Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa nascida em 1894 que se caracterizou pela expressão do sofrimento, solidão e desejo de felicidade através de uma linguagem sensual e pessoal. Sua poesia frequentemente abordava temas como amor, desilusão, saudade e erotismo de uma perspectiva feminina dentro de uma sociedade conservadora. Ela é considerada uma das mais importantes vozes femininas da literatura portuguesa.
4. Características estilísticas
A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da
solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e
plenitude que só serão alcançados no absoluto, no infinito.
A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas
próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico.
Destaca-se, pois, quatro temáticas na poesia florbeliana: Amor, Desilusão, Saudade
e a vertente do Erotismo.
6. No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas
Das noites da minh’alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente…
Olhos postos num sonho, humildemente…
Mãos cheias de violetas e de rosas…
E nunca O encontrei!… Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!
Ah! Toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas…
- Nunca se encontra Aquele que se espera!… Prince Charmant
7. Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!
E a noite vai descendo, sempre calma...
Meu doce Amor tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca! - A noite desce
8. 2.DESILUSÃO
Características do eixo;
Poema Ruínas - Referências ao mundo dos sonhos, Ilusão X Realidade, representado
pela decepção
“SE É SEMPRE OUTONO O RIR DAS PRIMAVERAS,
CASTELOS, UM A UM, DEIXÁ-LAS CAIR…
QUE A VIDA É UM CONSTANTE DERRUIR
DE PALÁCIOS DO REINO DAS QUIMERAS”
9. Poema Ódio? - marca forte da desilusão, mostra a realidade
“QUE IMPORTA SE MENTIU? E SE HOJE O PRANTO
TURVA O MEU LINDO OLHAR, MARMORIZADO,
OLHAR DE MONJA, TRÁGICO, GELADO
COMO UM SORTUNO E ENORME CAMPO SANTO!”
10. Poema A Vida - a desilusão frente a vida, jogo de oposições
“É VÃO O AMOR, O ÓDIO, OU A DESDÉM;
INÚTIL O DESEJO, E O SENTIMENTO…
LANÇAR UM GRANDE AMOR AOS PÉS D’ALGUÉM
O MESMO É QUE LANÇAR FLORES AO VENTO!”
11. 3. Saudade
Características do eixo:
• Insaciabilidade
• Incerteza
• Amor metafórico
• Separação entre o eu lírico e seu amado
• Vida vazia
12. Saudades! Sim… talvez.. e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim! Saudades. p. 281
13. longe de ti são emos os caminhos,
longe de ti não há luar nem rosas;
longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos, pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!... Fumo p. 295
14. 4. Erostismo
Características do eixo:
• Salazarismo (1932-1974);
• Busto no Jardim Público de Évora (1949);
• Defesas e Críticas (As Máscaras do Destino);
• Erotismo sutil;
• Mordaça social;
15. BLASFEMIA
(...)
Sou no teu rosto a luz que o alumia,
Sou a expressão das tuas mãos de raca,
E os beijos que me das já foram meus!
Em ti sou Gloria, Alture e Poesia!
E vejo-me-milagre cheio de graça!
Dentro de ti, em ti igual a Deus!...
16. TOLEDO
(...)
As tuas mãos tateiam-me a tremer…
Meu corpo de ambar, harmonioso e moco
É como um jasmineiro em alvoroco
Ébrio de sol, de aroma, de prazer!
Flameja ao longe o esmalte azul do Tejo…
Uma torre ergue ao céu um grito agudo…
Tua boca desfolha-me num beijo….
17. Considerações finais...
Poetisa de excessos cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina.
A poesia de Florbela Espanca é mais significativa que seus contos, e produto duma sensibilidade
exacerbada por fortes impulsos eróticos, corresponde a um verdadeiro diário íntimo onde a
autora extravasa as lutas que travam dentro de si tendências e sentimentos opostos.
Trata-se duma poesia-confissão, através da qual ganha relevo eloquente, cálido e sincero, toda a
angustiante experiência sentimental duma mulher superior por seus dotes naturais, fadada a uma
espécie de donjuanismo feminino. A poetisa, como a desnudar-se por dentro, sem pejo ou
preconceito de qualquer ordem, põe-se a confessar abertamente suas íntimas comoções de
mulher apaixonada.
18. Com o Livro de Sóror Saudade, Florbela se encontra definitivamente enquanto poetisa: o
soneto, descoberto como a forma ideal para se exprimir, passa a ser largamente
cultivado, embora sob a influência sensível dos sonetos anterianos.
Conquistava, assim, o veículo que melhor lhe permitia confessar o drama íntimo, numa
forma cada vez mais cuidada e límpida. Seu drama amoroso amadurece e desenvolve-se-
lhe a expressão correspondente.
19. Referências:
Disponível no site: www.outorga.com.br
FARRA, Maria Lúcia Dal. Florbela erótica. Universidade Federal de Sergipe. 2002. p.91-
112;
OLIVEIRA, Simone de Mello. Amor, desilusão e saudade na poesia de Florbela
Espanca. PIBIC-CNPq - UFSM, 2000.