Este documento discute a relação de aprendizado entre mãe e filho durante a gravidez, parto e desenvolvimento da criança. A gravidez é descrita como um período de transformações corporais e aprendizados para a mãe. O parto é retratado como uma epifania onde a mãe se conecta com partes mais profundas de si mesma. O desenvolvimento inicial da criança é observado, com ênfase na descoberta do próprio corpo e na interação com o ambiente por meio de movimentos e sons.
4. Agradeço por poder pesquisar este tema neste trabalho
de conclusão de curso ,
qual foi atravessado por uma gravidez.
E que assim não poderia deixar de ser marcado.
Gratidão por evidenciar no meu estudo meu
aprendizado pessoal, dedicando-me em sua
compreensão.
5. Resumo
Os processos de aprendizado observados no conviver e relacionados a técnicas de dança. A
Relação de aprendizado materno-infantil através da corporeidade, compreendendo a gravidez , o
parto e o desenvolvimento da criança. O corpo fêmea e seu espetáculo biológico. O Parto como
epifania, em suma , a épica trajetória de mudanças e dinâmicas corporais com a chegada de uma
criança.
Palavras Chave: Relação Materno-infantil. Gravidez em sílabos de dança. Observação de
organizações corporais no bebê.
6. Introdução
Há relação de aprendizado entre mãe e filho desde sua concepção. Durante a
gravidez, parto e seus processos de desenvolvimento motor.
" O amor é a emoção, a disposição corporal dinâmica que constitui em nós a
operacionalidade das ações de coexistência em aceitação mútua" VERDE-ZÖLLER,
Gerda , 2004.
Através dos verbos, apresentados no começo de cada capitulo, os evocaremos da
boca da mãe e do corpo falante de sua cria. Considerando o olhar de cada um e
compreendendo os aprendizados dessa corporeidade, dos 2 seres, intrínseca no
iniciar da vida.
Intrínsecas,
pois os corpos necessitam um do outro por questão de vida. A dinâmica de
reverberações no corpo-mãe para o corpo-filho e vice-versa são de constante
aprendizado, mútuo estimulo e afeto.Estamos tratando de questões biológicas ,
comuns a todos os humanos , que persiste em se revelar como o mais ilustre
acontecimento. Invadindo a todos com a possibilidade de mais uma vez tentar,
nascendo ou parindo.
Parindo ou nascendo, eis o mistério do ovo e da galinha. Quem veio primeiro, e
ensinou a quem ?
Da separação de dois corpos se inicia uma relação de construções. Reciprocas:
a partir de projeções espaciais dos corpos. A existência do bebê e o renascimento
do corpo receptáculo, são vitalmente responsáveis um pelo outro. Revelando um
corporeidade de estado único. E uma reconciliação do dual, quase sempre visto
com polos, este , é entrelaçado. Dois que funcionam como Um.
O corpo materno que aprendeu e desaprendeu, agora reúne em si informações
e conhecimentos de práticas que surgem pela exigência de um choro de um
pequeno bebê cheio de saberes.
7. MULHER INSANA
dilatação
ENFURECERA
gritarA , chamarA
ativa músculos
ser grande para caber dois
centrar FORÇA
é femininA
o sexo evidente
Atravessar o portal
V de agina
"empurra na próxima com toda
força que vai nascer"
8. Capitulo Mãe
O processo de desenvolvimento da gravidez representado numa caminhada, crescendo, inflando, fortalecendo.
Embaraçada, criando por dentro.
Para ao fim rachar-se ao meio,
abrir-se.
O Eixo da coluna retifica-se na lombar para o peso extra ir se encaixando crescentemente. Numa postura base inicial , como
kamae "A base física dessa postura é o joelho ligeiramente flexionado , o centro da gravidade colocado no quadril, o corpo
estável, firme e natural"( OGAWA, Felicia Megumi, A idéia do físico corpóreo em transformação, 2006). Iniciando um longo
trabalho físico com o " ato de estar de pé, consciente de todo o campo de forças, mantendo-se em equilíbrio dentro dele e
também emitindo a força do Ki" , este para dentro, concentrado.
A bacia sofre amolecimento,
e expansão constantes até o dia do parto, no seu ápice. Criando espaço, se agigantando para caber,
para conter, para conduzir um pequeno corpo até a vida.
As pernas ganham força, forma e câimbras.
Braços também mais fortes para ninar e lavar um infinidade de coisas de neném.
Coluna por dois,
o seu centro emprestado, sua força emprestada,
vulnerabilidade valente.
A gravidez é o estado do supercorpo capaz de tudo o que necessita.
Incluindo limitações e restrições necessárias para se resguardar, protegendo-se.
Este corpo complexo fala por si tão bem. É mistério de encantamento sobre como se conduz numa inteligência biológica de
tamanha precisão. Hoje fora desse corpo cabe a mim trata-lo com o arquétipo da mulher selvagem , tão bem tratado em
Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estes, 1999.
9. Pois falar de maneira realista e literal sobre o corpo grávida e o parto é
não olhar para a maior característica desse estado:
a ausência de racionalismos. A Fêmea prenha não partilha de
comunicação com este mundo prático. A fêmea é inundada por si mesma
e pelos processos naturais. A fêmea é um bicho seguindo seus ritmos, seu
hormônios.- Movimentos. Este corpo tem muitas mudanças por fora e por
dentro. É um festival de acontecimentos. Por dentro ofereço ao bebê
múltiplas sinfonias de meu organismo em funcionamento. Meus
acontecimentos de rotina fisiológica são seu entretenimento. São
experiências rítmicas, musicais.
" Após a íntima relação no útero entre o bebê que cresce e sua mãe, o
processo epigênico inicial mais importante para o desenvolvimento da
consciência humana ocorre na musicalidade elementar dos ritmos
corporais vibratórios e sonoros da relação materno-infantil, enquanto a
mãe dá de mamar, acaricia, embala, fala, acalanta e balança o berço do
recém-nascido." Amar e brincar - O brincar na relação materno-infantil
de Humberto R. Maturana - Gerda Verden-Zöller.
Os processos físicos do parto não são de experiência de descontrole,
onde é tomada pela natureza. Uma mulher é o mar, é um furacão , é um
vulcão. É arrebatamento. Mulher é deus que cria por baixo.
10. "A dor - tão desprestigiada nos tempos modernos - é necessária no
resguardo.Para se conectar com partes muito escondidas de nosso
ser, para investigar bem lá dentro e sair do tempo e do espaço reais .
Para entrar em um nível de consciência intermediário, um pouco fora
da realidade . A dor permite que nos desliguemos do mundo
pensante, percamos o controlem esqueçamos a forma, o correto. A
dor é nossa amiga , nos leva pela mão até um mundo sutil, ali onde o
bebe reside e se conecta conosco. Perdemos a noção de tempo e
espaço. Para entrar no túnel da ruptura , é indispensável abandonar
mentalmente o mundo concreto. Porque parir é passar de um estágio
a outro. É um rompimento espiritual. E, como todo rompimento,
provoca dor. O parto não é uma enfermidade a ser curada. É uma
passagem para outra dimensão. " GUTMAN, página 50 de
Maternidade o encontro com a própria sombra.
O rios de hormônios jorram. Dilatação , fúria. O parto epifânia. Cura
sim, as questões existenciais. O que as palavras não podem contar
sobre parir , sobre a loucura da fêmea prenha é expressado com
rigorosidade em rompantes de fúria, no descontrole e entrega as
forças do acaso. Do acaso de si , que inunda e cria correntezas.
11. "A partir do imergir em uma autovisitção, a constatação de
uma certeza: o pulsar da vida dentro do corpo.(...) Esse
movimento sequenciado apresenta um padrão de realidade
que acelera e desacelera, que interrompe e inicia de acordo
com sua necessidade,(...) para buscar as garantias de que o
corpo segue em crescimento . Dessa imersão, o voltar à tona,
emegir para a possibilidade de entender esse mover e esses
ritmos , criar novas maneiras de mover com eles junto deles,
interpenetrando-se corpo e ritmo ou tangenciando , corpo e
ritmo.
Relações de dependência , interdependência , reverencia ou
simplesmente companhia. Do ritmo e da sequencia , em
direção à música , para preencher o corpo enquanto ele se
move, para delinear sua trajetória e seu contorno , para fazer
o corpo mover enquanto ele , em si, se move: o sentir do
ritmo que altera o ritmo enquanto o corpo se move . O corpo
se emociona, treme, ebule, aparentemente inerte ou
deliberadamente móvel. O movimento dentro do movimento
do corpo. E todo o corpo segue, pulsa, vibra, tanto no silencio
quanto na ausência dele, tanto na suavidade quanto na
ausência dela, tanto na forma quanto na intenção."
MANSUR,Fauzi.2003.
12. DAR à LUZ
A musculatura do nascer e suas
Curvas
DESLANCHAR
A Cor Dar
Espreguiçar
SAUDOSISMO
Das paredes do ÚTERO
E sininhos
DAR A BARRIGA
Espirrar e levantar as 2 pernas
Fazer Festinha
Ninar: a dança
À dois.
13. Capitulo Bebê
Depois do portal atravessado, o parto. Já não é mais possível
acessa-lo de maneira simples. Tais momentos passaram,
celebrados e ritualizados. Foram-se.
Após parir a mãe também se transfere a um corpo-bebê
revivendo a corporeidade característica. Reencontrando e
reorganizando movimentos , expressões e sons : verbos.
Refazendo a si própria , que foi "rachada ao meio" ao parir.
O bebê é um reencontro com o conhecido. Sabemos tudo o que
um bebê experimenta fazer pela primeira vez, no entanto , não
lembramos mais como foi que aprendemos. Não recordamos
vivamente de nossa infância, a vemos e compreendemos
através das crianças ao redor. Assim é possível observar que
cada verbo de ação é construído com experiência de vida de
alta importância. Um estalar de dedos é pura magia para um
bebê, e quaisquer movimentos que se utilizem de habilidades
finas Pois estes movimentos são muito distantes da apropriação
física dos bebês.
14. Coroar e Nascer
Minha cabeça é a primeira a sair. Assim tenho meu crânio comprimido. O
mundo me coroa .
Empurrado por contrações de meu primeiro colo. Ser parido. Ser cuspido para
o mundo. Sair da curva fetal em mim mesmo. Ativar minha musculatura,
expandir. Minha coluna se desdobrando. Vestir minhas pernas, as esticando
vigorosamente. Meu peito se abrindo, expandindo. Olhos bem abertos. Dedos
dos pés e das mãos como raízes.
O primeiro respirar.
Me movo (pela 1a vez) livre de tudo descoordenadamente, mas com meu
pequeno corpo inteiro.
Durmo e ao acordar espreguiço-me como quando nasci. Há sabedorias em
mim sobre a manutenção do meu corpo. Sobre meu bem estar. A segunda
curva de minha vida. "Cambre" como alguns dizem. Verificando minha ligação
céfalo-pélvica, ativando toda minha coluna. Me estico completamente antes
de abrir os olhos. Espreguiço-me até minhas extremidades, meus punhos
tremelicam como sininhos.
Tenho resquícios dos reflexos que tinha dentro do útero, minhas mãos se
esticam como se eu estivesse envolvido completamente.
Amo o toque do corpo de minha mãe e seu abrigo.
Preciso de ritmo. De passos e o pulso do coração. Fora da barriga, ensino um
verbo: Ninar. Ninar é dançar hipnotizando suavemente provocando sono.
Ensinado isso aos que me amam, estes ficam com esse cacoete, quando de pé
ninam. Quando leem ninam. Quando cozinham, ninam. Quando se abraçam,
ninam.
15. Dois meses depois de meu nascimento aprecio muito ficar solto, deitado,
sozinho sentindo meu corpo. Meus pés e braços esticados. Tenho os
joelhos como chamam, Andeor , naturalmente apontados para os lados.
Desenho um pliet. Meu abdômen dispõe de uma força concentrada. Meu
centro ativo. Quando espirro levanto minhas duas pernas. Pois funciono
de maneira integrada. Me movo completamente quando uma parte de
mim é estimulada. E quando uma felicidade me inunda me movo
completamente numa festa. Meus braços e pernas se movem
comemorando a si mesmos.
Aos poucos afino a comunicação através de meu corpo. Dar a barriga, me
oferecendo à preencher colos. Convidando para uma dinâmica troca de
movimentos. Dizendo, pegue-me. Erga-me. Balance-me. Eu conduzo. E
busco as luzes e cores dos ambientes, quero conhece-los. Quero ganha-los
para meu mundo.
Certo dia ganho um presente que me enriqueceria muito. Um sino em
forma de girafa é colocado no bebê-conforto. Me mostram o seu som. E
me instiga procurar como interagir. Mexo meus braços em direção dela, a
acerto rapidamente. E denovo e denovo. Eu produzo sons através desse
brinquedo. Eu brinco! Mostro a minha mãe que o processo do brincar
leva a riquezas de aprendizado muito maiores do que o calculável.
Descubro: posso interagir com tudo o que está ao meu redor!
Eu vejo e escuto > Me movo para tocar > Com a repetição aprimoro meus
movimentos momento à momento. - Posso repetir o mesmo processo
com outros objetos.
16. Outros objetos, e tudo que está ao meu redor. Da minha fralda de boca, à meus pais. Que agora são acordados com nada
delicados socos e puxões de cabelos, muito bem recebidos por compreenderem a apropriação de um novo saber. Logo
ganho um movimento com os braços chamando a quem quero. O jogo na direção e logo este rebate em mim mesmo com
força.
Gosto de exercitar as pernas, fazendo força contra o corpo de minha mãe. Brincando de ser bípede por alguns segundos.
Cada vez com mais força. Cada vez por mais tempo.Falam comigo e quando encontro algo novo paro para refletir e
absorver o novo. Mas, meus pés, ou dedos da mão reverberam meu raciocínio. Meus dedos deduzem os fatos. Enquanto
penso meus pés pensam junto. A segmentação do meu corpo só ocorre de maneira inconsciente.
Me apresentam um novo ponto de vista desse mundo me colocando de barriga para baixo. " Apoiando o peso do
abdômen (estabilizando a parte inferior) e tentando levantar o peito do chão (mobilizando a parte superior)" como diria
Ciane Fernandes em Corpo e movimento : o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa nas artes-cênicas.
17. Mães e filhos no puerpério não se surpreendem com o mistério,
há o ovo na galinha e há galinha no ovo.
Os ciclos formam círculos.
Coesos , inteiros, saberes completos sobre si.
18. Sobre a oportunidade de trocar de corpo em meio ao curso.
Sim, trocar. Meu corpo não cresceu , pariu "simplesmente", no
completar do meu terceiro septênio eu mudei de corpo. Isso me
proporcionou conhecimento além de mim. Além daquela kinosfera
conhecida, esguia e magra. Desenvolvi outros conceitos dos quais
nunca saberia. Ter peso, mudar constantemente o ponto de
equilíbrio gravitacional do corpo. A experiência em si mais o
conhecimento agregado , sobre anatomia, fisiologia e estudo dos
movimentos , fez de mim consciente de meu corpo em meu parto,
uma automia e me faz consciente sobre o corpo de meu filho a fim
de observa-lo e educa-lo.
O aprendizado é intrínseco a vida de ambos. Juntos. Este artigo foi
escrito em boa parte com Uirá , meu filho , em meu colo. Digitado
em alguns momentos com uma das mão para que pudesse
amamentar. Essa necessidade corpórea um do outro pede
desdobramentos e soluções únicas. Estamos juntos desde a
respiração celular. E somos fortemente conectados por ela. Sei
acalma-lo através de minha respiração. Aprendemos juntos muitos
conceitos sobre contato. Aguçada percepção um sob o outro.Nossas
peles se comunicam desde o útero. Ele me conhece por dentro. Eu o
conheço por completo. Reverberamos um no outro nossos
movimentos , criamos para nós uma corporeidade que nos
comunica. Nos instrumentaliza para vivermos juntos. Para nossas
necessidades físicas e emocionais serem sanadas.
19. O bebê aprende experiência e a consolida com a repetição do movimento , respondendo a uma questão da educação
contemporânea , aliando técnicas somáticas as tradicionais. E eu tenho a oportunidade diária de me reeducar. De
compreender caminhos novos para coisas que reproduzo automaticamente. Na gravidez reeduquei a me levantar em etapas, a
fazer movimentos em etapas. Podendo compreender os caminhos e transferências de peso. Hoje aprendo sobre a fluidez dos
processos, o intervalo do passo a passo. E ele no meu colo se sente seguro para descobrir o mundo, e todos os passos que
estão por vir.
Brincar é pretexto para criar e criar é pretexto para brincar. Através de meus movimentos o entretenho , mostrando
mudras.Seu peso aumenta e minha força de centro pede que eu copie a dele para não me causar danos na lombar. Mãe tem
dor nas costas. Ele se diverte com meus pés enquanto faço alguns exercícios de barra solo. Todos os dias ao acordar
espreguiço-me como ele me ensinou, vigorosamente , acordando cada parte do corpo. É necessário o arranjo de minha
bagagem de exercícios e conhecimentos adquiridos para faze-lo parar de chorar, se aquietar, dormir.
Nosso encontro presente, concluímos o começo de reverberações corporais reciprocas por toda nossa relação de vida. Isso
parece muito obvio na relação mãe e filho, mas é também a chave para um aprender mais acordado , lúcido , quisto de vida
em movimento.
20. BIBLIOGRAFIA
MATURANA, Humberto R., e VERDE-ZÖLLER, Gerda. Amar e
Brincar - O Brincar na relação materno-infantil - Editora Palas
Athena.2004.
GUTMAN, Laura. Maternidade - O encontro com a própria
sombra. 2014, página 50.
OGAWA, Felicia Megumi. - A idéia do físico-corpóreo em
transformação. 2006.
MANSUR, Fauzi. Sobre o movimento , educar o movimento e
dançar. 2003 , página 212.
FERNANDES, Ciane. O Corpo em movimento: o sistema
Laban/Bartenieff na formação e pesquisa de artes cênicas.
Segunda edição 2006 , página 58.
ESTES, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos,
1999.
21. Trabalho de Conclusão de curso de
Beatriz Rinaldini Santos
ETEC das Artes, São Paulo - 2014