O documento resume a vida e obra do poeta português Fernando Pessoa. Apresenta o contexto histórico em que viveu, características do Modernismo português, seus principais heterônimos, e analisa alguns de seus poemas mais conhecidos.
3. CONTEXTO HISTÓRICO
Em 1890, o governo inglês lançou um ultimato a
Portugal: onde o país deveria abandonar
imediatamente as colônias que ainda mantinha.
A obediência a essa imposição encheu o povo
português de vergonha e abalou
profundamente a crença na monarquia.
A partir de então, a luta republicana ganhou
espaço e importância.
Em 1910, foi proclamada a República .
4. As mudanças sociais esperadas não aconteceram de forma a
contentar os republicanos mais exacerbados.
Na verdade, a República tinha como principal objetivo integrar
Portugal no quadro do imperialismo europeu, sinônimo de
modernização.
Esse ambiente favoreceu a difusão das idéias modernistas .
Exacerbados-- Exigir demais de, exagero, esquecer,
exageradíssimo, exacerbado, exigir, exigir muito de, exagerar, execrável,
exagerado.. Ex.
“A necessidade de proteger uma marca no USA é exacerbada pelos bilhões
de dólares em perdas”.
5. Em 1915, um grupo de artistas da vanguarda,
lideradas por Mário de Sá-Carneiro e Fernando
Pessoa, fundou a Revista Orpheu, marco inaugural
do Modernismo em Portugal.
Através dela, as novas propostas artísticas foram
divulgadas e discutidas.
A duração da revista foi efêmera , prejudicada pelo
suicídio de Sá-Carneiro .
Esses primeiros modernistas ficaram conhecidos,
exatamente em função da revista, por "geração de
Orpheu “.
6. A República, incapaz de
resolver os problemas mais
profundos do país, e sem
conseguir equacionar as
diferenças existentes entre os
próprios republicanos,
acabou por dar lugar à
ditadura salazarista, que
durou cerca de cinqüenta
anos, até a Revolução dos
Cravos, de caráter socialista,
em 1975.
7. CARACTERÍSTICAS
Os modernistas portugueses tiraram
proveito da herança simbolista, sem
renegá-la totalmente.
Assim, o saudosismo do poeta
Antônio Nobre, que tinha fortes
conotações nacionalistas, ganhou
força entre os membros da
"geração de Orpheu ".
Ao lado disso, a absorção das
conquistas futuristas que tomavam
conta da Europa inteira, como a
apologia da máquina e do
progresso urbano, conduz o
movimento à vanguarda .
O que se destaca, no
panorama modernista
português, nesse primeiro
momento, é a forma de
elaboração entre tradição
e modernista.
Com isso, eles conseguem
retomar formar e temas
arcaicos, enquadrando-os
dentro de propostas
modernistas.
8. Ressalte-se ainda o caráter algo místico do Modernismo lusitano,
patente em algumas posturas, pessoais e estéticas, de seu maior
representantes, Fernando Pessoa.
O modernismo português conheceu ainda mais duas gerações
estéticas.
https://www.youtube.com/watch?v=72Kb-UtLRF0
9. Ultimato Inglês
Pessoa, para além do mais,
viveu o terrível drama nacional
que foi o ULTIMATO INGLÊS,
viveu o período do assassinato
do rei D.DARLOS e do herdeiro
da coroa, facto que, aliado
ao ódio pela Inglaterra,
despoletou os ideais
republicanos; viveu ainda a
miséria moral e cultural que
culminou com a 1ª GRANDE
GUERRA, que destruiu a
EUROPA e parou o avanço da
modernidade.
10. Vida e obra de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888 - 1935) foi um poeta e escritor português,
nascido em Lisboa.
É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da
literatura universal.
Aos seis anos de idade, Fernando Pessoa foi para a África do Sul,
onde aprendeu perfeitamente o inglês, e das quatro obras que
publicou em vida, três são em inglês.
Durante sua vida, Fernando Pessoa trabalhou em vários lugares
como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também
empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político,
tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, e ao mesmo tempo
produzia suas obras em verso e prosa.
11. Como poeta, era conhecido por suas múltiplas
personalidades, os heterónimos, que eram e são até hoje
objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua
obra.
Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, com 47 anos anos de
idade, vítima de uma cólica hepática causada por um
cálculo biliar associado a cirrose hepática, um diagnóstico
hoje é dia é contestado por diversos médicos.
12. Os principais heterônimos de
Fernando Pessoa são:
Alberto Caeiro, nascido em
Lisboa, e era o mais objetivo dos
heterônimos.
Ia a procura do objetivismo
absoluto, eliminando todos os
vestígios da subjetividade.
É o poeta que procura "as
sensações das coisas tal como
são". Opõe-se radicalmente ao
intelectualismo, à abstração, à
especulação metafísica e ao
misticismo.
É o menos "culto" dos
heterônimos, o que menos
conhece a Gramática e a
Literatura.
13. Ricardo Reis, nascido no Porto, representa a vertente
clássica ou neoclássica da criação de Fernando Pessoa.
A sua linguagem é contida, disciplinada.
Os seus versos são, geralmente, curtos.
Apóia-se na mitologia greco-romana; é adepto do
estoicismo e do epicurismo (saúde do corpo e da
mente, equilíbrio, harmonia) para que se possa
aproveitar a vida, porque a morte está à espreita.
É um médico que se mudou para o Brasil.
14. Álvaro de Campos, nascido no Porto, é o lado "moderno" de Fernando
Pessoa, caracterizado por uma vontade de conquista, por um amor à
civilização e ao progresso.
Campos era um engenheiro inativo, inadaptado, com consciência
crítica.
15. “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão
para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te
amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
Fernando Pessoa
17. Características Temáticas
. Identidade perdida
. Consciência do absurdo da existência
. Tensão sinceridade/fingimento,
consciência/inconsciência, sonho/realidade
. Oposição sentir/pensar,
pensamento/vontade, esperança/desilusão
. Anti-sentimentalismo: intelectualização da
emoção
. Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio,
angústia, cansaço, desespero, frustração.
. Inquietação metafísica, dor de viver
. Auto-análise
Características Estilísticas
. Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom
nasal (que conotam o prolongamento da dor e do
sofrimento)
. Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas)
. Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de
elementos formais tradicionais)
. Adjectivação expressiva
. Linguagem simples mas muito expressiva (cheia de
significados escondidos)
. Pontuação emotiva
. Comparações, metáforas originais, oxímoros (vários
paradoxos – pôr lado a lado duas realidades
completamente opostas)
. Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a
água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul; ou modernos,
como o andaime ou o cais)
. É fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas
vezes, da quadra popular.
. Utilização de vários tempos verbais, cada um com o seu
significado expressivo consoante a situação.
18. Como Te AmoComo te amo? Não sei de quantos modos vários
Eu te adoro, mulher de olhos azuis e castos;
Amo-te com o fervor dos meus sentidos gastos;
Amo-te com o fervor dos meus preitos diários.
É puro o meu amor, como os puros sacrários;
É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos;
É grande como os mares altisonos e vastos;
É suave como o odor de lírios solitários.
Amor que rompe enfim os laços crus do Ser;
Um tão singelo amor, que aumenta na ventura;
Um amor tão leal que aumenta no sofrer;
Amor de tal feição que se na vida escura
É tão grande e nas mais vis ânsias do viver,
Muito maior será na paz da sepultura!
Fernando Pessoa, "Inéditos – Poemas de Lança-Pessoa – Manuscrito
(Junho/1902)"
19. Analise:
O poeta fala do seu amor, de como é puro e belo e ao mesmo
tempo variado,
20. Tenho Tanto SentimentoTenho tanto
sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
21. Analise:
O poeta fala de duas vidas, a que é vivida (real) e a que é
pensada (irreal).
Ele vive confuso com as suas duas vidas p0ois ele não sabe qual é
a certa ou qual é a errada.
22. LiberdadeAi que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está
indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as
danças...
Mas o melhor do mundo são as
crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
23. Analise:
O poeta fala de ter liberdade.
Liberdade para fazer o que quer e não fazer por obrigação.
Fala também das coisas boas da vida que não são feitas pela
pressa e sim pelo prazer.
24. “autopsicografia”
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração