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JOZAFÁ BATISTA DO NASCIMENTO




A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006




                       Monografia apresentada ao Centro de Filosofia e
                       Ciências Humanas da Universidade Federal do
                       Acre para a obtenção do título de Bacharel em
                       Ciências Sociais com Habilitação em Sociologia


                       Área de Concentração: Sociologia


                       Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eurenice Oliveira de Lima




                              Rio Branco
                                 2012
2




Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por
qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,
desde que citada a fonte.




                    CATALOGAÇÃO DA PUBLICAÇÃO
3



Nome: NASCIMENTO, Jozafá Batista do
Título: A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a
2006


                         Monografia apresentada à Universidade Federal do
                         Acre para a obtenção do título de bacharel em
                         Ciências Sociais com habilitação em Sociologia


Aprovado em:_________/__________/____________________


                           Banca Examinadora


Prof.ª Dr.ª Eurenice Oliveira de Lima
Instituição: ____________________________________________________


Julgamento: ___________________________________________________


Assinatura: ____________________________________________________


Prof. Dr. Nilson Euclides da Silva
Instituição: ____________________________________________________


Julgamento: ___________________________________________________


Assinatura: ____________________________________________________


Prof.ª Msc. Letícia Helena Mamed
Instituição: ____________________________________________________


Julgamento: ___________________________________________________


Assinatura: ____________________________________________________
4




Agradeço à minha orientadora, Eurenice Oliveira
de Lima, por não ter me permitido desistir. Ao
Museu     da     Borracha   e ao CDIH/UFAC, por
gentilmente disponibilizarem seus acervos - sem os
quais     esta     pesquisa    encontraria   severas
dificuldades. E à Universidade Federal do Acre
(UFAC),     onde     aprendi   o   compromisso   do
conhecimento com a transformação social.
5




Dedico este trabalho à minha mãe, Maria Lourdes
Batista, ex-seringueira, mulher guerreira que me
criou e me preparou para o mundo. Parafraseando
Julio Cesar, em sua vitória sobre Farnaces II -
Veni, vidi, vici! (Vim, vi, venci!) -, eu proclamo: Vim,
vi... e estou na luta!
6




                                  RESUMO


NASCIMENTO, J. B. A imprensa acreana na batalha por hegemonia:
estratégias de 1969 a 2006. 2012. 210 f. Monografia (Bacharelado) – Curso
de Ciências Sociais, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2012.


O presente trabalho analisa o caráter ideológico da imparcialidade jornalística
como ferramenta de produção de consensos dos grupos que controlam os
jornais na disputa por hegemonia ao longo da história. Analisa a cobertura
jornalística dos quatro diários do Acre - A Gazeta do Acre/A Gazeta, O Rio
Branco, A Tribuna e Página 20 - no período de 1969 a 2006, com ênfase nas
campanhas eleitorais, delineando as estratégias adotadas para valorizar
grupos políticos e seus respectivos candidatos.


      Palavras-chave: Jornalismo. Ideologia. Hegemonia.
7




                                       ABSTRACT

NASCIMENTO, J. B. The press acreana in the battle for hegemony: strategies
from 1969 to 2006. 2012. 210 f. Monografia (Bacharelado) – Curso de Ciências
Sociais, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2012.


This paper examines the ideological character of journalistic impartiality as
production tool consensus by groups that control the newspapers in contention for
hegemony throughout history. Studies media coverage of the four daily of Acre – A
Gazeta do Acre/A Gazeta, O Rio Branco, A Tribuna e Página 20 - in the period from
1969 to 2006, with emphasis on electoral campaigns, outlining the strategies
adopted to enhance political groups and their respective candidates.


             Keywords: Journalism. Ideology. Hegemony
8




                                           SUMÁRIO




INTRODUÇÃO........................................................................................... 009


1 IMPRENSA E IDEOLOGIA .................................................................... 014
1.1 O INSTRUMENTAL TEÓRICO GRAMSCIANO .................................. 023


2 CRONOLOGIA DA COMUNICAÇÃO .................................................... 026
2.1 A IMPRENSA BRASILEIRA ................................................................ 040


3 A IMPRENSA ACREANA ....................................................................... 050
3.1 DIVERSIDADE EDITORIAL E LUTA POLÍTICA .................................. 059
3.1.1 O Rio Branco: arauto conservador ................................................ 060

3.1.2 A Gazeta: o PMDB vai à luta ............................................ 109

3.1.3 A Tribuna: quem dá mais?.............................................. 134

3.1.4 Página 20: o galinho bom de briga .................................................142
3.2 UNIFORMIDADE EDITORIAL NO GOVERNO JORGE VIANA .............145
3.2.1 Jornalismo homogêneo.................................................................. 147


CONCLUSÃO ........................................................................................... 176


REFERÊNCIAS .......................................................................................... 180


APÊNDICE ............................................................................................... 188


ANEXOS ................................................................................................... 190
9




                                                 INTRODUÇÃO


                 No século XXI, a produção de notícias continua obedecendo ao critério
        da factualidade. Em um capitalismo em crise estrutural (MESZÁROS, 2002),
        com diferentes protestos em vários pontos do globo, jornais, revistas e outros
        meios de comunicação interpretam, porém, os fatos segundo a sua
        orientação editorial. Apesar de todos alegarem fidedignidade ao evento
        narrado, o resultado é uma diversidade de narrativas contraditórias.
                 Exemplo deste paradoxo – diferentes conclusões com o mesmo
        método, a narração simples – é o tratamento concedido pelos jornais à
        chamada Primavera árabe1. Enquanto a expectativa por transformações
        políticas, verdadeiro motivo das revoltas, ocupou número reduzido de
        especialistas em publicações de menor circulação, os meios de comunicação
        de maior alcance frisavam a quebra da ordem social: saques, violência física
        e semelhantes.
                 A diversidade de narrativas jornalísticas, saudada pelos próprios
        jornalistas como sintoma da liberdade de imprensa em relação ao poder
        estatal, merece exame mais detido. Na verdade, a cada etapa de
        transformação dos meios de transmitir ideias corresponde um avanço do
        poder político dos proprietários privados. Para construir consensos e legitimar
        a sua posição no mundo do trabalho, esta classe desenvolveu várias
        estratégias de convencimento.
                 Compreendida a imprensa industrial como parte dessas estratégias, o
        mapeamento dos discursos dos jornais ao longo da história fornece pistas

1
  Os protestos no mundo árabe em 2010-2012, também conhecidos como a Primavera Árabe, são uma onda
revolucionária de manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da África desde 18
de dezembro de 2010. Até a data, tem havido revoltas na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia; grandes
protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Síria, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait,
Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. Os protestos têm compartilhado
técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios,
bem como o uso das mídias sociais, como facebook, twitter e youtube, para organizar, comunicar e sensibilizar a
população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na internet por partes dos
Estados. PRIMAVERA ÁRABE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2012.
10



        importantes para entender o processo de obtenção de legitimidade – em
        linguagem gramsciana, da batalha por hegemonia – do projeto de poder da
        classe dominante. Este trabalho analisa os jornais acreanos nesse contexto.
        O Rio Branco, A Gazeta do Acre/A Gazeta, A Tribuna e Página 20 foram
        escolhidos porque têm circulação regular e diária e mantiveram-se em
        funcionamento nas mais diversas condições sociais, ao contrário de uma
        série de publicações menores, com lapsos de periodicidade ou extintas.2
                 A escolha do período de pesquisa deu-se pela riqueza das mudanças
        editoriais, contribuindo para compreender de que forma os jornais de Rio
        Branco agem como propagandistas de grupos políticos: nas campanhas
        eleitorais o que se descortina é o confronto editorial, com cada jornal
        atacando o candidato a que se opõe e o jornal que lhe dá suporte. Este,
        esmerando-se na formulação de imagens positivas do seu candidato, ao
        mesmo tempo tenta inocentá-lo das acusações dos rivais.
                 Todo este processo realiza-se por meio de linguagem informativa,
        atribuindo os interesses do jornal o caráter de interesse geral, público. Desta
        forma, as ácidas e por vezes brutais polêmicas estariam apenas divulgando
        fatos de forma isenta ou neutra. Com esse disfarce, a propaganda eleitoral
        costura o consenso entre as classes e por meio dele garante a manutenção
        de hegemonia3.
                 Para compreender o papel da imprensa em todos esses eventos,
        impõe-se contextualizar jornalismo e processo político. Por isso, o presente
        trabalho desdobra-se nos seguintes objetivos específicos:

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Primavera_%C3%81rabe&oldid=32300675>. Acesso
em: 23 set. 2012.
2
  De acordo com o acervo disponível no Museu da Borracha, em Rio Branco, de 1969 a 1999 circularam em Rio
Branco os periódicos A Folha, A Semana, A Carta, Correio da Tarde, Correio do Acre, Folha dos Nauas, Jornal
do Acre, O Acre, o Estado do Acre, O Aquiri, O Rebate, O Liberal, Renovação, Ultima Hora, A Notícia, A
Semana, O Eco, Parabéns Cruzeiro do Sul, Correio do Oeste, Folha Infantil, Folha Cultural, Frente e Verso,
Hora do Povo, Letras em Marcha, Jornal Documento, Jornal da Saúde, O Comunista, O Norte, O Gafanhoto, O
Estudante, O Imparcial, O Espírito da Coisa, Sentinela, Xapuri Informativo, 3 de Março e vários outros. Todos
com circulação esporádica e irregular, com enormes lacunas entre cada edição. Catalogar todos esses jornais
conta com a dificuldade adicional dos acervos públicos disponíveis hoje não terem todos os exemplares, e os que
se dispõem não se encontram digitalizados.
3
  Utiliza-se aqui, e ao longo de todo o trabalho, a concepção teórica de hegemonia no sentido que lhe dá Antonio
Gramsci, segundo GRUPPI (1980): “A hegemonia é capacidade de direção, de conquistar alianças, capacidade
de fornecer uma base social ao Estado”.
11



      1. Analisar o surgimento da imprensa diária como um subproduto das
         disputas pelo comando político da sociedade na era industrial,
         utilizando para tanto dados dos principais jornais do mundo, do
         Brasil e do Acre, comparando transformações editoriais do
         jornalismo e mudanças políticas.
      2. Medir a ênfase dada por cada jornal aos grupos em disputa política
         para definir a quais grupos determinado veículo defende ou se
         opõe.
      3. Demonstrar como a propaganda se insere socialmente disfarçada
         de informação objetiva utilizando-se do conceito positivista de
         neutralidade do discurso informativo e como esta operação é
         coerente com o estágio de ascenso burguês.
      Para identificar as relações entre os processos de ascenso e
consolidação da classe dominante e as mudanças editoriais, o trabalho segue
uma orientação cronológica. As principais mudanças jornalísticas são
expostas no contexto da vida social geral na Europa, nos Estados Unidos e
no Brasil. O objetivo é definir de que forma a imprensa atua como agente de
disputa por consensos em diferentes épocas.
      Também por meio do movimento das classes busca-se analisar os
motivos que fazem os jornais lutar por liberdade, justiça, verdade e outros. A
ideia de isenção da notícia, derivada da filosofia positivista e que visa,
inicialmente, firmar os jornais como agentes legítimos da comunicação social,
é tomada como parte deste processo. Busca-se compreender como a defesa
de consenso social por meio de conceitos universais é parte da ofensiva de
uma classe contra outra, através da ideologia.
      Visando compreender os contornos da luta de classes da qual a
imprensa participa, buscou-se entender a produção jornalística como parte do
processo de produção de consensos necessários à manutenção da ordem
social. Trabalhou-se ainda com os conceitos de imprensa regulada e
liberdade noticiosa (GENRO FILHO, 1987) e de indústria submetida às leis
gerais de mercado (MARCONDES FILHO, 1989), entre outros.
      A pesquisa de campo consistiu na realização de entrevistas com os
proprietários dos quatro jornais, objetivando coletar impressões sobre a
12



        relação entre a atividade jornalística e os contratos com o Estado, além de
        dados gerais sobre a origem, infra-estrutura e funcionamento das empresas.
        Os entrevistados foram: Antonio Stelio de Castro (A Tribuna e Página 204),
        Narciso Mendes de Assis (O Rio Branco) e Silvio Martinello (A Gazeta). Dada
        uma certa posição desconfiada dos entrevistados, não foram realizados
        questionários. Assim, as perguntas variaram segundo cada entrevistado 5.
                 A pesquisa documental consistiu no levantamento fotográfico da capa
        (primeira página) de cada jornal, utilizando-se o acervo do Museu da
        Borracha e do Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH) da
        UFAC. Dado o considerável interregno (37 anos) e de serem quatro os diários
        pesquisados, optou-se por uma amostragem. Analisou-se entre duas e cinco
        capas de cada jornal entre os meses de setembro, outubro e novembro dos
        anos de 1982, 1984, 1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1994, 1996 e 1998.
                 De 1999 a 2006, a metodologia de amostragem foi modificada para
        duas edições por mês, de cada jornal6, visando compreender melhor os
        detalhes do processo de uniformização dos quatro jornais para dar apoio aos
        governos e prefeituras da FPA. Observou-se, nesse período, que a
        uniformização editorial, que persiste até a presente data, é um subproduto do
        controle, pela FPA, dos principais espaços institucionais da política formal.7
                 Dado o grande volume de dados coletados, e visando maior
        organização para a melhor compreensão possível, a distribuição espacial do
        trabalho seguiu uma divisão em capítulos.
                 O primeiro capítulo realiza uma discussão teórica sobre os princípios
        de neutralidade e imparcialidade do discurso jornalístico-noticioso como
        derivativo da interpretação positivista da realidade, no qual o ato de conhecer

4
  Dado o aspecto singular deste veículo para a produção de imagens simbólicas positivas do Partido dos
Trabalhadores em seu ascenso ao poder a partir de 1993, e a relevância desse processo para compreender as
transformações editoriais até então, entrevistou-se também o seu primeiro editor-chefe, o jornalista Sebastião
Vítor de Lima. Todas as entrevistas estão disponíveis no apêndice deste trabalho.
5
  Foi necessário fazê-lo devido à realização das entrevistas em datas diferentes. Dada a posição estratégica dos
entrevistados para o presente trabalho, preferiu-se abrir o conteúdo das entrevistas a correr qualquer risco de ter
algumas perguntas vetadas por “impertinência”.
6
  Algumas edições não estavam disponíveis nos bancos de dados do Museu da Borracha e do CDIH/UFAC,
constituindo perda irreparável de material de análise esta e outras pesquisas.
7
  A questão, extremamente relevante, dos dissensos antigos e recentes na estrutura institucional partidária e de
Estado montada pela FPA, além da base dos movimentos sociais, e as implicações deste fenômeno para o que
13



        advém de despir-se de prenoções por parte do sujeito cognoscente. Em
        seguida,       aponta-se        a    filosofia     positivista     como       expressão         teórica
        materialmente necessária às classes dominantes na Europa e nos EUA.
                 Apropriando-se dessas reflexões do primeiro, o segundo capítulo
        empreende uma cronologia sobre a evolução da imprensa no mundo e no
        Brasil, contextualizando as mudanças editoriais no contexto imediato das
        disputas políticas. Observa, ainda, por que o desenvolvimento industrial da
        imprensa só foi possível no ambiente propício do capitalismo.
                 No terceiro capítulo, articulada à reflexão desenvolvida nos anteriores,
        apresenta-se os resultados da pesquisa sobre os jornais acreanos. Analisa-se
        cada jornal em dois momentos: o da diversidade de posturas editoriais,
        correspondendo às conflagrações dos grupos políticos que buscavam o
        controle do governo do Estado e da prefeitura de Rio Branco; e o da
        uniformidade editorial, que corresponde ao gradual controle da disputa
        política pela Frente Popular do Acre (FPA).
                 Na fase de diversificação editorial e disputa política, busca-se delinear
        as várias fases do processo em cada jornal até 2004, quando a FPA vence as
        eleições municipais na capital e retira o MDA do cenário político. A partir de
        2004, com a FPA no comando da prefeitura de Rio Branco e do governo do
        Estado, os jornais começam a aderir à mesma linha editorial.
                 O Apêndice deste trabalho traz a transcrição das entrevistas com os
        dons dos jornais. Nos Anexos há um CD com fotografias de todas as edições
        pesquisadas e alguns documentos usados no levantamento de dados.
                 As conclusões apresentadas na presente monografia devem ser vistas
        como anotações provisórias de um esforço de pesquisa limitado. Tanto o
        jornalismo quanto os grupos políticos em disputa citados, com suas
        dinâmicas e alterações, impõem problematizações conceituais, contínuas
        redefinições teóricas, novos temas e linhas de análise. A consciência desta
        limitação impõe a necessidade de novos estudos para capturar mais
        claramente a dinâmica do objeto de pesquisa.



pode ser lido como hegemonia em declínio, não será tematizada no presente trabalho por ter efeito nulo, até o
14



         1 IMPRENSA E IDEOLOGIA


                                                         Os homens fazem a sua própria história, mas não a
                                             fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob
                                             circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se
                                             defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
                                             – Karl Marx.



                  Este capítulo analisa o conceito de isenção da notícia jornalística como
         estratégia de convencimento e controle social compatível com determinada
         fase do modo de produção capitalista. Para tanto, faz ligeira incursão sobre o
         processo de cognição humana segundo as escolas positivista e marxista, o
         conteúdo ideológico da idéia de isenção e as implicações para a imprensa.
                  A bibliografia sobre os fundamentos teórico-epistemológicos do
         jornalismo é escassa. Uma análise sobre a rápida adesão da imprensa
         brasileira ao modelo informativo norte-americano pondera que:


                                    Nos Estados Unidos, depois da I Guerra, consolida-se a perspectiva
                                    funcionalista no estudo da comunicação social, alicerçada em estudos
                                    de natureza empirista que se utilizam de modelos formais e
                                    matemáticos. Essa corrente, que pretende atribuir-se uma aura de
                                    imparcialidade e objetividade, passa a hegemonizar os estudos nesse
                                    campo nos Estados Unidos e também na América Latina. O
                                    desenvolvimento dos meios de comunicação e do próprio jornalismo
                                    são analisados como processos independentes em relação ao
                                    desenvolvimento global das forças produtivas e da luta de classes, ou
                                    seja, apartados do movimento histórico em seu conjunto. Ao contrário,
                                    os meios de comunicação são tomados apenas como "função
                                    orgânica" da sociedade capitalista contemporânea, entendida esta
                                    como paradigma do progresso e da normalidade. (GENRO FILHO,
                                    1987, p. 33)


                  Outra obra recente, dedicada ao mesmo tema, confirma a inexistência
         de uma reflexão teórica mais aprofundada sobre o jornalismo e seus
         métodos:


                                            Passados 20 anos desde o lançamento desta obra seminal,
                                    ainda é comum docentes ensinarem as técnicas jornalísticas como se
                                    elas se bastassem, sem a necessidade de uma explicação
                                    epistemológica capaz de sustentar certas regras. Assim como é

presente instante, sobre os quatro jornais em análise.
15


                                  comum achar que, por trás da prática jornalística de qualidade, não é
                                  preciso haver teoria. (TEIXEIRA, 2007, p. 21)


                 De fato, a bibliografia acadêmica em comunicação social consultada
        para este trabalho busca fundamentar-se em conceitos microssociológicos8
        como representações culturais, trocas simbólicas e um instrumental
        conceitual derivado das ciências da linguagem. A escassez de tradição crítica
        sobre as forças sociais que incidem sobre o fazer jornalístico causou o
        interessante efeito de se considerar a imprensa como causa de si mesma,
        fenômeno confirmado por estudos recentes. Artigo científico sobre a profissão
        jornalística      no    Brasil,     por    exemplo,        reivindica      o    “amadurecimento
        epistemológico” como ponto de partida para a legitimidade científica dos
        estudos sobre a imprensa.


                                          Inserido num processo de mundialização da cultura, em que a
                                  internacionalização da ciência tem papel de vanguarda, é pouco
                                  provável que o problema da construção do consenso necessário ao
                                  amadurecimento epistemológico do campo [jornalístico] encontre
                                  soluções localizadas, quaisquer que elas sejam, para a questão ainda
                                  não solucionada da unicidade e diversidade da área da Comunicação.
                                  (MEDITSCH, 2010, p. 99).


                 Numa análise sobre os manuais especializados em pesquisa na área
        de jornalismo, observa-se o descompasso entre os numerosos estudos
        empíricos sobre os fenômenos comunicativos humanos e a falta de
        metodologias que permitam identificar as forças e processos que os
        produzem:


                                           Ao compararmos a diversidade de conceitos, referências
                                  bibliográficas, categorias de análise e metodologias incluídos em cada
                                  um destes manuais verificamos que ainda que o grau de
                                  complexidade atingido pelo Jornalismo como disciplina científica ao
                                  longo destes últimos 50 anos tenha aumentado, em muitos casos as
                                  metodologias empregadas são similares aos modelos concebidos no
                                  século passado. (MACHADO, 2010, p. 21).



8
  Segundo Gurvitch (apud PEREIRA et al., 2007, p. 2) “A microssociologia constitui-se de simples elementos
que compõem a realidade social e são constituídos pelas múltiplas maneiras de estar ligado pelo todo e no todo,
ou manifestações da sociabilidade que, em diferentes graus da actualidade e virtualidade, se combatem e
combinam em todo o grupo, classe e sociedade geral”.
16



                O mesmo autor também estima a extensão dos danos provocados aos
        estudos sobre comunicação social que se apoiam em dados imediatos e
        diretos, sem análise crítica das forças sociais a que estes se ligam:


                                          Nada pode ter provocado consequências mais desastrosas
                                 para a compreensão da prática jornalística, em particular nos estudos
                                 brasileiros, do que a aceitação pacífica dos pressupostos teóricos
                                 contidos nos conceitos de rotinas produtivas e de valores de notícias.
                                 Nos dois casos, em vez de utilizar a realidade para colocar à prova os
                                 conceitos, em geral o pesquisador ajustava a realidade aos limites
                                 destes conceitos, constituindo um círculo vicioso em que quanto mais
                                 se pesquisava, menos se sabia sobre o objeto estudado. (p. 22).


                A teoria sobre jornalismo como processo ausente do conflito social,
        sem contextualização com os interesses sociais em jogo que agem sobre a
        imprensa, sinaliza a sua filiação ao positivismo. A concepção de neutralidade
        do ato noticioso, por exemplo, tem fundamento na pretensão de tentar
        apreender fatos sociais como “coisas”.9 Da mesma forma, se o cientista social
        é instado a analisar fenômenos sociais de forma distanciada, evitando
        contaminar a ciência com a sua subjetividade, o jornalista moderno deve
        esforçar-se para reportar os fatos sem contaminá-los com a sua opinião.
                Diferente do jornalismo, a tradição crítica epistemológica está
        consolidada na sociologia. A crítica à pretensão de neutralidade almejada
        pelo positivismo é farta especialmente na concepção materialista.
                O filósofo Michael Löwy nota que a pretensão de neutralidade equivale
        ao feito do Barão de Münchhausen, que, atolado sozinho em um pântano,
        escapou puxando-se pelos cabelos. A anedota ilustra a inviabilidade de uma
        ciência social sem valores: indivíduos que se pretendem neutros devem
        lembrar-se que são forjados em conflitos sociais que incidem sobre a
        atividade      intelectual.     O     autor     enumera        os     fundamentos         teórico-
        epistemológicos do positivismo:

                                          1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis
                                 invariáveis, independentes da vontade e ação humanas; na vida
                                 social, reina uma harmonia natural.

9
  É esta exatamente a perspectiva teórica de Émile Durkheim: “É preciso, portanto, considerar os fenômenos
sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como
coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.” (DURKHEIM, 1999, p. 28).
17


                             2. A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente
                    assimilada pela natureza (o que classificaremos como “naturalismo
                    positivista”) e ser estudada pelos mesmos métodos, démarches e
                    processos empregados pelas ciências da natureza.
                             3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza,
                    devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos,
                    de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias,
                    descartando previamente todas as prenoções e preconceitos. (LÖWY,
                    2000, p. 17).


      A concepção materialista considera que há na tessitura social, ao
longo da história, relações sociais que condicionam a apreensão da realidade
pelos homens, incluindo os pesquisadores. O que garante a objetividade do
conhecer não é o distanciamento estratégico do sujeito cognoscente: é,
inversamente, compreender essas relações e posicionar-se sobre elas.
      Para Karl Marx, dado o fato de que os homens em sua existência
produzem coisas de que necessitam e também lhes dão sentidos ou
significados espirituais (simbólicos), a análise científica terá maior sucesso na
medida em que apreende as condições em que são produzidas as idéias e
seus sentidos na vida social. De fato, o autor deixa claro que


                             (...) na produção social da sua vida os homens entram em
                    determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade,
                    relações de produção que correspondem a uma determinada etapa
                    de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade
                    destas relações de produção forma a estrutura económica da
                    sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura
                    jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da
                    consciência social. O modo de produção da vida material é que
                    condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a
                    consciência dos homens que determina o seu ser, mas,
                    inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência.
                    (MARX, 1982, p. 530).


      Ao mapear a estrutura produtiva da sociabilidade burguesa, Marx
localizou as forças materiais que a cria e mantém. Essas forças estão
reunidas sob a forma de classes sociais antagônicas, que ocupam posições
diferentes no mundo do trabalho e têm interesses antagônicos sobre o mundo
produtivo. A divergência das posições materiais entre classes dominantes e
dominadas é que cria diferentes percepções sobre o mundo.
      No entanto, ainda segundo Marx, as relações de produção são
constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. No
18



capitalismo, a mais fundamental dessas relações é a propriedade que a
burguesia tem dos meios de produção, enquanto o proletariado possui
apenas a sua força de trabalho. Este ponto de tensão, que não pode ser
eliminado sem um colapso das relações de produção fundadas na
propriedade privada, é equilibrado pela classe dominante com a sua
universalização, isto é, com a propaganda dos seus interesses particulares
como se fossem de toda a sociedade. A idéia que a sociedade possui valores
universais que precisam ser defendidos contra infiltrações decadentes é uma
estratégia para manter a própria luta de classes.
      Este e outros mecanismos que favorecem a naturalização dos
interesses da classe dominante, estabelecendo-os como eternos, universais e
necessários para o bem-estar da comunidade humana, visam conquistar os
trabalhadores para uma subalternidade solidária. Marx chama essas
estratégias de “ideologia”:


                             As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as
                    ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material
                    dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual
                    dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a
                    produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a
                    produção espiritual, pelo que lhe estão assim, ao mesmo tempo,
                    submetidas em média as ideias daqueles a quem faltam os meios
                    para a produção espiritual. As ideias dominantes não são mais do que
                    a expressão ideal [ideell] das relações materiais dominantes, as
                    relações materiais dominantes concebidas como ideias; portanto, das
                    relações que precisamente tornam dominante uma classe, portanto
                    as ideias do seu domínio. Os indivíduos que constituem a classe
                    dominante também têm, entre outras coisas, consciência, e daí que
                    pensem; na medida, portanto, em que dominam como classe e
                    determinam todo o conteúdo de uma época histórica, é evidente que o
                    fazem em toda a sua extensão, e portanto, entre outras coisas,
                    dominam também como pensadores, como produtores de ideias,
                    regulam a produção e a distribuição de ideias do seu tempo; que,
                    portanto, as suas ideias são as ideias dominantes da época. Numa
                    altura, por exemplo, e num país em que o poder real, a aristocracia e
                    a burguesia lutam entre si pelo domínio, em que portanto o domínio
                    está dividido, revela-se ideia dominante a doutrina da divisão dos
                    poderes, que é agora declarada uma "lei eterna". (MARX, 2002, p.
                    78).


      Adiante, de forma mais esquemática, complementa:


                            Ora, se na concepção do curso da história desligarmos as
                    ideias da classe dominante da classe dominante, se lhes atribuirmos
19


                   uma existência autónoma, se nos ficarmos por que numa época
                   dominaram estas e aquelas ideias, sem nos preocuparmos com as
                   condições da produção e com os produtores destas ideias, se,
                   portanto, deixarmos de fora os indivíduos e as condições do mundo
                   que estão na base das ideias, então poderemos dizer, por exemplo,
                   que durante o tempo em que dominou a aristocracia dominaram os
                   conceitos honra, lealdade, etc., durante o domínio da burguesia
                   dominaram os conceitos liberdade, igualdade, etc. Em média, é isto
                   que a própria classe dominante imagina. Esta concepção da história,
                   que a todos os historiadores é comum, em especial a partir do século
                   XVIII, há-de necessariamente dar com o fenómeno de que dominam
                   ideias cada vez mais abstractas, isto é ideias que assumem cada vez
                   mais a forma da universalidade. É que cada nova classe que se
                   coloca no lugar de outra que dominou antes dela, é obrigada, apenas
                   para realizar o seu propósito, a apresentar o seu interesse como o
                   interesse comunitário de todos os membros da sociedade, ou seja, na
                   expressão ideal [ideell]: a dar às suas ideias a forma da
                   universalidade, a apresentá-las como as únicas racionais e
                   universalmente válidas. (Idem, p. 148).


      Trata-se de adaptação dos valores de uma classe como se fossem
válidos para toda a sociedade:


                           A consciência, prossegue o texto de A Ideologia Alemã,
                   estará indissoluvelmente ligada às condições materiais de produção
                   da existência, das formas de intercâmbio e de cooperação, e as idéias
                   nascem da atividade material. Isto não significa, porém, que os
                   homens representem nessas idéias a realidade de suas condições
                   materiais, mas, ao contrário, representam o modo como essa
                   realidade lhes aparece na experiência imediata. Por esse motivo, as
                   idéias tendem a ser uma representação invertida do processo real,
                   colocando como origem ou como causa aquilo que é efeito ou
                   conseqüência, e vice-versa. (CHAUÍ, 1995, p. 63)


      A inversão entre causa e efeito tem efeitos sobre vários outros
aspectos da vida social, como o trabalho, por exemplo. A sociedade se
encarrega de naturalizar práticas que são forjadas para atender o interesse
de grupos que controlam ideologicamente a própria vida social:


                            Também     as   relações   sociais    são   representadas
                   imediatamente pelas idéias de maneira invertida. Com efeito, à
                   medida que uma forma determinada da divisão social do trabalho se
                   estabiliza, se fixa e se repete, cada indivíduo passa a ter uma
                   atividade determinada e exclusiva que lhe é atribuída pelo conjunto
                   das relações sociais, pelo estágio das forças produtivas e,
                   evidentemente, pela forma da propriedade. Cada um não pode
                   escapar da atividade que lhe é socialmente imposta. A partir desse
                   momento, todo o conjunto das relações sociais aparece nas idéias
                   como se fossem coisas em si, existentes por si mesmas e não como
                   conseqüência das ações humanas. Pelo contrário, as ações humanas
                   são representadas como decorrentes da sociedade, que é vista como
20


                                   existindo por si mesma e dominando os            homens. Se a Natureza,
                                   pelas idéias religiosas, se “humaniza”           ao ser divinizada, em
                                   contrapartida a Sociedade se “naturaliza”,      isto é, aparece como um
                                   dado natural, necessário e eterno, e não        como resultado da praxis
                                   humana. (Idem, p. 66).


                 A visão de mundo da classe dos trabalhadores permite visualizar
        objetivamente a realidade, o que não se dá, porém, por superioridade moral
        do oprimido10. É que o proletariado, subtraído da propriedade dos meios de
        produção necessários à sua subsistência física, compreende porque sofre o
        processo de exploração, e, consequentemente, necessita transformar esta
        realidade desfavorável. Logo, em vez de justificar a exploração por meio de
        estratégias ideológicas, o proletariado possui, pela sua condição material, o
        germe da liberdade humana.
                 Esse princípio tem também implicações para o trabalho científico que
        pretenda capturar objetivamente o movimento da vida social:


                                           A realidade social, como toda a realidade, é infinita. Toda
                                   ciência implica uma escolha, e nas ciências históricas essa escolha
                                   não é um produto do acaso, mas está em relação orgânica com uma
                                   certa perspectiva global. As visões do mundo das classes sociais
                                   condicionam, pois, não somente a última etapa da pesquisa científica
                                   social, a interpretação dos fatos, a formulação das teorias, mas a
                                   escolha mesma do objeto de estudo, a definição do que é essencial e
                                   do que é acessório, as questões que colocamos à realidade, numa
                                   palavra, a problemática da pesquisa. (LÖWY, 1978, p. 15).


                 Considerar, portanto, que a notícia do jornal é transposição direta da
        realidade não garante a objetividade do conhecimento. Serve, ao contrário,
        para ocultar que toda notícia é a leitura da realidade por alguem, e que é
        impossível, graças às especificidades do aparato cognitivo humano, transmitir
        a realidade tal como ocorreu sem alguém para reportá-la. A concepção
        materialista permite afirmar ainda que todo processo de formulação de
        notícias submete os fatos à visão de mundo de quem produz essas notícias.
        A perspectiva de classe incide diretamente sobre o jornalismo. Por sua vez, a

10
  O trabalhador como “oprimido” é uma figura alienígena ao pensamento marxiano. Marx não via na relação
entre proletário e burguês a condição de opressão, que pressupõe coerção física ou psicológica, e sim de
exploração da força de trabalho visando a produção de mais-valia. A questão, todavia, é reconhecidamente
polêmica, se levado em consideração o aspecto brutal do capitalismo nos países de passado colonial. Por isto, tal
questão não será tratada no presente trabalho, ficando apenas a presente nota para reflexão e/ou possíveis
desdobramentos teóricos.
21



        crença na isenção da notícia, na universalidade do seu interesse social, é o
        que impede que este fenômeno seja claro.
                Diante do caráter ideológico da ideia de isenção jornalística, como
        mensurar cientificamente a questão de que os jornais, além de não apreender
        objetivamente o real, o interpretam? Essa questão pode ser resolvida
        analisando o jornalismo no contexto das disputas políticas, esforço
        especialmente difícil no caso amazônico. Trata-se de tese nova: a de que os
        jornais, ao empenhar-se na defesa de defender valores civilizatórios, nos
        quais a isenção da notícia é a garantia da busca pelo bem comum, estariam
        manobrando pela construção de hegemonia para um grupo social.
                No entanto, a força desse tipo de jornalismo, o da busca impessoal
        pelo bem comum, é um complemento eficaz para as disputas oligárquicas na
        região. As lutas entre diversas facções políticas, representando interesses
        conflitantes dentro da classe dominante, engendram grupos políticos atuantes
        com     máquinas       de    propaganda        voltadas     ao    convencimento         social,
        fundamentalmente nos períodos eleitorais.
                Compreendidas as batalhas travadas pelas oligarquias provinciais
        contra o Império, e, posteriormente, a República, registrar a atividade
        jornalística nesses períodos é compreender os meandros da disputa por
        hegemonia.
                Trata-se, no entanto, de tarefa árdua.
                Um estudo recente11 sobre o jornalismo acreano, localiza-se as várias
        mudanças       estéticas     da    imprensa,      mas     conclui-se     que    trata-se    de
                                                         12
        transformações dos discursos de poder , abstraindo as próprias relações de
        poder para concentrar-se em questões lingüísticas, ou, quando muito, no
        tráfico de influencia entre imprensa e instituições estatais. Trabalho
        monográfico13 sobre o jornalismo acreano entre 1994 e 1998 também aponta
        o controle da informação pelo Estado opressor ao mesmo tempo em que
        admite uma relação de “mercado das notícias”, isto é, de troca de produção

11
   BONIFÁCIO, 2007.
12
   Diz a autora, na introdução: “Através das tramas do emaranhado de redes do poder midiático é possível
entrever os movimentos de resgate da memória e o estabelecimento de alguns traços das várias identidades
sociais que circulam na sociedade acreana” (BONIFÁCIO, 2007, p. 14)
13
   PAIVA, 2000.
22



        de imagens positivas por dinheiro. A venda ocorreria na forma de repasses
        mensais a pretexto de pagamento pela divulgação dos atos de governo. Ao
        não reconhecerem o jornalismo como estratégia de convencimento da classe
        dominante, os estudos batem-se pela mesma liberdade de imprensa
        reivindicada pelos donos dos meios de comunicação.
                 Mais criterioso, outro trabalho14 percebe que “a hegemonia de
        determinada classe social depende prioritariamente do controle da ideologia
        e, não apenas, do domínio político ou econômico.” Apesar disso, o estudo,
        cronologia exaustiva dos jornais acreanos desde a ocupação boliviana,
        também enfatiza os percalços entre imprensa e poder institucional.
                 Nelson Werneck Sodré, porém, ao enumerar15 as transformações
        editoriais da imprensa brasileira, localiza o jornalismo diário como estratégia
        de propaganda. Para ele os Estados Unidos utilizaram-se do jornalismo entre
        os países sul-americanos na batalha pela hegemonia durante a guerra fria: a
        exportação do american way of life, diz o autor, causou as mais importantes
        mudanças de estilo, circulação e linguagem dos jornais.16
                 Em que pese a inexistência de imprensa diária em 21 dos 22
        municípios do Acre, a análise sobre o jornalismo acreano não resta
        prejudicada: na capital acreana subsistem até a presente data os quatro
        diários em análise. Convém, assim, utilizar um instrumental teórico adequado
        para viabilizar a obtenção de resultados.




14
   ASSMAR, 2007.
15
   SODRÉ, 1999.
16
   “A imprensa fora uma das grandes vítimas da ditadura estadonovista. Tudo isso, entretanto, pertencia à época
do nazismo ascensional, quando Salazar, Mussolini, Hitler, Franco, Tojo eram senhores do mundo, financiados
pelo imperialismo apavorado com a consolidação do poder soviético em vasta extensão da Europa e da Ásia, a
antiga Rússia. Depois da Guerra, em que soviéticos, franceses, ingleses, americanos, brasileiros haviam
combatido juntos o inimigo comum, isso parecia impossível. A bomba de Hiroshima, a terrível repressão na
Grécia, entretanto, anunciavam divergências insanáveis. Churchill, no discurso de Fulton, liquidou a unidade
antinazista e abriu a “guerra-fria”. No âmbito desta, a luta pelo controle da opinião teria destacado relevo.
(SODRÉ, 1999, p. 396).
23



1.1 O INSTRUMENTAL TEÓRICO GRAMSCIANO


      Ao se comparar a categoria marxiana “ideologia” com a “hegemonia”
de Gramsci, há uma clara filiação da segunda à primeira.


                           Uma das contribuições mais interessantes de Gramsci é a
                   sua reflexão sobre os mecanismos pelos quais uma classe pode
                   exercer a dominação sobre as outras, estabelecendo a sua
                   hegemonia não somente pela coerção, como também mediante o
                   consenso, transformando a sua ideologia de grupo num conjunto de
                   verdades que se supõem válidas para todos e que as classes
                   subalternas aceitaram. (FONTANA, 1998, p. 238.)


      Gramsci (apud COUTINHO, 2007) analisa a imprensa como a parte
mais dinâmica da superestrutura ideológica das classes dominantes.
Caracteriza-a como “a organização material voltada para manter, defender e
desenvolver a frente teórica ou ideológica”, um suporte ideológico do grupo
hegemônico:


                           Como se sabe, Gramsci dedicou grande atenção ao modo
                   como a estrutura ideológica de uma classe dominante se organiza,
                   assinalando: A imprensa é a parte mais dinâmica desta estrutura
                   ideológica, mas não a única: tudo o que influi ou pode influir sobre a
                   opinião pública, direta ou indiretamente, faz parte dessa estrutura.
                   Dela fazem parte: as bibliotecas, as escolas, os círculos e os clubes
                   de variado tipo, até a arquitetura, a disposição e o nome das ruas.
                   (COUTINHO; TEIXEIRA, 2003, p. 243).


      Em panfleto publicado em 1916, intitulado Os jornais e os operários,
Gramsci dedica especial atenção ao tema. Insiste que os operários devem
recusar os jornais burgueses, mantidos por capitais privados, que privilegiam
as verdades interessantes para partidos e políticos burgueses:


                            O jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um
                   instrumento de luta movido por ideias e interesses que estão em
                   contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente
                   influenciado por uma ideia: servir a classe dominante, o que se traduz
                   sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. [...] E não
                   falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa,
                   ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público
                   trabalhador. (GRAMSCI, 2005).
24



                 O texto critica o trabalhador que lê os jornais burgueses, ajudando a
        mantê-los, “aumentando a sua potência”, esquecendo que esses veículos
        “apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe
        burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária”.
                 Em obra dedicada a realizar um estudo sistemático da atividade
        intelectual na Europa, o mesmo autor avisa:


                                           O tipo de jornalismo estudado nestas notas é o que poderia
                                   ser chamado de “integral” (num sentido que, no curso das próprias
                                   notas, adquirirá significado cada vez mais claros), isto é, o jornalismo
                                   que não somente pretende satisfazer todas as necessidades (de uma
                                   certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e
                                   desenvolver estas necessidades e, consequentemente, em certo
                                   sentido, criar seu público e ampliar progressivamente sua área.
                                   (GRAMSCI, 1982, p. 161).


                 A ocupação com a atividade jornalística guarda coerência com o
        conjunto do corpo teórico gramsciano. A imprensa é parte dos aparelhos
        privados de hegemonia da sociedade civil, assim como a religião e os centros
        de produção de cultura e de ensino.
                 Para compreender melhor a implicação do corpo teórico gramsciano
        para o objeto desta análise, convém empreender um recuo. Na teoria
        gramsciana há dois níveis superestruturais que compõem - nas sociedades
        ocidentais17 - o Estado Ampliado: a sociedade civil, que reúne o conjunto dos
        aparelhos privados de hegemonia; e a sociedade política, o Estado no sentido
        estrito, os organismos do aparelho burocrático-militar da política institucional.
        Na sociedade civil é onde se dá a batalha ideológica, ou, em termos
        gramscianos, hegemônica. É nela onde se espraiam as estratégias de busca
        por consensos, engendrando a legitimidade via aparelhos privados de
        hegemonia.

17
   Gramsci diferencia as sociedades ocidentais das orientais conforme a organização de suas estruturas de Estado.
Enquanto no Ocidente ocorre uma estrutura de Estado ampliado, no Oriente há uma estrutura de Estado restrito
que tem por base a manutenção e a reprodução da dominação a partir tão somente do poder coercitivo. Esta não
é, entretanto, uma divisão geográfica, mas conceitos históricos de conteúdo sócio-econômico que representam
tipos de sociedade e os papéis desempenhados pela sociedade civil e pela sociedade política na organização e
reprodução das estruturas sociais.
25



                 Esta atividade faz com que Gramsci perceba a imprensa como agente
        partidário18, cumprindo a função de “meio para organizar e difundir
        determinados tipos de cultura"19, articulados de forma orgânica com um
        determinado agrupamento social “mais ou menos homogêneo, de um certo
        tipo e, particularmente, com uma certa orientação geral”20.
                 Ao definir os jornais como aparelhos privados de hegemonia, Gramsci
        vai na contramão das concepções liberais que entendem a imprensa como
        quarto poder, cuja responsabilidade seria vigiar os governantes, brindando a
        “opinião pública” com a transmissão isenta de fatos e garantindo a liberdade
        de expressão na medida em que o faz sem intervenções estatais.
                 É ao primeiro marco categorial que filia-se o presente estudo. Quando
        possível, preferiu-se transcrever os próprios textos dos jornais para evidenciar
        as questões mais claramente. Também buscou-se acrescentar às notícias
        informações contextuais que ajudassem a compreender o meio social em que
        se deram os fatos, além dos interesses que sobre eles incidiam.
                 Além desse duplo panorama, composto pelas transformações da
        imprensa no conjunto das transformações da história, esse empreendimento
        requer uma cronologia comparada entre o movimento das classes sociais,
        seus interesses em cada momento e as transformações em curso nos jornais
        que     incidiam      sobre     linguagens,       infra-estrutura,       modo      de    produção,
        relacionamento com o poder e grupos sociais, entre outros. É o que,
        resumidamente, se faz a seguir.




18
   Esta visão pode ser encontrada, de forma menos elaborada, no texto onde Karl Marx analisa a imprensa inglesa
mostrando as diferenciações entre a imprensa ligada ao Partido Tory e a imprensa ligada ao Partido Whig. Conf.
MARX, Karl. A opinião dos jornais e a opinião do povo (1861). In. Liberdade de Imprensa. Porto Alegre,
LP&M, 2006.
19
   GRAMSCI, 1982, p. 32.
20
   Idem.
26




        2 CRONOLOGIA DA COMUNICAÇÃO


                                                  Todo mundo quer saber o nome do fazendeiro que
                                          bolinou, como diz o Antonio Klemer, com uma menininha de
                                          apenas dois anos de idade. O nome dele? Nem sob tortura. –
                                          Coluna da Rubedna Braga, 15.09.2005. Jornal O Rio
                                                 21
                                          Branco


                 Este capítulo realiza uma cronologia da imprensa europeia, dos
        Estados Unidos e do Brasil. O objetivo é mostrar que as mudanças editoriais
        estão ligadas a disputas entre setores da classe dominante pelo controle da
        sociedade e que a liberdade de imprensa é o discurso legitimador de um
        projeto de modernidade, permitindo o ascenso desta classe nos diversos
        países. Busca-se evidenciar que a ideia de neutralidade da notícia possibilitou
        ao jornal dirigir-se a todos, estimulando o consensualismo burguês e
        viabilizando a disseminação da visão de mundo dominante como se fosse de
        toda a sociedade.
                 O próprio jornalismo diário produzido por empresa especializada é uma
        necessidade da vida burguesa. A condução da política por interesses de
        grupos proprietários contribuiu para produzir as condições pelas quais a
        imprensa tornou-se um aparelho privado de hegemonia.


                                           Por muitas razões, fáceis de referir e de demonstrar, a história
                                  da imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade
                                  capitalista. O controle dos meios de difusão de idéias e de
                                  informações – que se verifica ao longo do desenvolvimento da
                                  imprensa, como reflexo do desenvolvimento capitalista em que aquele
                                  está inserido – é uma luta em que aparecem organizações e pessoas
                                  da mais diversa situação social, cultural e política, correspondendo a
                                  diferenças de interesses e aspirações. Ao lado dessas diferenças, e
                                  correspondendo ainda à luta pelo referido controle, evolui a legislação
                                  reguladora da atividade da imprensa. Mas há, ainda, um traço
                                  ostensivo, que comprova a estreita ligação entre o desenvolvimento
                                  da imprensa e o desenvolvimento da sociedade capitalista, aquele
                                  acompanhando a este numa ligação dialética e não simplesmente
                                  mecânica. A ligação dialética é facilmente perceptível pela
                                  constatação da influência que a difusão impressa exerce sobre o
                                  comportamento das massas e dos indivíduos. O traço consiste na
                                  tendência à unidade e à uniformidade. Em que pese tudo o que

21
  Solicita-se ao leitor eventualmente horrorizado pela presente e brutal epígrafe que se conceda alguma vênia
para que se possa expor a dimensão da licença que a imprensa dá a si mesma em seu trabalho de mistificação.
Não há, como se percebe, limites morais nesta empreitada.
27


                                 depende de barreiras nacionais, de barreiras lingüísticas, de barreiras
                                 culturais – como a imprensa tem sido governada, em suas operações,
                                 pelas regras gerais da sociedade capitalista, particularmente em suas
                                 técnicas de produção e de circulação – tudo conduz à uniformidade,
                                 pela universalização de valores éticos e culturais, como pela
                                 padronização do comportamento. As inovações técnicas, em busca
                                 da mais ampla divulgação, acompanham e influem na tendência à
                                 uniformidade (SODRÉ, 1999, p. 1).


                O primeiro22 jornal diário do mundo, o londrino Daily Courant, criado
       em 1702 por iniciativa da Coroa britânica, confirma esse postulado. Divulgava
       boletins sobre a saúde da realeza, editais e eventos reais e não se ocupava
       do cotidiano popular. O regime político, baseado no poder privado do
       monarca, desconhecia a “opinião pública”. Havia, no lugar, a palavra
       soberana do rei.
                A correlação entre conteúdo jornalístico e condições políticas pode ser
       realizada em qualquer época.


                                         De todos os objetos da pesquisa histórica, o jornal é, talvez, o
                                 que mantém as mais estreitas relações com o estado político, a
                                 situação econômica, a organização social e o nível cultural do país e
                                 da época dos quais constitui o reflexo. (ALBERT & TERROU, 1990, p.
                                 31)


                Formas sociais pré-burguesas elaboraram sistemas de comunicação
       que também desempenhavam papéis organizadores entre as classes. A
       principal característica da imprensa na atualidade, a de circular imagens da
       classe dominante, está disponível também nas formas societais anteriores.
                Bem antes da invenção do linotipo por Johannes Guttenberg (1390-
       1468), por exemplo, haviam na Grécia os aedos23, artistas que uniam música
       e narrativas, sendo Homero um deles. Entre os celtas a mesma atividade era
       realizada pelos bardos24. Os judeus tinham os escribas25, encarregados de
       compilar livros considerados sagrados pela tradição religiosa. Além destes,
       relatos como os de Homero, Heródoto, Marco Pólo e outros mantém com a
       imprensa a característica de serem sistemas organizados de comunicação.

22
   CHAPARRO, 2007.
23
   TORRANO, 2006.
24
   LOPES & BOSI, 1997, p. 253.
25
   FEDELI, 1994.
28



      Friedrich Engels, ao analisar a comunicação articulada como um dos
atributos fundamentais da espécie humana, revela que a organização cada
vez mais complexa dos primeiros grupos humanos na pré-história exigiu a
linguagem para estruturar o mundo do trabalho.


                            Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza,
                   que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia
                   ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir
                   constantemente nos objetos novas propriedades até então
                   desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao
                   multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao
                   mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada
                   indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais
                   os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação
                   chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns
                   aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco
                   desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente,
                   mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais
                   perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a
                   pronunciar um som articulado após outro. (ENGELS, 2004).


      Este processo não parou a partir da separação entre macacos e
hominídeos.   A   sociabilidade     humana      complexificou      e    ampliou     as
determinações que incidiam sobre a linguagem, tornando-a sistemas de
signos e símbolos culturais próprios de cada época:


                           O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a
                   crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de
                   discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o
                   trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento.
                   Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse
                   desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau
                   diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as
                   diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de
                   caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a
                   grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez,
                   orientado em um determinado sentido por um novo elemento que
                   surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade. (idem).


      No Paleolítico, a sofisticação das técnicas de caça seria o tema das
primeiras formas de comunicação gráfica que se tem notícia: a arte rupestre.
No interior de cavernas, os ancestrais do jornalista moderno registravam o
que de mais precioso o trabalho coletivo lhes fornecera: carne, uma fonte
alimentar de alto teor protéico que lhes garantia sobrevivência física e
29



          apontava para a importância do trabalho coletivo na superação dos limites
          impostos pela natureza.
                   O desenvolvimento desse domínio impôs sofisticações do aparato
          comunicativo nas sociedades, processo que também não se deu de forma
          linear. Com a invenção do papel pelos chineses26, no século II a. C., criaram-
          se as condições para um intenso intercâmbio da cultura humana. Isso não
          ocorreu porque a divisão social do trabalho, na China de dinastias rivais, já
          dissociara há muito a produção e a apropriação do trabalho. O mesmo se
          dera no Egito, sob circunstâncias parecidas, com a invenção do papiro 27 no
          século IV a.C. Por isso, o ofício da escrita era restrito a atividades religiosas e
          reais.
                   Em 1438, com a invenção do sistema de prensas móveis,
          estabeleciam-se condições para a difusão do conhecimento. A bíblia em
          latim, primeiro livro impresso pelo novo invento, sinalizava os que se
          apropriariam do avanço tecnológico: o clero e as monarquias.
                   As guerras entre os reinos europeus, o endividamento das nobrezas e
          a ascensão gradual das burguesias deram as condições para as primeiras
          disputas pelo mando social. Nasciam os primeiros informativos, sob rígido
          controle estatal, divulgando um único acontecimento por vez.


                                        Já no final do século XV, os impressores passaram a editar,
                               sob a forma de pequenos cadernos de 4, 8 ou 16 páginas, às vezes
                               ilustrados com gravuras em madeira, folhas de notícias em que se
                               relatava um acontecimento importante - batalha, exéquias
                               principescas, festas, etc - ou se reproduzia o texto de algum avviso.
                               Essas folhas, chamadas relationes em latim, occasionnels na França,
                               zeitungen na Alemanha e gazzetas ou corantas na Itália, eram
                               vendidas em livrarias ou por ambulantes nas grandes cidades.
                               (ALBERT & TERROU, 1990, p. 5).


                   Em 1529, no favorável contexto de uniformização política da França,
          com incentivos da monarquia que se beneficiava do patrocínio dado ao
          conflito entre classes rivais – nobres e burgueses – surge o pasquim, um
          novo tipo de gazeta que inovava relatando vários fatos em vez de um. Eram

26
     FREITAS, 2011.
27
     HEITLINGER, 2007.
30



          periódicos anônimos, independentes da iniciativa real e nascidos como meio
          para obter apoio social:


                                        O conflito entre as classes sociais foi condição fundamental
                               do poder absoluto. O próprio rei instigou o conflito, procurando
                               sobrepor-se a ele e dele tirar proveito. Protegeu a alta burguesia,
                               deu-lhe monopólios comerciais e industriais, arrendou-lhe impostos,
                               garantiu-lhe ascensão social, apoiando-a contra clero e nobreza.
                               Reciprocamente, concedeu privilégios ao alto clero e domesticou a
                               nobreza, atraindo-a a seus palácios por meio de cargos e pensões.
                               Também protegeu as corporações dos artesãos contra os grandes
                               capitalistas, assegurando-lhes os direitos, ao mesmo tempo em que
                               defendeu artesãos e capitalistas contra os assalariados. Garantiu aos
                               camponeses direitos de posse e propriedade adquiridos pelo
                               costume. O poder real, em suma, descansava sobre o conflito
                               generalizado que tendia a equilibrar as forças sociais, especialmente
                               o conflito entre as duas classes mais poderosas, nobreza e burguesia.
                               (ARRUDA & PILETTI, 1996, p. 34)


                 Neste ambiente conflagrado, no qual o desenvolvimento do comércio
          coincidia com a mão do controle real em busca do equilíbrio nacional, as
          contradições entre as classes, agudizadas, manifestaram-se nas páginas dos
          pasquins inicialmente com relatos de eventos tidos como sobrenaturais,
          crimes,    catástrofes     e       outros   acontecimentos     extraordinários.      Não
          representaram, nesta fase inicial, problema para as forças em disputa.
          Depois28 nasceram os libelos, cujo conteúdo consistia em ácidas polêmicas
          religiosas e políticas.
                 Receosas      com       a     crescente   receptividade    dos     libelos,   que
          perigosamente davam ao nascente jornalismo uma posição estratégica na
          transmissão de idéias, várias cortes lançaram mão de legislações
          sistematicamente repressivas. A excessiva centralização dos estudos sociais
          sobre essas legislações tendem, porém, a desviar o foco dos eventos reais,
          dos interesses em disputa:


                                       Não é o exame da legislação a respeito da imprensa, assim,
                               que nos permite acompanhar o seu desenvolvimento, mesmo sob o
                               aspecto da liberdade de expressão, mas o exame da realidade: a
                               legislação, objetivo constante das preocupações conservadoras, foi
                               posta de lado, desobedecida, algumas vezes, outras serviu a
                               desmandos que não previa, tudo conforme o desenvolvimento dos
                               acontecimentos políticos, conforme a correlação das forças em

28
     ALBERT & TERROU, 1990, p. 5.
31


                             disputa. Esse ambiente agitado, e de cujo desenvolvimento, em regra,
                             só a agitação nos tem sido transmitida pela historiografia oficial,
                             esquecida de seus motivos, deu lugar a um tipo de imprensa, o
                             pasquim, de características específicas. (SODRÉ, 1999, p.84).


              A primeira legislação contra os libelos foi criada na Alemanha em 1524,
       seguida pela França em 1537 e a Inglaterra em 1538.29 A regulamentação
       estatal mostra que o jornalismo informativo não floresceria entre as
       monarquias: a informação estava submetida a forças que não eram as de
       mercado.
              Nos primeiros anos do século XVII surgem os semanários: em 1609
       em Estrasburgo e Wolfenbutel, em 1610 na Basiléia, 1615 em Frankfurt, 1617
       em Berlim, 1618 em Hamburgo, 1619 em Sttutgart e Praga, 1620 em Colonia
       e Amsterdam, 1622 em Londres, 1631 em Paris, 1636 em Florença, 1640 em
       Roma, 1661 em Madri e em 1703 em São Petersburgo.30
              Na Inglaterra, onde o processo caminhava mais rápido, surgiu o
       primeiro jornal diário: a 11 de maio de 1702 veio a primeira edição do Daily
       Courant, também primeiro com a concepção da notícia isenta de valores 31. A
       inovação surgiu depois que o Parlamento inglês, diante da restauração da
       monarquia, criou reformas para expandir a economia mercantilista. Criara-se
       o ambiente no qual o convencimento via livre expressão livre é uma
       necessidade      social.   O    protagonismo       inglês    foi   benéfico     para    o
       desenvolvimento da atividade jornalística:


                                      O princípio da liberdade de imprensa, antecipado na
                             Inglaterra, vai ser encontrado, então, tanto na Revolução Francesa
                             quanto no pensamento de Jefferson, que correspondia aos anseios
                             da Revolução Americana, sintonizando com a pressão burguesa para
                             transferir a imprensa à iniciativa privada, o que significava,
                             evidentemente, a sua entrega ao capitalismo em ascensão. Nos
                             países em que essa ascensão ocupava-se agora muito mais no plano
                             político, pois estava já consolidada no plano econômico, a liberdade
                             de imprensa encontrava barreiras nos remanescentes feudais, adrede
                             mantidos, por vezes, pela própria burguesia, como escudos contra o
                             avanço, embora ainda lento, do proletariado e do campesinato – a
                             Inglaterra e a França, particularmente – o problema permaneceu
                             longamente no palco. Foi a ausência, nos Estados Unidos, de
                             passado feudal, que permitiu ali a solução rápida de tal problema,

29
   Idem, p. 11-20.
30
   ALBERT & TERROU, 1990, p. 7.
31
   CHAPARRO, 2003.
32


                                   colocada a liberdade de imprensa – isto é, o seu controle pela
                                   burguesia – como postulado essencial e pacífico, abrindo-se ao seu
                                   desenvolvimento, então as mais amplas perspectivas. Assim,
                                   enquanto na Inglaterra a stamp tax só desapareceu em 1855, e, na
                                   França, a liberdade de imprensa permaneceu relativa até 1881 – nos
                                   Estados Unidos surgiu ampla, praticamente, com a independência.
                                   (SODRÉ, 1999, p. 2)


                 Na França, onde a resistência ao avanço das reformas burguesas
        produzira a monarquia absolutista, os jornais que circularam até 1788
        desenvolveram tendências literárias para circular na Corte: visavam chegar à
        nobreza, influente sobre a censura estatal. Os principais representantes
        franceses dessa época foram o Journal de Paris (surgido em 1777) e o
        Journal Général de France (em 1778).


                                            O Journal des Savants inaugurou um tipo de imprensa de
                                   oposição ao sistema, com a crítica aos filósofos das Luzes, que
                                   defendiam o absolutismo esclarecido. Acabou abandonando a crítica
                                   literária devido às perseguições e à censura. Jornais literários
                                   surgiram na França, mas utilizando uma fórmula subserviente, sem
                                   contrariar a ordem constituída. O de maior sucesso no final do século
                                   XVII foi o Nouvelles de La Republique des Lettres, dirigido por Bayle,
                                   que, de tão acomodado, recebeu cartas de felicitação da Academia
                                   Francesa e da Societé Royale, instituições fiscalizadoras dos padrões
                                   estéticos. (ARNT, 2002, p. 21).


                 Nos Estados Unidos sob controle inglês os jornais tinham baixa
        periodicidade e curta duração. The Public Occurrences, publicado em Boston
        em 25 de outubro de 1690, teve somente um número32. The Boston News
        Letter, de 1704, teve dois33. Na Filadélfia, em 1728, Benjamim Franklin lançou
        a Pennsylvania Gazette34, que circulou por duas semanas. Com a revolução
        de 1776 o número de folhas saltou para 43 em 1782 35: Libertas do grilhão
        monarquista, as forças burguesas rapidamente formularam os marcos da
        liberdade civil, e, com ela, da liberdade de imprensa. A primeira foi garantida
        em 1776 com a Declaração de Independência dos Estados Unidos36. A

32
   DUYCKINCK, 1856, p. 27.
33
   Idem.
34
   Idem, p. 28.
35
   ALBERT & TERROU, 1990, p. 47.
36
   UNITED STATES OF THE AMERICA. The declaration of independence. Philadelphia: The United States
Congress, 1776. “The Decl“We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are
endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty, and the pursuit of
Happiness. That to secure these rights, Governments are instituted among Men, deriving their just powers from
33



        segunda seria contemplada 15 anos depois, com a 1ª Emenda à
        Constituição37.
                 Na França, a legislação sobre a liberdade de imprensa surgiu dois
        anos após a revolução de 1789, mas a luta pelo direito de informar livremente
        se manteve, inclusive nas fases de consolidação do novo modelo. De acordo
        com P. Albert e F. Terrou, entre 1792 e 1799 o governo revolucionário
        instituiu uma severa censura estatal aos impressos. Era o período de crise da
        Revolução Francesa, caracterizada pela perda da identificação entre os
        interesses dos novos grupos dirigentes e o proletariado francês38.
                 Diferente dos EUA, a classe dominante francesa não elaborou as
        reformas para colocar os mercados no centro da vida social. Abertos os
        flancos de batalha, a Restauração instalou-se:


                                            Com o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, um decreto
                                   de 17 de janeiro de 1800 permitiu a subsistência de apenas 13
                                   jornais, restabelecendo o antigo sistema de autorização prévia. O
                                   imperador impôs severo controle à imprensa, mas também tornou um
                                   jornal o porta-voz do seu governo: o Moniteur. Jornais provinciais só
                                   podiam publicar temas políticos extraídos do Moniteur. A partir de
                                   1810 só era permitida uma folha por departamento. Em 1807 ainda
                                   havia 170 jornais provinciais. Em 1811 restavam apenas quatro
                                   jornais em Paris, todos confiscados pelo governo. Após a Batalha de
                                   Waterloo, o retorno dos Bourbons (1814-1815) trouxe uma liberdade
                                   relativa para a imprensa noticiosa, que, no entanto, só seria
                                   conquistada definitivamente 56 anos depois, a partir de 1881.
                                   ALBERT & TERROU, 1990, p. 36.


                 Inovações tecnológicas ampliaram o poder da imprensa. É o caso do
        telégrafo, em 1844, surgido precisamente quando o capitalismo se

the consent of the governed”. (“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os
homens foram criados iguais, que foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes
estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que, a fim de assegurar esses direitos, são instituídos governos
entre os homens, derivando os seus justos poderes do consentimento dos governados”). Disponível em:
<http://www.icitizenforum.com/declaration-independence> Acesso em: 20 ago. 2011.
37
   UNITED STATES OF THE AMERICA. The United States Constitution. Washington: The United States
Congress, 1791. “Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free
exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to
assemble, and to petition the Government for a redress of grievances”. (“O Congresso não legislará no sentido de
estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou de
imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de
seus agravos”). Disponível em: <http://www.usconstitution.net/xconst_Am1.html> Acesso em 20 ago 2011.
38
   ALBERT & TERROU afirmam que de 1789 a 1800 foram publicados mais de 1.500 títulos novos, duas vezes
mais do que nos últimos 100 anos. A censura ocorreu de 1792 a 1799, quando a imprensa passou a ser vista
como ameaça à sobrevivência do regime.
34



        desenvolvia mais rápido, exigindo a transmissão de volumes maiores de
        informações. O telégrafo atendeu e melhorou essa demanda: o volume de
        informações passou a ser contabilizado em minutos, exigindo relatos
        jornalísticos mais curtos e objetivos. Impunha-se a padronização da escrita
        informativa: nascia a estética do jornalismo moderno:


                                           Seria possível designar a “objetividade jornalística” por
                                  “paradigma do telégrafo”, a primeira rede global em que o jornalismo
                                  se integrou. O novo invento libertou a informação dos
                                  constrangimentos da geografia, autonomizando-a em relação aos
                                  transportes. Além disso, solicitou novas formas de linguagem,
                                  ajudando a configurar as formas de expressão jornalística difundidas
                                  pelas agências noticiosas, elas próprias fundadas sob o impulso
                                  dessa nova tecnologia, e adotadas pelos jornais da “fase industrial da
                                  imprensa”. Entre outras modificações nas “relações sociais mediadas
                                  pela linguagem” - com relevo para a correspondência comercial ou
                                  privada -, o telégrafo contribuiu para a transição do jornalismo
                                  partidário para o jornalismo comercial e noticioso, conduzindo ao
                                  aparecimento das notícias “objetivas”, ou seja, de “notícias que
                                  pudessem ser usadas por jornais de qualquer tendência política”.
                                  Neste sentido, as origens da objetividade podem ser encontradas na
                                  necessidade de encurtar a linguagem, resultante da transmissão
                                  telegráfica. Abreviar o número de palavras significava poupar dinheiro.
                                  (MESQUITA, 2005, p. 29).


                 Jornais     exclusivamente          informativos,       com     linguagem        calculada
        telegraficamente, emergiram nas mais diversas sociedades.
                 Enquanto isso, no Japão, onde o poder imperial impunha restrições à
        liberdade de imprensa, o primeiro jornal diário - o Yokohama Mainichi
        Shimbun39 - surgiria tardiamente, em 1870. Era no Ocidente onde se davam
        os eventos cruciais para o jornalismo moderno.
                 Na primeira década do século XX, a consolidação da hegemonia
        burguesa conduziria o capital concorrencial ao monopolista, retomando um
        velho fenômeno histórico: o imperialismo. A fase superior do capitalismo40,
        marcada pela cartelização da economia e ofensiva contra a classe
        trabalhadora, tinha como complemento os “anos dourados”41 da imprensa

39
   BURKS, 1964, p. 61.
40
   A expressão é do teórico marxista Vladimir I. Lenin, autor de um dos melhores e mais completos estudos sobre
esta transição do capitalismo. Cf. LENIN, Vladimir I. Imperialismo: etapa superior do capitalismo. São Paulo:
Centauro, 2002.
41
   É esta a expressão usada, para se referir ao período, pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade
patronal brasileira. Cf. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS JORNAIS. Jornais: breve história. Brasília, 2005.
35



        mundial. Agências mundiais de notícias e publicidade42 eram responsáveis
        pela coleta e abastecimento de informações para jornais de várias partes do
        mundo – incluindo, via cabos telegráficos submarinos quilométricos, dos
        países periféricos43.
                 A classe trabalhadora reage. Surge o jornalismo militante, avesso ao
        dogma da objetividade (que denuncia como armadilha ideológica das classes
        dominantes), porém de fabricação artesanal e circulação manual. Mesmo
        assim, investe, furiosamente, contra a manipulação noticiosa44. Os primeiros
        jornais proletários enfatizavam abertamente o caráter classista de todo e
        qualquer impresso político. Nascia a propaganda revolucionária na imprensa.
        O jornalismo, apropriado pelas idéias socialistas, comunistas e anarquistas,
        novamente tornava-se palco da batalha por hegemonia entre classes sociais
        rivais.45 Coerente com essa trajetória, na primeira década do século XX, nos
        primeiros ensaios da Revolução Russa, surgiria o maior e mais influente
        jornal revolucionário: o Pravda (do russo, A Verdade)46, que subsiste até hoje.
                 Com o século XX nasceu também o rádio47, nova forma de
        comunicação cuja agilidade na transmissão de notícias foi rapidamente
        incorporada48 pelas redes de impressos. Cadeias de impressos e rádios
        transnacionais dominaram o mercado de informações, criando os primeiros
        conglomerados midiáticos da história. Concentradas em poucas mãos, tais
        corporações davam aos proprietários posições estratégicas em relação a
        governos e conglomerados interessados na exportação do american way of
                                           49
        life para o resto do mundo .

Disponível em: <www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/historianomundo/historiadojornal.pdf> Acesso em 20
ago. 2011.
42
   SODRÉ, 1999, p. 4.
43
   Idem, p. 389.
44
   BORGES, 2006.
45
   A epopéia do jornalismo proletário e a importância da propaganda e agitação impressas para as revoluções
socialistas do século XX exigiria um trabalho monográfico específico, e, se exaustiva, em vários tomos. Por força
do recorte temático exigido de monografias científicas, também esse tema será integralmente omitido, ficando
apenas o registro e a dica para pesquisadores potencialmente interessados.
46
   A primeira edição do Pravda circulou em 1912. Hoje, além da versão impressa, há uma homepage do jornal na
internet com noticiário atualizado diariamente em inglês, russo, português e italiano. Cf. PRAVDA. Disponível
em: <http://www.pravda.ru/> Acesso em 20 ago. 2011.
47
   CAMPOS, 2007.
48
   SODRÉ, 1999, p. 415.
49
   Um exemplo claro do papel importante dessa “fase de ouro” do jornalismo ocidental é a sua ligação direta, via
patrocínio generoso, do Departamento de Defesa norte-americano durante o chamado macarthismo (ou,
36



                 Nesta fase, enquanto mercados e governos davam forma à fase
        imperialista do capitalismo, intensificando os conflitos de classe nas bases
        produtivas ao mesmo tempo em que, no Velho Mundo, consolidava-se a
        Revolução Russa, as agências de jornalismo ocupavam-se do fluxo de idéias
        da metrópole para a periferia capitalista:


                                            É fácil avaliar a terrível força da engrenagem que se compõe
                                   de agências de notícias, agências de publicidade e cadeias de jornais
                                   e revistas, sua influência política, sua capacidade de modificar a
                                   opinião, de criar e manter mitos ou de destruir esperanças e combater
                                   aspirações. Quando se verifica que essa gigantesca engrenagem é
                                   simples parafuso de engrenagem maior, a que pertence, do
                                   capitalismo monopolista, ainda mais fácil é estimar o seu alcance e
                                   poder. Sem considerar esses dados, que a fria realidade apresenta, é
                                   impossível, entretanto, discutir problemas como o da liberdade de
                                   imprensa, aspecto parcial do problema da liberdade de pensamento.
                                   E quando são inseridas no quadro as novas técnicas de mobilização
                                   da opinião, como a televisão e o rádio, também submetidas, em
                                   muitos países, à iniciativa privada e associadas, inclusive, à imprensa,
                                   e também submetidas a organizações em cadeia, verifica-se quanto
                                   aquele problema fundamental se apresenta complexo e depende do
                                   regime predominante. (SODRÉ, 1999, p. 6).


                 O ritmo frenético da transmissão de notícias, a necessidade de
        consolidação da ideologia imperialista, que pressuponha vender imagens
        convincentes do progresso prometido pela nova ordem mundial impõe o
        nascimento de mais uma tecnologia de informação: a televisão. Com ela, a
        partir da primeira metade do século XX, a propaganda vira entretenimento.
                 Nos anos 50 as agências transnacionais de publicidade e notícia dos
                                                                                      50
        Estados Unidos criam os manuais de redação e estilo , uniformizando o
        texto jornalístico51. Os manuais, que ajudam a consolidar a ideia de

macartismo), campanha anticomunista desencadeada nos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial. Sobre
o financiamento dos jornais neste e em outros períodos de “caça aos comunistas” nos EUA e em outros países,
cf. SAUNDERS, Frances S. Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura. Rio de Janeiro:
Record, 2005. Uma análise dessas mesmas relações a partir de documentos oficiais do Departamento de Defesa
norte-americano pode ser encontrada também em SCHREKER, Ellen. The age of McCarthysm: a brief history
with documents. New York: Bedford/St. Martin’s, 2002.
50
   Os manuais consistem basicamente de cartilhas normativas para a escrita, contendo regras de acentuação,
pontuação, ortografia, uso de maiúsculas e minúsculas, pesos e medidas etc.
51
   LUSTOSA (1996:72) esclarece: “O modelo da técnica da escrita, exigida pelos manuais de redação, que
surgem a partir de 1950, representou também a introdução do lide, que no Brasil poderia ser abertura, como
ocorre com os espanhóis, que o chamam de entrada. Os redatores e repórteres de rádio usam no Brasil a
expressão cabeça e não lide. A técnica da notícia possibilitou a apropriação da opinião, com exclusividade, pelos
donos do veículo. O repórter passou a produzir textos padronizados, a partir de um modelo de formulação que
não permitia a manifestação de comentários pessoais. Estabelecida a propriedade de opinião, surgiram as
37



        neutralidade do jornalista ao transmitir os fatos, paradigma reinante desde o
        invento do telégrafo, surgem durante a Guerra Fria entre EUA e União das
        Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ambos os países disputavam
        áreas de influência no mundo, inclusive no Brasil52. Desta forma, a
        uniformização visava impedir a manifestação de ideias políticas subversivas.
                 Na história do jornalismo, os avanços do setor comunicativo
        proporcionados por inventos como telégrafo, rádio e televisão não foram
        apenas saltos tecnológicos resultantes da curiosidade humana. Todos são
        francamente coerentes com o seu momento político, que os demanda, e, em
        alguns casos, os cria – caso dos manuais.
                 As agências de notícias, ao anexarem os canais de televisão, criaram
        os oligopólios de comunicação que persistem hoje 53. A partir da segunda
        metade do século XX, estruturas comunicativas e de publicidade exportaram
        produtos e valores de consumo para as periferias empobrecidas do
        capitalismo54, influenciaram no derrube de governos eleitos55 e na legitimação
        de ditadores56, massificaram o american way of life57 e louvaram todas as
        ofensivas neoliberais58 que beneficiavam a ampliação dos mercados.
                 Nos últimos anos do século XX, com a indústria comunicativa no topo
        dos circuitos mundiais de capital, surge a informática, e, com ela, a internet.
        Blogs, Orkut, facebook, twitter e outras redes de interação permitem a
        qualquer indivíduo interagir com outros na produção de idéias, inclusive
        noticiosas. Era o nascimento da “sociedade em rede”59.
                 Os oligopólios de comunicação acusaram o golpe. Patrocinados por
        eles, estudos sobre a suposta insegurança e o caos da rede mundial de
        computadores proliferaram-se na própria internet. Pela primeira vez, a

“páginas de opinião”, com o editorial – espaço reservado à defesa das causas e interesses do veículo – e os textos
de articulistas e colunistas, que podiam manifestar seus próprios pontos de vista.”
52
   BONIFÁCIO, 2007, p. 29. A autora não menciona os interesses do Pentágono e a guerra de informações entre
EUA e URSS, mas registra, neste mesmo período, a bovina recepção dos manuais pela imprensa comercial
brasileira, incluindo a acreana.
53
   Idem, p. 70-73.
54
   SODRÉ, 1990, p. 24-28.
55
   SODRÉ, 1999, p. 434-449.
56
   MARCONDES FILHO, 1989, p. 137-139.
57
   GONÇALVES, 2003.
58
   BRITO, 2007.
NASCIMENTO, Jozafá. A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006
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NASCIMENTO, Jozafá. A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006

  • 1. JOZAFÁ BATISTA DO NASCIMENTO A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006 Monografia apresentada ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Sociais com Habilitação em Sociologia Área de Concentração: Sociologia Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eurenice Oliveira de Lima Rio Branco 2012
  • 2. 2 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. CATALOGAÇÃO DA PUBLICAÇÃO
  • 3. 3 Nome: NASCIMENTO, Jozafá Batista do Título: A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006 Monografia apresentada à Universidade Federal do Acre para a obtenção do título de bacharel em Ciências Sociais com habilitação em Sociologia Aprovado em:_________/__________/____________________ Banca Examinadora Prof.ª Dr.ª Eurenice Oliveira de Lima Instituição: ____________________________________________________ Julgamento: ___________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________ Prof. Dr. Nilson Euclides da Silva Instituição: ____________________________________________________ Julgamento: ___________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________ Prof.ª Msc. Letícia Helena Mamed Instituição: ____________________________________________________ Julgamento: ___________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________
  • 4. 4 Agradeço à minha orientadora, Eurenice Oliveira de Lima, por não ter me permitido desistir. Ao Museu da Borracha e ao CDIH/UFAC, por gentilmente disponibilizarem seus acervos - sem os quais esta pesquisa encontraria severas dificuldades. E à Universidade Federal do Acre (UFAC), onde aprendi o compromisso do conhecimento com a transformação social.
  • 5. 5 Dedico este trabalho à minha mãe, Maria Lourdes Batista, ex-seringueira, mulher guerreira que me criou e me preparou para o mundo. Parafraseando Julio Cesar, em sua vitória sobre Farnaces II - Veni, vidi, vici! (Vim, vi, venci!) -, eu proclamo: Vim, vi... e estou na luta!
  • 6. 6 RESUMO NASCIMENTO, J. B. A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006. 2012. 210 f. Monografia (Bacharelado) – Curso de Ciências Sociais, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2012. O presente trabalho analisa o caráter ideológico da imparcialidade jornalística como ferramenta de produção de consensos dos grupos que controlam os jornais na disputa por hegemonia ao longo da história. Analisa a cobertura jornalística dos quatro diários do Acre - A Gazeta do Acre/A Gazeta, O Rio Branco, A Tribuna e Página 20 - no período de 1969 a 2006, com ênfase nas campanhas eleitorais, delineando as estratégias adotadas para valorizar grupos políticos e seus respectivos candidatos. Palavras-chave: Jornalismo. Ideologia. Hegemonia.
  • 7. 7 ABSTRACT NASCIMENTO, J. B. The press acreana in the battle for hegemony: strategies from 1969 to 2006. 2012. 210 f. Monografia (Bacharelado) – Curso de Ciências Sociais, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2012. This paper examines the ideological character of journalistic impartiality as production tool consensus by groups that control the newspapers in contention for hegemony throughout history. Studies media coverage of the four daily of Acre – A Gazeta do Acre/A Gazeta, O Rio Branco, A Tribuna e Página 20 - in the period from 1969 to 2006, with emphasis on electoral campaigns, outlining the strategies adopted to enhance political groups and their respective candidates. Keywords: Journalism. Ideology. Hegemony
  • 8. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................... 009 1 IMPRENSA E IDEOLOGIA .................................................................... 014 1.1 O INSTRUMENTAL TEÓRICO GRAMSCIANO .................................. 023 2 CRONOLOGIA DA COMUNICAÇÃO .................................................... 026 2.1 A IMPRENSA BRASILEIRA ................................................................ 040 3 A IMPRENSA ACREANA ....................................................................... 050 3.1 DIVERSIDADE EDITORIAL E LUTA POLÍTICA .................................. 059 3.1.1 O Rio Branco: arauto conservador ................................................ 060 3.1.2 A Gazeta: o PMDB vai à luta ............................................ 109 3.1.3 A Tribuna: quem dá mais?.............................................. 134 3.1.4 Página 20: o galinho bom de briga .................................................142 3.2 UNIFORMIDADE EDITORIAL NO GOVERNO JORGE VIANA .............145 3.2.1 Jornalismo homogêneo.................................................................. 147 CONCLUSÃO ........................................................................................... 176 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 180 APÊNDICE ............................................................................................... 188 ANEXOS ................................................................................................... 190
  • 9. 9 INTRODUÇÃO No século XXI, a produção de notícias continua obedecendo ao critério da factualidade. Em um capitalismo em crise estrutural (MESZÁROS, 2002), com diferentes protestos em vários pontos do globo, jornais, revistas e outros meios de comunicação interpretam, porém, os fatos segundo a sua orientação editorial. Apesar de todos alegarem fidedignidade ao evento narrado, o resultado é uma diversidade de narrativas contraditórias. Exemplo deste paradoxo – diferentes conclusões com o mesmo método, a narração simples – é o tratamento concedido pelos jornais à chamada Primavera árabe1. Enquanto a expectativa por transformações políticas, verdadeiro motivo das revoltas, ocupou número reduzido de especialistas em publicações de menor circulação, os meios de comunicação de maior alcance frisavam a quebra da ordem social: saques, violência física e semelhantes. A diversidade de narrativas jornalísticas, saudada pelos próprios jornalistas como sintoma da liberdade de imprensa em relação ao poder estatal, merece exame mais detido. Na verdade, a cada etapa de transformação dos meios de transmitir ideias corresponde um avanço do poder político dos proprietários privados. Para construir consensos e legitimar a sua posição no mundo do trabalho, esta classe desenvolveu várias estratégias de convencimento. Compreendida a imprensa industrial como parte dessas estratégias, o mapeamento dos discursos dos jornais ao longo da história fornece pistas 1 Os protestos no mundo árabe em 2010-2012, também conhecidos como a Primavera Árabe, são uma onda revolucionária de manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010. Até a data, tem havido revoltas na Tunísia e no Egito, uma guerra civil na Líbia; grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Síria, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. Os protestos têm compartilhado técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como facebook, twitter e youtube, para organizar, comunicar e sensibilizar a população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na internet por partes dos Estados. PRIMAVERA ÁRABE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2012.
  • 10. 10 importantes para entender o processo de obtenção de legitimidade – em linguagem gramsciana, da batalha por hegemonia – do projeto de poder da classe dominante. Este trabalho analisa os jornais acreanos nesse contexto. O Rio Branco, A Gazeta do Acre/A Gazeta, A Tribuna e Página 20 foram escolhidos porque têm circulação regular e diária e mantiveram-se em funcionamento nas mais diversas condições sociais, ao contrário de uma série de publicações menores, com lapsos de periodicidade ou extintas.2 A escolha do período de pesquisa deu-se pela riqueza das mudanças editoriais, contribuindo para compreender de que forma os jornais de Rio Branco agem como propagandistas de grupos políticos: nas campanhas eleitorais o que se descortina é o confronto editorial, com cada jornal atacando o candidato a que se opõe e o jornal que lhe dá suporte. Este, esmerando-se na formulação de imagens positivas do seu candidato, ao mesmo tempo tenta inocentá-lo das acusações dos rivais. Todo este processo realiza-se por meio de linguagem informativa, atribuindo os interesses do jornal o caráter de interesse geral, público. Desta forma, as ácidas e por vezes brutais polêmicas estariam apenas divulgando fatos de forma isenta ou neutra. Com esse disfarce, a propaganda eleitoral costura o consenso entre as classes e por meio dele garante a manutenção de hegemonia3. Para compreender o papel da imprensa em todos esses eventos, impõe-se contextualizar jornalismo e processo político. Por isso, o presente trabalho desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Primavera_%C3%81rabe&oldid=32300675>. Acesso em: 23 set. 2012. 2 De acordo com o acervo disponível no Museu da Borracha, em Rio Branco, de 1969 a 1999 circularam em Rio Branco os periódicos A Folha, A Semana, A Carta, Correio da Tarde, Correio do Acre, Folha dos Nauas, Jornal do Acre, O Acre, o Estado do Acre, O Aquiri, O Rebate, O Liberal, Renovação, Ultima Hora, A Notícia, A Semana, O Eco, Parabéns Cruzeiro do Sul, Correio do Oeste, Folha Infantil, Folha Cultural, Frente e Verso, Hora do Povo, Letras em Marcha, Jornal Documento, Jornal da Saúde, O Comunista, O Norte, O Gafanhoto, O Estudante, O Imparcial, O Espírito da Coisa, Sentinela, Xapuri Informativo, 3 de Março e vários outros. Todos com circulação esporádica e irregular, com enormes lacunas entre cada edição. Catalogar todos esses jornais conta com a dificuldade adicional dos acervos públicos disponíveis hoje não terem todos os exemplares, e os que se dispõem não se encontram digitalizados. 3 Utiliza-se aqui, e ao longo de todo o trabalho, a concepção teórica de hegemonia no sentido que lhe dá Antonio Gramsci, segundo GRUPPI (1980): “A hegemonia é capacidade de direção, de conquistar alianças, capacidade de fornecer uma base social ao Estado”.
  • 11. 11 1. Analisar o surgimento da imprensa diária como um subproduto das disputas pelo comando político da sociedade na era industrial, utilizando para tanto dados dos principais jornais do mundo, do Brasil e do Acre, comparando transformações editoriais do jornalismo e mudanças políticas. 2. Medir a ênfase dada por cada jornal aos grupos em disputa política para definir a quais grupos determinado veículo defende ou se opõe. 3. Demonstrar como a propaganda se insere socialmente disfarçada de informação objetiva utilizando-se do conceito positivista de neutralidade do discurso informativo e como esta operação é coerente com o estágio de ascenso burguês. Para identificar as relações entre os processos de ascenso e consolidação da classe dominante e as mudanças editoriais, o trabalho segue uma orientação cronológica. As principais mudanças jornalísticas são expostas no contexto da vida social geral na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. O objetivo é definir de que forma a imprensa atua como agente de disputa por consensos em diferentes épocas. Também por meio do movimento das classes busca-se analisar os motivos que fazem os jornais lutar por liberdade, justiça, verdade e outros. A ideia de isenção da notícia, derivada da filosofia positivista e que visa, inicialmente, firmar os jornais como agentes legítimos da comunicação social, é tomada como parte deste processo. Busca-se compreender como a defesa de consenso social por meio de conceitos universais é parte da ofensiva de uma classe contra outra, através da ideologia. Visando compreender os contornos da luta de classes da qual a imprensa participa, buscou-se entender a produção jornalística como parte do processo de produção de consensos necessários à manutenção da ordem social. Trabalhou-se ainda com os conceitos de imprensa regulada e liberdade noticiosa (GENRO FILHO, 1987) e de indústria submetida às leis gerais de mercado (MARCONDES FILHO, 1989), entre outros. A pesquisa de campo consistiu na realização de entrevistas com os proprietários dos quatro jornais, objetivando coletar impressões sobre a
  • 12. 12 relação entre a atividade jornalística e os contratos com o Estado, além de dados gerais sobre a origem, infra-estrutura e funcionamento das empresas. Os entrevistados foram: Antonio Stelio de Castro (A Tribuna e Página 204), Narciso Mendes de Assis (O Rio Branco) e Silvio Martinello (A Gazeta). Dada uma certa posição desconfiada dos entrevistados, não foram realizados questionários. Assim, as perguntas variaram segundo cada entrevistado 5. A pesquisa documental consistiu no levantamento fotográfico da capa (primeira página) de cada jornal, utilizando-se o acervo do Museu da Borracha e do Centro de Documentação e Informação Histórica (CDIH) da UFAC. Dado o considerável interregno (37 anos) e de serem quatro os diários pesquisados, optou-se por uma amostragem. Analisou-se entre duas e cinco capas de cada jornal entre os meses de setembro, outubro e novembro dos anos de 1982, 1984, 1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1994, 1996 e 1998. De 1999 a 2006, a metodologia de amostragem foi modificada para duas edições por mês, de cada jornal6, visando compreender melhor os detalhes do processo de uniformização dos quatro jornais para dar apoio aos governos e prefeituras da FPA. Observou-se, nesse período, que a uniformização editorial, que persiste até a presente data, é um subproduto do controle, pela FPA, dos principais espaços institucionais da política formal.7 Dado o grande volume de dados coletados, e visando maior organização para a melhor compreensão possível, a distribuição espacial do trabalho seguiu uma divisão em capítulos. O primeiro capítulo realiza uma discussão teórica sobre os princípios de neutralidade e imparcialidade do discurso jornalístico-noticioso como derivativo da interpretação positivista da realidade, no qual o ato de conhecer 4 Dado o aspecto singular deste veículo para a produção de imagens simbólicas positivas do Partido dos Trabalhadores em seu ascenso ao poder a partir de 1993, e a relevância desse processo para compreender as transformações editoriais até então, entrevistou-se também o seu primeiro editor-chefe, o jornalista Sebastião Vítor de Lima. Todas as entrevistas estão disponíveis no apêndice deste trabalho. 5 Foi necessário fazê-lo devido à realização das entrevistas em datas diferentes. Dada a posição estratégica dos entrevistados para o presente trabalho, preferiu-se abrir o conteúdo das entrevistas a correr qualquer risco de ter algumas perguntas vetadas por “impertinência”. 6 Algumas edições não estavam disponíveis nos bancos de dados do Museu da Borracha e do CDIH/UFAC, constituindo perda irreparável de material de análise esta e outras pesquisas. 7 A questão, extremamente relevante, dos dissensos antigos e recentes na estrutura institucional partidária e de Estado montada pela FPA, além da base dos movimentos sociais, e as implicações deste fenômeno para o que
  • 13. 13 advém de despir-se de prenoções por parte do sujeito cognoscente. Em seguida, aponta-se a filosofia positivista como expressão teórica materialmente necessária às classes dominantes na Europa e nos EUA. Apropriando-se dessas reflexões do primeiro, o segundo capítulo empreende uma cronologia sobre a evolução da imprensa no mundo e no Brasil, contextualizando as mudanças editoriais no contexto imediato das disputas políticas. Observa, ainda, por que o desenvolvimento industrial da imprensa só foi possível no ambiente propício do capitalismo. No terceiro capítulo, articulada à reflexão desenvolvida nos anteriores, apresenta-se os resultados da pesquisa sobre os jornais acreanos. Analisa-se cada jornal em dois momentos: o da diversidade de posturas editoriais, correspondendo às conflagrações dos grupos políticos que buscavam o controle do governo do Estado e da prefeitura de Rio Branco; e o da uniformidade editorial, que corresponde ao gradual controle da disputa política pela Frente Popular do Acre (FPA). Na fase de diversificação editorial e disputa política, busca-se delinear as várias fases do processo em cada jornal até 2004, quando a FPA vence as eleições municipais na capital e retira o MDA do cenário político. A partir de 2004, com a FPA no comando da prefeitura de Rio Branco e do governo do Estado, os jornais começam a aderir à mesma linha editorial. O Apêndice deste trabalho traz a transcrição das entrevistas com os dons dos jornais. Nos Anexos há um CD com fotografias de todas as edições pesquisadas e alguns documentos usados no levantamento de dados. As conclusões apresentadas na presente monografia devem ser vistas como anotações provisórias de um esforço de pesquisa limitado. Tanto o jornalismo quanto os grupos políticos em disputa citados, com suas dinâmicas e alterações, impõem problematizações conceituais, contínuas redefinições teóricas, novos temas e linhas de análise. A consciência desta limitação impõe a necessidade de novos estudos para capturar mais claramente a dinâmica do objeto de pesquisa. pode ser lido como hegemonia em declínio, não será tematizada no presente trabalho por ter efeito nulo, até o
  • 14. 14 1 IMPRENSA E IDEOLOGIA Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. – Karl Marx. Este capítulo analisa o conceito de isenção da notícia jornalística como estratégia de convencimento e controle social compatível com determinada fase do modo de produção capitalista. Para tanto, faz ligeira incursão sobre o processo de cognição humana segundo as escolas positivista e marxista, o conteúdo ideológico da idéia de isenção e as implicações para a imprensa. A bibliografia sobre os fundamentos teórico-epistemológicos do jornalismo é escassa. Uma análise sobre a rápida adesão da imprensa brasileira ao modelo informativo norte-americano pondera que: Nos Estados Unidos, depois da I Guerra, consolida-se a perspectiva funcionalista no estudo da comunicação social, alicerçada em estudos de natureza empirista que se utilizam de modelos formais e matemáticos. Essa corrente, que pretende atribuir-se uma aura de imparcialidade e objetividade, passa a hegemonizar os estudos nesse campo nos Estados Unidos e também na América Latina. O desenvolvimento dos meios de comunicação e do próprio jornalismo são analisados como processos independentes em relação ao desenvolvimento global das forças produtivas e da luta de classes, ou seja, apartados do movimento histórico em seu conjunto. Ao contrário, os meios de comunicação são tomados apenas como "função orgânica" da sociedade capitalista contemporânea, entendida esta como paradigma do progresso e da normalidade. (GENRO FILHO, 1987, p. 33) Outra obra recente, dedicada ao mesmo tema, confirma a inexistência de uma reflexão teórica mais aprofundada sobre o jornalismo e seus métodos: Passados 20 anos desde o lançamento desta obra seminal, ainda é comum docentes ensinarem as técnicas jornalísticas como se elas se bastassem, sem a necessidade de uma explicação epistemológica capaz de sustentar certas regras. Assim como é presente instante, sobre os quatro jornais em análise.
  • 15. 15 comum achar que, por trás da prática jornalística de qualidade, não é preciso haver teoria. (TEIXEIRA, 2007, p. 21) De fato, a bibliografia acadêmica em comunicação social consultada para este trabalho busca fundamentar-se em conceitos microssociológicos8 como representações culturais, trocas simbólicas e um instrumental conceitual derivado das ciências da linguagem. A escassez de tradição crítica sobre as forças sociais que incidem sobre o fazer jornalístico causou o interessante efeito de se considerar a imprensa como causa de si mesma, fenômeno confirmado por estudos recentes. Artigo científico sobre a profissão jornalística no Brasil, por exemplo, reivindica o “amadurecimento epistemológico” como ponto de partida para a legitimidade científica dos estudos sobre a imprensa. Inserido num processo de mundialização da cultura, em que a internacionalização da ciência tem papel de vanguarda, é pouco provável que o problema da construção do consenso necessário ao amadurecimento epistemológico do campo [jornalístico] encontre soluções localizadas, quaisquer que elas sejam, para a questão ainda não solucionada da unicidade e diversidade da área da Comunicação. (MEDITSCH, 2010, p. 99). Numa análise sobre os manuais especializados em pesquisa na área de jornalismo, observa-se o descompasso entre os numerosos estudos empíricos sobre os fenômenos comunicativos humanos e a falta de metodologias que permitam identificar as forças e processos que os produzem: Ao compararmos a diversidade de conceitos, referências bibliográficas, categorias de análise e metodologias incluídos em cada um destes manuais verificamos que ainda que o grau de complexidade atingido pelo Jornalismo como disciplina científica ao longo destes últimos 50 anos tenha aumentado, em muitos casos as metodologias empregadas são similares aos modelos concebidos no século passado. (MACHADO, 2010, p. 21). 8 Segundo Gurvitch (apud PEREIRA et al., 2007, p. 2) “A microssociologia constitui-se de simples elementos que compõem a realidade social e são constituídos pelas múltiplas maneiras de estar ligado pelo todo e no todo, ou manifestações da sociabilidade que, em diferentes graus da actualidade e virtualidade, se combatem e combinam em todo o grupo, classe e sociedade geral”.
  • 16. 16 O mesmo autor também estima a extensão dos danos provocados aos estudos sobre comunicação social que se apoiam em dados imediatos e diretos, sem análise crítica das forças sociais a que estes se ligam: Nada pode ter provocado consequências mais desastrosas para a compreensão da prática jornalística, em particular nos estudos brasileiros, do que a aceitação pacífica dos pressupostos teóricos contidos nos conceitos de rotinas produtivas e de valores de notícias. Nos dois casos, em vez de utilizar a realidade para colocar à prova os conceitos, em geral o pesquisador ajustava a realidade aos limites destes conceitos, constituindo um círculo vicioso em que quanto mais se pesquisava, menos se sabia sobre o objeto estudado. (p. 22). A teoria sobre jornalismo como processo ausente do conflito social, sem contextualização com os interesses sociais em jogo que agem sobre a imprensa, sinaliza a sua filiação ao positivismo. A concepção de neutralidade do ato noticioso, por exemplo, tem fundamento na pretensão de tentar apreender fatos sociais como “coisas”.9 Da mesma forma, se o cientista social é instado a analisar fenômenos sociais de forma distanciada, evitando contaminar a ciência com a sua subjetividade, o jornalista moderno deve esforçar-se para reportar os fatos sem contaminá-los com a sua opinião. Diferente do jornalismo, a tradição crítica epistemológica está consolidada na sociologia. A crítica à pretensão de neutralidade almejada pelo positivismo é farta especialmente na concepção materialista. O filósofo Michael Löwy nota que a pretensão de neutralidade equivale ao feito do Barão de Münchhausen, que, atolado sozinho em um pântano, escapou puxando-se pelos cabelos. A anedota ilustra a inviabilidade de uma ciência social sem valores: indivíduos que se pretendem neutros devem lembrar-se que são forjados em conflitos sociais que incidem sobre a atividade intelectual. O autor enumera os fundamentos teórico- epistemológicos do positivismo: 1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e ação humanas; na vida social, reina uma harmonia natural. 9 É esta exatamente a perspectiva teórica de Émile Durkheim: “É preciso, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.” (DURKHEIM, 1999, p. 28).
  • 17. 17 2. A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (o que classificaremos como “naturalismo positivista”) e ser estudada pelos mesmos métodos, démarches e processos empregados pelas ciências da natureza. 3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias, descartando previamente todas as prenoções e preconceitos. (LÖWY, 2000, p. 17). A concepção materialista considera que há na tessitura social, ao longo da história, relações sociais que condicionam a apreensão da realidade pelos homens, incluindo os pesquisadores. O que garante a objetividade do conhecer não é o distanciamento estratégico do sujeito cognoscente: é, inversamente, compreender essas relações e posicionar-se sobre elas. Para Karl Marx, dado o fato de que os homens em sua existência produzem coisas de que necessitam e também lhes dão sentidos ou significados espirituais (simbólicos), a análise científica terá maior sucesso na medida em que apreende as condições em que são produzidas as idéias e seus sentidos na vida social. De fato, o autor deixa claro que (...) na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. (MARX, 1982, p. 530). Ao mapear a estrutura produtiva da sociabilidade burguesa, Marx localizou as forças materiais que a cria e mantém. Essas forças estão reunidas sob a forma de classes sociais antagônicas, que ocupam posições diferentes no mundo do trabalho e têm interesses antagônicos sobre o mundo produtivo. A divergência das posições materiais entre classes dominantes e dominadas é que cria diferentes percepções sobre o mundo. No entanto, ainda segundo Marx, as relações de produção são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. No
  • 18. 18 capitalismo, a mais fundamental dessas relações é a propriedade que a burguesia tem dos meios de produção, enquanto o proletariado possui apenas a sua força de trabalho. Este ponto de tensão, que não pode ser eliminado sem um colapso das relações de produção fundadas na propriedade privada, é equilibrado pela classe dominante com a sua universalização, isto é, com a propaganda dos seus interesses particulares como se fossem de toda a sociedade. A idéia que a sociedade possui valores universais que precisam ser defendidos contra infiltrações decadentes é uma estratégia para manter a própria luta de classes. Este e outros mecanismos que favorecem a naturalização dos interesses da classe dominante, estabelecendo-os como eternos, universais e necessários para o bem-estar da comunidade humana, visam conquistar os trabalhadores para uma subalternidade solidária. Marx chama essas estratégias de “ideologia”: As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual, pelo que lhe estão assim, ao mesmo tempo, submetidas em média as ideias daqueles a quem faltam os meios para a produção espiritual. As ideias dominantes não são mais do que a expressão ideal [ideell] das relações materiais dominantes, as relações materiais dominantes concebidas como ideias; portanto, das relações que precisamente tornam dominante uma classe, portanto as ideias do seu domínio. Os indivíduos que constituem a classe dominante também têm, entre outras coisas, consciência, e daí que pensem; na medida, portanto, em que dominam como classe e determinam todo o conteúdo de uma época histórica, é evidente que o fazem em toda a sua extensão, e portanto, entre outras coisas, dominam também como pensadores, como produtores de ideias, regulam a produção e a distribuição de ideias do seu tempo; que, portanto, as suas ideias são as ideias dominantes da época. Numa altura, por exemplo, e num país em que o poder real, a aristocracia e a burguesia lutam entre si pelo domínio, em que portanto o domínio está dividido, revela-se ideia dominante a doutrina da divisão dos poderes, que é agora declarada uma "lei eterna". (MARX, 2002, p. 78). Adiante, de forma mais esquemática, complementa: Ora, se na concepção do curso da história desligarmos as ideias da classe dominante da classe dominante, se lhes atribuirmos
  • 19. 19 uma existência autónoma, se nos ficarmos por que numa época dominaram estas e aquelas ideias, sem nos preocuparmos com as condições da produção e com os produtores destas ideias, se, portanto, deixarmos de fora os indivíduos e as condições do mundo que estão na base das ideias, então poderemos dizer, por exemplo, que durante o tempo em que dominou a aristocracia dominaram os conceitos honra, lealdade, etc., durante o domínio da burguesia dominaram os conceitos liberdade, igualdade, etc. Em média, é isto que a própria classe dominante imagina. Esta concepção da história, que a todos os historiadores é comum, em especial a partir do século XVIII, há-de necessariamente dar com o fenómeno de que dominam ideias cada vez mais abstractas, isto é ideias que assumem cada vez mais a forma da universalidade. É que cada nova classe que se coloca no lugar de outra que dominou antes dela, é obrigada, apenas para realizar o seu propósito, a apresentar o seu interesse como o interesse comunitário de todos os membros da sociedade, ou seja, na expressão ideal [ideell]: a dar às suas ideias a forma da universalidade, a apresentá-las como as únicas racionais e universalmente válidas. (Idem, p. 148). Trata-se de adaptação dos valores de uma classe como se fossem válidos para toda a sociedade: A consciência, prossegue o texto de A Ideologia Alemã, estará indissoluvelmente ligada às condições materiais de produção da existência, das formas de intercâmbio e de cooperação, e as idéias nascem da atividade material. Isto não significa, porém, que os homens representem nessas idéias a realidade de suas condições materiais, mas, ao contrário, representam o modo como essa realidade lhes aparece na experiência imediata. Por esse motivo, as idéias tendem a ser uma representação invertida do processo real, colocando como origem ou como causa aquilo que é efeito ou conseqüência, e vice-versa. (CHAUÍ, 1995, p. 63) A inversão entre causa e efeito tem efeitos sobre vários outros aspectos da vida social, como o trabalho, por exemplo. A sociedade se encarrega de naturalizar práticas que são forjadas para atender o interesse de grupos que controlam ideologicamente a própria vida social: Também as relações sociais são representadas imediatamente pelas idéias de maneira invertida. Com efeito, à medida que uma forma determinada da divisão social do trabalho se estabiliza, se fixa e se repete, cada indivíduo passa a ter uma atividade determinada e exclusiva que lhe é atribuída pelo conjunto das relações sociais, pelo estágio das forças produtivas e, evidentemente, pela forma da propriedade. Cada um não pode escapar da atividade que lhe é socialmente imposta. A partir desse momento, todo o conjunto das relações sociais aparece nas idéias como se fossem coisas em si, existentes por si mesmas e não como conseqüência das ações humanas. Pelo contrário, as ações humanas são representadas como decorrentes da sociedade, que é vista como
  • 20. 20 existindo por si mesma e dominando os homens. Se a Natureza, pelas idéias religiosas, se “humaniza” ao ser divinizada, em contrapartida a Sociedade se “naturaliza”, isto é, aparece como um dado natural, necessário e eterno, e não como resultado da praxis humana. (Idem, p. 66). A visão de mundo da classe dos trabalhadores permite visualizar objetivamente a realidade, o que não se dá, porém, por superioridade moral do oprimido10. É que o proletariado, subtraído da propriedade dos meios de produção necessários à sua subsistência física, compreende porque sofre o processo de exploração, e, consequentemente, necessita transformar esta realidade desfavorável. Logo, em vez de justificar a exploração por meio de estratégias ideológicas, o proletariado possui, pela sua condição material, o germe da liberdade humana. Esse princípio tem também implicações para o trabalho científico que pretenda capturar objetivamente o movimento da vida social: A realidade social, como toda a realidade, é infinita. Toda ciência implica uma escolha, e nas ciências históricas essa escolha não é um produto do acaso, mas está em relação orgânica com uma certa perspectiva global. As visões do mundo das classes sociais condicionam, pois, não somente a última etapa da pesquisa científica social, a interpretação dos fatos, a formulação das teorias, mas a escolha mesma do objeto de estudo, a definição do que é essencial e do que é acessório, as questões que colocamos à realidade, numa palavra, a problemática da pesquisa. (LÖWY, 1978, p. 15). Considerar, portanto, que a notícia do jornal é transposição direta da realidade não garante a objetividade do conhecimento. Serve, ao contrário, para ocultar que toda notícia é a leitura da realidade por alguem, e que é impossível, graças às especificidades do aparato cognitivo humano, transmitir a realidade tal como ocorreu sem alguém para reportá-la. A concepção materialista permite afirmar ainda que todo processo de formulação de notícias submete os fatos à visão de mundo de quem produz essas notícias. A perspectiva de classe incide diretamente sobre o jornalismo. Por sua vez, a 10 O trabalhador como “oprimido” é uma figura alienígena ao pensamento marxiano. Marx não via na relação entre proletário e burguês a condição de opressão, que pressupõe coerção física ou psicológica, e sim de exploração da força de trabalho visando a produção de mais-valia. A questão, todavia, é reconhecidamente polêmica, se levado em consideração o aspecto brutal do capitalismo nos países de passado colonial. Por isto, tal questão não será tratada no presente trabalho, ficando apenas a presente nota para reflexão e/ou possíveis desdobramentos teóricos.
  • 21. 21 crença na isenção da notícia, na universalidade do seu interesse social, é o que impede que este fenômeno seja claro. Diante do caráter ideológico da ideia de isenção jornalística, como mensurar cientificamente a questão de que os jornais, além de não apreender objetivamente o real, o interpretam? Essa questão pode ser resolvida analisando o jornalismo no contexto das disputas políticas, esforço especialmente difícil no caso amazônico. Trata-se de tese nova: a de que os jornais, ao empenhar-se na defesa de defender valores civilizatórios, nos quais a isenção da notícia é a garantia da busca pelo bem comum, estariam manobrando pela construção de hegemonia para um grupo social. No entanto, a força desse tipo de jornalismo, o da busca impessoal pelo bem comum, é um complemento eficaz para as disputas oligárquicas na região. As lutas entre diversas facções políticas, representando interesses conflitantes dentro da classe dominante, engendram grupos políticos atuantes com máquinas de propaganda voltadas ao convencimento social, fundamentalmente nos períodos eleitorais. Compreendidas as batalhas travadas pelas oligarquias provinciais contra o Império, e, posteriormente, a República, registrar a atividade jornalística nesses períodos é compreender os meandros da disputa por hegemonia. Trata-se, no entanto, de tarefa árdua. Um estudo recente11 sobre o jornalismo acreano, localiza-se as várias mudanças estéticas da imprensa, mas conclui-se que trata-se de 12 transformações dos discursos de poder , abstraindo as próprias relações de poder para concentrar-se em questões lingüísticas, ou, quando muito, no tráfico de influencia entre imprensa e instituições estatais. Trabalho monográfico13 sobre o jornalismo acreano entre 1994 e 1998 também aponta o controle da informação pelo Estado opressor ao mesmo tempo em que admite uma relação de “mercado das notícias”, isto é, de troca de produção 11 BONIFÁCIO, 2007. 12 Diz a autora, na introdução: “Através das tramas do emaranhado de redes do poder midiático é possível entrever os movimentos de resgate da memória e o estabelecimento de alguns traços das várias identidades sociais que circulam na sociedade acreana” (BONIFÁCIO, 2007, p. 14) 13 PAIVA, 2000.
  • 22. 22 de imagens positivas por dinheiro. A venda ocorreria na forma de repasses mensais a pretexto de pagamento pela divulgação dos atos de governo. Ao não reconhecerem o jornalismo como estratégia de convencimento da classe dominante, os estudos batem-se pela mesma liberdade de imprensa reivindicada pelos donos dos meios de comunicação. Mais criterioso, outro trabalho14 percebe que “a hegemonia de determinada classe social depende prioritariamente do controle da ideologia e, não apenas, do domínio político ou econômico.” Apesar disso, o estudo, cronologia exaustiva dos jornais acreanos desde a ocupação boliviana, também enfatiza os percalços entre imprensa e poder institucional. Nelson Werneck Sodré, porém, ao enumerar15 as transformações editoriais da imprensa brasileira, localiza o jornalismo diário como estratégia de propaganda. Para ele os Estados Unidos utilizaram-se do jornalismo entre os países sul-americanos na batalha pela hegemonia durante a guerra fria: a exportação do american way of life, diz o autor, causou as mais importantes mudanças de estilo, circulação e linguagem dos jornais.16 Em que pese a inexistência de imprensa diária em 21 dos 22 municípios do Acre, a análise sobre o jornalismo acreano não resta prejudicada: na capital acreana subsistem até a presente data os quatro diários em análise. Convém, assim, utilizar um instrumental teórico adequado para viabilizar a obtenção de resultados. 14 ASSMAR, 2007. 15 SODRÉ, 1999. 16 “A imprensa fora uma das grandes vítimas da ditadura estadonovista. Tudo isso, entretanto, pertencia à época do nazismo ascensional, quando Salazar, Mussolini, Hitler, Franco, Tojo eram senhores do mundo, financiados pelo imperialismo apavorado com a consolidação do poder soviético em vasta extensão da Europa e da Ásia, a antiga Rússia. Depois da Guerra, em que soviéticos, franceses, ingleses, americanos, brasileiros haviam combatido juntos o inimigo comum, isso parecia impossível. A bomba de Hiroshima, a terrível repressão na Grécia, entretanto, anunciavam divergências insanáveis. Churchill, no discurso de Fulton, liquidou a unidade antinazista e abriu a “guerra-fria”. No âmbito desta, a luta pelo controle da opinião teria destacado relevo. (SODRÉ, 1999, p. 396).
  • 23. 23 1.1 O INSTRUMENTAL TEÓRICO GRAMSCIANO Ao se comparar a categoria marxiana “ideologia” com a “hegemonia” de Gramsci, há uma clara filiação da segunda à primeira. Uma das contribuições mais interessantes de Gramsci é a sua reflexão sobre os mecanismos pelos quais uma classe pode exercer a dominação sobre as outras, estabelecendo a sua hegemonia não somente pela coerção, como também mediante o consenso, transformando a sua ideologia de grupo num conjunto de verdades que se supõem válidas para todos e que as classes subalternas aceitaram. (FONTANA, 1998, p. 238.) Gramsci (apud COUTINHO, 2007) analisa a imprensa como a parte mais dinâmica da superestrutura ideológica das classes dominantes. Caracteriza-a como “a organização material voltada para manter, defender e desenvolver a frente teórica ou ideológica”, um suporte ideológico do grupo hegemônico: Como se sabe, Gramsci dedicou grande atenção ao modo como a estrutura ideológica de uma classe dominante se organiza, assinalando: A imprensa é a parte mais dinâmica desta estrutura ideológica, mas não a única: tudo o que influi ou pode influir sobre a opinião pública, direta ou indiretamente, faz parte dessa estrutura. Dela fazem parte: as bibliotecas, as escolas, os círculos e os clubes de variado tipo, até a arquitetura, a disposição e o nome das ruas. (COUTINHO; TEIXEIRA, 2003, p. 243). Em panfleto publicado em 1916, intitulado Os jornais e os operários, Gramsci dedica especial atenção ao tema. Insiste que os operários devem recusar os jornais burgueses, mantidos por capitais privados, que privilegiam as verdades interessantes para partidos e políticos burgueses: O jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por ideias e interesses que estão em contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma ideia: servir a classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. [...] E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador. (GRAMSCI, 2005).
  • 24. 24 O texto critica o trabalhador que lê os jornais burgueses, ajudando a mantê-los, “aumentando a sua potência”, esquecendo que esses veículos “apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária”. Em obra dedicada a realizar um estudo sistemático da atividade intelectual na Europa, o mesmo autor avisa: O tipo de jornalismo estudado nestas notas é o que poderia ser chamado de “integral” (num sentido que, no curso das próprias notas, adquirirá significado cada vez mais claros), isto é, o jornalismo que não somente pretende satisfazer todas as necessidades (de uma certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e desenvolver estas necessidades e, consequentemente, em certo sentido, criar seu público e ampliar progressivamente sua área. (GRAMSCI, 1982, p. 161). A ocupação com a atividade jornalística guarda coerência com o conjunto do corpo teórico gramsciano. A imprensa é parte dos aparelhos privados de hegemonia da sociedade civil, assim como a religião e os centros de produção de cultura e de ensino. Para compreender melhor a implicação do corpo teórico gramsciano para o objeto desta análise, convém empreender um recuo. Na teoria gramsciana há dois níveis superestruturais que compõem - nas sociedades ocidentais17 - o Estado Ampliado: a sociedade civil, que reúne o conjunto dos aparelhos privados de hegemonia; e a sociedade política, o Estado no sentido estrito, os organismos do aparelho burocrático-militar da política institucional. Na sociedade civil é onde se dá a batalha ideológica, ou, em termos gramscianos, hegemônica. É nela onde se espraiam as estratégias de busca por consensos, engendrando a legitimidade via aparelhos privados de hegemonia. 17 Gramsci diferencia as sociedades ocidentais das orientais conforme a organização de suas estruturas de Estado. Enquanto no Ocidente ocorre uma estrutura de Estado ampliado, no Oriente há uma estrutura de Estado restrito que tem por base a manutenção e a reprodução da dominação a partir tão somente do poder coercitivo. Esta não é, entretanto, uma divisão geográfica, mas conceitos históricos de conteúdo sócio-econômico que representam tipos de sociedade e os papéis desempenhados pela sociedade civil e pela sociedade política na organização e reprodução das estruturas sociais.
  • 25. 25 Esta atividade faz com que Gramsci perceba a imprensa como agente partidário18, cumprindo a função de “meio para organizar e difundir determinados tipos de cultura"19, articulados de forma orgânica com um determinado agrupamento social “mais ou menos homogêneo, de um certo tipo e, particularmente, com uma certa orientação geral”20. Ao definir os jornais como aparelhos privados de hegemonia, Gramsci vai na contramão das concepções liberais que entendem a imprensa como quarto poder, cuja responsabilidade seria vigiar os governantes, brindando a “opinião pública” com a transmissão isenta de fatos e garantindo a liberdade de expressão na medida em que o faz sem intervenções estatais. É ao primeiro marco categorial que filia-se o presente estudo. Quando possível, preferiu-se transcrever os próprios textos dos jornais para evidenciar as questões mais claramente. Também buscou-se acrescentar às notícias informações contextuais que ajudassem a compreender o meio social em que se deram os fatos, além dos interesses que sobre eles incidiam. Além desse duplo panorama, composto pelas transformações da imprensa no conjunto das transformações da história, esse empreendimento requer uma cronologia comparada entre o movimento das classes sociais, seus interesses em cada momento e as transformações em curso nos jornais que incidiam sobre linguagens, infra-estrutura, modo de produção, relacionamento com o poder e grupos sociais, entre outros. É o que, resumidamente, se faz a seguir. 18 Esta visão pode ser encontrada, de forma menos elaborada, no texto onde Karl Marx analisa a imprensa inglesa mostrando as diferenciações entre a imprensa ligada ao Partido Tory e a imprensa ligada ao Partido Whig. Conf. MARX, Karl. A opinião dos jornais e a opinião do povo (1861). In. Liberdade de Imprensa. Porto Alegre, LP&M, 2006. 19 GRAMSCI, 1982, p. 32. 20 Idem.
  • 26. 26 2 CRONOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Todo mundo quer saber o nome do fazendeiro que bolinou, como diz o Antonio Klemer, com uma menininha de apenas dois anos de idade. O nome dele? Nem sob tortura. – Coluna da Rubedna Braga, 15.09.2005. Jornal O Rio 21 Branco Este capítulo realiza uma cronologia da imprensa europeia, dos Estados Unidos e do Brasil. O objetivo é mostrar que as mudanças editoriais estão ligadas a disputas entre setores da classe dominante pelo controle da sociedade e que a liberdade de imprensa é o discurso legitimador de um projeto de modernidade, permitindo o ascenso desta classe nos diversos países. Busca-se evidenciar que a ideia de neutralidade da notícia possibilitou ao jornal dirigir-se a todos, estimulando o consensualismo burguês e viabilizando a disseminação da visão de mundo dominante como se fosse de toda a sociedade. O próprio jornalismo diário produzido por empresa especializada é uma necessidade da vida burguesa. A condução da política por interesses de grupos proprietários contribuiu para produzir as condições pelas quais a imprensa tornou-se um aparelho privado de hegemonia. Por muitas razões, fáceis de referir e de demonstrar, a história da imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista. O controle dos meios de difusão de idéias e de informações – que se verifica ao longo do desenvolvimento da imprensa, como reflexo do desenvolvimento capitalista em que aquele está inserido – é uma luta em que aparecem organizações e pessoas da mais diversa situação social, cultural e política, correspondendo a diferenças de interesses e aspirações. Ao lado dessas diferenças, e correspondendo ainda à luta pelo referido controle, evolui a legislação reguladora da atividade da imprensa. Mas há, ainda, um traço ostensivo, que comprova a estreita ligação entre o desenvolvimento da imprensa e o desenvolvimento da sociedade capitalista, aquele acompanhando a este numa ligação dialética e não simplesmente mecânica. A ligação dialética é facilmente perceptível pela constatação da influência que a difusão impressa exerce sobre o comportamento das massas e dos indivíduos. O traço consiste na tendência à unidade e à uniformidade. Em que pese tudo o que 21 Solicita-se ao leitor eventualmente horrorizado pela presente e brutal epígrafe que se conceda alguma vênia para que se possa expor a dimensão da licença que a imprensa dá a si mesma em seu trabalho de mistificação. Não há, como se percebe, limites morais nesta empreitada.
  • 27. 27 depende de barreiras nacionais, de barreiras lingüísticas, de barreiras culturais – como a imprensa tem sido governada, em suas operações, pelas regras gerais da sociedade capitalista, particularmente em suas técnicas de produção e de circulação – tudo conduz à uniformidade, pela universalização de valores éticos e culturais, como pela padronização do comportamento. As inovações técnicas, em busca da mais ampla divulgação, acompanham e influem na tendência à uniformidade (SODRÉ, 1999, p. 1). O primeiro22 jornal diário do mundo, o londrino Daily Courant, criado em 1702 por iniciativa da Coroa britânica, confirma esse postulado. Divulgava boletins sobre a saúde da realeza, editais e eventos reais e não se ocupava do cotidiano popular. O regime político, baseado no poder privado do monarca, desconhecia a “opinião pública”. Havia, no lugar, a palavra soberana do rei. A correlação entre conteúdo jornalístico e condições políticas pode ser realizada em qualquer época. De todos os objetos da pesquisa histórica, o jornal é, talvez, o que mantém as mais estreitas relações com o estado político, a situação econômica, a organização social e o nível cultural do país e da época dos quais constitui o reflexo. (ALBERT & TERROU, 1990, p. 31) Formas sociais pré-burguesas elaboraram sistemas de comunicação que também desempenhavam papéis organizadores entre as classes. A principal característica da imprensa na atualidade, a de circular imagens da classe dominante, está disponível também nas formas societais anteriores. Bem antes da invenção do linotipo por Johannes Guttenberg (1390- 1468), por exemplo, haviam na Grécia os aedos23, artistas que uniam música e narrativas, sendo Homero um deles. Entre os celtas a mesma atividade era realizada pelos bardos24. Os judeus tinham os escribas25, encarregados de compilar livros considerados sagrados pela tradição religiosa. Além destes, relatos como os de Homero, Heródoto, Marco Pólo e outros mantém com a imprensa a característica de serem sistemas organizados de comunicação. 22 CHAPARRO, 2007. 23 TORRANO, 2006. 24 LOPES & BOSI, 1997, p. 253. 25 FEDELI, 1994.
  • 28. 28 Friedrich Engels, ao analisar a comunicação articulada como um dos atributos fundamentais da espécie humana, revela que a organização cada vez mais complexa dos primeiros grupos humanos na pré-história exigiu a linguagem para estruturar o mundo do trabalho. Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza, que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro. (ENGELS, 2004). Este processo não parou a partir da separação entre macacos e hominídeos. A sociabilidade humana complexificou e ampliou as determinações que incidiam sobre a linguagem, tornando-a sistemas de signos e símbolos culturais próprios de cada época: O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade. (idem). No Paleolítico, a sofisticação das técnicas de caça seria o tema das primeiras formas de comunicação gráfica que se tem notícia: a arte rupestre. No interior de cavernas, os ancestrais do jornalista moderno registravam o que de mais precioso o trabalho coletivo lhes fornecera: carne, uma fonte alimentar de alto teor protéico que lhes garantia sobrevivência física e
  • 29. 29 apontava para a importância do trabalho coletivo na superação dos limites impostos pela natureza. O desenvolvimento desse domínio impôs sofisticações do aparato comunicativo nas sociedades, processo que também não se deu de forma linear. Com a invenção do papel pelos chineses26, no século II a. C., criaram- se as condições para um intenso intercâmbio da cultura humana. Isso não ocorreu porque a divisão social do trabalho, na China de dinastias rivais, já dissociara há muito a produção e a apropriação do trabalho. O mesmo se dera no Egito, sob circunstâncias parecidas, com a invenção do papiro 27 no século IV a.C. Por isso, o ofício da escrita era restrito a atividades religiosas e reais. Em 1438, com a invenção do sistema de prensas móveis, estabeleciam-se condições para a difusão do conhecimento. A bíblia em latim, primeiro livro impresso pelo novo invento, sinalizava os que se apropriariam do avanço tecnológico: o clero e as monarquias. As guerras entre os reinos europeus, o endividamento das nobrezas e a ascensão gradual das burguesias deram as condições para as primeiras disputas pelo mando social. Nasciam os primeiros informativos, sob rígido controle estatal, divulgando um único acontecimento por vez. Já no final do século XV, os impressores passaram a editar, sob a forma de pequenos cadernos de 4, 8 ou 16 páginas, às vezes ilustrados com gravuras em madeira, folhas de notícias em que se relatava um acontecimento importante - batalha, exéquias principescas, festas, etc - ou se reproduzia o texto de algum avviso. Essas folhas, chamadas relationes em latim, occasionnels na França, zeitungen na Alemanha e gazzetas ou corantas na Itália, eram vendidas em livrarias ou por ambulantes nas grandes cidades. (ALBERT & TERROU, 1990, p. 5). Em 1529, no favorável contexto de uniformização política da França, com incentivos da monarquia que se beneficiava do patrocínio dado ao conflito entre classes rivais – nobres e burgueses – surge o pasquim, um novo tipo de gazeta que inovava relatando vários fatos em vez de um. Eram 26 FREITAS, 2011. 27 HEITLINGER, 2007.
  • 30. 30 periódicos anônimos, independentes da iniciativa real e nascidos como meio para obter apoio social: O conflito entre as classes sociais foi condição fundamental do poder absoluto. O próprio rei instigou o conflito, procurando sobrepor-se a ele e dele tirar proveito. Protegeu a alta burguesia, deu-lhe monopólios comerciais e industriais, arrendou-lhe impostos, garantiu-lhe ascensão social, apoiando-a contra clero e nobreza. Reciprocamente, concedeu privilégios ao alto clero e domesticou a nobreza, atraindo-a a seus palácios por meio de cargos e pensões. Também protegeu as corporações dos artesãos contra os grandes capitalistas, assegurando-lhes os direitos, ao mesmo tempo em que defendeu artesãos e capitalistas contra os assalariados. Garantiu aos camponeses direitos de posse e propriedade adquiridos pelo costume. O poder real, em suma, descansava sobre o conflito generalizado que tendia a equilibrar as forças sociais, especialmente o conflito entre as duas classes mais poderosas, nobreza e burguesia. (ARRUDA & PILETTI, 1996, p. 34) Neste ambiente conflagrado, no qual o desenvolvimento do comércio coincidia com a mão do controle real em busca do equilíbrio nacional, as contradições entre as classes, agudizadas, manifestaram-se nas páginas dos pasquins inicialmente com relatos de eventos tidos como sobrenaturais, crimes, catástrofes e outros acontecimentos extraordinários. Não representaram, nesta fase inicial, problema para as forças em disputa. Depois28 nasceram os libelos, cujo conteúdo consistia em ácidas polêmicas religiosas e políticas. Receosas com a crescente receptividade dos libelos, que perigosamente davam ao nascente jornalismo uma posição estratégica na transmissão de idéias, várias cortes lançaram mão de legislações sistematicamente repressivas. A excessiva centralização dos estudos sociais sobre essas legislações tendem, porém, a desviar o foco dos eventos reais, dos interesses em disputa: Não é o exame da legislação a respeito da imprensa, assim, que nos permite acompanhar o seu desenvolvimento, mesmo sob o aspecto da liberdade de expressão, mas o exame da realidade: a legislação, objetivo constante das preocupações conservadoras, foi posta de lado, desobedecida, algumas vezes, outras serviu a desmandos que não previa, tudo conforme o desenvolvimento dos acontecimentos políticos, conforme a correlação das forças em 28 ALBERT & TERROU, 1990, p. 5.
  • 31. 31 disputa. Esse ambiente agitado, e de cujo desenvolvimento, em regra, só a agitação nos tem sido transmitida pela historiografia oficial, esquecida de seus motivos, deu lugar a um tipo de imprensa, o pasquim, de características específicas. (SODRÉ, 1999, p.84). A primeira legislação contra os libelos foi criada na Alemanha em 1524, seguida pela França em 1537 e a Inglaterra em 1538.29 A regulamentação estatal mostra que o jornalismo informativo não floresceria entre as monarquias: a informação estava submetida a forças que não eram as de mercado. Nos primeiros anos do século XVII surgem os semanários: em 1609 em Estrasburgo e Wolfenbutel, em 1610 na Basiléia, 1615 em Frankfurt, 1617 em Berlim, 1618 em Hamburgo, 1619 em Sttutgart e Praga, 1620 em Colonia e Amsterdam, 1622 em Londres, 1631 em Paris, 1636 em Florença, 1640 em Roma, 1661 em Madri e em 1703 em São Petersburgo.30 Na Inglaterra, onde o processo caminhava mais rápido, surgiu o primeiro jornal diário: a 11 de maio de 1702 veio a primeira edição do Daily Courant, também primeiro com a concepção da notícia isenta de valores 31. A inovação surgiu depois que o Parlamento inglês, diante da restauração da monarquia, criou reformas para expandir a economia mercantilista. Criara-se o ambiente no qual o convencimento via livre expressão livre é uma necessidade social. O protagonismo inglês foi benéfico para o desenvolvimento da atividade jornalística: O princípio da liberdade de imprensa, antecipado na Inglaterra, vai ser encontrado, então, tanto na Revolução Francesa quanto no pensamento de Jefferson, que correspondia aos anseios da Revolução Americana, sintonizando com a pressão burguesa para transferir a imprensa à iniciativa privada, o que significava, evidentemente, a sua entrega ao capitalismo em ascensão. Nos países em que essa ascensão ocupava-se agora muito mais no plano político, pois estava já consolidada no plano econômico, a liberdade de imprensa encontrava barreiras nos remanescentes feudais, adrede mantidos, por vezes, pela própria burguesia, como escudos contra o avanço, embora ainda lento, do proletariado e do campesinato – a Inglaterra e a França, particularmente – o problema permaneceu longamente no palco. Foi a ausência, nos Estados Unidos, de passado feudal, que permitiu ali a solução rápida de tal problema, 29 Idem, p. 11-20. 30 ALBERT & TERROU, 1990, p. 7. 31 CHAPARRO, 2003.
  • 32. 32 colocada a liberdade de imprensa – isto é, o seu controle pela burguesia – como postulado essencial e pacífico, abrindo-se ao seu desenvolvimento, então as mais amplas perspectivas. Assim, enquanto na Inglaterra a stamp tax só desapareceu em 1855, e, na França, a liberdade de imprensa permaneceu relativa até 1881 – nos Estados Unidos surgiu ampla, praticamente, com a independência. (SODRÉ, 1999, p. 2) Na França, onde a resistência ao avanço das reformas burguesas produzira a monarquia absolutista, os jornais que circularam até 1788 desenvolveram tendências literárias para circular na Corte: visavam chegar à nobreza, influente sobre a censura estatal. Os principais representantes franceses dessa época foram o Journal de Paris (surgido em 1777) e o Journal Général de France (em 1778). O Journal des Savants inaugurou um tipo de imprensa de oposição ao sistema, com a crítica aos filósofos das Luzes, que defendiam o absolutismo esclarecido. Acabou abandonando a crítica literária devido às perseguições e à censura. Jornais literários surgiram na França, mas utilizando uma fórmula subserviente, sem contrariar a ordem constituída. O de maior sucesso no final do século XVII foi o Nouvelles de La Republique des Lettres, dirigido por Bayle, que, de tão acomodado, recebeu cartas de felicitação da Academia Francesa e da Societé Royale, instituições fiscalizadoras dos padrões estéticos. (ARNT, 2002, p. 21). Nos Estados Unidos sob controle inglês os jornais tinham baixa periodicidade e curta duração. The Public Occurrences, publicado em Boston em 25 de outubro de 1690, teve somente um número32. The Boston News Letter, de 1704, teve dois33. Na Filadélfia, em 1728, Benjamim Franklin lançou a Pennsylvania Gazette34, que circulou por duas semanas. Com a revolução de 1776 o número de folhas saltou para 43 em 1782 35: Libertas do grilhão monarquista, as forças burguesas rapidamente formularam os marcos da liberdade civil, e, com ela, da liberdade de imprensa. A primeira foi garantida em 1776 com a Declaração de Independência dos Estados Unidos36. A 32 DUYCKINCK, 1856, p. 27. 33 Idem. 34 Idem, p. 28. 35 ALBERT & TERROU, 1990, p. 47. 36 UNITED STATES OF THE AMERICA. The declaration of independence. Philadelphia: The United States Congress, 1776. “The Decl“We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty, and the pursuit of Happiness. That to secure these rights, Governments are instituted among Men, deriving their just powers from
  • 33. 33 segunda seria contemplada 15 anos depois, com a 1ª Emenda à Constituição37. Na França, a legislação sobre a liberdade de imprensa surgiu dois anos após a revolução de 1789, mas a luta pelo direito de informar livremente se manteve, inclusive nas fases de consolidação do novo modelo. De acordo com P. Albert e F. Terrou, entre 1792 e 1799 o governo revolucionário instituiu uma severa censura estatal aos impressos. Era o período de crise da Revolução Francesa, caracterizada pela perda da identificação entre os interesses dos novos grupos dirigentes e o proletariado francês38. Diferente dos EUA, a classe dominante francesa não elaborou as reformas para colocar os mercados no centro da vida social. Abertos os flancos de batalha, a Restauração instalou-se: Com o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, um decreto de 17 de janeiro de 1800 permitiu a subsistência de apenas 13 jornais, restabelecendo o antigo sistema de autorização prévia. O imperador impôs severo controle à imprensa, mas também tornou um jornal o porta-voz do seu governo: o Moniteur. Jornais provinciais só podiam publicar temas políticos extraídos do Moniteur. A partir de 1810 só era permitida uma folha por departamento. Em 1807 ainda havia 170 jornais provinciais. Em 1811 restavam apenas quatro jornais em Paris, todos confiscados pelo governo. Após a Batalha de Waterloo, o retorno dos Bourbons (1814-1815) trouxe uma liberdade relativa para a imprensa noticiosa, que, no entanto, só seria conquistada definitivamente 56 anos depois, a partir de 1881. ALBERT & TERROU, 1990, p. 36. Inovações tecnológicas ampliaram o poder da imprensa. É o caso do telégrafo, em 1844, surgido precisamente quando o capitalismo se the consent of the governed”. (“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, que foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Que, a fim de assegurar esses direitos, são instituídos governos entre os homens, derivando os seus justos poderes do consentimento dos governados”). Disponível em: <http://www.icitizenforum.com/declaration-independence> Acesso em: 20 ago. 2011. 37 UNITED STATES OF THE AMERICA. The United States Constitution. Washington: The United States Congress, 1791. “Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances”. (“O Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus agravos”). Disponível em: <http://www.usconstitution.net/xconst_Am1.html> Acesso em 20 ago 2011. 38 ALBERT & TERROU afirmam que de 1789 a 1800 foram publicados mais de 1.500 títulos novos, duas vezes mais do que nos últimos 100 anos. A censura ocorreu de 1792 a 1799, quando a imprensa passou a ser vista como ameaça à sobrevivência do regime.
  • 34. 34 desenvolvia mais rápido, exigindo a transmissão de volumes maiores de informações. O telégrafo atendeu e melhorou essa demanda: o volume de informações passou a ser contabilizado em minutos, exigindo relatos jornalísticos mais curtos e objetivos. Impunha-se a padronização da escrita informativa: nascia a estética do jornalismo moderno: Seria possível designar a “objetividade jornalística” por “paradigma do telégrafo”, a primeira rede global em que o jornalismo se integrou. O novo invento libertou a informação dos constrangimentos da geografia, autonomizando-a em relação aos transportes. Além disso, solicitou novas formas de linguagem, ajudando a configurar as formas de expressão jornalística difundidas pelas agências noticiosas, elas próprias fundadas sob o impulso dessa nova tecnologia, e adotadas pelos jornais da “fase industrial da imprensa”. Entre outras modificações nas “relações sociais mediadas pela linguagem” - com relevo para a correspondência comercial ou privada -, o telégrafo contribuiu para a transição do jornalismo partidário para o jornalismo comercial e noticioso, conduzindo ao aparecimento das notícias “objetivas”, ou seja, de “notícias que pudessem ser usadas por jornais de qualquer tendência política”. Neste sentido, as origens da objetividade podem ser encontradas na necessidade de encurtar a linguagem, resultante da transmissão telegráfica. Abreviar o número de palavras significava poupar dinheiro. (MESQUITA, 2005, p. 29). Jornais exclusivamente informativos, com linguagem calculada telegraficamente, emergiram nas mais diversas sociedades. Enquanto isso, no Japão, onde o poder imperial impunha restrições à liberdade de imprensa, o primeiro jornal diário - o Yokohama Mainichi Shimbun39 - surgiria tardiamente, em 1870. Era no Ocidente onde se davam os eventos cruciais para o jornalismo moderno. Na primeira década do século XX, a consolidação da hegemonia burguesa conduziria o capital concorrencial ao monopolista, retomando um velho fenômeno histórico: o imperialismo. A fase superior do capitalismo40, marcada pela cartelização da economia e ofensiva contra a classe trabalhadora, tinha como complemento os “anos dourados”41 da imprensa 39 BURKS, 1964, p. 61. 40 A expressão é do teórico marxista Vladimir I. Lenin, autor de um dos melhores e mais completos estudos sobre esta transição do capitalismo. Cf. LENIN, Vladimir I. Imperialismo: etapa superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2002. 41 É esta a expressão usada, para se referir ao período, pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade patronal brasileira. Cf. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS JORNAIS. Jornais: breve história. Brasília, 2005.
  • 35. 35 mundial. Agências mundiais de notícias e publicidade42 eram responsáveis pela coleta e abastecimento de informações para jornais de várias partes do mundo – incluindo, via cabos telegráficos submarinos quilométricos, dos países periféricos43. A classe trabalhadora reage. Surge o jornalismo militante, avesso ao dogma da objetividade (que denuncia como armadilha ideológica das classes dominantes), porém de fabricação artesanal e circulação manual. Mesmo assim, investe, furiosamente, contra a manipulação noticiosa44. Os primeiros jornais proletários enfatizavam abertamente o caráter classista de todo e qualquer impresso político. Nascia a propaganda revolucionária na imprensa. O jornalismo, apropriado pelas idéias socialistas, comunistas e anarquistas, novamente tornava-se palco da batalha por hegemonia entre classes sociais rivais.45 Coerente com essa trajetória, na primeira década do século XX, nos primeiros ensaios da Revolução Russa, surgiria o maior e mais influente jornal revolucionário: o Pravda (do russo, A Verdade)46, que subsiste até hoje. Com o século XX nasceu também o rádio47, nova forma de comunicação cuja agilidade na transmissão de notícias foi rapidamente incorporada48 pelas redes de impressos. Cadeias de impressos e rádios transnacionais dominaram o mercado de informações, criando os primeiros conglomerados midiáticos da história. Concentradas em poucas mãos, tais corporações davam aos proprietários posições estratégicas em relação a governos e conglomerados interessados na exportação do american way of 49 life para o resto do mundo . Disponível em: <www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/historianomundo/historiadojornal.pdf> Acesso em 20 ago. 2011. 42 SODRÉ, 1999, p. 4. 43 Idem, p. 389. 44 BORGES, 2006. 45 A epopéia do jornalismo proletário e a importância da propaganda e agitação impressas para as revoluções socialistas do século XX exigiria um trabalho monográfico específico, e, se exaustiva, em vários tomos. Por força do recorte temático exigido de monografias científicas, também esse tema será integralmente omitido, ficando apenas o registro e a dica para pesquisadores potencialmente interessados. 46 A primeira edição do Pravda circulou em 1912. Hoje, além da versão impressa, há uma homepage do jornal na internet com noticiário atualizado diariamente em inglês, russo, português e italiano. Cf. PRAVDA. Disponível em: <http://www.pravda.ru/> Acesso em 20 ago. 2011. 47 CAMPOS, 2007. 48 SODRÉ, 1999, p. 415. 49 Um exemplo claro do papel importante dessa “fase de ouro” do jornalismo ocidental é a sua ligação direta, via patrocínio generoso, do Departamento de Defesa norte-americano durante o chamado macarthismo (ou,
  • 36. 36 Nesta fase, enquanto mercados e governos davam forma à fase imperialista do capitalismo, intensificando os conflitos de classe nas bases produtivas ao mesmo tempo em que, no Velho Mundo, consolidava-se a Revolução Russa, as agências de jornalismo ocupavam-se do fluxo de idéias da metrópole para a periferia capitalista: É fácil avaliar a terrível força da engrenagem que se compõe de agências de notícias, agências de publicidade e cadeias de jornais e revistas, sua influência política, sua capacidade de modificar a opinião, de criar e manter mitos ou de destruir esperanças e combater aspirações. Quando se verifica que essa gigantesca engrenagem é simples parafuso de engrenagem maior, a que pertence, do capitalismo monopolista, ainda mais fácil é estimar o seu alcance e poder. Sem considerar esses dados, que a fria realidade apresenta, é impossível, entretanto, discutir problemas como o da liberdade de imprensa, aspecto parcial do problema da liberdade de pensamento. E quando são inseridas no quadro as novas técnicas de mobilização da opinião, como a televisão e o rádio, também submetidas, em muitos países, à iniciativa privada e associadas, inclusive, à imprensa, e também submetidas a organizações em cadeia, verifica-se quanto aquele problema fundamental se apresenta complexo e depende do regime predominante. (SODRÉ, 1999, p. 6). O ritmo frenético da transmissão de notícias, a necessidade de consolidação da ideologia imperialista, que pressuponha vender imagens convincentes do progresso prometido pela nova ordem mundial impõe o nascimento de mais uma tecnologia de informação: a televisão. Com ela, a partir da primeira metade do século XX, a propaganda vira entretenimento. Nos anos 50 as agências transnacionais de publicidade e notícia dos 50 Estados Unidos criam os manuais de redação e estilo , uniformizando o texto jornalístico51. Os manuais, que ajudam a consolidar a ideia de macartismo), campanha anticomunista desencadeada nos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial. Sobre o financiamento dos jornais neste e em outros períodos de “caça aos comunistas” nos EUA e em outros países, cf. SAUNDERS, Frances S. Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura. Rio de Janeiro: Record, 2005. Uma análise dessas mesmas relações a partir de documentos oficiais do Departamento de Defesa norte-americano pode ser encontrada também em SCHREKER, Ellen. The age of McCarthysm: a brief history with documents. New York: Bedford/St. Martin’s, 2002. 50 Os manuais consistem basicamente de cartilhas normativas para a escrita, contendo regras de acentuação, pontuação, ortografia, uso de maiúsculas e minúsculas, pesos e medidas etc. 51 LUSTOSA (1996:72) esclarece: “O modelo da técnica da escrita, exigida pelos manuais de redação, que surgem a partir de 1950, representou também a introdução do lide, que no Brasil poderia ser abertura, como ocorre com os espanhóis, que o chamam de entrada. Os redatores e repórteres de rádio usam no Brasil a expressão cabeça e não lide. A técnica da notícia possibilitou a apropriação da opinião, com exclusividade, pelos donos do veículo. O repórter passou a produzir textos padronizados, a partir de um modelo de formulação que não permitia a manifestação de comentários pessoais. Estabelecida a propriedade de opinião, surgiram as
  • 37. 37 neutralidade do jornalista ao transmitir os fatos, paradigma reinante desde o invento do telégrafo, surgem durante a Guerra Fria entre EUA e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ambos os países disputavam áreas de influência no mundo, inclusive no Brasil52. Desta forma, a uniformização visava impedir a manifestação de ideias políticas subversivas. Na história do jornalismo, os avanços do setor comunicativo proporcionados por inventos como telégrafo, rádio e televisão não foram apenas saltos tecnológicos resultantes da curiosidade humana. Todos são francamente coerentes com o seu momento político, que os demanda, e, em alguns casos, os cria – caso dos manuais. As agências de notícias, ao anexarem os canais de televisão, criaram os oligopólios de comunicação que persistem hoje 53. A partir da segunda metade do século XX, estruturas comunicativas e de publicidade exportaram produtos e valores de consumo para as periferias empobrecidas do capitalismo54, influenciaram no derrube de governos eleitos55 e na legitimação de ditadores56, massificaram o american way of life57 e louvaram todas as ofensivas neoliberais58 que beneficiavam a ampliação dos mercados. Nos últimos anos do século XX, com a indústria comunicativa no topo dos circuitos mundiais de capital, surge a informática, e, com ela, a internet. Blogs, Orkut, facebook, twitter e outras redes de interação permitem a qualquer indivíduo interagir com outros na produção de idéias, inclusive noticiosas. Era o nascimento da “sociedade em rede”59. Os oligopólios de comunicação acusaram o golpe. Patrocinados por eles, estudos sobre a suposta insegurança e o caos da rede mundial de computadores proliferaram-se na própria internet. Pela primeira vez, a “páginas de opinião”, com o editorial – espaço reservado à defesa das causas e interesses do veículo – e os textos de articulistas e colunistas, que podiam manifestar seus próprios pontos de vista.” 52 BONIFÁCIO, 2007, p. 29. A autora não menciona os interesses do Pentágono e a guerra de informações entre EUA e URSS, mas registra, neste mesmo período, a bovina recepção dos manuais pela imprensa comercial brasileira, incluindo a acreana. 53 Idem, p. 70-73. 54 SODRÉ, 1990, p. 24-28. 55 SODRÉ, 1999, p. 434-449. 56 MARCONDES FILHO, 1989, p. 137-139. 57 GONÇALVES, 2003. 58 BRITO, 2007.