviver e relacionados a técnicas de dança. A Relação de aprendizado materno-infantil através da corporeidade, compreendendo a gravidez , o parto e o desenvolvimento da criança. O corpo fêmea e seu espetáculo biológico. O Parto como epifania, em suma , a épica trajetória de mudanças e dinâmicas corporais com a chegada de uma criança. Palavras Chave: Relação Materno-infantil. Gravidez em sílabos de dança. Observação de organizações corporais no bebê.
  • 6. Introdução Há relação de aprendizado entre mãe e filho desde sua concepção. Durante a gravidez, parto e seus processos de desenvolvimento motor. " O amor é a emoção, a disposição corporal dinâmica que constitui em nós a operacionalidade das ações de coexistência em aceitação mútua" VERDE-ZÖLLER, Gerda , 2004. Através dos verbos, apresentados no começo de cada capitulo, os evocaremos da boca da mãe e do corpo falante de sua cria. Considerando o olhar de cada um e compreendendo os aprendizados dessa corporeidade, dos 2 seres, intrínseca no iniciar da vida. Intrínsecas, pois os corpos necessitam um do outro por questão de vida. A dinâmica de reverberações no corpo-mãe para o corpo-filho e vice-versa são de constante aprendizado, mútuo estimulo e afeto.Estamos tratando de questões biológicas , comuns a todos os humanos , que persiste em se revelar como o mais ilustre acontecimento. Invadindo a todos com a possibilidade de mais uma vez tentar, nascendo ou parindo. Parindo ou nascendo, eis o mistério do ovo e da galinha. Quem veio primeiro, e ensinou a quem ? Da separação de dois corpos se inicia uma relação de construções. Reciprocas: a partir de projeções espaciais dos corpos. A existência do bebê e o renascimento do corpo receptáculo, são vitalmente responsáveis um pelo outro. Revelando um corporeidade de estado único. E uma reconciliação do dual, quase sempre visto com polos, este , é entrelaçado. Dois que funcionam como Um. O corpo materno que aprendeu e desaprendeu, agora reúne em si informações e conhecimentos de práticas que surgem pela exigência de um choro de um pequeno bebê cheio de saberes.
  • 7. MULHER INSANA dilatação ENFURECERA gritarA , chamarA ativa músculos ser grande para caber dois centrar FORÇA é femininA o sexo evidente Atravessar o portal V de agina "empurra na próxima com toda força que vai nascer"
  • 8. Capitulo Mãe O processo de desenvolvimento da gravidez representado numa caminhada, crescendo, inflando, fortalecendo. Embaraçada, criando por dentro. Para ao fim rachar-se ao meio, abrir-se. O Eixo da coluna retifica-se na lombar para o peso extra ir se encaixando crescentemente. Numa postura base inicial , como kamae "A base física dessa postura é o joelho ligeiramente flexionado , o centro da gravidade colocado no quadril, o corpo estável, firme e natural"( OGAWA, Felicia Megumi, A idéia do físico corpóreo em transformação, 2006). Iniciando um longo trabalho físico com o " ato de estar de pé, consciente de todo o campo de forças, mantendo-se em equilíbrio dentro dele e também emitindo a força do Ki" , este para dentro, concentrado. A bacia sofre amolecimento, e expansão constantes até o dia do parto, no seu ápice. Criando espaço, se agigantando para caber, para conter, para conduzir um pequeno corpo até a vida. As pernas ganham força, forma e câimbras. Braços também mais fortes para ninar e lavar um infinidade de coisas de neném. Coluna por dois, o seu centro emprestado, sua força emprestada, vulnerabilidade valente. A gravidez é o estado do supercorpo capaz de tudo o que necessita. Incluindo limitações e restrições necessárias para se resguardar, protegendo-se. Este corpo complexo fala por si tão bem. É mistério de encantamento sobre como se conduz numa inteligência biológica de tamanha precisão. Hoje fora desse corpo cabe a mim trata-lo com o arquétipo da mulher selvagem , tão bem tratado em Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estes, 1999.
  • 9. Pois falar de maneira realista e literal sobre o corpo grávida e o parto é não olhar para a maior característica desse estado: a ausência de racionalismos. A Fêmea prenha não partilha de comunicação com este mundo prático. A fêmea é inundada por si mesma e pelos processos naturais. A fêmea é um bicho seguindo seus ritmos, seu hormônios.- Movimentos. Este corpo tem muitas mudanças por fora e por dentro. É um festival de acontecimentos. Por dentro ofereço ao bebê múltiplas sinfonias de meu organismo em funcionamento. Meus acontecimentos de rotina fisiológica são seu entretenimento. São experiências rítmicas, musicais. " Após a íntima relação no útero entre o bebê que cresce e sua mãe, o processo epigênico inicial mais importante para o desenvolvimento da consciência humana ocorre na musicalidade elementar dos ritmos corporais vibratórios e sonoros da relação materno-infantil, enquanto a mãe dá de mamar, acaricia, embala, fala, acalanta e balança o berço do recém-nascido." Amar e brincar - O brincar na relação materno-infantil de Humberto R. Maturana - Gerda Verden-Zöller. Os processos físicos do parto não são de experiência de descontrole, onde é tomada pela natureza. Uma mulher é o mar, é um furacão , é um vulcão. É arrebatamento. Mulher é deus que cria por baixo.
  • 10. "A dor - tão desprestigiada nos tempos modernos - é necessária no resguardo.Para se conectar com partes muito escondidas de nosso ser, para investigar bem lá dentro e sair do tempo e do espaço reais . Para entrar em um nível de consciência intermediário, um pouco fora da realidade . A dor permite que nos desliguemos do mundo pensante, percamos o controlem esqueçamos a forma, o correto. A dor é nossa amiga , nos leva pela mão até um mundo sutil, ali onde o bebe reside e se conecta conosco. Perdemos a noção de tempo e espaço. Para entrar no túnel da ruptura , é indispensável abandonar mentalmente o mundo concreto. Porque parir é passar de um estágio a outro. É um rompimento espiritual. E, como todo rompimento, provoca dor. O parto não é uma enfermidade a ser curada. É uma passagem para outra dimensão. " GUTMAN, página 50 de Maternidade o encontro com a própria sombra. O rios de hormônios jorram. Dilatação , fúria. O parto epifânia. Cura sim, as questões existenciais. O que as palavras não podem contar sobre parir , sobre a loucura da fêmea prenha é expressado com rigorosidade em rompantes de fúria, no descontrole e entrega as forças do acaso. Do acaso de si , que inunda e cria correntezas.
  • 11. "A partir do imergir em uma autovisitção, a constatação de uma certeza: o pulsar da vida dentro do corpo.(...) Esse movimento sequenciado apresenta um padrão de realidade que acelera e desacelera, que interrompe e inicia de acordo com sua necessidade,(...) para buscar as garantias de que o corpo segue em crescimento . Dessa imersão, o voltar à tona, emegir para a possibilidade de entender esse mover e esses ritmos , criar novas maneiras de mover com eles junto deles, interpenetrando-se corpo e ritmo ou tangenciando , corpo e ritmo. Relações de dependência , interdependência , reverencia ou simplesmente companhia. Do ritmo e da sequencia , em direção à música , para preencher o corpo enquanto ele se move, para delinear sua trajetória e seu contorno , para fazer o corpo mover enquanto ele , em si, se move: o sentir do ritmo que altera o ritmo enquanto o corpo se move . O corpo se emociona, treme, ebule, aparentemente inerte ou deliberadamente móvel. O movimento dentro do movimento do corpo. E todo o corpo segue, pulsa, vibra, tanto no silencio quanto na ausência dele, tanto na suavidade quanto na ausência dela, tanto na forma quanto na intenção." MANSUR,Fauzi.2003.
  • 12. DAR à LUZ A musculatura do nascer e suas Curvas DESLANCHAR A Cor Dar Espreguiçar SAUDOSISMO Das paredes do ÚTERO E sininhos DAR A BARRIGA Espirrar e levantar as 2 pernas Fazer Festinha Ninar: a dança À dois.
  • 13. Capitulo Bebê Depois do portal atravessado, o parto. Já não é mais possível acessa-lo de maneira simples. Tais momentos passaram, celebrados e ritualizados. Foram-se. Após parir a mãe também se transfere a um corpo-bebê revivendo a corporeidade característica. Reencontrando e reorganizando movimentos , expressões e sons : verbos. Refazendo a si própria , que foi "rachada ao meio" ao parir. O bebê é um reencontro com o conhecido. Sabemos tudo o que um bebê experimenta fazer pela primeira vez, no entanto , não lembramos mais como foi que aprendemos. Não recordamos vivamente de nossa infância, a vemos e compreendemos através das crianças ao redor. Assim é possível observar que cada verbo de ação é construído com experiência de vida de alta importância. Um estalar de dedos é pura magia para um bebê, e quaisquer movimentos que se utilizem de habilidades finas Pois estes movimentos são muito distantes da apropriação física dos bebês.
  • 14. Coroar e Nascer Minha cabeça é a primeira a sair. Assim tenho meu crânio comprimido. O mundo me coroa . Empurrado por contrações de meu primeiro colo. Ser parido. Ser cuspido para o mundo. Sair da curva fetal em mim mesmo. Ativar minha musculatura, expandir. Minha coluna se desdobrando. Vestir minhas pernas, as esticando vigorosamente. Meu peito se abrindo, expandindo. Olhos bem abertos. Dedos dos pés e das mãos como raízes. O primeiro respirar. Me movo (pela 1a vez) livre de tudo descoordenadamente, mas com meu pequeno corpo inteiro. Durmo e ao acordar espreguiço-me como quando nasci. Há sabedorias em mim sobre a manutenção do meu corpo. Sobre meu bem estar. A segunda curva de minha vida. "Cambre" como alguns dizem. Verificando minha ligação céfalo-pélvica, ativando toda minha coluna. Me estico completamente antes de abrir os olhos. Espreguiço-me até minhas extremidades, meus punhos tremelicam como sininhos. Tenho resquícios dos reflexos que tinha dentro do útero, minhas mãos se esticam como se eu estivesse envolvido completamente. Amo o toque do corpo de minha mãe e seu abrigo. Preciso de ritmo. De passos e o pulso do coração. Fora da barriga, ensino um verbo: Ninar. Ninar é dançar hipnotizando suavemente provocando sono. Ensinado isso aos que me amam, estes ficam com esse cacoete, quando de pé ninam. Quando leem ninam. Quando cozinham, ninam. Quando se abraçam, ninam.
  • 15. Dois meses depois de meu nascimento aprecio muito ficar solto, deitado, sozinho sentindo meu corpo. Meus pés e braços esticados. Tenho os joelhos como chamam, Andeor , naturalmente apontados para os lados. Desenho um pliet. Meu abdômen dispõe de uma força concentrada. Meu centro ativo. Quando espirro levanto minhas duas pernas. Pois funciono de maneira integrada. Me movo completamente quando uma parte de mim é estimulada. E quando uma felicidade me inunda me movo completamente numa festa. Meus braços e pernas se movem comemorando a si mesmos. Aos poucos afino a comunicação através de meu corpo. Dar a barriga, me oferecendo à preencher colos. Convidando para uma dinâmica troca de movimentos. Dizendo, pegue-me. Erga-me. Balance-me. Eu conduzo. E busco as luzes e cores dos ambientes, quero conhece-los. Quero ganha-los para meu mundo. Certo dia ganho um presente que me enriqueceria muito. Um sino em forma de girafa é colocado no bebê-conforto. Me mostram o seu som. E me instiga procurar como interagir. Mexo meus braços em direção dela, a acerto rapidamente. E denovo e denovo. Eu produzo sons através desse brinquedo. Eu brinco! Mostro a minha mãe que o processo do brincar leva a riquezas de aprendizado muito maiores do que o calculável. Descubro: posso interagir com tudo o que está ao meu redor! Eu vejo e escuto > Me movo para tocar > Com a repetição aprimoro meus movimentos momento à momento. - Posso repetir o mesmo processo com outros objetos.
  • 16. Outros objetos, e tudo que está ao meu redor. Da minha fralda de boca, à meus pais. Que agora são acordados com nada delicados socos e puxões de cabelos, muito bem recebidos por compreenderem a apropriação de um novo saber. Logo ganho um movimento com os braços chamando a quem quero. O jogo na direção e logo este rebate em mim mesmo com força. Gosto de exercitar as pernas, fazendo força contra o corpo de minha mãe. Brincando de ser bípede por alguns segundos. Cada vez com mais força. Cada vez por mais tempo.Falam comigo e quando encontro algo novo paro para refletir e absorver o novo. Mas, meus pés, ou dedos da mão reverberam meu raciocínio. Meus dedos deduzem os fatos. Enquanto penso meus pés pensam junto. A segmentação do meu corpo só ocorre de maneira inconsciente. Me apresentam um novo ponto de vista desse mundo me colocando de barriga para baixo. " Apoiando o peso do abdômen (estabilizando a parte inferior) e tentando levantar o peito do chão (mobilizando a parte superior)" como diria Ciane Fernandes em Corpo e movimento : o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa nas artes-cênicas.
  • 17. Mães e filhos no puerpério não se surpreendem com o mistério, há o ovo na galinha e há galinha no ovo. Os ciclos formam círculos. Coesos , inteiros, saberes completos sobre si.
  • 18. Sobre a oportunidade de trocar de corpo em meio ao curso. Sim, trocar. Meu corpo não cresceu , pariu "simplesmente", no completar do meu terceiro septênio eu mudei de corpo. Isso me proporcionou conhecimento além de mim. Além daquela kinosfera conhecida, esguia e magra. Desenvolvi outros conceitos dos quais nunca saberia. Ter peso, mudar constantemente o ponto de equilíbrio gravitacional do corpo. A experiência em si mais o conhecimento agregado , sobre anatomia, fisiologia e estudo dos movimentos , fez de mim consciente de meu corpo em meu parto, uma automia e me faz consciente sobre o corpo de meu filho a fim de observa-lo e educa-lo. O aprendizado é intrínseco a vida de ambos. Juntos. Este artigo foi escrito em boa parte com Uirá , meu filho , em meu colo. Digitado em alguns momentos com uma das mão para que pudesse amamentar. Essa necessidade corpórea um do outro pede desdobramentos e soluções únicas. Estamos juntos desde a respiração celular. E somos fortemente conectados por ela. Sei acalma-lo através de minha respiração. Aprendemos juntos muitos conceitos sobre contato. Aguçada percepção um sob o outro.Nossas peles se comunicam desde o útero. Ele me conhece por dentro. Eu o conheço por completo. Reverberamos um no outro nossos movimentos , criamos para nós uma corporeidade que nos comunica. Nos instrumentaliza para vivermos juntos. Para nossas necessidades físicas e emocionais serem sanadas.
  • 19. O bebê aprende experiência e a consolida com a repetição do movimento , respondendo a uma questão da educação contemporânea , aliando técnicas somáticas as tradicionais. E eu tenho a oportunidade diária de me reeducar. De compreender caminhos novos para coisas que reproduzo automaticamente. Na gravidez reeduquei a me levantar em etapas, a fazer movimentos em etapas. Podendo compreender os caminhos e transferências de peso. Hoje aprendo sobre a fluidez dos processos, o intervalo do passo a passo. E ele no meu colo se sente seguro para descobrir o mundo, e todos os passos que estão por vir. Brincar é pretexto para criar e criar é pretexto para brincar. Através de meus movimentos o entretenho , mostrando mudras.Seu peso aumenta e minha força de centro pede que eu copie a dele para não me causar danos na lombar. Mãe tem dor nas costas. Ele se diverte com meus pés enquanto faço alguns exercícios de barra solo. Todos os dias ao acordar espreguiço-me como ele me ensinou, vigorosamente , acordando cada parte do corpo. É necessário o arranjo de minha bagagem de exercícios e conhecimentos adquiridos para faze-lo parar de chorar, se aquietar, dormir. Nosso encontro presente, concluímos o começo de reverberações corporais reciprocas por toda nossa relação de vida. Isso parece muito obvio na relação mãe e filho, mas é também a chave para um aprender mais acordado , lúcido , quisto de vida em movimento.
  • 20. BIBLIOGRAFIA MATURANA, Humberto R., e VERDE-ZÖLLER, Gerda. Amar e Brincar - O Brincar na relação materno-infantil - Editora Palas Athena.2004. GUTMAN, Laura. Maternidade - O encontro com a própria sombra. 2014, página 50. OGAWA, Felicia Megumi. - A idéia do físico-corpóreo em transformação. 2006. MANSUR, Fauzi. Sobre o movimento , educar o movimento e dançar. 2003 , página 212. FERNANDES, Ciane. O Corpo em movimento: o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa de artes cênicas. Segunda edição 2006 , página 58. ESTES, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos, 1999.
  • 21. Trabalho de Conclusão de curso de Beatriz Rinaldini Santos ETEC das Artes, São Paulo - 2014