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Entrevista a Fabio Bernabei: “A canábis médica é uma questão de
ideologia, não de compaixão”



Fabio Bernabei é representante nacional de Itália na ECAD – European Cities
Against Drugs e director do OsservatorioDroga (Itália). Neste ano, publicou o
livro “Cannabis Medica. 100 Risposti sull’uso terapêutico della Marijuana”, no qual
que se opõe de forma veemente à legalização da marijuana para fins
medicinais. Segue-se uma entrevista exclusiva da Dianova Portugal na
sequência desta edição.



Dianova Portugal: No prefácio de “Cannabis medica…”, diz-nos que decidiu

escrever o livro devido a uma “experiência pessoal” [a sobrevivência a um cancro],

num contexto de “reconhecimento da marijuana para fins medicinais”. O seu livro

foi uma tentativa de desafiar e influenciar a opinião pública, afirmando que nem

tudo é inevitável?


Fabio Bernabei: Não. Como sobrevivente a um cancro aprendi, entre outras, duas lições.


Primeiro, a pessoa doente é alguém vulnerável que tem que se respeitar e proteger, e não se

deve tentar tirar quaisquer vantagens ideológicas da doença. Políticos e organizações que

nos anos 1960 estavam a lutar por uma política proibicionista, agora tornaram-se adeptos


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Dianova Portugal ©
de algumas terapias medicinais para doenças graves. Custa a acreditar. O Partido Radical

Transnacional Radical, no seu manual “Os Radicais e as drogas”, assume a “estratégia

medicinal” como uma das estratégias possíveis para alcançar a legalização das drogas. A

estratégia menos radical, dizem eles, mas com um bónus: sem pânico na opinião pública.


Segundo, as pessoas com cancro e outras doenças graves merecem o tratamento mais

avançado, baseado na investigação médica mais inovadora, e não erva para fumar. Apenas

um exemplo: em Itália o Sistema Regional de Saúde não tem dinheiro para oferecer uma

radioterapia diária e generalizada nos hospitais e muitos, muitos, outros tratamentos

básicos, mas alguns políticos preferem gastar centenas de milhares de euros do dinheiro

dos impostos para oferecer charros de marijuana para fumar.


A canábis médica é uma questão de ideologia, não de compaixão.




Dianova Portugal: Considera que os italianos estão bem informados sobre o

consumo da marijuana?


Fabio Bernabei: Atente-se ao site da OEDT [Observatório Europeu da Droga e da

Toxicodependência, agência da União Europeia sedeada em lisboa]. Na página do “Perfil

da Prevenção”, dedicada à Itália, as entradas relacionadas com a “Prevenção Universal”

estão reportadas como uma longa lista de “Sem Informação”. É um bom retrato do nível

de conhecimento dos italianos sobre marijuana e outras drogas ilícitas. A razão? Bem,

quando se sabe o quão sérios são os políticos italianos, pode-se compreender melhor por

que preferem usar o dinheiro público de muitas outras formas que não em políticas sociais

efectivas.




                                                                                      2
Dianova Portugal ©
Dianova Portugal: Como está a correr o debate sobre a canábis médica em Itália?

Qual tem sido a reacção dos antiproibicionistas a este livro?


Fabio Bernabei: Não há debate em Itália acerca da Marijuana Médica e as poucas

informações disponíveis são apenas num sentido. Nos últimos dez anos foram publicados

apenas dois livros italianos a contestar o uso médico da canábis: o meu, para um público

geral, e outro para peritos, “Canábis e danos para a saúde”, escrito pelo professor Giovanni

Serpelloni, director do Departamento Nacional de Política Anti-Drogas. Não são assim

tantos para um assunto tão importante.


A reacção dos antiproibicionistas ao meu livro? Para muitos deles a canábis médica é uma

espécie de tabu que ninguém ousaria desafiar. Portanto, eles reagiram às vezes de forma

muito agressiva e indelicada. Outros, em contrapartida, escolhem fazer comentários

irónicos acerca do tipo estúpido [eu] que não compreende que fumar marijuana vai salvar o

mundo. Eu não me importo. Prefiro ouvir as vozes do Direito Internacional, as

autoridades científicas oficiais e a minha consciência.




Dianova Portugal: Defende que, se a canábis médica fosse reconhecida legalmente

e distribuída no Sistema Nacional de Saúde italiano, a produção, a venda e o

consumo recreativo aumentariam. O que descobriu no âmbito das suas pesquisas

acerca das causas e consequências da legalização?


Fabio Bernabei: O Sistema Nacional de Saúde não pode disponibilizar qualquer
substância sem a aprovação da AIFA (Agência Italiana de Medicamentos). Para evitar
ensaios clínicos, o lobby pró Marijuana Médica inventou uma espécie de aprovação baseada
num voto de uma maioria dos políticos locais na Assembleia Regional para diferentes



                                                                                         3
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doenças e terapias. Cada cabeça a sua sentença [Tot capita, tot sententiae].

Apenas para nomear uma, relativa ao aumento da criminalidade, no Canadá, o Supremo

Tribunal do país reconheceu o aumento do mercado negro, a seguir ao reconhecimento

político das propriedades “terapêuticas” da marijuana fumada. Os mesmos juízes que

deliberaram em 2001 a favor de um “mercado regulado” de marijuana médica, argumentam

agora que isto aconteceu devido à “burocracia” e à “qualidade” da marijuana médica do

fornecedor monopolista do sistema de saúde canadiano. Sempre a mesma velha história.

Assim, depois de cerca de dez anos, o próprio Supremo Tribunal, a fim de combater o

mercado negro, deu ordem ao Sistema de Saúde do Canadá para extinguir as limitações à

plantação, à venda e ao consumo de marijuana médica. Aposto que o mercado negro vai

explodir de novo, cada vez mais, como aconteceu sempre que as drogas ilícitas e perigosas

foram promovidas como “miraculosas”.




Dianova Portugal: O livro está a ser traduzido noutros idiomas?


Fabio Bernabei: Para já, não. E é pena, porque é um assunto importante, que afecta todas

as nações. Em inglês sugiro a leitura do “Cannabiz. The Explosive rise of medical marijuana

industry” [“Canabiz. A ascensão explosiva da indústria da marijuana médica”]. O autor, John

Geluardi, tem um ponto de vista oposto ao meu, mas o livro é excelente, pela quantidade e

qualidade das informações sobre aquilo que se está a passar realmente agora nos Estados

Unidos e que em breve se passará na Europa.




                                                                                        4
Dianova Portugal ©
Dianova Portugal: O seu background profissional é o jornalismo de investigação.

Como lhe parece que os órgãos de comunicação generalistas e especializados têm

tratado o tema da droga? Faz sentido chamá-lo “jornalista-activista”?


Fabio Bernabei: Em Itália temos algumas ONGs e “think tanks” [grupos de reflexão]

especializados no “tema da droga”, com os seus órgãos internos, e o seu nível de

conhecimento é muito profissional, mas temos ainda um grande fosso entre estes e os mass

media.


Por isso, fundei o Osservatorio Droga, membro da World Federation Against Drugs

[Federação Mundial Contra as Drogas], cuja missão relaciona-se com a arena mediática,

fornecendo informações ao público em geral, para uma melhor e mais profunda

compreensão do “tema da droga”, com o objectivo de alcançar um mundo livre de drogas.


De facto, nós acreditamos que o consumo de quaisquer drogas ilícitas é contrário à

dignidade pessoal do ser humano, porque elas alteram, às vezes permanentemente, os

processos cognitivos. A integridade destes processos cognitivos é parte do conceito de

dignidade humana de ser uma pessoa livre e responsável.




Dianova Portugal: No livro argumenta que os cientistas não reconhecem a

marijuana como um medicamento. O que devem as autoridades fazer com os

fármacos    legais,   perigosos,    actualmente     disponíveis   no    mercado     dos

medicamentos?


Fabio Bernabei: Tem razão. Se também os produtos medicinais regulares reconhecidos

como seguros para uso humano, depois de uma longa série de testes científicos necessitam



                                                                                     5
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de uma vigilância pós-marketing para averiguar as reacções adversas suspeitas. Imagine a

canábis, nunca aprovada por nenhumas agências nacionais de fármacos. E, sim, temos que

aumentar a monitorização contínua de qualquer tipo de medicamentos.




Dianova Portugal: “A canábis é de longe a droga ilícita mais cultivada, traficada e

consumida do mundo”, afirma a Organização Mundial de Saúde. Como é que se

pode combater o mercado negro e o crime organizado nesta matéria?


Fabio Bernabei: Como? Prevenção! Historicamente as organizações da Máfia começaram

a envolver-se no tráfico de droga, depois da erupção da procura da droga criada

propositadamente pelos activistas e pensadores da “beat generation”. Nós lutamos contra a

procura, vamos parar as actividades da Máfia baseadas no dinheiro relacionado com a

droga. Agora mais do que nunca.


A prevenção elementar mais bem-sucedida, baseada em provas, vem-nos da Islândia.

Graças a uma tecnologia totalmente nova, [os islandeses] estancaram a ascensão do

consumo excessivo de álcool e do fumo de marijuana, com o consumo de substâncias a

descer constantemente nos últimos dez anos e agora próximo de 1% [Ver mais

informações em www.icsra.net]. Qual foi o segredo? Quebrando o “isolamento” da

comunidade científica das políticas sociais do Governo geridas com um foco especial na

comunidade local. O projecto “Youth in Europe”, implementado pelo Icelandic Centre for

Social Research and Analysis e coordenado pela ECAD [European Cities Against Drugs],

está agora a promover em toda a Europa a experiência da Islândia.




                                                                                      6
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Dianova Portugal: Qual é a sua opinião sobre a lei portuguesa que descrimina o

consumo e a posse de todas as drogas ilícitas em pequenas doses? Um relatório do

Cato Institute refere que o “quadro legal da descriminalização tem sido um sucesso

retumbante, com lições evidentes que devem guiar os debates das políticas de

drogas em todo o mundo”.


Fabio Bernabei: O Cato Institute convidou o Procurador Gleen Greenwald para conduzir

um estudo da política da droga em Portugal. Depois de apenas três semanas em Portugal,

Greenwald regressou aos Estados Unidos e escreveu um livro caracterizando a política de

drogas portuguesa como um grande sucesso. Havia numerosos problemas com o estudo.

Greenwald foi selectivo na categoria de “idade” que usou, ignorando em grande parte o

grupo entre os 20 e os 24 anos no qual o consumo aumentou 50%.


O doutor Manuel Coelho, meu amigo e colega no Drug Watch International, presidente da

Associação para um Portugal Livre de Drogas, numa revisão os aos dados do estudo,

indicava “se olharmos para os números relacionados com a prevalência na população total

portuguesa, não há uma única categoria para as drogas, nem uma, que tenha decrescido

desde 2001. Entre 2001 e 2007, o consumo de droga em Portugal aumentou cerca de 4,2%

em termos absolutos”.


Portugal mantém-se como país com a mais elevada incidência de VIH relacionada com o

CDI (consumo de drogas por via injectável) e é o único país a registar um recente aumento.

Além disso, as investigações da OEDT de 2011 mostram uma situação estável no que diz

respeito ao consumo de canábis em Portugal, mas um possível aumento no consumo de

cocaína entre jovens adultos. O país tem ainda altos níveis no que toca ao problema do

consumo de drogas e da infecção por VIH e não demonstra desenvolvimentos específicos

na sua situação relativamente à droga que o distinguiria claramente de outros países


                                                                                       7
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europeus que têm uma política diferente. Isto é sustentado pelo relatório do Gabinete da

Política Nacional de Controlo de Drogas da Casa Branca (ONDCP) de 2011, que reviu o

“Relatório Cato” e considerou-o falho de precisão.




Dianova Portugal: A NORML [Organização Nacional para a Reforma das Leis da

Marijuana] tem um quadro de “princípios de consumo responsável de canábis”.

Dentro das suas preocupações, mencionam regras como “apenas para adultos”,

“não conduzir”, “resistir ao abuso” e “respeito pelos direitos dos outros”. Defende

no seu livro que este “consumo responsável” é impossível. Porquê?


Fabio Bernabei: A NORML e algumas outras organizações bem organizadas passam a

mensagem de que a canábis é uma droga relativamente inofensiva que podíamos legalizar.

Mas quando põem em relação esta droga psicadélica com a palavra “responsável”, estão a

desafiar o princípio aristotélico da “não-contradição”. A canábis é uma substância

psicadélica, que portanto altera a personalidade a as capacidades de julgamento do

consumidor, por um curto período ou para toda a vida, mais e mais profundamente do que

outras drogas, estimulantes ou sedativas. Há menos overdoses, mas danifica sempre a

integridade do carácter da pessoa.




Dianova Portugal: Um dos reparos às suas “100 respostas” é um certo ponto de

vista etnocêntrico acerca da biomedicina e do consumo da planta de canábis.

Algumas pessoas argumentam que a canábis é uma das 50 ervas “fundamentais” da

medicina tradicional chinesa. Como reage a estas críticas?




                                                                                     8
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Fabio Bernabei: Nasci e vivo em Roma, uma cidade famosa na História por misturar

todas as culturas e tradições de todo o mundo. Além disso, sou católico e rejeito qualquer

atitude xenófoba ou racista, mas nem tudo dos tempos ancestrais é verdade.


Relacionar a marijuana médica com a Medicina Herbal Chinesa, ou outras tradições, é

inapropriado. Porque os poucos documentos existentes e nunca verdadeiramente

analisados reportam afinal o modo de fumo como um consumo médico [o mais comum na

marijuana medicinal]. Mas, por cada possível, ou suposta, necessidade terapêutica

solucionada por algum composto de canábis, a ciência médica contemporânea dispõe de

muitos fármacos baratos, seguros e eficazes.




Dianova Portugal: Se publicasse uma segunda edição do “Cannabis Medica”, o que

actualizaria ou mudaria no livro?


Fabio Bernabei: Não aconteceram grandes mudanças ou uma actualização particular, mas

gostaria de escrever algumas linhas sobre a minha experiência pessoal como um “alvo” dos

“fundamentalistas” Pró-Canábis Médica. Penso que poderia ser útil para ficar bem claro

nas nossas mentes.




                                                                                       9
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Entrevista fabio bernabei_pt_outubro 2012

  • 1. Entrevista a Fabio Bernabei: “A canábis médica é uma questão de ideologia, não de compaixão” Fabio Bernabei é representante nacional de Itália na ECAD – European Cities Against Drugs e director do OsservatorioDroga (Itália). Neste ano, publicou o livro “Cannabis Medica. 100 Risposti sull’uso terapêutico della Marijuana”, no qual que se opõe de forma veemente à legalização da marijuana para fins medicinais. Segue-se uma entrevista exclusiva da Dianova Portugal na sequência desta edição. Dianova Portugal: No prefácio de “Cannabis medica…”, diz-nos que decidiu escrever o livro devido a uma “experiência pessoal” [a sobrevivência a um cancro], num contexto de “reconhecimento da marijuana para fins medicinais”. O seu livro foi uma tentativa de desafiar e influenciar a opinião pública, afirmando que nem tudo é inevitável? Fabio Bernabei: Não. Como sobrevivente a um cancro aprendi, entre outras, duas lições. Primeiro, a pessoa doente é alguém vulnerável que tem que se respeitar e proteger, e não se deve tentar tirar quaisquer vantagens ideológicas da doença. Políticos e organizações que nos anos 1960 estavam a lutar por uma política proibicionista, agora tornaram-se adeptos 1 Dianova Portugal ©
  • 2. de algumas terapias medicinais para doenças graves. Custa a acreditar. O Partido Radical Transnacional Radical, no seu manual “Os Radicais e as drogas”, assume a “estratégia medicinal” como uma das estratégias possíveis para alcançar a legalização das drogas. A estratégia menos radical, dizem eles, mas com um bónus: sem pânico na opinião pública. Segundo, as pessoas com cancro e outras doenças graves merecem o tratamento mais avançado, baseado na investigação médica mais inovadora, e não erva para fumar. Apenas um exemplo: em Itália o Sistema Regional de Saúde não tem dinheiro para oferecer uma radioterapia diária e generalizada nos hospitais e muitos, muitos, outros tratamentos básicos, mas alguns políticos preferem gastar centenas de milhares de euros do dinheiro dos impostos para oferecer charros de marijuana para fumar. A canábis médica é uma questão de ideologia, não de compaixão. Dianova Portugal: Considera que os italianos estão bem informados sobre o consumo da marijuana? Fabio Bernabei: Atente-se ao site da OEDT [Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, agência da União Europeia sedeada em lisboa]. Na página do “Perfil da Prevenção”, dedicada à Itália, as entradas relacionadas com a “Prevenção Universal” estão reportadas como uma longa lista de “Sem Informação”. É um bom retrato do nível de conhecimento dos italianos sobre marijuana e outras drogas ilícitas. A razão? Bem, quando se sabe o quão sérios são os políticos italianos, pode-se compreender melhor por que preferem usar o dinheiro público de muitas outras formas que não em políticas sociais efectivas. 2 Dianova Portugal ©
  • 3. Dianova Portugal: Como está a correr o debate sobre a canábis médica em Itália? Qual tem sido a reacção dos antiproibicionistas a este livro? Fabio Bernabei: Não há debate em Itália acerca da Marijuana Médica e as poucas informações disponíveis são apenas num sentido. Nos últimos dez anos foram publicados apenas dois livros italianos a contestar o uso médico da canábis: o meu, para um público geral, e outro para peritos, “Canábis e danos para a saúde”, escrito pelo professor Giovanni Serpelloni, director do Departamento Nacional de Política Anti-Drogas. Não são assim tantos para um assunto tão importante. A reacção dos antiproibicionistas ao meu livro? Para muitos deles a canábis médica é uma espécie de tabu que ninguém ousaria desafiar. Portanto, eles reagiram às vezes de forma muito agressiva e indelicada. Outros, em contrapartida, escolhem fazer comentários irónicos acerca do tipo estúpido [eu] que não compreende que fumar marijuana vai salvar o mundo. Eu não me importo. Prefiro ouvir as vozes do Direito Internacional, as autoridades científicas oficiais e a minha consciência. Dianova Portugal: Defende que, se a canábis médica fosse reconhecida legalmente e distribuída no Sistema Nacional de Saúde italiano, a produção, a venda e o consumo recreativo aumentariam. O que descobriu no âmbito das suas pesquisas acerca das causas e consequências da legalização? Fabio Bernabei: O Sistema Nacional de Saúde não pode disponibilizar qualquer substância sem a aprovação da AIFA (Agência Italiana de Medicamentos). Para evitar ensaios clínicos, o lobby pró Marijuana Médica inventou uma espécie de aprovação baseada num voto de uma maioria dos políticos locais na Assembleia Regional para diferentes 3 Dianova Portugal ©
  • 4. doenças e terapias. Cada cabeça a sua sentença [Tot capita, tot sententiae]. Apenas para nomear uma, relativa ao aumento da criminalidade, no Canadá, o Supremo Tribunal do país reconheceu o aumento do mercado negro, a seguir ao reconhecimento político das propriedades “terapêuticas” da marijuana fumada. Os mesmos juízes que deliberaram em 2001 a favor de um “mercado regulado” de marijuana médica, argumentam agora que isto aconteceu devido à “burocracia” e à “qualidade” da marijuana médica do fornecedor monopolista do sistema de saúde canadiano. Sempre a mesma velha história. Assim, depois de cerca de dez anos, o próprio Supremo Tribunal, a fim de combater o mercado negro, deu ordem ao Sistema de Saúde do Canadá para extinguir as limitações à plantação, à venda e ao consumo de marijuana médica. Aposto que o mercado negro vai explodir de novo, cada vez mais, como aconteceu sempre que as drogas ilícitas e perigosas foram promovidas como “miraculosas”. Dianova Portugal: O livro está a ser traduzido noutros idiomas? Fabio Bernabei: Para já, não. E é pena, porque é um assunto importante, que afecta todas as nações. Em inglês sugiro a leitura do “Cannabiz. The Explosive rise of medical marijuana industry” [“Canabiz. A ascensão explosiva da indústria da marijuana médica”]. O autor, John Geluardi, tem um ponto de vista oposto ao meu, mas o livro é excelente, pela quantidade e qualidade das informações sobre aquilo que se está a passar realmente agora nos Estados Unidos e que em breve se passará na Europa. 4 Dianova Portugal ©
  • 5. Dianova Portugal: O seu background profissional é o jornalismo de investigação. Como lhe parece que os órgãos de comunicação generalistas e especializados têm tratado o tema da droga? Faz sentido chamá-lo “jornalista-activista”? Fabio Bernabei: Em Itália temos algumas ONGs e “think tanks” [grupos de reflexão] especializados no “tema da droga”, com os seus órgãos internos, e o seu nível de conhecimento é muito profissional, mas temos ainda um grande fosso entre estes e os mass media. Por isso, fundei o Osservatorio Droga, membro da World Federation Against Drugs [Federação Mundial Contra as Drogas], cuja missão relaciona-se com a arena mediática, fornecendo informações ao público em geral, para uma melhor e mais profunda compreensão do “tema da droga”, com o objectivo de alcançar um mundo livre de drogas. De facto, nós acreditamos que o consumo de quaisquer drogas ilícitas é contrário à dignidade pessoal do ser humano, porque elas alteram, às vezes permanentemente, os processos cognitivos. A integridade destes processos cognitivos é parte do conceito de dignidade humana de ser uma pessoa livre e responsável. Dianova Portugal: No livro argumenta que os cientistas não reconhecem a marijuana como um medicamento. O que devem as autoridades fazer com os fármacos legais, perigosos, actualmente disponíveis no mercado dos medicamentos? Fabio Bernabei: Tem razão. Se também os produtos medicinais regulares reconhecidos como seguros para uso humano, depois de uma longa série de testes científicos necessitam 5 Dianova Portugal ©
  • 6. de uma vigilância pós-marketing para averiguar as reacções adversas suspeitas. Imagine a canábis, nunca aprovada por nenhumas agências nacionais de fármacos. E, sim, temos que aumentar a monitorização contínua de qualquer tipo de medicamentos. Dianova Portugal: “A canábis é de longe a droga ilícita mais cultivada, traficada e consumida do mundo”, afirma a Organização Mundial de Saúde. Como é que se pode combater o mercado negro e o crime organizado nesta matéria? Fabio Bernabei: Como? Prevenção! Historicamente as organizações da Máfia começaram a envolver-se no tráfico de droga, depois da erupção da procura da droga criada propositadamente pelos activistas e pensadores da “beat generation”. Nós lutamos contra a procura, vamos parar as actividades da Máfia baseadas no dinheiro relacionado com a droga. Agora mais do que nunca. A prevenção elementar mais bem-sucedida, baseada em provas, vem-nos da Islândia. Graças a uma tecnologia totalmente nova, [os islandeses] estancaram a ascensão do consumo excessivo de álcool e do fumo de marijuana, com o consumo de substâncias a descer constantemente nos últimos dez anos e agora próximo de 1% [Ver mais informações em www.icsra.net]. Qual foi o segredo? Quebrando o “isolamento” da comunidade científica das políticas sociais do Governo geridas com um foco especial na comunidade local. O projecto “Youth in Europe”, implementado pelo Icelandic Centre for Social Research and Analysis e coordenado pela ECAD [European Cities Against Drugs], está agora a promover em toda a Europa a experiência da Islândia. 6 Dianova Portugal ©
  • 7. Dianova Portugal: Qual é a sua opinião sobre a lei portuguesa que descrimina o consumo e a posse de todas as drogas ilícitas em pequenas doses? Um relatório do Cato Institute refere que o “quadro legal da descriminalização tem sido um sucesso retumbante, com lições evidentes que devem guiar os debates das políticas de drogas em todo o mundo”. Fabio Bernabei: O Cato Institute convidou o Procurador Gleen Greenwald para conduzir um estudo da política da droga em Portugal. Depois de apenas três semanas em Portugal, Greenwald regressou aos Estados Unidos e escreveu um livro caracterizando a política de drogas portuguesa como um grande sucesso. Havia numerosos problemas com o estudo. Greenwald foi selectivo na categoria de “idade” que usou, ignorando em grande parte o grupo entre os 20 e os 24 anos no qual o consumo aumentou 50%. O doutor Manuel Coelho, meu amigo e colega no Drug Watch International, presidente da Associação para um Portugal Livre de Drogas, numa revisão os aos dados do estudo, indicava “se olharmos para os números relacionados com a prevalência na população total portuguesa, não há uma única categoria para as drogas, nem uma, que tenha decrescido desde 2001. Entre 2001 e 2007, o consumo de droga em Portugal aumentou cerca de 4,2% em termos absolutos”. Portugal mantém-se como país com a mais elevada incidência de VIH relacionada com o CDI (consumo de drogas por via injectável) e é o único país a registar um recente aumento. Além disso, as investigações da OEDT de 2011 mostram uma situação estável no que diz respeito ao consumo de canábis em Portugal, mas um possível aumento no consumo de cocaína entre jovens adultos. O país tem ainda altos níveis no que toca ao problema do consumo de drogas e da infecção por VIH e não demonstra desenvolvimentos específicos na sua situação relativamente à droga que o distinguiria claramente de outros países 7 Dianova Portugal ©
  • 8. europeus que têm uma política diferente. Isto é sustentado pelo relatório do Gabinete da Política Nacional de Controlo de Drogas da Casa Branca (ONDCP) de 2011, que reviu o “Relatório Cato” e considerou-o falho de precisão. Dianova Portugal: A NORML [Organização Nacional para a Reforma das Leis da Marijuana] tem um quadro de “princípios de consumo responsável de canábis”. Dentro das suas preocupações, mencionam regras como “apenas para adultos”, “não conduzir”, “resistir ao abuso” e “respeito pelos direitos dos outros”. Defende no seu livro que este “consumo responsável” é impossível. Porquê? Fabio Bernabei: A NORML e algumas outras organizações bem organizadas passam a mensagem de que a canábis é uma droga relativamente inofensiva que podíamos legalizar. Mas quando põem em relação esta droga psicadélica com a palavra “responsável”, estão a desafiar o princípio aristotélico da “não-contradição”. A canábis é uma substância psicadélica, que portanto altera a personalidade a as capacidades de julgamento do consumidor, por um curto período ou para toda a vida, mais e mais profundamente do que outras drogas, estimulantes ou sedativas. Há menos overdoses, mas danifica sempre a integridade do carácter da pessoa. Dianova Portugal: Um dos reparos às suas “100 respostas” é um certo ponto de vista etnocêntrico acerca da biomedicina e do consumo da planta de canábis. Algumas pessoas argumentam que a canábis é uma das 50 ervas “fundamentais” da medicina tradicional chinesa. Como reage a estas críticas? 8 Dianova Portugal ©
  • 9. Fabio Bernabei: Nasci e vivo em Roma, uma cidade famosa na História por misturar todas as culturas e tradições de todo o mundo. Além disso, sou católico e rejeito qualquer atitude xenófoba ou racista, mas nem tudo dos tempos ancestrais é verdade. Relacionar a marijuana médica com a Medicina Herbal Chinesa, ou outras tradições, é inapropriado. Porque os poucos documentos existentes e nunca verdadeiramente analisados reportam afinal o modo de fumo como um consumo médico [o mais comum na marijuana medicinal]. Mas, por cada possível, ou suposta, necessidade terapêutica solucionada por algum composto de canábis, a ciência médica contemporânea dispõe de muitos fármacos baratos, seguros e eficazes. Dianova Portugal: Se publicasse uma segunda edição do “Cannabis Medica”, o que actualizaria ou mudaria no livro? Fabio Bernabei: Não aconteceram grandes mudanças ou uma actualização particular, mas gostaria de escrever algumas linhas sobre a minha experiência pessoal como um “alvo” dos “fundamentalistas” Pró-Canábis Médica. Penso que poderia ser útil para ficar bem claro nas nossas mentes. 9 Dianova Portugal ©
  • 10. -FIM- 10 Dianova Portugal ©