SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  8
Télécharger pour lire hors ligne
BPI – Biblioteca Pública Independente
www.bpi.socialismolibertario.com.br
MAL-BH – Movimento Anarquista Libertário
www.socialismolibertario.com.br
ALGUMAS PALAVRAS AOS MEUS JOVENS IRMÃOS DA RÚSSIA
(1869)
Mikhail Bakunin
Retirado de: www.arquivobakunin.blogspot.com
INTRODUÇÃO
Notas sobre Bakunin e a prática de “Ir ao Povo”
No excelente prólogo que o historiador Max Nettlau escreveu ao livro “Estatismo e Anarquia”
publicado na edição francesa das Obras Completas de Bakunin se lê:
“Durante os três meses de 1872 houve a redor de Bakunin uma vida intensa, inspirou
abnegação a muitos jovens, homens e mulheres, que logo se lançaram de corpo e alma a difícil
propaganda popular na Rússia; que “foram ao povo” e que quase todos e todas, depois de
algumas semanas, meses, ou raramente anos de agitação, caíram nas prisões para anos de
calabouço preventivo e, depois do processo, por dezenas de anos na Sibéria. Ross, um dos
últimos, caiu também, no começo de 1876; foram aproximadamente 25 anos para livrar-se de
novo da Sibéria e do internamento em províncias, para voltar de novo ao ocidente alguns anos
mai tarde; no atual momento, já octogenário, ainda vive, assim como também Z. Ralli.” [1]
A esta juventude, a estes valentes e sinceros lutadores, aos primeiros homens e mulheres
combatentes anarquistas, foi escrita a carta “Algumas palavras aos meus jovens irmãos da
Rússia” no ano de 1869.
Para Bakunin a tarefa da juventude consistia em situar-se na vanguarda das lutas do
proletariado e dos camponeses. Para isso, era necessário que os jovens, com certo nível de
politização, provenientes em sua maioria dos setores médios, assumissem a tarefa de servir
como vanguarda do movimento popular de libertação.
Citando o apêndice A da primeira edição de “Estatismo e Anarquia” em 1873 de Bakunin,
aponta Nettlau:
“O que pode fazer o nosso proletariado intelectual, a juventude revolucionária-socialista russa,
íntegra, sincera e devotada ao extremo? Ela deve sem dúvida ir ao povo (idti y narod), porque,
hoje, em todo o mundo, mas sobretudo na Rússia, fora do povo, fora dos milhões e milhões de
proletários, não há mais, nem existência, nem causa, nem futuro. Mas como e com que
objetivos ir o povo?"[2]
Ir ao povo implica atuar desde o povo, com ele e por ele. Contrária as posições de Lavrov ou de
Marx, que preconizavam a educação do povo através dos mestres ou a sujeição do povo a
política do partido composto por intelectuais e pequeno-burgueses afastados da realidade do
proletariado e dos camponeses, Bakunin sustentou sempre a necessidade de fundir-se na vida
popular, de ser povo e através desse pertencimento, dessa constatação da realidade, receber
do povo a força elementar e o seu fundamento, mas em troca disso, lhes fornecer os
conhecimentos positivos, o hábito da abstração e generalização e a capacidade de organizar e
construir sindicatos que, por sua vez, criam uma força criativa consciente sem a qual toda
vitória é impossível. [3]
A tarefa dos revolucionários não é “dialogar” ou “doutrinar” o povo trabalhador, nem muito
menos “ajudar a desenvolver um pensamento revolucionário”, pelo contrário, longe destas
pretensões claramente dirigistas e/ou idealistas e pequeno-burguesas, os revolucionários
devem lutar para constituir-se na vanguarda consciente do proletariado, e para isso é preciso
ser proletário, é preciso, acima de tudo, abraçar o Anarquismo Revolucionário e a luta pela
Liberdade e pelo Socialismo.
“É preciso associar os melhores camponeses entre si e com os melhores operários das fábricas.
É preciso instruir-lhes sobre o caráter geral da miséria na Rússia, sobre as forças elementares
do povo, sobre a falta de coesão popular. Um periódico, incluindo notícias orais lhe
informariam sobre as revoltas locais e sobre os movimentos revolucionários do ocidente. O
povo deve ver a juventude em seu seio, trabalhando, na vanguarda de cada rebelião,
consagrando-se a morrer na luta. A juventude deve trabalhar segundo um plano bem refletido
e submetendo-se a mais forte disciplina para produzir essa unanimidade sem a qual não pode
existir vitória. Deve educar ela mesma e educar ao povo não só para a resistência desesperada,
como também para o ataques ousado. O proletariado não tem para si outra via de ação sem
ser esta.” [4]
Depois de dezenas de anos que se escreveu estas palavras, Ir ao Povo, ainda continuam com
plena vigência. A opressão brutal do proletariado e dos camponeses sob a bota do Csar e dos
proprietários de terra perdura ainda atualmente sobre o conjunto dos explorados e oprimidos
através da Ditadura do Capital/Imperialismo.
Este caminho apontado a quase 130 anos foi uma via traçada para a juventude revolucionária
russa por Bakunin (e que) foi seguida pelos melhores, uma verdadeira elite de abnegação,
homens e mulheres.”[5] Esta elite revolucionária é a que nós anarquistas revolucionários
justamente lutamos para reconstruir em pleno século XXI.
Seguir o glorioso exemplo de Bakunin e de inumeráveis combatentes da classe operária e do
povo oprimido através dos anos é a tarefa do momento.
IR AO POVO!
Abraçar o Anarquismo Revolucionário para alcançar a vitória!
Organização Popular Anarquista Revolucionária
Julho de 2008
--------------------------------------------------------------
Algumas palavras aos meus jovens irmãos da Rússia
(1869)
Levantaram de novo. Então, não conseguiram enterrar-vos. Esse espírito destrutivo do Estado
que os encoraja, não é uma conseqüência do produto efêmero de uma exaltação juvenil,
senão a expressão de uma necessidade vital e de uma paixão real, que surge das profundezas
da vida popular.
Se vossas tendências revolucionárias não passassem de uma doença superficial, passageira, a
simples ardência de uma vaidade juvenil, os meios heróicos que nosso governo tem
empregado para destruir-vos, haver-se-ia já alcançado êxito a muito tempo. Faz muito tempo
que vocês, renunciando a perigosa mania de pensar, rejeitando a tudo o que é humano no
homem, haveriam se transformado em seres mais embrutecidos, entre a multidão de seres
embrutecidos, oficiais e condecorados, que roubam o povo e devoram o país. Teriam merecido
a indicação compatriota <>.
Apesar da sua tenra idade, a juventude culta e desclasada[6] da Rússia suportou uma série de
tempestades. Em meus tempos, sob o regime ingenuamente despótico do imperador Nicolás
seria preciso mais de vinte anos para passar pela metade das provas que vocês suportaram
durantes estes oito ou nove anos.
Após os incêndios de 1861, durante e depois da insurreição polaca e, sobre tudo, depois do ato
executado por Karakosov, o bom imperador Alexandre não poupou esforços para completar
vossa educação política.
Animado, excitado por toda nossa literatura patriótica, pelos eslavófilos e pan-eslavistas, assim
como pelos partidários da civilização burguesa do ocidente, por nossos fazendeiros e nossos
liberais, utilizaram amplamente contra vocês de todos os meios que lhes foi legado pelos
tártaros [7] e que, com o tempo, tem sido aperfeiçoada pela ciência burocrática dos alemães:
espancamentos, torturas, enforcamento e morte por fome, cadeia perpétua, exílio em massa e
trabalhos forçados, utilizando todos os meios disponíveis para medir vossas forças, vossa
teimosia e vossa fé na causa do povo.
Nada os desmoralizou, vocês se mantiveram de pé: são fortes. Muitos de vossos camaradas
morreram. Mas, por cada vítima enterrada, dez novos combatentes emergiram da terra...
Aproxima-se o fim desse infame Império de todas as Rússias. De onde encontrais vossa força e
vossa fé? Uma fé sem Deus, uma força sem esperança e objetivos pessoais! Onde encontrais
essa capacidade de reduzir a nada, conscientemente, toda sua vida para enfrentar a tortura e a
morte, sem vaidade ou retórica? Onde está a origem dessa idéia cruel de destruição e essa
determinação friamente apaixonada perante a qual se põem um fim as energias e se gela todo
o sangue de nossos inimigos?
Nossa literatura oficial e oficiosa, que pretende expressar o pensamento do povo russo, ficou
completamente desmoralizada perante vocês. Eles não entendem nada.
Se vocês fossem servos fiéis ao imperador e ao Estado, espiões, carrascos, ladrões particulares
ou públicos com ou sem direito a violência, canalhas inteligentes, liberais servis, assassinos de
camponeses e polacos, se tivessem matado milhares ou dezenas de milhares de seres
humanos, esta literatura teria os compreendido e anistiado, e se vocês tivessem os poucos
meios e a vontade para provar sua resignação aos editores dos jornais, vos declarariam
salvadores do Império, tal como fizeram com Muraviev o Carrasco.
Tudo é coisa normal na civilização bizantino-tártaro e germano-burocrática de nosso Estado;
tudo isso não entra em contradição com o patriotismo oficial e oficioso do Império de todas as
Rússias.
Se vocês fossem uma juventude idealista, doutrinária ou sentimental; entretida em sonhar
com a ciência e com a arte. Com a liberdade e a humanidade somente em teorias, em
conversas ou em livros, eles os perdoariam, levando em conta que os dignos veteranos dessa
velha literatura também já tiveram seus tempos de juventude. Eles também sonharam quando
eram só estudantes.
Entusiasmados com as belas teorias, também prometeram dedicar suas vidas ao culto do ideal,
aos atos nobres, a serviço da liberdade e da humanidade.
Mais tarde entrou em jogo a experiência, uma experiência adquirida no mundo mais
desprezível que se possa imaginar, e sob a influência desse mundo se converteram no que são
hoje, uns canalhas. Mas relembram com ternura os dias de sua juventude e perdoariam vocês,
especialmente quando estivessem convencidos que, com a mesma experiência e sob a
influência da mesma realidade, vocês iriam em breve superar sua maldade.
O que eles nunca perdoarão é que vocês não querem ser nem ladrões nem sonhadores. Vocês
desprezam tanto esse mundo odioso, cuja realidade o oprime, como o mundo ideal que até os
tempos atuais tem servido de refúgio para as “almas puras” contra o despotismo da realidade.
Aqui está o que aterroriza nossa literatura “patriótica”. Não sabem o que vocês querem, nem
aonde vão.
Em seu desespero, o Sr. editores de jornais em São Petersburgo e Moscou encontraram uma
saída. Decidiram unanimemente que o movimento atual da juventude russa tem sua origem
em intrigas polacas. Não poderíamos imaginar algo mais covarde nem mais estúpido.
Não é uma cruel e desprezível covardia estimular o carrasco contra a vítima que está sendo
torturada? E, além disso, tem que ser realmente estúpido para não compreender o abismo
que separa o programa da grande maioria dos patriotas polacos do programa de nossa
juventude, representante da idéia socialista e revolucionária do povo russo.
Entre a maioria dos patriotas polacos e nós não há nada em comum, a não ser um único
sentimento e meta: o ódio contra o Império de todas as Rússias, e a firme vontade de destruir-
lo por todos os meios e com a máxima rapidez.
Esse é o único ponto que estamos de acordo. Mais um passo e entre os dois se abre o abismo:
nós queremos a abolição definitiva de tudo o que constitui o Estado, tanto na Rússia como fora
da Rússia; quanto aos polacos só estão trabalhando pela reconstrução do seu Estado histórico.
Em nossa opinião, o sonho dos polacos não é bom. Como todo Estado, por mais liberais e
democráticos que sejam suas formas, esmaga as massas populares que trabalham, em
benefício de uma minoria que não trabalha.
Os polacos sonham com o impossível, por que no futuro os Estado não se reconstruirão, e sim
cairão. Sem saber disso, nem querer-lo, sonham com uma nova escravidão de seu povo e se
conseguissem realizar esse sonho, não pela força popular, que não se prestaria a isso, senão
com a ajuda das baionetas estrangeiras, se converterão tanto em nossos inimigos como
opressores do seu próprio povo.
Então, os converteremos em nome da revolução social e da liberdade de todo o mundo. Mas
até esse ponto somos seus amigos e devemos ajudar-lhes, por que sua causa, a de destruição
do Império de todas as Rússias, é também nossa causa.
Para os povos russos e não-russos presos hoje no Império de todas as Rússias, não existe
inimigo mais perigoso e mais mortal que o próprio império.
Os patriotas polacos nunca entenderam, e por isso que sua influência sobre o movimento
revolucionário da Rússia foi sempre nula. É uma lástima, pois existiriam vantagens evidentes
tanto para eles como para nós merecer realmente a difamação da imprensa russa e ambos
deveríamos conviver bem, ainda que seja apenas o primeiro ato que se anuncia da tragédia
eslava; O que não nos impediria de separar-nos e inclusive de combater-vos nos três atos
seguintes, à custa de reconciliarmos no quinto.
Não, não é a influência das intrigas polacas; é uma força de dimensões gigantescas que levanta
e agita a juventude russa: o despertar da vida popular.
O reinado atual apresenta uma enorme semelhança com o reinado do csar Alexis, pai de Pedro
o Grande, que apesar de sua imagem de bonachão, saqueou e destruiu o povo, para a maior
glória do Estado e em proveito dos nobres e burocratas, assim como faz hoje o suposto
emancipador dos camponeses, o excelente imperador Alexandro II.
Naquele momento, como agora, o infeliz povo, esmagado, torturado, levado a miséria
suprema e dizimado pela fome, abandonou as aldeias e refugiou-se nas florestas. Hoje, como
naquele momento, toda essa imensa população, finalmente tomando consciência da fraude
imperial, se agita, esperando sua emancipação apenas pelos de baixo, pela via que lhe indicou,
a exatos dois séculos, seu herói Stenka Razin[8].
Se sente que se aproxima um encontro sangrento, de uma última luta até a morte entre a
Rússia popular e o Estado.
Quem triunfará desta vez? O povo sem dúvida nenhuma. Steka Razin era um herói, mas estava
sozinho e acima de todos. Seu poder pessoal, realmente gigantesco, era, não obstante,
insuficiente para resistir a força já em grande parte organizada do Estado. Morreu e todos
morreram com ele. Agora as coisas serão diferentes. Não teremos provavelmente um herói
tão poderoso e tão popular com Stenka Razin, que concentrou todas as forças das massas
rebeldes em uma só pessoa. Mas será substituído por essa legião de jovens desclasados e
anônimos que agora já se alimentam da vida popular e que permanecem extremamente
unidos uns aos outros, pelo mesmo pensamento e a mesma paixão, e por um objetivo comum.
A garantia do triunfo popular reside na união da juventude com o povo.
Essa juventude só é invulnerável e forte porque sustenta seu pensamento e sua vontade
implacável na paixão popular. Não busca seu próprio triunfo, senão o triunfo do povo. Tem
atrás de si Stenka Razin. Não a pessoa do herói, senão o coletivo, e por isso mesmo invencível.
Será toda essa magnífica juventude sobre a qual já planeja seu espírito.
Esse é o verdadeiro sentido do movimento atual, em aparência bastante inocente, e que
apesar desse aspecto de inocência, alimenta-se do desgosto a todo nosso mundo oficial,
oficioso e patrioticamente literário.
Amigos! Abandonem o quanto antes esse mundo condenado a destruição! Abandonem essas
universidades, essas academias, essas escolas que agora os expulsam, elas nunca fizeram outra
coisa que afastá-los do povo. Vão ao povo. É nele que deve estar sua carreira, sua vida e sua
ciência. Aprenda em meio a essas massas com as mãos calejadas pelo trabalho como deveis
servir a causa do povo. E lembre-se bem, irmãos, que a juventude culta não deve ser nem o
amo, nem o protetor, nem o benfeitor, nem o ditador do povo, senão a vanguarda de sua
emancipação espontânea, o coordenador e organizador dos seus esforços e de todas as forças
populares.
Não se preocupem nesse momento em nome da qual se pretenderia vincular, confundindo-se.
Esta ciência oficial deve perecer com o mundo do qual é expressão e ao qual serve; em seu
lugar, uma ciência nova, racional e viva, surgirá depois da vitória do povo, exatamente das
profundezas da vida popular liberada de suas cadeias.
Tal é a fé dos melhores homens do Ocidente, onde, assim como na Rússia, o velho mundo dos
Estados fundados na religião, na metafísica, na jurisprudência, em uma palavra, na civilização
burguesa, com seu complemento indispensável: o direito da propriedade privada hereditária e
da família jurídica entra em colapso, se preparando para deixar seu posto ao mundo
internacional e livremente organizado dos trabalhadores.
Mentem aqueles que dizem que a Europa encontra-se mergulhado em um sono profundo.
Bem ao contrário, a Europa desperta, e só podem ser verdadeiramente surdo e cego para não
dar-se conta da iminência de uma luta suprema.
Ao se organizar para esta luta e dar as mãos para além das fronteiras de todos os Estados, o
mundo dos trabalhadores da Europa e da América os chama para uma fraternal aliança.
Genebra, maio de 1869.
Miguel Bakunin
---------------------------------
NOTAS:
[1] Mijail A. Bakunin. Estatismo y Anarquía. Ed. Folio. Pág 23-24
[2] Idem pág 26
[3] Idem pag 46
[4] Idem pág 26
[5] Ibid
[6] Nota do Tradutor. Desclasado: No original em espanhol. Adj. Que já não pertence à classe
social, geralmente alta, da qual provem.
[7] Nota o Tradutor. Há dois principais grupos vinculados aos povos tártaros, os do Volga e os
de Crimeia, com duas línguas diferentes. No século XIII os tártaros entraram na Europa com as
hordas de Gengis Khan. Nos séculos XV e XVI o janato de Kazán teve grande importância
comercial e econômica, por sua vez fomentou a islamização das margens do Volga.
[8] Para explicar a gigantesca figura de Stenka Razin e o segredo de sua imensa popularidade
seria necessário, em primeiro lugar, dar uma idéia da situação em que se encontrava o povo
russo no século XVII.
Até fins do século XVI, esse povo foi livre, e só na última década deste século os camponeses,
que até então haviam conservado sua liberdade de movimento, se converteram em servos da
gleba.
A idéia tradicional, e que constitui ainda hoje o essencial da consciência popular na Rússia, é
que toda a terra pertence ao povo. A outra idéia, tão antiga como a anterior, é que o povo
deve administrar seus próprios assuntos a partir das resoluções das assembléias comunais, da
qual fazem parte todos os chefes de família.
Estas duas idéias se encontram tão profundamente arraigadas na consciência do povo russo
que, a pesar de sofrer três séculos de escravidão, as conserva intactas ainda hoje. Serão a
mesma base de sua próxima organização política.
O povo russo profundamente socialista por instinto, assim como por tradição, carece de
educação política. Isso explica que, sendo livre antes, ainda pode ser jogado na escravidão.
Contrariamente ao que aconteceu no Ocidente, onde o poder monárquico se desenvolveu
através de uma aliança da Coroa com o povo contra a nobreza proprietária, na Rússia tal poder
se baseou na aliança da Coroa, da nobreza e do clero contra o povo. Isso explica também por
que a nobreza e o clero russos se mantiveram sempre como escravos voluntários do Csar, e
este, em recompensa, lhes garantia a escravidão dos camponeses, é por isso que o povo tem
sido em todos os tempos, e continua sendo, o único sujeito revolucionário real e sério na
Rússia.
As comunas se sublevaram em massa contra o poder do Csar, do clero, da nobreza e da
burocracia moscovita, nos primeiros anos do século XVII, este foi reconstruído pela eleição
livre de um czar novo, cujo filho o Csar Alexis (1645-1676), esquecendo de todas as promessas
juradas pelo seu pai, enterrou o povo russo e os camponeses em uma escravidão que até
então não tinham idéia.
Chegava na metade do reinado de Alexis quando explodiu a célebre revolta de Steka Razin.
Stenka Razin era um homem notável pela sua inteligência e vontade. Era um homem de ferro,
que desconhecia a piedade até para si mesmo, e obviamente para os demais. Era apenas um
cossaco do Don. Seu pai havia sido enforcado pelo príncipe Dolgoruki, comandante de um
exercito moscovita levantado contra a Polonia.
Stanka Razin fugiu ao Volga em 1667. Ali formou uma ... com a qual desceu de barco até o mar
Caspio, pilhando as costas persas e regressando de novo ao Don, carregado os produtos
roubados.
Em 1670, reapareceu no Volga e declarou guerra a morte a toda a nobreza, a burocracia e ao
clero, proclamando a liberdade dos camponeses com plena posse da terra. Todo o povo, entre
o Oka e o Volga, se uniu a ele, matando todos os nobres, os funcionários do Csar e os padres.
Em pouco tempo, Stenka Razin havia conquistado Astraján, Tsaritsin, Saratov. Seu
procedimento era muito simples: Todo aquele que não pertencia ao povo era executado,
deixando ao povo a tarefa de expropriar a terra e organizar-se por si mesmo. Em qualquer
lugar que Stenka Razin ocupasse, a comuna livre dos camponeses em posse da terra se
levantava e se organizava.
Depois que Steka Razin vencia as tropas regulares, sua primeira preocupação consistia em
matar todos os oficiais, usando de seu próprios soldados, advertindo estes que não declarava
guerra contra eles, que eram livres para unir-se a ele ou ir embora. Mas se escolhiam ir
embora, ele os perseguia e matava.
Onde quer que fosse, antes de qualquer coisa queimava todas as atas, todos os papeis do Csar,
mas, segundo vimos, não isentava os homens do castigo. De forma alguma era religioso, e
quando lhe censuravam por que matavam os padres, lhes respondia: “O que? Você precisa de
um padre? Quer se casar? Pois passais três vezes em volta de uma árvores e o assunto está
encerrado”. No sentido inverso, foi um poeta, e escreveu grandes canções sobre bandidos que
ainda se cantam no Volga e em toda a Rússia. O fizeram prisioneiro em 1671 e foi conduzido a
Moscou, onde o povo lhe esperava como um libertador, e depois de ser torturado, foi
decapitado. Em meio as mais terríveis torturas, não proferiu nenhum gemido.
Este ainda é o melhor herói da lenda popular. O povo russo, supersticioso mas não religioso, e
supersticioso unicamente quando a superstição coincide com seus desejos, espera o seu
retorno em 1870.

Contenu connexe

Tendances

Vladimir ilitch lenin o estado e a revolucao
Vladimir ilitch lenin   o estado e a revolucaoVladimir ilitch lenin   o estado e a revolucao
Vladimir ilitch lenin o estado e a revolucao
Ranyere Serra
 
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Laboratório de História
 
Sociologia - Fichamento de artigo - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
Sociologia - Fichamento de artigo  - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...Sociologia - Fichamento de artigo  - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
Sociologia - Fichamento de artigo - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
Jessica Amaral
 
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃOO PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
ujcpe
 
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf RockerAs ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
BlackBlocRJ
 
Chile parte i
Chile parte iChile parte i
Chile parte i
comiteiv
 
Chile parte i
Chile parte i Chile parte i
Chile parte i
comiteiv
 
Escritos contra Marx - Mikhail Bakunin
Escritos contra Marx - Mikhail BakuninEscritos contra Marx - Mikhail Bakunin
Escritos contra Marx - Mikhail Bakunin
BlackBlocRJ
 

Tendances (18)

Operacao retomada autor_marcelo_r_santos//PDF
Operacao retomada autor_marcelo_r_santos//PDFOperacao retomada autor_marcelo_r_santos//PDF
Operacao retomada autor_marcelo_r_santos//PDF
 
Vladimir ilitch lenin o estado e a revolucao
Vladimir ilitch lenin   o estado e a revolucaoVladimir ilitch lenin   o estado e a revolucao
Vladimir ilitch lenin o estado e a revolucao
 
Apresentação Manifesto Comunista Marx
Apresentação Manifesto Comunista MarxApresentação Manifesto Comunista Marx
Apresentação Manifesto Comunista Marx
 
Disciplina iii unb (texto 3)
Disciplina  iii unb (texto 3)Disciplina  iii unb (texto 3)
Disciplina iii unb (texto 3)
 
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
 
Sociologia - Fichamento de artigo - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
Sociologia - Fichamento de artigo  - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...Sociologia - Fichamento de artigo  - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
Sociologia - Fichamento de artigo - MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. ...
 
Caderno diário a grande depressão 1314
Caderno diário a grande depressão 1314Caderno diário a grande depressão 1314
Caderno diário a grande depressão 1314
 
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃOO PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
O PAPEL DO PARTIDO COMO AGENTE DE EDUCAÇÃO
 
Chile
ChileChile
Chile
 
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf RockerAs ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
As ideias absolutistas no Socialismo - Rudolf Rocker
 
Brasil 2bc733af 3f1e-4d03-991b-a41bbc26b89c
Brasil 2bc733af 3f1e-4d03-991b-a41bbc26b89cBrasil 2bc733af 3f1e-4d03-991b-a41bbc26b89c
Brasil 2bc733af 3f1e-4d03-991b-a41bbc26b89c
 
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
 
Manifesto do partido comunista
Manifesto do partido comunistaManifesto do partido comunista
Manifesto do partido comunista
 
Margareth rago mujeres libres anarco feminismo e subjetividade na revolução e...
Margareth rago mujeres libres anarco feminismo e subjetividade na revolução e...Margareth rago mujeres libres anarco feminismo e subjetividade na revolução e...
Margareth rago mujeres libres anarco feminismo e subjetividade na revolução e...
 
Chile parte i
Chile parte iChile parte i
Chile parte i
 
Chile parte i
Chile parte i Chile parte i
Chile parte i
 
Escritos contra Marx - Mikhail Bakunin
Escritos contra Marx - Mikhail BakuninEscritos contra Marx - Mikhail Bakunin
Escritos contra Marx - Mikhail Bakunin
 
Comuna de paris (1871)
Comuna de paris (1871)Comuna de paris (1871)
Comuna de paris (1871)
 

Similaire à Algumas Palavras aos meus Jovens Irmãos da Rússia - Mikhail Bakunin

Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo AvelinoErrico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
BlackBlocRJ
 
O Livro Negro do Comunismo
O Livro Negro do ComunismoO Livro Negro do Comunismo
O Livro Negro do Comunismo
caixapretadopt
 
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
Emerson Mathias
 

Similaire à Algumas Palavras aos meus Jovens Irmãos da Rússia - Mikhail Bakunin (20)

Algumas palavras a_meus_jovens_irmaos_da_russia
Algumas palavras a_meus_jovens_irmaos_da_russiaAlgumas palavras a_meus_jovens_irmaos_da_russia
Algumas palavras a_meus_jovens_irmaos_da_russia
 
Ma000010
Ma000010Ma000010
Ma000010
 
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação SocialEDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
 
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo AvelinoErrico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
 
A década da utopia
A década da utopiaA década da utopia
A década da utopia
 
O Livro Negro do Comunismo
O Livro Negro do ComunismoO Livro Negro do Comunismo
O Livro Negro do Comunismo
 
Realismo-naturalismo.ppt
Realismo-naturalismo.pptRealismo-naturalismo.ppt
Realismo-naturalismo.ppt
 
O livro-negro-do-comunismo
O livro-negro-do-comunismoO livro-negro-do-comunismo
O livro-negro-do-comunismo
 
Capitães da areia, de Jorge Amado - análise
Capitães da areia, de Jorge Amado - análiseCapitães da areia, de Jorge Amado - análise
Capitães da areia, de Jorge Amado - análise
 
Crimes do Comunismo China e União Soviética
Crimes do Comunismo China e União SoviéticaCrimes do Comunismo China e União Soviética
Crimes do Comunismo China e União Soviética
 
Livro Negro do Comunismo por Stéphane Courtois
Livro Negro do Comunismo por Stéphane CourtoisLivro Negro do Comunismo por Stéphane Courtois
Livro Negro do Comunismo por Stéphane Courtois
 
Realismo naturalismo 2018 versao final
Realismo naturalismo 2018 versao finalRealismo naturalismo 2018 versao final
Realismo naturalismo 2018 versao final
 
Alexander berkman a tragédia russa (uma revisão e uma perspectiva – ou panorama)
Alexander berkman a tragédia russa (uma revisão e uma perspectiva – ou panorama)Alexander berkman a tragédia russa (uma revisão e uma perspectiva – ou panorama)
Alexander berkman a tragédia russa (uma revisão e uma perspectiva – ou panorama)
 
O Socialismo de Lênin por Yury Fontão
O Socialismo de Lênin por Yury FontãoO Socialismo de Lênin por Yury Fontão
O Socialismo de Lênin por Yury Fontão
 
Análise do Manifesto Comunista
Análise do Manifesto ComunistaAnálise do Manifesto Comunista
Análise do Manifesto Comunista
 
Sonho
SonhoSonho
Sonho
 
A esquerda e o crime organizado
A esquerda e o crime organizadoA esquerda e o crime organizado
A esquerda e o crime organizado
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquista
 
Ideias sociais e políticas do Século XIX
Ideias sociais  e políticas do Século XIXIdeias sociais  e políticas do Século XIX
Ideias sociais e políticas do Século XIX
 
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
EXPERIÊNCIA OPERÁRIAOPERÁRIOS NO PALCO – O TEATRO ANARQUISTA NA PRIMEIRA REPÚ...
 

Plus de BlackBlocRJ

Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violênciaPrimeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
BlackBlocRJ
 
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe CorrêaTeorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe CorrêaSurgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe CorrêaSurgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe CorrêaRediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe CorrêaO Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
BlackBlocRJ
 
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe CorrêaFortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe CorrêaDa Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Criar um Povo Forte - Felipe Corrêa
Criar um Povo Forte - Felipe CorrêaCriar um Povo Forte - Felipe Corrêa
Criar um Povo Forte - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
BlackBlocRJ
 
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson PassettiUm Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
BlackBlocRJ
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson Passetti
BlackBlocRJ
 
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson PassettiHeterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
BlackBlocRJ
 
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf RockerOs Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
BlackBlocRJ
 
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
BlackBlocRJ
 
Princípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
Princípio Federativo - Pierre-Joseph ProudhonPrincípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
Princípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
BlackBlocRJ
 
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph ProudhonO Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
BlackBlocRJ
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
BlackBlocRJ
 
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
BlackBlocRJ
 

Plus de BlackBlocRJ (20)

Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violênciaPrimeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
Primeiros socorros em conflitos armados e outras situações de violência
 
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe CorrêaTeorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
 
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe CorrêaSurgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo (IMAGENS) - Felipe Corrêa
 
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe CorrêaSurgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
Surgimento e Breve perspectiva histórica do anarquismo - Felipe Corrêa
 
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe CorrêaRediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
Rediscutindo o Anarquismo - Felipe Corrêa
 
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe CorrêaO Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
O Pensamento Socialista Libertário de Noam Chomsky - Felipe Corrêa
 
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
Movimentos sociais, Burocratização e Poder Popular Da Teoria à Prática - Feli...
 
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe CorrêaFortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
Fortalecer nossa Bandeira - Felipe Corrêa
 
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe CorrêaDa Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
 
Criar um Povo Forte - Felipe Corrêa
Criar um Povo Forte - Felipe CorrêaCriar um Povo Forte - Felipe Corrêa
Criar um Povo Forte - Felipe Corrêa
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
 
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson PassettiUm Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson Passetti
 
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson PassettiHeterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
 
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf RockerOs Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques - Rudolf Rocker
 
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria - Pierre-Joseph P...
 
Princípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
Princípio Federativo - Pierre-Joseph ProudhonPrincípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
Princípio Federativo - Pierre-Joseph Proudhon
 
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph ProudhonO Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
O Que é a Propriedade - Pierre-Joseph Proudhon
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
 
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista, Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
 

Dernier

ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
marlene54545
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
rfmbrandao
 

Dernier (20)

Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
 
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
 
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdfCaderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
6ano variação linguística ensino fundamental.pptx
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introd
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 

Algumas Palavras aos meus Jovens Irmãos da Rússia - Mikhail Bakunin

  • 1. BPI – Biblioteca Pública Independente www.bpi.socialismolibertario.com.br MAL-BH – Movimento Anarquista Libertário www.socialismolibertario.com.br ALGUMAS PALAVRAS AOS MEUS JOVENS IRMÃOS DA RÚSSIA (1869) Mikhail Bakunin Retirado de: www.arquivobakunin.blogspot.com INTRODUÇÃO Notas sobre Bakunin e a prática de “Ir ao Povo” No excelente prólogo que o historiador Max Nettlau escreveu ao livro “Estatismo e Anarquia” publicado na edição francesa das Obras Completas de Bakunin se lê: “Durante os três meses de 1872 houve a redor de Bakunin uma vida intensa, inspirou abnegação a muitos jovens, homens e mulheres, que logo se lançaram de corpo e alma a difícil propaganda popular na Rússia; que “foram ao povo” e que quase todos e todas, depois de algumas semanas, meses, ou raramente anos de agitação, caíram nas prisões para anos de calabouço preventivo e, depois do processo, por dezenas de anos na Sibéria. Ross, um dos últimos, caiu também, no começo de 1876; foram aproximadamente 25 anos para livrar-se de novo da Sibéria e do internamento em províncias, para voltar de novo ao ocidente alguns anos mai tarde; no atual momento, já octogenário, ainda vive, assim como também Z. Ralli.” [1] A esta juventude, a estes valentes e sinceros lutadores, aos primeiros homens e mulheres combatentes anarquistas, foi escrita a carta “Algumas palavras aos meus jovens irmãos da Rússia” no ano de 1869. Para Bakunin a tarefa da juventude consistia em situar-se na vanguarda das lutas do proletariado e dos camponeses. Para isso, era necessário que os jovens, com certo nível de politização, provenientes em sua maioria dos setores médios, assumissem a tarefa de servir como vanguarda do movimento popular de libertação.
  • 2. Citando o apêndice A da primeira edição de “Estatismo e Anarquia” em 1873 de Bakunin, aponta Nettlau: “O que pode fazer o nosso proletariado intelectual, a juventude revolucionária-socialista russa, íntegra, sincera e devotada ao extremo? Ela deve sem dúvida ir ao povo (idti y narod), porque, hoje, em todo o mundo, mas sobretudo na Rússia, fora do povo, fora dos milhões e milhões de proletários, não há mais, nem existência, nem causa, nem futuro. Mas como e com que objetivos ir o povo?"[2] Ir ao povo implica atuar desde o povo, com ele e por ele. Contrária as posições de Lavrov ou de Marx, que preconizavam a educação do povo através dos mestres ou a sujeição do povo a política do partido composto por intelectuais e pequeno-burgueses afastados da realidade do proletariado e dos camponeses, Bakunin sustentou sempre a necessidade de fundir-se na vida popular, de ser povo e através desse pertencimento, dessa constatação da realidade, receber do povo a força elementar e o seu fundamento, mas em troca disso, lhes fornecer os conhecimentos positivos, o hábito da abstração e generalização e a capacidade de organizar e construir sindicatos que, por sua vez, criam uma força criativa consciente sem a qual toda vitória é impossível. [3] A tarefa dos revolucionários não é “dialogar” ou “doutrinar” o povo trabalhador, nem muito menos “ajudar a desenvolver um pensamento revolucionário”, pelo contrário, longe destas pretensões claramente dirigistas e/ou idealistas e pequeno-burguesas, os revolucionários devem lutar para constituir-se na vanguarda consciente do proletariado, e para isso é preciso ser proletário, é preciso, acima de tudo, abraçar o Anarquismo Revolucionário e a luta pela Liberdade e pelo Socialismo. “É preciso associar os melhores camponeses entre si e com os melhores operários das fábricas. É preciso instruir-lhes sobre o caráter geral da miséria na Rússia, sobre as forças elementares do povo, sobre a falta de coesão popular. Um periódico, incluindo notícias orais lhe informariam sobre as revoltas locais e sobre os movimentos revolucionários do ocidente. O povo deve ver a juventude em seu seio, trabalhando, na vanguarda de cada rebelião, consagrando-se a morrer na luta. A juventude deve trabalhar segundo um plano bem refletido e submetendo-se a mais forte disciplina para produzir essa unanimidade sem a qual não pode existir vitória. Deve educar ela mesma e educar ao povo não só para a resistência desesperada, como também para o ataques ousado. O proletariado não tem para si outra via de ação sem ser esta.” [4] Depois de dezenas de anos que se escreveu estas palavras, Ir ao Povo, ainda continuam com plena vigência. A opressão brutal do proletariado e dos camponeses sob a bota do Csar e dos proprietários de terra perdura ainda atualmente sobre o conjunto dos explorados e oprimidos através da Ditadura do Capital/Imperialismo. Este caminho apontado a quase 130 anos foi uma via traçada para a juventude revolucionária russa por Bakunin (e que) foi seguida pelos melhores, uma verdadeira elite de abnegação, homens e mulheres.”[5] Esta elite revolucionária é a que nós anarquistas revolucionários justamente lutamos para reconstruir em pleno século XXI. Seguir o glorioso exemplo de Bakunin e de inumeráveis combatentes da classe operária e do povo oprimido através dos anos é a tarefa do momento.
  • 3. IR AO POVO! Abraçar o Anarquismo Revolucionário para alcançar a vitória! Organização Popular Anarquista Revolucionária Julho de 2008 -------------------------------------------------------------- Algumas palavras aos meus jovens irmãos da Rússia (1869) Levantaram de novo. Então, não conseguiram enterrar-vos. Esse espírito destrutivo do Estado que os encoraja, não é uma conseqüência do produto efêmero de uma exaltação juvenil, senão a expressão de uma necessidade vital e de uma paixão real, que surge das profundezas da vida popular. Se vossas tendências revolucionárias não passassem de uma doença superficial, passageira, a simples ardência de uma vaidade juvenil, os meios heróicos que nosso governo tem empregado para destruir-vos, haver-se-ia já alcançado êxito a muito tempo. Faz muito tempo que vocês, renunciando a perigosa mania de pensar, rejeitando a tudo o que é humano no homem, haveriam se transformado em seres mais embrutecidos, entre a multidão de seres embrutecidos, oficiais e condecorados, que roubam o povo e devoram o país. Teriam merecido a indicação compatriota <>. Apesar da sua tenra idade, a juventude culta e desclasada[6] da Rússia suportou uma série de tempestades. Em meus tempos, sob o regime ingenuamente despótico do imperador Nicolás seria preciso mais de vinte anos para passar pela metade das provas que vocês suportaram durantes estes oito ou nove anos. Após os incêndios de 1861, durante e depois da insurreição polaca e, sobre tudo, depois do ato executado por Karakosov, o bom imperador Alexandre não poupou esforços para completar vossa educação política. Animado, excitado por toda nossa literatura patriótica, pelos eslavófilos e pan-eslavistas, assim como pelos partidários da civilização burguesa do ocidente, por nossos fazendeiros e nossos liberais, utilizaram amplamente contra vocês de todos os meios que lhes foi legado pelos tártaros [7] e que, com o tempo, tem sido aperfeiçoada pela ciência burocrática dos alemães: espancamentos, torturas, enforcamento e morte por fome, cadeia perpétua, exílio em massa e trabalhos forçados, utilizando todos os meios disponíveis para medir vossas forças, vossa teimosia e vossa fé na causa do povo. Nada os desmoralizou, vocês se mantiveram de pé: são fortes. Muitos de vossos camaradas morreram. Mas, por cada vítima enterrada, dez novos combatentes emergiram da terra... Aproxima-se o fim desse infame Império de todas as Rússias. De onde encontrais vossa força e vossa fé? Uma fé sem Deus, uma força sem esperança e objetivos pessoais! Onde encontrais essa capacidade de reduzir a nada, conscientemente, toda sua vida para enfrentar a tortura e a morte, sem vaidade ou retórica? Onde está a origem dessa idéia cruel de destruição e essa determinação friamente apaixonada perante a qual se põem um fim as energias e se gela todo o sangue de nossos inimigos?
  • 4. Nossa literatura oficial e oficiosa, que pretende expressar o pensamento do povo russo, ficou completamente desmoralizada perante vocês. Eles não entendem nada. Se vocês fossem servos fiéis ao imperador e ao Estado, espiões, carrascos, ladrões particulares ou públicos com ou sem direito a violência, canalhas inteligentes, liberais servis, assassinos de camponeses e polacos, se tivessem matado milhares ou dezenas de milhares de seres humanos, esta literatura teria os compreendido e anistiado, e se vocês tivessem os poucos meios e a vontade para provar sua resignação aos editores dos jornais, vos declarariam salvadores do Império, tal como fizeram com Muraviev o Carrasco. Tudo é coisa normal na civilização bizantino-tártaro e germano-burocrática de nosso Estado; tudo isso não entra em contradição com o patriotismo oficial e oficioso do Império de todas as Rússias. Se vocês fossem uma juventude idealista, doutrinária ou sentimental; entretida em sonhar com a ciência e com a arte. Com a liberdade e a humanidade somente em teorias, em conversas ou em livros, eles os perdoariam, levando em conta que os dignos veteranos dessa velha literatura também já tiveram seus tempos de juventude. Eles também sonharam quando eram só estudantes. Entusiasmados com as belas teorias, também prometeram dedicar suas vidas ao culto do ideal, aos atos nobres, a serviço da liberdade e da humanidade. Mais tarde entrou em jogo a experiência, uma experiência adquirida no mundo mais desprezível que se possa imaginar, e sob a influência desse mundo se converteram no que são hoje, uns canalhas. Mas relembram com ternura os dias de sua juventude e perdoariam vocês, especialmente quando estivessem convencidos que, com a mesma experiência e sob a influência da mesma realidade, vocês iriam em breve superar sua maldade. O que eles nunca perdoarão é que vocês não querem ser nem ladrões nem sonhadores. Vocês desprezam tanto esse mundo odioso, cuja realidade o oprime, como o mundo ideal que até os tempos atuais tem servido de refúgio para as “almas puras” contra o despotismo da realidade. Aqui está o que aterroriza nossa literatura “patriótica”. Não sabem o que vocês querem, nem aonde vão. Em seu desespero, o Sr. editores de jornais em São Petersburgo e Moscou encontraram uma saída. Decidiram unanimemente que o movimento atual da juventude russa tem sua origem em intrigas polacas. Não poderíamos imaginar algo mais covarde nem mais estúpido. Não é uma cruel e desprezível covardia estimular o carrasco contra a vítima que está sendo torturada? E, além disso, tem que ser realmente estúpido para não compreender o abismo que separa o programa da grande maioria dos patriotas polacos do programa de nossa juventude, representante da idéia socialista e revolucionária do povo russo. Entre a maioria dos patriotas polacos e nós não há nada em comum, a não ser um único sentimento e meta: o ódio contra o Império de todas as Rússias, e a firme vontade de destruir- lo por todos os meios e com a máxima rapidez. Esse é o único ponto que estamos de acordo. Mais um passo e entre os dois se abre o abismo: nós queremos a abolição definitiva de tudo o que constitui o Estado, tanto na Rússia como fora da Rússia; quanto aos polacos só estão trabalhando pela reconstrução do seu Estado histórico.
  • 5. Em nossa opinião, o sonho dos polacos não é bom. Como todo Estado, por mais liberais e democráticos que sejam suas formas, esmaga as massas populares que trabalham, em benefício de uma minoria que não trabalha. Os polacos sonham com o impossível, por que no futuro os Estado não se reconstruirão, e sim cairão. Sem saber disso, nem querer-lo, sonham com uma nova escravidão de seu povo e se conseguissem realizar esse sonho, não pela força popular, que não se prestaria a isso, senão com a ajuda das baionetas estrangeiras, se converterão tanto em nossos inimigos como opressores do seu próprio povo. Então, os converteremos em nome da revolução social e da liberdade de todo o mundo. Mas até esse ponto somos seus amigos e devemos ajudar-lhes, por que sua causa, a de destruição do Império de todas as Rússias, é também nossa causa. Para os povos russos e não-russos presos hoje no Império de todas as Rússias, não existe inimigo mais perigoso e mais mortal que o próprio império. Os patriotas polacos nunca entenderam, e por isso que sua influência sobre o movimento revolucionário da Rússia foi sempre nula. É uma lástima, pois existiriam vantagens evidentes tanto para eles como para nós merecer realmente a difamação da imprensa russa e ambos deveríamos conviver bem, ainda que seja apenas o primeiro ato que se anuncia da tragédia eslava; O que não nos impediria de separar-nos e inclusive de combater-vos nos três atos seguintes, à custa de reconciliarmos no quinto. Não, não é a influência das intrigas polacas; é uma força de dimensões gigantescas que levanta e agita a juventude russa: o despertar da vida popular. O reinado atual apresenta uma enorme semelhança com o reinado do csar Alexis, pai de Pedro o Grande, que apesar de sua imagem de bonachão, saqueou e destruiu o povo, para a maior glória do Estado e em proveito dos nobres e burocratas, assim como faz hoje o suposto emancipador dos camponeses, o excelente imperador Alexandro II. Naquele momento, como agora, o infeliz povo, esmagado, torturado, levado a miséria suprema e dizimado pela fome, abandonou as aldeias e refugiou-se nas florestas. Hoje, como naquele momento, toda essa imensa população, finalmente tomando consciência da fraude imperial, se agita, esperando sua emancipação apenas pelos de baixo, pela via que lhe indicou, a exatos dois séculos, seu herói Stenka Razin[8]. Se sente que se aproxima um encontro sangrento, de uma última luta até a morte entre a Rússia popular e o Estado. Quem triunfará desta vez? O povo sem dúvida nenhuma. Steka Razin era um herói, mas estava sozinho e acima de todos. Seu poder pessoal, realmente gigantesco, era, não obstante, insuficiente para resistir a força já em grande parte organizada do Estado. Morreu e todos morreram com ele. Agora as coisas serão diferentes. Não teremos provavelmente um herói tão poderoso e tão popular com Stenka Razin, que concentrou todas as forças das massas rebeldes em uma só pessoa. Mas será substituído por essa legião de jovens desclasados e anônimos que agora já se alimentam da vida popular e que permanecem extremamente unidos uns aos outros, pelo mesmo pensamento e a mesma paixão, e por um objetivo comum. A garantia do triunfo popular reside na união da juventude com o povo.
  • 6. Essa juventude só é invulnerável e forte porque sustenta seu pensamento e sua vontade implacável na paixão popular. Não busca seu próprio triunfo, senão o triunfo do povo. Tem atrás de si Stenka Razin. Não a pessoa do herói, senão o coletivo, e por isso mesmo invencível. Será toda essa magnífica juventude sobre a qual já planeja seu espírito. Esse é o verdadeiro sentido do movimento atual, em aparência bastante inocente, e que apesar desse aspecto de inocência, alimenta-se do desgosto a todo nosso mundo oficial, oficioso e patrioticamente literário. Amigos! Abandonem o quanto antes esse mundo condenado a destruição! Abandonem essas universidades, essas academias, essas escolas que agora os expulsam, elas nunca fizeram outra coisa que afastá-los do povo. Vão ao povo. É nele que deve estar sua carreira, sua vida e sua ciência. Aprenda em meio a essas massas com as mãos calejadas pelo trabalho como deveis servir a causa do povo. E lembre-se bem, irmãos, que a juventude culta não deve ser nem o amo, nem o protetor, nem o benfeitor, nem o ditador do povo, senão a vanguarda de sua emancipação espontânea, o coordenador e organizador dos seus esforços e de todas as forças populares. Não se preocupem nesse momento em nome da qual se pretenderia vincular, confundindo-se. Esta ciência oficial deve perecer com o mundo do qual é expressão e ao qual serve; em seu lugar, uma ciência nova, racional e viva, surgirá depois da vitória do povo, exatamente das profundezas da vida popular liberada de suas cadeias. Tal é a fé dos melhores homens do Ocidente, onde, assim como na Rússia, o velho mundo dos Estados fundados na religião, na metafísica, na jurisprudência, em uma palavra, na civilização burguesa, com seu complemento indispensável: o direito da propriedade privada hereditária e da família jurídica entra em colapso, se preparando para deixar seu posto ao mundo internacional e livremente organizado dos trabalhadores. Mentem aqueles que dizem que a Europa encontra-se mergulhado em um sono profundo. Bem ao contrário, a Europa desperta, e só podem ser verdadeiramente surdo e cego para não dar-se conta da iminência de uma luta suprema. Ao se organizar para esta luta e dar as mãos para além das fronteiras de todos os Estados, o mundo dos trabalhadores da Europa e da América os chama para uma fraternal aliança. Genebra, maio de 1869. Miguel Bakunin --------------------------------- NOTAS: [1] Mijail A. Bakunin. Estatismo y Anarquía. Ed. Folio. Pág 23-24 [2] Idem pág 26 [3] Idem pag 46 [4] Idem pág 26 [5] Ibid [6] Nota do Tradutor. Desclasado: No original em espanhol. Adj. Que já não pertence à classe social, geralmente alta, da qual provem.
  • 7. [7] Nota o Tradutor. Há dois principais grupos vinculados aos povos tártaros, os do Volga e os de Crimeia, com duas línguas diferentes. No século XIII os tártaros entraram na Europa com as hordas de Gengis Khan. Nos séculos XV e XVI o janato de Kazán teve grande importância comercial e econômica, por sua vez fomentou a islamização das margens do Volga. [8] Para explicar a gigantesca figura de Stenka Razin e o segredo de sua imensa popularidade seria necessário, em primeiro lugar, dar uma idéia da situação em que se encontrava o povo russo no século XVII. Até fins do século XVI, esse povo foi livre, e só na última década deste século os camponeses, que até então haviam conservado sua liberdade de movimento, se converteram em servos da gleba. A idéia tradicional, e que constitui ainda hoje o essencial da consciência popular na Rússia, é que toda a terra pertence ao povo. A outra idéia, tão antiga como a anterior, é que o povo deve administrar seus próprios assuntos a partir das resoluções das assembléias comunais, da qual fazem parte todos os chefes de família. Estas duas idéias se encontram tão profundamente arraigadas na consciência do povo russo que, a pesar de sofrer três séculos de escravidão, as conserva intactas ainda hoje. Serão a mesma base de sua próxima organização política. O povo russo profundamente socialista por instinto, assim como por tradição, carece de educação política. Isso explica que, sendo livre antes, ainda pode ser jogado na escravidão. Contrariamente ao que aconteceu no Ocidente, onde o poder monárquico se desenvolveu através de uma aliança da Coroa com o povo contra a nobreza proprietária, na Rússia tal poder se baseou na aliança da Coroa, da nobreza e do clero contra o povo. Isso explica também por que a nobreza e o clero russos se mantiveram sempre como escravos voluntários do Csar, e este, em recompensa, lhes garantia a escravidão dos camponeses, é por isso que o povo tem sido em todos os tempos, e continua sendo, o único sujeito revolucionário real e sério na Rússia. As comunas se sublevaram em massa contra o poder do Csar, do clero, da nobreza e da burocracia moscovita, nos primeiros anos do século XVII, este foi reconstruído pela eleição livre de um czar novo, cujo filho o Csar Alexis (1645-1676), esquecendo de todas as promessas juradas pelo seu pai, enterrou o povo russo e os camponeses em uma escravidão que até então não tinham idéia. Chegava na metade do reinado de Alexis quando explodiu a célebre revolta de Steka Razin. Stenka Razin era um homem notável pela sua inteligência e vontade. Era um homem de ferro, que desconhecia a piedade até para si mesmo, e obviamente para os demais. Era apenas um cossaco do Don. Seu pai havia sido enforcado pelo príncipe Dolgoruki, comandante de um exercito moscovita levantado contra a Polonia. Stanka Razin fugiu ao Volga em 1667. Ali formou uma ... com a qual desceu de barco até o mar Caspio, pilhando as costas persas e regressando de novo ao Don, carregado os produtos roubados. Em 1670, reapareceu no Volga e declarou guerra a morte a toda a nobreza, a burocracia e ao clero, proclamando a liberdade dos camponeses com plena posse da terra. Todo o povo, entre
  • 8. o Oka e o Volga, se uniu a ele, matando todos os nobres, os funcionários do Csar e os padres. Em pouco tempo, Stenka Razin havia conquistado Astraján, Tsaritsin, Saratov. Seu procedimento era muito simples: Todo aquele que não pertencia ao povo era executado, deixando ao povo a tarefa de expropriar a terra e organizar-se por si mesmo. Em qualquer lugar que Stenka Razin ocupasse, a comuna livre dos camponeses em posse da terra se levantava e se organizava. Depois que Steka Razin vencia as tropas regulares, sua primeira preocupação consistia em matar todos os oficiais, usando de seu próprios soldados, advertindo estes que não declarava guerra contra eles, que eram livres para unir-se a ele ou ir embora. Mas se escolhiam ir embora, ele os perseguia e matava. Onde quer que fosse, antes de qualquer coisa queimava todas as atas, todos os papeis do Csar, mas, segundo vimos, não isentava os homens do castigo. De forma alguma era religioso, e quando lhe censuravam por que matavam os padres, lhes respondia: “O que? Você precisa de um padre? Quer se casar? Pois passais três vezes em volta de uma árvores e o assunto está encerrado”. No sentido inverso, foi um poeta, e escreveu grandes canções sobre bandidos que ainda se cantam no Volga e em toda a Rússia. O fizeram prisioneiro em 1671 e foi conduzido a Moscou, onde o povo lhe esperava como um libertador, e depois de ser torturado, foi decapitado. Em meio as mais terríveis torturas, não proferiu nenhum gemido. Este ainda é o melhor herói da lenda popular. O povo russo, supersticioso mas não religioso, e supersticioso unicamente quando a superstição coincide com seus desejos, espera o seu retorno em 1870.