1) O documento discute as ideias de vários pensadores sobre a natureza do conhecimento científico, incluindo os positivistas do Círculo de Viena, Popper, Kuhn e Lakatos.
2) É argumentado que a ciência envolve elementos aparentemente "impuros" como imaginação, crenças e paradigmas, mas que esses elementos são necessários para o funcionamento da ciência.
3) A ciência é descrita como um processo recursivo de auto-produção baseado em objetividade, consenso, sociedade e tradi
1. O CONHECIMENTO DO
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO
Disciplina: Metodologia da Pesquisa
Profª.: Lúcia Sampaio Pessoa
Mestrandos: Francione Brito
Elvis Alves
Josefa Henrique
Marília Costa
Sebastião Mesquista
2. Para começar:
Nesta exposição, partindo dos problemas do
conhecimento cientifico dantes destacados
por Edgar Morin, ele toma como ponto de
partida as discussões propostas pelos
positivistas do Circulo de Viena. Seus
cientistas, lógicos e matemáticos viam a
ciência como modelo e levantaram o seguinte
problema:
O que é a ciência?”
3. Eles acreditaram ter encontrado um
fundamento e este fracassou.
Segundo Whitehead nenhum sábio
poderia endossar sem reservas as
crenças de Galileu, ou as de Newton e
nem mesmo todas as suas próprias
crenças científicas de dez anos atrás.
(MORIN, 1998, p. 38) Pois, a
cientificidade não se define pela certeza,
mas sim pela dúvida.
4. Tomando o principio dos positivista do
Circulo de Viena, mas diferenciando-
se deles Karl Popper apresenta
significativas contribuições no campo
científico ao afirmar que “O que prova
que uma teoria é científica é o fato de
ela ser falível e aceitar ser refutada.”
Ele disse: “Não basta que uma teoria
seja verificável, é preciso que ela
possa ser falsificada.” (p. 38)
5. Não é suficiente que uma
tese seja verificada para
ser provada como lei
universal; (...) é preciso que
possamos testá-las e que,
efetivamente, possamos
refutá-la. (p. 39)
Nenhuma teoria cientifica
pode ser provada para
sempre ou resistir para
sempre à falseabilidade.
(p. 39)
6. Depois de Popper, surgiram todos
os problemas que o positivismo
lógico pensava ter resolvido
O que entra em cena agora é a questão da
objetividade, que se apresenta nas teorias
cientificas como absolutamente incontestável.
Uma teoria se fundamenta em dados
objetivos, mas não é objetiva em si mesma.
A objetividade é o resultado de um processo
crítico desenvolvido por uma
comunidade/sociedade científica num jogo em
que ela assume plenamente as regras.
7. Para Popper a objetividade
dos enunciados científicos
reside no fato de eles
poderem ser
intersubjetivamente
submetidos a testes.
Popper acrescenta que “a
ciência é a aceitação pelos
cientistas de uma regra do
jogo absolutamente
imperativa.” (p. 40)
8. O trabalho do cientista é uma
atividade seletiva a classificatória.
A teoria científica é uma atividade organizadora da mente, que
implanta as observações e que implanta, também o diálogo com o
mundo dos fenômenos. (p. 43)
A atividade científica mobiliza muito a imaginação do cientista, e
por isso há crenças e experimentos não testáveis ao lado das
teorias.
Neste sentido, Holton fez alguns estudos sobre o tema da
imaginação científica e propôs a noção de themata, que é uma
preconcepção fundamental, estável, largamente difundida e que
não se pode reduzir diretamente a observação e ao cálculo
analítico. Os themata têm a característica de estimular a
curiosidade e a investigação do pesquisador.
9. Os cientistas que são impulsionados por themata
sentem um tipo de gozo quando acham que o universo
responde à intenção que os incita.
Com base nisto, Thomas Kuhn trouxe a noção de
paradigma, que é aquilo que está no princípio da
construção das teorias, é o núcleo obscuro que
orienta os discursos neste ou naquele sentido.
As grandes mudanças de uma revolução científica
acontecem quando um paradigma cede seu lugar a
um novo paradigma, há uma ruptura de uma teoria
para outra.
10. Mudamos de universo quando passamos do universo
newtoniano para o universo einsteiniano, quando
passamos do einsteiniano para o universo da física
quântica.
Então percebemos que a história das ciências, assim
como a história das sociedades, conhece e passa por
evoluções.
Neste contexto Lakatos traz a ideia do conceito de
programas de pesquisa. Na concepção de Lakatos
existem grupos de teorias ligadas, umas às outras,
por princípios e postulados comuns.
11. Então, teoria, themata, programa de
pesquisa, paradigma etc. são noções que
introduzem na cientificidade os elementos
aparentemente impuros mas, repito,
necessário ao seu funcionamento.
Desde o século XIX, o desenvolvimento da
ciência está ligado ao desenvolvimento de
uma nova camada social, a intelligentsia
científica dos sábios e pesquisadores. (p. 41)
12. Diferentes tipos de conhecimento
científico
Existem tipos diferentes de conhecimento científico;
diferentes porque são impulsionados por interesses
diferentes. Há o interesse técnico (domínio da
natureza), o interesse prático (o controle,
especialmente da sociedade) e o interesse reflexivo
(quem somos, o que fazemos?).
O interesse reflexivo motiva a emancipação dos
homens, enquanto os outros interesses conduzem à
dominação e a sujeição.
Hanson, diz que “qualquer ato específico de
descoberta traz consigo a capacidade de considerar o
mundo da realidade sob uma nova luz (...)”. (p. 48)
13. Peirce e a invenção das hipóteses
explicativas
Indução e dedução como insuficientes. Para
compreender o desenvolvimento do
pensamento a noção de abdução era
indispensável.
Problemas de estratégia na pesquisa: o
inventor é imprevisível e relativamente
autônomo com o próprio meio científico.
Sempre foi assim. De maneira que, se a
invenção fosse programada, não existiria.
Ex.: Newton descobriu a gravidade pelas circunstâncias da
Universidade fechar as portas e ele ter de ficar vagando, olhando as
macieiras.
14. “Quando pensamos na pesquisa com suas
atividades da mente, com o papel da
imaginação e o papel da invenção, nos
damos conta de que as noções de arte e de
ciência, que se opõem na ideologia
dominante, têm algo em comum. Chegamos
a essa ideia por um meio inesperado, o da
inteligência artificial, na qual de alguma
forma, graças aos atuais sistemas
especializados, centralizou-se a ideia de
G.P.S. (General Problem Solver -
Solucionador de Problemas em geral)”.
p.50-51
15. Evolução científica
Popper fez uma teoria “darwiniana” da
evolução teórica; Kuhn fez uma oposição a
esse evolucionismo com um
revolucionismo, operado pelas mudanças
de paradigmas, onde o “dominante” tem
cada vem mais dificuldade em dar conta dos
fenômenos observáveis.
A evolução é mais complexa.
16. A ciência
“... está sempre em movimento, em ebulição
e, talvez, o próprio fundamento de sua
atividade [...] é ser impulsionada por um
poder de transformação. É preciso
abandonar a ideia [...] do progresso linear
das teorias que se aperfeiçoam
mutuamente.” (p. 52)
É o conflito entre pontos de vista (teorias)
que fundamenta e expressa a vitalidade e o
desenrolar da ciência, seja de maneira
evolutiva, evolucionista, revolucionante ou
revolucionária.
17. A ciência
“... A ciência é um lugar onde se desfraldam
os antagonismos de ideias, as competições
pessoais e, até mesmo, os conflitos e as
invejas mais mesquinhas.” (p.52)
“O conflito é fecundo e podemos dizer que a
ciencia está fundamentada na complexidade
do conflito: ela tem quatro pernas,
independentes entre si: empirismo e
racionalismo, imaginação e verificação”.
(p.53)
Assim: motor da ciência é feito de oposições.
18. A ciência
Simultaneamente: unitária e
diversificante, estabelece fronteiras e
barreiras, funda-se em compartimentos e
separações entre disciplinas.
A respeito dessa dialética e/ou dialógica de
uma atividade científica: “As grandes
teorias são teorias que fazem a unidade
onde só se vê heterogeneidade. De um
lado, a ciência
divide, compartimenta, separa e, do
outro, ela sintetiza novamente, ela faz a
unidade”. (p. 53)
19. Ciência como
comunidade/sociedade
Fenômeno normal a todas as sociedades
organizadas;
Trata-se de uma comunidade
epistemólogica unida por princípios
fundamentais comuns (objetividade,
verificação e falsificação) que aceita as
regras do jogo e está inscrita numa mesma
tradição histórica com o mesmo ideal de
conhecimento.
20. Ciência e democracia
A natureza da democracia consiste na aceitação das
regras de um jogo onde os conflitos de ideias são
produtivos e a ciência se pauta numa verdade não-
absoluta, mas sim provisória e sucessiva.
Na democracia, propriamente científica, a regra é a
investigação, onde o “papel positivo” do negativo
eclode via refutação de erros. Assim, o falibilismo
torna-se a marca da ciência.
A regra do jogo científico é institucional e
mental, simultaneamente. Ela é garantida pelas
instituições - beneficiadas com as grandes
descobertas igualmente a sociedade moderna – mas
antes o próprio sistema detestava a democracia e a
ciência por constituir-se meio de debate em sua
pluralidade.
21. Algumas ideias conclusivas
1ª: Devemos continuar a considerar a
ciência como uma atividade de investigação
e de pesquisa.
“A ciência não é só isso e, constantemente, ela é
submergida, inibida, embebida, bloqueada e
abafada por efeito de manipulações, de
prática, de poder, por interesses sociais etc. Ela
continua sendo uma atividade cognitiva.” (p.58)
22. Algumas ideias conclusivas
2ª: A ciência não é uma operação de
verificação das realidades triviais, ela é a
descoberta de um real escondido.
A ideia de certeza teórica enquanto verdade
absoluta deve ser abandonada.
Para que haja uma aproximação e um diálogo
entre a inteligência do homem e a realidade ou a
natureza do mundo, são precisos sacrifícios
enormes [...] a objetividade científica não exclui a
mente humana, o sujeito individual, a cultura, a
sociedade: ela os mobiliza [...] se fundamenta
nos poderes construtivos de fermentos
socioculturais e históricos. (p. 58)
23. Algumas ideias conclusivas
3ª: A ciência como impura.
“A ciência não só contém postulados e themata
não-científicos, mas que estes são necessários
para a constituição do próprio saber
científico, isto é, que é preciso a não-
cientificidade para produzir a cientificidade, do
mesmo modo que, sem cessar, produzimos vida
com a não-vida.”
“É preciso desinsularizar o conceito de ciência.
Ele só precisa ser peninsularizado, isto
é, efetivamente, a ciência é uma península no
continente cultural e no continente social.” (p.
59)
24. Por fim...
Morin considera a ciência como um processo
recursivo auto-ecoprodutor. Por meio de um
movimento ininterrupto da objetividade,
consenso, comunidade/sociedade e tradição
crítica, a ciência se autoproduz, mas também
se autoecoproduz, com base no contexto
histórico/social.
A cientificidade se constrói, se desconstrói, e
se reconstrói sem cessar, já que existe um
movimento ininterrupto.
“A ciência é um fenômeno relativamente
autônomo na sociedade, e não é uma pura
ideologia social.” (p. 61)
25. Referência
MORIN, Edgar. O conhecimento do
conhecimento científico. In: MORIN,
Edgar, Ciência com consciência,
Tradução de Maria de Alexandre e Maria
Alice Sampaio Dória – Ed. Revista e
modificada pelo autor 4ª ed. – Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 37 a
93.