Trabalho com análise completa do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço" de Álvaro de Campos, contendo também informações sobre as três fases do heterónimo.
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Análise do poema: "O que há em mim é sobretudo cansaço" - Álvaro de Campos
1.
2. Álvaro de Campos
“O que há em mim é sobretudo cansaço”
Fábio Soares
12º B
Janeiro de 2015
Escola Secundária de Santa Maria da Feira
3. Fases da poesia de Álvaro de Campos
Álvaro de Campos representa o heterónimo mais próximo de Fernando
Pessoa e, ao contrário de todos os outros heterónimos, este é o único cuja
poesia tem um carácter evolutivo, passando por três fases.
Decadentista Futurista Intimista
Fases de Álvaro de Campos
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
Marcada pelo tédio,
cansaço e necessidade de
novas sensações. Falta de
sentido para a vida e
necessidade de fugir à
rotina.
Imita o Mestre na fruição
das sensações, só que lhe
adiciona a imaginação.
Exaltação da força, da
violência e do excesso.
Apologia da civilização
industrial. Valorização da
máquina e da velocidade
em deterimento da beleza.
Defesa de um Homem
novo, amoral e insensível
que domina o mundo
através da técnica.
Depressão, cansaço e
melancolia perante a
incapacidade das
realizações; saudades da
infância; incompreensão e
desejo de distanciação
dos outros/sociedade.
Nostalgia e desejo de
morte.
4. O poema
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
5. 1ª Parte – Sensação de cansaço
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
O sujeito poético afirma que
o que domina a sua vida é o
cansaço, um cansaço sem
uma origem ou causa bem
definida;
Fala do cansaço assumido
como coisa em si mesma,
sem já ser condição.
6. 2ª Parte – Racionalização do cansaço
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Embora muito abstractamente, o
“eu” poético tenta explicar a
origem desse cansaço:
as “sensações inúteis”, “as
paixões violentas por coisa
nenhuma”, “os amores intensos
por o suposto em
alguém” (isto é, pelas qualidades
que ele supôs em alguém, mas
depois o desiludiram);
Campos elenca coisas que todos
perseguem - as sensações, as
paixões, o amor - e diz que todas
elas falham em significado.
7. 3ª Parte - Comparação
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o
possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se
puder ser,
Ou até se não puder ser...
Aqui Campos ironiza com aqueles
que pretendem ter maiores
pretensões do que aquelas que ele
acha possível. Há quem ame o
infinito - os amantes do
conhecimento, os filósofos e os
religiosos; há quem deseje o
impossível - os sonhadores, os
ambiciosos; há quem não queira
nada - os pessimistas, os humildes.
Todos eles - segundo Campos -
erram, por serem idealistas. Ele
ama infinitamente o finito - ou seja,
quer tudo no nada, quer a
compreensão subtil do
desconhecido - quer o paradoxo,
inatingível, mas contínuo na sua
loucura.
8. 4ª Parte - Conclusão
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é,
isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Surgem, logicamente, as
consequências para os três
idealistas diferentes dele e para
ele próprio.
Os resultados para os outros são
portanto resumidos na própria vida,
mas para Campos a vida não chega,
em parte porque ele próprio nunca
se sente satisfeito - não tem a
riqueza, a fama, a mãe, a infância,
sobretudo a tranquilidade e a paz
de espírito para trabalhar.
9. Síntese
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
Os idealistas de que nos fala o poema vivem, cada um à sua maneira, sem ultrapassarem os limites
impostos ao homem (ou seja, mesmo aspirando ao infinito, ou ao impossível, eram sempre
tranquilizados pela esperança de o conseguirem).
Em contrapartida, o sujeito poético, embora desejando o possível e o finito, desejava-os fora dos
limites humanos – procurava sensações brutais.
Enquanto Alberto Caeiro se contentava com as sensações moderadas da Natureza,
Álvaro de Campos quis amar tudo de todas as maneiras, ultrapassando os limites impostos aos
homens.
O seu castigo foi o enormíssimo cansaço. Portanto, este seu cansaço é fruto de um
sensacionismo desmedido.
10. 10
Citação
Álvaro de Campos “O que há em
mim é sobretudo cansaço”
“Campos-Pessoa está cansado por não ter atingido o que para os
outros é tão fácil, porque os outros não duvidam, são empreendedores,
mesmo quando nada desejam. Deixam-se à vida, serenos ou irados, mas
completos, humanos, que vivem e que morrem sem perguntas. Campos-Pessoa
não é um ser assim, pois em si mesmo rumina uma intensa intranquilidade,
que ele justifica como cansaço, não-agir, em razão de não aceitar o seu fracasso
no mundo.”