2. Esta história passou-se há muito, muito tempo, quando os homens ainda não tinham fogo e viviam nas trevas, comiam carne crua e enrolavam-se nas peles dos animais para se protegerem do frio.
3. Então, o rei do mundo ofereceu um saco cheio de moedas de ouro a quem fosse capaz de roubar um pedaço de fogo ao abismo do inferno. Muitos tentaram, nenhum conseguiu, e o rei ficou muito desiludido. Decidiu, então, alargar a sua oferta a todas as criaturas vivas, e não apenas aos homens. Mais ainda: aquele que trouxesse o fogo teria também o direito de se sentar e comer na mesa real até ao fim dos tempos.
4. Era uma grande recompensa. Por isso, homens e animais lançaram-se ao abismo do inferno, mas nenhum regressou. A aranha, sem dizer palavra a ninguém, pôs-se a tecer um fio. Trabalhou três dias e três noites. Depois, prendeu bem a ponta e desceu ao abismo.
5. Precisou de sete horas para chegar ao fundo, onde apanhou um pedacinho de fogo. A subida foi mais lenta: durou dez horas.
6. Pousou o fogo entre duas pedras, esticou as patas e adormeceu. Era tal o cansaço que dormiu toda a noite e nem o Sol a acordou. Quando chegou a terra, mal se segurava nas patas. Decidiu, então, descansar um pouco. Ainda a noite ia a meio, não havia pressa.
7. Uma mosca que passava sentiu o cheiro a fumo e viu o pedaço de fogo entre as pedras. Sem fazer barulho, para não acordar a aranha, levou o fogo com ela e apresentou-se no palácio real.
8. Foi um triunfo! Todos gritaram de alegria: “ Viva aquela que nos trouxe o fogo!” “ Temos fogo!” “ Temos calor!” “ Viva o rei!”
9. O rei entregou à mosca um documento com selo real, onde dizia que ela e os seus descendentes podiam instalar-se à vontade na mesa do rei ou noutra qualquer.
10. Já a tarde ia alta quando a aranha acordou. Procurou o fogo, mas ele já não estava lá. O ruído de festa guiou-a até ao palácio. O rei jantava, satisfeito, como todos os outros. Velas e tochas acesas iluminavam a sala. Sobre a mesa, a mosca regalava-se com a boa comida.
11. Furiosa, a aranha acusou a mosca de a ter roubado, mas ninguém a quis ouvir. Pois todos tinham visto a mosca chegar ao castelo com o fogo entre as patas… - Fui eu! Fui eu! A mosca roubou-me o fogo! – gritou a aranha até se cansar.
12. Por fim calou-se. Até hoje. Desde então, porém detesta as moscas e vinga- -se espalhando por todo o lado finas teias onde ela se enreda e encontra a morte. Por sua vez, a mosca continua a gozar o direito de se instalar à mesa das pessoas.
14. … Fim… Escola EB1 do Outeiro Arrifana Adaptado do Livro “100 Histórias do Mundo” de Álvaro Magalhães Trabalho inserido no Projecto da Fundação Ilídio Pinto