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Luís de Camões:
Sonetos,
Amor,
Platonismo,
Representação da mulher
Burghard Baltrusch
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Contexto histórico do surgimento do soneto na corte
de Frederico II, Barbarossa (1208-1250) na Sicilia
• Santo Império Romano: 1º estado moderno da Europa.
• Contexto multicultural em Sicília: culturas árabe, grego-
bizantina, clássica-latina, occitana, galego-portuguesa.
• Administração complexa.
• Produção de textos destinados à persuasão, ao controlo
e à estabilização do poder e da autoridade (cf. gíria do
serviço público).
• Requeria uma noção e prática da eloquentia (capacidade
do Eu de deleitar e convencer por meio da palavra).
• Artes eloquentiae: ensino da retórica (vocabulário
elevado, sintaxe complexa, figuras de estilo.
• Fiori di rettorica: máximos, giros epigramáticos de
autores de referência.
• Soneto pensado para expor, argumentar e assertar numa
voz com experiência de vida.
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Soneto < it. ‘sonetto’, pequeno som
• Surge no século XIII (1230/40) na Sicília, talvez
pela mão de Petrus de Vinea, chanceler do
imperador Frederico II.
• Origem incerta, talvez influências provençais ou
árabes. Em occitano ‘sonet’ significa ‘um poema’.
• Descende provavelmente de uma forma lírica
provençal, a canso ou canzone, um poema longo
com estrutura musical em 7-19 linhas. As estrofes
eram divididas em duas partes (frases musicais), as
quais podiam ser subdivididas outra vez em duas;
as duas partes principais, a fronte e a sirma, eram
separadas por uma volta.
• Da corte de Frederico II sobreviveram 125 poemas,
35 dos quais são sonetos, sendo 25 destes escritos
por um advogado, Giacomo da Lentini.
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• Os sonetos de Giacomo da Lentini (1210-1260) eram de 14
versos de 11 sílabas e com uma oitava que sempre rimava
abababab, com 2 rimas novas na volta ao sexteto.
• Guittone d'Arezzo (1230-1294), escreveu 246 sonetos sobre
temáticas muito diversas, transmitindo esta forma lírica ao
círculo dos stilnovisti:
• Dante Alighieri (1265-1321): Vita Nova (1293, publ. 1576),
encontro imaginado de Dante com a sua amada Beatrice, ‘dolce
stil nuovo’, influência da mística cristã.
• Guido Cavalcanti (1255-1300): Introduziu nos seus Rime as
"rimas cruzadas" tipo ABBAABBA na oitava, que
frequentemente se usava para descrição ou apresentação do
tema, enquanto o sexteto se reservava para o comentário.
• Francesco Petrarca (1304-1374): Canzioniere ou Rime (publ.
1470); os seus "Sonetos a Laura" iniciam o 2.º grande sistema
amoroso da literatura europeia depois do amor cortês da Idade
Média. Laura foi uma pessoa real ao contrário de Beatrice.
Petrarca preferiu a oitava com rima cruzada e os seus sextetos
rimavam frequentemente CDECDE ou CDCDCD.
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Soneto: inovações poéticas
• Influência provençal: Dona amada
converte-se numa convenção (cf. O
contraste com a Cantiga d’amigo).
• Divórcio da poesia e da música:
Trovador transforma-se em escritor.
• Individualização: Petrarca apresenta a
sua própria ideia do amor (elevado).
• Criação de modelos: Com Laura, a
amada que conhece em 1327, Petrarca
impõe um modelo feminino: loiro,
sereno, abstracto, inacessível, símbolo
de harmonia e perfeição.
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Leão Hebreu, i.e. Judá Abravanel (1460-1535)
Médico, filósofo e poeta português que foge em 1483 primeiro para
Espanha e depois para Itália. Um dos mais importantes representantes
do neoplatonismo no Renascimento.
Nos Dialoghi d'amore (1502), trata o amor como o princípio
universal e procura realizar uma harmonização das ideias aristotélica e
platónica do amor, como também a Bíblia com a Cabala:
"[O objecto do desejo sobe das coisas às almas, destas até Deus, em
cuja] união e copulação o nosso entendimento se conhece como
sendo antes razão e parte divina do que entendimento humano."
Entende o universo inteiro como animado de uma líbido cósmica.
Eduardo Lourenço, "Camões e a visão neoplatónica do Mundo":
“Como outros tratamentos de Amor dos Quinhentos, os célebres
Diálogos de Amor, de Leão Hebreu, são, sobretudo, uma obra de
metafísica cosmológica ou, se se prefere, de cosmologia metafísica. O
amor não é aí outra coisa que a realidade primeira, Deus, de que se
busca apreender a pura manifestação e efeitos. [...] A genealogia do
Amor é uma cosmogonia, uma explicação racional da génese do
Universo.“ (in Poesia e Metafísica, Lisboa: Sá da Costa 1983:54)
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Petrarquismo
em Camões
António José Saraiva:
Talvez nenhuma literatura tivesse petrarquizado tanto como as da
Península Ibérica, onde não houve nenhum Ronsard [1524-1585,
“o Petrarca francês“]. E talvez na Península Ibérica ninguém
fosse mais petrarquista que Camões. Frequentemente, o nosso
Poeta repete, numa forma talvez menos voluptuosa, mas com
maior intensidade de luz e recorte mais nítido, o ideal que o
italiano apurara sobre a herança provençal. É um mover de olhos
brando, piedoso e abstracto, um gesto sereno, um à-vontade
encolhido, um «repouso gravíssimo e modesto»; uma fala rara e
suave que suspende as vidas, uma «presença moderada e
graciosa». Como Laura, esta imagem aparece associada às
manifestações da natureza primaveril, que lhe servem de cortejo.
(Luís de Camões - Estudo e Antologia, Lisboa: Bertrand 1980: 56s)
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
A
B
B
A
A
B
B
A
C
D
C
D
C
D
Chave de ouro:
Adversativa
«mas» introduz
paradoxo final.
AP
AP
EA
AP
JP
AP
JP
EA
AP
JP
AP
Soneto 43, publ. 1598
11 definições lapidares com
frases afirmativas.
Cada definição contém
1 oposição de carácter
variável:
AP – Afirmações paradoxais
EA – Expressões antónimas
JP – Jogos de palavras da
mesma família
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Def. do amor através de
metáforas antiteticamente
dispostas em paralelismo
anafórico e de
iterações/repetições.
Efeito circular: amor abre e
fecha o soneto.
JP: Metáforas in praesentia =
afirmação de equivalência a
partir de núcleos sémicos
comuns.
Única afirmação concreta na
forma de oração condicional /
interrogação: “Como pode o
amor harmonizar duas pessoas,
sendo tão contraditório?”
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Amor como fonte de
contradições:
Vida vs. Morte
Esperança vs. Desengano
etc.
Conflito com a vivência
sensual desse mesmo amor.
Amor é inefável, mas, assim
mesmo, fundamental à vida
humana.
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Método antinómico na literatura
Fernando Pessoa (1889-1935):
“Não há critério da verdade senão não
concordar consigo próprio. O universo
não concorda consigo próprio porque
passa. A vida não concorda consigo
própria, porque morre. O paradoxo é a
fórmula típica da Natureza. Por isso toda
a verdade tem uma forma paradoxal.”
(Páginas Íntimas e de Auto-interpretação, 217s)
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Triângulo semiótico
(Ogden/Richards 1923, com precisões)
DenotadoSigno
Expressão
, sentido, conceito ou
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semiótica do
amor
renascentista
aisthesis
p.ex. de sentimentos
estética /
ideologia / utopia /
ideia do amor, p.ex. Do
amor «elevado»
anestética /
heterotopia deste
modelo do amor,
p. ex. através de
metáforas antitéticas
ou do próprio soneto
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Transforma se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim com a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
A
B
B
A
A
B
B
A
C
D
E
C
D
E
Soneto n.º 64,
considerado a mais alta
expressão do platonismo
em Camões.
• Carácter discursivo da
linguagem.
• Rico em ligações
lógicas: reflexão
filosófica.
• Léxico do domínio
abstracto: conceptismo.
• Oposições tradicionais
da filosofia: matéria vs.
forma.
• Jogos de palavras
característicos de
Camões: amador/amada,
desejar/desejada,
semideia/ideia.
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Transforma se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim com a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Descrença no mundo terrestre conduz a
uma ascese dialéctica, entendida como
aprendizagem e libertação.
Anulação do desejo físico.
Platão, Banquete:
“E porque a alma participa mais do
que o corpo, amemos a beleza
espiritual mais do que a material.”
Ausência como forma de apurar o amor.
Amor = Ideia da amada vivida pelo
amante, consubstanciação do amador e
da amada.
Viver = Filosofar
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Amor no
Neoplatonismo
• Faculdade específica do ser humano.
• Faculdade mediadora entre sensorialidade e
intelecto.
• É o princípio / ideal da harmonia.
• Confere elevação, ascenção espiritual.
• Petrarquismo: Amor como manifestação
espiritual, como redenção metafísica.
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Transforma se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim com a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Amador =
Mundo sensível,
onde se apreendem
apenas as realidades
captadas pelos sentidos.
Matéria
Corpo
Sentimento
Cousa amada =
Mundo inteligível,
ideias puras,
suprema perfeição.
Forma, Ideia
Alma
Pensamento
Identificação do sujeito com o objecto do amor
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semiótica do
amor
petrarquista
Aisthesis:
Percepção do amor mais estática
Estética:
derivada do
neoplatonismo
Anestética:
soneto
petrarquista
Petrarca
Relaçãoconvencionalatravésde
ideias,conceitos,etc.
Criatradição
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Polémica sobre o Platonismo em Camões I
Eduardo Lourenço, "Camões-Actéon":
« ... serve este soneto [64] para mostrar como uma leitura ingénua basta para tornar
problemática, e esperamo lo, insustentável, a referência cliché ao platonismo‑ ‑
camoniano. [...] Ora bem, antes de nos lançarmos em novas aventuras para decidir se
tal soneto é um eco do platonismo clássico ou do neoplatonismo cristão, leamo lo com‑
atenção. "Transforma se o amador na cousa amada." Este primeiro verso é, como se‑
sabe, ou se sabe pouco, do próprio Petrarca. O ser de Petrarca (como o ser de outrem
que Camões mesmo) tem a sua importância: coloca imediatamente o movimento (e o
ressort) do soneto na categoria da glosa, quase do jogo, como de resto a articulação
conceptista do poema o mostra bem. [...]
Em que horizonte se situa este jogo superior? O primeiro verso e os seguintes de sobra
no lo assinalam: no do petrarquismo, e por tácita inferência no do platonismo, como a‑
crítica tradicional não deixou de asseverar, parecendo--lhe impossível não situar nesse
paralelo o famigerado "estar no pensamento como ideia". Simplesmente, o que a
mesma crítica obnubilada pela aparência imediata do 'vocabulário' não julgou
interessante ver, foi que o petrarquismo, como o platonismo (?) é, neste soneto aquilo
mesmo com que o Poeta joga. E só se joga estando de fora das pedras que se movem.
Foi o que, magistralmente, compreendeu António José Saraiva interpretando o soneto e
o essencial da Lírica camoniana como conflito entre Laura e Vénus. É o que nós
mesmos repetiremos, mas ‘dialectizando’, e compreendendo como um só movimento,
sem contradição poética, o que na sua admirável perspectiva oferece ainda como
demasiado 'contraditório'».
(Poesia e Metafísica, Lisboa: Sá da Costa 1983, 17 18)‑
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Polémica sobre o platonismo em Camões II
Objecções à Eduardo Lourenço:
1.ª
•Quer se trate de um jogo com conceitos em voga,
•Quer se trate da afirmação sincera de teorias queridas ao
autor:
A expressão do amor nas composições camonianas continua a
ser eufórica e privilegia a ideia do amor como elevação e
princípio da harmonia.
2.ª
E ainda que Camões possa estar a “jogar” com conceitos em
voga isto não significa que se coloque “fora” do seu contexto,
ou seja, numa posição neutral.
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António José Saraiva:
Luís de Camões - Estudo e Antologia, Lisboa: Bertrand 1980
Na lírica camoniana afrontam-se, sem síntese:
Laura vs. Vénus
Caso individual Caso ideal,
do amor divinizado
Mundo empírico Esfera metafísica
História Valores eternos
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semiótica do
amor
camoniano
Aisthesis:
Percepção do amor mais dinâmica a partir de
sentimentos contraditórios / oscilantes
Estética:
ideia do amor
«elevado»,
derivada do
petrarquismo
Anestética:
heterotopia deste
modelo do amor,
soneto camoniano
Camões
Relaçãoconvencionaleindividual
Tantosensualcomoplatónica
Criatradição
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Um mover d'olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
üa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;
um encolhido ousar; uma brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;
esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.
A
B
B
A
A
B
B
A
C
D
E
C
D
E
Olhar, riso, gesto:
caracterizados por atitudes,
qualidades, estados.
Artigo indefinido: indica
elevado nível de
abtracção.
Atributos habitualmente
não próprios de uma
dama galante; antes do
galante!
Cadência monótona e
iterativa do retrato:
sublinha a serenidade da
amada.
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Um mover d'olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
üa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;
um encolhido ousar; uma brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;
esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.
Poder ‘maligno’ da amada: amor como alquimia.
O seu carácter sublime transforma-se em ameaça.
Beleza: aqui caracterizada pelos
sentimentos e por elementos de
ordem moral e psicológica.
Qualidades interiores mais
importantes do que os atributos
físicos.
Aspecto espiritual
+
Aspecto material
=
Elevação (o caminho divino)
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Tipos de tratamento amoroso em Camões
1. Manifestações sensuais e desejos desculpabilizados.
2. Manifestações espirituais (cf. Petrarquismo)
3. Manifestações idealistas (cf. Platonismo)
2.+3. procuram o aperfeiçoamento humano.
→ O tratamento do amor gira ao redor de 2 pólos
dinâmicos: narcisismo <> drama.
→ O Eu considera-se, geralmente, indigno enquanto o
objecto amoroso é idealizado e convertido numa
metáfora do Bem e do Belo.
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Tratamento e vivência do amor em Camões
Camões estabelece com frequência uma ligação
entre
o simbólico/imaginário/real + o outro
através das dimensões
ou eufórica ou disfórica.
Cf. a abundância de qualificações negativas do amor
(fero, cruel, manhoso, vingativo, enganoso, tirânico,
falso, etc.).
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Concepção da mulher na lírica camoniana
A mulher aparece sempre ligada à temática amorosa e à natureza
(classicamente vista como harmoniosa e amena):
– Como fonte de imagens e metáforas,
– Como termo comparativo de superlativação da beleza da mulher,
– à maneira das cantigas de amigo, como cenário/confidente do
drama amoroso.
A representação da mulher oscila igualmente entre
– o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior),
segundo elementos convencionais e representado pelo modelo de
Laura (cf. “Ondados fios de ouro reluzente” e “Um mover
d'olhos, ...”) e
– o modelo renascentista de Vénus.
Mulheres concretas não são retratadas e resulta difícil encontrar um retrato
físico claramente desenhado.
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Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
Na maioria dos casos, a
mulher aparece como
pretexto para uma reflexão
sobre as reacções ou os
sentimentos que ela
desencadeia no amante.
Assim também acontece
com a provável relação
entre Dinamene e “Alma
minha gentil,...”.
Amália canta “Alma minha
gentil...”:
http://www.youtube.com/
watch?v=FuuWi3ewCv0
http://www.youtube.com/watch?v
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer te
alguma causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
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Outros temas tratados nos poemas
Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a nao querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse
este meu duro génio de vinganças!
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Considerações de ordem
biográfica.
Drama autobiográfico.
Concepção desesperançada e
pessimista da vida própria.
Versão cantada por Amália Rodrigues:
http://www.youtube.com/watch?
v=xLGLsPbh8M0
Outros temas tratados nos poemas
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
Passagem inexorável do
tempo com todas as
mudanças implicadas,
sempre negativas do
ponto de vista pessoal.
Cf. Menina e moça:
“mudança possui tudo”.
Versão dos “Nó”:
http://www.youtube.com/
watch?v=AcIf9cRRm44
Outros temas tratados nos poemas
Verdade, Amor, Razão, Merecimento,
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,
têm do confuso mundo o regimento.
Efeitos mil revolve o pensamento
e nao sa ~e a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.
Doctos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas,
e por isso é melhor ter muito visto.
Cousas há i que passam sem ser cridas
e cousas cridas há sem ser passadas,
mas o melhor de tudo é crer em Cristo.
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Desconcerto do mundo.
Outros temas tratados nos poemas
Com que voz, chorarei meu triste fado
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o Tempo, de meu bem desenganado.
Mas chorar não se estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou,
triste quero viver pois se mudou
em tristeza, a alegria do passado.
Assim a vida passo, descontente
ao som - nesta prisão do grilhão duro -
que lastimo ao pé que a sofre e sente.
De tanto mal a causa é amor puro
devido a quem de mim tenho ausente
por quem a vida e bens dele aventuro.
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http://www.youtube.com/watc
h?v=yWUBuwn33QY
Autoria de Camões duvidosa.
O soneto de amor na música
Não é fácil o amor melhor seria
Arrancar um braço fazê-lo voar
Dar a volta ao mundo abraçar
Todo o mundo fazer da alegria
O pão nosso de cada dia não copiar
Os gestos do amor matar a melancolia
Que há no amor querer a vontade fria
Ser cego surdo mudo não sujeitar
O amor o destino de cada um não ter
Destino nenhum ser a própria imagem
Do amor pôr o coração ao largo não sofrer
Os males do amor não vacilar ter a coragem
De enfrentar a razão de ser da própria dor
Porque o amor é triste não é fácil o amor
Janita Salomé: Cantar ao Sol
(1983)
Letra de Luís Andrade
Música de Janita Salomé
http://janitasalome.blogspot.c
om/2006/03/no-fcil-o-amor-
cantar-ao-sol-1983.html
http://il.youtube.com/watch?
v=FWA2yHvxRKU
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Não é fácil o amor melhor seria
Arrancar um braço fazê-lo voar
Dar a volta ao mundo abraçar
Todo o mundo fazer da alegria
O pão nosso de cada dia não copiar
Os gestos do amor matar a melancolia
Que há no amor querer a vontade fria
Ser cego surdo mudo não sujeitar
O amor o destino de cada um não ter
Destino nenhum ser a própria imagem
Do amor pôr o coração ao largo não sofrer
Os males do amor não vacilar ter a coragem
De enfrentar a razão de ser da própria dor
Porque o amor é triste não é fácil o amor
Estrutura circular: cf. Soneto
43 de Camões.
Cf. ideia, abstracção.
“longe de, a distância, sem
dar intimidade”
Cf. Soneto 64 de Camões.
Distanciamento do mundo
sensível, projecção
Ideia da dor/do amor ajuda a
aguentar os “males do amor”.
http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
Luís de Camões:
Sonetos,
Amor,
Platonismo,
Representação da mulher
Burghard Baltrusch
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  • 1. Luís de Camões: Sonetos, Amor, Platonismo, Representação da mulher Burghard Baltrusch http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 2. Contexto histórico do surgimento do soneto na corte de Frederico II, Barbarossa (1208-1250) na Sicilia • Santo Império Romano: 1º estado moderno da Europa. • Contexto multicultural em Sicília: culturas árabe, grego- bizantina, clássica-latina, occitana, galego-portuguesa. • Administração complexa. • Produção de textos destinados à persuasão, ao controlo e à estabilização do poder e da autoridade (cf. gíria do serviço público). • Requeria uma noção e prática da eloquentia (capacidade do Eu de deleitar e convencer por meio da palavra). • Artes eloquentiae: ensino da retórica (vocabulário elevado, sintaxe complexa, figuras de estilo. • Fiori di rettorica: máximos, giros epigramáticos de autores de referência. • Soneto pensado para expor, argumentar e assertar numa voz com experiência de vida. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 3. Soneto < it. ‘sonetto’, pequeno som • Surge no século XIII (1230/40) na Sicília, talvez pela mão de Petrus de Vinea, chanceler do imperador Frederico II. • Origem incerta, talvez influências provençais ou árabes. Em occitano ‘sonet’ significa ‘um poema’. • Descende provavelmente de uma forma lírica provençal, a canso ou canzone, um poema longo com estrutura musical em 7-19 linhas. As estrofes eram divididas em duas partes (frases musicais), as quais podiam ser subdivididas outra vez em duas; as duas partes principais, a fronte e a sirma, eram separadas por uma volta. • Da corte de Frederico II sobreviveram 125 poemas, 35 dos quais são sonetos, sendo 25 destes escritos por um advogado, Giacomo da Lentini. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 4. • Os sonetos de Giacomo da Lentini (1210-1260) eram de 14 versos de 11 sílabas e com uma oitava que sempre rimava abababab, com 2 rimas novas na volta ao sexteto. • Guittone d'Arezzo (1230-1294), escreveu 246 sonetos sobre temáticas muito diversas, transmitindo esta forma lírica ao círculo dos stilnovisti: • Dante Alighieri (1265-1321): Vita Nova (1293, publ. 1576), encontro imaginado de Dante com a sua amada Beatrice, ‘dolce stil nuovo’, influência da mística cristã. • Guido Cavalcanti (1255-1300): Introduziu nos seus Rime as "rimas cruzadas" tipo ABBAABBA na oitava, que frequentemente se usava para descrição ou apresentação do tema, enquanto o sexteto se reservava para o comentário. • Francesco Petrarca (1304-1374): Canzioniere ou Rime (publ. 1470); os seus "Sonetos a Laura" iniciam o 2.º grande sistema amoroso da literatura europeia depois do amor cortês da Idade Média. Laura foi uma pessoa real ao contrário de Beatrice. Petrarca preferiu a oitava com rima cruzada e os seus sextetos rimavam frequentemente CDECDE ou CDCDCD. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 5. Soneto: inovações poéticas • Influência provençal: Dona amada converte-se numa convenção (cf. O contraste com a Cantiga d’amigo). • Divórcio da poesia e da música: Trovador transforma-se em escritor. • Individualização: Petrarca apresenta a sua própria ideia do amor (elevado). • Criação de modelos: Com Laura, a amada que conhece em 1327, Petrarca impõe um modelo feminino: loiro, sereno, abstracto, inacessível, símbolo de harmonia e perfeição. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 6. Leão Hebreu, i.e. Judá Abravanel (1460-1535) Médico, filósofo e poeta português que foge em 1483 primeiro para Espanha e depois para Itália. Um dos mais importantes representantes do neoplatonismo no Renascimento. Nos Dialoghi d'amore (1502), trata o amor como o princípio universal e procura realizar uma harmonização das ideias aristotélica e platónica do amor, como também a Bíblia com a Cabala: "[O objecto do desejo sobe das coisas às almas, destas até Deus, em cuja] união e copulação o nosso entendimento se conhece como sendo antes razão e parte divina do que entendimento humano." Entende o universo inteiro como animado de uma líbido cósmica. Eduardo Lourenço, "Camões e a visão neoplatónica do Mundo": “Como outros tratamentos de Amor dos Quinhentos, os célebres Diálogos de Amor, de Leão Hebreu, são, sobretudo, uma obra de metafísica cosmológica ou, se se prefere, de cosmologia metafísica. O amor não é aí outra coisa que a realidade primeira, Deus, de que se busca apreender a pura manifestação e efeitos. [...] A genealogia do Amor é uma cosmogonia, uma explicação racional da génese do Universo.“ (in Poesia e Metafísica, Lisboa: Sá da Costa 1983:54) http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 7. Petrarquismo em Camões António José Saraiva: Talvez nenhuma literatura tivesse petrarquizado tanto como as da Península Ibérica, onde não houve nenhum Ronsard [1524-1585, “o Petrarca francês“]. E talvez na Península Ibérica ninguém fosse mais petrarquista que Camões. Frequentemente, o nosso Poeta repete, numa forma talvez menos voluptuosa, mas com maior intensidade de luz e recorte mais nítido, o ideal que o italiano apurara sobre a herança provençal. É um mover de olhos brando, piedoso e abstracto, um gesto sereno, um à-vontade encolhido, um «repouso gravíssimo e modesto»; uma fala rara e suave que suspende as vidas, uma «presença moderada e graciosa». Como Laura, esta imagem aparece associada às manifestações da natureza primaveril, que lhe servem de cortejo. (Luís de Camões - Estudo e Antologia, Lisboa: Bertrand 1980: 56s) http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 8. Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? A B B A A B B A C D C D C D Chave de ouro: Adversativa «mas» introduz paradoxo final. AP AP EA AP JP AP JP EA AP JP AP Soneto 43, publ. 1598 11 definições lapidares com frases afirmativas. Cada definição contém 1 oposição de carácter variável: AP – Afirmações paradoxais EA – Expressões antónimas JP – Jogos de palavras da mesma família http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 9. Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Def. do amor através de metáforas antiteticamente dispostas em paralelismo anafórico e de iterações/repetições. Efeito circular: amor abre e fecha o soneto. JP: Metáforas in praesentia = afirmação de equivalência a partir de núcleos sémicos comuns. Única afirmação concreta na forma de oração condicional / interrogação: “Como pode o amor harmonizar duas pessoas, sendo tão contraditório?” http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 10. Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Amor como fonte de contradições: Vida vs. Morte Esperança vs. Desengano etc. Conflito com a vivência sensual desse mesmo amor. Amor é inefável, mas, assim mesmo, fundamental à vida humana. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 11. Método antinómico na literatura Fernando Pessoa (1889-1935): “Não há critério da verdade senão não concordar consigo próprio. O universo não concorda consigo próprio porque passa. A vida não concorda consigo própria, porque morre. O paradoxo é a fórmula típica da Natureza. Por isso toda a verdade tem uma forma paradoxal.” (Páginas Íntimas e de Auto-interpretação, 217s) http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 12. Triângulo semiótico (Ogden/Richards 1923, com precisões) DenotadoSigno Expressão , sentido, conceito ou http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 13. semiótica do amor renascentista aisthesis p.ex. de sentimentos estética / ideologia / utopia / ideia do amor, p.ex. Do amor «elevado» anestética / heterotopia deste modelo do amor, p. ex. através de metáforas antitéticas ou do próprio soneto http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 14. Transforma se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assim com a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. A B B A A B B A C D E C D E Soneto n.º 64, considerado a mais alta expressão do platonismo em Camões. • Carácter discursivo da linguagem. • Rico em ligações lógicas: reflexão filosófica. • Léxico do domínio abstracto: conceptismo. • Oposições tradicionais da filosofia: matéria vs. forma. • Jogos de palavras característicos de Camões: amador/amada, desejar/desejada, semideia/ideia. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 15. Transforma se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assim com a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Descrença no mundo terrestre conduz a uma ascese dialéctica, entendida como aprendizagem e libertação. Anulação do desejo físico. Platão, Banquete: “E porque a alma participa mais do que o corpo, amemos a beleza espiritual mais do que a material.” Ausência como forma de apurar o amor. Amor = Ideia da amada vivida pelo amante, consubstanciação do amador e da amada. Viver = Filosofar http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 16. Amor no Neoplatonismo • Faculdade específica do ser humano. • Faculdade mediadora entre sensorialidade e intelecto. • É o princípio / ideal da harmonia. • Confere elevação, ascenção espiritual. • Petrarquismo: Amor como manifestação espiritual, como redenção metafísica. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 17. Transforma se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assim com a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Amador = Mundo sensível, onde se apreendem apenas as realidades captadas pelos sentidos. Matéria Corpo Sentimento Cousa amada = Mundo inteligível, ideias puras, suprema perfeição. Forma, Ideia Alma Pensamento Identificação do sujeito com o objecto do amor http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 18. semiótica do amor petrarquista Aisthesis: Percepção do amor mais estática Estética: derivada do neoplatonismo Anestética: soneto petrarquista Petrarca Relaçãoconvencionalatravésde ideias,conceitos,etc. Criatradição http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 19. Polémica sobre o Platonismo em Camões I Eduardo Lourenço, "Camões-Actéon": « ... serve este soneto [64] para mostrar como uma leitura ingénua basta para tornar problemática, e esperamo lo, insustentável, a referência cliché ao platonismo‑ ‑ camoniano. [...] Ora bem, antes de nos lançarmos em novas aventuras para decidir se tal soneto é um eco do platonismo clássico ou do neoplatonismo cristão, leamo lo com‑ atenção. "Transforma se o amador na cousa amada." Este primeiro verso é, como se‑ sabe, ou se sabe pouco, do próprio Petrarca. O ser de Petrarca (como o ser de outrem que Camões mesmo) tem a sua importância: coloca imediatamente o movimento (e o ressort) do soneto na categoria da glosa, quase do jogo, como de resto a articulação conceptista do poema o mostra bem. [...] Em que horizonte se situa este jogo superior? O primeiro verso e os seguintes de sobra no lo assinalam: no do petrarquismo, e por tácita inferência no do platonismo, como a‑ crítica tradicional não deixou de asseverar, parecendo--lhe impossível não situar nesse paralelo o famigerado "estar no pensamento como ideia". Simplesmente, o que a mesma crítica obnubilada pela aparência imediata do 'vocabulário' não julgou interessante ver, foi que o petrarquismo, como o platonismo (?) é, neste soneto aquilo mesmo com que o Poeta joga. E só se joga estando de fora das pedras que se movem. Foi o que, magistralmente, compreendeu António José Saraiva interpretando o soneto e o essencial da Lírica camoniana como conflito entre Laura e Vénus. É o que nós mesmos repetiremos, mas ‘dialectizando’, e compreendendo como um só movimento, sem contradição poética, o que na sua admirável perspectiva oferece ainda como demasiado 'contraditório'». (Poesia e Metafísica, Lisboa: Sá da Costa 1983, 17 18)‑ http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 20. Polémica sobre o platonismo em Camões II Objecções à Eduardo Lourenço: 1.ª •Quer se trate de um jogo com conceitos em voga, •Quer se trate da afirmação sincera de teorias queridas ao autor: A expressão do amor nas composições camonianas continua a ser eufórica e privilegia a ideia do amor como elevação e princípio da harmonia. 2.ª E ainda que Camões possa estar a “jogar” com conceitos em voga isto não significa que se coloque “fora” do seu contexto, ou seja, numa posição neutral. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 21. António José Saraiva: Luís de Camões - Estudo e Antologia, Lisboa: Bertrand 1980 Na lírica camoniana afrontam-se, sem síntese: Laura vs. Vénus Caso individual Caso ideal, do amor divinizado Mundo empírico Esfera metafísica História Valores eternos http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 22. semiótica do amor camoniano Aisthesis: Percepção do amor mais dinâmica a partir de sentimentos contraditórios / oscilantes Estética: ideia do amor «elevado», derivada do petrarquismo Anestética: heterotopia deste modelo do amor, soneto camoniano Camões Relaçãoconvencionaleindividual Tantosensualcomoplatónica Criatradição http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 23. Um mover d'olhos, brando e piadoso, sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; uma brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. A B B A A B B A C D E C D E Olhar, riso, gesto: caracterizados por atitudes, qualidades, estados. Artigo indefinido: indica elevado nível de abtracção. Atributos habitualmente não próprios de uma dama galante; antes do galante! Cadência monótona e iterativa do retrato: sublinha a serenidade da amada. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 24. Um mover d'olhos, brando e piadoso, sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; uma brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. Poder ‘maligno’ da amada: amor como alquimia. O seu carácter sublime transforma-se em ameaça. Beleza: aqui caracterizada pelos sentimentos e por elementos de ordem moral e psicológica. Qualidades interiores mais importantes do que os atributos físicos. Aspecto espiritual + Aspecto material = Elevação (o caminho divino) http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 25. Tipos de tratamento amoroso em Camões 1. Manifestações sensuais e desejos desculpabilizados. 2. Manifestações espirituais (cf. Petrarquismo) 3. Manifestações idealistas (cf. Platonismo) 2.+3. procuram o aperfeiçoamento humano. → O tratamento do amor gira ao redor de 2 pólos dinâmicos: narcisismo <> drama. → O Eu considera-se, geralmente, indigno enquanto o objecto amoroso é idealizado e convertido numa metáfora do Bem e do Belo. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 26. Tratamento e vivência do amor em Camões Camões estabelece com frequência uma ligação entre o simbólico/imaginário/real + o outro através das dimensões ou eufórica ou disfórica. Cf. a abundância de qualificações negativas do amor (fero, cruel, manhoso, vingativo, enganoso, tirânico, falso, etc.). http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 27. Concepção da mulher na lírica camoniana A mulher aparece sempre ligada à temática amorosa e à natureza (classicamente vista como harmoniosa e amena): – Como fonte de imagens e metáforas, – Como termo comparativo de superlativação da beleza da mulher, – à maneira das cantigas de amigo, como cenário/confidente do drama amoroso. A representação da mulher oscila igualmente entre – o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior), segundo elementos convencionais e representado pelo modelo de Laura (cf. “Ondados fios de ouro reluzente” e “Um mover d'olhos, ...”) e – o modelo renascentista de Vénus. Mulheres concretas não são retratadas e resulta difícil encontrar um retrato físico claramente desenhado. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 28. Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma causa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch Na maioria dos casos, a mulher aparece como pretexto para uma reflexão sobre as reacções ou os sentimentos que ela desencadeia no amante. Assim também acontece com a provável relação entre Dinamene e “Alma minha gentil,...”. Amália canta “Alma minha gentil...”: http://www.youtube.com/ watch?v=FuuWi3ewCv0 http://www.youtube.com/watch?v
  • 29. Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer te alguma causa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 30. Outros temas tratados nos poemas Erros meus, má fortuna, amor ardente em minha perdição se conjuraram; os erros e a fortuna sobejaram, que para mim bastava o amor somente. Tudo passei; mas tenho tão presente a grande dor das cousas que passaram, que as magoadas iras me ensinaram a nao querer já nunca ser contente. Errei todo o discurso de meus anos; dei causa que a Fortuna castigasse as minhas mal fundadas esperanças. De amor não vi senão breves enganos. Oh! quem tanto pudesse que fartasse este meu duro génio de vinganças! http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch Considerações de ordem biográfica. Drama autobiográfico. Concepção desesperançada e pessimista da vida própria. Versão cantada por Amália Rodrigues: http://www.youtube.com/watch? v=xLGLsPbh8M0
  • 31. Outros temas tratados nos poemas Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch Passagem inexorável do tempo com todas as mudanças implicadas, sempre negativas do ponto de vista pessoal. Cf. Menina e moça: “mudança possui tudo”. Versão dos “Nó”: http://www.youtube.com/ watch?v=AcIf9cRRm44
  • 32. Outros temas tratados nos poemas Verdade, Amor, Razão, Merecimento, qualquer alma farão segura e forte; porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte, têm do confuso mundo o regimento. Efeitos mil revolve o pensamento e nao sa ~e a que causa se reporte; mas sabe que o que é mais que vida e morte, que não o alcança humano entendimento. Doctos varões darão razões subidas, mas são experiências mais provadas, e por isso é melhor ter muito visto. Cousas há i que passam sem ser cridas e cousas cridas há sem ser passadas, mas o melhor de tudo é crer em Cristo. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch Desconcerto do mundo.
  • 33. Outros temas tratados nos poemas Com que voz, chorarei meu triste fado que em tão dura paixão me sepultou. Que mor não seja a dor que me deixou o Tempo, de meu bem desenganado. Mas chorar não se estima neste estado aonde suspirar nunca aproveitou, triste quero viver pois se mudou em tristeza, a alegria do passado. Assim a vida passo, descontente ao som - nesta prisão do grilhão duro - que lastimo ao pé que a sofre e sente. De tanto mal a causa é amor puro devido a quem de mim tenho ausente por quem a vida e bens dele aventuro. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch http://www.youtube.com/watc h?v=yWUBuwn33QY Autoria de Camões duvidosa.
  • 34. O soneto de amor na música Não é fácil o amor melhor seria Arrancar um braço fazê-lo voar Dar a volta ao mundo abraçar Todo o mundo fazer da alegria O pão nosso de cada dia não copiar Os gestos do amor matar a melancolia Que há no amor querer a vontade fria Ser cego surdo mudo não sujeitar O amor o destino de cada um não ter Destino nenhum ser a própria imagem Do amor pôr o coração ao largo não sofrer Os males do amor não vacilar ter a coragem De enfrentar a razão de ser da própria dor Porque o amor é triste não é fácil o amor Janita Salomé: Cantar ao Sol (1983) Letra de Luís Andrade Música de Janita Salomé http://janitasalome.blogspot.c om/2006/03/no-fcil-o-amor- cantar-ao-sol-1983.html http://il.youtube.com/watch? v=FWA2yHvxRKU http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 35. Não é fácil o amor melhor seria Arrancar um braço fazê-lo voar Dar a volta ao mundo abraçar Todo o mundo fazer da alegria O pão nosso de cada dia não copiar Os gestos do amor matar a melancolia Que há no amor querer a vontade fria Ser cego surdo mudo não sujeitar O amor o destino de cada um não ter Destino nenhum ser a própria imagem Do amor pôr o coração ao largo não sofrer Os males do amor não vacilar ter a coragem De enfrentar a razão de ser da própria dor Porque o amor é triste não é fácil o amor Estrutura circular: cf. Soneto 43 de Camões. Cf. ideia, abstracção. “longe de, a distância, sem dar intimidade” Cf. Soneto 64 de Camões. Distanciamento do mundo sensível, projecção Ideia da dor/do amor ajuda a aguentar os “males do amor”. http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch
  • 36. Luís de Camões: Sonetos, Amor, Platonismo, Representação da mulher Burghard Baltrusch http://uvigo.academia.edu/BurghardBaltrusch

Notes de l'éditeur

  1. Triángulo semiótico: concepto (Aristóteles: Seelenregung, “impulso da alma”) palabracousa / significado significante