2. Neste trabalho vamos sintetizar as características de Ricardo Reis, o
heterónimo de Fernando Pessoa, as características estilísticas que ele
usa na escrita. Vamos analisar as partes lógicas de um poema de Ricardo
Reis «vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio», a utilização de
símbolos, de vários recursos expressivos, a utilização de palavras
negativas e o uso dos tempos verbais no poema.
3. É um poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita com calma lucidez, a
relatividade e a fugacidade(pressão) de todas as coisas.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurista(Epicurismo é o desejo para
encontrar a felicidade, buscar a saúde da alma, lembrando que o sentido da vida é o
prazer) triste, pois defende o prazer do momento “carpem diem”(aproveite o
momento) como caminho para a felicidade. Apesar deste prazer que procura e a
felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e
tranquilidade, ou seja, sente que tem de viver em conformidade com as leis do
destino, indiferente à dor, conseguida pelo esforço estóico(firme, senhor de si mesmo;
inabalável, impassível, austero) lúcido e disciplinado.
4. A tentativa de iludir o sofrimento resultante da consciência da pobreza da vida,
do fluir continuo do tempo e da fatalidade da morte, através do sorriso, do vinho
e das flores.
A intemporalidade das suas preocupações: a angustia do homem perante a breve
vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do
sofrimento que caracteriza a vida humana.
5. ((é o sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos,
filósofo ateniense do século IV a.C)
- Busca da felicidade
- Moderação dos prazeres
- Fuga à dor
- Ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)
- Aceitação das leis do destino
- Indiferença face às paixões e à dor
- Abdicação de lutar
- Auto disciplina
6. (Horácio foi um poeta lírico e satírico romano, além
de filósofo. É conhecido por ser um dos maiores poetas da Roma Antiga).
- Carpe diem: vive o momento
- Aure mediocritas: a felicidade possível está na natureza
( o paganismo é o culto e o respeito às forças da
Natureza.
- Crença nos deuses
- Crenças na civilização da Grécia
- Intelectualização das emoções
- Medo da morte
( movimento artístico internacional que surge na segunda
metade do séc. XVIII
- Poesia construída com base em ideias elevadas
- Odes
7. Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde a
uma expressão perfeita.
Estrofes regulares e versos brancos.
Recusa frequente à assonância, à rima interior e à aliteração.
Predominância da subordinação (subordinadas causais, concessivas,
temporais … etc.)
Uso frequente do hipérbato (alteração ou inversão da ordem direta dos
termos na oração, ou das orações no período)
Uso frequente do gerúndio e do imperativo.
O uso latinismo: atro, ledo, infero.
8. Vem sentar-te comigo, Lídia, á beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendemos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
9. Sem amores, nem ódio, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, que o seu perfume suavize o momento
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada.
Pagãos inocentes da decadência.
10. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave á memória lembrando-te assim – á beira – rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
11. O poema pode-se dividir em três partes:
1ª - Desejo epicurista de usufruir o momento presente (duas primeiras
estrofes);
2ª - Renuncia ao próprio gozo desse momento que é a vida (terceira à
sexta estrofe);
3ª - Explicação dessa renúncia como única forma de anular o sofrimento
causado pela antevisão da morte (duas últimas estrofes);
12. I
à beira do Cenário de beleza natural em que se enquadra a
situação amorosa
Sossegadamente fitemos o seu curso
Rio
E aprendemos que a vida passa
Símbolo da fugacidade dos bens Enlacemos
O seu curso as mãos
terrenos
13. Nesta primeira parte podemos ver a atitude amorosa que resulta da interpretação
dela como símbolo de fugacidade, interpretação que a razão comanda (aprendamos,
pensemos) na constante obsessão do nada.
Por um lado determina um poeta um desejo de fruir o presente e de aproveitar o
fugaz momento, único bem que nos é dado possuir, por outro lado reveste o amor
de uma gélida frieza, pelo calculado e pensando sentido que retira toda a
espontaneidade ao mais simples gesto de ternura.
14. II
Símbolo de
Atitude amorosa
Passividade
Desenlacemos as mãos
Ouvindo correr o
Amemo–nos
rio e vendo-o
tranquilamente
Sentados ao pé um do
outro
15. Nesta segunda parte do poema, é nítido o afrouxar do impulso amoroso, a tal
ponto que, do gozo do momento presente, mas não fica contida uma emoção que
aos poucos se anula para terminar numa atitude de quase indiferença e de
irremediável incomunicabilidade (sentados ao pé um do outro).
E mais uma vez essa recusa é símbolo mais amplo de um desencantado viver que
nega qualquer paixão mais forte e todo o esforço que se sabe impotente para
alterar a força do destino cruel, numa passividade à margem da vida, quase fora
dela.
16. III
Vitória sobre a morte,
na medida em que o eu poético
Antevisão da morte não sofrerá com ela
…se for …lembrar – te – as de
sombra antes mim depois
Sem que a minha
E se antes do lembrança te arda
que eu levares ou te fira ou te mova
o óbolo ao Eu nada terei que sofrer
barqueiro ao lembrar – me de ti
sombrio Ser – me – ás suave à
memória
17. Aqui podemos ver o remédio ilusório para a obsessão da morte que, no final do
poema, Reis antevê e disfarça em eufemísticas perífrases clássicas.
É para exactamente superar a morte, ou superar – lhe pelo menos o cortejo do
sofrimento e saudade que acompanha, que ele opta por essa vivência atrás
definida, que nada deixe que se lamente ou se deseje.
18. O vocativo da segunda pessoa ( «Vem sentar-te comigo, Lídia, á beira do rio») associado ao
modo imperativo: vem, pega, deixa-as.
O uso da primeira pessoa do plural do presente do conjuntivo com sentido de imperativo -
fitemos, aprendamos, enlacemos, pensemos, desenlacemos, amemo-nos, colhamos, relaciona-se
com a existência de um interlocutor (Lídia),a quem o discurso é dirigido.
19. Advérbios ou expressões adverbiais, como: sossegadamente (duas
vezes), silenciosamente, sem desassossegados grandes, tranquilamente;
A repetição de palavras da família de laço: «enlacemos»,»
desenlacemos», «nunca enlaçamos»;
A predominância da função apelativa que o vocativo inicial logo sugere;
20. O ritmo lento, pausado, sugerido pela pontuação, pelos advérbios de
modo que atrás referidos, pelo uso de sons fechados e nasais;
A metáfora do « antes» (a vida) e do «depois» (a morte) e o papel da
memoria/lembrança, na terceira parte do texto.
21. Concluímos que Ricardo Reis é um epicurista triste, pois defende o
prazer do momento “carpem diem” como caminho para a felicidade.
Reis Procura a felicidade que deseja alcançar, considerando que
nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade com as leis do
destino.
A sua forma de expressão vai buscá-la aos poetas latinos, de acordo
com a sua formação.
Podemos obter assim, de forma mais concreta, as características
estilísticas que Ricardo Reis utiliza e perceber a interpretação deste
poema.