2. “a poesia é como um periscópio. Ela sempre envolve um
observador (o leitor), espreitando pelo periscópio algo
que está sendo observado, a “coisa” da qual o poema
trata – uma sensação, um estado de espírito, um
problema, uma pessoa, uma árvore, um arbusto ou um
rio [...].
Os dois espelhos desse “periscópio” são o poeta e a
linguagem do poema. Em um poema, o poeta jamais
desaparece, sua mente, suas emoções e experiências são
parte integrante do poema.”
(Susan Wise Bauer, 2015, p. 390)
3. Na escola clássica, a aprendizagem é um processo em três estágios. Primeiro, degustar: adquirir
conhecimentos básicos sobre o assunto. Segundo, engolir: insira o conhecimento em sua
compreensão, avaliando-o. Ele é válido? É verdadeiro? Por quê? Terceiro, digerir: acomode o
assunto de acordo com a sua compreensão. Deixe-o mudar sua forma de pensar – ou rejeite-o como
inválido. Deguste, engula, faça a digestão. Descubra os fatos, avalie-os, forme sua opinião sobre
eles.
[...] os três estágios [são] genericamente conhecidos como trivium. O primeiro estágio da
educação é o chamado estágio da gramática (nesse caso, “gramática” representa os blocos lógicos, o
conhecimento fundamental de cada temática acadêmica). A escola básica exige que as crianças
absorvam a informação – sem lhes ensinar a avalia-la, simplesmente a aprendê-la. A memorização
e a repetição são os métodos básicos para o ensino; espera-se que as crianças se familiarizem com
certo corpo de conhecimentos; porém, elas ainda não são solicitadas a julgá-lo. O pensamento
crítico entra em cena durante o segundo estágio de educação, o estágio lógico. Uma vez lançado o
fundamento da informação, os estudantes começam a exercitar suas habilidades analíticas; eles
decidem se a informação está correta ou não e fazer conexões entre causa e efeito, eventos
históricos, fenômenos científicos e seus significados. No estágio final da educação secundária, o
estágio retórico, os estudantes aprendem a expressar as próprias opiniões sobre os fatos que
acumularam e avaliaram. Assim, os anos finais da educação focam a expressão refinada,
articulada da opinião no discurso e na escrita – o estudo da retórica.
Susan Wise Bauer, 2015, p. 26-27.
4. Primeiro nível de investigação: leitura no estágio
gramatical
Segundo nível de investigação: leitura no estágio
lógico
Terceiro nível de investigação: leitura no estágio
retórico
5. O primeiro passo para ler poesia é começar a ler.
A poesia é um encontro entre o leitor e o poeta.
Algumas vezes, armar-se antes do tempo com um
excesso de informação sobre técnica, meio histórico e
pano de fundo biográfico do poeta pode impedi-lo de ir
ao seu encontro. A informação de pano de fundo serve
para manter o poeta ao alcance da mão.
Susan Wise Bauer, 2015, p. 433.
A) Leia de dez a trinta páginas de
poesia
B) Leia o título, a capa e o sumário
C) Leia o prefácio
D) Vá até o fim
6. Leia o poema e anote as reações iniciais em seu diário de leitura.
Seu primeiro passo para ler um poema é simplesmente lê-lo, sem
preparo. Se o poema for um épico mais longo, tente ler ao menos a
primeira seção ou o primeiro livro. Se estiver lendo poemas mais
breves, tome por objetivo ler de cinco a dez poemas.
Será capaz de identificar uma emoção, experiência ou estado de
espírito que lhe sejam familiares?
Se o poema for uma narrativa, anote dois ou três eventos maiores
que ocorrem no primeiro livro e escreva uma sentença, descrevendo
o herói da história.
7. Volte atrás e faça uma pesquisa elementar do contexto.
Leia a página do título, a contracapa e quaisquer esboços
biográficos fornecidos.
Depois, anote em seu diário: o título, o nome do autor, a época em
que o poema foi escrito e quaisquer outros fatos que ache
interessante.
Dê uma olhada no sumário. Em caso de poema narrativo, o sumário
pode parecer com a lista de capítulos de um romance, que lhe dá
uma ideia prévia do enredo; em caso de uma coleção de poemas, os
títulos podem providenciar uma visão geral das preocupações do
poeta.
8. Na maioria dos casos, os prefácios de coleções de poemas
lhe fornecem informações valiosas sobre as técnicas e as
ideias do poeta.
No caso de poemas modernos, o prefácio pode significar
uma vantagem para a compreensão das preocupações do
poeta.
No caso de uma obra mais antiga, poderá obter
informações que o público original já tinha.
9. Agora que você teve a chance de ter um contato emocional inicial e, em
seguida, preencher as lacunas com informações de contexto, retome a
leitura.
Para isso, siga os seguintes passos:
1. Em um poema narrativo, faça uma lista rápida dos principais
personagens enquanto lê e anote os principais eventos;
2. Em poemas não narrativos, simplesmente tome nota sobre as ideias, os
estados de espírito ou as experiências do poema ao longo da leitura;
3. Ao longo da leitura, circule frases ou versos que chamam atenção aos
olhos ou ouvidos;
4. Marque qualquer seção do poema que tenha achado confusa ou obscura,
mas não desista, continue lendo.
10. Agora que leu uma vez, precisará prestar um pouco
mais de atenção na forma do poema; lembre-se de que a
forma é essencial para o sentido. A análise do poema
pode ser uma atividade altamente técnica; só a análise
completa do ritmo requer o estudo da escansão, a
escavação da métrica do poema.
Susan Wise Bauer, 2015, p. 437.
E) Retome o poema: identifique a
estratégia narrativa básica
F) Identifique a forma básica do
poema
G) Examine a sintaxe do poema
H) Tente identificar a métrica (ou as
métricas) do poema
I) Examine os versos e as estrofes
J) Examine o padrão de rima
K) Examine a dicção e o vocabulário
L) Procure por monólogos ou
diálogos
11. A estratégia narrativa tem a ver com a forma como o poema apresenta suas
ideias.
Há cinco “estratégias narrativas” que um poeta pode usar (ou pode
escolher usar uma combinação de métodos, mas, especialmente em poemas
curtos, é provável que haja um que seja predominante):
1. Contar uma história com começo, meio e fim;
2. Apresentar uma discussão de premissas e uma conclusão final;
3. Descrever uma experiência (física ou mental);
4. Descrever um lugar físico, um objeto ou uma sensação e permitir que
isso represente alguma outra realidade não física;
5. Evocar um estado de espírito, sentimento, ideia ou emoção.
12. A forma básica tem a ver com o método pelo qual o poema é composto.
Dentre as várias formas poéticas básicas, as seguintes serão vistas com mais
frequência:
Balada: trata-se de um poema narrativo, mas em escala menor,
caracterizando um personagem central ou um grupo pequeno de personagens.
Geralmente, a balada tem duas ou quatro estrofes e um refrão.
Elegia: trata-se de um lamento. As elegias gregas não eram necessariamente
lamuriosas, mas todas tinham uma métrica determinada; as elegias modernas
tendem a ser lamentos por pessoas mortas ou tempos extintos.
Épico: trata-se de um relato narrativo longo, que retrará os grandes feitos de
heróis lendários – feitos com algum tipo de significância cósmica.
13. Haikai: essa forma japonesa de poema, veicula uma só impressão. O haikai, usado por
alguns escritores modernos, tem dezessete sílabas, ordenadas em três versos, com o padrão
silábico cinco-sete-cinco. O haikai começa com ima imagem, e depois da quinta ou da
décima segunda sílaba amplia o foco para uma ideia ou uma percepção espiritual associada
com uma ideia mais ampla.
Ode: trata-se de um poema de caráter exaltado, e muitas vezes se dirige diretamente ao
leitor (“apóstrofe”).
Soneto: trata-se de um poema de quatorze versos escritos em pentâmetro iâmbico, com um
esquema de rima muito regular. O soneto petrarquista ou italiano, por exemplo, apresenta
os primeiros oito versos (o octeto), com rimas abbaabba, e colocam uma questão, uma ideia
ou uma discussão; os últimos seis versos (o sexteto), com rima cdcdcd (ou, ocasionalmente,
cdecde; outras variações também são possíveis) solucionam, respondem ou ilustram a ideia
apresentada nos oito primeiros ersos. Entre o octeto e o sexteto temos a volta, ou ponto de
retorno, em que o ocorre a mudança do problema para a solução.
Villanelle: trata-se de um poema com cinco estrofes de três versos e um estrofe final de
quatro versos. A villanelle tem apenas duas rimas; o primeiro e o terceiro versos da
promeira estrofe reaparecem como um refrão alternado nas estrofes seguintes e aparecem
nos últimos dois versos da estrofe final.
14. Ache os sujeitos e os verbos de cada sentença poética.
Embora pareça um exercício simples, isso vai lhe mostrar
instantaneamente se o poeta está usando dicção natural ou
uma forma poética mais elevada;
A separação de sujeito e verbo, a inversão da ordem natural
dos dois ou, ainda, um sujeito ou verbo elípticos, mostram
“dicção poética”.
15. Há dois tipos básicos de métrica: métrica silábica, que conta o número de sílabas de cada
verso, e a métrica tônica, que conta apenas as ênfases ou sílabas fortes.
Na métrica silábica, todo grupo de silabas é chamado de pé. O verso inglês tem cinco pés ou
cinco padrões comuns:
1. anapéstico: ocorre quando duas sílabas átonas são seguidas de uma tônica (o metro
limerick);
2. dáctilo: é uma sílaba tônica, seguida por duas átonas;
3. iâmbico: é uma sílaba átona, seguida de uma tônica (ou *trocaica);
4. espondeu: são duas sílabas tônicas juntas. O espondeu muitas vezes vem antes ou
depois do pé pirríquio (duas sílabas átonas);
5. troqueu: é uma sílaba tônica seguida de uma sílaba átona.
Obs.: A “métrica” nomeia o número de pés em cada verso: diâmetro (dois pés), trímetro (três
pés), tetrâmetro (quatro pés), e assim por diante.
16. Versos e rimas tendem a seguir um padrão.
Em primeiro lugar, pergunte-se: será que os versos soam como um todo, ou será que o
verso se divide naturalmente em duas metades (hemistíquios)? Depois, ache o começo e o
fim de cada sentença e pergunte-se:
São as sentenças idênticas aos versos? Ou será que as sentenças ultrapassam o fim dos
versos (quebra de versos)? Se último for o caso, será que a quebra de verso é natural ou será
que a quebra da linha aparece em um lugar estranho? Se o poeta escolhe um comprimento
de verso que se choca com o comprimento das sentenças, ele decidiu chamar a atenção para
um ou para outro. Por quê?
Em seguida, observe as estrofes. As estrofes são sequências de versos que impõem uma
estrutura ao poeta.
Se ele decide usá-las, está optando por se limitar. Por quê? Quantos versos têm cada
estrofe? Será que todos os versos seguem o mesmo padrão de rima e métrica, ou será que o
poeta está sendo menos rígido, variando o padrão? Onde as estrofes perdem o tom? Será
que elas mostram uma mudança de sentido, uma reversão, um novo desenvolvimento?
17. A notação poética usa uma letra do alfabeto para cada som único da rima; você pode usar
esse recurso para anotar um esquema de rima em seu diário.
A “rima final” é o tipo mais comum de rima poética, mas não se esqueça de procurar
também pela rima interna ou mediana: uma rima dentro de um verso;
Uma vez que tenha identificado as rimas, poderá classificá-las:
Rima feminina: é uma rima cuja última sílaba é átona;
Rima masculina: é uma rima cuja última sílaba seja tônica ou uma palavra monossilábica;
Rimas toantes ou imperfeitas: ocorrem quando duas sílabas têm um som parecido, mas não
idêntico.
18. Dicção: maneira de dizer ou falar; vocabulário: palavra.
O poeta está usando palavras alusivas, abstratas, conceituais, ou palavras concretas,
particulares?
Será que ele prefere um vocabulário rico, multissilábico, alatinado, ou monossílabos breves
e simples?
Que imagens estão presentes no poema? Qual o significado dessas imagens? Para quais
sentidos essas imagens apelam? Visão, audição, olfato, paladar, tato?
Será que o poeta apela em primeira instância para o corpo, para as emoções ou para o
intelecto do leitor?
Se o poema contém símiles explícitos (usando as palavras como, ou feito), preste atenção
particular em ambas as partes da imagem: Quais são as duas coisas que estão sendo
comparadas? Qual é a semelhança entre elas; qual a diferença? E será que o escritor está
destacando sua semelhança ou sua diferença?
19. Monólogo: fala consigo mesmo; diálogo: fala entre duas ou mais pessoas.
Existe algum diálogo entre o narrador do poema e outra pessoa? Em caso positivo, como o
caracteriza: hostil, amigável, gentil, interrogativo?
Será que o narrador está dialogando consigo mesmo? Em caso positivo, esse diálogo interno
implica uma solução ou mais um tipo de complicação? Isso aprimora ou complica o
relacionamento do poeta com o mundo externo? Será que ele promove ou complica o
relacionamento do poeta com os outros?
20. Agora você deve encerrar seu exame do poema,
perguntando-se: que ideias esse poema me transmite –
e como a forma desse poema se relaciona com essas
ideias? As respostas às questões a seguir variarão
tremendamente de poema para poema, mas lembre-se:
resista à pressa de reduzir o poema a uma sentença
declarativa. Se o poeta tivesse sido capaz de colocar
suas ideias em uma sentença afirmativa simples, ele
não teria necessidade de escrever um poema.
Susan Wise Bauer, 2015, p. 444.
M) Há algum momento de escolha
ou mudança no poema?
N) Há relações de causa e efeito?
O) Qual é a tensão existente entre o
físico e o psicológico, o terreno e o
espiritual, a mente e o corpo?
P) Qual é a temática do poema?
Q) Onde está o eu?
R) O poema lhe é simpático?
S) Como esse poeta se relaciona com
aqueles que vieram antes dele?
21. Mundo imutável ou em constante transformação.
Será que o poema está posto em um mundo imutável? Ou será
que está em constante transformação, do começo ao fim do
poema?
Se houver uma mudança, será que ocorre em relação ao poema
ou em um momento de tomada de decisão do poeta/narrador?
(Às vezes, essa escolha é muito óbvia; em outras, é muito mais
sutil).
22. Causa: razão, motivo, origem; efeito: resultado, consequência,
destino, fim, finalidade.
Será que o escritor articula seu estado de espírito ou sua
experiência a qualquer evento ou causa particular? Em caso
positivo, será que essa associação tem repercussão em você?
Se não há causalidade no poema, será que já emoções ou
eventos por alguma razão particular?
23. Físico: corpóreo, material, natural; psicológico: concernente aos fatos psíquicos, à
mente; terreno: mundano; espiritual: incorpóreo, imaterial, sobrenatural; mente:
intelecto, pensamento, entendimento, concepção, imaginação, intenção, intuito,
disposição; corpo: a substância física, ou a estrutura, de cada homem ou animal.
Será que os objetos e os cenários físicos do poema estão incentivando ou
impedindo as emoções expressas?
No mundo do poema, será que o físico leva à iluminação espiritual – ou será que
bloqueia a espiritualidade?
A mente e o corpo estão em guerra?
Há tensão em quais aspectos terrenos e espirituais do poema? Ou será que
somente um desses elementos está presente? Nesse caso... onde ficou o outro?
24. Temática: conjunto de temas caracterizadores de uma obra
artística ou literária; tema: proposição que vai ser tratada ou
demonstrada, assunto, tópico, motivo que dá origem e no qual se
desenvolve a composição.
Do que se trata o poema? Lembre-se, não há necessidade de
formular uma sentença declarativa: você pode responder com
uma palavra, como “Dor”, “Amizade”, “Irlanda”.
Qual palavra ou frase parece dar nome ao núcleo em torno do
qual o poema gira?
25. Eu: a pessoa. Há teóricos que preferem não confundir o eu do
poema (chamado de eu lírico ou eu poético) com o eu do poeta (o
compositor do poema).
Será que o eu do poeta está presente no poema? Em caso
positivo, qual é a relação entre esse eu e a temática do poema?
26. Simpatizar: ter simpatia, sentir inclinação, afeição,
experimentar simpatia mútua; concordar: pôr de acordo,
conciliar, concertar, ter a mesma opinião sobre, harmonizar.
A pergunta: “Você simpatiza com esse poema?” não é a mesma
que “Você concorda?”.
O poema repercute em você? Ou será que é incompatível com
sua experiência?
Você consegue identificar que partes do poema você reconhece,
e quais lhe parecem estranhas?
27. Retórica: eloquência, arte da persuasão.
Qual o posicionamento do poeta na retórica das ideias?
Antigamente, os críticos viam os poetas mais jovens como
rebeldes em relação aos mais velhos, desenvolvendo seus
próprios estilos em resposta a uma geração anterior; ou, então,
eles viam os poetas mais jovens assumindo as técnicas, os
temas e até a linguagem dos poetas mais velhos.
Será que você consegue reconhecer um desses relacionamentos
entre as obras poéticas que tenha lido antes?
28. BAUER, Susan Wise. História refratária: os poetas e seus poemas. In: Como educar
sua mente: o guia clássico para ler e entender os grandes autores. Trad. Gabriele
Greggersen. São Paulo: É Realizações, 2015 (Coleção educação clássica), págs. 389-
506.
HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5 ed.
(Des. Snowman Labs; by Regis LTDA.) Curitiba: Positivo Soluções Didáticas LTDA.,
2010. (Edição eletrônica).