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Como leitor assíduo de Christopher J. H. Wright,
sempre me surpreendo com sua capacidade de
explicar, com clareza e precisão, os temas a que se
dedica. De forma consistente, em linguagem simples,
ele nos conduz a níveis mais profundos de
compreensão. Este é mais um brilhante texto de um
excelente mestre, leitura obrigatória para todos que se
dedicam ao ensino das Escrituras Sagradas. Que Deus
abençoe o ministério desta obra entre nós!
ZIEL J. O. MACHADO
Pastor da Igreja Metodista Livre e vice-reitor do
Seminário Servo de Cristo (São Paulo – SP)
Será que a pregação do Antigo Testamento continua
relevante para a igreja de hoje? De modo
descomplicado, mas com profundidade e sabedoria, o
dr. Chris Wright mostra como as Escrituras do antigo
Israel são fundamentais para entendermos o grande
drama da redenção que culmina em Cristo e do qual
todos nós participamos. Assim como um filme não
faz sentido se não assistirmos ao início, a vida e obra
de Jesus precisam ser entendidas à luz da primeira
parte da história da salvação, relatada no Antigo
Testamento. De forma didática e clara, Wright
apresenta uma metodologia bastante útil para
seminaristas, pastores e líderes de igreja, usando os
principais gêneros literários das Escrituras. Essa é uma
obra indispensável para todos os que desejam pregar e
ensinar com excelência TODA a Palavra de Deus, em
especial o Antigo Testamento.
TIAGO ABDALLA T. NETO
Professor de exegese e teologia do Antigo Testamento
do Seminário
Bíblico Palavra de Vida (Atibaia – SP) e membro do
comitê
de tradução da Nova Versão Transformadora (NVT)
Didática, equilibrada e esclarecedora, a obra Como
pregar e ensinar com base no Antigo Testamento, do
importante professor Christopher J. H. Wright,
enfrenta o desafio, comum aos pregadores e
ensinadores da Bíblia, de expor e aplicar o Antigo
Testamento; nunca foi tarefa confortável levar para a
sala de aula ou púlpitos cristãos os textos da Bíblia
hebraica. Por ser percebido por alguns, mesmo não
declaradamente, como parte ultrapassada ou fonte
somente da história da religião de Israel, o Antigo
Testamento comumente perde espaço nos sermões.
Por outro lado, em diversos ambientes eclesiásticos
percebe-se a utilização hermeneuticamente
problemática dessa indispensável parte das Escrituras.
Com erudição e clareza, Wright não somente
descortina a importância do AT na prática
ministerial, mas também serve seus leitores com
instrumentos e pressupostos relevantes para seu uso
na pregação e no ensino. Este livro chega em tempo
oportuno e auxiliará na compreensão e exposição da
primeira parte do cânon.
KENNER TERRA
Doutor em ciências da religião e professor da
Faculdade Unida (Vitória – ES)
O estudo e a pregação de passagens do Antigo
Testamento são muitas vezes feitos de forma
literalista, legalista, alegórica, historicista, ou ainda
doutrinal. Nem sempre somos capazes de aprofundar
o entendimento das passagens do Antigo Testamento
e aplicá-las aos ouvintes de hoje. Essa valiosa obra de
Christopher J. H. Wright é singular não só pelo
assunto, como também pela maneira prática, didática
e relevante de oferecer ferramentas para o estudo e
modos de interpretação do Antigo Testamento com
vistas à pregação.
WILLIAM LACY LANE
Doutor em teologia e professor da
Faculdade Teológica Sul Americana (Londrina – PR)
Copyright © 2016 por Christopher J. H. Wright
Publicado originalmente por Langham Preaching Resources, Carlisle,
Cumbria, Reino Unido.
Direitos negociados por Piquant Agency.
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da Nova Versão
Transformadora (NVT), da Editora Mundo Cristão (sob permissão da
Tyndale House Publishers, Inc.), salvo indicação específica. Eventuais
destaques nos textos bíblicos e citações em geral referem-se a grifos do
autor.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de
19/02/1998.
É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro,
por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e
outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora.
Equipe MC: Daniel Faria (editor)
Heda Lopes
Natália Custódio
Diagramação: Luciana Di Iorio
Preparação: Cristina Fernandes
Revisão: Josemar de Souza Pinto
Capa: Douglas Lucas
Diagramação para e-book: Yuri Freire
CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
W933c
Wright, Christopher J. H
Como pregar e ensinar com base no Antigo
Testamento [recurso
eletrônico] / Christopher J. H. Wright ; tradução
Cecília Eller. - 1.
ed. - São Paulo : Mundo Cristão, 2018.
recurso digital ; 1421 MB
Tradução de: How to preach & teach the Old
Testament for all
its worth
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN: 978-85-433-0265-2 (recurso eletrônico)
1. Pregação. 2. Bíblia - Uso homilético. 3. Livros
eletrônicos.
I. Eller, Cecília. II. Título.
17-44616
CDD: 251
CDU: 27-
475.2
Categoria: Teologia
Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por:
Editora Mundo Cristão
Rua Antônio Carlos Tacconi, 79, São Paulo, SP, Brasil, CEP 04810-
020
Telefone: (11) 2127-4147
www.mundocristao.com.br
1a edição eletrônica: janeiro de 2018
Todos os direitos autorais deste livro foram
irrevogavelmente cedidos à Langham Literature
(antiga Evangelical Literature Trust).
Langham Literature é um programa da Langham
Partnership International, fundada por John Stott.
Chris Wright é o diretor do ministério internacional.
A Langham Literature distribui livros evangélicos
para pastores, estudantes de teologia e bibliotecas de
seminários dos países em desenvolvimento. Também
promove a escrita e a publicação de literatura cristã
em muitos idiomas locais.
Para mais informações sobre a Langham Literature e
outros programas da LPI, visite o site
<www.langham.org>.
Sumário
PARTE I — POR QUE DEVEMOS PREGAR E ENSINAR
COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO?
1. Disse Deus
2. A história e a promessa
3. Como entender Jesus por meio do Antigo
Testamento
4. Não me dê só Jesus
5. Conexão com Cristo
PARTE II — COMO PREGAR E ENSINAR COM BASE NO
ANTIGO TESTAMENTO?
6. A história de Deus e as nossas histórias
7. Cinco perguntas a fazer ao pregar e ensinar
histórias do Antigo Testamento
8. Sete perigos a evitar ao pregar e ensinar histórias
do Antigo Testamento
9. Entenda a lei do Antigo Testamento
10. Como pregar e ensinar com base na lei do
Antigo Testamento
11. Conheça os profetas
12. Como pregar e ensinar com base nos profetas
13. Conheça os salmos
14. Como pregar e ensinar com base nos salmos
15. Como pregar e ensinar com base na literatura de
sabedoria
Anexo 1
Anexo 2
Bibliografia
Parte 1
POR QUE DEVEMOS PREGAR E
ENSINAR COM BASE NO ANTIGO
TESTAMENTO?
1
DISSE DEUS
Por que devemos nos dar o trabalho de pregar com
base no Antigo Testamento? Muitos pregadores quase
nunca o fazem. Diversas igrejas passam ano após ano
somente com sermões baseados no Novo Testamento
e, quem sabe, às vezes, um salmo. Talvez você se
pergunte: “O que há de errado nisso? Somos
seguidores de Jesus Cristo, e é no Novo Testamento
que lemos a seu respeito. E há muito o que pregar do
Novo Testamento. Do que mais precisamos?”.
E, para ser honesto, o Antigo Testamento é uma
coleção difícil de livros. Há muita história, e não
gostamos de história, sobretudo quando ela está cheia
de nomes estranhos. Há muita guerra e violência, e
também não gostamos disso. E ainda tem um monte
de questões cerimoniais esquisitas, sobre sacerdotes e
sacrifícios, alimentos puros e impuros, bem como leis
rígidas com punições terríveis. Como tais costumes
antigos teriam condições de se aplicar a nós hoje? E
tudo parece dizer respeito a essa única nação
“escolhida”, Israel, o que não parece nada justo com o
restante do mundo. Uma vez que tudo isso aconteceu
antes de Jesus, não seria agora desatualizado e
irrelevante? É claro que existem algumas boas
histórias, sobre as quais é possível pregar uma
mensagem clara e simples. Além disso, alguns dos
salmos podem servir de grande incentivo para os fiéis.
Tirando isso, porém, pregar um sermão ou ensinar
uma lição da escola dominical com base no Antigo
Testamento é cansativo demais para o pastor ou
professor de estudos bíblicos, além de confuso demais
para as pessoas. É muito mais fácil ficar com o que
conhecemos: o Novo Testamento.
Se é assim que você se sente, permita-me oferecer
três razões logo de início que devem fazer você pelo
menos querer ir um pouco mais fundo na tentativa de
entender o Antigo Testamento e aprender como
pregar e ensinar com base nele.
O ANTIGO TESTAMENTO VEIO DE DEUS
PARA NÓS
Se uma autoridade renomada de seu país lhe desse
um presente pessoal, imagino que você levaria o
objeto para casa com cuidado e o guardaria muito
bem. Quem sabe colocaria em uma prateleira para
todos verem. Ou suponha que você dê um presente
extremamente especial para alguém que você ama
mais do que tudo. Trata-se de algo muito caro, e você
economizou durante anos para comprar e presentear.
Então, a pessoa só dá uma olhada num pedacinho do
presente e nem se dá o trabalho de desembrulhar a
maior parte. Ela apenas o coloca de lado e esquece.
Como você se sentiria? Bem, Deus é mais importante
que qualquer pessoa no universo e nos ama tanto que
entregou o próprio Filho para nos salvar. E esse é o
mesmo Deus que nos deu toda a Bíblia, inclusive
aquilo que hoje chamamos de Antigo Testamento. O
que Deus sentirá se nós nem sequer nos dermos o
trabalho de abrir a maior parte de seu presente? Ele
nos presenteou com esses livros. O que revela a nosso
respeito o fato de simplesmente os ignorarmos ano
após ano?
Às vezes, referimo-nos à Bíblia como “as Escrituras”,
e é claro que incluímos tanto o Antigo quanto o
Novo Testamento nessa expressão. Mas na época em
que Jesus e Paulo viveram, quando as pessoas falavam
sobre “as Escrituras”, estavam aludindo aos livros que
hoje fazem parte do que denominamos Antigo
Testamento. Para elas, “as Escrituras” eram o maior
presente de Deus a seu povo (atrás somente do
Senhor Jesus Cristo). Eles as valorizavam. Eles as
estudavam com amor e as ensinavam a seus filhos.
Paulo, por exemplo, sabia que seu amigo Timóteo,
cuja mãe e avó eram judias, havia aprendido as
Escrituras (i.e., o Antigo Testamento) desde a
infância e o encorajou a estudá-las com cuidado, a
fim de ensinar e pregar sua mensagem com urgência e
regularidade. Quando o apóstolo fala sobre as
“Sagradas Letras” ou “toda a Escritura”, está se
referindo ao todo daquilo que chamamos de Antigo
Testamento. Leia o que Paulo diz nesta passagem
sobre o Antigo Testamento e observe os motivos que
apresenta para Timóteo pregar e ensinar acerca desses
escritos:
Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu
e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o
aprendeu. Porque desde criança você conhece as Sagradas
Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação
mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada
por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção e para a instrução na justiça, para que o homem de
Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.
Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os
vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o
exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a
tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda
a paciência e doutrina.
2Timóteo 3.14—4.2, NVI
Paulo diz três coisas que devemos levar a sério.
Em primeiro lugar, as “Sagradas Letras” (e lembre-se,
ele estava falando do Antigo Testamento) são capazes de
tornar as pessoas sábias para a salvação mediante a fé em
Jesus Cristo. Elas preparam o caminho para Jesus, o
Messias, e mostram como o mesmo Deus que tantas
vezes livrou seu povo no passado atua agora por
intermédio de Jesus para levar salvação a pessoas em
toda parte. Paulo sabia disso porque havia dedicado a
vida a trazer pessoas para a fé em Jesus, usando o
Antigo Testamento para tecer seus argumentos e
provar suas ideias. Logo, o Antigo Testamento não é
um “livro morto”. Ele contém salvação e aponta para
o Salvador.
Segundo, as Escrituras do Antigo Testamento foram
“sopradas por Deus”. Essa expressão costuma ser
traduzida por “inspiradas por Deus”. Mas Paulo não
estava dizendo que os autores eram “inspirados” da
maneira como costumamos nos referir a uma bela
obra de arte, uma música ou um excelente jogador de
futebol. O apóstolo estava falando que as palavras que
hoje encontramos no Antigo Testamento foram
“expiradas” por Deus. Isso significa que, embora
tenham sido ditas e escritas por seres humanos
comuns como nós, é como se aquilo que foi dito e
escrito tivesse saído da boca de Deus.
Suponha que você é um repórter e compareça a uma
coletiva de imprensa organizada pelo governo. O
porta-voz faz uma declaração. Imediatamente, você
pergunta:
— Quem é a fonte dessa declaração?
O porta-voz responde:
— Eu ouvi da boca do presidente [ou primeiro-
ministro].
Isso significa: “Aquilo que eu falei carrega a
autoridade do presidente”. É como se o próprio
presidente houvesse pronunciado as palavras. Pode
levá--las a sério.
O mesmo ocorre com as Escrituras, inclusive com o
Antigo Testamento. O que lemos é aquilo que Deus
queria dizer. Por isso o Antigo Testamento tem
autoridade. É claro que isso ainda nos deixa o
trabalho de pensar bastante sobre o que as palavras
significavam para aqueles que as ouviram em primeiro
lugar e o que elas significam para nós hoje, a fim de
descobrir o que devemos fazer em resposta. Sim, temos
todo esse trabalho a fazer, mas precisamos fazê-lo e
vale a pena o esforço, pois tais textos provêm do
próprio Deus.
Terceiro, Paulo diz que as Escrituras do Antigo
Testamento são “úteis”. Em seguida, apresenta uma
lista de como as Escrituras são “úteis” (“para o ensino,
para a repreensão, para a correção e para a instrução
na justiça, para que o homem de Deus seja apto e
plenamente preparado para toda boa obra”). E todas
essas coisas devem acontecer dentro da comunidade
da igreja para ajudar as pessoas a viver do jeito que
Deus quer que vivamos. É por isso que Paulo
imediatamente instrui Timóteo a pregar “a palavra”.
Não é que o Antigo Testamento funcionava no
passado para conduzir as pessoas à fé e à salvação em
Cristo. Nada disso. Como ele provém de Deus e
carrega consigo a autoridade divina, continua a ser
relevante para nós. Nós podemos e devemos usar o
Antigo Testamento para o ensino e a instrução para a
vida — assim como Paulo instrui Timóteo a fazer.
Mais uma vez, é claro que precisamos ser cuidadosos
para descobrir como o Antigo Testamento é relevante
para nós. Sem dúvida, isso não quer dizer que
devemos apenas fazer tudo que diz ali, exatamente
como está escrito. Refletiremos sobre isso em
capítulos posteriores. Por ora, tudo que precisamos
estar de acordo é com o fato de que o Antigo
Testamento tem autoridade (porque provém de Deus)
e é relevante (porque é “útil” para nossa vida).
O ANTIGO TESTAMENTO LANÇA OS
ALICERCES PARA NOSSA FÉ
Você já chegou a uma reunião prestes a acabar e
tentou participar da conversa das pessoas acerca de
um tópico importante perto do fim da pauta? Você
não sabe o que todos disseram ao longo da última
hora, mas os que estão falando pressupõem tudo que já
foi mencionado e acordado. É muito fácil que você
entenda errado alguma coisa dita no final por não
saber o que se passou antes. As pessoas sentadas em
volta da mesa não precisam repetir tudo que se passou
porque já sabem. Dão como certas todas as questões
que já foram debatidas. Mas você não estava ali. Você
pode perder um bom acordo e entender errado quase
toda a conversa, especialmente se as coisas decididas
na primeira parte da agenda foram muito
importantes.
Se você ler somente o Novo Testamento, é como
entrar atrasado numa reunião e perder o debate que
aconteceu e as decisões que foram tomadas até então.
Isso acontece porque o Novo Testamento pressupõe
tudo aquilo que Deus disse e fez durante a história do
Antigo Testamento e não necessariamente repete
essas coisas. E isso inclui algumas verdades essenciais
da fé cristã bíblica. Aqui estão algumas coisas que
Deus nos ensina no Antigo Testamento, que então
são presumidas no Novo e inseridas no
relacionamento com Cristo.
Criação. Não só em Gênesis 1 e 2, mas em outras
passagens também (em Salmos e em alguns dos
profetas), aprendemos a verdade sobre nosso
mundo. Ele não é um acidente, uma ilusão ou
nada além de átomos. Tudo que existe (com
exceção de Deus) foi criado e ordenado pelo único
Deus vivo. Toda a criação é continuamente
sustentada por ele, pertence a ele e lhe dá glória e
louvor. Deus ama tudo que criou. Essas são
verdades que o Antigo Testamento ensina e o
Novo Testamento presume.
Deus. A quem nos referimos quando usamos a
palavra “Deus” em português (ou seu equivalente
em qualquer outra língua)? A quem os autores do
Novo Testamento se referiam quando falavam
sobre theos (em grego)? Pode parecer óbvio, mas é
uma pergunta muito importante porque existem,
é claro, muitos “deuses” e conceitos sobre “Deus”
no mundo — tanto naquela época quanto agora.
Até mesmo quando dizemos “Jesus é Deus”, a
frase pode estar aberta a todo tipo de confusão, a
menos que sejamos muito claros acerca do que
queremos dizer com a palavra “Deus”. E os
escritores do Novo Testamento, sem dúvida,
tinham bastante clareza a esse respeito. Eles se
referiam ao Deus que se revelou no Antigo
Testamento, na história, vida e adoração do Israel
do Antigo Testamento. Aludiam ao Deus cujo
nome pessoal costuma ser traduzido por “o
SENHOR” em português. Eles não repetiram todas
as profundezas oceânicas da revelação sobre esse
Deus que se encontra nas Escrituras do Antigo
Testamento. Simplesmente presumiam. Eles
sabiam de quem estavam falando. Por isso,
precisamos ler o Antigo Testamento com
profundidade, a fim de sabermos quem é o Deus
verdadeiro — o Deus que conhecemos quando
veio viver entre nós na pessoa de Jesus de Nazaré.
De outra maneira, se não o fizermos, podemos
acabar associando Jesus a todo tipo de ideias
errôneas sobre “divindade” que absorvemos de
nosso contexto cultural ou religioso.
Nós. Quem nós somos e o que significa ser
humano? Mais uma vez, é o Antigo Testamento
que nos ensina as verdades básicas a nosso
respeito. Somos criaturas (não deuses, nem anjos).
Deus, porém, nos criou à sua imagem, de modo
que pudéssemos exercer sua autoridade no
restante da criação, fazendo bom uso e cuidando
dela.
Pecado. O que deu errado com o mundo? As
religiões e filosofias deste mundo dão muitas
respostas diferentes a essa pergunta. O Antigo
Testamento deixa claro que nós, seres humanos,
nos rebelamos contra o Criador. Recusamo-nos a
confiar em sua bondade e escolhemos desobedecer
a suas ordens. O Antigo Testamento mostra como
nosso pecado se encontra enraizado, afetando
todas as partes de nossa personalidade, todas as
gerações e todas as culturas. Somente quando
entendemos o tamanho do problema (com base
no Antigo Testamento), temos condições de
compreender o tamanho da solução divina para
ele por intermédio de Cristo no Novo
Testamento.
O plano de Deus. Gênesis 3—11 nos conta o que
deu errado com a raça humana, tanto no nível
individual quanto étnico. A terra foi amaldiçoada,
e as nações foram dispersas. Gênesis 12 revela o
que Deus planejou fazer em relação ao problema.
Quando chamou Abraão, foi com o intuito de dar
início ao grande plano da redenção que ocuparia
todo o restante da Bíblia, até o Apocalipse. Deus
prometeu transformar a maldição em bênção. Ele
o faria primeiro por intermédio do povo de
Abraão. No futuro, porém, por meio de Israel,
levaria bênçãos a todas as nações da terra e, por
fim, restauraria toda a criação — um novo céu e
uma nova terra (Is 65.17-25). Esse é o grande
plano divino de salvação para o mundo (o mundo
de nações e o mundo da natureza), que foi
concretizado por Cristo no Novo Testamento. O
Novo Testamento nos apresenta a resposta final
de Deus, mas é o Antigo Testamento que nos
mostra tanto a dimensão do problema quanto a
dimensão da promessa de Deus. Logo, temos
condições de entender o evangelho de maneira
muito mais completa e abrangente quando o
vemos primeiro no Antigo Testamento.
Portanto, necessitamos estudar e pregar o Antigo
Testamento a fim de compreender essas grandes
verdades básicas que Deus passou milhares de anos
ensinando a seu povo antes de enviar seu Filho ao
mundo. Se somente lermos e pregarmos o Novo
Testamento, será como desejar morar no andar de
cima de uma casa que não tem alicerce, nem os
andares de baixo, ou como querer desfrutar o sabor
do fruto de uma árvore cortando suas raízes e
serrando o tronco.
O ANTIGO TESTAMENTO ERA A BÍBLIA DE
JESUS
Todavia, o motivo mais importante para nossa
necessidade de conhecer o Antigo Testamento é que
ele era a Bíblia de Jesus. É claro que lemos sobre Jesus
no Novo Testamento. Mas Jesus mesmo nunca leu o
Novo Testamento! Conforme já observado, para ele
as Escrituras eram os livros que agora formam nosso
Antigo Testamento. E Cristo os conhecia muito bem.
Aprendeu primeiro sobre eles com Maria e José,
como qualquer garoto judeu de sua época. Aos doze
anos, conhecia tão bem as Escrituras que ficou dias
no templo de Jerusalém debatendo-as com adultos,
que eram teólogos e eruditos. Os meninos judeus do
tempo de Jesus costumavam memorizar livros inteiros
do Antigo Testamento. Se fossem bons nisso (e fica
claro que Jesus era), saberiam seções inteiras (a Torá,
os livros dos profetas) e se qualificariam como
“rabinos” — professores. Era assim que chamavam
Jesus. Ele conhecia as Escrituras tão bem quanto suas
ferramentas de carpinteiro.
Quando chegou o momento de começar seu
ministério público, após ser batizado no Jordão por
João Batista, Jesus foi para o deserto, onde
permaneceu sozinho por quarenta dias e lutou diante
da imensa tarefa que se encontrava à sua frente. O
que ele ficou fazendo ali durante todo esse tempo?
Bem, quando Satanás o tentou para que tomasse um
rumo diferente do que ele sabia ser necessário para
obedecer ao Pai, Jesus respondeu três vezes com
citações das Escrituras. Todos os três textos que Jesus
citou vêm de Deuteronômio 6 e 8. Isso sugere que ele
estava refletindo profundamente sobre os
desdobramentos de toda essa seção de Deuteronômio
(1—11) para si mesmo e sua missão. E, ao longo de
seu ministério, até a cruz e após a ressurreição, Jesus
insistiu no fato de que as Escrituras deviam se
cumprir. Todo o entendimento que ele tinha sobre si
— sua vida, sua missão e seu futuro — estava
fundamentado em sua leitura das Escrituras, o Antigo
Testamento.
Você já foi à Terra Santa ou sentiu vontade de
conhecê-la? Algumas pessoas vão até lá em
peregrinação porque dizem (ou os panfletos de
propaganda o fazem) que isso as levará para mais
perto de Jesus, ao andarem na terra pela qual ele
caminhou, verem os montes que ele conheceu, se
assentarem junto ao mar da Galileia, e assim por
diante. Bem, sem dúvida a história ganha vida
quando você visita a terra onde boa parte dessas ações
se desenrolou. Se tiver essa oportunidade, aproveite-a.
No entanto, se quiser conhecer Jesus de verdade,
entender o que preenchia sua mente e dirigia suas
intenções, existe uma maneira melhor do que fazer
uma peregrinação em Israel (e custa bem mais
barato!): leia a Bíblia que Jesus lia. Leia o Antigo
Testamento.
Pois nele estão as histórias que Jesus ouvia quando
era criança. Nele se encontram os cânticos que ele
cantava. Esses eram os rolos lidos toda semana na
sinagoga que ele frequentava. Essas eram as visões
proféticas que deram esperança para seu povo por
gerações. Foi nele que Cristo discerniu o grande
plano e propósito de Deus para seu povo Israel e, por
meio deste, para o mundo. Foi nele que Jesus
encontrou os textos originais que moldaram quem ele
era e o que viera fazer.
Ora, naturalmente, lembramos que Jesus era o Filho
de Deus e que ele tinha um relacionamento muito
direto e próximo com Deus, seu Pai. Sem dúvida, ele
entendia a si mesmo e sua missão numa forma de
consciência divina. No entanto, Lucas nos diz duas
vezes que Jesus desenvolveu-se como uma criança
normal, humana, crescendo em capacidade física,
mental e espiritual (Lc 2.40,52). Creio que isso deve
ter incluído o crescimento na compreensão mediante
o estudo das Escrituras. Seja como for, ele com
certeza usou as Escrituras do Antigo Testamento para
explicar a si mesmo aos discípulos e ajudá-los a
entender o significado de sua vida, ministério, morte
e ressurreição para Israel e para o mundo — não
apenas durante o período de sua existência, mas
especialmente depois de sua ressurreição (Lc 24).
Assim, se Jesus fez isso, não deveríamos seguir seu
exemplo? Não deveríamos “pregar a Cristo” do modo
como Cristo pregou a si mesmo — ou seja, usando as
Escrituras? Nos próximos dois capítulos, veremos
como o Antigo Testamento é importante para
compreender Jesus. Precisamos do Antigo
Testamento para entender a história e a promessa que
Jesus cumpriu. E precisamos do Antigo Testamento
para entender quem Jesus acreditava ser e o que tinha
vindo fazer.
PERGUNTAS E EXERCÍCIOS
1. O que você diria a alguém que desconsidera o
Antigo Testamento, talvez lhe dizendo que não se
dê o trabalho de pregar ou ensinar sobre ele,
porque, segundo essa pessoa, “Agora somos
cristãos do Novo Testamento. Temos Jesus. Não
precisamos mais do Antigo Testamento”?
2. Faça uma lista breve dos ensinos essenciais da fé
cristã. Quantos deles são ensinados no Antigo
Testamento? O que não saberíamos (ou não
saberíamos com clareza) se não tivéssemos o
Antigo Testamento?
3. Prepare um sermão ou uma lição sobre 2Timóteo
3.14-16. Deixe claro que Paulo estava falando
sobre as Escrituras do Antigo Testamento.
Explique o que ele diz sobre sua fonte, sua
autoridade, seu poder e sua utilidade. Qual será
sua lição principal — a principal ação que você
deseja que seus ouvintes coloquem em prática em
decorrência de seu ensino?
2
A HISTÓRIA E A PROMESSA
A jornada levava dez horas de estrada em um micro-
ônibus! Era um grupo de pastores, e a viagem que eles
faziam os levava de Guayaquil, na costa do Equador,
no Pacífico, até a capital Quito, a quase três mil
metros de altitude. Chegaram para participar do
seminário de pregação do Instituto Langham, do qual
eu era um dos facilitadores. Quando soube da longa
jornada que haviam percorrido, senti o desejo de
ensinar da melhor maneira possível e fazer a viagem
deles valer a pena!
O DESTINO DA JORNADA
Imagine que você tivesse parado o micro-ônibus em
algum ponto do caminho e perguntado aos
passageiros:
— Para onde vocês estão indo?
— Para Quito! — eles teriam respondido, em tom
alegre ou cansado.
Você ouviria a mesma resposta, caso os parasse e
perguntasse perto do início da jornada, em algum
ponto no meio do caminho ou próximo ao final. A
jornada inteira, do início ao fim, teria o mesmo
destino: Quito. A estrada era sinuosa. Talvez tenham
precisado fazer alguns desvios. Em alguns momentos,
durante o trânsito pesado, talvez parecesse que não
estavam avançando. Em outros, podem ter parado
para um intervalo e saído para admirar a vista. É
possível que, em algum lugar, tenha havido um
deslizamento de terra ou bloqueio de estrada e, por
isso, precisaram voltar e tomar uma rota diferente.
Mas não importa o que tenha acontecido durante a
jornada, por mais longa e complicada que tenha se
tornado, o destino continuava a ser o mesmo. Por
fim, chegaram ao destino. E o destino era o fim da
jornada.
O Antigo Testamento é uma jornada que conduz a
um destino, e esse destino é Jesus Cristo. Foi uma
jornada bem longa, com muitas voltas e curvas,
paradas e partidas. Essa jornada foi interrompida e
ameaçada por todo tipo de coisas e pessoas ruins.
Envolveu muito mais gente do que cabe em um
micro-ônibus e muito mais quilômetros do que de
Guayaquil a Quito. E não demorou dez horas, mas,
sim, vinte séculos! Essa jornada envolveu a história de
uma nação inteira — Israel — inserida na história de
muitas outras nações. Mas não importa onde você
entre na jornada, se perto do início, no meio ou
chegando ao fim, a direção é sempre a mesma. Trata-
se da história de Deus conduzindo o povo de Deus ao
Messias de Deus, Jesus de Nazaré. Essa é a direção
constante do movimento. Jesus é o destino. O Antigo
Testamento conta a história que Jesus completa.
Você já se perguntou por que Mateus começa seu
relato da maneira como o faz? No primeiro versículo,
ele nos conta que quer falar sobre Jesus. Então, por
que não vai direto a 1.18, “Foi assim que nasceu Jesus
Cristo”? Não é isso que queremos saber? Por que
começa com Abraão e nos apresenta uma lista inteira
de pais e filhos por 42 gerações? Bem, porque todos
esses nomes fizeram parte da grande história do
Antigo Testamento. Alguns foram reis da linhagem
de Davi — e Jesus foi o prometido Filho de Davi,
que seria o verdadeiro Rei de Israel. Todos eles eram
descendentes de Abraão, e Jesus seria aquele por meio
de quem se cumpriria a promessa de abençoar todas
as nações da terra mediante o povo de Abraão.
Logo, Mateus está dizendo ao leitor: “Quer
conhecer Jesus? Muito bem! Mas você só entenderá
quem é Jesus quando perceber que ele veio como o
fim da grande história representada por essa
genealogia. Essa é a jornada que leva até Jesus. Ele é o
destino da grande jornada histórica que começou
com Abraão. A fim de compreender o sentido de
Jesus, primeiro você precisa entender esse ponto de
partida e essa jornada”.
Voltando à jornada que os pastores fizeram,
poderíamos dizer o seguinte: a jornada (de
Guayaquil) só fazia sentido por causa do destino
(Quito). Caso eles não tivessem destino, estariam
apenas dirigindo de um lado para o outro sem
motivo. Do mesmo modo, o Antigo Testamento,
considerado como um todo, só faz sentido à luz de
seu destino: Jesus Cristo. Não se trata de uma mera
miscelânea de histórias. Não é um livro de literatura
infantil, sem conexão ou direção. (Infelizmente, é
assim que algumas pessoas usam a Bíblia e algumas
igrejas a ensinam. É dessa forma que muitos cristãos
veem o Antigo Testamento, uma mera miscelânea de
histórias, e algumas delas não muito boas.) Nada
disso! Na verdade, o Antigo Testamento é uma única
narrativa longa e complexa, com muitas histórias
menores dentro dela, que conduz, em última
instância, a Jesus e só faz sentido quando chega ao
destino nele.
Eu disse “longa e complexa”? Sim, de fato é. E é isso
que deixa as pessoas confusas. O Antigo Testamento
contém tantos tipos diferentes de escrita e tantas
pequenas histórias que é fácil se perder. Certa vez,
meu pai ficou perdido na floresta Amazônica. Ele era
missionário e trabalhava com várias tribos indígenas
ali, antes que estradas e aviões a tornassem acessível, e
estava viajando a pé. Era aterrorizante, ele dizia.
Debaixo da copa de tantas árvores, não é possível se
orientar pelo sol. Às margens do rio, sem uma
bússola, não dá para saber em que direção ele está
fluindo. O Antigo Testamento é vasto e complexo
como o Amazonas. Não se trata de um aqueduto
construído com toda organização em linhas retas que
vão diretamente de um lugar para o outro. Contudo,
em meio a tantas curvas, reviravoltas e afluentes, o
Amazonas consiste em um grande corpo de água,
acumulando volume de várias fontes ao longo do
caminho, mas sempre se movendo na mesma direção.
Por fim, chega ao oceano Atlântico. Esse é o destino
final. De igual modo, o Antigo Testamento, com seus
vários braços e afluentes, se move em apenas uma
direção: rumo a Jesus Cristo.
Além de ver o Antigo Testamento como uma
história que só faz sentido à luz de Jesus, também
precisamos entender Jesus à luz da história que se
passou. Cristo veio ao mundo por causa de tudo que
havia acontecido na história até então. É por isso que
precisamos ler, entender, ensinar e pregar o Antigo
Testamento. Nós o fazemos por causa de Cristo. Essa
é a história dele. É como se fosse seu DNA.
O PROPÓSITO DA JORNADA
Suponha que, ao parar o micro-ônibus, depois de os
passageiros informarem para onde estavam indo (para
Quito, o destino), você lhes fizesse mais uma
pergunta:
— Por que vocês estão indo para Quito?
Eles responderiam:
— Porque semana que vem acontecerá o seminário
de pregação do Instituto Langham, e queremos
participar.
Logo, a jornada daquele grupo tinha não apenas um
destino, mas também um propósito. Um evento
empolgante aconteceria em Quito, e eles haviam
planejado estar lá. Durante as longas horas da
jornada, pensavam no que se encontrava à frente
deles, cheios de expectativa. A jornada valia a pena
porque algo bom os esperava. Era uma jornada longa,
mas promissora.
Aliás, em certo sentido, a jornada começou bem
antes de o grupo entrar no micro-ônibus. Muito
tempo antes, eles receberam uma carta falando sobre
o seminário em Quito, convidando-os a comparecer e
participar, com a promessa de que seriam momentos
de bastante ensino e comunhão. Eles seriam
ricamente abençoados e fortalecidos se fizessem a
jornada e participassem. Logo, toda a jornada, toda a
preparação arrumando malas, viajando, suportando
cada desconforto e dificuldade do caminho — tudo
isso foi feito em resposta a um convite e uma
promessa, com fé (confiando na promessa dos
organizadores) e esperança (olhando adiante para as
coisas boas que o seminário faria por eles no futuro,
quando chegassem).
O Antigo Testamento é assim. Não se trata apenas
de uma jornada no tempo, de uma longa sequência
de coisas acontecendo uma após a outra até chegar ao
fim quando Jesus viesse. Ele também consiste em
uma jornada com propósito e objetivo. A vinda de
Cristo não era apenas o fim da jornada, mas todo o
seu propósito. Ele foi não só o destino, mas também
o cumprimento. Assim como os pastores de Guayaquil
receberam uma carta prometendo-lhes o que
aconteceria em Quito e motivando-os a fazer a
jornada, o Antigo Testamento apresenta a promessa
de Deus. E, quando Jesus veio, Deus cumpriu sua
promessa. O Antigo Testamento declara a promessa que
Jesus cumpre.
Voltemos para os dois primeiros capítulos de
Mateus. Por cinco vezes, Mateus nos conta uma
história de quando Jesus era criança e imediatamente
prossegue com uma referência ao Antigo Testamento.
E, em cada uma dessas vezes, ele diz que um texto do
Antigo Testamento se cumpriu de alguma maneira. A
tabela mostra todos os eventos juntos. Separe um
momento para ler os versículos de Mateus e então
conferir a citação do Antigo Testamento ao lado de
cada passagem.
Mateus Evento “Cumprimento
de”
1.22-
23
Anúncio do nascimento e
nome
Isaías 7.14
2.5-6 Nascido em Belém Miqueias 5.2-4
2.14-
15
Levado para o Egito Oseias 11.1
2.16-
18
Matança dos meninos em
Belém
Jeremias 31.15
2.23 Infância em Nazaré incerto
Por que Mateus faz isso? Bem, em primeiro lugar,
fica claro que ele não estava simplesmente citando
predições.
Somente uma das passagens do Antigo
Testamento é uma predição aberta que se
cumpriu diretamente em Jesus. É a de Miqueias,
dizendo que o futuro rei de Israel nasceria em
Belém.
Isaías estava dando um sinal ao rei Acaz de que
logo nasceria uma criança que receberia o nome
de “Emanuel” (“Deus conosco”) porque, dentro
desse intervalo, os inimigos que ameaçavam o
reino de Judá (Israel e Síria) seriam derrotados.
Mateus enxerga o significado messiânico mais
profundo no nome (“Emanuel”) e no fato de que
a jovem que deu à luz Jesus de fato era virgem na
época da concepção e do nascimento. (Não foi
uma predição e cumprimento diretos porque,
nessa ocasião, o filho de Maria não recebeu o
nome de “Emanuel”, mas, sim, de “Jesus”. A
importância reside no significado da palavra
“Emanuel”. Jesus é, de fato, “Deus conosco”.)
Oseias não estava fazendo nenhuma predição para
o futuro; em vez disso, referia-se ao fato de Deus
ter tirado Israel do Egito por ocasião do êxodo, no
passado.
Jeremias estava falando sobre o povo de Judá indo
para o exílio em 587 a.C. Ao passarem pela
sepultura de Raquel, o profeta a imagina
chorando (dentro do túmulo) por seus
descendentes sofredores. No entanto, o versículo
seguinte de Jeremias diz a Raquel que seque as
lágrimas, pois seus filhos retornariam. O exílio
chegaria ao fim.
A última passagem de Mateus é meio enigmática,
pois nenhum texto parece trazer exatamente as
palavras: “Ele será chamado nazareno”.
Então, o que Mateus estava fazendo, se a maioria
desses textos não consistia em predições diretas? Ele
nos mostra que, até mesmo durante a infância de
Jesus, alguns acontecimentos de sua vida chamavam a
atenção para as Escrituras do Antigo Testamento. Ele
considera todo o Antigo Testamento uma grande
promessa de Deus. Tudo nele fala sobre o
compromisso de Deus com seu povo (e, por
intermédio de Israel, com o mundo inteiro). Assim,
mesmo o bebê Jesus teve uma “experiência de êxodo”
que lembra como Deus havia resgatado Israel do
Egito. E a chegada de Jesus foi como o fim do exílio
(pondo fim às lágrimas de Raquel). E, o melhor de
tudo, em Jesus, Deus verdadeiramente veio a ser
“conosco”. O Antigo Testamento declara a promessa
que Jesus cumpre.
Neste momento, pode ser útil pensar rapidamente
na diferença entre uma predição e uma promessa. Uma
predição é algo bem direto. Eu posso predizer algo
que acontecerá em algum momento do futuro. Se
acontecer, minha predição será verdadeira. Se não
acontecer, ou minha predição estava errada ou ainda
não se cumpriu. Uma predição pode ser feita acerca
de algo completamente externo e alheio a mim. Não
preciso me envolver em nada. Mas, se eu fizer uma
promessa a alguém, é bem diferente. Eu me
comprometo em um relacionamento com essa pessoa,
pelo menos no que diz respeito àquilo que prometi.
Não é apenas uma questão de minha promessa “se
tornar realidade” ou não. Em vez disso, diz respeito
ao fato de eu ser confiável ou não. Minha integridade
está envolvida. Minha reputação está em jogo. Minha
palavra é testada. Uma promessa muda tudo.
Quando eu lecionava no All Nations Christian
College, costumava explicar a diferença entre uma
predição e uma promessa para a classe da seguinte
maneira. Eu dizia: “Posso predizer que pelo menos
um dos homens desta sala se casará com uma destas
mulheres até o fim do ano. (Era uma predição
bastante segura. Todos os anos alguns alunos
chegavam solteiros à faculdade e iam embora
casados!) Mas, como é uma predição, não estou
envolvido pessoalmente de nenhuma maneira. Caso,
porém, um dos homens e uma das mulheres que aqui
estão disserem um para o outro, em um dia muito
especial: ‘Aceito você como meu marido/minha
esposa para amar e cuidar na alegria e na tristeza, na
riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, por todos
os dias de minha vida, até que a morte nos separe’,
isso não é apenas uma predição. Trata-se de uma
promessa, que mudará a vida deles para sempre”.
Uma promessa desse tipo expressa compromisso e
intenção de longo prazo. Essa é outra questão. Uma
predição pode se tornar realidade (ou não), e acabou.
Mas uma promessa pode continuar a se cumprir por
um longo período, de diversas maneiras novas em
circunstâncias diferentes. Estou casado há 46 anos.
Minha esposa e eu fizemos promessas um para o
outro em agosto de 1970. Não precisamos repeti-las
ou mudá-las toda vez que algo novo acontece em
nossa vida ou em nossa família. A promessa
prossegue, expande-se, assume novos níveis de
compromissos e se “cumpre” de tantas maneiras que
jamais poderíamos sonhar no dia do nosso
casamento.
O mesmo acontece com o Antigo Testamento.
Deus declarou sua promessa lá em Gênesis. Ali no
jardim do Éden, logo depois de Adão e Eva pecarem,
Deus afirmou que a descendência da mulher um dia
esmagaria a cabeça da serpente. Depois, com clareza
ainda maior, em Gênesis 12.1-3, Deus prometeu que
todas as nações da terra seriam abençoadas por
intermédio dos descendentes de Abraão. Essa é uma
promessa tão importante que Paulo chegou a chamá-
la de evangelho preanunciado (Gl 3.8). Não se trata
de mera predição. É algo com que Deus se
comprometeu. É uma promessa que ele cumprirá por
causa da própria integridade e fidelidade confiável.
Deus investiu o próprio caráter nessa promessa.
A partir de então, toda a história do Antigo
Testamento é impulsionada adiante por essa
promessa. A palavra “aliança” é usada para se referir
às grandes promessas que Deus fez na Bíblia. Elas
vêm em sequência e estão ligadas umas às outras.
Pode-se dizer que a grande promessa de Deus segue
sendo cumprida e depois “realimentada” para outra
parte da jornada. É possível delinear toda a história
bíblica como uma corrente, com elos que são
formados na sequência das alianças, isto é, cada
aliança tem uma renovação adicional ou expansão da
promessa de Deus.1
Aliança com Noé.
Aliança com Abraão.
Aliança com Israel no monte Sinai.
Aliança com Davi.
A nova aliança, prometida pelos profetas e
inaugurada por Jesus.
Assim, quando finalmente viramos a página de
Malaquias para Mateus, a mensagem é: “Tudo que
Deus prometeu está se tornando realidade!”. Até
agora, analisamos apenas Mateus 1—2, mas, ao ler o
restante desse evangelho, você verá que o autor
continua a destacar esse ponto vez após vez. Lucas faz
o mesmo com empolgação ainda maior em Lucas 1.
Esse capítulo se encontra repleto de ecos e citações
das Escrituras do Antigo Testamento. Aliás, quando
Maria, mãe de Jesus, e Zacarias, pai de João Batista,
entoaram seus cânticos de júbilo, ambos celebraram
como Deus havia se “lembrado”. Eles não estavam
dizendo que Deus se esquecera deles até então, mas,
sim, que agora ele agiria para cumprir as grandes
promessas que fizera desde Abraão (1.54-55,72-73).
E, no final do evangelho, Lucas nos mostra Jesus
ajudando seus discípulos a ver que todo o Antigo
Testamento apontava para ele (Lc 24.25-27,44-48).
Logo, você pode ver que não é suficiente dizer que o
Antigo Testamento contém algumas predições
messiânicas interessantes que se tornaram verdadeiras
em Jesus (p. ex., que ele nasceu em Belém). Em vez
disso, o Antigo Testamento revela o compromisso de
Deus, a aliança de Deus e a promessa de Deus (feita
primeiro a Israel, mas depois para o mundo inteiro —
para todas as nações, conforme Deus disse a Abraão).
No próximo capítulo, refletiremos sobre quem Jesus
pensava que era e o que Jesus pensava que viera fazer.
Uma vez, porém, que o próprio Cristo respondeu a
essas duas perguntas usando citações do Antigo
Testamento, precisamos fazer o mesmo. Isto é, se
quisermos entender de forma plena o que Jesus
conquistou, precisamos entender de forma plena o
que Deus prometeu fazer (a promessa feita no Antigo
Testamento). E, para entender o que Deus prometeu
fazer, precisamos entender o problema que ele se
propôs solucionar (o problema apresentado bem no
início do Antigo Testamento). E, para entender esse
problema, precisamos voltar ao princípio de tudo. É
isso que faremos agora.
A HISTÓRIA EM SÍMBOLOS2
Na verdade, a Bíblia inteira (não só o Antigo
Testamento) é uma grande história. Tem princípio
(criação), fim (nova criação, que, aliás, é um novo
princípio) e meio (a longa história da redenção dentro
da história, centrada em Cristo).
“A Bíblia inteira é uma única história?
Simplesmente não consigo entender”, disse uma
mulher, membro da igreja de Phoenix, Arizona, da
qual Chris Gonzalez era pastor. Ele estava de pé perto
da escrivaninha de trabalho dela nessa ocasião. No
calor do momento, pegou um envelope usado e, no
verso, desenhou os símbolos mostrados no diagrama,
explicando enquanto prosseguia. “Aqui está toda a
história da Bíblia”, disse, “bem aqui, no verso de um
envelope.”
A Bíblia é semelhante a um drama com seis atos ou
cenas.
Ato 1: Criação. A seta voltada para baixo aponta
para o momento em que Deus desceu, por assim
dizer, e criou a terra (Gn 1—2). A criação inclui, é
claro, todo o universo espaçotemporal, mas a Bíblia se
concentra em como Deus criou a terra na qual
vivemos. Ele a fez para funcionar perfeitamente, com
dias e noites, clima e estações e com toda abundância
do solo, mar e céus. Deus a formou tanto para ser o
lugar onde nós, seres humanos, habitaríamos, como
sua imagem e semelhança nela, quanto para ser o
local onde ele poderia viver conosco. A criação era
como um vasto templo para Deus morar, enchendo-a
com sua glória e toda diversidade de vida.
Ato 2: Queda. A cruz em forma de X indica algo
errado. E, de fato, as coisas deram errado. Gênesis 3
—11 conta como o pecado e o mal entraram na
experiência dos seres humanos. Escolhemos nos
rebelar contra Deus, questionar sua bondade e rejeitar
sua autoridade. Como resultado, toda a nossa vida na
terra e o próprio planeta em si foram infectados por
nosso pecado e suas consequências.
Ato 3: Promessa. Em um mundo que deu errado (e
que vai de mal a pior), Deus prometeu acertar as
coisas. Em um mundo sob maldição, Deus prometeu
bênção. A promessa de Deus a Abraão em Gênesis 12
dá início a todo o restante da história da Bíblia, mas,
de maneira especial, à história de Israel no Antigo
Testamento. Deus planejou levar bênção e salvação
ao mundo por meio desse povo. Isso não quer dizer
que, de alguma maneira, Israel salvaria o mundo. O
Antigo Testamento mostra que, como povo, os
israelitas eram tão pecadores e necessitados da
salvação quanto qualquer outra nação. Isso significa
que Deus usaria Israel como meio de levar a salvação
ao mundo, uma salvação que, segundo sabemos, só
seria efetuada por intermédio de Jesus, o Messias de
Israel. Como temos afirmado, o Antigo Testamento
inteiro é semelhante a uma jornada com destino e
propósito, toda ela conduzindo a Jesus Cristo. Trata-
se de uma história de promessa e esperança, mesmo
em meio à continuidade do mal e do pecado.
Ato 4: Evangelho. Encontramos aqui o centro de
todo o drama da Bíblia. Em fidelidade à sua promessa
a Israel, Deus enviou Jesus como o Messias de Israel e
(portanto) o Salvador do mundo. O evangelho é a
boa-nova de tudo que Deus realizou por meio do
nascimento, da vida, dos ensinos, da morte,
ressurreição e ascensão de Jesus de Nazaré. O símbolo
da cruz tem aqui a intenção de incluir tudo que se
encontra nas narrativas dos Evangelhos (não só a cruz
do Calvário em si).
Ato 5: Missão. Depois dos Evangelhos vem Atos,
contando como Deus derramou o Espírito Santo no
dia de Pentecostes, a fim de dar poder aos discípulos
de Jesus para cumprir a missão de testemunhar dele a
todas as nações, até os confins da terra. A
comunidade do povo de Deus, que Deus chamou à
existência por intermédio de Abraão (inicialmente o
Israel do Antigo Testamento), agora inclui tanto
judeus quanto gentios que têm fé em Jesus Cristo.
Podemos chamar o Ato 5 de era da igreja, mas
devemos lembrar que a igreja não começou apenas no
Novo Testamento. Se estamos “em Cristo”, então
fazemos parte do povo de Abraão (Gl 3). E a razão de
nossa existência como povo de Deus permanece a
mesma. Nossa missão é participar da missão divina de
levar bênçãos a todas as nações da terra.
É claro que o Novo Testamento não conta a história
toda até a segunda vinda de Cristo. Ele mostra como
Deus cumpriu sua promessa ao Israel do Antigo
Testamento ao enviar Jesus e como Cristo salvou o
mundo inteiro por meio de sua morte e ressurreição.
É tarefa da igreja, pelo poder do Espírito, levar as
boas-novas da salvação aos confins da terra, como
Jesus ordenou. É aí que nós entramos. Fazemos parte
da continuação da história no Ato 5. Somos parceiros
de Deus em seu grande projeto através de nossa vida e
obra cotidianas. Vivemos entre a obra da redenção
concluída por Cristo, no Ato 4, e o momento em que
ele voltará para tornar realidade a grande cena final da
Bíblia, o Ato 6.
Ato 6: Nova criação. A seta final do diagrama
simboliza o retorno de Cristo. Desde o começo, Deus
se preocupava com toda a criação. Gênesis 1—2 (os
dois primeiros capítulos da Bíblia) conta como Deus
criou “no princípio”. Apocalipse 21—22 (os dois
últimos capítulos) relata como Deus purificará e
restaurará a criação, transformando-a no lugar onde
ele habitará com seu povo remido de todas as nações
e onde todo sofrimento, mal, pecado, morte e
maldição não mais existirão. Essa promessa também
foi feita lá no Antigo Testamento (Is 65.17-25) e já se
cumpriu, em antecipação, mediante a morte e
ressurreição de Jesus (Cl 1.15-20). Logo, embora seja
nesse momento que a história da Bíblia termina, não
se trata, de fato, do “fim do mundo”, mas, sim, de
um novo princípio. Será o fim do mundo de pecado,
mal e rebelião contra Deus, mas o princípio de uma
nova criação que durará para sempre.
Talvez você esteja pensando que a seta final devesse
apontar para cima, não para baixo, a fim de retratar
que iremos para o céu. Na verdade, porém, não é
assim que a Bíblia termina. Ela não nos retrata indo
para algum lugar distante, mas apresenta Deus
descendo à terra (Ap 21.1-5), transformando-a na
cidade de Deus. Outras passagens falam sobre o fogo
do juízo de Deus (2Pe 3), mas não se trata de um
fogo que destrói toda a criação. Em vez disso, ele a
purifica de todo pecado e mal, para que possa ser
limpa, restaurada e fique pronta para que Deus viva
conosco novamente (é isso que ele anuncia em Ap
21.3). O significado do nome “Emanuel” se aplica
tanto à segunda vinda de Cristo quanto à primeira.
Quer dizer “Deus [vindo aqui para estar] conosco”, não
“nós [indo a algum lugar para estar] com Deus”.
PREGAÇÃO E ENSINO DENTRO DA
HISTÓRIA
Como tudo isso afeta nossa pregação e ensino,
sobretudo no que diz respeito ao Antigo Testamento?
Significa que agora vivemos e pregamos nossos
sermões em algum ponto do Ato 5, mas pregamos a
Palavra de Deus entregue no decorrer do Ato 3 (o
Antigo Testamento), à luz do que aconteceu no Ato 4
(os Evangelhos) e na expectativa do que acontecerá
no Ato 6 (a nova criação). Não estou sugerindo, é
claro, que nossos sermões se encontram no mesmo
nível da própria Bíblia! Há alguns pregadores que
parecem pensar assim. Mas devemos ter total clareza
de que o texto da Bíblia é a Palavra de Deus única e
completa, com autoridade final. Não podemos dizer
ou pregar nada que chegue a esse mesmo nível e
nunca devemos alegar que as palavras que pregamos
são, em si, a Palavra de Deus.
O que quero dizer é que nós, pregadores,
professores e as pessoas a quem servimos, vivemos
dentro da estrutura de toda a história bíblica.
Participamos do Ato 5 do drama bíblico, que começou
no dia de Pentecostes e continuará até a volta de
Cristo. Nossa pregação e nosso ensino devem ter o
objetivo de capacitar nossos ouvintes a se engajar no
mundo como povo de Deus. Essa é a missão deles. É
isso que Deus os chamou para ser e fazer. Nossa
missão é fortalecê-los nesse papel e nessa tarefa. Nós,
cristãos, somos o povo definido e moldado por aquilo
que Deus fez por intermédio de Cristo no Ato 4. E
vivemos neste mundo na expectativa do Ato 6. É
dentro dessa história que vivemos — como cristãos,
de modo geral, e professores ou pregadores da Bíblia
em particular.
Quando nos enxergamos como participantes de
toda a história da Bíblia dessa maneira, isso nos ajuda
a lembrar que, ao pregar e ensinar sobre o Antigo
Testamento, não estamos tratando apenas de várias
histórias, canções e profecias velhas do antigo Israel,
coisas remotas e distantes. Não, o Antigo Testamento
é o Ato 3 de um único grande drama no qual agora
vivemos. Eles viveram no Ato 3. Nós vivemos no Ato
5. Mas todos nós vivemos dentro da mesma grande
história bíblica. A história deles faz parte da nossa
história. Somos juntos o povo de Deus. E o que nos
liga a eles, e eles a nós, é o Ato 4 — os
acontecimentos do evangelho. Aquele foi o
cumprimento da parte deles na história e o início de
nossa parte nela.
O Antigo Testamento também contém, é claro, os
Atos 1 e 2, a criação e a queda. E, embora sejam
momentos definidos dentro da grande história, eles
também definem “onde nós estamos agora”. Ainda
vivemos dentro da criação de Deus como responsáveis
mordomos dos recursos da terra que ele criou. E a
raça humana inteira ainda vive em rebelião
pecaminosa contra Deus. Por isso, nossa pregação e
nosso ensino também devem explicar essas realidades
e seus desdobramentos. Em particular, eles devem
mostrar, a todo momento, como as realidades do
pecado e do mal (presentes no mundo desde o Ato 2)
nos levam a compreender nossa necessidade da
solução divina para esses problemas fundamentais (no
evangelho do Ato 4). No próximo capítulo,
pensaremos em mais detalhes sobre como nossa
pregação e o ensino do Antigo Testamento deveriam
conduzir as pessoas a Cristo — de muitas maneiras
diferentes, mas, em essência, porque é para ele que o
Antigo Testamento em si conduz.
Resumindo este capítulo, vimos o seguinte:
Comparamos o Antigo Testamento a uma jornada
que tem não só um destino a alcançar, mas
também um propósito a cumprir. Jesus é esse
destino. E Cristo cumpriu o propósito que Deus
havia declarado no Antigo Testamento. Ou seja, o
Antigo Testamento conta a história de Israel que
Jesus completa, e o Antigo Testamento declara a
promessa de Deus a Israel que Cristo cumpre.
Depois, vimos que o Antigo Testamento em si faz
parte da história bíblica como um todo. Essa
“grande história bíblica” contém a história do
evangelho de Jesus Cristo bem no centro e
termina com o retorno de Cristo e a nova criação.
Necessitamos pregar e ensinar de tal modo que as
pessoas não só compreendam toda a história da
Bíblia, como também enxerguem seu lugar dentro
e à luz dela.
PERGUNTAS E EXERCÍCIOS
1. Como você explicaria a alguém que o Antigo
Testamento não é apenas cheio de predições sobre
Jesus, mas, em vez disso, declara a promessa de
Deus, a qual Jesus veio cumprir?
2. Discuta a ideia de que a Bíblia consiste em um
drama em seis atos ou etapas. Como essa estrutura
(e os símbolos que a acompanham) pode ser útil
para explicar “do que a Bíblia fala” para (a) um
cristão recém-convertido e (b) alguém que ainda
não crê, mas se interessa pela fé cristã?
3. Prepare um sermão ou uma série de seis sermões
ou lições para ilustrar cada ato do “Drama da
Bíblia em Seis Atos”. Escolha com cuidado textos-
chave que resumam cada um dos seis atos.
3
COMO ENTENDER JESUS POR MEIO
DO ANTIGO TESTAMENTO
No capítulo 2, comparamos o Antigo Testamento a
uma jornada que conduz a Cristo. Sempre que lemos
ou nos preparamos para pregar ou ensinar sobre o
Antigo Testamento, estamos olhando adiante, na
direção da viagem, pensando no destino de toda a
jornada. Mas, quando chegamos ao destino, e aí?
Quando chegamos aos Evangelhos e encontramos
Jesus ali, podemos simplesmente esquecer a jornada e
jogar fora a passagem usada? Podemos ignorar o
Antigo Testamento daí para a frente, agora que
conhecemos o próprio Jesus? Não se quisermos seguir
o exemplo do próprio Jesus e dos quatro homens que
nos deixaram seus relatos do evangelho, Mateus,
Marcos, Lucas e João. Para Jesus e seus seguidores
(inclusive o apóstolo Paulo), o Antigo Testamento era
essencial para compreender a identidade e a missão de
Jesus, isto é, quem ele era e o que veio fazer.
Por isso, a principal ideia deste capítulo é salientar
um motivo muito importante para pregar e ensinar
sobre o Antigo Testamento: as pessoas necessitam
conhecê-lo a fim de entender Jesus, tanto da maneira
como ele compreendia a si próprio quanto do modo
como seus primeiros seguidores o explicaram.1
QUEM JESUS PENSAVA QUE ERA?
Jesus despertava muitos questionamentos na mente
das pessoas. Certa vez, quando acalmou a tempestade
que quase fez afundar o barco onde estava, os
discípulos ficaram tão atônitos que perguntaram sem
cerimônia: “Quem é este homem? Até o vento e o
mar lhe obedecem!” (Mc 4.41).
Essa era a pergunta certa. Quem é este homem?
Jesus tinha interesse em saber como as outras pessoas
respondiam a essa pergunta, por isso questionou os
discípulos: “Quem as pessoas dizem que o Filho do
Homem é?” (Mt 16.13). Ao que parece, alguns
pensavam que ele era João Batista que voltara a viver
após ser morto por Herodes. Mas a maioria olhava
ainda muito mais para trás — para as Escrituras. Jesus
lembrava Elias, Jeremias ou um dos profetas. Tais
suposições estavam parcialmente corretas. Cristo de
fato foi um profeta, falando a palavra de Deus ao
povo. Tinha poder para curar, assim como Elias.
Tinha uma mensagem que lhe provocou sofrimento e
rejeição, o que aconteceu com Jeremias. Por isso,
quando as pessoas ao redor tentaram desvendar quem
ele era, bem como tudo que fazia e dizia, procuravam
respostas nas Escrituras, ou seja, no Antigo
Testamento.
Jesus estava ainda mais interessado em como seus
discípulos responderiam à pergunta, por isso lhes
indagou: “E vocês? [...] Quem vocês dizem que eu
sou?” (16.15). E Pedro respondeu: “O senhor é o
Cristo” (v. 16). Isso quer dizer, o Messias, o ungido
por Deus para cumprir seu propósito, aquele que
deveria vir em cumprimento a várias promessas do
Antigo Testamento. E Jesus concordou com a
resposta de Pedro, dizendo que Deus a havia revelado
ao discípulo (v. 17). Jesus sabia que, de fato, ele era o
ungido. Todavia, ainda não queria que os discípulos
saíssem proclamando isso (v. 20). Por que não?
Parece que muitas pessoas nutriam a ideia de que,
quando o Messias viesse, lideraria uma grande
campanha militar vitoriosa contra seus inimigos. E
isso não fazia parte do plano de Jesus, de jeito
nenhum. Ele via seu messiado de maneira bem
diferente — uma forma não muito atraente para
Pedro (v. 21-28).
E como Deus, o Pai, respondeu a essa pergunta?
Mateus, Marcos e Lucas registram o batismo de Jesus.
Foi um momento maravilhoso, no qual toda a
Trindade se envolveu. Ali estava Deus, o Filho,
saindo do rio Jordão. Ali estava Deus, o Espírito,
descendo em forma de pomba. E ali estava Deus, o
Pai, falando em uma voz vinda do céu. Como essa
voz de Deus descreveu Jesus? Não foi com palavras
completamente novas e inéditas, nunca antes ouvidas.
Nada disso. Até Deus cita as Escrituras. “Este é meu
Filho amado, que me dá grande alegria” (Mt 3.17).
Há pelo menos dois textos do Antigo Testamento e
talvez três que ecoam essas palavras:
Isaías 42.1: “Vejam meu servo, que eu fortaleço;
ele é meu escolhido, que me dá alegria”. O Servo
do Senhor em Isaías seria aquele que chamaria
Israel de volta para Deus e levaria a salvação
divina aos confins da terra. Deus identifica Jesus
com essa figura — seu Servo/Filho. Isaías
prosseguiu relatando como o Servo sofreria e
morreria a fim de cumprir a vontade de Deus (Is
53).
Salmos 2.7: “Você é meu filho; hoje eu o gerei”.
Deus proferiu essas palavras ao rei Davi e a seus
descendentes, que reinaram depois dele. Nos dias
de Jesus, não havia um rei literal da linhagem de
Davi sentado no trono de Jerusalém. Por isso, as
palavras desse salmo já eram interpretadas como
uma aplicação ao Messias, o filho futuro de Davi
que seria seu Rei verdadeiro. Deus identifica Jesus
com essa figura — o grandioso filho do grande
Davi.
Gênesis 22.2: “Tome seu filho, seu único filho,
Isaque, a quem você tanto ama, [...] ofereça-o
como holocausto”. Possivelmente as palavras de
Deus, o Pai, no batismo de Jesus ecoem essas
instruções divinas a Abraão. De fato, Jesus era o
“único filho”, a quem o Pai se mostrou disposto a
sacrificar pelos pecados do mundo.
Quem, então, era o homem que saiu do Jordão após
receber o batismo de João? De acordo com seu
próprio Pai, ele era Servo de Deus e Filho de Deus.
Ele cumpriria a missão divina e reinaria não só sobre
Israel, mas sobre todas as nações da terra (Sl 2.8).
Primeiro, porém, sofreria rejeição e morte. E tudo
isso é retratado em termos extraídos do Antigo
Testamento. Era a Bíblia de Jesus que explicava sua
identidade.
Mas como o próprio Jesus respondeu a essa
pergunta? Bem, conforme vimos, ele aceitou o título
“Messias/Cristo”, mas escolheu não divulgá-lo muito,
pois as pessoas nutriam ideias errôneas sobre o que
isso queria dizer. Sua forma preferida de se referir a si
mesmo era “o Filho do Homem”. De onde ele extraiu
esse termo e o que ele significava? Algumas pessoas
acham que é apenas um título equivalente a “Filho de
Deus”, isto é, pensam que os dois termos — Filho de
Deus e Filho do Homem — eram tão somente
formas de dizer que Jesus era tanto divino quanto
humano. Às vezes, as palavras “filho do homem”
realmente significam simplesmente “ser humano”,
mas, em outras ocasiões, querem dizer muito mais do
que isso.
Em uma das visões de Daniel (Dn 7), ele
contemplou bestas provenientes do mar. Elas
simbolizavam o mal violento de vários impérios ainda
por vir. Mas então Daniel também contemplou Deus
sentado em seu trono, soberano sobre todas essas
“bestas”. Em seguida, viu outra figura:
[...] alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as
nuvens do céu. Ele se aproximou do Ancião e foi conduzido
à sua presença. Recebeu autoridade, honra e soberania, para
que povos de todas as raças, nações e línguas lhe
obedecessem. Seu domínio é eterno; não terá fim. Seu reino
jamais será destruído.
Daniel 7.13-14
Esse “filho de homem” é uma figura exaltada que
compartilha o reino com o próprio Deus. Por isso,
não surpreende que, durante seu julgamento, quando
Jesus afirmou ser o Filho do Homem que Daniel
descreveu, os principais sacerdotes o tenham acusado
imediatamente de blasfêmia (Mc 14.62-63). A
questão é que tanto Jesus quanto seus juízes
entendiam o significado do título “Filho do Homem”
com base no que essa passagem do Antigo
Testamento diz. Logo, se quisermos aprender quem
Jesus pensava ser, precisamos conhecer os textos
bíblicos que ele usava para explicar quem era.
Jesus pensava que era Deus? Bem, certamente ele
não se levantou do nada e disse: “Oi, pessoal, eu sou
Deus”. Isso o faria ser apedrejado na hora. Aliás, isso
quase aconteceu quando ele usou o grande nome
revelado de Deus em Êxodo (“EU SOU O QUE SOU”) e
disse aos líderes judeus: “Eu lhes digo a verdade: antes
mesmo de Abraão nascer, EU SOU!”. De fato,
tentaram apedrejá-lo por blasfêmia (Jo 8.58-59). Esse
foi um momento raro. Mas o que Jesus mais fazia era
dizer e realizar coisas que o Antigo Testamento havia
falado ou prometido sobre Deus, deixando as pessoas
tirarem as próprias conclusões. Por exemplo:
Deus tinha dito que enviaria Elias antes que o
próprio Deus viesse ao povo (Ml 3.1; 4.5). Jesus
disse que João Batista era Elias, enviado a fim de
preparar o caminho para o SENHOR. Mas, se João
era Elias e Jesus veio depois de João, então quem
era Jesus (Mt 11.11-15; 17.10-13)?
Deus havia prometido que, quando ele viesse, os
cegos veriam, os surdos ouviriam, os coxos
andariam, e assim por diante (Is 35.4-6). Quando
os discípulos de João lhe perguntaram se ele era
aquele que havia de vir, Jesus basicamente lhes
disse: “Olhem ao redor. O que está acontecendo?
Quem está aqui?” (Mt 11.1-6).
Jesus disse a alguns indivíduos que seus pecados
estavam perdoados. As pessoas, muito
apropriadamente, perguntavam: “Quem pode
perdoar pecados, senão Deus?” (Mt 9.1-7; Lc
7.36-50).
Jesus disse que estava expulsando demônios “pelo
Espírito de Deus” como prova de que o reino de
Deus havia ido morar em meio ao povo, na pessoa
e nas ações do próprio Jesus (Mt 12.28; Lc
11.20).
E, depois de sua ressurreição, ele declarou: “Toda
a autoridade no céu e na terra me foi dada” (Mt
28.18). É assim que o Antigo Testamento fala
sobre YHWH, o SENHOR Deus de Israel (Dt 4.39),
mas Jesus calmamente aplica as palavras a si
mesmo.
Poderíamos prosseguir indefinidamente. Quem foi
Jesus? Pense em todos os títulos que puder. Senhor,
Cristo/Messias, Salvador, Redentor, Rei, Profeta,
Sumo Sacerdote, Filho de Deus, Filho do Homem,
Filho de Davi, Cordeiro de Deus, Bom Pastor,
Príncipe da Paz, Emanuel... Todos esses nomes e
muitos mais vêm de passagens do Antigo
Testamento. E não são expressões vazias, como os
títulos exaltados que alguns reis e presidentes
orgulhosos gostam de atribuir a si mesmos
atualmente. Elas descrevem aspectos essenciais
daquilo que Jesus fazia e continua a fazer. E, se
quisermos compreender e explicar Jesus usando tais
palavras, necessitamos saber como elas eram usadas
no Antigo Testamento.
Portanto, mesmo para entender o que significa dizer
que Jesus era divino, que era tão plenamente Deus
quanto tão plenamente homem, necessitamos do
Antigo Testamento. Pois é o Antigo Testamento que
nos revela o Deus que se tornou humano e andou
entre nós na pessoa de Jesus de Nazaré.
O QUE JESUS VEIO FAZER?
Jesus veio para dar início a uma nova religião? É isso
que muitas pessoas pensam. Pergunta: Quem foi o
fundador do cristianismo? Resposta: Jesus. Isso faz
parecer que Jesus veio certo dia e disse: “Ouçam bem,
amigos, já aguentamos esse tal de judaísmo por
tempo demais e ele parece ter fracassado. Aqui está
uma religião completamente nova que inventei.
Comecem a me seguir e se tornem cristãos”.2 É claro,
porém, que ele não fez isso. Aliás, disse para as
pessoas que achavam que ele estava abolindo a lei e os
profetas (a base bíblica da fé de Israel): “Não pensem
dessa maneira! Não vim para aboli-los, mas, sim, para
cumpri-los”.
Lembra-se do capítulo 2, “A história e a promessa”?
Jesus sabia em que história ele estava inserido: na
grande história de Israel nas Escrituras do Antigo
Testamento e na promessa divina que ela contém. E
ele sabia que viera para cumprir essa promessa e
realizar, para o bem do mundo, aquilo que Deus
prometera fazer por intermédio de Israel. Jesus veio
terminar a história que o Antigo Testamento havia
começado.
Pense novamente naqueles símbolos da história
bíblica apresentados no capítulo 2. Em sua forma
mais simples, a parte que cabe ao Antigo Testamento
nessa história (os Atos 1 a 3 de toda a história bíblica)
pode ser resumida assim:
Deus criou o mundo bom e os seres humanos à
sua imagem e semelhança para amá-lo e adorá-lo,
para fazer uso da criação e cuidar dela, e para amar
e servir uns aos outros.
Nós nos rebelamos e desobedecemos a Deus,
trazendo juízo e morte sobre nós mesmos, divisões
e contendas entre as nações e a deterioração da
criação.
Deus chamou Abraão e prometeu transformar a
maldição em bênção para todas as nações por
intermédio de seus descendentes, o povo de Israel.
Entretanto, como Israel era uma nação de
pecadores assim como o restante da humanidade,
os portadores da cura divina também carregavam
em si a doença. Israel mostrou necessitar da
salvação tanto quanto o restante das nações.
Mesmo assim, a promessa de Deus permaneceu.
O Antigo Testamento aponta para aquele que
cumpriria a missão de Israel, carregaria os pecados
de Israel e do mundo e levaria as boas-novas da
salvação até os confins da terra. Foi isso que Jesus
veio fazer.
Portanto, Jesus veio como o Messias de Israel, para
cumprir a missão de Israel e a promessa de Deus em
benefício de todas as nações. Ele anunciou a boa
notícia de que o reino de Deus havia começado. Foi
isso que Jesus chamou de “as boas-novas [o
evangelho] do reino”. Ele convocou as pessoas a se
arrependerem e crerem nessas boas notícias sobre o
reino de Deus confiando nele, o Rei, e o seguindo.
O conhecimento das pessoas sobre o reino de Deus
vinha dos salmos e dos profetas. Elas aguardavam
com expectativa a vinda de Deus para começar seu
reino na terra. Pensavam no acontecimento como
uma era futura por vir. Imaginavam uma era
messiânica completamente nova. Tanto João Batista
quanto Jesus anunciaram que a esperança do povo
finalmente estava se tornando realidade. “Enfim
chegou o tempo prometido! [...] O reino de Deus está
próximo!” (Mc 1.15). Isso significa que, na pessoa de
Jesus, Deus havia chegado. Deus estava endireitando as
coisas em um mundo que dera errado. Deus estava
vencendo o poder de Satanás, conforme Jesus
demonstrou em seus milagres. Deus estava trazendo
salvação ao mundo por intermédio de Jesus (cujo
nome, assim como o de Josué, significa “O SENHOR é
salvação”).
Mas Deus estava fazendo tudo isso não do modo
como algumas pessoas esperavam. O reino de Deus
não foi estabelecido usando o poder militar,
contrariando aqueles que desejavam derrotar e
expulsar as forças romanas. O reino de Deus não foi
estabelecido forçando todos a ser “bons”, como os
fariseus (“bons” nos termos deles). Em vez disso, o
modo de Deus era o modo de Jesus. Ou, expressando
de outra maneira, o modo de Jesus era o modo de
Deus de cumprir sua promessa de levar bênção e
salvação do reino de Deus. Foi isso que Jesus veio
realizar.
Cristo viveu em fiel obediência a Deus (ao passo
que Israel se rebelou e desobedeceu). Assim como
Israel, Jesus foi “provado no deserto” (quarenta dias
correspondentes aos quarenta anos do povo), mas,
diferentemente de Israel, escolheu confiar em Deus,
seu Pai, e obedecer-lhe. E ele foi obediente até a
morte. Quando Jesus morreu na cruz, Deus tomou
sobre si, na pessoa de seu Filho, o juízo e as
consequências do pecado, não só de Israel, mas do
mundo inteiro. E assim, por meio da cruz e da
ressurreição, ele conquistou vitória sobre o pecado,
sobre Satanás e todos os poderes do mal. É por isso
que exclamou: “Está consumado!”, que significa
“Cumpriu-se!”.
Então, depois de ressuscitar, Jesus disse aos
discípulos que o caminho agora estava aberto para
eles irem e pregarem o arrependimento e o perdão
dos pecados em seu nome a todas as nações, porque,
conforme disse: “Assim está escrito”. Com essa
expressão, ele queria dizer que as Escrituras do Antigo
Testamento haviam “programado” não só o que Jesus
cumpriu em sua vida terrena como Messias, mediante
sua morte e ressurreição, mas também o que ele
continuaria a fazer por meio da missão da igreja (Lc
24.45-47; At 1.1). Jesus diz, então, que devemos ler e
entender as Escrituras do Antigo Testamento
(conforme ensinou a seus discípulos) tanto em relação
ao Messias e o que ele fez quanto em relação à missão
— o que nós fomos comissionados a fazer até os
confins da terra.
QUAL É O TAMANHO DO EVANGELHO QUE
VOCÊ PREGA?
Assim, você pode ver que necessitamos do Antigo
Testamento não só para entender quem foi Jesus (e
como ele se via), mas também para compreender por
completo o que Cristo realizou. Necessitamos disso
em especial para evitar um reducionismo de toda a
mensagem da Bíblia a um mínimo puramente
individualista.
É fácil demais reduzir a Bíblia a algo mais ou menos
assim:
Sei que sou pecador.
Mas creio que Jesus morreu para limpar meus
pecados.
Por isso, posso ser perdoado e ir para o céu
quando morrer.
Para esse tipo de mensagem, o Antigo Testamento
não é nem um pouco necessário (com exceção, talvez,
da história da queda e alguns versículos sobre o
pecado). Aliás, não é preciso nem muito do Novo
Testamento. Você só precisará do relato da morte de
Jesus e de alguns versículos de Paulo para explicar as
Escrituras. Possivelmente seja por isso que alguns
pastores só pregam usando esses poucos textos.
Nunca enxergaram o quadro mais amplo, a história
inteira. Por isso, não pregam acerca do restante da
Bíblia.
É claro que esses três tópicos são verdadeiros —
graças a Deus —, e eu também creio neles! Mas a
Bíblia conta uma história muito maior. O pecado não
consiste apenas em algo pessoal, nem a salvação. As
Escrituras falam do grande projeto divino de restaurar
toda a criação por intermédio de Cristo, curando a
divisão entre as nações e levando salvação a todos os
níveis de carência e perda, tanto humanas quanto da
criação. Essa é a “grande história” da salvação
encontrada na Bíblia. Era assim que o apóstolo Paulo
entendia a salvação. Ela se destina à criação inteira, à
igreja inteira e aos fiéis individualmente (em Cl 1.15-
23, é nessa ordem que ele retrata as coisas).
Mude a ordem dos fatores. Qual foi o problema que
Deus solucionou mediante a morte e ressurreição de
Jesus Cristo? Algumas pessoas falam (e pregam, e
ensinam, e cantam hinos) como se o único problema
fosse “eu e meu pecado”. É claro que isso é um
problema. Sem Cristo, permaneço condenado como
pecador, sem esperança, nem futuro eterno com
Deus. Por causa de Cristo e de sua morte em meu
lugar, posso saber sem sombra de dúvidas que Deus
me perdoa e posso ter a certeza da salvação eterna.
Que boa-nova! Eu creio nela! Mas, se essa é a única
maneira de pensarmos e falarmos sobre o evangelho,
nós o centramos completamente em nós mesmos.
Tudo diz respeito a mim, meu pecado e minha
salvação. Isso é fazer o evangelho muito mais limitado
do que a Bíblia o apresenta. E certamente é estranho
e incorreto ser autocentrado ao pensar sobre o
evangelho, que é o grande plano de Deus para toda a
criação.
Quando voltamos e lemos a história bíblica desde o
início, o que encontramos? Pense novamente nos seis
atos do grande drama da Bíblia. As Escrituras
começam com a criação. A vida humana se passa na
terra onde Deus nos colocou (Ato 1). Mas, quando
Adão e Eva desobedeceram a Deus (como se o único
problema fosse que Adão e Eva eram pecadores
individuais que precisavam ser perdoados), a criação
também sofreu. “Maldita é a terra por sua causa” (Gn
3.17). A criação inteira foi afetada pelo pecado e pelo
mal, conforme afirma Paulo com toda clareza (Rm
8.18-22). Então, a história prossegue para mostrar
como o pecado corrompeu todos os relacionamentos
humanos na sociedade — no casamento, entre irmãos,
na sociedade mais ampla e ao longo das gerações na
história. Por fim, o pecado e a arrogância humanos
resultaram na divisão e dispersão das nações (Gn 11).
Portanto, juntando todo o relato de Gênesis 3—11,
o problema diante de Deus não é simplesmente que
os indivíduos são pecadores que necessitam ser salvos
do juízo e da morte, mas também que as famílias,
sociedades, nações e culturas humanas estão
despedaçadas e em conflito, e que a própria terra sofre
as consequências do pecado e do mal. E por causa de
tudo isso, somos confrontados com a realidade do
juízo final de Deus. Esse, sim, é um grande problema!
É por isso que temos um grande evangelho!
Onde o evangelho começa? Eu costumava fazer essa
pergunta nas aulas que ministrava na Índia, e sempre
havia alguém que dizia: “Em Mateus”. Ao que eu
respondia: “Errado! O evangelho começa em
Gênesis!”. É isso que Paulo diz. Dê uma olhada em
Gálatas 3.8. É verdade. Paulo chamou a promessa de
Deus a Abraão de “boas-novas”. Deus fez um
chamado a Abraão e prometeu uma bênção — não só
uma bênção pessoal para ele, mas também para todas
as famílias/nações da terra.3 Deus não estava
pensando apenas em indivíduos, mas nas nações e na
terra. Essas são as boas-novas do evangelho bíblico. E
precisamos do Antigo Testamento a fim de nos
preparar para isso. Então podemos ver a escala
verdadeiramente gloriosa, cósmica e imensa daquilo
que Deus realizou por meio da morte e ressurreição
de Jesus Cristo.
Onde o evangelho termina (se é que podemos dizer
isso)? O grande drama da Bíblia nos leva até o Ato 6,
no qual as boas-novas do grande projeto de salvação
divino chegam a seu final triunfante — missão
cumprida. Se você ler Apocalipse 21—22, encontrará
muitos ecos de Gênesis 3—11. A solução definitiva
de Deus equipara-se ao problema original em vários
aspectos.
Pense nas consequências terríveis do pecado
apresentadas em Gênesis 3—11 (Ato 2). Então reflita
no retrato maravilhoso da vida na nova criação (Ato
6).
As consequências do
pecado
A nova criação
A terra é amaldiçoada. Não haverá mais
maldição.
Vivemos sob sentença de
morte por causa do
pecado.
Não haverá mais morte.
Fomos expulsos da
presença de Deus.
Deus habitará conosco
em um novo céu e uma
nova terra, unidos na
“cidade de Deus”.
Nosso acesso à arvore da
vida foi negado.
A árvore da vida
florescerá ao lado da água
da vida no “jardim da
cidade”.
A vida humana se tornou
cheia de violência,
sofrimento e lágrimas.
Não haverá mais
lágrimas, luto, choro ou
dor, porque não existirão
mais pecado,
imoralidade, engano ou
opressão.
As nações foram
divididas em confusão,
contendas e conflito.
Pessoas de todas as tribos,
nações e línguas se unirão
para adorar a Deus.
“As folhas da árvore
servem para a cura das
nações” (isto é, além dos
indivíduos receberem a
vida eterna, as culturas e
nações humanas se
reconciliarão).
Toda a história bíblica da salvação, ou seja, a
história da redenção que se estende ao longo do Ato 3
(a promessa do Antigo Testamento), Ato 4 (o
evangelho) e Ato 5 (a missão da igreja), é o que
preenche o abismo entre a grande rebelião (Ato 2) e a
grande restauração (Ato 6). Depois de compreender a
história inteira, não podemos mais pensar no
“evangelho” apenas como a resposta para o meu
problema individual com o pecado e a maneira para
“eu entrar no céu”. Em vez disso, passamos a
reconhecer que “minha salvação pessoal”, por mais
preciosa que seja, se encaixa em um plano divino
muito maior, que inclui a cura das nações e a
reconciliação de toda a criação com Deus.
É isso que Cristo veio fazer. É isso que ele
conquistou mediante sua morte e ressurreição. É isso
que estava incluído em suas triunfantes palavras finais
na cruz: “Está consumado!”, que significa “Cumpriu-
se!”. O que se cumpriu? Tudo aquilo que Deus
prometeu nas Escrituras do Antigo Testamento.
Permita-me fazer uma pergunta: você prega o
evangelho? Espero que sua resposta imediata seja
“Sim!”. No entanto, à luz do que acabou de ler, você
prega o evangelho inteiro, baseado em tudo aquilo
que a Bíblia inclui nas “boas-novas”? Ou limitou o
evangelho apenas à mensagem da salvação individual?
E, caso você seja honesto o suficiente para admitir
que talvez se encaixe na segunda opção, saiba, em
primeiro lugar, que você não está sozinho, pois
muitos e muitos cristãos fazem exatamente isso.
Contudo, você estaria disposto a mudar? Concorda
que limitar o evangelho dessa maneira é uma desonra
ao Senhor? Afinal, essa prática reduz o escopo e a
importância de tudo que a Bíblia nos conta que Jesus
realizou na cruz e anunciou pelo poder de sua
ressurreição. Tenho certeza de que todos queremos
ser fiéis à Bíblia, pregar e ensinar a verdade. Mas o
triste é que aquilo que algumas pessoas chamam de
“evangelho puro” consiste, na verdade, em um
evangelho truncado que reduz a gloriosa mensagem
da Bíblia como um todo.
Começamos este capítulo pensando na jornada,
como os pastores na estrada de Guayaquil a Quito.
Quando lemos o Antigo Testamento, devemos nos
lembrar de olhar para a direção da viagem. Tudo leva
a Jesus. É por isso que necessitamos do Antigo
Testamento, a fim de compreender quem foi Jesus, o
que ele veio fazer e aquilo que de fato realizou nos
eventos do evangelho. Lemos o Antigo Testamento
ansiando por Jesus. Espero que este capítulo tenha
ajudado você a ver como isso funciona e como é
importante para uma compreensão bíblica adequada
de Jesus.
Quando se chega ao destino, porém, também é
possível olhar para trás e ver a jornada. Enquanto os
pastores desfrutavam o seminário de pregação
Langham em Quito, podem ter pensado na longa
jornada que fizeram antes. Espero que tenham
concluído que valeu a pena! Eles poderiam desenhar a
jornada em um mapa e mostrar como cada parada
estava ligada à via que os fez chegar a Quito. Foi uma
jornada conectada entre si e que alcançou seu destino.
Assim é com o Antigo Testamento.
Os pastores também poderiam pegar os ensinos, as
anotações e os livros que receberam no seminário (e a
foto do grupo!) para comparar toda essa abundância
com a carta que chegou até eles muito tempo antes,
convidando-os a comparecer. Ela era uma promessa
do que aconteceria quando eles fossem a Quito. Eles
compareceram na fé de que a promessa se cumpriria,
e foi isso o que aconteceu. E gosto de acreditar que o
cumprimento da promessa (o seminário em Quito e
tudo que eles receberam) foi ainda melhor do que
qualquer coisa que eles poderiam ter imaginado
durante a jornada. Dessa maneira, eles sempre
olhariam para trás e enxergariam a jornada à luz da
bênção que receberam ao fim dela.
De igual maneira, o Novo Testamento nos mostra
como Jesus cumpriu todas as promessas do Antigo
Testamento — de formas maravilhosas e
surpreendentes que acabaram se mostrando muito
melhores do que qualquer coisa que o povo do
Antigo Testamento poderia imaginar. Os israelitas
tinham fé na promessa de Deus e, ainda que muitos
deles não tenham visto o cumprimento, o Senhor foi
fiel à sua promessa (essa é a mensagem de Hb 11).
Por isso, podemos olhar de volta para a jornada do
Antigo Testamento à luz do que aconteceu no final
dela.
Isso quer dizer que, quando lemos e nos preparamos
para pregar sobre uma passagem do Antigo
Testamento, precisamos fazer duas coisas. Em
primeiro lugar, devemos pensar que estamos
“sentados no texto”, como os pastores no micro-
ônibus, olhando na direção da viagem, aguardando
com expectativa o destino ao qual a viagem
finalmente nos levará — a Cristo. Em segundo lugar,
porém, precisamos olhar para o texto (que vem do
Ato 3) à luz daquilo que realmente aconteceu ao fim
da jornada, isto é, à luz de Cristo e de toda a história
do evangelho no Ato 4. Lemos e pregamos essas
passagens como cristãos e para cristãos, todos nós
vivendo no Ato 5. Por isso, devemos “conectar” as
passagens do Antigo Testamento a Jesus Cristo. Ou,
conforme às vezes se diz, devemos “pregar Cristo
usando o Antigo Testamento”.
Nos dois capítulos a seguir, pensaremos em algumas
boas maneiras de fazer isso, e em algumas maneiras
erradas também.
PERGUNTAS E EXERCÍCIOS
1. Discuta suas respostas às perguntas que fiz no
parágrafo que começa com “Permita-me fazer
uma pergunta” (p. 40). Seja honesto! Que passos
você precisa dar para tornar seus ensinos e suas
pregações do evangelho mais plenamente bíblicos
em conteúdo?
2. Faça uma lista de alguns nomes ou títulos que
costumamos usar para Jesus. De onde no Antigo
Testamento eles vêm? O que nos ensinam sobre
Jesus e o que ele veio fazer?
3. Prepare uma lição ou um sermão sobre o batismo
de Jesus, concentrando-se, em especial, nas
palavras de Deus, o Pai, em Mateus 3.16-17.
Mostre como Deus ecoa palavras de textos do
Antigo Testamento e use-as para explicar quem
Jesus verdadeiramente foi e o que ele veio fazer.
4
NÃO ME DÊ SÓ JESUS
Anne Graham Lotz, filha de Billy Graham, é uma
talentosa evangelista e pregadora. Após um período
de muito estresse em sua vida, ela escreveu um poema
e um livro intitulados Just Give Me Jesus [Dê-me só
Jesus]. Trata-se de um poema maravilhoso, que
descreve Jesus de diversas maneiras, cada seção
terminando com a repetição de “Dê-me só Jesus”.1
Anne Graham também já realizou muitos seminários
e conferências de reavivamento com esse tema. Sua
ideia central, claro, é que nosso Senhor Jesus Cristo
basta para tudo aquilo que podemos enfrentar na
vida, na morte e além. Ele é tudo de que precisamos
para a salvação e é a fonte de toda graça, bênção e
força que Deus nos dá para a vida na terra e na nova
criação.
O título é, assim, uma frase espetacular para retratar
a suficiência de Cristo para todas as nossas
necessidades pessoais e pastorais. Mas, no que diz
respeito à pregação com base no Antigo Testamento,
temo que não seja o bastante. O pregador não deve
imaginar que, ao falar da Bíblia, sua congregação está
sentada dizendo: “Dê-me só Jesus”. Pregar usando o
Antigo Testamento não é só pregar sobre Jesus,
embora sem dúvida deva, em última instância,
conduzir as pessoas a Jesus.
Certa vez, enviaram-me o panfleto de uma
conferência na qual eu iria falar. Meu tema era a base
do Antigo Testamento para a missão cristã. Em seu
destaque maior, o folheto dizia: “E o melhor do
Antigo Testamento é que ele é todo sobre Jesus!”. Os
organizadores estavam tentando dar um incentivo.
Mas eu não teria escrito essas palavras. Pois não é
verdade dizer isso, de forma tão simplista.
Talvez depois de ler os dois capítulos anteriores
deste livro você esteja pensando da mesma maneira
que o panfleto da conferência. Ressaltei tanto a
necessidade de entender o Antigo Testamento à luz
de Cristo (o Antigo Testamento como uma jornada
que conduz a Cristo e declara a promessa que ele
cumpriu) que você pode estar imaginando: “O
Antigo Testamento? É todo sobre Jesus!”.
Mas não é, não de maneira tão direta.
O que eu disse nos dois últimos capítulos não é que
o Antigo Testamento é “todo sobre Jesus”, mas que
consiste em uma jornada que conduz a ele. Tudo
aponta para Cristo. Mas nem tudo é “sobre Cristo”.
Pense de novo naqueles pastores no micro-ônibus
de Guayaquil a Quito. Sim, toda a jornada deles foi
em direção a Quito. Sim, Quito era o destino
desejado. Sim, eles pensavam e conversavam sobre o
que aconteceria quando chegassem a Quito. Todo o
foco da jornada se concentrava em Quito. Mas isso
não quer dizer que toda vez que olhavam pela janela
do micro-ônibus estavam vendo Quito. Não, eles
contemplavam o cenário na estrada para Quito. É
possível que, às vezes, houvesse placas informando:
“Quito a 150 quilômetros”. Mesmo nesse caso,
porém, a placa não era Quito em si, mas apenas uma
garantia de que estavam na direção correta. Então, se
houvesse uma criança pequena no banco de trás que
perguntasse, o tempo inteiro: “Já chegamos?”, os
adultos teriam de responder: “Ainda não! Tenha
paciência. Logo estaremos em Quito”.
Estar na estrada para Quito não é o mesmo que
estar em Quito. Da mesma maneira, dizer que o
Antigo Testamento conduz a Cristo não é o mesmo
que afirmar que tudo ali é sobre Cristo.
Mas como isso afeta nossa pregação e nossos ensinos
baseados no Antigo Testamento? Será que significa
que, apesar de tudo que eu disse nos dois últimos
capítulos, não podemos pregar sobre Cristo usando
textos do Antigo Testamento? Nada disso. No
capítulo 5, contarei que certamente podemos e, na
verdade, devemos pregar Cristo com base no Antigo
Testamento. E tentarei explicar como podemos fazer
isso de forma boa e válida. Antes, porém, precisamos
tirar do caminho alguns pontos negativos.
Infelizmente, alguns pregadores imaginam que, não
importa qual passagem da Bíblia estejam usando, o
sermão sempre precisa ser sobre Jesus. Entenderam a
verdade de que toda a Bíblia é centrada e focada no
Senhor Jesus Cristo e que dá testemunho dele de
diversas maneiras, e então a transformaram em um
método muito simplista de interpretação, segundo o
qual todos os versículos do Antigo Testamento
precisam, de algum modo, falar “sobre Jesus”. E suas
pregações podem parecer muito inteligentes ao fazer
isso. Mas esse método traz consigo todo tipo de
problemas. A seguir estão alguns deles. Transformar
todas as passagens do Antigo Testamento em textos
“sobre Jesus” pode trazer as seguintes consequências
negativas.
O PERIGO DE IGNORAR O SENTIDO
ORIGINAL DO TEXTO
Qual é a primeira regra de exegese — a primeira coisa
que devemos fazer quando lemos e interpretamos
qualquer texto bíblico? Precisamos perguntar: “O que
este texto significava na época em que foi escrito para
as pessoas que o leram ou escutaram em primeiro
lugar? Sobre o que o autor estava falando e o que disse
sobre aquilo que estava falando?”. Em outras palavras,
buscamos entender o texto em seu contexto original
antes de fazer quaisquer outras perguntas ou alguma
aplicação.2
Mas, se você abordar um texto do Antigo
Testamento com o pressuposto de que “ele deve ser
sobre Jesus”, pode facilmente negligenciar tudo
aquilo que o autor original de fato queria dizer. Na
verdade, acaba colocando uma mordaça na boca do
autor original, a fim de fazê-lo dizer o que você acha
que deve ser o assunto do texto, já que tudo precisa
ser “sobre Jesus”. E isso é algo muito ruim de se fazer
com a Bíblia!
Certa vez, ouvi um pregador falar sobre Amós 5.24:
“Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça, como
ribeiro perene” (RA). Ele discorreu por alguns
instantes sobre Amós, mas logo prosseguiu dizendo:
“A única justiça que podemos ter é a de Cristo”. A
partir desse ponto, passou a abordar a justificação
pela fé. Ele poderia muito bem ter pregado com base
em Romanos. Tudo que ele falou era verdadeiro. Mas
não tinha nada a ver com o que Amós disse! E o que é
pior: distorcia essa passagem das Escrituras. Silenciava
tudo que Amós de fato escreveu na passagem sobre
praticar a justiça e dar fim à exploração, à fraude e à
opressão.
Com isso, o pregador, por sua preocupação em
colocar Jesus no texto ou extraí-lo de lá, acabou
ignorando o sentido original da passagem em si.
Quando Amós escreveu tais palavras, ele não estava
falando sobre Jesus. Em vez disso, o profeta estava
desafiando o povo de Israel a viver como Deus queria
que vivesse. Seria possível pregar sobre esse texto de
uma maneira que tanto explicasse e aplicasse
completamente o que Amós quis dizer quanto fizesse
um elo com Jesus Cristo e o evangelho. No próximo
capítulo, sugiro algumas formas de fazer isso de
maneira apropriada — que não é simplesmente
“pular para Jesus” no início de um sermão.
O PERIGO DAS INTERPRETAÇÕES
FANTASIOSAS
Participei de um estudo da Bíblia por um tempo no
qual alguns dos membros do grupo eram meio
obcecados pela ideia de que toda e qualquer passagem
do Antigo Testamento precisava ter Jesus em algum
lugar. Então, passavam o tempo inteiro pensando em
como esse poderia ser o caso — e sugerindo ideias
muito estranhas. Um deles observou que havia treze
levitas de pé ao lado de Esdras enquanto ele fazia a
leitura da lei em Neemias 8. Constatou, assim, que
isso devia representar os doze apóstolos originais de
Jesus, mais Paulo. Com isso, Esdras se transformou
em Jesus ensinando o povo, e Neemias 8 passou a ser
um capítulo só sobre Jesus! Depois de soltar a
imaginação dessa maneira, qualquer coisa pode ser
“sobre Jesus”, de uma maneira ou de outra.
No entanto, essa é uma forma irresponsável de
abordar a Bíblia. Se ensinarmos esse tipo de coisa, só
reforçaremos a suspeita das pessoas de que a Bíblia é
um livro que elas nunca conseguiriam entender por
conta própria. Acham que precisam de pregadores e
professores inteligentes, capazes de extrair de qualquer
texto diversos significados “sobre Jesus” que elas
nunca teriam condições de encontrar sozinhas. Mas a
Bíblia não é um tipo de jogo. Você já viu aqueles
livros ilustrados do tipo “Onde está Wally?”? São
cheios de figuras complicadas e, escondido em cada
uma delas, está o personagem Wally. É muito
divertido tentar achá-lo. Mas não deveríamos abordar
o Antigo Testamento dessa maneira, como se fosse
um livro ilustrado “Onde está Jesus?”.
Estou de acordo com Dale Ralph Davis, que
também se preocupava com as consequências
negativas de querer extrair Jesus de todo e qualquer
texto do Antigo Testamento. Veja o que ele escreveu
acerca do que Cristo disse em Lucas 24.25-27,44-47:
Penso que Jesus está ensinando que todas as partes do Antigo
Testamento testificam do Messias em seu sofrimento e
glória, mas não creio que esteja dizendo que cada passagem
ou texto do Antigo Testamento testemunha acerca dele.
Jesus se referiu às coisas escritas a seu respeito na lei de
Moisés, nos profetas e nos salmos, mas não afirmou que
todas as passagens falavam dele (v. 44). Por isso, não me
sinto obrigado a fazer todos os textos do Antigo Testamento
apontarem para Cristo de alguma maneira, porque não
acredito que ele próprio o exija [...] [Mas] [...] somente
porque não acho que todos os textos do Antigo Testamento
são sobre Jesus, isso não significa que me oponho à pregação
de Cristo com base no Antigo Testamento se ele puder ser
visto na passagem de forma legítima. [...] Contudo, tenho a
convicção de que não honro a Cristo forçando-o a entrar em
textos em que ele não está.3
O PERIGO DE NEGLIGENCIAR OUTRAS
COISAS IMPORTANTES QUE DEUS ENSINA
Isso pode parecer errado. Afinal, o que poderia ser
“mais importante” que Jesus? Nada, é claro. E é
verdade que podemos conectar todas as coisas
grandiosas que Deus revelou e ensinou no Antigo
Testamento com Jesus. Por exemplo, o Antigo
Testamento começa (Ato 1 da história bíblica) com a
criação. E sabemos pelo Novo Testamento que todas
as coisas no céu e na terra foram criadas por Cristo e
para Cristo (Jo 1.1-3; Cl 1.15-20; Hb 1.3). Sim, mas
quando as Escrituras discorrem sobre a criação (não
só em Gn 1—2, mas em muitos outros lugares, como
Sl 19, 33, 104; Jr 10; Jó 28, 38—41), estão falando
sobre a criação, e não “sobre Jesus”. Temos muito a
aprender nessas passagens a respeito de Deus, do
universo, da terra e de nós mesmos. Então, vamos
aprender, ensinar e pregar aquilo que os textos dizem,
não o que lemos nas entrelinhas com base em partes
subsequentes da Bíblia.
Pense em todas as outras coisas grandiosas que Deus
revela no Antigo Testamento:
O que significa ser humano, criado à imagem de
Deus.
A realidade do pecado e as consequências terríveis
do mal.
A ira de Deus contra a injustiça e a opressão.
O amor de Deus e sua fidelidade àquilo que
promete.
O domínio soberano de Deus sobre todas as
nações e toda a história.
Como Deus quer que seu povo o adore.
Como Deus deseja que as pessoas vivam e se
comportem umas em relação às outras.
O plano divino para a restauração de toda a
criação.
É claro que podemos mostrar como todos esses
temas importantes em algum momento conduzem a
Cristo (e refletiremos sobre isso mais adiante). Mas,
se lermos textos significativos nos quais Deus está
ensinando sobre essas coisas e pensarmos, o tempo
inteiro: “Isto deve ser sobre Jesus”, podemos acabar
perdendo toda riqueza e profundidade daquilo que
Deus realmente está nos dizendo nesses textos
originais. E isso não só é triste, como também trágico,
pois deixa as pessoas sem entender e aplicar partes tão
importantes que constam da Bíblia. Na verdade, isso
as distrai de ouvir aquilo que Deus deseja lhes falar
nessas passagens — o que é algo seriamente ruim de
se fazer com a Bíblia.
Talvez você esteja se lembrando do apóstolo Paulo,
que disse: “nós, porém, pregamos a Cristo
crucificado”, e como ele decidiu “nada saber [...] a
não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (1Co 1.23;
2.2, NVI). Algumas pessoas pensam que isso significa
que Paulo só pregava sobre Jesus e a cruz e mais nada.
Mas isso não pode ser verdade.
Em primeiro lugar, observe o contexto desses dois
versículos. Paulo estava contrastando seu estilo de
pregação do evangelho com a eloquência sofisticada
dos filósofos gregos. Ele não lançava mão de
argumentos engenhosos e retórica qualificada como
aqueles, mas apresentava simplesmente a verdade
histórica sobre Jesus, com o poder do Espírito Santo.
Em segundo lugar, o próprio Paulo afirma que
ensinava a suas igrejas muito mais do que apenas a
história da crucificação. Lembrou os líderes da igreja
de Éfeso de que, durante os anos de sua permanência
na cidade, “Vocês sabem que não deixei de pregar-
lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo
publicamente e de casa em casa” e “não deixei de
proclamar-lhes toda a vontade de Deus” (At
20.20,27, NVI). Ou seja, a pregação de Paulo era
tanto tópica (v. 20, atendendo às necessidades e
dúvidas da igreja) quanto bíblica (v. 27, explicando
toda a “vontade de Deus”, que significa o plano e o
propósito de Deus conforme revelado nas Escrituras,
isto é, o Antigo Testamento). É claro que tudo isso
girava em torno de Jesus, mas não era simplesmente
“sobre Jesus”. Em vez disso, deve ter sido
enriquecedor ensinar com base em toda a Escritura,
sobretudo ao dirigir-se aos judeus. Paulo passou
milhares de horas ao longo de seus dois anos em
Éfeso lecionando e debatendo todos os dias no
auditório público de conferências de Tirano. Ele deve
ter abordado muito mais do que apenas a
crucificação!
O PERIGO DE EMPOBRECER A HISTÓRIA
BÍBLICA E ACABAR COM A SINGULARIDADE
DA ENCARNAÇÃO
Quando falamos sobre “Jesus no Antigo
Testamento”, isso pode ter o efeito de colocar a Bíblia
inteira no mesmo fuso horário, por assim dizer.
Como se todas as pessoas do Antigo Testamento
tivessem vivido na mesma época que Jesus e o
“conhecessem”, orassem a ele e até se encontrassem
com ele de tempos em tempos. É claro que
concordamos que Deus, o Filho, a segunda pessoa da
Trindade, está vivo e ativo eternamente, desde antes
da criação do mundo. Nesse sentido, o Deus a quem
os santos do Antigo Testamento adoravam era o Deus
que nós conhecemos como Pai, Filho e Espírito
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  • 1.
  • 2.
  • 4. Como leitor assíduo de Christopher J. H. Wright, sempre me surpreendo com sua capacidade de explicar, com clareza e precisão, os temas a que se dedica. De forma consistente, em linguagem simples, ele nos conduz a níveis mais profundos de compreensão. Este é mais um brilhante texto de um excelente mestre, leitura obrigatória para todos que se dedicam ao ensino das Escrituras Sagradas. Que Deus abençoe o ministério desta obra entre nós! ZIEL J. O. MACHADO Pastor da Igreja Metodista Livre e vice-reitor do Seminário Servo de Cristo (São Paulo – SP) Será que a pregação do Antigo Testamento continua relevante para a igreja de hoje? De modo descomplicado, mas com profundidade e sabedoria, o dr. Chris Wright mostra como as Escrituras do antigo Israel são fundamentais para entendermos o grande drama da redenção que culmina em Cristo e do qual todos nós participamos. Assim como um filme não faz sentido se não assistirmos ao início, a vida e obra de Jesus precisam ser entendidas à luz da primeira parte da história da salvação, relatada no Antigo Testamento. De forma didática e clara, Wright
  • 5. apresenta uma metodologia bastante útil para seminaristas, pastores e líderes de igreja, usando os principais gêneros literários das Escrituras. Essa é uma obra indispensável para todos os que desejam pregar e ensinar com excelência TODA a Palavra de Deus, em especial o Antigo Testamento. TIAGO ABDALLA T. NETO Professor de exegese e teologia do Antigo Testamento do Seminário Bíblico Palavra de Vida (Atibaia – SP) e membro do comitê de tradução da Nova Versão Transformadora (NVT) Didática, equilibrada e esclarecedora, a obra Como pregar e ensinar com base no Antigo Testamento, do importante professor Christopher J. H. Wright, enfrenta o desafio, comum aos pregadores e ensinadores da Bíblia, de expor e aplicar o Antigo Testamento; nunca foi tarefa confortável levar para a sala de aula ou púlpitos cristãos os textos da Bíblia hebraica. Por ser percebido por alguns, mesmo não declaradamente, como parte ultrapassada ou fonte somente da história da religião de Israel, o Antigo Testamento comumente perde espaço nos sermões.
  • 6. Por outro lado, em diversos ambientes eclesiásticos percebe-se a utilização hermeneuticamente problemática dessa indispensável parte das Escrituras. Com erudição e clareza, Wright não somente descortina a importância do AT na prática ministerial, mas também serve seus leitores com instrumentos e pressupostos relevantes para seu uso na pregação e no ensino. Este livro chega em tempo oportuno e auxiliará na compreensão e exposição da primeira parte do cânon. KENNER TERRA Doutor em ciências da religião e professor da Faculdade Unida (Vitória – ES) O estudo e a pregação de passagens do Antigo Testamento são muitas vezes feitos de forma literalista, legalista, alegórica, historicista, ou ainda doutrinal. Nem sempre somos capazes de aprofundar o entendimento das passagens do Antigo Testamento e aplicá-las aos ouvintes de hoje. Essa valiosa obra de Christopher J. H. Wright é singular não só pelo assunto, como também pela maneira prática, didática e relevante de oferecer ferramentas para o estudo e
  • 7. modos de interpretação do Antigo Testamento com vistas à pregação. WILLIAM LACY LANE Doutor em teologia e professor da Faculdade Teológica Sul Americana (Londrina – PR)
  • 8. Copyright © 2016 por Christopher J. H. Wright Publicado originalmente por Langham Preaching Resources, Carlisle, Cumbria, Reino Unido. Direitos negociados por Piquant Agency. Os textos das referências bíblicas foram extraídos da Nova Versão Transformadora (NVT), da Editora Mundo Cristão (sob permissão da Tyndale House Publishers, Inc.), salvo indicação específica. Eventuais destaques nos textos bíblicos e citações em geral referem-se a grifos do autor. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora. Equipe MC: Daniel Faria (editor) Heda Lopes Natália Custódio Diagramação: Luciana Di Iorio Preparação: Cristina Fernandes Revisão: Josemar de Souza Pinto Capa: Douglas Lucas Diagramação para e-book: Yuri Freire
  • 9. CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ W933c Wright, Christopher J. H Como pregar e ensinar com base no Antigo Testamento [recurso eletrônico] / Christopher J. H. Wright ; tradução Cecília Eller. - 1. ed. - São Paulo : Mundo Cristão, 2018. recurso digital ; 1421 MB Tradução de: How to preach & teach the Old Testament for all its worth Formato: epub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web ISBN: 978-85-433-0265-2 (recurso eletrônico) 1. Pregação. 2. Bíblia - Uso homilético. 3. Livros eletrônicos. I. Eller, Cecília. II. Título. 17-44616 CDD: 251 CDU: 27- 475.2 Categoria: Teologia Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por: Editora Mundo Cristão Rua Antônio Carlos Tacconi, 79, São Paulo, SP, Brasil, CEP 04810- 020
  • 10. Telefone: (11) 2127-4147 www.mundocristao.com.br 1a edição eletrônica: janeiro de 2018
  • 11. Todos os direitos autorais deste livro foram irrevogavelmente cedidos à Langham Literature (antiga Evangelical Literature Trust). Langham Literature é um programa da Langham Partnership International, fundada por John Stott. Chris Wright é o diretor do ministério internacional. A Langham Literature distribui livros evangélicos para pastores, estudantes de teologia e bibliotecas de seminários dos países em desenvolvimento. Também promove a escrita e a publicação de literatura cristã em muitos idiomas locais. Para mais informações sobre a Langham Literature e outros programas da LPI, visite o site <www.langham.org>.
  • 12. Sumário PARTE I — POR QUE DEVEMOS PREGAR E ENSINAR COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO? 1. Disse Deus 2. A história e a promessa 3. Como entender Jesus por meio do Antigo Testamento 4. Não me dê só Jesus 5. Conexão com Cristo PARTE II — COMO PREGAR E ENSINAR COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO? 6. A história de Deus e as nossas histórias 7. Cinco perguntas a fazer ao pregar e ensinar histórias do Antigo Testamento 8. Sete perigos a evitar ao pregar e ensinar histórias do Antigo Testamento
  • 13. 9. Entenda a lei do Antigo Testamento 10. Como pregar e ensinar com base na lei do Antigo Testamento 11. Conheça os profetas 12. Como pregar e ensinar com base nos profetas 13. Conheça os salmos 14. Como pregar e ensinar com base nos salmos 15. Como pregar e ensinar com base na literatura de sabedoria Anexo 1 Anexo 2 Bibliografia
  • 14. Parte 1 POR QUE DEVEMOS PREGAR E ENSINAR COM BASE NO ANTIGO TESTAMENTO?
  • 15. 1 DISSE DEUS Por que devemos nos dar o trabalho de pregar com base no Antigo Testamento? Muitos pregadores quase nunca o fazem. Diversas igrejas passam ano após ano somente com sermões baseados no Novo Testamento e, quem sabe, às vezes, um salmo. Talvez você se pergunte: “O que há de errado nisso? Somos seguidores de Jesus Cristo, e é no Novo Testamento que lemos a seu respeito. E há muito o que pregar do Novo Testamento. Do que mais precisamos?”. E, para ser honesto, o Antigo Testamento é uma coleção difícil de livros. Há muita história, e não gostamos de história, sobretudo quando ela está cheia de nomes estranhos. Há muita guerra e violência, e
  • 16. também não gostamos disso. E ainda tem um monte de questões cerimoniais esquisitas, sobre sacerdotes e sacrifícios, alimentos puros e impuros, bem como leis rígidas com punições terríveis. Como tais costumes antigos teriam condições de se aplicar a nós hoje? E tudo parece dizer respeito a essa única nação “escolhida”, Israel, o que não parece nada justo com o restante do mundo. Uma vez que tudo isso aconteceu antes de Jesus, não seria agora desatualizado e irrelevante? É claro que existem algumas boas histórias, sobre as quais é possível pregar uma mensagem clara e simples. Além disso, alguns dos salmos podem servir de grande incentivo para os fiéis. Tirando isso, porém, pregar um sermão ou ensinar uma lição da escola dominical com base no Antigo Testamento é cansativo demais para o pastor ou professor de estudos bíblicos, além de confuso demais para as pessoas. É muito mais fácil ficar com o que conhecemos: o Novo Testamento. Se é assim que você se sente, permita-me oferecer três razões logo de início que devem fazer você pelo menos querer ir um pouco mais fundo na tentativa de entender o Antigo Testamento e aprender como pregar e ensinar com base nele.
  • 17. O ANTIGO TESTAMENTO VEIO DE DEUS PARA NÓS Se uma autoridade renomada de seu país lhe desse um presente pessoal, imagino que você levaria o objeto para casa com cuidado e o guardaria muito bem. Quem sabe colocaria em uma prateleira para todos verem. Ou suponha que você dê um presente extremamente especial para alguém que você ama mais do que tudo. Trata-se de algo muito caro, e você economizou durante anos para comprar e presentear. Então, a pessoa só dá uma olhada num pedacinho do presente e nem se dá o trabalho de desembrulhar a maior parte. Ela apenas o coloca de lado e esquece. Como você se sentiria? Bem, Deus é mais importante que qualquer pessoa no universo e nos ama tanto que entregou o próprio Filho para nos salvar. E esse é o mesmo Deus que nos deu toda a Bíblia, inclusive aquilo que hoje chamamos de Antigo Testamento. O que Deus sentirá se nós nem sequer nos dermos o trabalho de abrir a maior parte de seu presente? Ele nos presenteou com esses livros. O que revela a nosso respeito o fato de simplesmente os ignorarmos ano após ano?
  • 18. Às vezes, referimo-nos à Bíblia como “as Escrituras”, e é claro que incluímos tanto o Antigo quanto o Novo Testamento nessa expressão. Mas na época em que Jesus e Paulo viveram, quando as pessoas falavam sobre “as Escrituras”, estavam aludindo aos livros que hoje fazem parte do que denominamos Antigo Testamento. Para elas, “as Escrituras” eram o maior presente de Deus a seu povo (atrás somente do Senhor Jesus Cristo). Eles as valorizavam. Eles as estudavam com amor e as ensinavam a seus filhos. Paulo, por exemplo, sabia que seu amigo Timóteo, cuja mãe e avó eram judias, havia aprendido as Escrituras (i.e., o Antigo Testamento) desde a infância e o encorajou a estudá-las com cuidado, a fim de ensinar e pregar sua mensagem com urgência e regularidade. Quando o apóstolo fala sobre as “Sagradas Letras” ou “toda a Escritura”, está se referindo ao todo daquilo que chamamos de Antigo Testamento. Leia o que Paulo diz nesta passagem sobre o Antigo Testamento e observe os motivos que apresenta para Timóteo pregar e ensinar acerca desses escritos:
  • 19. Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. 2Timóteo 3.14—4.2, NVI Paulo diz três coisas que devemos levar a sério. Em primeiro lugar, as “Sagradas Letras” (e lembre-se, ele estava falando do Antigo Testamento) são capazes de tornar as pessoas sábias para a salvação mediante a fé em Jesus Cristo. Elas preparam o caminho para Jesus, o Messias, e mostram como o mesmo Deus que tantas vezes livrou seu povo no passado atua agora por intermédio de Jesus para levar salvação a pessoas em toda parte. Paulo sabia disso porque havia dedicado a vida a trazer pessoas para a fé em Jesus, usando o
  • 20. Antigo Testamento para tecer seus argumentos e provar suas ideias. Logo, o Antigo Testamento não é um “livro morto”. Ele contém salvação e aponta para o Salvador. Segundo, as Escrituras do Antigo Testamento foram “sopradas por Deus”. Essa expressão costuma ser traduzida por “inspiradas por Deus”. Mas Paulo não estava dizendo que os autores eram “inspirados” da maneira como costumamos nos referir a uma bela obra de arte, uma música ou um excelente jogador de futebol. O apóstolo estava falando que as palavras que hoje encontramos no Antigo Testamento foram “expiradas” por Deus. Isso significa que, embora tenham sido ditas e escritas por seres humanos comuns como nós, é como se aquilo que foi dito e escrito tivesse saído da boca de Deus. Suponha que você é um repórter e compareça a uma coletiva de imprensa organizada pelo governo. O porta-voz faz uma declaração. Imediatamente, você pergunta: — Quem é a fonte dessa declaração? O porta-voz responde: — Eu ouvi da boca do presidente [ou primeiro- ministro].
  • 21. Isso significa: “Aquilo que eu falei carrega a autoridade do presidente”. É como se o próprio presidente houvesse pronunciado as palavras. Pode levá--las a sério. O mesmo ocorre com as Escrituras, inclusive com o Antigo Testamento. O que lemos é aquilo que Deus queria dizer. Por isso o Antigo Testamento tem autoridade. É claro que isso ainda nos deixa o trabalho de pensar bastante sobre o que as palavras significavam para aqueles que as ouviram em primeiro lugar e o que elas significam para nós hoje, a fim de descobrir o que devemos fazer em resposta. Sim, temos todo esse trabalho a fazer, mas precisamos fazê-lo e vale a pena o esforço, pois tais textos provêm do próprio Deus. Terceiro, Paulo diz que as Escrituras do Antigo Testamento são “úteis”. Em seguida, apresenta uma lista de como as Escrituras são “úteis” (“para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”). E todas essas coisas devem acontecer dentro da comunidade da igreja para ajudar as pessoas a viver do jeito que Deus quer que vivamos. É por isso que Paulo
  • 22. imediatamente instrui Timóteo a pregar “a palavra”. Não é que o Antigo Testamento funcionava no passado para conduzir as pessoas à fé e à salvação em Cristo. Nada disso. Como ele provém de Deus e carrega consigo a autoridade divina, continua a ser relevante para nós. Nós podemos e devemos usar o Antigo Testamento para o ensino e a instrução para a vida — assim como Paulo instrui Timóteo a fazer. Mais uma vez, é claro que precisamos ser cuidadosos para descobrir como o Antigo Testamento é relevante para nós. Sem dúvida, isso não quer dizer que devemos apenas fazer tudo que diz ali, exatamente como está escrito. Refletiremos sobre isso em capítulos posteriores. Por ora, tudo que precisamos estar de acordo é com o fato de que o Antigo Testamento tem autoridade (porque provém de Deus) e é relevante (porque é “útil” para nossa vida). O ANTIGO TESTAMENTO LANÇA OS ALICERCES PARA NOSSA FÉ Você já chegou a uma reunião prestes a acabar e tentou participar da conversa das pessoas acerca de um tópico importante perto do fim da pauta? Você não sabe o que todos disseram ao longo da última
  • 23. hora, mas os que estão falando pressupõem tudo que já foi mencionado e acordado. É muito fácil que você entenda errado alguma coisa dita no final por não saber o que se passou antes. As pessoas sentadas em volta da mesa não precisam repetir tudo que se passou porque já sabem. Dão como certas todas as questões que já foram debatidas. Mas você não estava ali. Você pode perder um bom acordo e entender errado quase toda a conversa, especialmente se as coisas decididas na primeira parte da agenda foram muito importantes. Se você ler somente o Novo Testamento, é como entrar atrasado numa reunião e perder o debate que aconteceu e as decisões que foram tomadas até então. Isso acontece porque o Novo Testamento pressupõe tudo aquilo que Deus disse e fez durante a história do Antigo Testamento e não necessariamente repete essas coisas. E isso inclui algumas verdades essenciais da fé cristã bíblica. Aqui estão algumas coisas que Deus nos ensina no Antigo Testamento, que então são presumidas no Novo e inseridas no relacionamento com Cristo.
  • 24. Criação. Não só em Gênesis 1 e 2, mas em outras passagens também (em Salmos e em alguns dos profetas), aprendemos a verdade sobre nosso mundo. Ele não é um acidente, uma ilusão ou nada além de átomos. Tudo que existe (com exceção de Deus) foi criado e ordenado pelo único Deus vivo. Toda a criação é continuamente sustentada por ele, pertence a ele e lhe dá glória e louvor. Deus ama tudo que criou. Essas são verdades que o Antigo Testamento ensina e o Novo Testamento presume. Deus. A quem nos referimos quando usamos a palavra “Deus” em português (ou seu equivalente em qualquer outra língua)? A quem os autores do Novo Testamento se referiam quando falavam sobre theos (em grego)? Pode parecer óbvio, mas é uma pergunta muito importante porque existem, é claro, muitos “deuses” e conceitos sobre “Deus” no mundo — tanto naquela época quanto agora. Até mesmo quando dizemos “Jesus é Deus”, a frase pode estar aberta a todo tipo de confusão, a menos que sejamos muito claros acerca do que queremos dizer com a palavra “Deus”. E os escritores do Novo Testamento, sem dúvida,
  • 25. tinham bastante clareza a esse respeito. Eles se referiam ao Deus que se revelou no Antigo Testamento, na história, vida e adoração do Israel do Antigo Testamento. Aludiam ao Deus cujo nome pessoal costuma ser traduzido por “o SENHOR” em português. Eles não repetiram todas as profundezas oceânicas da revelação sobre esse Deus que se encontra nas Escrituras do Antigo Testamento. Simplesmente presumiam. Eles sabiam de quem estavam falando. Por isso, precisamos ler o Antigo Testamento com profundidade, a fim de sabermos quem é o Deus verdadeiro — o Deus que conhecemos quando veio viver entre nós na pessoa de Jesus de Nazaré. De outra maneira, se não o fizermos, podemos acabar associando Jesus a todo tipo de ideias errôneas sobre “divindade” que absorvemos de nosso contexto cultural ou religioso. Nós. Quem nós somos e o que significa ser humano? Mais uma vez, é o Antigo Testamento que nos ensina as verdades básicas a nosso respeito. Somos criaturas (não deuses, nem anjos). Deus, porém, nos criou à sua imagem, de modo que pudéssemos exercer sua autoridade no
  • 26. restante da criação, fazendo bom uso e cuidando dela. Pecado. O que deu errado com o mundo? As religiões e filosofias deste mundo dão muitas respostas diferentes a essa pergunta. O Antigo Testamento deixa claro que nós, seres humanos, nos rebelamos contra o Criador. Recusamo-nos a confiar em sua bondade e escolhemos desobedecer a suas ordens. O Antigo Testamento mostra como nosso pecado se encontra enraizado, afetando todas as partes de nossa personalidade, todas as gerações e todas as culturas. Somente quando entendemos o tamanho do problema (com base no Antigo Testamento), temos condições de compreender o tamanho da solução divina para ele por intermédio de Cristo no Novo Testamento. O plano de Deus. Gênesis 3—11 nos conta o que deu errado com a raça humana, tanto no nível individual quanto étnico. A terra foi amaldiçoada, e as nações foram dispersas. Gênesis 12 revela o que Deus planejou fazer em relação ao problema. Quando chamou Abraão, foi com o intuito de dar início ao grande plano da redenção que ocuparia
  • 27. todo o restante da Bíblia, até o Apocalipse. Deus prometeu transformar a maldição em bênção. Ele o faria primeiro por intermédio do povo de Abraão. No futuro, porém, por meio de Israel, levaria bênçãos a todas as nações da terra e, por fim, restauraria toda a criação — um novo céu e uma nova terra (Is 65.17-25). Esse é o grande plano divino de salvação para o mundo (o mundo de nações e o mundo da natureza), que foi concretizado por Cristo no Novo Testamento. O Novo Testamento nos apresenta a resposta final de Deus, mas é o Antigo Testamento que nos mostra tanto a dimensão do problema quanto a dimensão da promessa de Deus. Logo, temos condições de entender o evangelho de maneira muito mais completa e abrangente quando o vemos primeiro no Antigo Testamento. Portanto, necessitamos estudar e pregar o Antigo Testamento a fim de compreender essas grandes verdades básicas que Deus passou milhares de anos ensinando a seu povo antes de enviar seu Filho ao mundo. Se somente lermos e pregarmos o Novo Testamento, será como desejar morar no andar de
  • 28. cima de uma casa que não tem alicerce, nem os andares de baixo, ou como querer desfrutar o sabor do fruto de uma árvore cortando suas raízes e serrando o tronco. O ANTIGO TESTAMENTO ERA A BÍBLIA DE JESUS Todavia, o motivo mais importante para nossa necessidade de conhecer o Antigo Testamento é que ele era a Bíblia de Jesus. É claro que lemos sobre Jesus no Novo Testamento. Mas Jesus mesmo nunca leu o Novo Testamento! Conforme já observado, para ele as Escrituras eram os livros que agora formam nosso Antigo Testamento. E Cristo os conhecia muito bem. Aprendeu primeiro sobre eles com Maria e José, como qualquer garoto judeu de sua época. Aos doze anos, conhecia tão bem as Escrituras que ficou dias no templo de Jerusalém debatendo-as com adultos, que eram teólogos e eruditos. Os meninos judeus do tempo de Jesus costumavam memorizar livros inteiros do Antigo Testamento. Se fossem bons nisso (e fica claro que Jesus era), saberiam seções inteiras (a Torá, os livros dos profetas) e se qualificariam como “rabinos” — professores. Era assim que chamavam
  • 29. Jesus. Ele conhecia as Escrituras tão bem quanto suas ferramentas de carpinteiro. Quando chegou o momento de começar seu ministério público, após ser batizado no Jordão por João Batista, Jesus foi para o deserto, onde permaneceu sozinho por quarenta dias e lutou diante da imensa tarefa que se encontrava à sua frente. O que ele ficou fazendo ali durante todo esse tempo? Bem, quando Satanás o tentou para que tomasse um rumo diferente do que ele sabia ser necessário para obedecer ao Pai, Jesus respondeu três vezes com citações das Escrituras. Todos os três textos que Jesus citou vêm de Deuteronômio 6 e 8. Isso sugere que ele estava refletindo profundamente sobre os desdobramentos de toda essa seção de Deuteronômio (1—11) para si mesmo e sua missão. E, ao longo de seu ministério, até a cruz e após a ressurreição, Jesus insistiu no fato de que as Escrituras deviam se cumprir. Todo o entendimento que ele tinha sobre si — sua vida, sua missão e seu futuro — estava fundamentado em sua leitura das Escrituras, o Antigo Testamento. Você já foi à Terra Santa ou sentiu vontade de conhecê-la? Algumas pessoas vão até lá em
  • 30. peregrinação porque dizem (ou os panfletos de propaganda o fazem) que isso as levará para mais perto de Jesus, ao andarem na terra pela qual ele caminhou, verem os montes que ele conheceu, se assentarem junto ao mar da Galileia, e assim por diante. Bem, sem dúvida a história ganha vida quando você visita a terra onde boa parte dessas ações se desenrolou. Se tiver essa oportunidade, aproveite-a. No entanto, se quiser conhecer Jesus de verdade, entender o que preenchia sua mente e dirigia suas intenções, existe uma maneira melhor do que fazer uma peregrinação em Israel (e custa bem mais barato!): leia a Bíblia que Jesus lia. Leia o Antigo Testamento. Pois nele estão as histórias que Jesus ouvia quando era criança. Nele se encontram os cânticos que ele cantava. Esses eram os rolos lidos toda semana na sinagoga que ele frequentava. Essas eram as visões proféticas que deram esperança para seu povo por gerações. Foi nele que Cristo discerniu o grande plano e propósito de Deus para seu povo Israel e, por meio deste, para o mundo. Foi nele que Jesus encontrou os textos originais que moldaram quem ele era e o que viera fazer.
  • 31. Ora, naturalmente, lembramos que Jesus era o Filho de Deus e que ele tinha um relacionamento muito direto e próximo com Deus, seu Pai. Sem dúvida, ele entendia a si mesmo e sua missão numa forma de consciência divina. No entanto, Lucas nos diz duas vezes que Jesus desenvolveu-se como uma criança normal, humana, crescendo em capacidade física, mental e espiritual (Lc 2.40,52). Creio que isso deve ter incluído o crescimento na compreensão mediante o estudo das Escrituras. Seja como for, ele com certeza usou as Escrituras do Antigo Testamento para explicar a si mesmo aos discípulos e ajudá-los a entender o significado de sua vida, ministério, morte e ressurreição para Israel e para o mundo — não apenas durante o período de sua existência, mas especialmente depois de sua ressurreição (Lc 24). Assim, se Jesus fez isso, não deveríamos seguir seu exemplo? Não deveríamos “pregar a Cristo” do modo como Cristo pregou a si mesmo — ou seja, usando as Escrituras? Nos próximos dois capítulos, veremos como o Antigo Testamento é importante para compreender Jesus. Precisamos do Antigo Testamento para entender a história e a promessa que Jesus cumpriu. E precisamos do Antigo Testamento
  • 32. para entender quem Jesus acreditava ser e o que tinha vindo fazer. PERGUNTAS E EXERCÍCIOS 1. O que você diria a alguém que desconsidera o Antigo Testamento, talvez lhe dizendo que não se dê o trabalho de pregar ou ensinar sobre ele, porque, segundo essa pessoa, “Agora somos cristãos do Novo Testamento. Temos Jesus. Não precisamos mais do Antigo Testamento”? 2. Faça uma lista breve dos ensinos essenciais da fé cristã. Quantos deles são ensinados no Antigo Testamento? O que não saberíamos (ou não saberíamos com clareza) se não tivéssemos o Antigo Testamento? 3. Prepare um sermão ou uma lição sobre 2Timóteo 3.14-16. Deixe claro que Paulo estava falando sobre as Escrituras do Antigo Testamento. Explique o que ele diz sobre sua fonte, sua autoridade, seu poder e sua utilidade. Qual será sua lição principal — a principal ação que você deseja que seus ouvintes coloquem em prática em decorrência de seu ensino?
  • 33. 2 A HISTÓRIA E A PROMESSA A jornada levava dez horas de estrada em um micro- ônibus! Era um grupo de pastores, e a viagem que eles faziam os levava de Guayaquil, na costa do Equador, no Pacífico, até a capital Quito, a quase três mil metros de altitude. Chegaram para participar do seminário de pregação do Instituto Langham, do qual eu era um dos facilitadores. Quando soube da longa jornada que haviam percorrido, senti o desejo de ensinar da melhor maneira possível e fazer a viagem deles valer a pena! O DESTINO DA JORNADA
  • 34. Imagine que você tivesse parado o micro-ônibus em algum ponto do caminho e perguntado aos passageiros: — Para onde vocês estão indo? — Para Quito! — eles teriam respondido, em tom alegre ou cansado. Você ouviria a mesma resposta, caso os parasse e perguntasse perto do início da jornada, em algum ponto no meio do caminho ou próximo ao final. A jornada inteira, do início ao fim, teria o mesmo destino: Quito. A estrada era sinuosa. Talvez tenham precisado fazer alguns desvios. Em alguns momentos, durante o trânsito pesado, talvez parecesse que não estavam avançando. Em outros, podem ter parado para um intervalo e saído para admirar a vista. É possível que, em algum lugar, tenha havido um deslizamento de terra ou bloqueio de estrada e, por isso, precisaram voltar e tomar uma rota diferente. Mas não importa o que tenha acontecido durante a jornada, por mais longa e complicada que tenha se tornado, o destino continuava a ser o mesmo. Por fim, chegaram ao destino. E o destino era o fim da jornada. O Antigo Testamento é uma jornada que conduz a
  • 35. um destino, e esse destino é Jesus Cristo. Foi uma jornada bem longa, com muitas voltas e curvas, paradas e partidas. Essa jornada foi interrompida e ameaçada por todo tipo de coisas e pessoas ruins. Envolveu muito mais gente do que cabe em um micro-ônibus e muito mais quilômetros do que de Guayaquil a Quito. E não demorou dez horas, mas, sim, vinte séculos! Essa jornada envolveu a história de uma nação inteira — Israel — inserida na história de muitas outras nações. Mas não importa onde você entre na jornada, se perto do início, no meio ou chegando ao fim, a direção é sempre a mesma. Trata- se da história de Deus conduzindo o povo de Deus ao Messias de Deus, Jesus de Nazaré. Essa é a direção constante do movimento. Jesus é o destino. O Antigo Testamento conta a história que Jesus completa. Você já se perguntou por que Mateus começa seu relato da maneira como o faz? No primeiro versículo, ele nos conta que quer falar sobre Jesus. Então, por que não vai direto a 1.18, “Foi assim que nasceu Jesus Cristo”? Não é isso que queremos saber? Por que começa com Abraão e nos apresenta uma lista inteira de pais e filhos por 42 gerações? Bem, porque todos esses nomes fizeram parte da grande história do
  • 36. Antigo Testamento. Alguns foram reis da linhagem de Davi — e Jesus foi o prometido Filho de Davi, que seria o verdadeiro Rei de Israel. Todos eles eram descendentes de Abraão, e Jesus seria aquele por meio de quem se cumpriria a promessa de abençoar todas as nações da terra mediante o povo de Abraão. Logo, Mateus está dizendo ao leitor: “Quer conhecer Jesus? Muito bem! Mas você só entenderá quem é Jesus quando perceber que ele veio como o fim da grande história representada por essa genealogia. Essa é a jornada que leva até Jesus. Ele é o destino da grande jornada histórica que começou com Abraão. A fim de compreender o sentido de Jesus, primeiro você precisa entender esse ponto de partida e essa jornada”. Voltando à jornada que os pastores fizeram, poderíamos dizer o seguinte: a jornada (de Guayaquil) só fazia sentido por causa do destino (Quito). Caso eles não tivessem destino, estariam apenas dirigindo de um lado para o outro sem motivo. Do mesmo modo, o Antigo Testamento, considerado como um todo, só faz sentido à luz de seu destino: Jesus Cristo. Não se trata de uma mera miscelânea de histórias. Não é um livro de literatura
  • 37. infantil, sem conexão ou direção. (Infelizmente, é assim que algumas pessoas usam a Bíblia e algumas igrejas a ensinam. É dessa forma que muitos cristãos veem o Antigo Testamento, uma mera miscelânea de histórias, e algumas delas não muito boas.) Nada disso! Na verdade, o Antigo Testamento é uma única narrativa longa e complexa, com muitas histórias menores dentro dela, que conduz, em última instância, a Jesus e só faz sentido quando chega ao destino nele. Eu disse “longa e complexa”? Sim, de fato é. E é isso que deixa as pessoas confusas. O Antigo Testamento contém tantos tipos diferentes de escrita e tantas pequenas histórias que é fácil se perder. Certa vez, meu pai ficou perdido na floresta Amazônica. Ele era missionário e trabalhava com várias tribos indígenas ali, antes que estradas e aviões a tornassem acessível, e estava viajando a pé. Era aterrorizante, ele dizia. Debaixo da copa de tantas árvores, não é possível se orientar pelo sol. Às margens do rio, sem uma bússola, não dá para saber em que direção ele está fluindo. O Antigo Testamento é vasto e complexo como o Amazonas. Não se trata de um aqueduto construído com toda organização em linhas retas que
  • 38. vão diretamente de um lugar para o outro. Contudo, em meio a tantas curvas, reviravoltas e afluentes, o Amazonas consiste em um grande corpo de água, acumulando volume de várias fontes ao longo do caminho, mas sempre se movendo na mesma direção. Por fim, chega ao oceano Atlântico. Esse é o destino final. De igual modo, o Antigo Testamento, com seus vários braços e afluentes, se move em apenas uma direção: rumo a Jesus Cristo. Além de ver o Antigo Testamento como uma história que só faz sentido à luz de Jesus, também precisamos entender Jesus à luz da história que se passou. Cristo veio ao mundo por causa de tudo que havia acontecido na história até então. É por isso que precisamos ler, entender, ensinar e pregar o Antigo Testamento. Nós o fazemos por causa de Cristo. Essa é a história dele. É como se fosse seu DNA. O PROPÓSITO DA JORNADA Suponha que, ao parar o micro-ônibus, depois de os passageiros informarem para onde estavam indo (para Quito, o destino), você lhes fizesse mais uma pergunta: — Por que vocês estão indo para Quito?
  • 39. Eles responderiam: — Porque semana que vem acontecerá o seminário de pregação do Instituto Langham, e queremos participar. Logo, a jornada daquele grupo tinha não apenas um destino, mas também um propósito. Um evento empolgante aconteceria em Quito, e eles haviam planejado estar lá. Durante as longas horas da jornada, pensavam no que se encontrava à frente deles, cheios de expectativa. A jornada valia a pena porque algo bom os esperava. Era uma jornada longa, mas promissora. Aliás, em certo sentido, a jornada começou bem antes de o grupo entrar no micro-ônibus. Muito tempo antes, eles receberam uma carta falando sobre o seminário em Quito, convidando-os a comparecer e participar, com a promessa de que seriam momentos de bastante ensino e comunhão. Eles seriam ricamente abençoados e fortalecidos se fizessem a jornada e participassem. Logo, toda a jornada, toda a preparação arrumando malas, viajando, suportando cada desconforto e dificuldade do caminho — tudo isso foi feito em resposta a um convite e uma promessa, com fé (confiando na promessa dos
  • 40. organizadores) e esperança (olhando adiante para as coisas boas que o seminário faria por eles no futuro, quando chegassem). O Antigo Testamento é assim. Não se trata apenas de uma jornada no tempo, de uma longa sequência de coisas acontecendo uma após a outra até chegar ao fim quando Jesus viesse. Ele também consiste em uma jornada com propósito e objetivo. A vinda de Cristo não era apenas o fim da jornada, mas todo o seu propósito. Ele foi não só o destino, mas também o cumprimento. Assim como os pastores de Guayaquil receberam uma carta prometendo-lhes o que aconteceria em Quito e motivando-os a fazer a jornada, o Antigo Testamento apresenta a promessa de Deus. E, quando Jesus veio, Deus cumpriu sua promessa. O Antigo Testamento declara a promessa que Jesus cumpre. Voltemos para os dois primeiros capítulos de Mateus. Por cinco vezes, Mateus nos conta uma história de quando Jesus era criança e imediatamente prossegue com uma referência ao Antigo Testamento. E, em cada uma dessas vezes, ele diz que um texto do Antigo Testamento se cumpriu de alguma maneira. A tabela mostra todos os eventos juntos. Separe um
  • 41. momento para ler os versículos de Mateus e então conferir a citação do Antigo Testamento ao lado de cada passagem. Mateus Evento “Cumprimento de” 1.22- 23 Anúncio do nascimento e nome Isaías 7.14 2.5-6 Nascido em Belém Miqueias 5.2-4 2.14- 15 Levado para o Egito Oseias 11.1 2.16- 18 Matança dos meninos em Belém Jeremias 31.15 2.23 Infância em Nazaré incerto Por que Mateus faz isso? Bem, em primeiro lugar, fica claro que ele não estava simplesmente citando predições. Somente uma das passagens do Antigo Testamento é uma predição aberta que se
  • 42. cumpriu diretamente em Jesus. É a de Miqueias, dizendo que o futuro rei de Israel nasceria em Belém. Isaías estava dando um sinal ao rei Acaz de que logo nasceria uma criança que receberia o nome de “Emanuel” (“Deus conosco”) porque, dentro desse intervalo, os inimigos que ameaçavam o reino de Judá (Israel e Síria) seriam derrotados. Mateus enxerga o significado messiânico mais profundo no nome (“Emanuel”) e no fato de que a jovem que deu à luz Jesus de fato era virgem na época da concepção e do nascimento. (Não foi uma predição e cumprimento diretos porque, nessa ocasião, o filho de Maria não recebeu o nome de “Emanuel”, mas, sim, de “Jesus”. A importância reside no significado da palavra “Emanuel”. Jesus é, de fato, “Deus conosco”.) Oseias não estava fazendo nenhuma predição para o futuro; em vez disso, referia-se ao fato de Deus ter tirado Israel do Egito por ocasião do êxodo, no passado. Jeremias estava falando sobre o povo de Judá indo para o exílio em 587 a.C. Ao passarem pela sepultura de Raquel, o profeta a imagina
  • 43. chorando (dentro do túmulo) por seus descendentes sofredores. No entanto, o versículo seguinte de Jeremias diz a Raquel que seque as lágrimas, pois seus filhos retornariam. O exílio chegaria ao fim. A última passagem de Mateus é meio enigmática, pois nenhum texto parece trazer exatamente as palavras: “Ele será chamado nazareno”. Então, o que Mateus estava fazendo, se a maioria desses textos não consistia em predições diretas? Ele nos mostra que, até mesmo durante a infância de Jesus, alguns acontecimentos de sua vida chamavam a atenção para as Escrituras do Antigo Testamento. Ele considera todo o Antigo Testamento uma grande promessa de Deus. Tudo nele fala sobre o compromisso de Deus com seu povo (e, por intermédio de Israel, com o mundo inteiro). Assim, mesmo o bebê Jesus teve uma “experiência de êxodo” que lembra como Deus havia resgatado Israel do Egito. E a chegada de Jesus foi como o fim do exílio (pondo fim às lágrimas de Raquel). E, o melhor de tudo, em Jesus, Deus verdadeiramente veio a ser
  • 44. “conosco”. O Antigo Testamento declara a promessa que Jesus cumpre. Neste momento, pode ser útil pensar rapidamente na diferença entre uma predição e uma promessa. Uma predição é algo bem direto. Eu posso predizer algo que acontecerá em algum momento do futuro. Se acontecer, minha predição será verdadeira. Se não acontecer, ou minha predição estava errada ou ainda não se cumpriu. Uma predição pode ser feita acerca de algo completamente externo e alheio a mim. Não preciso me envolver em nada. Mas, se eu fizer uma promessa a alguém, é bem diferente. Eu me comprometo em um relacionamento com essa pessoa, pelo menos no que diz respeito àquilo que prometi. Não é apenas uma questão de minha promessa “se tornar realidade” ou não. Em vez disso, diz respeito ao fato de eu ser confiável ou não. Minha integridade está envolvida. Minha reputação está em jogo. Minha palavra é testada. Uma promessa muda tudo. Quando eu lecionava no All Nations Christian College, costumava explicar a diferença entre uma predição e uma promessa para a classe da seguinte maneira. Eu dizia: “Posso predizer que pelo menos um dos homens desta sala se casará com uma destas
  • 45. mulheres até o fim do ano. (Era uma predição bastante segura. Todos os anos alguns alunos chegavam solteiros à faculdade e iam embora casados!) Mas, como é uma predição, não estou envolvido pessoalmente de nenhuma maneira. Caso, porém, um dos homens e uma das mulheres que aqui estão disserem um para o outro, em um dia muito especial: ‘Aceito você como meu marido/minha esposa para amar e cuidar na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, por todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe’, isso não é apenas uma predição. Trata-se de uma promessa, que mudará a vida deles para sempre”. Uma promessa desse tipo expressa compromisso e intenção de longo prazo. Essa é outra questão. Uma predição pode se tornar realidade (ou não), e acabou. Mas uma promessa pode continuar a se cumprir por um longo período, de diversas maneiras novas em circunstâncias diferentes. Estou casado há 46 anos. Minha esposa e eu fizemos promessas um para o outro em agosto de 1970. Não precisamos repeti-las ou mudá-las toda vez que algo novo acontece em nossa vida ou em nossa família. A promessa prossegue, expande-se, assume novos níveis de
  • 46. compromissos e se “cumpre” de tantas maneiras que jamais poderíamos sonhar no dia do nosso casamento. O mesmo acontece com o Antigo Testamento. Deus declarou sua promessa lá em Gênesis. Ali no jardim do Éden, logo depois de Adão e Eva pecarem, Deus afirmou que a descendência da mulher um dia esmagaria a cabeça da serpente. Depois, com clareza ainda maior, em Gênesis 12.1-3, Deus prometeu que todas as nações da terra seriam abençoadas por intermédio dos descendentes de Abraão. Essa é uma promessa tão importante que Paulo chegou a chamá- la de evangelho preanunciado (Gl 3.8). Não se trata de mera predição. É algo com que Deus se comprometeu. É uma promessa que ele cumprirá por causa da própria integridade e fidelidade confiável. Deus investiu o próprio caráter nessa promessa. A partir de então, toda a história do Antigo Testamento é impulsionada adiante por essa promessa. A palavra “aliança” é usada para se referir às grandes promessas que Deus fez na Bíblia. Elas vêm em sequência e estão ligadas umas às outras. Pode-se dizer que a grande promessa de Deus segue sendo cumprida e depois “realimentada” para outra
  • 47. parte da jornada. É possível delinear toda a história bíblica como uma corrente, com elos que são formados na sequência das alianças, isto é, cada aliança tem uma renovação adicional ou expansão da promessa de Deus.1 Aliança com Noé. Aliança com Abraão. Aliança com Israel no monte Sinai. Aliança com Davi. A nova aliança, prometida pelos profetas e inaugurada por Jesus. Assim, quando finalmente viramos a página de Malaquias para Mateus, a mensagem é: “Tudo que Deus prometeu está se tornando realidade!”. Até agora, analisamos apenas Mateus 1—2, mas, ao ler o restante desse evangelho, você verá que o autor continua a destacar esse ponto vez após vez. Lucas faz o mesmo com empolgação ainda maior em Lucas 1. Esse capítulo se encontra repleto de ecos e citações das Escrituras do Antigo Testamento. Aliás, quando Maria, mãe de Jesus, e Zacarias, pai de João Batista, entoaram seus cânticos de júbilo, ambos celebraram
  • 48. como Deus havia se “lembrado”. Eles não estavam dizendo que Deus se esquecera deles até então, mas, sim, que agora ele agiria para cumprir as grandes promessas que fizera desde Abraão (1.54-55,72-73). E, no final do evangelho, Lucas nos mostra Jesus ajudando seus discípulos a ver que todo o Antigo Testamento apontava para ele (Lc 24.25-27,44-48). Logo, você pode ver que não é suficiente dizer que o Antigo Testamento contém algumas predições messiânicas interessantes que se tornaram verdadeiras em Jesus (p. ex., que ele nasceu em Belém). Em vez disso, o Antigo Testamento revela o compromisso de Deus, a aliança de Deus e a promessa de Deus (feita primeiro a Israel, mas depois para o mundo inteiro — para todas as nações, conforme Deus disse a Abraão). No próximo capítulo, refletiremos sobre quem Jesus pensava que era e o que Jesus pensava que viera fazer. Uma vez, porém, que o próprio Cristo respondeu a essas duas perguntas usando citações do Antigo Testamento, precisamos fazer o mesmo. Isto é, se quisermos entender de forma plena o que Jesus conquistou, precisamos entender de forma plena o que Deus prometeu fazer (a promessa feita no Antigo Testamento). E, para entender o que Deus prometeu
  • 49. fazer, precisamos entender o problema que ele se propôs solucionar (o problema apresentado bem no início do Antigo Testamento). E, para entender esse problema, precisamos voltar ao princípio de tudo. É isso que faremos agora. A HISTÓRIA EM SÍMBOLOS2 Na verdade, a Bíblia inteira (não só o Antigo Testamento) é uma grande história. Tem princípio (criação), fim (nova criação, que, aliás, é um novo princípio) e meio (a longa história da redenção dentro da história, centrada em Cristo). “A Bíblia inteira é uma única história? Simplesmente não consigo entender”, disse uma mulher, membro da igreja de Phoenix, Arizona, da qual Chris Gonzalez era pastor. Ele estava de pé perto da escrivaninha de trabalho dela nessa ocasião. No calor do momento, pegou um envelope usado e, no verso, desenhou os símbolos mostrados no diagrama, explicando enquanto prosseguia. “Aqui está toda a história da Bíblia”, disse, “bem aqui, no verso de um envelope.”
  • 50. A Bíblia é semelhante a um drama com seis atos ou cenas. Ato 1: Criação. A seta voltada para baixo aponta para o momento em que Deus desceu, por assim dizer, e criou a terra (Gn 1—2). A criação inclui, é claro, todo o universo espaçotemporal, mas a Bíblia se concentra em como Deus criou a terra na qual vivemos. Ele a fez para funcionar perfeitamente, com dias e noites, clima e estações e com toda abundância do solo, mar e céus. Deus a formou tanto para ser o lugar onde nós, seres humanos, habitaríamos, como sua imagem e semelhança nela, quanto para ser o local onde ele poderia viver conosco. A criação era como um vasto templo para Deus morar, enchendo-a com sua glória e toda diversidade de vida. Ato 2: Queda. A cruz em forma de X indica algo errado. E, de fato, as coisas deram errado. Gênesis 3 —11 conta como o pecado e o mal entraram na
  • 51. experiência dos seres humanos. Escolhemos nos rebelar contra Deus, questionar sua bondade e rejeitar sua autoridade. Como resultado, toda a nossa vida na terra e o próprio planeta em si foram infectados por nosso pecado e suas consequências. Ato 3: Promessa. Em um mundo que deu errado (e que vai de mal a pior), Deus prometeu acertar as coisas. Em um mundo sob maldição, Deus prometeu bênção. A promessa de Deus a Abraão em Gênesis 12 dá início a todo o restante da história da Bíblia, mas, de maneira especial, à história de Israel no Antigo Testamento. Deus planejou levar bênção e salvação ao mundo por meio desse povo. Isso não quer dizer que, de alguma maneira, Israel salvaria o mundo. O Antigo Testamento mostra que, como povo, os israelitas eram tão pecadores e necessitados da salvação quanto qualquer outra nação. Isso significa que Deus usaria Israel como meio de levar a salvação ao mundo, uma salvação que, segundo sabemos, só seria efetuada por intermédio de Jesus, o Messias de Israel. Como temos afirmado, o Antigo Testamento inteiro é semelhante a uma jornada com destino e propósito, toda ela conduzindo a Jesus Cristo. Trata-
  • 52. se de uma história de promessa e esperança, mesmo em meio à continuidade do mal e do pecado. Ato 4: Evangelho. Encontramos aqui o centro de todo o drama da Bíblia. Em fidelidade à sua promessa a Israel, Deus enviou Jesus como o Messias de Israel e (portanto) o Salvador do mundo. O evangelho é a boa-nova de tudo que Deus realizou por meio do nascimento, da vida, dos ensinos, da morte, ressurreição e ascensão de Jesus de Nazaré. O símbolo da cruz tem aqui a intenção de incluir tudo que se encontra nas narrativas dos Evangelhos (não só a cruz do Calvário em si). Ato 5: Missão. Depois dos Evangelhos vem Atos, contando como Deus derramou o Espírito Santo no dia de Pentecostes, a fim de dar poder aos discípulos de Jesus para cumprir a missão de testemunhar dele a todas as nações, até os confins da terra. A comunidade do povo de Deus, que Deus chamou à existência por intermédio de Abraão (inicialmente o Israel do Antigo Testamento), agora inclui tanto judeus quanto gentios que têm fé em Jesus Cristo. Podemos chamar o Ato 5 de era da igreja, mas devemos lembrar que a igreja não começou apenas no Novo Testamento. Se estamos “em Cristo”, então
  • 53. fazemos parte do povo de Abraão (Gl 3). E a razão de nossa existência como povo de Deus permanece a mesma. Nossa missão é participar da missão divina de levar bênçãos a todas as nações da terra. É claro que o Novo Testamento não conta a história toda até a segunda vinda de Cristo. Ele mostra como Deus cumpriu sua promessa ao Israel do Antigo Testamento ao enviar Jesus e como Cristo salvou o mundo inteiro por meio de sua morte e ressurreição. É tarefa da igreja, pelo poder do Espírito, levar as boas-novas da salvação aos confins da terra, como Jesus ordenou. É aí que nós entramos. Fazemos parte da continuação da história no Ato 5. Somos parceiros de Deus em seu grande projeto através de nossa vida e obra cotidianas. Vivemos entre a obra da redenção concluída por Cristo, no Ato 4, e o momento em que ele voltará para tornar realidade a grande cena final da Bíblia, o Ato 6. Ato 6: Nova criação. A seta final do diagrama simboliza o retorno de Cristo. Desde o começo, Deus se preocupava com toda a criação. Gênesis 1—2 (os dois primeiros capítulos da Bíblia) conta como Deus criou “no princípio”. Apocalipse 21—22 (os dois últimos capítulos) relata como Deus purificará e
  • 54. restaurará a criação, transformando-a no lugar onde ele habitará com seu povo remido de todas as nações e onde todo sofrimento, mal, pecado, morte e maldição não mais existirão. Essa promessa também foi feita lá no Antigo Testamento (Is 65.17-25) e já se cumpriu, em antecipação, mediante a morte e ressurreição de Jesus (Cl 1.15-20). Logo, embora seja nesse momento que a história da Bíblia termina, não se trata, de fato, do “fim do mundo”, mas, sim, de um novo princípio. Será o fim do mundo de pecado, mal e rebelião contra Deus, mas o princípio de uma nova criação que durará para sempre. Talvez você esteja pensando que a seta final devesse apontar para cima, não para baixo, a fim de retratar que iremos para o céu. Na verdade, porém, não é assim que a Bíblia termina. Ela não nos retrata indo para algum lugar distante, mas apresenta Deus descendo à terra (Ap 21.1-5), transformando-a na cidade de Deus. Outras passagens falam sobre o fogo do juízo de Deus (2Pe 3), mas não se trata de um fogo que destrói toda a criação. Em vez disso, ele a purifica de todo pecado e mal, para que possa ser limpa, restaurada e fique pronta para que Deus viva conosco novamente (é isso que ele anuncia em Ap
  • 55. 21.3). O significado do nome “Emanuel” se aplica tanto à segunda vinda de Cristo quanto à primeira. Quer dizer “Deus [vindo aqui para estar] conosco”, não “nós [indo a algum lugar para estar] com Deus”. PREGAÇÃO E ENSINO DENTRO DA HISTÓRIA Como tudo isso afeta nossa pregação e ensino, sobretudo no que diz respeito ao Antigo Testamento? Significa que agora vivemos e pregamos nossos sermões em algum ponto do Ato 5, mas pregamos a Palavra de Deus entregue no decorrer do Ato 3 (o Antigo Testamento), à luz do que aconteceu no Ato 4 (os Evangelhos) e na expectativa do que acontecerá no Ato 6 (a nova criação). Não estou sugerindo, é claro, que nossos sermões se encontram no mesmo nível da própria Bíblia! Há alguns pregadores que parecem pensar assim. Mas devemos ter total clareza de que o texto da Bíblia é a Palavra de Deus única e completa, com autoridade final. Não podemos dizer ou pregar nada que chegue a esse mesmo nível e nunca devemos alegar que as palavras que pregamos são, em si, a Palavra de Deus. O que quero dizer é que nós, pregadores,
  • 56. professores e as pessoas a quem servimos, vivemos dentro da estrutura de toda a história bíblica. Participamos do Ato 5 do drama bíblico, que começou no dia de Pentecostes e continuará até a volta de Cristo. Nossa pregação e nosso ensino devem ter o objetivo de capacitar nossos ouvintes a se engajar no mundo como povo de Deus. Essa é a missão deles. É isso que Deus os chamou para ser e fazer. Nossa missão é fortalecê-los nesse papel e nessa tarefa. Nós, cristãos, somos o povo definido e moldado por aquilo que Deus fez por intermédio de Cristo no Ato 4. E vivemos neste mundo na expectativa do Ato 6. É dentro dessa história que vivemos — como cristãos, de modo geral, e professores ou pregadores da Bíblia em particular. Quando nos enxergamos como participantes de toda a história da Bíblia dessa maneira, isso nos ajuda a lembrar que, ao pregar e ensinar sobre o Antigo Testamento, não estamos tratando apenas de várias histórias, canções e profecias velhas do antigo Israel, coisas remotas e distantes. Não, o Antigo Testamento é o Ato 3 de um único grande drama no qual agora vivemos. Eles viveram no Ato 3. Nós vivemos no Ato 5. Mas todos nós vivemos dentro da mesma grande
  • 57. história bíblica. A história deles faz parte da nossa história. Somos juntos o povo de Deus. E o que nos liga a eles, e eles a nós, é o Ato 4 — os acontecimentos do evangelho. Aquele foi o cumprimento da parte deles na história e o início de nossa parte nela. O Antigo Testamento também contém, é claro, os Atos 1 e 2, a criação e a queda. E, embora sejam momentos definidos dentro da grande história, eles também definem “onde nós estamos agora”. Ainda vivemos dentro da criação de Deus como responsáveis mordomos dos recursos da terra que ele criou. E a raça humana inteira ainda vive em rebelião pecaminosa contra Deus. Por isso, nossa pregação e nosso ensino também devem explicar essas realidades e seus desdobramentos. Em particular, eles devem mostrar, a todo momento, como as realidades do pecado e do mal (presentes no mundo desde o Ato 2) nos levam a compreender nossa necessidade da solução divina para esses problemas fundamentais (no evangelho do Ato 4). No próximo capítulo, pensaremos em mais detalhes sobre como nossa pregação e o ensino do Antigo Testamento deveriam conduzir as pessoas a Cristo — de muitas maneiras
  • 58. diferentes, mas, em essência, porque é para ele que o Antigo Testamento em si conduz. Resumindo este capítulo, vimos o seguinte: Comparamos o Antigo Testamento a uma jornada que tem não só um destino a alcançar, mas também um propósito a cumprir. Jesus é esse destino. E Cristo cumpriu o propósito que Deus havia declarado no Antigo Testamento. Ou seja, o Antigo Testamento conta a história de Israel que Jesus completa, e o Antigo Testamento declara a promessa de Deus a Israel que Cristo cumpre. Depois, vimos que o Antigo Testamento em si faz parte da história bíblica como um todo. Essa “grande história bíblica” contém a história do evangelho de Jesus Cristo bem no centro e termina com o retorno de Cristo e a nova criação. Necessitamos pregar e ensinar de tal modo que as pessoas não só compreendam toda a história da Bíblia, como também enxerguem seu lugar dentro e à luz dela. PERGUNTAS E EXERCÍCIOS
  • 59. 1. Como você explicaria a alguém que o Antigo Testamento não é apenas cheio de predições sobre Jesus, mas, em vez disso, declara a promessa de Deus, a qual Jesus veio cumprir? 2. Discuta a ideia de que a Bíblia consiste em um drama em seis atos ou etapas. Como essa estrutura (e os símbolos que a acompanham) pode ser útil para explicar “do que a Bíblia fala” para (a) um cristão recém-convertido e (b) alguém que ainda não crê, mas se interessa pela fé cristã? 3. Prepare um sermão ou uma série de seis sermões ou lições para ilustrar cada ato do “Drama da Bíblia em Seis Atos”. Escolha com cuidado textos- chave que resumam cada um dos seis atos.
  • 60. 3 COMO ENTENDER JESUS POR MEIO DO ANTIGO TESTAMENTO No capítulo 2, comparamos o Antigo Testamento a uma jornada que conduz a Cristo. Sempre que lemos ou nos preparamos para pregar ou ensinar sobre o Antigo Testamento, estamos olhando adiante, na direção da viagem, pensando no destino de toda a jornada. Mas, quando chegamos ao destino, e aí? Quando chegamos aos Evangelhos e encontramos Jesus ali, podemos simplesmente esquecer a jornada e jogar fora a passagem usada? Podemos ignorar o Antigo Testamento daí para a frente, agora que conhecemos o próprio Jesus? Não se quisermos seguir o exemplo do próprio Jesus e dos quatro homens que
  • 61. nos deixaram seus relatos do evangelho, Mateus, Marcos, Lucas e João. Para Jesus e seus seguidores (inclusive o apóstolo Paulo), o Antigo Testamento era essencial para compreender a identidade e a missão de Jesus, isto é, quem ele era e o que veio fazer. Por isso, a principal ideia deste capítulo é salientar um motivo muito importante para pregar e ensinar sobre o Antigo Testamento: as pessoas necessitam conhecê-lo a fim de entender Jesus, tanto da maneira como ele compreendia a si próprio quanto do modo como seus primeiros seguidores o explicaram.1 QUEM JESUS PENSAVA QUE ERA? Jesus despertava muitos questionamentos na mente das pessoas. Certa vez, quando acalmou a tempestade que quase fez afundar o barco onde estava, os discípulos ficaram tão atônitos que perguntaram sem cerimônia: “Quem é este homem? Até o vento e o mar lhe obedecem!” (Mc 4.41). Essa era a pergunta certa. Quem é este homem? Jesus tinha interesse em saber como as outras pessoas respondiam a essa pergunta, por isso questionou os discípulos: “Quem as pessoas dizem que o Filho do
  • 62. Homem é?” (Mt 16.13). Ao que parece, alguns pensavam que ele era João Batista que voltara a viver após ser morto por Herodes. Mas a maioria olhava ainda muito mais para trás — para as Escrituras. Jesus lembrava Elias, Jeremias ou um dos profetas. Tais suposições estavam parcialmente corretas. Cristo de fato foi um profeta, falando a palavra de Deus ao povo. Tinha poder para curar, assim como Elias. Tinha uma mensagem que lhe provocou sofrimento e rejeição, o que aconteceu com Jeremias. Por isso, quando as pessoas ao redor tentaram desvendar quem ele era, bem como tudo que fazia e dizia, procuravam respostas nas Escrituras, ou seja, no Antigo Testamento. Jesus estava ainda mais interessado em como seus discípulos responderiam à pergunta, por isso lhes indagou: “E vocês? [...] Quem vocês dizem que eu sou?” (16.15). E Pedro respondeu: “O senhor é o Cristo” (v. 16). Isso quer dizer, o Messias, o ungido por Deus para cumprir seu propósito, aquele que deveria vir em cumprimento a várias promessas do Antigo Testamento. E Jesus concordou com a resposta de Pedro, dizendo que Deus a havia revelado ao discípulo (v. 17). Jesus sabia que, de fato, ele era o
  • 63. ungido. Todavia, ainda não queria que os discípulos saíssem proclamando isso (v. 20). Por que não? Parece que muitas pessoas nutriam a ideia de que, quando o Messias viesse, lideraria uma grande campanha militar vitoriosa contra seus inimigos. E isso não fazia parte do plano de Jesus, de jeito nenhum. Ele via seu messiado de maneira bem diferente — uma forma não muito atraente para Pedro (v. 21-28). E como Deus, o Pai, respondeu a essa pergunta? Mateus, Marcos e Lucas registram o batismo de Jesus. Foi um momento maravilhoso, no qual toda a Trindade se envolveu. Ali estava Deus, o Filho, saindo do rio Jordão. Ali estava Deus, o Espírito, descendo em forma de pomba. E ali estava Deus, o Pai, falando em uma voz vinda do céu. Como essa voz de Deus descreveu Jesus? Não foi com palavras completamente novas e inéditas, nunca antes ouvidas. Nada disso. Até Deus cita as Escrituras. “Este é meu Filho amado, que me dá grande alegria” (Mt 3.17). Há pelo menos dois textos do Antigo Testamento e talvez três que ecoam essas palavras:
  • 64. Isaías 42.1: “Vejam meu servo, que eu fortaleço; ele é meu escolhido, que me dá alegria”. O Servo do Senhor em Isaías seria aquele que chamaria Israel de volta para Deus e levaria a salvação divina aos confins da terra. Deus identifica Jesus com essa figura — seu Servo/Filho. Isaías prosseguiu relatando como o Servo sofreria e morreria a fim de cumprir a vontade de Deus (Is 53). Salmos 2.7: “Você é meu filho; hoje eu o gerei”. Deus proferiu essas palavras ao rei Davi e a seus descendentes, que reinaram depois dele. Nos dias de Jesus, não havia um rei literal da linhagem de Davi sentado no trono de Jerusalém. Por isso, as palavras desse salmo já eram interpretadas como uma aplicação ao Messias, o filho futuro de Davi que seria seu Rei verdadeiro. Deus identifica Jesus com essa figura — o grandioso filho do grande Davi. Gênesis 22.2: “Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você tanto ama, [...] ofereça-o como holocausto”. Possivelmente as palavras de Deus, o Pai, no batismo de Jesus ecoem essas instruções divinas a Abraão. De fato, Jesus era o
  • 65. “único filho”, a quem o Pai se mostrou disposto a sacrificar pelos pecados do mundo. Quem, então, era o homem que saiu do Jordão após receber o batismo de João? De acordo com seu próprio Pai, ele era Servo de Deus e Filho de Deus. Ele cumpriria a missão divina e reinaria não só sobre Israel, mas sobre todas as nações da terra (Sl 2.8). Primeiro, porém, sofreria rejeição e morte. E tudo isso é retratado em termos extraídos do Antigo Testamento. Era a Bíblia de Jesus que explicava sua identidade. Mas como o próprio Jesus respondeu a essa pergunta? Bem, conforme vimos, ele aceitou o título “Messias/Cristo”, mas escolheu não divulgá-lo muito, pois as pessoas nutriam ideias errôneas sobre o que isso queria dizer. Sua forma preferida de se referir a si mesmo era “o Filho do Homem”. De onde ele extraiu esse termo e o que ele significava? Algumas pessoas acham que é apenas um título equivalente a “Filho de Deus”, isto é, pensam que os dois termos — Filho de Deus e Filho do Homem — eram tão somente formas de dizer que Jesus era tanto divino quanto humano. Às vezes, as palavras “filho do homem”
  • 66. realmente significam simplesmente “ser humano”, mas, em outras ocasiões, querem dizer muito mais do que isso. Em uma das visões de Daniel (Dn 7), ele contemplou bestas provenientes do mar. Elas simbolizavam o mal violento de vários impérios ainda por vir. Mas então Daniel também contemplou Deus sentado em seu trono, soberano sobre todas essas “bestas”. Em seguida, viu outra figura: [...] alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens do céu. Ele se aproximou do Ancião e foi conduzido à sua presença. Recebeu autoridade, honra e soberania, para que povos de todas as raças, nações e línguas lhe obedecessem. Seu domínio é eterno; não terá fim. Seu reino jamais será destruído. Daniel 7.13-14 Esse “filho de homem” é uma figura exaltada que compartilha o reino com o próprio Deus. Por isso, não surpreende que, durante seu julgamento, quando Jesus afirmou ser o Filho do Homem que Daniel descreveu, os principais sacerdotes o tenham acusado imediatamente de blasfêmia (Mc 14.62-63). A
  • 67. questão é que tanto Jesus quanto seus juízes entendiam o significado do título “Filho do Homem” com base no que essa passagem do Antigo Testamento diz. Logo, se quisermos aprender quem Jesus pensava ser, precisamos conhecer os textos bíblicos que ele usava para explicar quem era. Jesus pensava que era Deus? Bem, certamente ele não se levantou do nada e disse: “Oi, pessoal, eu sou Deus”. Isso o faria ser apedrejado na hora. Aliás, isso quase aconteceu quando ele usou o grande nome revelado de Deus em Êxodo (“EU SOU O QUE SOU”) e disse aos líderes judeus: “Eu lhes digo a verdade: antes mesmo de Abraão nascer, EU SOU!”. De fato, tentaram apedrejá-lo por blasfêmia (Jo 8.58-59). Esse foi um momento raro. Mas o que Jesus mais fazia era dizer e realizar coisas que o Antigo Testamento havia falado ou prometido sobre Deus, deixando as pessoas tirarem as próprias conclusões. Por exemplo: Deus tinha dito que enviaria Elias antes que o próprio Deus viesse ao povo (Ml 3.1; 4.5). Jesus disse que João Batista era Elias, enviado a fim de preparar o caminho para o SENHOR. Mas, se João
  • 68. era Elias e Jesus veio depois de João, então quem era Jesus (Mt 11.11-15; 17.10-13)? Deus havia prometido que, quando ele viesse, os cegos veriam, os surdos ouviriam, os coxos andariam, e assim por diante (Is 35.4-6). Quando os discípulos de João lhe perguntaram se ele era aquele que havia de vir, Jesus basicamente lhes disse: “Olhem ao redor. O que está acontecendo? Quem está aqui?” (Mt 11.1-6). Jesus disse a alguns indivíduos que seus pecados estavam perdoados. As pessoas, muito apropriadamente, perguntavam: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” (Mt 9.1-7; Lc 7.36-50). Jesus disse que estava expulsando demônios “pelo Espírito de Deus” como prova de que o reino de Deus havia ido morar em meio ao povo, na pessoa e nas ações do próprio Jesus (Mt 12.28; Lc 11.20). E, depois de sua ressurreição, ele declarou: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada” (Mt 28.18). É assim que o Antigo Testamento fala sobre YHWH, o SENHOR Deus de Israel (Dt 4.39),
  • 69. mas Jesus calmamente aplica as palavras a si mesmo. Poderíamos prosseguir indefinidamente. Quem foi Jesus? Pense em todos os títulos que puder. Senhor, Cristo/Messias, Salvador, Redentor, Rei, Profeta, Sumo Sacerdote, Filho de Deus, Filho do Homem, Filho de Davi, Cordeiro de Deus, Bom Pastor, Príncipe da Paz, Emanuel... Todos esses nomes e muitos mais vêm de passagens do Antigo Testamento. E não são expressões vazias, como os títulos exaltados que alguns reis e presidentes orgulhosos gostam de atribuir a si mesmos atualmente. Elas descrevem aspectos essenciais daquilo que Jesus fazia e continua a fazer. E, se quisermos compreender e explicar Jesus usando tais palavras, necessitamos saber como elas eram usadas no Antigo Testamento. Portanto, mesmo para entender o que significa dizer que Jesus era divino, que era tão plenamente Deus quanto tão plenamente homem, necessitamos do Antigo Testamento. Pois é o Antigo Testamento que nos revela o Deus que se tornou humano e andou entre nós na pessoa de Jesus de Nazaré.
  • 70. O QUE JESUS VEIO FAZER? Jesus veio para dar início a uma nova religião? É isso que muitas pessoas pensam. Pergunta: Quem foi o fundador do cristianismo? Resposta: Jesus. Isso faz parecer que Jesus veio certo dia e disse: “Ouçam bem, amigos, já aguentamos esse tal de judaísmo por tempo demais e ele parece ter fracassado. Aqui está uma religião completamente nova que inventei. Comecem a me seguir e se tornem cristãos”.2 É claro, porém, que ele não fez isso. Aliás, disse para as pessoas que achavam que ele estava abolindo a lei e os profetas (a base bíblica da fé de Israel): “Não pensem dessa maneira! Não vim para aboli-los, mas, sim, para cumpri-los”. Lembra-se do capítulo 2, “A história e a promessa”? Jesus sabia em que história ele estava inserido: na grande história de Israel nas Escrituras do Antigo Testamento e na promessa divina que ela contém. E ele sabia que viera para cumprir essa promessa e realizar, para o bem do mundo, aquilo que Deus prometera fazer por intermédio de Israel. Jesus veio terminar a história que o Antigo Testamento havia começado.
  • 71. Pense novamente naqueles símbolos da história bíblica apresentados no capítulo 2. Em sua forma mais simples, a parte que cabe ao Antigo Testamento nessa história (os Atos 1 a 3 de toda a história bíblica) pode ser resumida assim: Deus criou o mundo bom e os seres humanos à sua imagem e semelhança para amá-lo e adorá-lo, para fazer uso da criação e cuidar dela, e para amar e servir uns aos outros. Nós nos rebelamos e desobedecemos a Deus, trazendo juízo e morte sobre nós mesmos, divisões e contendas entre as nações e a deterioração da criação. Deus chamou Abraão e prometeu transformar a maldição em bênção para todas as nações por intermédio de seus descendentes, o povo de Israel. Entretanto, como Israel era uma nação de pecadores assim como o restante da humanidade, os portadores da cura divina também carregavam em si a doença. Israel mostrou necessitar da salvação tanto quanto o restante das nações. Mesmo assim, a promessa de Deus permaneceu. O Antigo Testamento aponta para aquele que
  • 72. cumpriria a missão de Israel, carregaria os pecados de Israel e do mundo e levaria as boas-novas da salvação até os confins da terra. Foi isso que Jesus veio fazer. Portanto, Jesus veio como o Messias de Israel, para cumprir a missão de Israel e a promessa de Deus em benefício de todas as nações. Ele anunciou a boa notícia de que o reino de Deus havia começado. Foi isso que Jesus chamou de “as boas-novas [o evangelho] do reino”. Ele convocou as pessoas a se arrependerem e crerem nessas boas notícias sobre o reino de Deus confiando nele, o Rei, e o seguindo. O conhecimento das pessoas sobre o reino de Deus vinha dos salmos e dos profetas. Elas aguardavam com expectativa a vinda de Deus para começar seu reino na terra. Pensavam no acontecimento como uma era futura por vir. Imaginavam uma era messiânica completamente nova. Tanto João Batista quanto Jesus anunciaram que a esperança do povo finalmente estava se tornando realidade. “Enfim chegou o tempo prometido! [...] O reino de Deus está próximo!” (Mc 1.15). Isso significa que, na pessoa de Jesus, Deus havia chegado. Deus estava endireitando as
  • 73. coisas em um mundo que dera errado. Deus estava vencendo o poder de Satanás, conforme Jesus demonstrou em seus milagres. Deus estava trazendo salvação ao mundo por intermédio de Jesus (cujo nome, assim como o de Josué, significa “O SENHOR é salvação”). Mas Deus estava fazendo tudo isso não do modo como algumas pessoas esperavam. O reino de Deus não foi estabelecido usando o poder militar, contrariando aqueles que desejavam derrotar e expulsar as forças romanas. O reino de Deus não foi estabelecido forçando todos a ser “bons”, como os fariseus (“bons” nos termos deles). Em vez disso, o modo de Deus era o modo de Jesus. Ou, expressando de outra maneira, o modo de Jesus era o modo de Deus de cumprir sua promessa de levar bênção e salvação do reino de Deus. Foi isso que Jesus veio realizar. Cristo viveu em fiel obediência a Deus (ao passo que Israel se rebelou e desobedeceu). Assim como Israel, Jesus foi “provado no deserto” (quarenta dias correspondentes aos quarenta anos do povo), mas, diferentemente de Israel, escolheu confiar em Deus, seu Pai, e obedecer-lhe. E ele foi obediente até a
  • 74. morte. Quando Jesus morreu na cruz, Deus tomou sobre si, na pessoa de seu Filho, o juízo e as consequências do pecado, não só de Israel, mas do mundo inteiro. E assim, por meio da cruz e da ressurreição, ele conquistou vitória sobre o pecado, sobre Satanás e todos os poderes do mal. É por isso que exclamou: “Está consumado!”, que significa “Cumpriu-se!”. Então, depois de ressuscitar, Jesus disse aos discípulos que o caminho agora estava aberto para eles irem e pregarem o arrependimento e o perdão dos pecados em seu nome a todas as nações, porque, conforme disse: “Assim está escrito”. Com essa expressão, ele queria dizer que as Escrituras do Antigo Testamento haviam “programado” não só o que Jesus cumpriu em sua vida terrena como Messias, mediante sua morte e ressurreição, mas também o que ele continuaria a fazer por meio da missão da igreja (Lc 24.45-47; At 1.1). Jesus diz, então, que devemos ler e entender as Escrituras do Antigo Testamento (conforme ensinou a seus discípulos) tanto em relação ao Messias e o que ele fez quanto em relação à missão — o que nós fomos comissionados a fazer até os confins da terra.
  • 75. QUAL É O TAMANHO DO EVANGELHO QUE VOCÊ PREGA? Assim, você pode ver que necessitamos do Antigo Testamento não só para entender quem foi Jesus (e como ele se via), mas também para compreender por completo o que Cristo realizou. Necessitamos disso em especial para evitar um reducionismo de toda a mensagem da Bíblia a um mínimo puramente individualista. É fácil demais reduzir a Bíblia a algo mais ou menos assim: Sei que sou pecador. Mas creio que Jesus morreu para limpar meus pecados. Por isso, posso ser perdoado e ir para o céu quando morrer. Para esse tipo de mensagem, o Antigo Testamento não é nem um pouco necessário (com exceção, talvez, da história da queda e alguns versículos sobre o pecado). Aliás, não é preciso nem muito do Novo Testamento. Você só precisará do relato da morte de
  • 76. Jesus e de alguns versículos de Paulo para explicar as Escrituras. Possivelmente seja por isso que alguns pastores só pregam usando esses poucos textos. Nunca enxergaram o quadro mais amplo, a história inteira. Por isso, não pregam acerca do restante da Bíblia. É claro que esses três tópicos são verdadeiros — graças a Deus —, e eu também creio neles! Mas a Bíblia conta uma história muito maior. O pecado não consiste apenas em algo pessoal, nem a salvação. As Escrituras falam do grande projeto divino de restaurar toda a criação por intermédio de Cristo, curando a divisão entre as nações e levando salvação a todos os níveis de carência e perda, tanto humanas quanto da criação. Essa é a “grande história” da salvação encontrada na Bíblia. Era assim que o apóstolo Paulo entendia a salvação. Ela se destina à criação inteira, à igreja inteira e aos fiéis individualmente (em Cl 1.15- 23, é nessa ordem que ele retrata as coisas). Mude a ordem dos fatores. Qual foi o problema que Deus solucionou mediante a morte e ressurreição de Jesus Cristo? Algumas pessoas falam (e pregam, e ensinam, e cantam hinos) como se o único problema fosse “eu e meu pecado”. É claro que isso é um
  • 77. problema. Sem Cristo, permaneço condenado como pecador, sem esperança, nem futuro eterno com Deus. Por causa de Cristo e de sua morte em meu lugar, posso saber sem sombra de dúvidas que Deus me perdoa e posso ter a certeza da salvação eterna. Que boa-nova! Eu creio nela! Mas, se essa é a única maneira de pensarmos e falarmos sobre o evangelho, nós o centramos completamente em nós mesmos. Tudo diz respeito a mim, meu pecado e minha salvação. Isso é fazer o evangelho muito mais limitado do que a Bíblia o apresenta. E certamente é estranho e incorreto ser autocentrado ao pensar sobre o evangelho, que é o grande plano de Deus para toda a criação. Quando voltamos e lemos a história bíblica desde o início, o que encontramos? Pense novamente nos seis atos do grande drama da Bíblia. As Escrituras começam com a criação. A vida humana se passa na terra onde Deus nos colocou (Ato 1). Mas, quando Adão e Eva desobedeceram a Deus (como se o único problema fosse que Adão e Eva eram pecadores individuais que precisavam ser perdoados), a criação também sofreu. “Maldita é a terra por sua causa” (Gn 3.17). A criação inteira foi afetada pelo pecado e pelo
  • 78. mal, conforme afirma Paulo com toda clareza (Rm 8.18-22). Então, a história prossegue para mostrar como o pecado corrompeu todos os relacionamentos humanos na sociedade — no casamento, entre irmãos, na sociedade mais ampla e ao longo das gerações na história. Por fim, o pecado e a arrogância humanos resultaram na divisão e dispersão das nações (Gn 11). Portanto, juntando todo o relato de Gênesis 3—11, o problema diante de Deus não é simplesmente que os indivíduos são pecadores que necessitam ser salvos do juízo e da morte, mas também que as famílias, sociedades, nações e culturas humanas estão despedaçadas e em conflito, e que a própria terra sofre as consequências do pecado e do mal. E por causa de tudo isso, somos confrontados com a realidade do juízo final de Deus. Esse, sim, é um grande problema! É por isso que temos um grande evangelho! Onde o evangelho começa? Eu costumava fazer essa pergunta nas aulas que ministrava na Índia, e sempre havia alguém que dizia: “Em Mateus”. Ao que eu respondia: “Errado! O evangelho começa em Gênesis!”. É isso que Paulo diz. Dê uma olhada em Gálatas 3.8. É verdade. Paulo chamou a promessa de Deus a Abraão de “boas-novas”. Deus fez um
  • 79. chamado a Abraão e prometeu uma bênção — não só uma bênção pessoal para ele, mas também para todas as famílias/nações da terra.3 Deus não estava pensando apenas em indivíduos, mas nas nações e na terra. Essas são as boas-novas do evangelho bíblico. E precisamos do Antigo Testamento a fim de nos preparar para isso. Então podemos ver a escala verdadeiramente gloriosa, cósmica e imensa daquilo que Deus realizou por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Onde o evangelho termina (se é que podemos dizer isso)? O grande drama da Bíblia nos leva até o Ato 6, no qual as boas-novas do grande projeto de salvação divino chegam a seu final triunfante — missão cumprida. Se você ler Apocalipse 21—22, encontrará muitos ecos de Gênesis 3—11. A solução definitiva de Deus equipara-se ao problema original em vários aspectos. Pense nas consequências terríveis do pecado apresentadas em Gênesis 3—11 (Ato 2). Então reflita no retrato maravilhoso da vida na nova criação (Ato 6).
  • 80. As consequências do pecado A nova criação A terra é amaldiçoada. Não haverá mais maldição. Vivemos sob sentença de morte por causa do pecado. Não haverá mais morte. Fomos expulsos da presença de Deus. Deus habitará conosco em um novo céu e uma nova terra, unidos na “cidade de Deus”. Nosso acesso à arvore da vida foi negado. A árvore da vida florescerá ao lado da água da vida no “jardim da cidade”. A vida humana se tornou cheia de violência, sofrimento e lágrimas. Não haverá mais lágrimas, luto, choro ou dor, porque não existirão mais pecado, imoralidade, engano ou opressão.
  • 81. As nações foram divididas em confusão, contendas e conflito. Pessoas de todas as tribos, nações e línguas se unirão para adorar a Deus. “As folhas da árvore servem para a cura das nações” (isto é, além dos indivíduos receberem a vida eterna, as culturas e nações humanas se reconciliarão). Toda a história bíblica da salvação, ou seja, a história da redenção que se estende ao longo do Ato 3 (a promessa do Antigo Testamento), Ato 4 (o evangelho) e Ato 5 (a missão da igreja), é o que preenche o abismo entre a grande rebelião (Ato 2) e a grande restauração (Ato 6). Depois de compreender a história inteira, não podemos mais pensar no “evangelho” apenas como a resposta para o meu problema individual com o pecado e a maneira para “eu entrar no céu”. Em vez disso, passamos a reconhecer que “minha salvação pessoal”, por mais preciosa que seja, se encaixa em um plano divino
  • 82. muito maior, que inclui a cura das nações e a reconciliação de toda a criação com Deus. É isso que Cristo veio fazer. É isso que ele conquistou mediante sua morte e ressurreição. É isso que estava incluído em suas triunfantes palavras finais na cruz: “Está consumado!”, que significa “Cumpriu- se!”. O que se cumpriu? Tudo aquilo que Deus prometeu nas Escrituras do Antigo Testamento. Permita-me fazer uma pergunta: você prega o evangelho? Espero que sua resposta imediata seja “Sim!”. No entanto, à luz do que acabou de ler, você prega o evangelho inteiro, baseado em tudo aquilo que a Bíblia inclui nas “boas-novas”? Ou limitou o evangelho apenas à mensagem da salvação individual? E, caso você seja honesto o suficiente para admitir que talvez se encaixe na segunda opção, saiba, em primeiro lugar, que você não está sozinho, pois muitos e muitos cristãos fazem exatamente isso. Contudo, você estaria disposto a mudar? Concorda que limitar o evangelho dessa maneira é uma desonra ao Senhor? Afinal, essa prática reduz o escopo e a importância de tudo que a Bíblia nos conta que Jesus realizou na cruz e anunciou pelo poder de sua ressurreição. Tenho certeza de que todos queremos
  • 83. ser fiéis à Bíblia, pregar e ensinar a verdade. Mas o triste é que aquilo que algumas pessoas chamam de “evangelho puro” consiste, na verdade, em um evangelho truncado que reduz a gloriosa mensagem da Bíblia como um todo. Começamos este capítulo pensando na jornada, como os pastores na estrada de Guayaquil a Quito. Quando lemos o Antigo Testamento, devemos nos lembrar de olhar para a direção da viagem. Tudo leva a Jesus. É por isso que necessitamos do Antigo Testamento, a fim de compreender quem foi Jesus, o que ele veio fazer e aquilo que de fato realizou nos eventos do evangelho. Lemos o Antigo Testamento ansiando por Jesus. Espero que este capítulo tenha ajudado você a ver como isso funciona e como é importante para uma compreensão bíblica adequada de Jesus. Quando se chega ao destino, porém, também é possível olhar para trás e ver a jornada. Enquanto os pastores desfrutavam o seminário de pregação Langham em Quito, podem ter pensado na longa jornada que fizeram antes. Espero que tenham concluído que valeu a pena! Eles poderiam desenhar a jornada em um mapa e mostrar como cada parada
  • 84. estava ligada à via que os fez chegar a Quito. Foi uma jornada conectada entre si e que alcançou seu destino. Assim é com o Antigo Testamento. Os pastores também poderiam pegar os ensinos, as anotações e os livros que receberam no seminário (e a foto do grupo!) para comparar toda essa abundância com a carta que chegou até eles muito tempo antes, convidando-os a comparecer. Ela era uma promessa do que aconteceria quando eles fossem a Quito. Eles compareceram na fé de que a promessa se cumpriria, e foi isso o que aconteceu. E gosto de acreditar que o cumprimento da promessa (o seminário em Quito e tudo que eles receberam) foi ainda melhor do que qualquer coisa que eles poderiam ter imaginado durante a jornada. Dessa maneira, eles sempre olhariam para trás e enxergariam a jornada à luz da bênção que receberam ao fim dela. De igual maneira, o Novo Testamento nos mostra como Jesus cumpriu todas as promessas do Antigo Testamento — de formas maravilhosas e surpreendentes que acabaram se mostrando muito melhores do que qualquer coisa que o povo do Antigo Testamento poderia imaginar. Os israelitas tinham fé na promessa de Deus e, ainda que muitos
  • 85. deles não tenham visto o cumprimento, o Senhor foi fiel à sua promessa (essa é a mensagem de Hb 11). Por isso, podemos olhar de volta para a jornada do Antigo Testamento à luz do que aconteceu no final dela. Isso quer dizer que, quando lemos e nos preparamos para pregar sobre uma passagem do Antigo Testamento, precisamos fazer duas coisas. Em primeiro lugar, devemos pensar que estamos “sentados no texto”, como os pastores no micro- ônibus, olhando na direção da viagem, aguardando com expectativa o destino ao qual a viagem finalmente nos levará — a Cristo. Em segundo lugar, porém, precisamos olhar para o texto (que vem do Ato 3) à luz daquilo que realmente aconteceu ao fim da jornada, isto é, à luz de Cristo e de toda a história do evangelho no Ato 4. Lemos e pregamos essas passagens como cristãos e para cristãos, todos nós vivendo no Ato 5. Por isso, devemos “conectar” as passagens do Antigo Testamento a Jesus Cristo. Ou, conforme às vezes se diz, devemos “pregar Cristo usando o Antigo Testamento”. Nos dois capítulos a seguir, pensaremos em algumas boas maneiras de fazer isso, e em algumas maneiras
  • 86. erradas também. PERGUNTAS E EXERCÍCIOS 1. Discuta suas respostas às perguntas que fiz no parágrafo que começa com “Permita-me fazer uma pergunta” (p. 40). Seja honesto! Que passos você precisa dar para tornar seus ensinos e suas pregações do evangelho mais plenamente bíblicos em conteúdo? 2. Faça uma lista de alguns nomes ou títulos que costumamos usar para Jesus. De onde no Antigo Testamento eles vêm? O que nos ensinam sobre Jesus e o que ele veio fazer? 3. Prepare uma lição ou um sermão sobre o batismo de Jesus, concentrando-se, em especial, nas palavras de Deus, o Pai, em Mateus 3.16-17. Mostre como Deus ecoa palavras de textos do Antigo Testamento e use-as para explicar quem Jesus verdadeiramente foi e o que ele veio fazer.
  • 87. 4 NÃO ME DÊ SÓ JESUS Anne Graham Lotz, filha de Billy Graham, é uma talentosa evangelista e pregadora. Após um período de muito estresse em sua vida, ela escreveu um poema e um livro intitulados Just Give Me Jesus [Dê-me só Jesus]. Trata-se de um poema maravilhoso, que descreve Jesus de diversas maneiras, cada seção terminando com a repetição de “Dê-me só Jesus”.1 Anne Graham também já realizou muitos seminários e conferências de reavivamento com esse tema. Sua ideia central, claro, é que nosso Senhor Jesus Cristo basta para tudo aquilo que podemos enfrentar na vida, na morte e além. Ele é tudo de que precisamos para a salvação e é a fonte de toda graça, bênção e
  • 88. força que Deus nos dá para a vida na terra e na nova criação. O título é, assim, uma frase espetacular para retratar a suficiência de Cristo para todas as nossas necessidades pessoais e pastorais. Mas, no que diz respeito à pregação com base no Antigo Testamento, temo que não seja o bastante. O pregador não deve imaginar que, ao falar da Bíblia, sua congregação está sentada dizendo: “Dê-me só Jesus”. Pregar usando o Antigo Testamento não é só pregar sobre Jesus, embora sem dúvida deva, em última instância, conduzir as pessoas a Jesus. Certa vez, enviaram-me o panfleto de uma conferência na qual eu iria falar. Meu tema era a base do Antigo Testamento para a missão cristã. Em seu destaque maior, o folheto dizia: “E o melhor do Antigo Testamento é que ele é todo sobre Jesus!”. Os organizadores estavam tentando dar um incentivo. Mas eu não teria escrito essas palavras. Pois não é verdade dizer isso, de forma tão simplista. Talvez depois de ler os dois capítulos anteriores deste livro você esteja pensando da mesma maneira que o panfleto da conferência. Ressaltei tanto a necessidade de entender o Antigo Testamento à luz
  • 89. de Cristo (o Antigo Testamento como uma jornada que conduz a Cristo e declara a promessa que ele cumpriu) que você pode estar imaginando: “O Antigo Testamento? É todo sobre Jesus!”. Mas não é, não de maneira tão direta. O que eu disse nos dois últimos capítulos não é que o Antigo Testamento é “todo sobre Jesus”, mas que consiste em uma jornada que conduz a ele. Tudo aponta para Cristo. Mas nem tudo é “sobre Cristo”. Pense de novo naqueles pastores no micro-ônibus de Guayaquil a Quito. Sim, toda a jornada deles foi em direção a Quito. Sim, Quito era o destino desejado. Sim, eles pensavam e conversavam sobre o que aconteceria quando chegassem a Quito. Todo o foco da jornada se concentrava em Quito. Mas isso não quer dizer que toda vez que olhavam pela janela do micro-ônibus estavam vendo Quito. Não, eles contemplavam o cenário na estrada para Quito. É possível que, às vezes, houvesse placas informando: “Quito a 150 quilômetros”. Mesmo nesse caso, porém, a placa não era Quito em si, mas apenas uma garantia de que estavam na direção correta. Então, se houvesse uma criança pequena no banco de trás que perguntasse, o tempo inteiro: “Já chegamos?”, os
  • 90. adultos teriam de responder: “Ainda não! Tenha paciência. Logo estaremos em Quito”. Estar na estrada para Quito não é o mesmo que estar em Quito. Da mesma maneira, dizer que o Antigo Testamento conduz a Cristo não é o mesmo que afirmar que tudo ali é sobre Cristo. Mas como isso afeta nossa pregação e nossos ensinos baseados no Antigo Testamento? Será que significa que, apesar de tudo que eu disse nos dois últimos capítulos, não podemos pregar sobre Cristo usando textos do Antigo Testamento? Nada disso. No capítulo 5, contarei que certamente podemos e, na verdade, devemos pregar Cristo com base no Antigo Testamento. E tentarei explicar como podemos fazer isso de forma boa e válida. Antes, porém, precisamos tirar do caminho alguns pontos negativos. Infelizmente, alguns pregadores imaginam que, não importa qual passagem da Bíblia estejam usando, o sermão sempre precisa ser sobre Jesus. Entenderam a verdade de que toda a Bíblia é centrada e focada no Senhor Jesus Cristo e que dá testemunho dele de diversas maneiras, e então a transformaram em um método muito simplista de interpretação, segundo o qual todos os versículos do Antigo Testamento
  • 91. precisam, de algum modo, falar “sobre Jesus”. E suas pregações podem parecer muito inteligentes ao fazer isso. Mas esse método traz consigo todo tipo de problemas. A seguir estão alguns deles. Transformar todas as passagens do Antigo Testamento em textos “sobre Jesus” pode trazer as seguintes consequências negativas. O PERIGO DE IGNORAR O SENTIDO ORIGINAL DO TEXTO Qual é a primeira regra de exegese — a primeira coisa que devemos fazer quando lemos e interpretamos qualquer texto bíblico? Precisamos perguntar: “O que este texto significava na época em que foi escrito para as pessoas que o leram ou escutaram em primeiro lugar? Sobre o que o autor estava falando e o que disse sobre aquilo que estava falando?”. Em outras palavras, buscamos entender o texto em seu contexto original antes de fazer quaisquer outras perguntas ou alguma aplicação.2 Mas, se você abordar um texto do Antigo Testamento com o pressuposto de que “ele deve ser sobre Jesus”, pode facilmente negligenciar tudo
  • 92. aquilo que o autor original de fato queria dizer. Na verdade, acaba colocando uma mordaça na boca do autor original, a fim de fazê-lo dizer o que você acha que deve ser o assunto do texto, já que tudo precisa ser “sobre Jesus”. E isso é algo muito ruim de se fazer com a Bíblia! Certa vez, ouvi um pregador falar sobre Amós 5.24: “Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça, como ribeiro perene” (RA). Ele discorreu por alguns instantes sobre Amós, mas logo prosseguiu dizendo: “A única justiça que podemos ter é a de Cristo”. A partir desse ponto, passou a abordar a justificação pela fé. Ele poderia muito bem ter pregado com base em Romanos. Tudo que ele falou era verdadeiro. Mas não tinha nada a ver com o que Amós disse! E o que é pior: distorcia essa passagem das Escrituras. Silenciava tudo que Amós de fato escreveu na passagem sobre praticar a justiça e dar fim à exploração, à fraude e à opressão. Com isso, o pregador, por sua preocupação em colocar Jesus no texto ou extraí-lo de lá, acabou ignorando o sentido original da passagem em si. Quando Amós escreveu tais palavras, ele não estava falando sobre Jesus. Em vez disso, o profeta estava
  • 93. desafiando o povo de Israel a viver como Deus queria que vivesse. Seria possível pregar sobre esse texto de uma maneira que tanto explicasse e aplicasse completamente o que Amós quis dizer quanto fizesse um elo com Jesus Cristo e o evangelho. No próximo capítulo, sugiro algumas formas de fazer isso de maneira apropriada — que não é simplesmente “pular para Jesus” no início de um sermão. O PERIGO DAS INTERPRETAÇÕES FANTASIOSAS Participei de um estudo da Bíblia por um tempo no qual alguns dos membros do grupo eram meio obcecados pela ideia de que toda e qualquer passagem do Antigo Testamento precisava ter Jesus em algum lugar. Então, passavam o tempo inteiro pensando em como esse poderia ser o caso — e sugerindo ideias muito estranhas. Um deles observou que havia treze levitas de pé ao lado de Esdras enquanto ele fazia a leitura da lei em Neemias 8. Constatou, assim, que isso devia representar os doze apóstolos originais de Jesus, mais Paulo. Com isso, Esdras se transformou em Jesus ensinando o povo, e Neemias 8 passou a ser um capítulo só sobre Jesus! Depois de soltar a
  • 94. imaginação dessa maneira, qualquer coisa pode ser “sobre Jesus”, de uma maneira ou de outra. No entanto, essa é uma forma irresponsável de abordar a Bíblia. Se ensinarmos esse tipo de coisa, só reforçaremos a suspeita das pessoas de que a Bíblia é um livro que elas nunca conseguiriam entender por conta própria. Acham que precisam de pregadores e professores inteligentes, capazes de extrair de qualquer texto diversos significados “sobre Jesus” que elas nunca teriam condições de encontrar sozinhas. Mas a Bíblia não é um tipo de jogo. Você já viu aqueles livros ilustrados do tipo “Onde está Wally?”? São cheios de figuras complicadas e, escondido em cada uma delas, está o personagem Wally. É muito divertido tentar achá-lo. Mas não deveríamos abordar o Antigo Testamento dessa maneira, como se fosse um livro ilustrado “Onde está Jesus?”. Estou de acordo com Dale Ralph Davis, que também se preocupava com as consequências negativas de querer extrair Jesus de todo e qualquer texto do Antigo Testamento. Veja o que ele escreveu acerca do que Cristo disse em Lucas 24.25-27,44-47:
  • 95. Penso que Jesus está ensinando que todas as partes do Antigo Testamento testificam do Messias em seu sofrimento e glória, mas não creio que esteja dizendo que cada passagem ou texto do Antigo Testamento testemunha acerca dele. Jesus se referiu às coisas escritas a seu respeito na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos, mas não afirmou que todas as passagens falavam dele (v. 44). Por isso, não me sinto obrigado a fazer todos os textos do Antigo Testamento apontarem para Cristo de alguma maneira, porque não acredito que ele próprio o exija [...] [Mas] [...] somente porque não acho que todos os textos do Antigo Testamento são sobre Jesus, isso não significa que me oponho à pregação de Cristo com base no Antigo Testamento se ele puder ser visto na passagem de forma legítima. [...] Contudo, tenho a convicção de que não honro a Cristo forçando-o a entrar em textos em que ele não está.3 O PERIGO DE NEGLIGENCIAR OUTRAS COISAS IMPORTANTES QUE DEUS ENSINA Isso pode parecer errado. Afinal, o que poderia ser “mais importante” que Jesus? Nada, é claro. E é verdade que podemos conectar todas as coisas grandiosas que Deus revelou e ensinou no Antigo Testamento com Jesus. Por exemplo, o Antigo Testamento começa (Ato 1 da história bíblica) com a criação. E sabemos pelo Novo Testamento que todas
  • 96. as coisas no céu e na terra foram criadas por Cristo e para Cristo (Jo 1.1-3; Cl 1.15-20; Hb 1.3). Sim, mas quando as Escrituras discorrem sobre a criação (não só em Gn 1—2, mas em muitos outros lugares, como Sl 19, 33, 104; Jr 10; Jó 28, 38—41), estão falando sobre a criação, e não “sobre Jesus”. Temos muito a aprender nessas passagens a respeito de Deus, do universo, da terra e de nós mesmos. Então, vamos aprender, ensinar e pregar aquilo que os textos dizem, não o que lemos nas entrelinhas com base em partes subsequentes da Bíblia. Pense em todas as outras coisas grandiosas que Deus revela no Antigo Testamento: O que significa ser humano, criado à imagem de Deus. A realidade do pecado e as consequências terríveis do mal. A ira de Deus contra a injustiça e a opressão. O amor de Deus e sua fidelidade àquilo que promete. O domínio soberano de Deus sobre todas as nações e toda a história. Como Deus quer que seu povo o adore.
  • 97. Como Deus deseja que as pessoas vivam e se comportem umas em relação às outras. O plano divino para a restauração de toda a criação. É claro que podemos mostrar como todos esses temas importantes em algum momento conduzem a Cristo (e refletiremos sobre isso mais adiante). Mas, se lermos textos significativos nos quais Deus está ensinando sobre essas coisas e pensarmos, o tempo inteiro: “Isto deve ser sobre Jesus”, podemos acabar perdendo toda riqueza e profundidade daquilo que Deus realmente está nos dizendo nesses textos originais. E isso não só é triste, como também trágico, pois deixa as pessoas sem entender e aplicar partes tão importantes que constam da Bíblia. Na verdade, isso as distrai de ouvir aquilo que Deus deseja lhes falar nessas passagens — o que é algo seriamente ruim de se fazer com a Bíblia. Talvez você esteja se lembrando do apóstolo Paulo, que disse: “nós, porém, pregamos a Cristo crucificado”, e como ele decidiu “nada saber [...] a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (1Co 1.23; 2.2, NVI). Algumas pessoas pensam que isso significa
  • 98. que Paulo só pregava sobre Jesus e a cruz e mais nada. Mas isso não pode ser verdade. Em primeiro lugar, observe o contexto desses dois versículos. Paulo estava contrastando seu estilo de pregação do evangelho com a eloquência sofisticada dos filósofos gregos. Ele não lançava mão de argumentos engenhosos e retórica qualificada como aqueles, mas apresentava simplesmente a verdade histórica sobre Jesus, com o poder do Espírito Santo. Em segundo lugar, o próprio Paulo afirma que ensinava a suas igrejas muito mais do que apenas a história da crucificação. Lembrou os líderes da igreja de Éfeso de que, durante os anos de sua permanência na cidade, “Vocês sabem que não deixei de pregar- lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa em casa” e “não deixei de proclamar-lhes toda a vontade de Deus” (At 20.20,27, NVI). Ou seja, a pregação de Paulo era tanto tópica (v. 20, atendendo às necessidades e dúvidas da igreja) quanto bíblica (v. 27, explicando toda a “vontade de Deus”, que significa o plano e o propósito de Deus conforme revelado nas Escrituras, isto é, o Antigo Testamento). É claro que tudo isso girava em torno de Jesus, mas não era simplesmente
  • 99. “sobre Jesus”. Em vez disso, deve ter sido enriquecedor ensinar com base em toda a Escritura, sobretudo ao dirigir-se aos judeus. Paulo passou milhares de horas ao longo de seus dois anos em Éfeso lecionando e debatendo todos os dias no auditório público de conferências de Tirano. Ele deve ter abordado muito mais do que apenas a crucificação! O PERIGO DE EMPOBRECER A HISTÓRIA BÍBLICA E ACABAR COM A SINGULARIDADE DA ENCARNAÇÃO Quando falamos sobre “Jesus no Antigo Testamento”, isso pode ter o efeito de colocar a Bíblia inteira no mesmo fuso horário, por assim dizer. Como se todas as pessoas do Antigo Testamento tivessem vivido na mesma época que Jesus e o “conhecessem”, orassem a ele e até se encontrassem com ele de tempos em tempos. É claro que concordamos que Deus, o Filho, a segunda pessoa da Trindade, está vivo e ativo eternamente, desde antes da criação do mundo. Nesse sentido, o Deus a quem os santos do Antigo Testamento adoravam era o Deus que nós conhecemos como Pai, Filho e Espírito