SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  10
Télécharger pour lire hors ligne
Merlim, o Mago
   e o Livro do Graal




histórias simbólicas do ciclo arturiano
Robert de Boron




 Merlim, o Mago
e o Livro do Graal

histórias simbólicas do ciclo arturiano




              apeiron
                edições
Merlim, o Mago e o Livro do Graal




    Pintura de Gabriela Marques da Costa




Apeiron Edições                                                           7
Índice


Nota do Editor                                               11
Merlim, o Mago                                               15
Apêndices
  O possível fim de Merlim segundo o Manuscrito de Modena   197
  O possível fim de Merlim segundo o Manuscrito de Didot    201
Merlim, o Mago e o Livro do Graal




                           Nota do Editor




    Pela sua importância histórica e o seu significado simbólico, es-
colhemos como primeiro título da Apeiron Edições, a obra de Robert de
Boron, Merlim, o Mago e o Livro do Graal.
    Os primeiros registos sobre o mago Merlim datam dos inícios do sé-
culo X. Inicialmente chamado Emrys, só mais tarde se tornou conhecido
como Merlim, versão latinizada da palavra gaulesa Myrddin.
    Merlim, personagem de origem misteriosa, mago com poderes so-
brenaturais e concebido num concílio de demónios, confia ao narrador
Brás, confessor de sua mãe, a tarefa de pôr a sua missão profética por
escrito. O Livro do Graal vai surgindo à medida dos acontecimentos,
profetizando que nunca a estória de uma vida será ouvida com tanto
agrado como a de Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
    Robert de Boron situa a personagem Merlim num momento crucial.
Ao perceberem que o seu poder corria um grave risco com a vinda do
Redentor, os demónios resolveram, em concílio, criar o Anticristo, por
meios (magia negra) que violam as leis naturais da criação. Assim, um
íncubo (diabo) fecundou o corpo de uma pura donzela, tal como, em
sentido contrário, o Espírito Santo fizera com a Virgem. O rebento nas-
cido dessa relação diabólica teria a missão de afastar a humanidade do
caminho do Bem, traçado por Cristo, e de conduzi-la para os abismos
infernais.
    Há, na narrativa de Robert de Boron, uma relação tão íntima entre
Merlim e o Graal, que o próprio Mago tornou-se o autor da estória, na
medida em que é ele quem transmite os factos a serem registados pelo
seu fiel escriba Brás. Desse modo, Merlim cumpre a missão de preparar
os reis e o povo para o advento do mais puro de entre todos os ca-
valeiros da Terra, único digno de ocupar o cadeirão vazio na Távola
Redonda, fundada pelo Rei Artur.

                                                                      O Editor



Apeiron Edições                                                               11
Quando o Homem desperta para um grande sonho e
     acredita nele com toda a força da sua alma...
               todo o universo conspira a seu favor

                                          Goethe
Merlim, o Mago e o Livro do Graal




                                 1

     O inimigo ficou muito irritado quando Nosso Senhor desceu aos in-
fernos e libertou Adão e Eva e quantos mais lhe agradou. Quando os
demónios viram isso, ficaram muito maravilhados, reuniram-se em con-
selho e disseram entre si:
     – Quem é este homem que nos levou de vencida? Porque é que,
com toda a nossa força, nada há que possamos fazer para impedir que
continue a fazer o que bem lhe apraz? Nunca poderíamos imaginar que
algum homem nascido de mulher pudesse escapar às nossas garras. E
eis que este nos destrói! Como pode ter nascido sem fazer parte dos
pecados deste mundo, ao contrário de todos os outros homens?
     Um dos demónios respondeu então:
     – Fomos vencidos pelo que julgávamos que mais nos valeria. Lem-
brai-vos do que diziam os profetas que anunciavam que o Filho de Deus
viria à Terra para apagar o pecado de Adão e Eva e dos seus descen-
dentes. Nós apoderamo-nos daqueles que proclamavam que esse ho-
mem viria à Terra e livrá-los-ia das penas do inferno. E eis que acon-
teceu o que não se cansavam de anunciar. Esse homem arrebatou-nos
aquilo de que nos tínhamos apoderado e nada podemos contra ele. Ele
arrebatou-nos todos aqueles que já tínhamos sob o nosso domínio e que
mais ninguém nos podia retirar. Como foi que isso aconteceu? Como é
que já não os teremos mais?
     – Não sabeis então, prosseguiu outro demónio, que ele faz com que
se lavem com água, em seu nome, para que essa água lave o delito de
pai e mãe, precisamente aquele pecado pelo qual os teríamos sob o
nosso domínio, como sempre os tivemos? Doravante perdemo-los todos,
por causa dessa água, e não temos nenhum poder sobre eles, a menos
que venham a nós pelos seus próprios pecados. Deste modo, o nosso
poder ficou rebaixado e bloqueado. E há mais ainda: ele anunciou que
vai ordenar e deixar ministros seus na Terra para salvá-los, ainda que
venham a participar das nossas obras, bastando para tal que as re-
neguem, que se arrependam e façam o que lhes for ordenado. Assim os


Apeiron Edições                                                            15
Robert de Boron




perderemos, se forem moderados. Aquele que veio à Terra para salvar a
humanidade e quis nascer de uma mulher, sem que o soubéssemos, sem
pecado de homem e de mulher, propiciou um benefício inteiramente
espiritual. E se o víssemos e o tentássemos de todos os modos ao nosso
alcance, não encontraríamos nele nenhuma das nossas obras, tal é a sua
determinação em salvar os homens. Tanto amou os homens, que quis
morrer para salvá-los e tirá-los do nosso jugo. Deveríamos então buscar
agora um meio de reconquistar os homens, antes que se possam ar-
repender e antes que digam a quem lhes concedeu o perdão que esse
homem os redimiu com a sua morte.
    Então disseram todos juntos:
    – Perdemos tudo, visto que ele pode perdoar os pecados até ao
último instante da vida do homem. E, se o encontrar nas suas obras,
estará salvo; e ainda que esteja nas nossas obras até ao fim, se se
arrepender e cumprir o que mandam os seus ministros, perdê-lo-emos.
Assim perderemos a todos, se não os retivermos. Mas quem é que nos
prejudicou mais e nos estorvou e propiciou a vinda dele à Terra?
    Então prosseguiram dizendo entre si:
    – Quem nos prejudicou mais foram aqueles que anunciaram a sua
vinda. Por meio deles é que nos aconteceram os maiores prejuízos.
Quanto mais anunciavam a sua vinda, mais nós os atormentávamos.
Parece mesmo que ele se apressou em vir ajudá-los e socorrê-los dos
tormentos que lhes causávamos. De que modo conseguiríamos alguém
que falasse aos homens e dissesse quais são os nossos objectivos, qual o
nosso poder e a nossa maneira de agir, e que tenha, como nós, poder de
saber o que acontece, o que se diz e o que se faz? Se contássemos com
um homem com esse poder, que soubesse essas coisas, e pudesse viver
com os outros homens na Terra, ele poderia ajudar-nos muito a enganá-
-los, assim como os profetas que estavam do nosso lado e prediziam o
que nunca imaginávamos que pudesse acontecer. Esse homem narraria
as coisas ditas e feitas num passado distante ou próximo e ganharia a
confiança de muita gente. Então disseram todos juntos:
    – Excelentes resultados conseguiria quem pudesse criar um tal ho-
mem. Todos acreditariam nele.
    Disse um deles:


16                                                           Apeiron Edições
Merlim, o Mago e o Livro do Graal




    – Não tenho o poder de conceber nem de fecundar uma mulher,
mas se tivesse, faria com gosto, porque tenho uma mulher que faz e diz
tudo o que eu quero.
    Disse um outro:
    – Mas há entre nós quem possa assumir a figura humana e fecundar
uma mulher, e convém que a engravide o mais discretamente possível.
    Assim disseram e decidiram que gerariam um homem que enganaria
os outros. São loucos demais, porque imaginam que Nosso Senhor, que
tudo sabe, ignora as suas obras. O diabo então decidiu fazer um homem
que tivesse a sua memória e a sua inteligência para enganar Jesus Cris-
to. Deste modo podeis saber quanto louco é o diabo, e muito devemos
temer, porque tão louca coisa nos engana.




Apeiron Edições                                                             17

Contenu connexe

Tendances

O fechamento da porta da graça
O fechamento da porta da graçaO fechamento da porta da graça
O fechamento da porta da graça
calobotas
 
Estudo sobre os demônios e suas atuações
Estudo sobre os demônios e suas atuaçõesEstudo sobre os demônios e suas atuações
Estudo sobre os demônios e suas atuações
Rosangela Silva
 
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
Paulo Almeida
 
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL IIIO OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
Cristiane Patricio
 
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra john gill
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra   john gillA infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra   john gill
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra john gill
Deusdete Soares
 

Tendances (17)

Estudo3 o grande-traidor
Estudo3 o grande-traidorEstudo3 o grande-traidor
Estudo3 o grande-traidor
 
O fechamento da porta da graça
O fechamento da porta da graçaO fechamento da porta da graça
O fechamento da porta da graça
 
Estudo sobre os demônios e suas atuações
Estudo sobre os demônios e suas atuaçõesEstudo sobre os demônios e suas atuações
Estudo sobre os demônios e suas atuações
 
Demônios
DemôniosDemônios
Demônios
 
Eterno
EternoEterno
Eterno
 
Sombras
SombrasSombras
Sombras
 
Os juizos de deus atraves dos tempos
Os juizos de deus atraves dos temposOs juizos de deus atraves dos tempos
Os juizos de deus atraves dos tempos
 
A sabedoria da loucura
A sabedoria da loucuraA sabedoria da loucura
A sabedoria da loucura
 
A torre de babel e a nova ordem mundial
A torre de babel e a nova ordem mundialA torre de babel e a nova ordem mundial
A torre de babel e a nova ordem mundial
 
Os deuses quem são.pptx
Os deuses quem são.pptxOs deuses quem são.pptx
Os deuses quem são.pptx
 
A um passo do inferno
A um passo do infernoA um passo do inferno
A um passo do inferno
 
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
Espiritismo principiospraticaseprovas-slides2hs-130507121131-phpapp02
 
As 12 Pedras do Alicerce — Aula 7 - Profecia Bíblica - O Futuro Predito.pdf
As 12 Pedras do Alicerce — Aula 7 - Profecia Bíblica - O Futuro Predito.pdfAs 12 Pedras do Alicerce — Aula 7 - Profecia Bíblica - O Futuro Predito.pdf
As 12 Pedras do Alicerce — Aula 7 - Profecia Bíblica - O Futuro Predito.pdf
 
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL IIIO OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
O OCULTO DO OCULTISMO - VÓL III
 
Sacudidura na igreja de Deus
Sacudidura na igreja de DeusSacudidura na igreja de Deus
Sacudidura na igreja de Deus
 
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra john gill
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra   john gillA infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra   john gill
A infinita condescendência de jeová manifestada em habitar na terra john gill
 
Apocalipse - Capítulo 17
Apocalipse - Capítulo  17Apocalipse - Capítulo  17
Apocalipse - Capítulo 17
 

En vedette

Handebol teórica
Handebol   teóricaHandebol   teórica
Handebol teórica
NetKids
 
Fisiologia cardíaca
Fisiologia cardíacaFisiologia cardíaca
Fisiologia cardíaca
Ana Flávia
 

En vedette (20)

Cocô
CocôCocô
Cocô
 
Sinuca
SinucaSinuca
Sinuca
 
Doc3jogos de azar
Doc3jogos de azarDoc3jogos de azar
Doc3jogos de azar
 
Esportes de aventura e radicais 3ºA
Esportes de aventura e radicais 3ºAEsportes de aventura e radicais 3ºA
Esportes de aventura e radicais 3ºA
 
6 d alimentaçao obesidade
6 d alimentaçao obesidade6 d alimentaçao obesidade
6 d alimentaçao obesidade
 
Apresentação judô
Apresentação judôApresentação judô
Apresentação judô
 
Psicologia do esporte geral
Psicologia do esporte geralPsicologia do esporte geral
Psicologia do esporte geral
 
O que é Psicologia do Esporte?
O que é Psicologia do Esporte?O que é Psicologia do Esporte?
O que é Psicologia do Esporte?
 
Anatomia Nivel I
Anatomia Nivel IAnatomia Nivel I
Anatomia Nivel I
 
Reclamação trabalhista do pênis
Reclamação trabalhista do pênisReclamação trabalhista do pênis
Reclamação trabalhista do pênis
 
Judô
JudôJudô
Judô
 
Esportes radicais
Esportes radicaisEsportes radicais
Esportes radicais
 
Esportes radicais
Esportes radicaisEsportes radicais
Esportes radicais
 
Obesidade Infantil e Atividade Física
Obesidade Infantil e Atividade FísicaObesidade Infantil e Atividade Física
Obesidade Infantil e Atividade Física
 
Judo
JudoJudo
Judo
 
Judo
JudoJudo
Judo
 
Handebol teórica
Handebol   teóricaHandebol   teórica
Handebol teórica
 
Fisiologia cardíaca
Fisiologia cardíacaFisiologia cardíaca
Fisiologia cardíaca
 
Fundamentos tecnicos do basquetebol
Fundamentos tecnicos do basquetebolFundamentos tecnicos do basquetebol
Fundamentos tecnicos do basquetebol
 
ApresentaçãO obesidade infantil
ApresentaçãO obesidade infantilApresentaçãO obesidade infantil
ApresentaçãO obesidade infantil
 

Similaire à 001.10 merlim extracto

Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judasLivro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
David Canjamba 2D
 
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
Deusdete Soares
 
A pecaminosidade do homem em seu estado natural por thomas boston
A pecaminosidade do homem em seu estado natural   por thomas bostonA pecaminosidade do homem em seu estado natural   por thomas boston
A pecaminosidade do homem em seu estado natural por thomas boston
Deusdete Soares
 

Similaire à 001.10 merlim extracto (20)

O Segredo de Satã
O Segredo de SatãO Segredo de Satã
O Segredo de Satã
 
livro-ebook-as-tres-horas-de-trevas.pdf
livro-ebook-as-tres-horas-de-trevas.pdflivro-ebook-as-tres-horas-de-trevas.pdf
livro-ebook-as-tres-horas-de-trevas.pdf
 
Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judasLivro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
Livro o-voo-da-serpente-emplumada-historia-de-judas
 
As sete dispensações
As sete dispensaçõesAs sete dispensações
As sete dispensações
 
UM CORAÇÃO MAU - (J. C. Ryle)
UM CORAÇÃO MAU - (J. C. Ryle)UM CORAÇÃO MAU - (J. C. Ryle)
UM CORAÇÃO MAU - (J. C. Ryle)
 
Salvação obra de deus somente
Salvação obra de deus somenteSalvação obra de deus somente
Salvação obra de deus somente
 
O Abismo
O AbismoO Abismo
O Abismo
 
Os barquinhos da vida
Os barquinhos da vidaOs barquinhos da vida
Os barquinhos da vida
 
Civilização (Adilson Guimarães Jardim)
Civilização (Adilson Guimarães Jardim)Civilização (Adilson Guimarães Jardim)
Civilização (Adilson Guimarães Jardim)
 
Geração Crepúsculo: Eclipse - Uma Questão de Dedicação
Geração Crepúsculo: Eclipse - Uma Questão de DedicaçãoGeração Crepúsculo: Eclipse - Uma Questão de Dedicação
Geração Crepúsculo: Eclipse - Uma Questão de Dedicação
 
Salvação uma obra de deus somente
Salvação uma obra de deus somenteSalvação uma obra de deus somente
Salvação uma obra de deus somente
 
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
A serpente de bronze levantada (charles haddon spurgeon)
 
A pecaminosidade do homem em seu estado natural por thomas boston
A pecaminosidade do homem em seu estado natural   por thomas bostonA pecaminosidade do homem em seu estado natural   por thomas boston
A pecaminosidade do homem em seu estado natural por thomas boston
 
Lúcifer Destronado _ Confissões de um Ex-Satanista - William Schobelen
Lúcifer Destronado _ Confissões de um Ex-Satanista - William SchobelenLúcifer Destronado _ Confissões de um Ex-Satanista - William Schobelen
Lúcifer Destronado _ Confissões de um Ex-Satanista - William Schobelen
 
Um coração mau
Um coração mauUm coração mau
Um coração mau
 
O inferno sob ataque
O inferno sob ataqueO inferno sob ataque
O inferno sob ataque
 
O serviço e a utilidade
O serviço e a utilidadeO serviço e a utilidade
O serviço e a utilidade
 
Textos Seletos
Textos SeletosTextos Seletos
Textos Seletos
 
37 fatos importantes sobre a maconaria-DR PEDROSA
37 fatos importantes sobre a maconaria-DR PEDROSA37 fatos importantes sobre a maconaria-DR PEDROSA
37 fatos importantes sobre a maconaria-DR PEDROSA
 
017c - Assaltos e ataques demoniacos - tris
017c - Assaltos  e ataques demoniacos - tris017c - Assaltos  e ataques demoniacos - tris
017c - Assaltos e ataques demoniacos - tris
 

Plus de Dulce Abalada (8)

I sol extracto_miolo
I sol extracto_mioloI sol extracto_miolo
I sol extracto_miolo
 
Dom sebastião final_extracto
Dom sebastião final_extractoDom sebastião final_extracto
Dom sebastião final_extracto
 
Chave negócios extracto miolo
Chave negócios extracto mioloChave negócios extracto miolo
Chave negócios extracto miolo
 
Extracto miolo druidas
Extracto miolo druidasExtracto miolo druidas
Extracto miolo druidas
 
Miolo extracto_Contos Fantásticos
Miolo extracto_Contos FantásticosMiolo extracto_Contos Fantásticos
Miolo extracto_Contos Fantásticos
 
Miolo extracto_Enigma Magalhães
Miolo extracto_Enigma MagalhãesMiolo extracto_Enigma Magalhães
Miolo extracto_Enigma Magalhães
 
Miolo extracto_Profecias
Miolo extracto_ProfeciasMiolo extracto_Profecias
Miolo extracto_Profecias
 
002.10 ir alma_extracto
002.10 ir alma_extracto002.10 ir alma_extracto
002.10 ir alma_extracto
 

Dernier

Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
AntonioVieira539017
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
NarlaAquino
 
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptxAula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
andrenespoli3
 

Dernier (20)

Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
LISTA DE EXERCICIOS envolveto grandezas e medidas e notação cientifica 1 ANO ...
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffffSSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
SSE_BQ_Matematica_4A_SR.pdfffffffffffffffffffffffffffffffffff
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptxAula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
Aula 03 - Filogenia14+4134684516498481.pptx
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdfProjeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
Projeto de Extensão - DESENVOLVIMENTO BACK-END.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUAO PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
O PLANETA TERRA E SEU SATÉLITE NATURAL - LUA
 

001.10 merlim extracto

  • 1. Merlim, o Mago e o Livro do Graal histórias simbólicas do ciclo arturiano
  • 2.
  • 3. Robert de Boron Merlim, o Mago e o Livro do Graal histórias simbólicas do ciclo arturiano apeiron edições
  • 4. Merlim, o Mago e o Livro do Graal Pintura de Gabriela Marques da Costa Apeiron Edições 7
  • 5. Índice Nota do Editor 11 Merlim, o Mago 15 Apêndices O possível fim de Merlim segundo o Manuscrito de Modena 197 O possível fim de Merlim segundo o Manuscrito de Didot 201
  • 6. Merlim, o Mago e o Livro do Graal Nota do Editor Pela sua importância histórica e o seu significado simbólico, es- colhemos como primeiro título da Apeiron Edições, a obra de Robert de Boron, Merlim, o Mago e o Livro do Graal. Os primeiros registos sobre o mago Merlim datam dos inícios do sé- culo X. Inicialmente chamado Emrys, só mais tarde se tornou conhecido como Merlim, versão latinizada da palavra gaulesa Myrddin. Merlim, personagem de origem misteriosa, mago com poderes so- brenaturais e concebido num concílio de demónios, confia ao narrador Brás, confessor de sua mãe, a tarefa de pôr a sua missão profética por escrito. O Livro do Graal vai surgindo à medida dos acontecimentos, profetizando que nunca a estória de uma vida será ouvida com tanto agrado como a de Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda. Robert de Boron situa a personagem Merlim num momento crucial. Ao perceberem que o seu poder corria um grave risco com a vinda do Redentor, os demónios resolveram, em concílio, criar o Anticristo, por meios (magia negra) que violam as leis naturais da criação. Assim, um íncubo (diabo) fecundou o corpo de uma pura donzela, tal como, em sentido contrário, o Espírito Santo fizera com a Virgem. O rebento nas- cido dessa relação diabólica teria a missão de afastar a humanidade do caminho do Bem, traçado por Cristo, e de conduzi-la para os abismos infernais. Há, na narrativa de Robert de Boron, uma relação tão íntima entre Merlim e o Graal, que o próprio Mago tornou-se o autor da estória, na medida em que é ele quem transmite os factos a serem registados pelo seu fiel escriba Brás. Desse modo, Merlim cumpre a missão de preparar os reis e o povo para o advento do mais puro de entre todos os ca- valeiros da Terra, único digno de ocupar o cadeirão vazio na Távola Redonda, fundada pelo Rei Artur. O Editor Apeiron Edições 11
  • 7. Quando o Homem desperta para um grande sonho e acredita nele com toda a força da sua alma... todo o universo conspira a seu favor Goethe
  • 8. Merlim, o Mago e o Livro do Graal 1 O inimigo ficou muito irritado quando Nosso Senhor desceu aos in- fernos e libertou Adão e Eva e quantos mais lhe agradou. Quando os demónios viram isso, ficaram muito maravilhados, reuniram-se em con- selho e disseram entre si: – Quem é este homem que nos levou de vencida? Porque é que, com toda a nossa força, nada há que possamos fazer para impedir que continue a fazer o que bem lhe apraz? Nunca poderíamos imaginar que algum homem nascido de mulher pudesse escapar às nossas garras. E eis que este nos destrói! Como pode ter nascido sem fazer parte dos pecados deste mundo, ao contrário de todos os outros homens? Um dos demónios respondeu então: – Fomos vencidos pelo que julgávamos que mais nos valeria. Lem- brai-vos do que diziam os profetas que anunciavam que o Filho de Deus viria à Terra para apagar o pecado de Adão e Eva e dos seus descen- dentes. Nós apoderamo-nos daqueles que proclamavam que esse ho- mem viria à Terra e livrá-los-ia das penas do inferno. E eis que acon- teceu o que não se cansavam de anunciar. Esse homem arrebatou-nos aquilo de que nos tínhamos apoderado e nada podemos contra ele. Ele arrebatou-nos todos aqueles que já tínhamos sob o nosso domínio e que mais ninguém nos podia retirar. Como foi que isso aconteceu? Como é que já não os teremos mais? – Não sabeis então, prosseguiu outro demónio, que ele faz com que se lavem com água, em seu nome, para que essa água lave o delito de pai e mãe, precisamente aquele pecado pelo qual os teríamos sob o nosso domínio, como sempre os tivemos? Doravante perdemo-los todos, por causa dessa água, e não temos nenhum poder sobre eles, a menos que venham a nós pelos seus próprios pecados. Deste modo, o nosso poder ficou rebaixado e bloqueado. E há mais ainda: ele anunciou que vai ordenar e deixar ministros seus na Terra para salvá-los, ainda que venham a participar das nossas obras, bastando para tal que as re- neguem, que se arrependam e façam o que lhes for ordenado. Assim os Apeiron Edições 15
  • 9. Robert de Boron perderemos, se forem moderados. Aquele que veio à Terra para salvar a humanidade e quis nascer de uma mulher, sem que o soubéssemos, sem pecado de homem e de mulher, propiciou um benefício inteiramente espiritual. E se o víssemos e o tentássemos de todos os modos ao nosso alcance, não encontraríamos nele nenhuma das nossas obras, tal é a sua determinação em salvar os homens. Tanto amou os homens, que quis morrer para salvá-los e tirá-los do nosso jugo. Deveríamos então buscar agora um meio de reconquistar os homens, antes que se possam ar- repender e antes que digam a quem lhes concedeu o perdão que esse homem os redimiu com a sua morte. Então disseram todos juntos: – Perdemos tudo, visto que ele pode perdoar os pecados até ao último instante da vida do homem. E, se o encontrar nas suas obras, estará salvo; e ainda que esteja nas nossas obras até ao fim, se se arrepender e cumprir o que mandam os seus ministros, perdê-lo-emos. Assim perderemos a todos, se não os retivermos. Mas quem é que nos prejudicou mais e nos estorvou e propiciou a vinda dele à Terra? Então prosseguiram dizendo entre si: – Quem nos prejudicou mais foram aqueles que anunciaram a sua vinda. Por meio deles é que nos aconteceram os maiores prejuízos. Quanto mais anunciavam a sua vinda, mais nós os atormentávamos. Parece mesmo que ele se apressou em vir ajudá-los e socorrê-los dos tormentos que lhes causávamos. De que modo conseguiríamos alguém que falasse aos homens e dissesse quais são os nossos objectivos, qual o nosso poder e a nossa maneira de agir, e que tenha, como nós, poder de saber o que acontece, o que se diz e o que se faz? Se contássemos com um homem com esse poder, que soubesse essas coisas, e pudesse viver com os outros homens na Terra, ele poderia ajudar-nos muito a enganá- -los, assim como os profetas que estavam do nosso lado e prediziam o que nunca imaginávamos que pudesse acontecer. Esse homem narraria as coisas ditas e feitas num passado distante ou próximo e ganharia a confiança de muita gente. Então disseram todos juntos: – Excelentes resultados conseguiria quem pudesse criar um tal ho- mem. Todos acreditariam nele. Disse um deles: 16 Apeiron Edições
  • 10. Merlim, o Mago e o Livro do Graal – Não tenho o poder de conceber nem de fecundar uma mulher, mas se tivesse, faria com gosto, porque tenho uma mulher que faz e diz tudo o que eu quero. Disse um outro: – Mas há entre nós quem possa assumir a figura humana e fecundar uma mulher, e convém que a engravide o mais discretamente possível. Assim disseram e decidiram que gerariam um homem que enganaria os outros. São loucos demais, porque imaginam que Nosso Senhor, que tudo sabe, ignora as suas obras. O diabo então decidiu fazer um homem que tivesse a sua memória e a sua inteligência para enganar Jesus Cris- to. Deste modo podeis saber quanto louco é o diabo, e muito devemos temer, porque tão louca coisa nos engana. Apeiron Edições 17