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INTERTEXTUALIDADES NO PROCESSO DE RECONSTITUIÇÃO DE TEXTOS DE
ESCÓLIOS
Rui Miguel O. Ventura Duarte
Universidade de Aveiro
1. Introdução
Da popularidade de retórica de Hermógenes de Tarso (sécs. II-III d.C.)1
ao longo
das eras temos como indício a profícua produção de comentários por retores de
escola. Entre esses comentários, no que concerne em particular à sua teoria dos
estados de causa na retórica jurídica, expressa no tratado Περὶ στάσεων (St.), existe
um abundante corpus, cuja tradição textual é inseparável da do texto por eles
comentado e que figura numa família restrita, designada P por Hugo Rabe2
. Esses
comentários (ou escólios) tiveram até à data uma única edição, por Christian Walz, no
volume 7 da sua série Rhetores Graeci, pp. 104-696 (W7).
Os escólios são um tipo especial de textos. Constituindo comentários e reflexões
de leitura sobre um texto de base, testemunham privilegiadamente a recepção da obra
que comentam. Por vezes, como é o caso, foram agregados ao próprio texto de base
no processo da transmissão manuscrita. Os mestres-escola que se debruçaram sobre
o texto hermogeniano e o ensinaram nas escolas foram, ao longo de séculos,
redigindo comentários, recolhendo outros ainda, seleccionando os que lhes
interessavam, adaptando e aproveitando deles alguns elementos e fazendo sínteses e
confrontos com outros. Ora os citavam literalmente ou de memória (de forma que, por
vezes, ou se pode tornar difícil detectar com precisão o rasto do intertexto, ou este é
erroneamente citado), ora os parafraseavam, ora simplesmente a eles aludiam.
Compilaram os materiais ao dispor na maior quantidade que lhes era possível, e
copiaram-nos em novos manuscritos, assim os transmitindo aos seus sucessores.
1
Cf. a edição Hermogenis opera, ed. H. Rabe, Rhetores Graeci.
2
Cf. Rabe, “Rhetoren Corpora”, p. 323.
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Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
Rui Miguel O. Ventura Duarte
Faziam-no com propósitos pedagógicos: para preparação e apoio aos seus cursos
sobre Hermógenes e sua obra3
. O resultado deste processo de composição é uma
rudis indigestaque molis de anotações sem ordenação e sem obediência aparente a
qualquer plano4
, para compreensão da retórica em geral, e ainda como introdução e
explanação pormenorizada para cada tratado particular5
.
No seu interior, os escólios permitem discernir a existência de uma teia intrincada
de relações e debates com outros comentários e comentaristas, retores e filósofos
(suas fontes dos pontos de vista doutrinário e teórico). Introduziam novas reflexões
sobre os comentários alheios, debatendo e polemizando com eles. O centro de
interesse e das polémicas doutrinárias e escolares — e mais uma vez nos referimos
aos escólios de que trata este trabalho — deixou de se restringir, por isso, ao texto de
Hermógenes. Alargou-se também aos próprios escólios.
Na nossa tese de doutoramento, trabalhámos sobre uma parte dos escólios P,
correspondente a W7 pp. 104-254. Pudemos descobrir o traço de várias fontes destes
escólios6
. Todavia, esta é uma tarefa ainda inacabada, dada a densa trama de
intertextos que estruturam o processo da sua composição. Muitos deles são, por certo,
impossíveis de discernir com precisão, pois muito do que se escrevia era livremente
incorporado em textos próprios, passando deste modo a integrar património escolar e
comum de textos, como haverá ocasião de exemplificar.
Para a reconstituição e edição crítica de um texto, objecto que foi de grande
número de alterações ao longo da sua tradição manuscrita, que necessidade e
utilidade há em redescobrir os seus intertextos? Qual o grau de distanciamento entre o
intertexto e o texto que dele se faz eco? Cabem ao editor alguma opção e liberdade
crítica? E com que critérios, face a dificuldades de escolha das variantes? Com este
trabalho problematizar-se-ão questões como estas. O seu tratamento será ilustrado
concretamente no texto que foi objecto da nossa tese.
3
Cf. Prolegomenon sylloge, ed. H. Rabe, praefatio § 6, p. XLIII.
4
Ib. LXXIII.
5
Id., “Rhetoren-Corpora”, p. 324.
6
Comentários ao tratado sobre os Estados de causa de Hermógenes de Tarso por autor
anónimo.
2
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Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
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2. Relações intertextuais
2.1. Escólios: tipos de relações intertextuais
De um dos níveis de relações intertextuais há indícios internos ao texto dos
escólios. A este nível, os próprios escólios são o centro do debate e réplica entre
comentaristas de Hermógenes (o Autor por excelência), por outras palavras, são
comentários a comentários. Alguns exemplos:
1.1.1-7 ᾿Εδόκει τισί χρῆναι τὸν τεχνικὸν εὐϑὺς ἐν ἀρχῇ προτάξαι τὸν περὶ
τῆς ῥητορικῆς ὅρον, εἴγε ἡ νῦν αὐτῷ προκειμένη πραγματεία ῥητορική ἐστίν.
᾿Αλλὰ περὶ μέρους — φασίν — ἔλεγε τῆς ῥητορικῆς, οἱ δὲ ὅροι περί τινων
τελείων βούλονται εἶναι· εἰκότως οὖν οὐχ ὡρίσατο τὴν ῥητορικήν· οὐ γὰρ
περὶ πάσης αὐτῷ προὔκειτο λέγειν. ᾿Αλλά φαμέν ὅτι πολλῷ μᾶλλον περὶ
μέρους αὐτῆς διαλεγόμενος ὤφειλε τὸν ὅρον τῆς ῥητορικῆς προτάξαι· μὴ
γὰρ μαϑόντες τὸ ὅλον οὐκ ἂν δυνηϑείημεν τὰ μέρη αὐτοῦ γινώσκειν.
Entendiam alguns críticos que o Autor deveria ter estabelecido logo de início
a definição de retórica, já que o objecto de estudo que presentemente se
propõe é a retórica. Mas — afirmam — ele falava sobre uma parte da
retórica. As definições pretendem dar conta de coisas inteiras. Justamente,
portanto, ele não definiu a retórica, pois não se propunha falar sobre a sua
totalidade. Nós, porém, afirmamos que, uma vez que ele discorre sobre uma
parte da retórica, com maioria de razão deveria estabelecer previamente a
sua definição, pois sem apreendermos a totalidade não poderemos
conhecer as suas partes.
1.11.15-21 Τινές δέ φασι μὴ δηλοῦσϑαι διὰ τοῦ “πανταχοῦ” (̃ St. 28.7) τὸ
πανηγυρικόν· περὶ γὰρ στάσεων ὁ λόγος τῷ ῥήτορι, τὸ δὲ πανηγυρικὸν
ἀστασίαστον. ᾽Αλλὰ πρῶτον μὲν περιττῶς ἂν δόξῃ κεῖσϑαι τὸ “πανταχοῦ”.
῎Επειτα οὐδὲ ἀστασίαστον ἀεὶ τὸ πανηγυρικὸν, ἀλλ᾿ ἔστιν ὅτε καὶ αὐτὸ
στασιάζεται, ὥσπερ ἐπὶ τοῦ πολιτικοῦ πανηγυρικοῦ, περὶ οὗ φησίν ἐν τῷ
Περὶ ἰδεῶν ὁ Ἑρμογένης.
Afirmam alguns que a espécie panegírica não se revela através da menção
“em todas as circunstâncias” (St. 28.7), pois o Autor trata dos estados de
causa e no discurso panegírico não há causa alguma em discussão. Porém,
em primeiro lugar, a menção “em todas as circunstâncias” parecerá
supérflua. Em segundo, nem sempre os estados de causa estão ausentes
da espécie panegírica, mas sucede que esta discute também uma causa,
como no discurso panegírico político, sobre o qual fala Hermógenes no
tratado Categorias de estilo.
1.16.3-4 Φαίνεται δὲ περὶ τῶν ἰδεῶν εἰς τὸ μετέπειτα λέγων, ἀλλ᾿ οὐ
διαίρεσιν ἡμῖν τοιαύτην, οἵαν τινές ἔφασαν παραδιδούς.
É um facto que ele fala mais adiante das categorias de estilo, mas sem nos
transmitir uma divisão como a que alguns asseveraram.
Nos exemplos citados, comenta-se, por um lado, a doutrina de Hermógenes por si
3
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mesmo. Por outro, compara-se esta doutrina com a de outros teorizadores e faz-se o
mesmo com as críticas que lhe são dirigidas. Em todos os casos, resulta sempre no
elogio da razão e inteligência do retor de Tarso7
.
2.2. Critérios de tratamento dos intertextos
Começaremos por distinguir três categorias de intertextos relativamente aos
escólios. Esta distinção prende-se tanto com critérios de rigor — pela diferentes
naturezas e funções dos vários intertextos —, como de precisão e hierarquização da
informação a prestar ao leitor, desde logo na elaboração dos próprios aparatos que
acompanham o texto.
As fontes, pois, compreendem todos os textos de conteúdo teórico, incluindo
outros escólios ou matéria de teoria filosófica e retórica, com os quais se pode
discernir a existência de uma rede intrincada de relações. Entre estas podem nomear-
se Hermágoras de Temnos8
, o “triunvirato” Sópatro, Marcelino e Siriano9
, Porfírio10
,
Platão, Aristóteles11
, etc..
Em primeiro lugar, os tratados de Hermógenes são os intertextos primordiais e os
mais frequentemente citados. Deles dependem na essência os escólios, são aqueles
com quem estes têm a relação intertextual mais substancial.
A terceira categoria de intertextos denomina-se em latim loci. Compreendem
referências literárias, textos citados ou aludidos de escritores (oradores e
historiógrafos) como exemplos ilustrativos da doutrina exposta. As referências são,
entre os oradores, Isócrates, Demóstenes e Esquines, e, entre os historiadores,
7
Cf. a nossa tese pp. 32-33 e notas 47 a 49.
8
Hermagorae Temnitae Testimonia et fragmenta, ed. Dieter Matthes.
9
Assim se lhes refere Hugo Rabe, “Die Dreimänner-Kommentar W IV”, pp. 578-590. Para uma
notícia sobre os três escoliastas cf. Kennedy, Greek Rhetoric, respectivamente 104-109, 109-
112, 112-115. Comentários de conjunto dos três escoliastas Uma tradição transmite uma
compilação de escólios dos três, tradição essa editada por Christian Walz, Rhetores Graeci vol.
IV, pp. 39-846. De Sópatro (da segunda metade do século IV), existe ainda um corpus à parte,
editado na mesma série W5 1-211. De Siriano (da primeira metade do século V), há também
uma edição por Rabe, Rhetores Graeci (R2).
10
Fragmentos de Porfírio estão publicados por M. Heath, “Porphyry’s rhetoric: testimonia and
fragments”, pp. 3-38.
11
Cf. os aparatos de FONTES.
4
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Heródoto e Tucídides12
.
Seguidamente, expor-se-ão os princípios adoptados na utilização dos intertextos
para a reconstituição crítica do texto dos escólios. Deve obedecer-se estritamente à
forma do texto no intertexto? Que grau de variação se admite? Estes critérios não
influenciarão somente a reconstituição do texto mas ainda a elaboração dos aparatos,
pois estes devem dar conta, com clareza, dos graus de relação dos intertextos com o
texto dos escólios e do uso que deles faz o editor.
O critério geral primordial foi o da auctoritas da fonte. Em primeiro lugar,
Hermógenes. Se os seus textos presidiram à composição dos escólios, foram pela
mesma razão determinantes para a reconstituição crítica, a espaços, do texto dos
mesmos. O critério da auctoritas, regra geral, é válido igualmente para as fontes
teóricas e para os loci literários.
Este critério não é, contudo, absoluto, nem uniforme. Em casos de intertextos (por
exemplo, Hermógenes, ou um locus literário) citados com variações, pelo escoliasta
anónimo ou por uma fonte deste, aceitou-se em princípio tal uariatio, sem reconstituir
a partir da forma mais remota da fonte. Em alguns casos justificados, porém, achou-se
necessário apelar para a forma mais remota da fonte.
No concernente à construção dos aparatos, utilizaram-se critérios vários de
referência. Quando se trata de citação literal ou paráfrase aproximada da letra, citou-
se simplesmente a fonte. Tratando-se de comentário, elemento de doutrina ou
exemplo não literalmente citados, referiu-se a fonte precedida de “cf.”. Em casos tais,
o comentário, elemento de doutrina aludido ou exemplo ilustrativo podem ser
património escolar retórico comum, não havendo, por consequência, a certeza de que
tenham sido utilizados como fontes directas nos nossos escólios. Em 1.34.10-11 o
escoliasta cita o exemplo de alguém achado junto de um corpo recém-degolado. Este
exemplo encontra-se em Sópatro W5 55.19-20, 76.6-7. Ambos (o Anónimo e Sópatro)
se reportam a Hermógenes St. 30.19-21 (ὁ ϑάπτων τὸ νεοσφαγὲς σῶμα ἐπ᾿ ἐρημίας καὶ
φωραϑεὶς καὶ φόνου φεύγει). O Anónimo aproxima-se de Sópatro no tocante à mera
formulação linguística do exemplo. Substitui as pessoas do exemplo, adequando-o às
palavras de Hermógenes que está a comentar (loc. cit.), onde o exemplo tinha
12
Cf. os aparatos de LOCI e o Index locorum.
5
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pessoas indeterminadas, e produzindo comentário mais completo. Todavia, a simples
semelhança linguística (παρίστατο νεοσφαγεῖ σώματι πατρὸς ἐπ᾿ ἐρημίας Anónimo:
παρίστατό τις ἐπ᾿ ἐρημίας νεοσφαγεῖ σώματι Sópatro) não prova que os escólios de
Sópatro sejam fonte directa do Anónimo. Parece antes que se trata de um exemplo
recorrente no ensino retórico.
No aparato hermogeniano, indicam-se sempre as obras do retor que o texto cita,
literalmente ou em paráfrase. Existem referências a todos os restantes quatro tratados
constantes do corpus Hermogenianum, ainda que a larga maioria se reporte ao tratado
Περὶ στάσεων13
. Alusões a matéria teórica tratada por Hermógenes em outros lugares,
mas que não constituem citação do retor, são dadas em nota ad loca à tradução com
a respectiva referência.
3. Constitutio textus a partir dos intertextos
Os critérios expostos parecerão certamente secos e não farão sentido algum se
não forem testados pela análise de casos. De todos eles se dá conta na introdução da
nossa tese (p. 54-55) e no aparato crítico. Dispensando-nos de os listar e tratar aqui
na totalidade, não queríamos, contudo, deixar de comentar alguns deles, a título
ilustrativo.
3.1. A partir de Hermógenes
Principiaremos pelo corpus hermogeniano.
O primeiro caso objecto de comentário é 2.54.21 ἀνηλωκέναι, restituído com base
em Hermógenes St. 31.2. O manuscrito Pa apresenta ἀνηλωκέναι. Porém, uma
segunda mão que interveio na correcção do texto (designada pela sigla Pa2
) corrigiu
sobre a linha para ἀναλωκέναι. O texto de Hermógenes, neste códice, apresenta a
mesma lição ἀνηλωκέναι, e ἀνηλωκέναι como correcção supralinear. Em Pc, sucede o
13
V. lista completa dos passos hermogenianos ou aludidos no Index Hermogenianum.
6
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contrário: apresenta ἀναλωκέναι, corrigindo a mesma mão, sobre a linha, para
ἀνηλωκέναι. O Palatinus graecus 23 (Vh), códice que representa uma segunda linha
divergente dentro do ramo da tradição manuscrita a que pertence Pa, lê ἀνηλωκέναι.
A tradição é notoriamente oscilante. A lição de Hermógenes serve, pois, a decisão
sobre a lição a editar.
Outro caso é o da restituição 2.70.10 ὑποδεξάμενος, omitido pelos testemunhos. O
texto de Hermógenes St. 31.18 fornece a base para a restituição:
πορνοβοσκὸς δέκα νέους κωμάζοντας ἐπὶ τὴν οἰκίαν αὐτοῦ ὄρυγμα ποιήσας
ὑποδεξάμενος ἀπέκτεινε.
Um proxeneta escavou uma armadilha para dez jovens que foram a sua
casa fazer uma festa; quando os recebeu, matou-os.
O contexto induz a restituição: o escoliasta começou por citar Hermógenes, para
seguidamente se ocupar de comentar a citação, segmento frásico a segmento frásico
e palavra a palavra. O escólio termina com comentário às últimas palavras da citação
(linha 16), sem a omissão de ὑποδεξάμενος. A restituição fundamenta-se, pois, na
compulsão do texto de Hermógenes, cruzada com o confronto da última linha do
escólio.
Caso similar é 2.71.18, ἀπέκτεινε, “matou”, restituído a partir de St. 32.13, sendo
que os testemunhos manuscritos apresentam o verbo simples κτεῖνε. Igualmente
neste caso, a compulsão do próprio texto do escólio (linha 20) serviu de argumento
suplementar para a restituição: aí, o códice Pa lê ἀποκτεῖναι, contra Pc, que lê κτεῖναι.
Em 3.93.3, suprimiu-se o advérbio de negação οὐ, pelo confronto com St. 32.8. Os
testemunhos manuscritos lêem: τὸ μὴ προειλημμένον οὐ συνέστηκε, “a questão em
que não há juízo prévio não tem consistência”. Em Hermógenes, por sua vez, lê-se:
τὸ μὴ προειλημμένον συνέστηκε, “a questão em que não há juízo prévio tem
consistência”.
A restituição de 3.97.10 ἂν εὑρεϑείη, “descobrir-se-ia” (em que ἂν é partícula
adverbial que, regendo o modo optativo, tem valor de possibilidade, traduzindo-se pelo
condicional português), com base St. 34.15, exige-se pelo facto de a tradição
manuscrita neste passo se achar corrupta, devido ao fenómeno da homofonia. Pc lê
ἀνευρεϑείη, “não se descobria” (em que ἀν é prefixo de negação). Esta é também a
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lição de Pa, não a da mão do copista, que está ilegível, mas da correcção feita por
uma terceira mão (Pa3
).
Relativamente ao caso 13.3.1, νόμους, com base em St. 39.22, os testemunhos
manuscritos lêem, respectivamente: νομικὰ Pa, νομικαὶ Pc. Cite-se o passo em
questão:
Εἴπερ αἱ κατὰ ῥητὸν στάσεις αἱ μὲν νόμους, αἱ δὲ διαϑήκας, αἱ δὲ
ψηφίσματα ἔχουσιν ὑποκείμενα, πῶς οὐ καὶ διαϑητικάς εἰ τύχοι λέγομέν
τινας στάσεις καὶ ψηφισματικάς, ἀλλ’ ἐκ τοῦ ἑνὸς κοινῶς νομικάς; Λεκτέον
δὲ ὡς ἐκ τοῦ κυριωτέρου ἡ ἐπὶ πάντα ὀνομασία κεχώρηκε.
Já que dos estados de causa legais relativos a um texto, uns se
fundamentam em leis, e outros, por outro lado, em testamentos e em
decretos, por que razão não designamos eventualmente como
“testamentários” e “decretórios” alguns estados de causa, mas, partindo de
um só género de texto, os designamos em geral como “legais”? Responder-
se-á que a denominação do mais importante foi aplicada a todos.
Hermógenes, no passo citado, enumera diversos tipos de textos legais, aos quais
os estados de causa legais respeitam. E o escoliasta retoma a enumeração de
Hermógenes. A enumeração é reforçada por meio das partículas μὲν e δὲ, que
colocam numa relação de certo modo opositiva as leis (νόμοι) face aos demais tipos
de textos legais. O que está em causa, para o escoliasta, é a designação genérica
destes estados de causa como νομικαί “legais” (adjectivo), por sinédoque, a partir do
vocábulo designativo de um dos vários tipos de textos, precisamente νόμος, “lei”
(nome). Só se pode, por conseguinte, entender o raciocínio do escoliasta face a
Hermógenes se se restituir νόμους.
Como se poderiam, pois, explicar as lições νομικὰ em Pa e νομικαὶ em Pc? Poder-
se-iam explicar por atracção, respectivamente, de ὑποκείμενα “fundamentos” e de αἱ
μὲν, “uns”.
3.2. A partir das fontes
De reconstituição de lições do texto a partir das fontes teóricas do escoliasta,
8
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passaremos a comentar alguns casos.
O primeiro caso a comentar é a definição de τέχνη, “arte”, citada pelo escoliasta
(1.1.14-15, 1.3.7, 1.5.8-9). A fonte é estóica, e remonta a Zenão (Von Arnim SVF I 21
frg. 73 e II 30-31 frgs. 93-97):
Σύστημα ἐκ καταλήψεων συγγεγυμνασμένων πρός τι τέλος εὔχρηστον ἐν τιῶ
βίιῳ.
Um sistema que se baseia em concepções submetidas a exercitação, com
vista a um fim proveitoso para a vida.
Embora originalmente estóica, a definição teve larga aceitação e aplicação14
. Tal
como apresentada, é a corrente, daí que tenha sido assinalada no aparato como
uulgata. A sua tradição, porém, não é uniforme, antes apresenta variantes. É de crer
que o arquétipo P apresentasse σύστημα ἐγκαταλήψεων ἐγεγυμνασμένων. O Anónimo
seguiu certamente uma tradição de escoliastas que, a propósito do comentário a
Hermógenes St. 28.3, πολλῶν ὄντων καὶ μεγάλων, “sendo muitos e importantes os
elementos…”, tivessem citado a definição com variante.
Examinaremos por partes. Quanto a ἐκ καταλήψεων, o copista de Pa escreveu de
início ἐγκαταλήψεων. Depois, provavelmente ao rever o seu trabalho (designaram-se
tais intervenções da primeira mão como Pa1
), corrigiu o prefixo ἐγ- (ἐν-) sobre a linha
para ἐκ, como preposição com καταλήψεων. Fê-lo nas três vezes. Pc apresenta
sempre ἐγκαταλήψεων. Nos escoliastas de que o Anónimo mais depende, a oscilação
das leituras variantes é também um factor de monta: Siriano W4 41.26 e R2 6.4 lê
ἐγκαταλήψεων; Sópatro W4 47.8 ἐκ καταλήψεων mas W5 18.7 ἐγκαταλήψεων.
Para a reconstituição ἐκ καταλήψεων, aceitou-se, pois, a correcção supralinear da
primeira mão em Pa (Pa1
) no confronto com a auctoritas da fonte estóica. Porém, o
contexto, o texto hermogeniano e a sequência dos escólios fornecem elementos
adicionais para a decisão do editor. O próprio retor de Tarso citara, em paráfrase e
sem referir a fonte, a fórmula de Zenão: St. 28.4-6 τέχνην ποιεῖ καταληφϑέντα τε ἐξ
ἀρχῆς δηλαδὴ καὶ συγγυμνασθέντα τιῶ χρόνῳ σαφῆ τε τὴν ὠφέλειαν παρεχόμενα τιῶ
βίῳ, “… elementos que formam uma arte, concebidos evidentemente no início, e com
o tempo organizados pela exercitação, e que apresentam uma clara utilidade para a
vida”. Substituiu o nome κατάληψις pela forma de particípio aoristo passivo
14
Cf. Heath, Hermogenes' On issues, p. 61.
9
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καταληφϑέντα do verbo καταλαμβάνω, seu cognato. Deste modo o entendeu, e bem,
o Anónimo, pois nos escólios 1.5 e 1.6 faz a ligação entre καταληφϑέντα do lema
hemogeniano e κατάληψις da definição zenoniana. Assim também o entendera
Sópatro W5 18.10, ao relacionar explicitamente o particípio καταληφθέντα com a
expressão ἐκ καταλήψεων. O raciocínio expresso pelo escoliasta, pois, não será
perfeitamente inteligível sem esta restituição.
Por outro lado, a definição estóica tinha συγγεγυμνασμένων, forma participial de
συγγυμνάζω, “exercitar, submeter a exercitação”, com prefixo συν-. O mesmo
problema de variação entre os testemunhos se coloca aqui. Pa lê γεγυμνασμένων, e
Pc ἐγγεγυμνασμένων. Os outros escoliastas, por seu turno, transmitem: Siriano W4
41.26 ἐγγεγυμνασμένων e R2 6.4 ἐγγεγυμνασμένον (qualificando σύστημα); e Sópatro
W5 18.7 ἐγγεγυμνασμένων.
A variante ἐγγεγυμνασμένων (particípio perfeito médio-passivo de ἐγγυμνάζω)
poder-se-ia explicar como ditografia por anáfora de ἐγκαταλήψεων com
ἐγκαταλήψεων. As variantes dos testemunhos em que não existe a anáfora (Pa, W4
41.25-26, R2 6.3-4), por seu turno, seriam possivelmente correcções por dissimilação.
Os critérios utilizados para a restituição foram idênticos. A restituição σύστημα ἐκ
καταλήψεων <συγ>γεγυμνασμένων fundamenta-se, mais uma vez, no confronto da
fonte estóica, mas também dos textos de Hermógenes St. 28.5 συγγυμνασθέντα e dos
escólios ad locum de Sópatro W4 47.10-11 e W5 18.10-11 συγγεγυμνασμένον, em que
o escoliasta de novo explicitou a relação conceptual entre a afirmação de Hermógenes
e a formulação zenoniana, expressas aqui mediante diferentes formas de particípio
das vozes média e passiva do mesmo verbo συγγυμνάζω.
No caso de 3.18.9 οὐσίαν, “existência”, adoptámos a lição de Pc e da fonte
(Sópatro e Marcelino W4 203.16). Os restantes testemunhos lêem αἰτίαν, “causa”. O
erro deve-se a proximidade (cf. linha 7 e 3.19.1).
Em 1.48.4-5, adoptámos a lição de Pc e da fonte (Siriano R2 27.5-7):
σιωπήσομεν... παραλείψομεν... ἐκτραγωδήσομεν (formas verbais no indicativo futuro). α
(sigla que designa o modelo comum a Pa e ao Palatinus graecus 23 [sigla Vh], códice
pertencente a um sub-ramo da tradição paralelo a Pa, e do qual ambos herdaram os
mesmos erros) lê as formas verbais no conjuntivo aoristo: σωπήσωμεν...
10
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Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
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παραλείψωμεν... ἐκτραγωδήσωμεν. Trata-se de uma banal confusão fonológica entre ω
e o.
Exemplos de outras lições restituídas com recurso exclusivo à fonte são:
3.88.6 μέσα, cf. Siriano R2 40.6: os testemunhos apresentam μέτα || 3.5.7
ἐκτείναντες cf. Marcelino W4 195.1: os testemunhos lêem ἐκτείνοντες.
Caso diferente é o de 3.92.3 ὡς (aqui com o sentido de “como”, advérbio de
comparação). O problema prende-se com a confusão paleográfica entre as
abreviaturas de ὡς e καὶ, “e” (conjunção copulativa). α lê καὶ. O contexto e a
compulsão da fonte (Siriano R2 40.17-20) levam a concluir que a lição correcta é ὡς e
não καὶ:
3.92.1-3 Τοῦτο <sc. τὸ κακόπλαστον> ἀδυνάτου τάξιν ἐπέχει καί ἐστι παρ’
ἱστορίαν. Πανταχόϑεν μὲν γὰρ συνέστηκεν, μόνην δὲ τὴν πρὸς τὰ πρόσωπα
ἐξέτασιν χωλεύουσαν ἔχει, διότι τοὺς τεϑνεῶτας ὡς ζῶντας ὑποτίϑησι.
Este tipo de questão <a mal-forjada> classifica-se na impossibilidade e está
em contradição com a história. Ela constitui-se de todas as partes, mas
compreende apenas um exame defeituoso relativamente às pessoas,
porquanto no exemplo dado os mortos figuram como vivos.
Pc omite esta secção de texto, não sendo pois de qualquer utilidade aqui15
.
Em 5.4.4, οὐκέτι é um acrescento, transmitido por todos os testemunhos
manuscritos, pela proximidade de καὶ οὐκέτι na linha abaixo. É um tipo de erro banal.
Secluímos com base na fonte (Marcelino W4 217.21).
O caso 16.e.3 δημίῳ, “ao carrasco” merece também comentário. Transcrevemos o
passo em questão:
πλούσιος τῷ δημίῳ δοὺς χιλίας δραχμὰς πένητα ἑαυτοῦ ἐχϑρὸν κατάκριτον
ὄντα ἀνεῖλε καὶ κρίνεται φόνου.
um homem rico deu mil dracmas ao carrasco e matou um pobre, seu
inimigo, que tinha sido condenado, e é julgado por homicídio.
Os testemunhos lêem δήμῳ, “ao povo”. O erro de transmissão é facilmente
explicável pela semelhança entre os vocábulos. Reconstituímos com base em Siriano
R2 154.3.
15
Cf. o aparato ad locum. Sobre esta variante, bem como sobre outras questões pertinentes à
prática paleografia e crítica textual dos escólios P, ver o nosso “Aventuras de um editor de
textos críticos gregos”, pp. 25-49, esp. 33. Ver também p. 49 da nossa tese.
11
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Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department
Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
Rui Miguel O. Ventura Duarte
3.3. A partir de intertextos literários
Refiram-se, por fim, alguns exemplos de restituição de lições a partir de intertextos
literários ou loci. São na totalidade passos de Demóstenes. Modelo canónico escolar
da oratória e do estilo, é de longe o autor mais citado.
Foi útil para a restituição das seguintes lições:
1.49.4 μὰ Δί᾿, “por Zeus”, Demóstenes, Primeira Olintíaca 1.23: os códices
apresentam νὴ Δία || 15.2.15 αὑτῷ, Demóstenes, Terceira Filípica 9.15: os
testemunhos lêem αὐτῷ || ib. ἄν acrescentado de Demóstenes loc. cit..
4. Conclusão
Perante os problemas colocados no início (em que medida a redescoberta dos
intertextos é útil para a reconstituição de um texto e que margem resta para o iudicium
do crítico?), reflectimos sobre escólios, tipo particular de textos que, por natureza,
depende de intertextos. Que balanço se fará?
É imperativo científico que o editor parta de critérios claros. Porém, nos domínios
da paleografia e da crítica textual, a uniformidade não é dogma, nem um teorema
abstracto. A sua aplicação deve ser caso a caso, pesados todos os dados (textuais,
paleográficos, culturais, contextuais, gramatológicos, semânticos) que, por um lado,
permitem discernir a história da transmissão das variantes e, por outro, influenciam a
escolha de uma em detrimento de outra. Além disso, ao centrar-se a análise num texto
concreto, impõe-se um outro dado à consideração: a necessidade de profunda
familiaridade com a especificidade de um texto e de um autor, o que inclui o
conhecimento das condições em que foi escrito e transmitido.
Muitas vezes, o bom senso é o elemento determinante da escolha. Em última
análise, é ao editor que cabe a decisão. Por conseguinte, os problemas colocados são
sem solução definitiva. O que fica é um relato de uma experiência de reconstituição
crítica, por aproximação, de um texto. E esta reconstituição não é, também ela,
12
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Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
Rui Miguel O. Ventura Duarte
necessariamente definitiva.
Bibliografia
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Teubner, 1931
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Londres: Garland Publishing Inc., 1996, pp. 696-696
DUARTE, Rui Miguel, “Aventuras de um editor de textos críticos gregos”, Ágora. Estudos
clássicos em debate, 3 2001, pp. 25-49
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Hermógenes de Tarso por autor anónimo, Aveiro: Universidade de Aveiro, 2006
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στάσεων, Breslau [hoje Wroclaw], 1928
GLÖCKNER, Stephan, Quaestiones rhetoricae. Historiae qualis fuerit aeuo imperatorio
capita selecta”, Breslauer philologische Abhandlungen, 8.2, 1901, pp. 1-115
HERMÁGORAS, Hermagorae Temnitae Testimonia et fragmenta, ed. Dieter Matthes,
Leipzig: Teubner, 1962
HEATH, Malcolm, “Hermagoras: transmission and attribution”, Philologus, 146, 2002, pp.
287-298
HEATH, Malcolm, “Porphyrys rhetoric: testimonia and fragments, Porphyry's rhetoric:
testimonia and fragmenta", Leeds International Classical Studies 1.5 (2002), pp. 3-38
HEATH, Malcolm, Hermogenes’ On Issues: Strategies of Argument in Later Greek
Rhetoric, trad. de Περὶ στάσεων, Oxford: Oxford University Press, 1995
HERMÓGENES, Hermogenis opera, ed. Hugo Rabe, Rhetores Graeci, vol. 6, Leipzig:
Teubner, 1913 (reimpr. 1985), pp. 1-456 (St. 28-92)
13
Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas
Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department
Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
Rui Miguel O. Ventura Duarte
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-XIIe
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KENNEDY, George A., Greek Rhetoric under Christian Emperors, Princeton, NJ:
Princeton University Press, 1983
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Hermogenic corpus, Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005
LAUSEBERG, Heinrich, Handbuch der literarischen Rhetorik, Munique: Max Hueber, 1
1960
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PATILLON, Michel, Hermogène. L’Art rhétorique, trad. integral, Paris: L'Age d’Homme,
1997
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structure de la rhétorique ancienne, Paris: Les Belles Lettres, 1988
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RABE, Hugo, “Aus Rhetoren-Handschriften. 11. Der Dreimänner-Kommentar W IV”,
Rheinisches Museum für Philologie, 64,1909, pp. 578-589
RABE, Hugo, "Hermogenes-Handschriften", Rheinisches Museum für Philologie, 58,
1903, pp. 209-217
RABE, Hugo, “Rhetoren Corpora”, Rheinisches Museum für Philologie, 67, 1912, pp.
321-357
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Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas
Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department
Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios
Rui Miguel O. Ventura Duarte
SIRIANO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 4
SIRIANO, Syriani in Hermogem commentaria, ed. H. Rabe, Rhetores Graeci, vol. 2,
Leipzig: Teubner, 1893 [sigla R2]
SÓPATRO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 4
SÓPATRO, Ὑπόμνημα εἰς τὴν Ἑρμογένους τέχνην, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci,
vol. 5, Stuttgart e Tübingen, pp. 1-211 [sigla W5]
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Intertextualidades no processo de reconstrução de textos de escólios

  • 1. INTERTEXTUALIDADES NO PROCESSO DE RECONSTITUIÇÃO DE TEXTOS DE ESCÓLIOS Rui Miguel O. Ventura Duarte Universidade de Aveiro 1. Introdução Da popularidade de retórica de Hermógenes de Tarso (sécs. II-III d.C.)1 ao longo das eras temos como indício a profícua produção de comentários por retores de escola. Entre esses comentários, no que concerne em particular à sua teoria dos estados de causa na retórica jurídica, expressa no tratado Περὶ στάσεων (St.), existe um abundante corpus, cuja tradição textual é inseparável da do texto por eles comentado e que figura numa família restrita, designada P por Hugo Rabe2 . Esses comentários (ou escólios) tiveram até à data uma única edição, por Christian Walz, no volume 7 da sua série Rhetores Graeci, pp. 104-696 (W7). Os escólios são um tipo especial de textos. Constituindo comentários e reflexões de leitura sobre um texto de base, testemunham privilegiadamente a recepção da obra que comentam. Por vezes, como é o caso, foram agregados ao próprio texto de base no processo da transmissão manuscrita. Os mestres-escola que se debruçaram sobre o texto hermogeniano e o ensinaram nas escolas foram, ao longo de séculos, redigindo comentários, recolhendo outros ainda, seleccionando os que lhes interessavam, adaptando e aproveitando deles alguns elementos e fazendo sínteses e confrontos com outros. Ora os citavam literalmente ou de memória (de forma que, por vezes, ou se pode tornar difícil detectar com precisão o rasto do intertexto, ou este é erroneamente citado), ora os parafraseavam, ora simplesmente a eles aludiam. Compilaram os materiais ao dispor na maior quantidade que lhes era possível, e copiaram-nos em novos manuscritos, assim os transmitindo aos seus sucessores. 1 Cf. a edição Hermogenis opera, ed. H. Rabe, Rhetores Graeci. 2 Cf. Rabe, “Rhetoren Corpora”, p. 323.
  • 2. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte Faziam-no com propósitos pedagógicos: para preparação e apoio aos seus cursos sobre Hermógenes e sua obra3 . O resultado deste processo de composição é uma rudis indigestaque molis de anotações sem ordenação e sem obediência aparente a qualquer plano4 , para compreensão da retórica em geral, e ainda como introdução e explanação pormenorizada para cada tratado particular5 . No seu interior, os escólios permitem discernir a existência de uma teia intrincada de relações e debates com outros comentários e comentaristas, retores e filósofos (suas fontes dos pontos de vista doutrinário e teórico). Introduziam novas reflexões sobre os comentários alheios, debatendo e polemizando com eles. O centro de interesse e das polémicas doutrinárias e escolares — e mais uma vez nos referimos aos escólios de que trata este trabalho — deixou de se restringir, por isso, ao texto de Hermógenes. Alargou-se também aos próprios escólios. Na nossa tese de doutoramento, trabalhámos sobre uma parte dos escólios P, correspondente a W7 pp. 104-254. Pudemos descobrir o traço de várias fontes destes escólios6 . Todavia, esta é uma tarefa ainda inacabada, dada a densa trama de intertextos que estruturam o processo da sua composição. Muitos deles são, por certo, impossíveis de discernir com precisão, pois muito do que se escrevia era livremente incorporado em textos próprios, passando deste modo a integrar património escolar e comum de textos, como haverá ocasião de exemplificar. Para a reconstituição e edição crítica de um texto, objecto que foi de grande número de alterações ao longo da sua tradição manuscrita, que necessidade e utilidade há em redescobrir os seus intertextos? Qual o grau de distanciamento entre o intertexto e o texto que dele se faz eco? Cabem ao editor alguma opção e liberdade crítica? E com que critérios, face a dificuldades de escolha das variantes? Com este trabalho problematizar-se-ão questões como estas. O seu tratamento será ilustrado concretamente no texto que foi objecto da nossa tese. 3 Cf. Prolegomenon sylloge, ed. H. Rabe, praefatio § 6, p. XLIII. 4 Ib. LXXIII. 5 Id., “Rhetoren-Corpora”, p. 324. 6 Comentários ao tratado sobre os Estados de causa de Hermógenes de Tarso por autor anónimo. 2
  • 3. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte 2. Relações intertextuais 2.1. Escólios: tipos de relações intertextuais De um dos níveis de relações intertextuais há indícios internos ao texto dos escólios. A este nível, os próprios escólios são o centro do debate e réplica entre comentaristas de Hermógenes (o Autor por excelência), por outras palavras, são comentários a comentários. Alguns exemplos: 1.1.1-7 ᾿Εδόκει τισί χρῆναι τὸν τεχνικὸν εὐϑὺς ἐν ἀρχῇ προτάξαι τὸν περὶ τῆς ῥητορικῆς ὅρον, εἴγε ἡ νῦν αὐτῷ προκειμένη πραγματεία ῥητορική ἐστίν. ᾿Αλλὰ περὶ μέρους — φασίν — ἔλεγε τῆς ῥητορικῆς, οἱ δὲ ὅροι περί τινων τελείων βούλονται εἶναι· εἰκότως οὖν οὐχ ὡρίσατο τὴν ῥητορικήν· οὐ γὰρ περὶ πάσης αὐτῷ προὔκειτο λέγειν. ᾿Αλλά φαμέν ὅτι πολλῷ μᾶλλον περὶ μέρους αὐτῆς διαλεγόμενος ὤφειλε τὸν ὅρον τῆς ῥητορικῆς προτάξαι· μὴ γὰρ μαϑόντες τὸ ὅλον οὐκ ἂν δυνηϑείημεν τὰ μέρη αὐτοῦ γινώσκειν. Entendiam alguns críticos que o Autor deveria ter estabelecido logo de início a definição de retórica, já que o objecto de estudo que presentemente se propõe é a retórica. Mas — afirmam — ele falava sobre uma parte da retórica. As definições pretendem dar conta de coisas inteiras. Justamente, portanto, ele não definiu a retórica, pois não se propunha falar sobre a sua totalidade. Nós, porém, afirmamos que, uma vez que ele discorre sobre uma parte da retórica, com maioria de razão deveria estabelecer previamente a sua definição, pois sem apreendermos a totalidade não poderemos conhecer as suas partes. 1.11.15-21 Τινές δέ φασι μὴ δηλοῦσϑαι διὰ τοῦ “πανταχοῦ” (̃ St. 28.7) τὸ πανηγυρικόν· περὶ γὰρ στάσεων ὁ λόγος τῷ ῥήτορι, τὸ δὲ πανηγυρικὸν ἀστασίαστον. ᾽Αλλὰ πρῶτον μὲν περιττῶς ἂν δόξῃ κεῖσϑαι τὸ “πανταχοῦ”. ῎Επειτα οὐδὲ ἀστασίαστον ἀεὶ τὸ πανηγυρικὸν, ἀλλ᾿ ἔστιν ὅτε καὶ αὐτὸ στασιάζεται, ὥσπερ ἐπὶ τοῦ πολιτικοῦ πανηγυρικοῦ, περὶ οὗ φησίν ἐν τῷ Περὶ ἰδεῶν ὁ Ἑρμογένης. Afirmam alguns que a espécie panegírica não se revela através da menção “em todas as circunstâncias” (St. 28.7), pois o Autor trata dos estados de causa e no discurso panegírico não há causa alguma em discussão. Porém, em primeiro lugar, a menção “em todas as circunstâncias” parecerá supérflua. Em segundo, nem sempre os estados de causa estão ausentes da espécie panegírica, mas sucede que esta discute também uma causa, como no discurso panegírico político, sobre o qual fala Hermógenes no tratado Categorias de estilo. 1.16.3-4 Φαίνεται δὲ περὶ τῶν ἰδεῶν εἰς τὸ μετέπειτα λέγων, ἀλλ᾿ οὐ διαίρεσιν ἡμῖν τοιαύτην, οἵαν τινές ἔφασαν παραδιδούς. É um facto que ele fala mais adiante das categorias de estilo, mas sem nos transmitir uma divisão como a que alguns asseveraram. Nos exemplos citados, comenta-se, por um lado, a doutrina de Hermógenes por si 3
  • 4. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte mesmo. Por outro, compara-se esta doutrina com a de outros teorizadores e faz-se o mesmo com as críticas que lhe são dirigidas. Em todos os casos, resulta sempre no elogio da razão e inteligência do retor de Tarso7 . 2.2. Critérios de tratamento dos intertextos Começaremos por distinguir três categorias de intertextos relativamente aos escólios. Esta distinção prende-se tanto com critérios de rigor — pela diferentes naturezas e funções dos vários intertextos —, como de precisão e hierarquização da informação a prestar ao leitor, desde logo na elaboração dos próprios aparatos que acompanham o texto. As fontes, pois, compreendem todos os textos de conteúdo teórico, incluindo outros escólios ou matéria de teoria filosófica e retórica, com os quais se pode discernir a existência de uma rede intrincada de relações. Entre estas podem nomear- se Hermágoras de Temnos8 , o “triunvirato” Sópatro, Marcelino e Siriano9 , Porfírio10 , Platão, Aristóteles11 , etc.. Em primeiro lugar, os tratados de Hermógenes são os intertextos primordiais e os mais frequentemente citados. Deles dependem na essência os escólios, são aqueles com quem estes têm a relação intertextual mais substancial. A terceira categoria de intertextos denomina-se em latim loci. Compreendem referências literárias, textos citados ou aludidos de escritores (oradores e historiógrafos) como exemplos ilustrativos da doutrina exposta. As referências são, entre os oradores, Isócrates, Demóstenes e Esquines, e, entre os historiadores, 7 Cf. a nossa tese pp. 32-33 e notas 47 a 49. 8 Hermagorae Temnitae Testimonia et fragmenta, ed. Dieter Matthes. 9 Assim se lhes refere Hugo Rabe, “Die Dreimänner-Kommentar W IV”, pp. 578-590. Para uma notícia sobre os três escoliastas cf. Kennedy, Greek Rhetoric, respectivamente 104-109, 109- 112, 112-115. Comentários de conjunto dos três escoliastas Uma tradição transmite uma compilação de escólios dos três, tradição essa editada por Christian Walz, Rhetores Graeci vol. IV, pp. 39-846. De Sópatro (da segunda metade do século IV), existe ainda um corpus à parte, editado na mesma série W5 1-211. De Siriano (da primeira metade do século V), há também uma edição por Rabe, Rhetores Graeci (R2). 10 Fragmentos de Porfírio estão publicados por M. Heath, “Porphyry’s rhetoric: testimonia and fragments”, pp. 3-38. 11 Cf. os aparatos de FONTES. 4
  • 5. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte Heródoto e Tucídides12 . Seguidamente, expor-se-ão os princípios adoptados na utilização dos intertextos para a reconstituição crítica do texto dos escólios. Deve obedecer-se estritamente à forma do texto no intertexto? Que grau de variação se admite? Estes critérios não influenciarão somente a reconstituição do texto mas ainda a elaboração dos aparatos, pois estes devem dar conta, com clareza, dos graus de relação dos intertextos com o texto dos escólios e do uso que deles faz o editor. O critério geral primordial foi o da auctoritas da fonte. Em primeiro lugar, Hermógenes. Se os seus textos presidiram à composição dos escólios, foram pela mesma razão determinantes para a reconstituição crítica, a espaços, do texto dos mesmos. O critério da auctoritas, regra geral, é válido igualmente para as fontes teóricas e para os loci literários. Este critério não é, contudo, absoluto, nem uniforme. Em casos de intertextos (por exemplo, Hermógenes, ou um locus literário) citados com variações, pelo escoliasta anónimo ou por uma fonte deste, aceitou-se em princípio tal uariatio, sem reconstituir a partir da forma mais remota da fonte. Em alguns casos justificados, porém, achou-se necessário apelar para a forma mais remota da fonte. No concernente à construção dos aparatos, utilizaram-se critérios vários de referência. Quando se trata de citação literal ou paráfrase aproximada da letra, citou- se simplesmente a fonte. Tratando-se de comentário, elemento de doutrina ou exemplo não literalmente citados, referiu-se a fonte precedida de “cf.”. Em casos tais, o comentário, elemento de doutrina aludido ou exemplo ilustrativo podem ser património escolar retórico comum, não havendo, por consequência, a certeza de que tenham sido utilizados como fontes directas nos nossos escólios. Em 1.34.10-11 o escoliasta cita o exemplo de alguém achado junto de um corpo recém-degolado. Este exemplo encontra-se em Sópatro W5 55.19-20, 76.6-7. Ambos (o Anónimo e Sópatro) se reportam a Hermógenes St. 30.19-21 (ὁ ϑάπτων τὸ νεοσφαγὲς σῶμα ἐπ᾿ ἐρημίας καὶ φωραϑεὶς καὶ φόνου φεύγει). O Anónimo aproxima-se de Sópatro no tocante à mera formulação linguística do exemplo. Substitui as pessoas do exemplo, adequando-o às palavras de Hermógenes que está a comentar (loc. cit.), onde o exemplo tinha 12 Cf. os aparatos de LOCI e o Index locorum. 5
  • 6. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte pessoas indeterminadas, e produzindo comentário mais completo. Todavia, a simples semelhança linguística (παρίστατο νεοσφαγεῖ σώματι πατρὸς ἐπ᾿ ἐρημίας Anónimo: παρίστατό τις ἐπ᾿ ἐρημίας νεοσφαγεῖ σώματι Sópatro) não prova que os escólios de Sópatro sejam fonte directa do Anónimo. Parece antes que se trata de um exemplo recorrente no ensino retórico. No aparato hermogeniano, indicam-se sempre as obras do retor que o texto cita, literalmente ou em paráfrase. Existem referências a todos os restantes quatro tratados constantes do corpus Hermogenianum, ainda que a larga maioria se reporte ao tratado Περὶ στάσεων13 . Alusões a matéria teórica tratada por Hermógenes em outros lugares, mas que não constituem citação do retor, são dadas em nota ad loca à tradução com a respectiva referência. 3. Constitutio textus a partir dos intertextos Os critérios expostos parecerão certamente secos e não farão sentido algum se não forem testados pela análise de casos. De todos eles se dá conta na introdução da nossa tese (p. 54-55) e no aparato crítico. Dispensando-nos de os listar e tratar aqui na totalidade, não queríamos, contudo, deixar de comentar alguns deles, a título ilustrativo. 3.1. A partir de Hermógenes Principiaremos pelo corpus hermogeniano. O primeiro caso objecto de comentário é 2.54.21 ἀνηλωκέναι, restituído com base em Hermógenes St. 31.2. O manuscrito Pa apresenta ἀνηλωκέναι. Porém, uma segunda mão que interveio na correcção do texto (designada pela sigla Pa2 ) corrigiu sobre a linha para ἀναλωκέναι. O texto de Hermógenes, neste códice, apresenta a mesma lição ἀνηλωκέναι, e ἀνηλωκέναι como correcção supralinear. Em Pc, sucede o 13 V. lista completa dos passos hermogenianos ou aludidos no Index Hermogenianum. 6
  • 7. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte contrário: apresenta ἀναλωκέναι, corrigindo a mesma mão, sobre a linha, para ἀνηλωκέναι. O Palatinus graecus 23 (Vh), códice que representa uma segunda linha divergente dentro do ramo da tradição manuscrita a que pertence Pa, lê ἀνηλωκέναι. A tradição é notoriamente oscilante. A lição de Hermógenes serve, pois, a decisão sobre a lição a editar. Outro caso é o da restituição 2.70.10 ὑποδεξάμενος, omitido pelos testemunhos. O texto de Hermógenes St. 31.18 fornece a base para a restituição: πορνοβοσκὸς δέκα νέους κωμάζοντας ἐπὶ τὴν οἰκίαν αὐτοῦ ὄρυγμα ποιήσας ὑποδεξάμενος ἀπέκτεινε. Um proxeneta escavou uma armadilha para dez jovens que foram a sua casa fazer uma festa; quando os recebeu, matou-os. O contexto induz a restituição: o escoliasta começou por citar Hermógenes, para seguidamente se ocupar de comentar a citação, segmento frásico a segmento frásico e palavra a palavra. O escólio termina com comentário às últimas palavras da citação (linha 16), sem a omissão de ὑποδεξάμενος. A restituição fundamenta-se, pois, na compulsão do texto de Hermógenes, cruzada com o confronto da última linha do escólio. Caso similar é 2.71.18, ἀπέκτεινε, “matou”, restituído a partir de St. 32.13, sendo que os testemunhos manuscritos apresentam o verbo simples κτεῖνε. Igualmente neste caso, a compulsão do próprio texto do escólio (linha 20) serviu de argumento suplementar para a restituição: aí, o códice Pa lê ἀποκτεῖναι, contra Pc, que lê κτεῖναι. Em 3.93.3, suprimiu-se o advérbio de negação οὐ, pelo confronto com St. 32.8. Os testemunhos manuscritos lêem: τὸ μὴ προειλημμένον οὐ συνέστηκε, “a questão em que não há juízo prévio não tem consistência”. Em Hermógenes, por sua vez, lê-se: τὸ μὴ προειλημμένον συνέστηκε, “a questão em que não há juízo prévio tem consistência”. A restituição de 3.97.10 ἂν εὑρεϑείη, “descobrir-se-ia” (em que ἂν é partícula adverbial que, regendo o modo optativo, tem valor de possibilidade, traduzindo-se pelo condicional português), com base St. 34.15, exige-se pelo facto de a tradição manuscrita neste passo se achar corrupta, devido ao fenómeno da homofonia. Pc lê ἀνευρεϑείη, “não se descobria” (em que ἀν é prefixo de negação). Esta é também a 7
  • 8. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte lição de Pa, não a da mão do copista, que está ilegível, mas da correcção feita por uma terceira mão (Pa3 ). Relativamente ao caso 13.3.1, νόμους, com base em St. 39.22, os testemunhos manuscritos lêem, respectivamente: νομικὰ Pa, νομικαὶ Pc. Cite-se o passo em questão: Εἴπερ αἱ κατὰ ῥητὸν στάσεις αἱ μὲν νόμους, αἱ δὲ διαϑήκας, αἱ δὲ ψηφίσματα ἔχουσιν ὑποκείμενα, πῶς οὐ καὶ διαϑητικάς εἰ τύχοι λέγομέν τινας στάσεις καὶ ψηφισματικάς, ἀλλ’ ἐκ τοῦ ἑνὸς κοινῶς νομικάς; Λεκτέον δὲ ὡς ἐκ τοῦ κυριωτέρου ἡ ἐπὶ πάντα ὀνομασία κεχώρηκε. Já que dos estados de causa legais relativos a um texto, uns se fundamentam em leis, e outros, por outro lado, em testamentos e em decretos, por que razão não designamos eventualmente como “testamentários” e “decretórios” alguns estados de causa, mas, partindo de um só género de texto, os designamos em geral como “legais”? Responder- se-á que a denominação do mais importante foi aplicada a todos. Hermógenes, no passo citado, enumera diversos tipos de textos legais, aos quais os estados de causa legais respeitam. E o escoliasta retoma a enumeração de Hermógenes. A enumeração é reforçada por meio das partículas μὲν e δὲ, que colocam numa relação de certo modo opositiva as leis (νόμοι) face aos demais tipos de textos legais. O que está em causa, para o escoliasta, é a designação genérica destes estados de causa como νομικαί “legais” (adjectivo), por sinédoque, a partir do vocábulo designativo de um dos vários tipos de textos, precisamente νόμος, “lei” (nome). Só se pode, por conseguinte, entender o raciocínio do escoliasta face a Hermógenes se se restituir νόμους. Como se poderiam, pois, explicar as lições νομικὰ em Pa e νομικαὶ em Pc? Poder- se-iam explicar por atracção, respectivamente, de ὑποκείμενα “fundamentos” e de αἱ μὲν, “uns”. 3.2. A partir das fontes De reconstituição de lições do texto a partir das fontes teóricas do escoliasta, 8
  • 9. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte passaremos a comentar alguns casos. O primeiro caso a comentar é a definição de τέχνη, “arte”, citada pelo escoliasta (1.1.14-15, 1.3.7, 1.5.8-9). A fonte é estóica, e remonta a Zenão (Von Arnim SVF I 21 frg. 73 e II 30-31 frgs. 93-97): Σύστημα ἐκ καταλήψεων συγγεγυμνασμένων πρός τι τέλος εὔχρηστον ἐν τιῶ βίιῳ. Um sistema que se baseia em concepções submetidas a exercitação, com vista a um fim proveitoso para a vida. Embora originalmente estóica, a definição teve larga aceitação e aplicação14 . Tal como apresentada, é a corrente, daí que tenha sido assinalada no aparato como uulgata. A sua tradição, porém, não é uniforme, antes apresenta variantes. É de crer que o arquétipo P apresentasse σύστημα ἐγκαταλήψεων ἐγεγυμνασμένων. O Anónimo seguiu certamente uma tradição de escoliastas que, a propósito do comentário a Hermógenes St. 28.3, πολλῶν ὄντων καὶ μεγάλων, “sendo muitos e importantes os elementos…”, tivessem citado a definição com variante. Examinaremos por partes. Quanto a ἐκ καταλήψεων, o copista de Pa escreveu de início ἐγκαταλήψεων. Depois, provavelmente ao rever o seu trabalho (designaram-se tais intervenções da primeira mão como Pa1 ), corrigiu o prefixo ἐγ- (ἐν-) sobre a linha para ἐκ, como preposição com καταλήψεων. Fê-lo nas três vezes. Pc apresenta sempre ἐγκαταλήψεων. Nos escoliastas de que o Anónimo mais depende, a oscilação das leituras variantes é também um factor de monta: Siriano W4 41.26 e R2 6.4 lê ἐγκαταλήψεων; Sópatro W4 47.8 ἐκ καταλήψεων mas W5 18.7 ἐγκαταλήψεων. Para a reconstituição ἐκ καταλήψεων, aceitou-se, pois, a correcção supralinear da primeira mão em Pa (Pa1 ) no confronto com a auctoritas da fonte estóica. Porém, o contexto, o texto hermogeniano e a sequência dos escólios fornecem elementos adicionais para a decisão do editor. O próprio retor de Tarso citara, em paráfrase e sem referir a fonte, a fórmula de Zenão: St. 28.4-6 τέχνην ποιεῖ καταληφϑέντα τε ἐξ ἀρχῆς δηλαδὴ καὶ συγγυμνασθέντα τιῶ χρόνῳ σαφῆ τε τὴν ὠφέλειαν παρεχόμενα τιῶ βίῳ, “… elementos que formam uma arte, concebidos evidentemente no início, e com o tempo organizados pela exercitação, e que apresentam uma clara utilidade para a vida”. Substituiu o nome κατάληψις pela forma de particípio aoristo passivo 14 Cf. Heath, Hermogenes' On issues, p. 61. 9
  • 10. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte καταληφϑέντα do verbo καταλαμβάνω, seu cognato. Deste modo o entendeu, e bem, o Anónimo, pois nos escólios 1.5 e 1.6 faz a ligação entre καταληφϑέντα do lema hemogeniano e κατάληψις da definição zenoniana. Assim também o entendera Sópatro W5 18.10, ao relacionar explicitamente o particípio καταληφθέντα com a expressão ἐκ καταλήψεων. O raciocínio expresso pelo escoliasta, pois, não será perfeitamente inteligível sem esta restituição. Por outro lado, a definição estóica tinha συγγεγυμνασμένων, forma participial de συγγυμνάζω, “exercitar, submeter a exercitação”, com prefixo συν-. O mesmo problema de variação entre os testemunhos se coloca aqui. Pa lê γεγυμνασμένων, e Pc ἐγγεγυμνασμένων. Os outros escoliastas, por seu turno, transmitem: Siriano W4 41.26 ἐγγεγυμνασμένων e R2 6.4 ἐγγεγυμνασμένον (qualificando σύστημα); e Sópatro W5 18.7 ἐγγεγυμνασμένων. A variante ἐγγεγυμνασμένων (particípio perfeito médio-passivo de ἐγγυμνάζω) poder-se-ia explicar como ditografia por anáfora de ἐγκαταλήψεων com ἐγκαταλήψεων. As variantes dos testemunhos em que não existe a anáfora (Pa, W4 41.25-26, R2 6.3-4), por seu turno, seriam possivelmente correcções por dissimilação. Os critérios utilizados para a restituição foram idênticos. A restituição σύστημα ἐκ καταλήψεων <συγ>γεγυμνασμένων fundamenta-se, mais uma vez, no confronto da fonte estóica, mas também dos textos de Hermógenes St. 28.5 συγγυμνασθέντα e dos escólios ad locum de Sópatro W4 47.10-11 e W5 18.10-11 συγγεγυμνασμένον, em que o escoliasta de novo explicitou a relação conceptual entre a afirmação de Hermógenes e a formulação zenoniana, expressas aqui mediante diferentes formas de particípio das vozes média e passiva do mesmo verbo συγγυμνάζω. No caso de 3.18.9 οὐσίαν, “existência”, adoptámos a lição de Pc e da fonte (Sópatro e Marcelino W4 203.16). Os restantes testemunhos lêem αἰτίαν, “causa”. O erro deve-se a proximidade (cf. linha 7 e 3.19.1). Em 1.48.4-5, adoptámos a lição de Pc e da fonte (Siriano R2 27.5-7): σιωπήσομεν... παραλείψομεν... ἐκτραγωδήσομεν (formas verbais no indicativo futuro). α (sigla que designa o modelo comum a Pa e ao Palatinus graecus 23 [sigla Vh], códice pertencente a um sub-ramo da tradição paralelo a Pa, e do qual ambos herdaram os mesmos erros) lê as formas verbais no conjuntivo aoristo: σωπήσωμεν... 10
  • 11. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte παραλείψωμεν... ἐκτραγωδήσωμεν. Trata-se de uma banal confusão fonológica entre ω e o. Exemplos de outras lições restituídas com recurso exclusivo à fonte são: 3.88.6 μέσα, cf. Siriano R2 40.6: os testemunhos apresentam μέτα || 3.5.7 ἐκτείναντες cf. Marcelino W4 195.1: os testemunhos lêem ἐκτείνοντες. Caso diferente é o de 3.92.3 ὡς (aqui com o sentido de “como”, advérbio de comparação). O problema prende-se com a confusão paleográfica entre as abreviaturas de ὡς e καὶ, “e” (conjunção copulativa). α lê καὶ. O contexto e a compulsão da fonte (Siriano R2 40.17-20) levam a concluir que a lição correcta é ὡς e não καὶ: 3.92.1-3 Τοῦτο <sc. τὸ κακόπλαστον> ἀδυνάτου τάξιν ἐπέχει καί ἐστι παρ’ ἱστορίαν. Πανταχόϑεν μὲν γὰρ συνέστηκεν, μόνην δὲ τὴν πρὸς τὰ πρόσωπα ἐξέτασιν χωλεύουσαν ἔχει, διότι τοὺς τεϑνεῶτας ὡς ζῶντας ὑποτίϑησι. Este tipo de questão <a mal-forjada> classifica-se na impossibilidade e está em contradição com a história. Ela constitui-se de todas as partes, mas compreende apenas um exame defeituoso relativamente às pessoas, porquanto no exemplo dado os mortos figuram como vivos. Pc omite esta secção de texto, não sendo pois de qualquer utilidade aqui15 . Em 5.4.4, οὐκέτι é um acrescento, transmitido por todos os testemunhos manuscritos, pela proximidade de καὶ οὐκέτι na linha abaixo. É um tipo de erro banal. Secluímos com base na fonte (Marcelino W4 217.21). O caso 16.e.3 δημίῳ, “ao carrasco” merece também comentário. Transcrevemos o passo em questão: πλούσιος τῷ δημίῳ δοὺς χιλίας δραχμὰς πένητα ἑαυτοῦ ἐχϑρὸν κατάκριτον ὄντα ἀνεῖλε καὶ κρίνεται φόνου. um homem rico deu mil dracmas ao carrasco e matou um pobre, seu inimigo, que tinha sido condenado, e é julgado por homicídio. Os testemunhos lêem δήμῳ, “ao povo”. O erro de transmissão é facilmente explicável pela semelhança entre os vocábulos. Reconstituímos com base em Siriano R2 154.3. 15 Cf. o aparato ad locum. Sobre esta variante, bem como sobre outras questões pertinentes à prática paleografia e crítica textual dos escólios P, ver o nosso “Aventuras de um editor de textos críticos gregos”, pp. 25-49, esp. 33. Ver também p. 49 da nossa tese. 11
  • 12. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte 3.3. A partir de intertextos literários Refiram-se, por fim, alguns exemplos de restituição de lições a partir de intertextos literários ou loci. São na totalidade passos de Demóstenes. Modelo canónico escolar da oratória e do estilo, é de longe o autor mais citado. Foi útil para a restituição das seguintes lições: 1.49.4 μὰ Δί᾿, “por Zeus”, Demóstenes, Primeira Olintíaca 1.23: os códices apresentam νὴ Δία || 15.2.15 αὑτῷ, Demóstenes, Terceira Filípica 9.15: os testemunhos lêem αὐτῷ || ib. ἄν acrescentado de Demóstenes loc. cit.. 4. Conclusão Perante os problemas colocados no início (em que medida a redescoberta dos intertextos é útil para a reconstituição de um texto e que margem resta para o iudicium do crítico?), reflectimos sobre escólios, tipo particular de textos que, por natureza, depende de intertextos. Que balanço se fará? É imperativo científico que o editor parta de critérios claros. Porém, nos domínios da paleografia e da crítica textual, a uniformidade não é dogma, nem um teorema abstracto. A sua aplicação deve ser caso a caso, pesados todos os dados (textuais, paleográficos, culturais, contextuais, gramatológicos, semânticos) que, por um lado, permitem discernir a história da transmissão das variantes e, por outro, influenciam a escolha de uma em detrimento de outra. Além disso, ao centrar-se a análise num texto concreto, impõe-se um outro dado à consideração: a necessidade de profunda familiaridade com a especificidade de um texto e de um autor, o que inclui o conhecimento das condições em que foi escrito e transmitido. Muitas vezes, o bom senso é o elemento determinante da escolha. Em última análise, é ao editor que cabe a decisão. Por conseguinte, os problemas colocados são sem solução definitiva. O que fica é um relato de uma experiência de reconstituição crítica, por aproximação, de um texto. E esta reconstituição não é, também ela, 12
  • 13. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte necessariamente definitiva. Bibliografia AA.VV., Prolegomenon sylloge, ed. Hugo Rabe, Rhetores Graeci, vol. 14, Leipzig: Teubner, 1931 ANÓNIMO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Hugo Rabe, Rhetores Graeci, vol. 7, Stuttgart e Tübingen, 1832-1836, pp. 104-696 [sigla W7] CLARK, Daniel L., Rhetoric in Graeco-Roman education, Nova Iorque: Columbia University Press, 1957 DAVIS, Janet B., “Stasis theory”, ed. Theresa Enos, Encyclopedia of Rhetoric and Composition. Communication form ancient times to the information age, Nova Iorque & Londres: Garland Publishing Inc., 1996, pp. 696-696 DUARTE, Rui Miguel, “Aventuras de um editor de textos críticos gregos”, Ágora. Estudos clássicos em debate, 3 2001, pp. 25-49 DUARTE, Rui Miguel, Comentários ao tratado sobre os Estados de causa de Hermógenes de Tarso por autor anónimo, Aveiro: Universidade de Aveiro, 2006 GLÖCKNER, Stephan, Die Handschriften der P.-Scholien zu Hermogenes Περὶ τῶν στάσεων, Breslau [hoje Wroclaw], 1928 GLÖCKNER, Stephan, Quaestiones rhetoricae. Historiae qualis fuerit aeuo imperatorio capita selecta”, Breslauer philologische Abhandlungen, 8.2, 1901, pp. 1-115 HERMÁGORAS, Hermagorae Temnitae Testimonia et fragmenta, ed. Dieter Matthes, Leipzig: Teubner, 1962 HEATH, Malcolm, “Hermagoras: transmission and attribution”, Philologus, 146, 2002, pp. 287-298 HEATH, Malcolm, “Porphyrys rhetoric: testimonia and fragments, Porphyry's rhetoric: testimonia and fragmenta", Leeds International Classical Studies 1.5 (2002), pp. 3-38 HEATH, Malcolm, Hermogenes’ On Issues: Strategies of Argument in Later Greek Rhetoric, trad. de Περὶ στάσεων, Oxford: Oxford University Press, 1995 HERMÓGENES, Hermogenis opera, ed. Hugo Rabe, Rhetores Graeci, vol. 6, Leipzig: Teubner, 1913 (reimpr. 1985), pp. 1-456 (St. 28-92) 13
  • 14. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte IRIGOIN, Jean, “La tradition des rhéteurs grecs dans l’Italie Byzantine (Xe -XIIe siècles)”, Sicolorum Gymnasium 3, 1983 JÄNEKE, Walter, De statuum doctrina ab Hermogenis tradita, Leipzig, 1904 KENNEDY, George A., Greek Rhetoric under Christian Emperors, Princeton, NJ: Princeton University Press, 1983 KENNEDY, George A., Invention and Method: two rhetorical treatises from the Hermogenic corpus, Atlanta: Society of Biblical Literature, 2005 LAUSEBERG, Heinrich, Handbuch der literarischen Rhetorik, Munique: Max Hueber, 1 1960 MARCELINO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 4, Stuttgart e Tübingen, pp. 39-846 [sigla W4] NADEAU, Ray, “Classical systems of stases in Greek: Hermagoras to Hermogenes”, Greek, Roman and Byzantine Studies, 2, 1959, pp. 53-71 NADEAU, Ray, “Hermogenes on stock issues in deliberative speaking”, Speech Monographs, 25, 1958, pp. 51-71 NADEAU, Ray, “Hermogenes’ On stases: a translation with an introduction and notes”, Speech Monographs (= Communication Monographs), 31, nº 4, 1964, pp. 361-424 PATILLON, Michel, Hermogène. L’Art rhétorique, trad. integral, Paris: L'Age d’Homme, 1997 PATILLON, Michel, La théorie du discours chez Hermogène le rhéteur. Essai sur la structure de la rhétorique ancienne, Paris: Les Belles Lettres, 1988 PATTERSON, Annabel M., Hermogenes and the Renaissance seven ideas of style, Princeton, 1970 RABE, Hugo, “Aus Rhetoren-Handschriften. 1. Nachrichten über das Leben des Hermogenes”, Rheinisches Museum für Philologie, 62, 1907, pp. 247-262 RABE, Hugo, “Aus Rhetoren-Handschriften. 11. Der Dreimänner-Kommentar W IV”, Rheinisches Museum für Philologie, 64,1909, pp. 578-589 RABE, Hugo, "Hermogenes-Handschriften", Rheinisches Museum für Philologie, 58, 1903, pp. 209-217 RABE, Hugo, “Rhetoren Corpora”, Rheinisches Museum für Philologie, 67, 1912, pp. 321-357 14
  • 15. Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Literaturas Românicas Textual editing. Second Virtual Congress of the Romance Literature Department Intertextualidades no processo de reconstituição de textos de escólios Rui Miguel O. Ventura Duarte SIRIANO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 4 SIRIANO, Syriani in Hermogem commentaria, ed. H. Rabe, Rhetores Graeci, vol. 2, Leipzig: Teubner, 1893 [sigla R2] SÓPATRO, Σχόλια εἰς στάσεις, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 4 SÓPATRO, Ὑπόμνημα εἰς τὴν Ἑρμογένους τέχνην, ed. Christian Walz, Rhetores Graeci, vol. 5, Stuttgart e Tübingen, pp. 1-211 [sigla W5] 15