6. Herói épico Herói moderno
Representa um grupo. É apenas um indivíduo que representa
a si mesmo.
Recebe ajuda do alto. Muitas vezes, desvincula-se de um
plano sobrenatural.
Tem origem nobre. É um cidadão comum.
Possui características extraordinárias. Tem características ordinárias.
Enfrenta obstáculos incomuns. Enfrenta problemas do dia a dia.
7. Gênero lírico
Padrão de composição literária em que um eu
lírico, poético ou poemático manifesta seu mundo
interior.
17. Vem a aurora
Pressurosa
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Têm desmaios,
Já por fim.
(Gonçalves Dias, in “A tempestade”)
25. Pedir beijo é uma tolice
Que não merece perdão.
É como pedir a fruta
Que caia na nossa mão.
(Soares da Cunha)
26. Ubiquidade
Estás em tudo que penso,
Estás em quanto imagino;
Estás no horizonte imenso,
Estás no grão pequenino.
Estás na ovelha que pasce,
Estás no rio que corre:
Estás em tudo que nasce,
Estás em tudo que morre.
Em tudo estás, nem repousas,
Ó ser tão mesmo e diverso!
(Eras no início das coisas,
Serás no fim do universo).
Estás na alma e nos sentidos
Estás no espírito, estás
Na letra, e, os tempos
cumpridos,
No céu, no céu estarás.
(Manuel Bandeira)
30. Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
(Manuel Bandeira)
32. Camões
Os lusíadas
Canto primeiro (Proposição)
(1)
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
33. Camões
Os lusíadas
Canto primeiro (Proposição)
(2)
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte.
34. Camões
Os lusíadas
Canto primeiro (Invocação)
(4)
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
35. Camões
Os lusíadas
Canto primeiro (Invocação)
(5)
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda:
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
36. Escrava
Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu Senhor,
Eu te saúdo, olhar do meu olhar,
Fala da minha boca a palpitar,
Gesto das minhas mãos tontas de amor!
Que te seja propício o astro e a flor,
Que a teus pés se incline a Terra e o Mar,
P’los séculos dos séculos sem par,
Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu Senhor!
Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,
E, de mãos postas, em sentida prece,
Canto teus olhos de oiro e de veludo.
Ah! esse verso imenso de ansiedade,
Esse verso de amor que te fizesse
Ser eterno por toda a Eternidade!...
(Florbela Espanca)
40. No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos – cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
(Gonçalves Dias, in “I-Juca Pirama”)
42. Vem a aurora
Pressurosa
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Têm desmaios,
Já por fim.
43. O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
De vivas cores
Adorna as flores
Que entre verdores
Se vê brilhar.
44. Um ponto aparece,
Que o dia entristece,
O céu, onde cresce,
De negro a tingir;
Oh! vede a procela
Infrene, mas bela,
No ar s’encapela
Já pronta a rugir!
45. Não solta a voz canora
No bosque o vate alado,
Que um canto d’inspirado
Tem sempre a cada aurora;
É mudo quanto habita
Da terra n’amplidão.
A coma então luzente
Se agita do arvoredo
E o vate um canto a medo
Desfere lentamente,
Sentindo opresso o peito
De tanta inspiração.
46. Fogem do vento que ruge
As nuvens aurinevadas,
Como ovelhas assustadas
Dum fero lobo cerval;
Estilham-se como as velas
Que no alto mar apanha,
Ardendo na usada sanha,
Subitâneo vendaval.
47. Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha – salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.
Disseras que viras vagando
Nas furnas do céu entreabertas
Que mudas fuzilam, – incertas
Fantasmas do gênio do mal!
48. E no túrgido ocaso se avista
Entre a cinza que o céu apolvilha,
Um clarão momentâneo que brilha,
Sem das nuvens o seio rasgar;
Logo um raio cintila e mais outro,
Ainda outro veloz, fascinante,
Qual centelha que em rápido instante
Se converte d’incêndios em mar.
49. Um som longínquo cavernoso e oco
rouqueja e n’amplidão do espaço morre;
Eis outro ainda mais perto, inda mais rouco,
Que alpestres cimos mais veloz percorre,
Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco
Do Norte ao Sul – dum ponto a outro corre:
Devorador incêndio alastra os ares,
Enquanto a noite pesa sobre os mares.
50. No últimos cimos dos montes erguidos
Já silva, já ruge do vento o pegão;
Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
Até que lascados baqueiam no chão.
Remexe-se a copa dos troncos altivos,
Transtorna-se, tolda, baqueia também;
E o vento, que as rochas abala no cerro,
Os troncos enlaça nas asas de ferro,
E atira-os raivoso dos montes além.
51. Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruinas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.
52. Inda ronca o trovão retumbante,
Inda o raio fuzila no espaço,
E o corisco num rápido instante
Brilha, fulge, rutila e fugiu.
Mas se à terra desceu, mirra o tronco,
Cega o triste que iroso ameaça,
E o penedo, que as nuvens devassa,
Como tronco sem viço partiu.
53. Deixando a palhoça singela,
Humilde labor de pobreza,
Nivela os fastígios sem dó;
E os templos e as grimpas soberbas,
Palácio ou mesquita preclara,
Que a foice do tempo poupara,
Em breves momentos é pó.
54. Cresce a chuva, os rios crescem
Pobres regatos s’empolam,
E nas turbas ondas rolam
Grossos troncos a boiar!
O córrego qu’inda há pouco
No torrado leito ardia,
É já torrente bravia
Que da praia arreda o mar.
55. Mas ai do desditoso,
Que viu crescer a enchente
E desce descuidoso
Ao vale, quando sente
Crescer dum lado e d’outro
O mar da aluvião!
Os troncos arrancados
Sem rumo vão boiantes;
E os tetos arrasados,
Inteiros, flutuantes,
Dão antes crua morte,
Que asilo e proteção!
56. Porém no ocidente
S’ergue de repente
O arco luzente,
De Deus o farol:
Sucedem-se as cores,
Qu’imitam as flores,
Que lembram primores
Dum novo arrebol.
57. Nas águas pousa;
E a base viva
De luz esquiva,
E a curva altiva
Sublima ao céu;
Inda outro arqueia,
Mais desbotado,
Quase apagado,
Como embotado
De tênue véu.
58. Tal a chuva
Transparece,
Quando desce
E ainda vê-se
O sol luzir;
Como a virgem,
Que numa hora
Ri-se e cora,
Depois chora
E torna a rir.
61. Número de versos Nome da estrofe
1 Monóstico
2 Dístico ou parelha
3 Terceto
4 Quarteto ou quadra
5 Quinteto ou quintilha
6 Sexteto ou sextilha
7 Sétima, septena ou septilha
8 Oitava
9 Novena ou nona
10 Décima
63. Embora seja céu de estio,
As estrelas morrem de frio.
(Alphonsus de Guimaraens, in “Barcarola”)
64. Os miseráveis, os rotos
São as flores dos esgotos.
São espectros implacáveis
Os rotos, os miseráveis.
São prantos negros de furnas
Caladas, mudas, soturnas.
(Cruz e Sousa, in “Litania dos pobres”)
68. Trigueirinha, – foge, foge,
– Vê que eu não sou trovador,
Eu sou filósofo, – ouviste?
Eu não entendo de amor.
(Junqueira Freire, in “A trigueirinha”)
70. Numa colina azul brilha um lugar calado.
Belo! E arrimada ao cabo da sombrinha,
Com teu chapéu de palha, desabado,
Tu continuas na azinhaga: ao lado
Verdeja, vicejante, a nossa vinha.
(Cesário Verde, in “De verão”)
72. Amigo! O campo é o ninho do poeta...
Deus fala, quando a turba está quieta,
Às campinas em flor.
– Noivo – Ele espera que os convivas saiam...
E n’alcova, onde lâmpadas desmaiam,
Então murmura – amor –
(Castro Alves, in “Sub tegmine fagi”)
74. – Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
(Manuel Bandeira, in “Profundamente”)
76. Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa alguma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
(Fernando Pessoa, in “Poemas inconjuntos”)
78. Quando eu nasci, raiava
O claro mês das garças forasteiras;
Abril, sorrindo em flor pelos outeiros,
Nadando em luz na oscilação das ondas,
Desenrolava a primavera de ouro:
E as leves garças, como folhas soltas
Num leve sopro de aura dispersadas,
Vinham do azul do céu turbilhonando
Pousar o voo à tona das espumas...
(Vicente de Carvalho, in “Palavras ao mar”)
80. Também eu ergo às vezes
Imprecações, clamores e blasfêmias
Contra essa mão desconhecida e vaga
Que traçou o meu destino... Crime absurdo
O crime de nascer! Foi o meu crime.
E eu expio-o vivendo, devorado
Por esta angústia do meu sonho inútil.
Maldita a vida que promete e falta,
Que mostra o céu prendendo-nos à terra,
E, dando as asas, não permite o voo!
(Vicente de Carvalho, in “Palavras ao mar”)
82. Rimas paralelas
(emparelhadas ou geminadas)
AABB
Pode em redor de ti, tudo se aniquilar:
– Tudo renascerá cantando ao teu olhar,
Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,
Porque a vida perpétua arde em tuas entranhas!
(Olavo Bilac, in “A alvorada do amor”)
83. Rimas intercaladas
(interpoladas, opostas ou contrapostas)
A - - A
Eu me lembro! eu me lembro! – Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
(Casimiro de Abreu, in “Deus”)
84. Rimas alternadas
(cruzadas, entrecruzadas ou entrelaçadas)
ABAB
Filhos do Novo Mundo! ergamos nós um grito
Que abafe dos canhões o horríssono rugir,
Em frente do oceano! em frente do infinito!
Em nome do progresso! em nome do porvir.
(Castro Alves, in “No meeting do comité du pain”)
85. Rimas pobres
Entre as ruinas de um convento,
De uma coluna quebrada
Sobre os destroços, ao vento
Vive uma flor isolada
(Alberto de Oliveira, in “Flor santa”)
86. Rimas ricas
O coração que bate neste peito
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito.
(Luís Guimarães, Jr. in “O coração que bate...”)
87. Rimas consoantes
Casos de amor! tenho os ouvidos cheios
De ouvi-los relatar em prosa e em versos:
Juras, ingratidões, ciúmes, anseios,
Almas traidoras, corações perversos.
(Bastos Tigre, in “Amores alheios”)
88. Rimas toantes
Em cima daquele morro
passa boi, passa boiada;
também passa uma menina
de cabelo encacheado.
89. Rimas toantes
“Na encruzilhada da vida
Muitas vidas vi passar...”
Disse-me o poeta, naquela
Noite clara, ao pé do mar.
E nas mãos magras e longas
Os dedos punha a contar:
“Uma sombra, duas sombras...
Mas passaram sem parar.”
(Olegário Mariano, in “Romance ao pé do mar”)
90. Rimas toantes
O cristal do Tejo Anarda
Em ditosa barca sulca;
Qual perla, Anarda se alinda,
Qual concha, a barca se encurva.
(Botelho de Oliveira, in “Romance I”)