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Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Carla Queiroz Pereira
carlaqueirozpereira@yahoo.com.br
http://aescritanasentrelinhas.d3estudio.com.br
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Oqueaescolanosensinou
 Escrever é agir sobre o outro; é saber ajustar
o texto à situação de interação, à finalidade da
escrita, ao interlocutor etc.
A escrita é um exercício mecânico de pôr no
papel não importa o quê, faça ou não sentido,
tenha ou não relevância (Antunes, 2005).
Planejar a escrita, escrever e revisar o que
escreveu são atividades cruciais.
A escrita é mero treinamento, para nada e
para ninguém.
Escrever um texto para defender um ponto de
vista, orientar uma argumentação, dar
explicações, intervir sobre um problema,
vender uma idéia.
Uma escrita sem perspectivas sociais
inspiradas nos diferentes usos da língua fora
do ambiente escolar (Antunes, 2005*).
Só se aprende a ler e a escrever, lendo e
escrevendo (Bagno, 2003); o escrever é
resultado de muita prática de escrita, leitura e
reescrita.
Para aprender a escrever bons textos é
necessário saber explicitar regras gramaticais,
saber regras do certo e errado.
Estudar uma língua significa considerar os
vários contextos em que os textos são
produzidos, as questões sociais e culturais de
uma sociedade, o processo como são
construídos os vários sentidos etc.
Uma língua se restringe a um manual de
gramática.
Considerações iniciais
Oqueaescolanãonosensinou
*Todas as referências bibliográficas estarão disponíveis no último slide a ser apresentado na oficina
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Ensino
Fundamental I e II
Ensino Médio
Ensino Superior
• Início das queixas sobre a leitura/escrita. Encaminhamento aos profissionais da saúde.
• Aplicação de testes, diagnósticos e medicação.
• “Erros” na escrita são considerados como sinais de patologia.
• Questões textuais não são bem trabalhadas.
• O adolescente não produz textos compatíveis com sua escolaridade.
• As dificuldades na escrita se arrastaram no tempo.
• O jovem chega à Universidade com dificuldades para escrever.
• Sofrimento e revolta por não ter aprendido no passado.
• Necessidade de escrever muitos textos, com complexidade cada vez maior.
• Considerável saber técnico, mas dificuldades para escrever.
• Problemas no trabalho em função dos textos que (não) produz.
• Uso de “estratégias” para poder escrever; evita escrever; não há o gosto pela escrita.
• Perda de oportunidades; comprometimento da imagem e credibilidade.
• Busca por livros e cartilhas: “Como escrever bem” (dicas e receitas); frustração, não progresso.
• Busca por ajuda especializada.
A Escrita e o escrevente: do Ensino Fundamental à Vida Profissional
Primeiros Anos
de vida profissional
Próximos Anos
de vida profissional
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
O caso da advogada RR: pânico, ctrl C, ctrl V
RR, advogada há 10 (dez) anos, entra em
contato comigo através do blog “A Escrita
nas Entrelinhas”, e envia o seguinte e-
mail:
“(...) Apesar de estar lotada em um
escritório de advocacia, não consigo
redigir. Tenho dificuldades/pânico toda
vez que tenho que escrever alguma
coisa. Fico pesquisando e procurando o
que tenho que escrever em outros textos;
ao localizar, copio e colo. Ou seja, os
meus textos são uma verdadeira colcha de
retalhos. Só que, infelizmente, os retalhos
não são meus. Isso me faz sentir muito
mal. Será que você pode me ajudar?”
[com adaptações, grifos meus].
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
O caso da advogada RR: traumas de infância
No primeiro contato, RR relata que, desde a infância, não gosta de
escrever e atribui esse fato aos primeiros anos de vida escolar.
Uma professora convocou a mãe de RR e afirmou que a filha tinha
dificuldades de aprendizagem. A partir de então, escrever sempre
foi uma tortura. Perguntei-lhe se saberia me dizer quais foram os
“erros” na escrita que levaram a professora à afirmação. Após o
relato, concluí que os chamados “erros” eram, na verdade, próprios
de uma criança aprendiz da escrita, considerando o sistema
alfabético de nossa língua.
Consequência* da afirmação equivocada: RR cresceu achando que
tinha um problema, uma patologia. Passa a escrever pouco, evita
escrever. Procura fonoaudiólogos para aplicar testes e fornecer
diagnósticos.
* Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
O caso da advogada RR: problemas com a escrita se arrastam no tempo
Afirmações equivocadas
Na escola,
Erros = patologia
Traumas, resistência
à leitura e à escrita
Busca por
profissionais da
saúde. Testes e
diagnósticos.
Aspectos textuais
não são aprendidos e
exercitados
Escrita de textos não
compatíveis com a
escolaridade
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Após a afirmação da professora, aquilo que não existia passou a existir: uma
dificuldade de fato. Em função dos traumas e da resistência à escrita, RR, já
no exercício da profissão, tem dificuldades de organizar as informações do
texto, estabelecer as relações de sentido entre uma parte e outra, argumentar
etc., conforme veremos nos textos produzidos por ela.
Pude perceber por onde começaria a trabalhar com RR, isto é, pela tentativa
de convencê-la de que não havia qualquer dislexia, distúrbio ou dificuldade
proveniente dela ou de seu cérebro.
Mostrei a ela alguns textos de crianças aprendizes da escrita, expostos em
meu blog. Após a leitura de tais textos, RR relata: “Sempre achei que eu tinha
um problema, mas depois que vi como a Bia escrevia percebi que eu fazia as
mesmas coisas quando criança. Eu só precisava de alguém para me dar uma
ajudinha... me mostrar que eu não tinha problema. Estou aliviada por ver que
eu não tenho um problema [orgânico]; estou animada e com esperança. Até
voltei a ler. Estou lendo Dom Casmurro”.
O caso da advogada RR: de volta à leitura
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Conhecer o funcionamento do cérebro
Conhecer o Funcionamento da Linguagem
Dislexia, Dificuldade de Compreensão...
Conhecer os testes
Saber interpretar os “erros” linguisticamente*: saber, por exemplo, a relação entre fala e
escrita, bem como os aspectos envolvidos no complexo processo de produção e
interpretação de textos (Abaurre, 1987; Cagliari, 1996; Abaurre, Fiad & Mayrink-Sabinson,
1997; Massini-Cagliari & Cagliari, 1999).
É necessário entendermos o que tem sido considerado como sinal de dislexia, dificuldade de
compreensão, distúrbios etc. Que tipos de “erros” têm sido considerados como sinais de
patologia? (Coudry & Scarpa, 1991).
Para questionar os testes é preciso conhecer as tarefas neles propostas, bem como as
respostas consideradas como corretas.
Saber que o cérebro trabalha de maneira dinâmica e integrada, e que as atividades propostas
influenciam no seu funcionamento (Coudry, M. I. & Freire, F. M. P., 2005).
Para entender e questionar a relação entre Escrita & Diagnósticos
É importante que as pessoas sejam avaliadas através de atividades contextualizadas, da
escrita de textos que façam sentido para elas.
Avaliação Contextualizada
*Palavrasquesofrerammodificaçõesnagrafiaapósareformaortográfica
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Repercussão no funcionamento do cérebro
Aspectos textuais a
serem trabalhados
Mudanças na escrita: trabalho do cérebro e da linguagem
Trabalhando o Texto Texto organizado e
bem elaborado
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
“Eu tinha medo (...). Antes, escrever era uma
tortura, agora não. Eu ficava
pensando...pensando o que ia escrever e não
escrevia nada, pois achava que tinha que vir
tudo certinho [na cabeça] e pronto; hoje eu
penso e já vou escrevendo, e aí as palavras
vão vindo...depois eu volto e vou corrigindo”
(RF, engenheira).
“Hoje eu leio um texto de um colega e
percebo que ele está ruim. Realmente,
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liberdade e é divertido. É
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com o que eu coloco no papel” (RF,
engenheira).
“Ninguém nunca me ensinou isso: a refletir sobre o que
escrevo; que não posso simplesmente ‘jogar’ as
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escrevo; ler e reler o que escrevi e reescrever. O que
estamos vendo sobre a linguagem se aplica a tudo”
(VV, advogada).
A satisfação de quem aprende a escrever melhor
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Para você, o que é escrever um bom texto?
Veja o comentário de um leitor a propósito do entendimento do cartaz
“Apesar de poder ler normalmente o cartaz, não fazia sentido para mim; eu pensava: ‘mas o que tem a ver a
necessidade da porta se manter aberta com o fato de o salão nobre estar em uso’? Aliás, por não conhecer
bem as dependências do prédio em que estava, eu nem sabia onde ficava o salão nobre naquela época.
Fiquei inquieta, incomodada. Mas tudo bem, entrei por essa porta que dava acesso aos vários banheiros que
lá havia e fiz o que precisava. Quando saí, a porta não mais estava aberta, estava fechada. E ao abrir, ouvi
um barulho, um ruído forte e horrível provocado pela abertura da porta; pude ver também o salão nobre, bem
ao lado do banheiro. Só naquela hora consegui entender aquele cartaz, atribuindo um sentido a ele.
Ufa! Veio o alívio e a tranquilidade* por ter entendido o que estava escrito”.
* Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
MANTER A PORTA
ABERTA.
SALÃO NOBRE
EM USO.
A placa a seguir foi vista afixada na porta de acesso aos banheiros femininos de uma faculdade.
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Reflexõesequestõessobreocartaz
Muitas vezes, quando falamos ou escrevemos algo para alguém, pressupomos que o
outro já tem todo o conhecimento relacionado àquilo sobre o que falamos (ou
escrevemos), o que nem sempre ocorre. O caso do cartaz é um exemplo disso.
O entendimento do cartaz somente foi possível quando o leitor, ao abrir a porta do
banheiro, ouviu um ruído forte e viu o salão nobre. Explicite os conhecimentos
necessários para a compreensão de cada uma das frases do cartaz.
Reescreva o texto do cartaz de modo a manter as informações necessárias para sua
melhor compreensão pelas pessoas que usam o banheiro.
A escrita no dia-a-dia: pensar no outro para quem escrevo
Seu autor escreveu como se o leitor tivesse, pelo menos, dois conhecimentos que não
estavam explicitados no cartaz. Para uma pessoa entender esse cartaz logo no
momento em que é lido, quais os conhecimentos de que ele necessita?
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
A escrita no dia-a-dia: mal-entendidos
Contexto de escrita: MA, aluna de pós-graduação em Linguística*, divide uma casa (identificada como M5) com mais três amigas em
Campinas (moradia da Unicamp). Certo dia MA pede permissão para lavar um cobertor na casa de um amigo, EV, que lhe dá plena
autorização. Após lavá-lo e pendurá-lo para secar, MA viaja para sua terra natal, onde ficará 10 dias. Sendo assim, EV diz para MA: “Já
que você vai viajar, deixarei o cobertor com suas amigas, em sua casa”. “Ok, obrigada”, responde MA. Conforme prometido, EV vai à
casa de MA para entregar o cobertor, mas não encontra ninguém. Tenta, então, entregar o objeto na portaria, o que não foi permitido
pelo porteiro. Decide, por isso, deixar um bilhete na casa de MA:
* Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
Ao entrarem em casa, as amigas
de MA, que não tinham qualquer
conhecimento sobre o cobertor
deixado na casa de EV, leem* o
bilhete e fazem comentários do
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estamos correndo riscos...”
Até MA voltar para casa e
desfazer esse terrível mal-
entendido...
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Reflexõesequestõessobreobilhete
Muitas vezes, quando escrevemos algo para alguém, nem imaginamos que poderemos ser
interpretados de maneira diferente da desejada, o que ocorre em função de diversos fatores:
textuais, culturais, sociais, situacionais etc.
Tente lembrar de uma situação em que algo parecido ocorreu com você ou com alguém que
você conhece, seja no trabalho, na família ou no convívio com os amigos. Faça uma descrição,
passo a passo, do contexto da situação, explicitando o problema ocorrido.
Mal-entendidos que ocorrem durante uma conversa são mais fáceis de serem resolvidos.
A escrita, porém, não nos permite uma solução rápida, afinal, o interlocutor não está face a
face.
O autor escreveu o bilhete sem considerar que a leitura por pessoas que não fossem MA poderia
causar um mal-entendido provocado pelo uso de “barato”. Considerando o contexto, haveria algo
que pudesse evitar esse mal-entendido, sem alterarmos qualquer palavra do bilhete?
A escrita no dia-a-dia: mal-entendidos
Vale ressaltar que a existência de um mal-entendido nem sempre pressupõe uma dificuldade
de quem escreve ou de quem lê o texto.
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Um case: o cliente leva seu celular a uma Assistência Técnica
Autorizada – Dept. Atendimento (relato da Relações Públicas da empresa).
- Bom dia. O visor do meu celular está estragado...ele apagou. Preciso de um
orçamento. Quando posso ligar para saber o valor?
- Em 48 horas úteis, senhor, responde a atendente (VG). É só o senhor ligar
no telefone indicado na Ordem de Serviço.
- Tudo bem, obrigado, responde o cliente.
O aparelho segue para o laboratório com a especificação do problema do
cliente. Após avaliação, o técnico lança no sistema apenas as seguintes
informações:
Troca dos itens:
Conector de bateria – 50,00
Bateria – 70,00
Serviços: solda – 20,00; mão-de-obra – 30,00.
A escrita nas empresas: perda de negócios
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
- Bom dia! Deixei o meu celular aí há dois dias e estou ligando para saber o
orçamento. O número da Ordem de Serviço é xx..
- Senhor, o valor do orçamento é R$ 170,00.
- Assustado o cliente diz: “o quê? Cento e setenta reais? Mas como? Meu celular
só estava com o visor apagado. Como isso vai custar cento e setenta reais?
- Senhor, foi o laboratório que analisou seu aparelho. Então, como é um técnico
especializado, o orçamento é isso mesmo, senhor.
- O cliente, desconfiado e bravo, diz: Olha, não vou aprovar esse orçamento. Deixa
o celular como está; vou aí buscar.
O cliente entra em contato com o Call Center da empresa.
O cliente “bate” o telefone sem se despedir.
A escrita nas empresas: perda de negócios
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
- MP, o cliente havia reclamado de seu display (visor), mas nos itens indicados há
bateria, conector, e ainda uma solda para fazer. Como assim?
- Sim....é isso tudo o que precisa fazer, responde o técnico.
- Mas MP, todos esses itens têm a ver com o problema do display?
- Não VG. Acontece que, a vida útil da bateria está acabando e o conector da
bateria está quebrado. Então tem de trocar, ué!
- Mas MP...O que um conector quebrado tem a ver com um display apagado? O
que esses dois itens (bateria e conector) têm a ver com o motivo pelo qual o
cliente trouxe o celular?, fala a atendente bastante irritada.
- Não tem a ver diretamente, VG, mas esses componentes não estão bons. Daqui
a pouco o aparelho dele nem carrega a bateria...olha aqui o conector quebrado!
A atendente, sem saber de fato a razão de todos aqueles itens, sai de sua posição de
atendimento e vai até o laboratório checar as informações com o técnico (MP).
A escrita nas empresas: perda de negócios
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Entendi, MP, mas eu quero saber só o que é preciso fazer pro display voltar a
funcionar.
- É só a solda. Mas a bateria está ruim e o conector também.
- Tudo bem, MP, mas o cliente trouxe o celular aqui porque o display estava
apagado. Então você poderia ter digitado... discriminado isso no sistema; assim
eu teria entendido e explicado para ele. Assim pelo menos os R$ 50,00 ele teria
aprovado (20 da solda + 30 da mão-de-obra), entendeu?
O técnico, sem ter ideia* de como foi o contato do cliente por telefone, finaliza a conversa
dizendo:“VG, não posso mais conversar com você; tenho muito aparelho pra olhar”.
A escrita nas empresas: perda de negócios
* Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
Considerações
Se o engenheiro tivesse considerado o seu interlocutor, uma atendente
que não partilha dos mesmos conhecimentos técnicos que ele, perceberia
a necessidade de escrever de maneira diferente (somente o técnico sabia
que, fazendo a solda, o problema do display estaria resolvido). Isso mostra
também que um bom texto vai muito além dos aspectos gramaticais;
mostra que “clareza” depende, também, de quem é o leitor.
Compreender um texto (falado ou escrito) é mais que decodificar; o
óbvio não existe.
A escrita nas empresas: perda de negócios
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
A escrita nas empresas: perda de negócios
Considerações
Se a atendente tivesse compreendido o orçamento, teria assessorado
melhor o cliente; resolveria não somente o problema trazido por ele, mas
aqueles levantados pelo técnico. Isso geraria credibilidade e confiança, e,
provavelmente, os itens contidos no orçamento teriam sido aprovados.
O cliente teve uma péssima impressão da empresa. A empresa não
comunicou seriedade e transparência, pelo contrário.
A empresa teve prejuízo desde a emissão da Ordem de Serviço até a
devolução do aparelho. A atendente deixou de atender vários clientes
enquanto precisou esclarecer o orçamento com o técnico. Além disso, a
empresa não recebeu R$ 170,00 nem R$ 50,00.
Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz
1. Leitura do Texto complementar nº 1:
A necessidade de considerarmos o outro para quem escrevemos
2. Leitura do Texto Complementar nº 2:
Escrita e Imagem da Empresa
3. Leitura de textos postados no blog
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4. Produção de texto nº 2
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  • 1. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Carla Queiroz Pereira carlaqueirozpereira@yahoo.com.br http://aescritanasentrelinhas.d3estudio.com.br
  • 2. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Oqueaescolanosensinou  Escrever é agir sobre o outro; é saber ajustar o texto à situação de interação, à finalidade da escrita, ao interlocutor etc. A escrita é um exercício mecânico de pôr no papel não importa o quê, faça ou não sentido, tenha ou não relevância (Antunes, 2005). Planejar a escrita, escrever e revisar o que escreveu são atividades cruciais. A escrita é mero treinamento, para nada e para ninguém. Escrever um texto para defender um ponto de vista, orientar uma argumentação, dar explicações, intervir sobre um problema, vender uma idéia. Uma escrita sem perspectivas sociais inspiradas nos diferentes usos da língua fora do ambiente escolar (Antunes, 2005*). Só se aprende a ler e a escrever, lendo e escrevendo (Bagno, 2003); o escrever é resultado de muita prática de escrita, leitura e reescrita. Para aprender a escrever bons textos é necessário saber explicitar regras gramaticais, saber regras do certo e errado. Estudar uma língua significa considerar os vários contextos em que os textos são produzidos, as questões sociais e culturais de uma sociedade, o processo como são construídos os vários sentidos etc. Uma língua se restringe a um manual de gramática. Considerações iniciais Oqueaescolanãonosensinou *Todas as referências bibliográficas estarão disponíveis no último slide a ser apresentado na oficina
  • 3. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Ensino Fundamental I e II Ensino Médio Ensino Superior • Início das queixas sobre a leitura/escrita. Encaminhamento aos profissionais da saúde. • Aplicação de testes, diagnósticos e medicação. • “Erros” na escrita são considerados como sinais de patologia. • Questões textuais não são bem trabalhadas. • O adolescente não produz textos compatíveis com sua escolaridade. • As dificuldades na escrita se arrastaram no tempo. • O jovem chega à Universidade com dificuldades para escrever. • Sofrimento e revolta por não ter aprendido no passado. • Necessidade de escrever muitos textos, com complexidade cada vez maior. • Considerável saber técnico, mas dificuldades para escrever. • Problemas no trabalho em função dos textos que (não) produz. • Uso de “estratégias” para poder escrever; evita escrever; não há o gosto pela escrita. • Perda de oportunidades; comprometimento da imagem e credibilidade. • Busca por livros e cartilhas: “Como escrever bem” (dicas e receitas); frustração, não progresso. • Busca por ajuda especializada. A Escrita e o escrevente: do Ensino Fundamental à Vida Profissional Primeiros Anos de vida profissional Próximos Anos de vida profissional
  • 4. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz O caso da advogada RR: pânico, ctrl C, ctrl V RR, advogada há 10 (dez) anos, entra em contato comigo através do blog “A Escrita nas Entrelinhas”, e envia o seguinte e- mail: “(...) Apesar de estar lotada em um escritório de advocacia, não consigo redigir. Tenho dificuldades/pânico toda vez que tenho que escrever alguma coisa. Fico pesquisando e procurando o que tenho que escrever em outros textos; ao localizar, copio e colo. Ou seja, os meus textos são uma verdadeira colcha de retalhos. Só que, infelizmente, os retalhos não são meus. Isso me faz sentir muito mal. Será que você pode me ajudar?” [com adaptações, grifos meus].
  • 5. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz O caso da advogada RR: traumas de infância No primeiro contato, RR relata que, desde a infância, não gosta de escrever e atribui esse fato aos primeiros anos de vida escolar. Uma professora convocou a mãe de RR e afirmou que a filha tinha dificuldades de aprendizagem. A partir de então, escrever sempre foi uma tortura. Perguntei-lhe se saberia me dizer quais foram os “erros” na escrita que levaram a professora à afirmação. Após o relato, concluí que os chamados “erros” eram, na verdade, próprios de uma criança aprendiz da escrita, considerando o sistema alfabético de nossa língua. Consequência* da afirmação equivocada: RR cresceu achando que tinha um problema, uma patologia. Passa a escrever pouco, evita escrever. Procura fonoaudiólogos para aplicar testes e fornecer diagnósticos. * Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
  • 6. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz O caso da advogada RR: problemas com a escrita se arrastam no tempo Afirmações equivocadas Na escola, Erros = patologia Traumas, resistência à leitura e à escrita Busca por profissionais da saúde. Testes e diagnósticos. Aspectos textuais não são aprendidos e exercitados Escrita de textos não compatíveis com a escolaridade
  • 7. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Após a afirmação da professora, aquilo que não existia passou a existir: uma dificuldade de fato. Em função dos traumas e da resistência à escrita, RR, já no exercício da profissão, tem dificuldades de organizar as informações do texto, estabelecer as relações de sentido entre uma parte e outra, argumentar etc., conforme veremos nos textos produzidos por ela. Pude perceber por onde começaria a trabalhar com RR, isto é, pela tentativa de convencê-la de que não havia qualquer dislexia, distúrbio ou dificuldade proveniente dela ou de seu cérebro. Mostrei a ela alguns textos de crianças aprendizes da escrita, expostos em meu blog. Após a leitura de tais textos, RR relata: “Sempre achei que eu tinha um problema, mas depois que vi como a Bia escrevia percebi que eu fazia as mesmas coisas quando criança. Eu só precisava de alguém para me dar uma ajudinha... me mostrar que eu não tinha problema. Estou aliviada por ver que eu não tenho um problema [orgânico]; estou animada e com esperança. Até voltei a ler. Estou lendo Dom Casmurro”. O caso da advogada RR: de volta à leitura
  • 8. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Conhecer o funcionamento do cérebro Conhecer o Funcionamento da Linguagem Dislexia, Dificuldade de Compreensão... Conhecer os testes Saber interpretar os “erros” linguisticamente*: saber, por exemplo, a relação entre fala e escrita, bem como os aspectos envolvidos no complexo processo de produção e interpretação de textos (Abaurre, 1987; Cagliari, 1996; Abaurre, Fiad & Mayrink-Sabinson, 1997; Massini-Cagliari & Cagliari, 1999). É necessário entendermos o que tem sido considerado como sinal de dislexia, dificuldade de compreensão, distúrbios etc. Que tipos de “erros” têm sido considerados como sinais de patologia? (Coudry & Scarpa, 1991). Para questionar os testes é preciso conhecer as tarefas neles propostas, bem como as respostas consideradas como corretas. Saber que o cérebro trabalha de maneira dinâmica e integrada, e que as atividades propostas influenciam no seu funcionamento (Coudry, M. I. & Freire, F. M. P., 2005). Para entender e questionar a relação entre Escrita & Diagnósticos É importante que as pessoas sejam avaliadas através de atividades contextualizadas, da escrita de textos que façam sentido para elas. Avaliação Contextualizada *Palavrasquesofrerammodificaçõesnagrafiaapósareformaortográfica
  • 9. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Repercussão no funcionamento do cérebro Aspectos textuais a serem trabalhados Mudanças na escrita: trabalho do cérebro e da linguagem Trabalhando o Texto Texto organizado e bem elaborado
  • 10. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz “Eu tinha medo (...). Antes, escrever era uma tortura, agora não. Eu ficava pensando...pensando o que ia escrever e não escrevia nada, pois achava que tinha que vir tudo certinho [na cabeça] e pronto; hoje eu penso e já vou escrevendo, e aí as palavras vão vindo...depois eu volto e vou corrigindo” (RF, engenheira). “Hoje eu leio um texto de um colega e percebo que ele está ruim. Realmente, saber escrever é muito gostoso. O escrever dá uma sensação de liberdade e é divertido. É impressionante. Hoje me surpreendo com o que eu coloco no papel” (RF, engenheira). “Ninguém nunca me ensinou isso: a refletir sobre o que escrevo; que não posso simplesmente ‘jogar’ as palavras; que preciso pensar no outro para quem escrevo; ler e reler o que escrevi e reescrever. O que estamos vendo sobre a linguagem se aplica a tudo” (VV, advogada). A satisfação de quem aprende a escrever melhor
  • 11. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Para você, o que é escrever um bom texto? Veja o comentário de um leitor a propósito do entendimento do cartaz “Apesar de poder ler normalmente o cartaz, não fazia sentido para mim; eu pensava: ‘mas o que tem a ver a necessidade da porta se manter aberta com o fato de o salão nobre estar em uso’? Aliás, por não conhecer bem as dependências do prédio em que estava, eu nem sabia onde ficava o salão nobre naquela época. Fiquei inquieta, incomodada. Mas tudo bem, entrei por essa porta que dava acesso aos vários banheiros que lá havia e fiz o que precisava. Quando saí, a porta não mais estava aberta, estava fechada. E ao abrir, ouvi um barulho, um ruído forte e horrível provocado pela abertura da porta; pude ver também o salão nobre, bem ao lado do banheiro. Só naquela hora consegui entender aquele cartaz, atribuindo um sentido a ele. Ufa! Veio o alívio e a tranquilidade* por ter entendido o que estava escrito”. * Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica MANTER A PORTA ABERTA. SALÃO NOBRE EM USO. A placa a seguir foi vista afixada na porta de acesso aos banheiros femininos de uma faculdade.
  • 12. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Reflexõesequestõessobreocartaz Muitas vezes, quando falamos ou escrevemos algo para alguém, pressupomos que o outro já tem todo o conhecimento relacionado àquilo sobre o que falamos (ou escrevemos), o que nem sempre ocorre. O caso do cartaz é um exemplo disso. O entendimento do cartaz somente foi possível quando o leitor, ao abrir a porta do banheiro, ouviu um ruído forte e viu o salão nobre. Explicite os conhecimentos necessários para a compreensão de cada uma das frases do cartaz. Reescreva o texto do cartaz de modo a manter as informações necessárias para sua melhor compreensão pelas pessoas que usam o banheiro. A escrita no dia-a-dia: pensar no outro para quem escrevo Seu autor escreveu como se o leitor tivesse, pelo menos, dois conhecimentos que não estavam explicitados no cartaz. Para uma pessoa entender esse cartaz logo no momento em que é lido, quais os conhecimentos de que ele necessita?
  • 13. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz A escrita no dia-a-dia: mal-entendidos Contexto de escrita: MA, aluna de pós-graduação em Linguística*, divide uma casa (identificada como M5) com mais três amigas em Campinas (moradia da Unicamp). Certo dia MA pede permissão para lavar um cobertor na casa de um amigo, EV, que lhe dá plena autorização. Após lavá-lo e pendurá-lo para secar, MA viaja para sua terra natal, onde ficará 10 dias. Sendo assim, EV diz para MA: “Já que você vai viajar, deixarei o cobertor com suas amigas, em sua casa”. “Ok, obrigada”, responde MA. Conforme prometido, EV vai à casa de MA para entregar o cobertor, mas não encontra ninguém. Tenta, então, entregar o objeto na portaria, o que não foi permitido pelo porteiro. Decide, por isso, deixar um bilhete na casa de MA: * Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica Ao entrarem em casa, as amigas de MA, que não tinham qualquer conhecimento sobre o cobertor deixado na casa de EV, leem* o bilhete e fazem comentários do tipo: “Pegar o seu barato”? “Puxa... mas será”? “Nunca imaginei que a MA mexesse com essas coisas”... “Precisamos tomar providências...”. “Todas nós estamos correndo riscos...” Até MA voltar para casa e desfazer esse terrível mal- entendido...
  • 14. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Reflexõesequestõessobreobilhete Muitas vezes, quando escrevemos algo para alguém, nem imaginamos que poderemos ser interpretados de maneira diferente da desejada, o que ocorre em função de diversos fatores: textuais, culturais, sociais, situacionais etc. Tente lembrar de uma situação em que algo parecido ocorreu com você ou com alguém que você conhece, seja no trabalho, na família ou no convívio com os amigos. Faça uma descrição, passo a passo, do contexto da situação, explicitando o problema ocorrido. Mal-entendidos que ocorrem durante uma conversa são mais fáceis de serem resolvidos. A escrita, porém, não nos permite uma solução rápida, afinal, o interlocutor não está face a face. O autor escreveu o bilhete sem considerar que a leitura por pessoas que não fossem MA poderia causar um mal-entendido provocado pelo uso de “barato”. Considerando o contexto, haveria algo que pudesse evitar esse mal-entendido, sem alterarmos qualquer palavra do bilhete? A escrita no dia-a-dia: mal-entendidos Vale ressaltar que a existência de um mal-entendido nem sempre pressupõe uma dificuldade de quem escreve ou de quem lê o texto.
  • 15. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Um case: o cliente leva seu celular a uma Assistência Técnica Autorizada – Dept. Atendimento (relato da Relações Públicas da empresa). - Bom dia. O visor do meu celular está estragado...ele apagou. Preciso de um orçamento. Quando posso ligar para saber o valor? - Em 48 horas úteis, senhor, responde a atendente (VG). É só o senhor ligar no telefone indicado na Ordem de Serviço. - Tudo bem, obrigado, responde o cliente. O aparelho segue para o laboratório com a especificação do problema do cliente. Após avaliação, o técnico lança no sistema apenas as seguintes informações: Troca dos itens: Conector de bateria – 50,00 Bateria – 70,00 Serviços: solda – 20,00; mão-de-obra – 30,00. A escrita nas empresas: perda de negócios
  • 16. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz - Bom dia! Deixei o meu celular aí há dois dias e estou ligando para saber o orçamento. O número da Ordem de Serviço é xx.. - Senhor, o valor do orçamento é R$ 170,00. - Assustado o cliente diz: “o quê? Cento e setenta reais? Mas como? Meu celular só estava com o visor apagado. Como isso vai custar cento e setenta reais? - Senhor, foi o laboratório que analisou seu aparelho. Então, como é um técnico especializado, o orçamento é isso mesmo, senhor. - O cliente, desconfiado e bravo, diz: Olha, não vou aprovar esse orçamento. Deixa o celular como está; vou aí buscar. O cliente entra em contato com o Call Center da empresa. O cliente “bate” o telefone sem se despedir. A escrita nas empresas: perda de negócios
  • 17. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz - MP, o cliente havia reclamado de seu display (visor), mas nos itens indicados há bateria, conector, e ainda uma solda para fazer. Como assim? - Sim....é isso tudo o que precisa fazer, responde o técnico. - Mas MP, todos esses itens têm a ver com o problema do display? - Não VG. Acontece que, a vida útil da bateria está acabando e o conector da bateria está quebrado. Então tem de trocar, ué! - Mas MP...O que um conector quebrado tem a ver com um display apagado? O que esses dois itens (bateria e conector) têm a ver com o motivo pelo qual o cliente trouxe o celular?, fala a atendente bastante irritada. - Não tem a ver diretamente, VG, mas esses componentes não estão bons. Daqui a pouco o aparelho dele nem carrega a bateria...olha aqui o conector quebrado! A atendente, sem saber de fato a razão de todos aqueles itens, sai de sua posição de atendimento e vai até o laboratório checar as informações com o técnico (MP). A escrita nas empresas: perda de negócios
  • 18. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Entendi, MP, mas eu quero saber só o que é preciso fazer pro display voltar a funcionar. - É só a solda. Mas a bateria está ruim e o conector também. - Tudo bem, MP, mas o cliente trouxe o celular aqui porque o display estava apagado. Então você poderia ter digitado... discriminado isso no sistema; assim eu teria entendido e explicado para ele. Assim pelo menos os R$ 50,00 ele teria aprovado (20 da solda + 30 da mão-de-obra), entendeu? O técnico, sem ter ideia* de como foi o contato do cliente por telefone, finaliza a conversa dizendo:“VG, não posso mais conversar com você; tenho muito aparelho pra olhar”. A escrita nas empresas: perda de negócios * Palavras que sofreram modificações na grafia após a reforma ortográfica
  • 19. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz Considerações Se o engenheiro tivesse considerado o seu interlocutor, uma atendente que não partilha dos mesmos conhecimentos técnicos que ele, perceberia a necessidade de escrever de maneira diferente (somente o técnico sabia que, fazendo a solda, o problema do display estaria resolvido). Isso mostra também que um bom texto vai muito além dos aspectos gramaticais; mostra que “clareza” depende, também, de quem é o leitor. Compreender um texto (falado ou escrito) é mais que decodificar; o óbvio não existe. A escrita nas empresas: perda de negócios
  • 20. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz A escrita nas empresas: perda de negócios Considerações Se a atendente tivesse compreendido o orçamento, teria assessorado melhor o cliente; resolveria não somente o problema trazido por ele, mas aqueles levantados pelo técnico. Isso geraria credibilidade e confiança, e, provavelmente, os itens contidos no orçamento teriam sido aprovados. O cliente teve uma péssima impressão da empresa. A empresa não comunicou seriedade e transparência, pelo contrário. A empresa teve prejuízo desde a emissão da Ordem de Serviço até a devolução do aparelho. A atendente deixou de atender vários clientes enquanto precisou esclarecer o orçamento com o técnico. Além disso, a empresa não recebeu R$ 170,00 nem R$ 50,00.
  • 21. Desenvolvendo a Habilidade de Produzir Bons Textos, por Carla Queiroz 1. Leitura do Texto complementar nº 1: A necessidade de considerarmos o outro para quem escrevemos 2. Leitura do Texto Complementar nº 2: Escrita e Imagem da Empresa 3. Leitura de textos postados no blog //aescritanasentrelinhas.d3estudio.com.br 4. Produção de texto nº 2 Proposta de atividades