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“É difícil imaginar um livro mais cheio de graça e discernimento
quanto à vida incomum do pastor comum. Por isso, deixarei a
tentativa de encontrar algum outro e lerei novamente O Pastor
Imperfeito, de Zack Eswine. Ninguém hoje expressa mais
discernimento quanto aos perigos e às alegrias do ministério diário
na igreja local – uma meditação refrescantemente honesta, escrita
com beleza.”
Mark Galli, editor-chefe, Christianity Today
“Gostaria de ter lido esta obra vinte anos atrás, quando comecei a
considerar o ministério pastoral. O assunto que Zack aborda é vital
tanto para pastores novatos quanto para pastores experientes. Ele
nos direciona a evitarmos as ambições perigosas, as expectativas
absurdas e os padrões de trabalho prejudiciais. No entanto, ele faz
isso com inteligência, autocrítica e profundo realismo. Eswine
reacendeu em mim um amor pelo Pastor Perfeito, cuja graça
extraordinária inclui pastores imperfeitos na obra de seu reino. Este
livro deveria estar na lista de leituras indispensáveis de todo pastor!”
Mark Meynell, diretor associado (Europa), Langham Preaching;
Autor, A Wilderness of Mirrors
“Zack Eswine o fez novamente. Em O Pastor Imperfeito, ele
estende a mão de irmandade a cada ministro do evangelho. Muitos
soldados fatigados guardam as linhas de frente; Eswine lembra a
todos nós que Cristo é nosso guarda e defensor, e que nele está o
nosso lugar de maior força.”
Lore Fergurson, escritor, designer gráfico, palestrante
“Este livro precisa ser lido por todo pastor, para nos resgatar e nos
chamar de volta ao que realmente importa. As expectativas de
ministério grande, rápido e famoso numa cultura pós-cristã podem
ser um fardo destrutivo. A sabedoria de Zack é um bálsamo curador
que traz a graça necessária para nos ajudar a ministrarmos com
paciência e perseverança.”
Peter Boyd, pastor, Shore Presbiterian Church, Auckland, New
Zeland
“Aqui há sabedoria reminiscente dos pregadores dotados de
outras épocas, mas expressa no tom e no som de nossos dias. Há
teologia pastoral escrita, pregada e vivenciada na vida real e
provada do próprio Zack. Há conselho humano e piedoso. Você
deve ler este livro.”
Leighton Ford, presidente, Leigthon Ford Ministries
“Zack Eswine projeta sua prosa numa área muito sensível que
nós, pastores e líderes, odiamos discutir: nós extraímos nosso
senso de identidade e estima do número de pessoas que vão às
nossas igrejas, do volume das ofertas e de nossos seguidores em
mídias sociais. Este é um livro cheio não de condenação e sim de
encorajamento cativante. Pude sentir os braços de Zack ao meu
redor quando Deus o usou para me mostrar o caminho adiante – em
direção a uma vereda de cura e esperança.”
Bryan Loritts, pastor de pregação e missões, Trinity Grace
Church, New York City; fundador e presidente, The Kainos
Movement; editor, Letters to a Birmingham Jail
“Este é simplesmente o melhor livro sobre ministério pastoral que
já li. Num mundo de ministério caótico que idolatra tamanho e
estrelato, Zack abre nossos olhos para a única coisa que realmente
importa. Leia com oração e releia esta meditação bela e pungente, e
você descobrirá alegria e verdadeira grandeza em meio à sua
extraordinária vida comum diária.”
Ken Shigematsu, pastor, Tenth Church Vancouver;
Autor best-seller, God in My Everything
“O Pastor Imperfeito é um lembrete revigorante do que o ministério
realmente é: andarmos com Jesus, reconhecermos nossos próprios
desejos e limitações e refletirmos uma atitude ouvinte, uma
paciência esperançosa e um propósito restaurador. As experiências
pessoais de Zack relacionadas aos altos e baixos do ministério, bem
como sua abordagem contemplativa à espiritualidade, desafiarão e
encorajarão qualquer um que busca ministrar em nome de Jesus.”
Wendy Der, diretor de mobilização no México, Avance
Internacional
Para Mamaw, Papaw e Jessica.
Aguardo ansioso o momento de poder apresentá-los
Sumário
Agradecimentos
Apresentação à Edição em Português
Introdução
PRIMEIRA PARTE | A Chamada que seguimos
1 | Desejo
2 | Reconquistando nossa humanidade
3 | Saindo de casa
4 | Invisível
SEGUNDA PARTE | As tentações que enfrentamos
5 | Estar em todo lugar para todos
6 | Consertar tudo
7 | Saber tudo
8 | Imediatismo
TERCEIRA PARTE | Reformulando nossa vida interior
9 | Uma nova ambição
10 | Contemplando Deus
11 | Encontrando o nosso ritmo
QUARTA PARTE | Reformulando o trabalho que fazemos
12 | Cuidando dos enfermos
13 | Cuidando dos pecadores
14 | Conhecimento Local
15 | Liderança
16 | Realismo Romântico
Agradecimentos
Quero agradecer a Dave Dewit, cujo coração em favor de líderes
no ministério e dedicação a este livro me humilha e encoraja.
Obrigado também a Lydia Brownback por seu trabalho de edição.
Sou grato à Bruwer Vroon, Matt Blazer, e aos presbíteros da igreja
de Riverside que leram os esboços iniciais e fizeram sugestões.
Obrigado, Jessica, pelas muitas leituras que fez tarde da noite e aos
sábados. Sua sensibilidade, sugestões e seu estímulo em nossa
mútua parceria me abençoam.
Sou grato à Igreja de Riverside, de cujo contexto de cotidiana vida
mútua e de meios comuns eu escrevo este livro.
Apresentação à Edição em Português
Lidando com o aconselhamento pastoral por alguns anos, tenho
percebido que muitos dos grandes problemas que enfrentamos
parecem resultar de uma equação simples e binária: Não queremos
Deus e queremos ser Deus. No fim das contas, o verso e reverso de
uma mesma moeda. A marca registrada da impiedade humana, a
qual, desde as suas raízes, caracteriza-se ativamente por estultícia,
soberba e idolatria. Em rigor, a impiedade que acometeu os seres
humanos é isto, a saber, o desprezo a Deus, que se manifesta em
virar as costas para ele e tentar assumir o controle de tudo.
A lógica falida de não querer Deus e querer ser Deus, logo
percebi, pode também ser uma realidade muito fortemente ativa em
mim, pastor e conselheiro. Se você, leitor, pastoreia um rebanho de
Cristo, suponho que entende o que estou tentando dizer. Nós,
pastores, estamos constantemente sujeitos à tentação tão antiga
quanto a astuta serpente no jardim: “É certo que não morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn
3. 4b-5).
O único pastor perfeito, Jesus Cristo, sofreu um ataque
semelhante. No quarto capítulo do Evangelho de Mateus, lemos que
ele foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
Vemos neste texto três áreas de tentações frequentes no ministério
pastoral.
“Manda que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Jesus
estava com fome. “Supra sua necessidade física”, foi o conselho do
maligno. A tentação para ser imediatista, por atender as
necessidades do momento, suprir o povo naquilo que este julga ser
as suas mais sérias e importantes necessidades... Em suma, agir
inteiramente referenciado por interesses pessoais. Isso atinge o
centro de nossa identidade. Trata-se de uma tentação muito sutil,
pois não é prontamente reconhecida como tal. Geralmente, trocando
alhos por bugalhos, confundimos esta tentação como sendo um
chamado de Deus. E nos indagamos: “Afinal de contas, o Senhor
não quer que alimentemos o povo?” “Ele não quer que sejamos
produtivos e eficientes em nosso trabalho?”
Assim, pensar em um ministério que lance raízes, que trabalhe
sistemática e perseverantemente a fim de ver vidas serem
transformadas, que seja constante e diacrônico na pregação e no
discipulado cotidiano, enfim, tudo que exija o concurso de tempo
para o amadurecimento, pode ser inconcebível para alguns de nós.
Há alguns, em nossa atual geração de pastores, que têm imensa
dificuldade com processos lentos, que exigem dedicação e esforço e
que não trazem resultados imediatos.
“Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo
do templo. E lhe disse: Se és filho de Deus, atira-te abaixo, porque
está escrito: aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te
guardem...” (vv. 5-6). Assim, a tentação para se realizar algo
espetacular não diminui desde os tempos de Jesus. Imagine o
espetáculo que seria Jesus pulando do alto do templo e os anjos
apressando-se em segurá-lo nos céus. Este cenário teria toda uma
atmosfera Hollywoodiana. Em nossos ministérios, também podemos
ser seduzidos pelo ideal de sucesso reluzente ao custo da
fidelidade. Certamente, queremos ser bem sucedidos. Mas o que
isto significa? A realidade é que podemos ter nesta área referenciais
absolutamente mundanos, secularizados, e tomá-los como sinais
indiscutíveis de bênção e evidente aprovação de Deus.
Pare um pouco e pense na história do povo de Deus, e sobretudo
na pessoa de Jesus Cristo, o melhor dos pastores. Pode ser difícil
lembrarmos que a salvação vem do “remanescente de Israel”; do
“renovo que brota de uma terra seca”. É difícil acreditar no
nascimento despretensioso do Rei dos reis, que veio ao mundo
como servo, entrou em Jerusalém montado num pequeno
jumentinho, morreu em uma cruz ao lado de ladrões e como um
criminoso amaldiçoado e proscrito. Quando lemos o livro de Atos
dos Apóstolos, constatamos que o evangelho se espalhou e tomou
força pela pregação de “homens comuns”, de “pescadores incultos”,
e de um outrora fariseu, perseguidor da igreja, que foi o apóstolo
Paulo. E o poder de Deus aperfeiçoou-se em meio àquelas
fraquezas, a fim de que a glória fosse inteiramente do Senhor.
Um incansável missionário norte-americano no Brasil, certa
ocasião, escreveu oferecendo um alerta: “É importante compreender
que nossa ânsia pelo espetacular é mais uma manifestação de
nossa busca por identidade. Queremos ser alguém, queremos ser
celebrados, ter ministério reconhecido. Se o espetacular cumpre
nossa necessidade íntima, faremos qualquer coisa para consegui-
lo.” Porém, o que realmente importa? Quem realmente somos? O
que nos motiva a provarmos o nosso valor por meio daquilo que
fazemos? Nós pastores sabemos que o cenário do ministério
pastoral evangélico, tristemente, pode ser caracterizado por
competições, manipulações e comparações ministeriais. Aqui neste
livro temos um chamado a “permitir” que o poder de Deus se
evidencie através de nós, que somos frágeis vasos de barro, por
meio de nossa fraqueza e pequenez.
“Levou-o ainda o diabo a um monte alto, mostrou-lhe todos os
reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse: tudo isso te darei se
prostrado, me adorares” (vv. 8-9). Penso que entendemos ser esta
uma tentação contínua no ministério pastoral. Com alguma
frequência, nos encontramos persuadidos de que a busca de poder
e o desejo de servir têm o mesmo significado. Em um contexto
assim, facilmente os fins podem justificar os meios, atendendo ao
nosso desejo de sermos mais eficazes no trabalho de Deus.
Indagamos intimamente: “Que valor há em não termos poder, em
não causarmos impacto?”.
Nos momentos em que nos virmos sujeitos a tal realidade, ajuda-
nos lembrarmos que o ministério é servir ao Senhor dependendo do
seu poder e não do nosso. No reconhecimento de nossa fraqueza e
vulnerabilidade nos tornamos mais dependentes da graça de Deus,
e mais agradecidos por ela, ao mesmo tempo em que somos
levados à empática posição de nos tornamos solidários ao próximo.
Quando o Senhor Jesus Cristo foi tentado, respondeu: “Ao Senhor
teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (v. 10b). Estas palavras
nos lembram que vamos nos tornando parecidos com aquilo que
adoramos, e constituem-se em alerta para que, em nosso ministério,
tenhamos os olhos fixos em Cristo. Quando deixamos de olhar para
Jesus, podemos ser facilmente conduzidos a usar pessoas,
manipular circunstâncias, armar situações para alcançar os nossos
objetivos, e entrar em vergonhosas e patéticas disputas de poder.
Nunca ficaremos livres destas tentações em nosso ministério. Elas
são constrangedoras e sedutoras por atingirem a nossa ambição e
prometerem satisfazer a ilusão do ser humano egocêntrico. Eu e
você podemos servir ao Senhor com o coração puro e autêntico. Eu
e você podemos servir sem que dependamos, em todo tempo, de
que o nosso valor seja referenciado pelo meio – e se há uma
verdade acerca do meio é que ele é instável e caprichoso. E se o
Senhor nos conceder aquela graça, então estaremos mais livres. E
desfrutar do oxigênio dessa liberdade, provocará uma alegria
profunda em servir ao nosso Deus com um coração inteiramente
voltado para ele.
O triste fato, porém, é que reconhecidamente chegamos até aqui
com uma história de fracassos nessas áreas. Cristo, que foi vitorioso
nestas tentações tão prementes, é o único pastor perfeito. Ele é o
“supremo pastor e bispo” de nossas almas que, por natureza, são
carentes e mesquinhas. Digno é o cordeiro! Sim. Nós, assim como
Pedro e Paulo, somos todos pastores imperfeitos, com histórias de
fracassos para contar.
O Pastor Imperfeito é o segundo livro de Zack Eswine publicado
em português. O primeiro foi A Depressão de Spurgeon (Fiel, 2015).
O Senhor me conferiu a oportunidade honrosa de revisar e prefaciar
a ambos. O Dr. Zachary W. Eswine foi por seis anos professor
assistente de Homilética e diretor do programa de Doutorado no
Covenant Theological Seminary, em St. Louis, Missouri, nos
Estados Unidos. Atualmente, ele conduz o ministério pastoral em
uma igreja na mesma cidade. Eswine é também o autor de alguns
outros livros, inclusive de um acerca do método de pregação de
Spurgeon — Kindled Fire: How the methods of C.H. Spurgeon can
help your preaching.
Em O Pastor Imperfeito, Eswine faz pulsar, com uma sonoridade
simples porém vibrante, o seu “coração de pastor”. Com acolhedora
ternura, sensível compaixão e graciosa firmeza, ele situa o chamado
que seguimos, reposicionando-nos em nossa humanidade. A seguir
expõe a insensatez de engrossarmos as tipologias ministeriais que
refletem o padrão de não querer Deus e querer ser como Deus. Na
terceira parte do livro, faz uma chamada à reformulação de nosso
mundo interior, por situarmos as nossas ambições em perspectivas
divinas e realistas. A parte final do livro é dedicada a uma
reformulação do trabalho pastoral cotidiano, de uma forma prática e
balizada instrumentalmente por discernimento, critério e medida.
O Pastor Imperfeito, penso eu, é oportuna contribuição à teologia
pastoral, e particularmente à poimênica evangélico-reformada. Ele
nos será muito útil, os quatro presbíteros de nossa igreja, pois
pastores imperfeitos é o que somos, embora nem sempre estejamos
lembrados ou crendo nisto. Como João Batista, eu precisarei
relembrar a mim mesmo, aos meus colegas e à nossa preciosa
congregação: “Eu não sou o Cristo”.
Gilson Santos
Introdução
Tornei-me pastor. Mas eu não sabia como ser um deles.
A Serpente viu isso. Aproveitou a oportunidade. “Você pode ser
como Deus”, disse ela. E eu, tolo, acreditei.
Olhando atrás, para esses vinte anos de trabalho pastoral, vêm à
minha mente as palavras de um poeta. Elas preparam o palco para
a conversa que quero ter com você.
É muito provável, arrazoa o pregador,
Que você esteja mais disposto a escutar
Agora que sua cidade desmoronou de onde estivera.1
Estou escutando mais. Convido você, em sua cidade derribada, a
juntar-se a mim.
Quando comecei não sabia que a vocação pastoral em Jesus
traria limites, faria com que eu andasse mais devagar, e
desmancharia, dolorosamente, a mal direcionada orientação de
minha vida. Agora sei que meu sucesso e minha alegria como
pastor dependem disso.
O seu também.
Carl Dennis, “Smaller”, em Unknown Friends [Amigos desconhecidos], (New York: Penguin
Poets, 2007), 16.
PRIMEIRA PARTE | A CHAMADA QUE
SEGUIMOS
Vocação
O lugar que ele nos dá para habitar.
O pouco que ele nos dá para fazer naquele lugar.
As pessoas a quem convida para que conheçamos ali.
Esses nossos dias,
em que continuamos por aí.
Basta então,
essa velha obra de mãos
Dele e nossa
para aqui amar,
para aprender aqui a sua canção, como grilos que arranham
e cantam,
dos recantos invisíveis,
continuando a fazer
aquilo para o que foram criados,
a arte noturna de
faces não notadas,
com nossas asas não observadas, até que, mais uma vez, ele caminhe
no frescor do dia,
para reclamar nossos nomes.
E nós então,
com nossas bandeiras brancas costuradas,
estaremos por trás de suas sempre verdejantes,
finalmente deixando o lugar escondido
e com ele
mais uma vez caminhando juntos.
1 | Desejo
Ele pensa somente naquilo que deseja e não se pergunta se deveria
desejar isso.
– B C
Eu me lembro de estar sentado no estacionamento, em uma
mesa de piquenique na casa de meus avós em Henryville, Indiana.
Estava no terceiro ano de meu primeiro pastorado. Tirara uma breve
licença de estudo para escrever meu primeiro artigo para uma
publicação ministerial. Mamaw, feliz com a minha visita mais longa,
fez o bolo de especiarias que sempre fazia quando eu vinha à sua
cidade. Pegando minha caneta e olhando rua abaixo, senti o que
qualquer pessoa com certeza sentiria quando começa a realizar
aquilo que sabe que foi feita para fazer — o nobre prazer de sentir
que, de alguma forma, basta a nós esse dia, que o dia não pode nos
conter porque brilharemos mais que ele. No meu caso, sentia um
crescente desejo de escrever algo significativo para os pastores.
Queria que fosse algo excepcional.
Naquela semana sabática, devorei o assunto que mais me
empolgava na época — os primórdios do Seminário Princeton e a
pregação. Isso provavelmente soa irritante ou incrivelmente
maçante para algumas pessoas. Mas, para mim, o assunto era
como o bolo de especiarias da Mamaw. O primeiro reitor de
Princeton, Archibald Alexander, bem como o seu filho, pareciam ter
tanto para dizer, e isso alimentou minha alma com respeito à
pregação. Ofereciam alimento deleitoso para o pastor ferido em que
eu estava me tornando. Fazendo uma retrospectiva, penso que
mesmo sendo novo no ministério, eu já estava profundamente
cansado.
De alguma forma, no entanto, aquele sentimento de estarmos
realizando algo significativo pode fazer com que nos enganemos, ao
ponto de acharmos que as coisas na verdade não são tão ruins
quanto parecem. Uma boa lembrança pode se juntar a esse
sentimento e, juntos, eles alimentam um refúgio de esperança. Dr.
Calhoun compartilhou com regularidade sua sala de estar e uma
xícara de chá. Com o passar dos meses, ele transmitira o amor que
sentia pelo velho Princeton para mim (e para outros). Tendo tal
memória jungida à oportunidade de escrever, e o bolo de
especiarias da Mamaw à minha frente, eu me sentia animado.
Sempre quis transformar o mundo. Desejava muito fazer isso.
Olhando para trás, eu achava que esse tipo de desejo era para um
grande momento épico. (As pessoas excepcionais não são presas a
uma vida de momentos nada excepcionais, não é mesmo?) Esses
momentos épicos, quando realizados, não deixariam nada ser o
mesmo. O próprio céu teria nos tocado. Essa ideia de uma grande
arremetida flertava com os meus desejos. A aspiração épica
começou a andar de mãos dadas com as minhas tentativas de
pregar.
Não estava só nisso. Os meus colegas que se formaram comigo
no seminário partilhavam desses mesmos anseios e sonhos. E em
minha mente isso não era irracional. Afinal, os meus professores e
colegas de estudo reconheciam publicamente a minha pregação e
afirmavam meus dons. Eu também tinha lido sobre como Deus
atendera a pregadores com o seu Espírito no passado, e desejava
que ele fizesse o mesmo conosco no presente. Mas depois de dois
anos em minha primeira igreja, toda a minha pregação parecia
apenas dar às pessoas um motivo para visitar e escolher outras
igrejas.
Passei, portanto, a desejar o encontro de um momento épico fora
do púlpito. Tentaria pastorear pessoas com este grandioso fim.
Porém, o nível de conflito existente entre meus presbíteros me
deixava atônito. Eu estava chegando àquele pedaço da estrada no
deserto que a maioria dos pastores novos têm de passar nos
primeiros dois a quatro anos de um novo chamado — o deserto em
que a maioria de nós desiste. Mas naquela época eu não percebia.
Nem percebia o grande quebrantamento que uma pequena igreja
consegue suportar. Naquele tempo, eu não compreendia o que
agora estou compelido a dizer. Os pastores não são diferentes de
outras pessoas. Nós também nos “perdemos em nossos anseios”.2
Desejo
A Serpente sabe disso. As árvores do jardim eram desejáveis, boas
e agradáveis aos olhos (Gn 2.9). Entretanto, quando Eva viu aquela
árvore única, desejou-a de modo torto. Ela e Adão procuraram
consumi-la à parte de Deus, apesar do propósito declarado para
aquela árvore (Gn 3.6). Queriam algo desejável, mas do modo
errado. É possível que façamos o mesmo no ministério.
Não se engane. O desejo é um fogo de artifício. Manuseado com
sabedoria, enche o céu da noite com luz, cor, beleza e deleite. O
desejo mal manuseado pode queimar e incendiar toda a sua
vizinhança (Tg 4.1–2).
Conheço em primeira mão a beleza e o incêndio criminoso dos
desejos ministeriais. Sei o que é ficar perdido nesses desejos e
precisar ser reencontrado em Jesus. Eu era um desses caras a
quem as pessoas diziam: “Você é um dos melhores pregadores que
já ouvi, e é tão jovem — mal posso esperar ouvi-lo daqui a dez
anos”. Bem, há muito se passaram dez anos e eu não me tornei
aquilo que foi projetado antes.
Não falo isso com morbidez. Espero que você logo perceba que
escrevo como quem sente profundamente ter sido resgatado de si
mesmo pela abundante graça de Jesus. As águas insalubres da
celebridade, consumismo e gratificação imediata haviam infiltrado a
água que eu bebia. Meus desejos pastorais tinham se maculado
sem que eu percebesse. Muitos de nós não percebemos. Nós e
nossas congregações sofremos por isso.
Portanto, estabeleçamos o fato de que a vocação pastoral começa
com o desejo. O apóstolo Paulo diz o seguinte: “Fiel é a palavra: se
alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja (1Tm 3.1).
Pedro concorda: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós,
não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer;
nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.2).
Reflita comigo por um momento. Quando foi que você tornou
conhecido o seu desejo pelo ministério pela primeira vez? Era mais
velho ou mais jovem? A quem você contou? No meu caso, eu
estava na segunda série do ensino fundamental da escola Saint
Anthony. A Sra. Canter escrevera no quadro de giz: “O que você
quer ser quando crescer?”
Eu respondi, e Sra. Canter ajuntou as duas palavras para todos
verem: “Zack — Sacerdote”.
Eu ainda não associara o desejo pastoral ao amor por dinheiro (Lc
16.4), contatos para angariar posição (Mt 23.6–7), cobiça por poder
(At 8.18–21) ou ao avanço de meu próprio nome. Ainda não sabia
que servir a Deus poderia ser usado, até mesmo por mim, como
modo de tentar, alinhado com o velho sussurro da Serpente, tornar-
me como Deus (Gn 3.5). Só sabia, como menino de oito anos, que
eu desejava servir a Deus com minha vida em ministério vocacional.
Eu não estava inquieto naquela época, nem um pouco. Era
maravilhoso.
Desde então, porém, aprendi algo, não como sacerdote, mas
como pastor. Existem muitos tipos de desejos atuando neste mundo,
e nem todos eles são bons.
E se você for uma montanha sem nome?
Meus desejos começaram a correr atrás de toda espécie errada de
mentoria. Fui auxiliar de pastor da juventude em uma igreja
pequena, lugar onde iniciei o meu ministério pastoral. O meu pastor
gastou horas e mais horas me ensinando por três anos. Mas notei
algo. Ao entrar em reuniões regionais regulares de pastores e
líderes de igreja, ele e eu entramos calmamente, enquanto outros
pastores geralmente entravam na sala com certo estardalhaço.
Eram os pastores de grandes igrejas. Alguns tinham escrito livros,
moderado congressos e pregado a milhares de pessoas. Embora
anos mais tarde eu viesse a conhecer um pouco dessa espécie de
fanfarra, o fiel pastor que foi meu mentor jamais teria essa
experiência.
Ao longo do caminho, descobri algumas das razões para isso. Eu
fazia parte de uma equipe que oferecia uma conferência anual para
pastores. No ano em que tentamos resistir a um pensamento
centrado em celebridade, mal conseguimos financiar a conferência.
Nossos pregadores eram líderes veteranos, de muito tempo de
ministério, mas desconhecidos. Tristemente, as inscrições para essa
conferência foram poucas.
No ano seguinte voltamos a obter grandes nomes para que as
pessoas viessem. Com certeza, a conferência ficou lotada de gente.
Na nossa terra, a experiência e sabedoria do pastor têm pouco valor
financeiro, a não ser que ele seja bem conhecido. De onde veio
essa ideia? Não sei, mas preste atenção. Essa mensagem gritava
alto e claro para mim quando eu era jovem pastor em treinamento.
O que estou tentando dizer a você é que naquela época eu estava
com vinte e seis anos, terminando o seminário, e a pureza do meu
desejo de servir a Deus por aquilo que ele é, enquanto ainda
cursava a segunda série do ensino fundamental, estava se
apagando. Estava se tornando bem claro que, se quisesse obter
sucesso no ministério, eu precisaria fazer algo grandioso. Eu teria
de definir o que seria grande em termos de tamanho, fama e a
rapidez com que conseguiria realizar.
Voltando àquelas introduções iniciais, à cultura pastoral, vem à
mente uma historieta contada sobre o famoso Richard Foster e seu
filho, Nathan. Nathan estava ansioso por conquistar rapidamente as
famosas montanhas do Colorado. Enquanto descansava na encosta
rochosa de uma dessas montanhas célebres, Richard apontou para
o filho a beleza de uma montanha adjacente: “Nate, está vendo
aquela montanha? Tem uma cumeeira impressionante. É um pico
perfeito. Se tivesse uns poucos metros a mais de altura, você
conheceria o nome e desejaria subi-la. Como esta é uma montanha
sem nome, ninguém liga para ela”.3
Desejando fazer grandes coisas para Deus
Até o tempo em que estava no terceiro ano do primeiro pastorado,
comendo o bolo de especiarias da Mamaw em sua varanda, eu vivia
cada dia mais inquieto. Como muitos de meus colegas, ansiava por
fazer diferença para Deus na minha vocação — o mais rápido
possível. Contraste os sinônimos de comum aos sinônimos para
épico, e quem pode culpar-nos?
Aspiro servir como pastor de modo comum, corriqueiro, humano,
normal, rotineiro, médio, usual e sem novidades, a pessoas comuns e
em nada excepcionais. Ser banal e medíocre como pastor.
Ou,
Aspiro servir como pastor olímpico, incomum, surpreendente. Ser
pastor extraordinário e especial em uma congregação maravilhosa,
notável, singular, excessivamente grande. Ser estelar e inesquecível
como pregador.
Eu me sentia qualquer coisa menos estelar. Quem sabe este artigo
seja apenas o começo, pensei. Não sou pastor ou pregador épico.
Mas talvez pudesse escrever algo que transformasse o mundo para
Deus.
Isso foi há vinte anos. Publiquei o artigo, mas o mundo não mudou
e ainda tive de escovar os dentes normalmente no dia seguinte. Nos
anos desde então, tenho visto gente vindo à fé salvadora em Jesus,
casamentos curados e vícios vencidos. Tenho viajado, pregado e
obtive um doutorado. Tenho ensinado, aconselhado, e escrito livros.
Jesus tem se revelado tão bondoso, verdadeiro, presente e
poderoso a mim. Mas, conforme já mencionei, existe beleza e
destruição no desejo. Entre aqueles que participaram de minha
ordenação ao ministério tempos atrás, um pastor mentor tirou sua
própria vida, e outro já não está no ministério devido à má conduta
moral. Um presbítero e um diácono foram dolorosamente
disciplinados, um por raivosos maus tratos e o outro por um caso
amoroso devastador. Outras amizades acabaram se dissipando
entre a feia politicagem dentro do ministério. E doze anos depois de
meu juramento público de ministrar no evangelho, meu casamento
acabou. A única coisa grande, famosa e veloz a meu respeito e a
respeito de muitos de minha turma ministerial era nosso
quebrantamento.
Quando falei sobre o desejo pelo ministério na turma de segundo
ano da Sra. Canter, jamais imaginei que meu futuro requereria que
eu aprendesse a viver como pai solteiro, com a guarda principal dos
três filhos, no meio de uma comunidade de “escândalo” e fofocas.
Eu tive de olhar longa e profundamente no espelho dos meus
próprios desejos contaminados. Estou pedindo-lhe para fazer o
mesmo, na esperança de poupar-lhe o custo que paguei. Ser
declarado “parte inocente” não removeu os sussurros ou as
calúnias, quer em minha comunidade ou em minha própria cabeça.
Nem isso removeu o que significa para cada um de meus três filhos,
e para mim, aprender diariamente, juntos, a novamente ver o sol e
sorrir. Mas, note bem, caso você pense que não é como eu. Tive
também de examinar aqueles que projetavam como eu “deveria” me
tornar a seus olhos dentro de dez anos. Você terá de lutar com isso
também. Temos de analisar friamente o desejo por “coisas grandes,
famosas e rápidas” que membros da congregação e lideranças
pastorais parecem almejar constantemente. A ausência de nossa
atenção a esses desejos mal projetados está nos tornando em um
bando maltrapilho.
Agora estou aqui sentado, todos esses anos mais tarde, digitando
essas palavras como pastor de uma pequena igreja no Missouri. E
uma ironia sussurra aos meus pensamentos. Espero que o que
escrevo para você prove ser significativo. Balanço a cabeça e quase
dou risada —aquela exalação curta de risada pelo nariz. Engraçado
como, antigamente, eu pensava que a significância estaria em
algum lugar além de Henryville e da presença de Mamaw — local
próximo e amor comum — como se um artigo numa publicação ou
um sermão de púlpito pudesse fazer mais para glorificar a Deus em
minha geração do que atender com fidelidade a qualquer outro
desses dons criativos que Deus deu.
Conversas com um jovem pastor
À luz disso, escute por um momento. Anos depois, do outro lado das
ruínas, encontrei-me escutando os desejos de um jovem pastor. Eu
me via e escutava nele. Talvez você também se identifique.
“Não importa o que vier, quero me entregar totalmente ao
ministério”, disse ele.
A sua paixão me inspirava, mas o contexto me preocupava.
Tínhamos acabado de falar sobre a dificuldade dele, como marido e
pai, junto a uma dobra recorrente dentro da estrada de sua alma.
Respirei fundo e parei, olhando para a tigela de pad thai à minha
frente.
“Se o ministério for tudo que almejamos alcançar”, comecei
dizendo, “então como definimos ‘o ministério’ parece importante,
sabe?” Levei um pouco de comida à boca e mastiguei.
“Só quero pregar a Palavra”, ele declarou. “Não importa o que
aconteça, enquanto eu continuar falando o que Deus diz, ele vai me
abençoar. Sei que Deus me deu um propósito”.
Havia urgência em sua voz e pressa em seus olhos. Ambos eram
como espelho para mim. Enrolei o amendoim e o macarrão em volta
de meu garfo (os palitos chineses já haviam começado o trabalho de
me humilhar). Eu procurava as palavras.
“Sim, Deus abençoa a sua Palavra”, comecei. “Você tem um
propósito”, afirmei.
Demorei mais um pouco com a tigela, tentando achar o que eu
deveria deixar de dizer. “Certa vez falei em uma conferência.
Preguei cinco vezes. Foi um daqueles momentos quando sentia a
presença de Deus de maneira tangível. De fato, depois daquela
conferência específica, o resto do meu ano estava planejado,
repleto de pregações por todo o país. Realmente, Deus abençoou a
sua Palavra. Eu vejo isso de primeira mão.”
“Mas”, disse eu, e parei. Em minha cabeça, eu estava numa
encruzilhada, perguntando-me como dizer o que seguiria. “No
caminho para casa depois daquele último sermão, entre as divinas
bênçãos daquela noite, a minha esposa de quinze anos de
casamento disse que estava me deixando”.
Houve um silêncio entre meu jovem amigo e eu. Tomei meu
refrigerante. Temia ter falado demais e cedo demais. Ele conhecia
as circunstâncias da minha vida. Mas será que estava pronto para
aprender um pouco sobre o que tais circunstâncias podem nos
ensinar? Além do mais, será que eu estava pronto a tentar e dar
uma voz a isso?
“Estou tentando sugerir que o ministério envolve mais do que a
questão de nossos sermões serem poderosos e de como
influenciamos multidões de pessoas. Entregar tudo a Deus significa
muito mais do que entregar-se aos sermões e às multidões.”
Mais tarde, naquela mesma noite, estávamos de pé sob as
estrelas.
“Quando chegar em casa”, disse ele, “finalmente começarei a ser
pastor. Quem sabe, logo estarei no seminário e serei equipado, e
então serei professor em algum lugar. Mal posso esperar para
chegar lá. Dois anos de pastorado e então...”
Eu me encontrava fitando o cascalho da entrada de carro como se
fosse uma tigela de pad thai. Novamente eu procurei palavras para
dizer o que ainda não fora dito. Eu ouvia a minha voz na voz dele.
Ele estava inquieto por fazer algo grande para Deus. Seu trabalho
pastoral era uma plataforma para ajudá-lo a chegar a outro lugar
onde não estava. No entanto, ele não sabia como incluir trocar as
fraldas do filho ou ficar de mãos dadas com a esposa na sua
definição de grandeza.
“E se você já estiver onde Deus quer?”, tentei timidamente. “Em
Jesus você já é uma bênção para as pessoas. E se seu lugar no
ministério for onde você está com a família, no lugar em que Deus
quer você junto dele?”
Seu rosto demonstrava sofrimento.
“Por favor, me perdoe se estou falando demais”, eu disse. Então
fiz uma pausa. “É que você está falando com um homem que
ganhou tudo que sempre sonhou e perdeu muito do que realmente
importava, tudo em nome de se entregar totalmente ao ministério
para servir a Deus. Apenas estou tentando dizer que parece
realmente importante saber o que queremos dizer por ‘ministério’ se
vamos nos entregar totalmente a isso. Meu desejo é que aquilo a
que você está se entregando totalmente seja realmente aquilo que
Deus deseja, com a definição que Deus dá a isso.”
Ele olhou novamente para o céu. “Não sei onde começar com isso
tudo”, protestou.
Sem-teto em nossas salas de estar
Na semana seguinte, sentei-me para almoçar com um pastor que
está subindo e se tornando famoso. A igreja na qual ele servia
existia apenas há quatro anos, mas já tinha frequência de várias
centenas de pessoas. Ele surgia em nossa comunidade como o
próximo grande acontecimento.
Contudo, havia algo que o perturbava. “Durante os primeiros dois
anos de nosso crescimento explosivo”, ele admitiu, “relacionei-me
mal como marido e pai”. Ele fitou sua água gelada e fez careta. “Eu
me escondia no meu sucesso como pastor”, continuou. “Acho que
usei isso para evitar ver minhas falhas em casa e em meu coração”.
Este homem era o exemplo máximo do que meu amigo mais
jovem se esforçava para ser. Contudo, os dois homens revelavam a
mesma luta — o reconhecimento de que alguém pode receber
grandes elogios por pregar Jesus, e ao mesmo tempo conhecer
pouco sobre como seguir Jesus nas coisas pequenas e simples do
dia a dia. Conseguem comunicar amor à multidão do púlpito ou num
escritório ou numa sala de aula, mas quando são chamados para
entregar a si mesmos (não os seus dons), são propensos a ficar
desajeitados. Vejo isso em mim.
Meu jovem amigo escreveu-me na primeira semana de seu novo
pastorado:
Estou cheio de ansiedade, principalmente sobre o que fazer com todo
esse tempo. Fico me perguntando se fiz número X de dólares de
trabalho para a igreja hoje? Não estou acostumado com tanto tempo
livre em um só dia, e isso me deixa ansioso. Consigo realizar melhor
as coisas quando meu horário está abarrotado e vou a mil por hora.
Tenho vivido sob pressão por anos, e agora que Deus está alargando o
meu espaço, de alguma forma quero sabotá-lo. Como posso sair
dessa e encontrar minha vida?
Meu amigo não sabia como fazer um dia de trabalho pastoral se
as variáveis da eficiência, quantidade, rapidez e medidas
econômicas fossem removidas. Ele não fora ensinado sobre os
outros tipos de tesouros que eram dele em Jesus, os quais ele podia
desejar usar no seu dia. Eu também não tinha aprendido. O tempo
que ele esteve comigo no passar dos anos não o havia ajudado.
Desejo, pressa, e “as coisas que importam”
Espero, contudo, que mesmo em meio a a dores você e eu
possamos ajudá-lo agora. Poderíamos dizer algo como isto, não
poderíamos?
Ao entrar no ministério, você será tentado a orientar os seus desejos
para fazer grandes coisas, de maneira notória, com a maior rapidez e
eficiência possível. Mas, preste atenção. Uma encruzilhada espera por
você. Jesus é essa encruzilhada. Como quase tudo na vida que
realmente tem importância, ele exigirá que sejam feitas coisas
pequenas, não notadas em sua maioria, durante um longo período de
tempo com ele. A vocação pastoral, porque visa ajudar as pessoas a
cultivar aquilo que é realmente importante, não é exceção.
Por quê? O que são essas coisas que importam para nossos
desejos? Bem, primeiro, amor a Deus. Este nobre desejo leva
tempo. Perdão, reconciliação, chegar à sensatez, crescimento
espiritual em fé, esperança e amor; conhecimento e entrega aos
ensinos da Escritura em Jesus, crescimento na obediência,
mansidão, paz, paciência, bondade e domínio próprio, junto com
enfrentar os vícios, as idolatrias e os pecados com o evangelho;
aprender o contentamento em Jesus, quer em abundância quer em
escassez; aguardar a vinda do Senhor e seu reino bem como o
cumprimento de todas as promessas de Deus para sua glória e
nosso bem. A linha de chegada na satisfação desses desejos não
poderá ser atravessada com uma corrida de quarenta metros, não
importa quão furiosamente tentemos.
Segundo, amor ao próximo em seus prazeres também é
importante, e isso também leva tempo. Aprender a andar e falar e
contar, crescer, fazer matemática, aprender a dirigir ou viver de
forma independente, junto com começar ou participar de uma igreja
ou ministério. A pressa não consegue realizar essas coisas, quanto
menos continuar solteiro, encontrar verdadeiras amizades, desfrutar
de um bom casamento, fazer amor que satisfaz, ser pai ou mãe,
avós ou criar integridade e boa reputação no seu trabalho. Aprender
a tocar um instrumento, subir ao ápice em um esporte ou tornar-se
especialista em uma arte ou ofício, não acontece da noite para o
dia. Porém, muitas pessoas a quem você serve acreditam que essa
espécie de amor a Deus e ao próximo acontece instantaneamente.
Tome, por exemplo, um marido frustrado. Ele me disse:
“Simplesmente não suporto mais; é demais! Ou ela trata a questão
ou é óbvio que não se importa com nosso casamento! Não vou mais
suportar isso não!”
Quando disse essas palavras para mim, ele estava casado há
apenas três meses. A questão a que se referia era de seis dias
atrás. Ele citava a Bíblia e falava em termos épicos sobre o que
Deus deseja para um casamento e para uma vida. No entanto, se
ele tivesse de esperar seis dias para consertar a questão, em um
contexto conjugal de, ao todo, oitenta e nove dias, estava claro para
ele que Deus não estava no casamento ou que sua esposa não o
amava, e que ele tinha de preparar-se para seguir em frente. Este
homem consegue citar a Bíblia, mas não tem garra para esperar em
Deus em meio a algo de que não gosta. Com toda a conversa
grandiosa sobre coisas maravilhosas que Deus quer, não ocorre a
ele como é grandioso o que Deus diz sobre aprender a perseverar e
esperar nele. Muitos de nós pastores expressamos o mesmo tipo de
inabilidade emocional de esperar em Deus em e por nossas
congregações.
Nosso problema é que a maioria das alegrias dadas por Deus que
almejamos são deterioradas quando palavras como
instantaneamente, pressa e impaciência são lançadas contra nós.
Muitos estão confusos sobre o que significa verdadeira alegria se
tiverem de assumir uma gratificação adiada entre as velocidades
menores requeridas pelas coisas que importam mais para Jesus.
Ora, imagine amar a Deus e ao próximo em meio aos desalentos
ou desolações da vida. A desolação não consegue suportar
facilmente um ritmo pastoral acelerado. Isso explica por que muitos
de nós não têm paciência no cuidado pastoral. Ossos e mentes
quebrados não estão propensos à pressa. Pele queimada ou almas
vitimizadas têm de chegar a uma coceira miserável a fim de se
curar, e nós que esperamos ao lado do leito temos de esperar mais
ainda. Morte, luto, perda, recuperação dos vícios, como também
traumas emocionais ou físicos, ser pais e mães de crianças
portadoras de necessidade especiais, aprender a se ajustar a
doenças crônicas, depressão, incapacidades ou doenças — todas
essas desolações são tratadas pobremente quando se requer delas
“eficiência” e “medidas quantitativas”. Para o pastor importante, que
faz coisas grandes e notórias rapidamente, o fato das pessoas
estarem quebradas, na verdade, parece uma intrusão que o impede
de fazer sua importante obra para Deus. Estou escrevendo essa
última frase, e isso me faz desmoronar. Releia. Em seguida, caia
comigo, está bem? Caia de joelhos comigo perante o Salvador. Ele
é quem ergue nossa cabeça. Precisamos desse soerguimento
gracioso, pois ainda não falamos sobre palavras como instantâneo e
impaciente não nos oferecerem recursos para tratar das coisas que
realmente importam – de amar nossos inimigos no ministério. E não
se engane: eventualmente você também terá de aprender o mais
difícil dos amores ao próximo.
Em geral (e isso muitas vezes nos surpreende), a pressa não é
amiga do desejo. O sábio entendeu isto quando disse que “não é
bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv 19.2).
Seu ponto está bastante claro. A pressa tem o hábito de não
completar as coisas que realmente importam. Numa crise pode até
ajudar. Mas quando chegamos ao entendimento, dedicação e
cumprimento dos desejos de uma alma humana, a precipitação
constantemente e legitimamente é processada por negligência. A
rapidez oferece promessas imediatas para nossos desejos
conjugais, ou ministeriais, ou para o trabalho, ou para os nossos
filhos, mas, na verdade, a pressa nunca entrega o que promete
naquilo que é mais precioso para nós.
O ponto que quero destacar é o seguinte. Nosso desejo por
grandeza no ministério não é o problema. O problema surge quando
a pressa de fazer grandes coisas de maneira notória e com a maior
rapidez possível reformula nossa definição do que seja uma grande
coisa. Deseje grandeza, querido pastor! Mas, submeta a sua
definição de grandeza àquilo que Jesus nos dá. No mínimo teremos
de começar a tomar posição quanto a este importante fato: a
obscuridade e a grandeza não são opostas.
O que você quer que Jesus faça por você?
Jesus colocava a questão do desejo de modo muito claro quando
treinava os seus ministros. “O que queres que eu faça?”, ele
pergunta (Mc 10.36).
Pare aqui por um instante. Vá mais devagar se puder. Você tem
uma lista do que quer para o ministério, e todas as demais
realizações ministeriais que deseja conseguir em nome de Cristo
antes de morrer? Você não iria estar sozinho se esse fosse o caso.
Basta ler os anúncios. Uma miríade de desejos daqueles que
compõem a sua congregação e comunidade serão revelados.
Tiago e João tinham suas listas. “Queremos que nos concedas o
que te vamos pedir”, disseram. “Permite-nos que, na tua glória, nos
assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda” (Mc 10.35–
37).
Tiago e João sutilmente começaram a almejar que seu ministério
com Jesus lhes providenciasse uma plataforma de grandeza. Seus
anseios começavam a estragar sua comunidade (Mc 10.41). Jesus
não impediu que essa fricção ou destruição potencial acontecesse.
Ainda hoje ele não impede. Você marcou bem isso? Tiago e João
eram muito amados, dotados, chamados, frutíferos, e centrais no
ministério terrestre de Jesus. Ele graciosamente escutou os seus
desejos. Mas sua proximidade com Jesus, e sua fecundidade no
ministério, não significavam que tudo que faziam era bom, certo e
útil para os que os conheciam.
Em vez de dar-lhes tal imunidade, Jesus confrontou-os, e o que
ele disse nos deixa mais sóbrios. É possível que líderes ministeriais
desejem grandeza de formas nada diferentes daqueles que se
encontram ao nosso redor, ou em qualquer lugar em nossa cultura.
Ligar o nome de Jesus a esses desejos não muda o fato de serem
idênticos aos anseios do mundo.
Faça uma pausa aqui. Repita a leitura dessa última sentença se
for necessário. Em oração, vá mais devagar. Os líderes humanos
em toda parte desejam grandeza e domínio sobre outros. “Não é
assim convosco”, Jesus declarou. Se grandeza é o que você deseja,
de agora em diante você tem de entregar sua vida a uma outra
espécie de grandeza. “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será
esse o que vos sirva” (Mc 10.43). Servos entregam os seus dias a
tarefas pequenas, muitas vezes não notadas por longos períodos de
tempo, e sem receber nenhum elogio.
Jesus, então, toma Tiago, João e seus outros alunos de
discipulado para um vivo e real estudo de caso. Ele mostra-lhes um
monte sem nome, pertencente a um homem. Este era pobre e cego.
Jesus lhe oferece a mesma pergunta poderosa que fez aos
“maiorais” que viajavam com ele: “O que queres que eu faça?” (Mc
10.51).
Ali mesmo, a graça de Jesus nos humilha, contrastando os
desejos que são revelados. Tiago e João estavam no centro do
ministério, junto com Jesus, e estavam entre os melhores pupilos de
Jesus. Mas isto não bastava para eles. Queriam lugares melhores.
Enquanto isso, o pobre pede a Jesus apenas duas coisas, sendo a
primeira misericórdia. A segunda era que pudesse ver.
Penso na classe da Sra. Canter no passado, nos meus estágios
de seminarista, no meu primeiro pastorado, na varanda da casa de
Mamaw, e nos restos destroçados da minha turma ministerial.
Quando, em minhas ambições por ministério, deixei de sentir minha
necessidade de desejar misericórdia quando estava com Jesus?
Quando comecei a supor ter o privilégio de ver corretamente com
meus olhos e a definir grandeza do ponto de vista desse meu
privilégio, em vez de vê-la do ponto de vista da graça de Jesus?
Existe um jeito de desejar entregar-se totalmente ao ministério que
o dividirá em dois, causando dor para aqueles a quem você serve,
revelando o quanto você se desviou e o quanto está longe da
definição de Jesus do que seja a grandeza. Conheço isso em
primeira mão. Mas estou aprendendo mais uma coisa. Existe mais
graça e esperança aqui do que você talvez saiba — nas mãos de
Deus, uma chamada para o trabalho pastoral entre a preciosidade
de pessoas e lugares vagarosos e sobrecarregados de trabalho,
pode se tornar em dons, verdadeira alegria, contentamento que
perdura e uma boa vida. Por quê? Porque esse é o caminho de
Jesus. Onde Jesus é nossa porção e nosso desejo, não nos faltará
nenhum verdadeiro tesouro. “O reino do céu é como um tesouro
escondido no campo, que um homem encontra e enterra. Em sua
alegria ele vai, vende tudo que tem, e compra esse campo” (Mt
13.44).
Será que vender tudo que temos com alegria inclui abrir mão de
nossas desorientadas listas para o ministério? E se as alegrias que
desejamos em Jesus forem como tesouros escondidos em um
campo, que muitas pessoas, mesmo as que estão no ministério,
desprezam e raramente compram?
Você se lembra como eram as coisas antes que desejasse um
ministério vocacional? Você não possuía treino. Era desconhecido
no mundo. Jesus era belo para você. Ele o havia salvo. Havia
comunicado o seu amor a você. Era um imenso tesouro, verdade
que satisfaz, e sobremodo belo. Ele era a sua porção. Era o seu
desejo. No princípio, tal deslumbrante provisão de Jesus despertou
os seus afetos para servi-lo com a sua vida em um ministério
vocacional. Não era de admirar que, quando Pedro declarou que
excederia e seria maior que todos os seus colegas ministeriais, o
canto do galo não demorasse a chegar. Para restaurar Pedro ao
ministério, Jesus o levou de volta às primeiras coisas, ao primeiro
amor. “Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo
21.15–17). Aqui começa a nossa vocação. O chamado pastoral para
alimentar o próximo é secundário e decorrente do desejo anterior
pela beleza do próprio Jesus. Vem-me à mente o antigo hino:
“Propenso a vaguear, Senhor, eu sinto-me, propenso a deixar o
Deus de amor”. Mas Pedro aprendeu o que todos deveríamos fazer
com as cinzas deixada pelos cantos de galo ministeriais. Jesus vem
ao nosso encontro. Ele não nos abandona. Sua benignidade dura
para sempre.
Conclusão
Fechemos esta conversa introdutória sobre o desejo pastoral com
uma parábola da vida real.
Dois homens saíram de casa para plantar uma igreja numa cidade
necessitada. O primeiro que chegou sonhou com uma cidade
alcançada por Jesus com o evangelho. Por meio desse primeiro
pastor, pessoas conheceram a Jesus, os crentes se reuniram e
nasceu uma comunidade de seguidores de Cristo. Foi um trabalho
vagaroso, mas estava acontecendo. As suas orações estavam
sendo respondidas.
Com o tempo, ele começou a se reunir com o segundo plantador
de igrejas. Fez isso com o intuito de encorajar o segundo pastor em
seu trabalho incipiente. O mais experiente e o novato oravam para
que Jesus alcançasse a cidade. Através do iniciante, as pessoas
passaram a conhecer a Jesus, os crentes se reuniram e nasceu
uma comunidade de seguidores de Jesus.
Dez anos mais tarde, aquele que veio primeiro serve como pastor
de uma igreja “simples”. Seus mais de duzentos membros
demonstram o amor de Jesus de formas inexistentes ali dez anos
atrás. O novato que veio em segundo lugar é pastor de uma igreja
“épica”. Seus milhares de membros e múltiplas congregações pela
cidade demonstram o amor de Jesus de maneiras que não existiam
dez anos atrás. As orações de ambos foram respondidas.
Por que então, um deles está triste?
Por que então, somente um deles recebe nossos convites para
falar nas conferências e para nos oferecer os seus conselhos?
Kathleen Graber, “Book Nine”, Poetry Foundation website, acessado em 3 de dezembro de
2014, http:// www .poetryfoundation .org poem 241278.
Nathan Foster, Wisdom Chasers: Finding My Father at 14,000 Feet (Seguidores de
sabedoria: encontrando meu pai aos 4.000 metros), (Down¬ers Grove, IL: InterVarsity,
2010), 41.
2 | Reconquistando nossa humanidade
Não temos lar neste mundo, eu costumava dizer. Então, eu voltei pela
estrada para este velho lugar e preparava um bule de café e um
sanduíche de ovo frito.
– M R
“Você poderá ser como Deus”, diz a Serpente.
“Mas, como?”, pergunto eu.
Eu leio a Bíblia com óculos.
Ajoelho-me para orar pelas pessoas com hálito de café.
Fico em pé e prego Jesus com uma bolha no pé.
Sirvo a Ceia do Senhor com pão comprado por $1.99 no
mercadinho Schnuck’s.
“Apenas finja que é diferente”, a Serpente diz. “As pessoas
adoram quando fazem isso”.
Conselho a um aspirante ao pastorado
Fiquei sabendo recentemente que um antigo pastor e mentor
pessoal cometeu suicídio. Tirei um período sabático do seminário
onde servia como professor e passei seis meses como pastor
interino com a família e a congregação do meu amigo falecido. Eu
havia pastoreado antes uma igreja. Havia servido como pastor
interino antes. Mas não desse jeito. Nós teríamos de buscar juntos
sucatas de graça e verdade em meio às ferragens. O Cristo vivo
habitaria conosco em meio aos destroços. Aprenderíamos dele em
meio ao lixo. Ele jantaria conosco no vale de sombra.
Eu estava sentado junto de uma multidão de professores e
estudantes para o ministério com seus tênis e jeans. Pediram que
eu desse uma palavra. O que eu poderia dizer para ajudar um
iniciante no ministério?
A atmosfera era leve, mas meu coração estava pesado. Eu
pensava em como meu pastor mentor poderia até ter escolhido
deixar o ministério, e ainda assim ser importante para todos nós.
Mas para ele, rebaixar-se em meio às assombrações interiores não
indicava humanidade, e sim fracasso. Ele não conseguia ver-se
como útil se não tivesse mais a posição de pastor, com os cuidados
pastorais que essa posição requeria. Eu sentia sua falta. Estava,
pela primeira vez em minha vida, fazendo as mesmas perguntas.
Será que eu sabia que poderia servir a Cristo humanamente e de
forma significativa, quer fosse pastor ou um líder ministerial quer
não? Eu não sabia naquela época, mas logo teria de responder a
essa pergunta de uma maneira dolorosa e pública. Mas naquele
momento, entre aqueles seminaristas, com dor no coração e
sobriedade, eu confrontava meus pressupostos sobre o que significa
liderar no ministério. Agora era a minha vez de falar. Respirei uma
oração relâmpago, fiquei em pé e disse: “Jonathan Edwards
peidava”.
Alguns riram. Eu não. Alguns tinham sorrisos de canto de boca
com a minha irreverência. Talvez eu tenha sido irreverente. Mas eu
não estava tentando ser engraçado. Provavelmente poderia ter
encontrado linguagem melhor para descrever o que eu estava
enfrentando. Não tinha intenção de difamar o grande teólogo e
pastor da história norte-americana. Estava tentando pôr palavras no
estrago e no mito de sua celebridade assim como de outros. Sentia-
me perturbado por um novo questionamento: O que significaria para
nós se viesse o avivamento e continuássemos noite adentro com
orações enviadas ao céu? Em algum ponto ainda teríamos de usar
o banheiro? Queria dizer-lhes que até mesmo os maiores teólogos
ou pregadores entre nós ainda são pessoas comuns, carentes da
graça de Jesus. Eu estava cansado de fingir outra coisa.
As primeiras coisas primeiro
Numa conferência, enquanto prego sobre Cristo para você, estou
incomodado por uma hemorroida e meus livros estão à venda no
saguão. Ainda mais, posso ter me enxergado nos olhos de meus
filhos naquela manhã e ter pedido perdão por algo que aconteceu
no dia anterior. Ou talvez eu ainda esteja cego enquanto falo a você
sobre o que minha esposa, ou meus filhos ou minha congregação
ainda precisam desesperadamente que eu veja. Quando visito no
hospital, tenho de amarrar os sapatos pela manhã ou calcular qual
blusa de frio me fará parecer um pouco mais magro ou clamar a
Deus com respeito às minhas próprias dúvidas, enquanto você se
sente ferido e eu não tenho resposta sobre as razões de sua dor.
Enquanto você é transformado pela graça mediante algo que eu
disse ou escrevi, é provável que eu tenha tomado uma tigela de
mingau de aveia no café da manhã ou tenha me deliciado com o
som da coruja que visita a nossa casa.
Portanto, ao começar a pensar a respeito dos desejos, temos de
clamar de cima dos telhados que o ministério pastoral é algo
pertencente a criaturas. O pastor é um ser humano. Creio que a vida
e o ministério cristão são um aprendizado com Jesus em direção à
recuperação de nossa humanidade e, mediante o seu Espírito, uma
ajuda para que nosso próximo faça o mesmo. Tudo isso é para ele,
por meio dele, com ele e nele, para a glória de Deus.
Creio também que a ausência geral dessa recuperação de nossa
humanidade dentro do ministério pastoral está nos matando
espiritualmente. Quero que seja feito algo sobre isso. Eu reconheço
que colocar nossa humanidade em Cristo na frente e no centro da
vida cristã e da tarefa pastoral fará com que alguns de nós se
sintam desconfortáveis, e com razão. Pode parecer que quero
apenas repetir mais da espiritualidade egocêntrica que a nossa
geração e nossos corações perigosamente querem.
Para corrigir tais temores, penso em um professor e amigo meu.
Ele, às vezes, manda que os seus ministros em treinamento se
virem ao resto da classe e confessem em voz alta para os outros:
“Eu não sou o Cristo”. Nessas palavras de João Batista aprendemos
que, conquanto seja verdade que possamos perigosamente fazer
pouco caso de Deus ao chamar a atenção sobre nós mesmos
impropriamente, é igualmente verdade que não podemos glorificar
plenamente a Deus sem que confessemos que não somos divinos.
Dizer: “Eu não sou o Cristo” é simultaneamente expor para todos
que nós, pastores, que somos meros humanos e apenas pessoas
locais.
Uso as palavras meros humanos e apenas pessoas locais para
diferenciar-nos de Jesus. Jesus é humano, mas não meramente.
Jesus é local, mas não apenas. Esclarecemos essa distinção entre
Jesus e nós como um ato de adoração e compromisso. Como
líderes de ministério, esforcemo-nos para entregar nossa vida, de
modo que toda pessoa a quem servimos saiba que não somos
Deus. Cada um de nós não é Deus; é apenas um ser humano.
Então, ressaltemos este ponto. A grandeza, mesmo no ministério,
não pode fugir à humanidade. Ser humano não macula a grandeza;
antes, a informa e marca seus nobres limites. Como chegamos a
pensar de maneira diferente? Seja qual for o desejo que tenhamos
para o ministério, haveremos de realizá-lo como quem pode ter
coceira no dedão do pé, e cujo pé sem meias passa frio no inverno.
A fisicalidade humana
Os desejos pastorais, por mais grandiosos e nobres, não nos livram
dos limites físicos que temos.
O estudo teológico me ensinou a doutrina da Criação. Fui
examinado para a ordenação acerca do meu ponto de vista sobre os
dias da criação e o legado de Darwin. Mas o significado de Deus ter
nos criado humanos, corpóreos, localizados, finitos e à sua imagem
não se traduzia em minha teologia de ministério pastoral nem
informava a forma que o trabalho pastoral devia assumir. Hoje
penso que deveria.
Por exemplo, sou um dos pastores de Wendell. A paralisia infantil
tem impedido o movimento das pernas de Wendell há setenta anos.
Wendell também tem se sujeitado ao regime da diabetes, com as
exigências de sargento de tiro de guerra sobre as suas rotinas
diárias. Duas ocasiões com o câncer atacaram terrivelmente a vida
dele. A morte da sua esposa arrasou seu coração e esvaziou sua
cama à noite. As suas mãos tremem. Às vezes sua voz fica
arrastada.
Com sua cadeira motorizada, Wendell faz as suas tarefas diárias,
lê a sua Bíblia, ora a Deus e compartilha Cristo com outras pessoas,
expressando louvor pelo cuidado de Deus por todos esses anos.
Para cuidar como um médico da alma de Wendell, temos de levar
em conta seu corpo físico.
Nas palavras do pastor-poeta G. M. Hopkins, somos como uma
“cotovia” em nossa “casa de ossos”, “almas e corpos”.4 Ainda cedo
na liderança pastoral, soube que a luta que travava não seria contra
“carne e sangue” (Ef 6.12). Mas eu não entendia como a carne e o
sangue formariam a arena para esta luta. “Amado, acima de tudo,
faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a
tua alma” (3Jo 2). João, o apóstolo, orava assim, e aprendemos com
ele.
Preparando os sentidos de nosso corpo
para o ministério
Não podemos nos esquecer de que aqueles a quem servimos são
também criaturas corporais.
Pediram que eu visitasse uma senhora de meia-idade da
comunidade. Mentalmente, ela tinha quatro ou cinco anos, apesar
de já ter vivido quarenta ou cinquenta. Quando entrei pela porta, vi
que ela tinha um babador e estava tentando comer uma pratada de
espaguete. Ela deu um amplo sorriso maravilhado quando me sentei
ao seu lado.
“Quem é você?”, perguntou, coberta de molho vermelho e
pedacinhos de macarrão.
“Meu nome é Zack. Sou pastor”, respondi.
Ela imediatamente e com grande animação respondeu. “Aprendi o
‘Pai Nosso’ de cor”, disse ela. “Quer que eu recite?”
“Adoraria”, disse eu.
Depois de declamar orgulhosamente a Oração do Senhor, ela
recitou de cor o Salmo 23.
“Fiz bonito?”, ela perguntou.
“Com certeza!”, disse eu.
“Eu creio em Deus!”, ela continuou. “Ele me ama. Eu o amo. Ele
morreu na cruz por mim. Um dia ele voltará para me levar para sua
casa”.
Ela disse isso com a maior seriedade, olhando nos meus olhos.
Era como se soubesse qual era o meu papel. E falar sobre Deus
com um pastor é coisa normal. Ela também estava me avaliando.
Quem sabe procurando detectar o tipo de pastor que eu era. De
repente, ela deixou cair o garfo, estendeu a mão coberta de
macarronada salpicada de saliva, e perguntou: “Quer orar? Segura
a minha mão”.
Eu o fiz e oramos com nossas mãos molhadas de molho de
macarronada, numa sala desconhecida para o mundo, mas amada
por Deus.
Pare aqui por um instante. Demore em oração com esta pergunta:
O que significa para você o fato de que o ministério é um ato de
amor ao próximo e amar o próximo vai requerer proximidade física?
Se atualmente você não tem paciência com os sentidos, nada de
atenção ao corpo a não ser naquilo que é lascivo, é bem possível
que você ainda tenha pouca ideia quanto ao que consiste a vida de
um pastor e o que ela vai requerer de você.
Localidade Humana
Nossa teologia pastoral do Éden nos lembra que as criaturas com
corpos também são locais.
Elas habitam lugares. No jardim que Deus plantou, Adão e Eva
comiam comida, cuidavam de animais, plantavam sementes,
oravam, trabalhavam e se amavam. Não havia pornografia no
mundo e eles repousavam em sua nudez. Agradar a Deus
significava nada mais que escutar suas palavras, segui-lo pelo
Éden, e, com gratidão, nadar nas águas seguras da companhia um
do outro. De mãos dadas, cortando a grama, resistindo às vis
tentações, e aprendendo a amar aquele que os criou, tinham o
suficiente para uma vida significativa com Deus. Mas parece que
isso não lhes bastava. Adão e Eva ouviram sórdidos sussurros
rastejando pelo capim. O dom de Deus, de um significado local com
ele, começou a entediar o casal.
Pause aqui por um momento. Considere o que deixa você
entediado e inquieto. E observe também aquilo que Deus considera
revigorante.
1. Fomos criados para honrar a Deus e não colocar nada mais em
seu lugar, entregando-nos a ele. Em outras palavras, deveríamos
amar a Deus.
2. Deveríamos amar um ao outro (unir-se à sua mulher, Gn 2.24),
relacionar-nos corretamente com nossa família mais extensa
(deixar pai e mãe, v. 24), e cultivar a comunidade (ser fecundos e
multiplicar, Gn 1.22). Noutras palavras, fomos feitos para amar o
nosso próximo.
3. Deveríamos reconhecer a bondade e qualidade sagrada do
lugar, das criaturas e das coisas que Deus criou, cuidando
dessas boas dádivas. Deveríamos contribuir para o cultivo da
criação (cultivar e guardar, Gn 2.15) e para uma cultura que
reflita essa bondade concedida.
Estes primeiros textos de Gênesis nos ensinam que os seres
humanos têm o propósito de amar a Deus e ao próximo, ao viverem
localmente em um lugar, para a glória de Deus. O que isso nos diz
sobre grandeza?
1. Deus deu a si mesmo para que nos entregássemos e
amássemos a ele. Isto quer dizer que orientar nossa vida para
um relacionamento diário com Deus a cada momento traz glória
a ele.
2. Deus nos deu um punhado de pessoas a quem amar. Você não
tem de se tornar outra pessoa ou olhar constantemente sobre os
ombros dessas pessoas que estão bem à nossa frente. Atender à
obra de Deus entre os rostos, nomes e histórias onde nos
encontramos já é fazer o que Deus considera significativo.
3. Deus nos dará um lugar em que habitar e algo para fazer nesse
lugar. Isso significa que devemos atentar ao que está ali, no local
onde estamos. Habitar com conhecimento e hospitalidade, no
lugar que Deus nos dá, é glorificá-lo.
À luz disso, o que você supõe que seja a obra do pastor? No
mínimo, presumimos uma atenção local ao amor divino, entre
pessoas comuns e lugares ordinários, com temperatura e histórias
locais. Aqui, as palavras “atenção” a “pessoas comuns e locais
ordinários” desafia grandemente o nosso tédio, pois nós pastores
temos uma tendência para encontrar o propósito do trabalho
pastoral, não com Deus no Éden, no precioso local de limites com
ele, mas, em vez disso, com a Serpente, que descaradamente
sussurrou ali, falando ilusões de uma vida sem limites no mundo.
Você vê esta mulher? Vê este homem?
“O que queres que eu faça?”, Jesus pergunta.
“Alarga os meus limites e os de minha congregação, para a glória
de Deus, em minha geração!”, podemos dizer.
Mas quando passamos a pedir “alarga os meus limites”, não
somos os primeiros a fazer essa oração. Um desejo de “tire agora
os meus limites!” estragou o Éden em primeiro lugar e requereu que
Jesus viesse morrer por nós.
Ando fazendo essas perguntas dolorosas a mim mesmo. Se estou
entediado com gente comum, em lugares comuns, então não estaria
eu entediado com aquilo em que Deus se deleita? Se penso que os
limites locais de corpo e lugar são estreitos demais para uma
pessoa tão talentosa quanto eu, não desejaria fugir daquilo em que
o próprio Deus habita com alegria e a cada dia?
Se olho para um rosto, uma flor, uma criança, ou uma
congregação dizendo: “Não isto, Deus! Quero fazer algo grandioso
para ti!”, não estaria eu profundamente enganado quanto ao que
Deus diz ser uma grande coisa?
Faça aqui uma pausa por um momento, se puder. Demore um
pouco nas frases seguintes.
A mulher lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os secou
com seus cabelos. Os “homens da Bíblia” viram isso e murmuraram
sobre o “tipo” de gente que ela era. Mas Jesus confrontou os
ataques de postagens de blog, seus rostos franzidos e recusa em
dar as mãos, as pressões dos que votaram nele, a ameaça de
destituí-lo dentre os que tinham posição no ministério. Enquanto
aqueles que treinou para o ministério observavam o desenrolar
desse cenário, Jesus desviou o olhar, voltando-se, em vez disso,
para ela, e perguntou ao líder desses homens conhecedores da
Bíblia: “Vês esta mulher?” (Lc 7.44).
O que dizer dos homens? Quando conta sobre a hora em que
Jesus chamou Mateus para lhe seguir, Lucas identifica Mateus por
seu trabalho. Jesus “saindo, viu um publicano, chamado Levi,
assentado na coletoria, e disselhe: Segue-me!” (Lc 5.27).
Quando narra esse mesmo momento, no entanto, Marcos
identifica Mateus não tanto por seu tipo de trabalho, mas por seu
pedigree na família. “Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu,
sentado na coletoria” (Mc 2.14). Fico a me perguntar: Ser filho de
Alfeu curava ou corroía o coração de Levi? Não sei. Mas sei que
Mateus não menciona a família quando lembra para si esse
momento, e coloca o emprego nos bastidores: “Partindo Jesus dali,
viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disselhe:
Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9).
O ponto? Marcos via a família de Mateus. Lucas via a profissão de
Mateus. Jesus viu Mateus. Suponha que você estivesse nesse
cenário, se preparando para o ministério com Jesus.
“Você veria esta mulher?”
“Você veria este homem?”
Um dos privilégios contínuos de nosso ministério pastoral em
Jesus é aprender a ver as pessoas como pessoas e a nós mesmos
como alguém entre elas.
Pregando descalço
Quando um casal entra no ministério, o amor jovem de vidas
comuns poderá ser pressionado a ponto de deixá-los. Poderá ser o
caso de ela ter acabado de dar à luz um filho. Ou então, são recém-
casados. E já estão exaustos pelo ritmo do treinamento bíblico que
fizeram, e começando a obra do ministério como quem já precisa de
uma folga. Mas começar o trabalho para Deus significa pouco tempo
para cansaço. E assim, a esposa vai com seu líder no ministério a
um novo local, sem raízes, com uma criança pequena e um novo
emprego. A igreja espera que ele chegue correndo e vencendo a
corrida. Ele quer mostrar que vale o dinheiro pelo qual foi
contratado. Trabalha demais o tempo todo por amor a Jesus,
enquanto a sua esposa recente e seu bebê ainda novinho tentam
aprender a confiar em Jesus em meio a lavar pratos e o programa
da Galinha Pintadinha, sem amigos locais e saber ainda os nomes
das ruas de sua nova vizinhança. A pessoa solteira que se forma
depois do treinamento bíblico, semelhantemente, enche todas as
horas em que está acordada para Deus, ficando exausta, dizendo
com seus botões que no dia em que se casar vai diminuir o ritmo da
correria (sem perceber que o hábito do ritmo atual será muito difícil
de ser interrompido).
Por que pressionamos nossos jovens no ministério a produzir
resultados ministeriais dessa maneira? Por que eles acham que têm
de se tornar algo mais que um ser humano normal, que mora
fisicamente em um determinado local? Por que deixamos implícito
que, no ministério, eles têm de ser mais do que um casal jovem
apaixonado em amor sagrado, que tiveram seu primeiro filho e estão
aprendendo em seu primeiro chamado no mundo?
O meu pastor/mentor colocou sua própria vida no meio de tudo
que chamaríamos de sucesso. Ele tinha um programa de
construção em duas fases, estava plantando igrejas e era notável
como conselheiro e pregador em conferências. Porém, às vezes, as
coisas do ministério que desejamos na nossa cultura não são as
coisas importantes que Jesus nos dá. Falamos aos empresários que
não vale a pena ganhar o mundo e perder a alma. Não seria
possível fazer o mesmo em um ministério vocacional?
No meu primeiro pastorado tínhamos dezoito alqueires de terra.
Quando propus que cortássemos nossos programas de ministério
pela metade, para que as pessoas pudessem descansar mais com
as suas famílias e estar em casa na sua vizinhança para
compartilhar o evangelho, alguns me julgaram como quem conduz a
igreja para trás (mesmo que tivéssemos uns trinta programas numa
igreja de oitenta e cinco pessoas).
Enquanto isso, poderíamos discutir sem trégua nossas
declarações de visão e debater com eloquência perguntas chatas
(tais quais se João Calvino teria removido a cruz de madeira
pendurada na parede de nosso santuário, ou se nós, como
protestantes, devemos rebatizar alguém que foi anteriormente
batizado na igreja católica, ou se devemos ter o nome
“Presbiteriano” no logotipo de nossa igreja). Mas como líderes,
muitas vezes demonstramos pouca capacidade de demonstrar o
amor, a graça ou a humildade de Jesus em nossos relacionamentos
diários. Nossos sonhos e planos de realizar algo grande para Deus
injeta-nos energia. Nosso tratamento uns com os outros, porém, só
nos ferem e fatigam. É fácil fazer grandes coisas para Deus desde
que essa grandeza não requeira humildade interior, amor prático
pelas pessoas bem à nossa frente nem submissão à presença de
Jesus no lugar em que já estamos.
Estou tentando dizer que quando um homem iracundo se torna
manso em Cristo, existe mais poder do que em trinta homens cheios
de ira que vieram a nosso evento ministerial e foram para casa sem
transformação. O problema para mim e para muitos dos que tenho
servido é que a assistência de trinta pessoas soa melhor que a de
uma só. Mesmo que, querendo nosso Senhor, viessem trinta e
esses trinta fossem transformados, por mais que nos alegremos,
ainda teríamos, nalguma altura, de usar o banheiro.
Marque bem isso aí: Nós também podemos tentar resistir à nossa
humanidade, dizendo com convicção algumas coisas horríveis
diante de um santuário, dentre todos os lugares, durante a oração:
“Deus, eu te agradeço porque não sou como outros homens” (Lc
18.11). Lá está: o ar mortífero, a crença envenenada que, de algum
jeito, nós que desejamos realizar grandes coisas para Deus não
sucumbimos a ser meros humanos, do modo que são as outras
pessoas.
Talvez seja por isso que, trinta anos após falar pela primeira vez
sobre meu chamado na sala de aula da Sra. Canter, eu tenha
pregado descalço em meu primeiro domingo como novo pastor
titular, tendo uma segunda chance. Permanecer em pé ali, com a
Bíblia na mão, sobre um fundamento comum e não escondido, com
pelos de hobbit sobre os dedos calosos do pé, era um ato de
testemunho pessoal, um lembrete tolo, mas tangível, de que eu não
sou o Cristo.
Por tempo demais, ignorei nas minhas aspirações por grandeza, o
fato de que sou humano. Talvez seja isso, em parte, o que
aconteceu a meu amigo pastor que se matou. Ele era um “sucesso”.
Eu estava me tornando assim. Foi por isso que eu disse: “Jonathan
Edwards peida”.
Gerard Manley Hopkins, “The Caged Skylark”, [A cotovia engaiolada] em Hopkins: Poems
and Prose (New York: Knopf, 1995), 17.
3 | Saindo de casa
O ministério pastoral é uma peregrinação pelo deserto.
– D H .
Quando um cão selvagem entrava no nosso quintal, Papaw
irrompia pela porta de tela, correndo para carregar a seu rifle.
Enquanto o metal arranhado batia forte contra o fundo da casa para
então retornar de volta em seu lugar, Papaw, agora de pé e
calçando as meias, firme sobre a entrada do carro, mirava a arma e
atirava. Não se importava com o ganido resultante. Na verdade,
parecia ter prazer nisso, como se tivesse acabado de defender a
sua família do ataque de uma manada de lobos. Tentava esconder
seu largo sorriso e xingava o vira-lata que uivava de dor, como se
fosse um homem chamando Papaw para brigar. Assim, quando ele
me disse bem cedo na manhã no dia de Natal que ia atirar no Papai
Noel, eu acreditei.
Não era nada fácil possuir um coração sensível no mundo daquele
querido homem quando ele era mais jovem. “Abaixe as calças e
corra, Mamaw! Você tem cinta de babados e calcinha de rendas”.
Foi o que Papaw me ensinou a dizer para minha Mamaw quando eu
era um menino bem pequeno, e eu dizia. Aprendi a ver as mulheres
não somente pelo jeito que Papaw falava a Mamaw, mas também
pelas revistas Playboy e pelos calendários de mulheres nuas que
não eram segredo para Mamaw ou para nós, e que eram colocados
estrategicamente pela casa que ele construiu.
À mesa de jantar, aprendi que havia no mundo alguns chamados
de “negros”. Os pregadores não eram melhores em sua estimativa.
A casa pastoral da igreja metodista era vizinha da nossa.
Pregadores nada mais eram que hipócritas, e Papaw tinha várias
histórias para provar isso.
Quando eu voltava da escola no ensino fundamental, a primeira
coisa que Papaw perguntava era se eu tinha levado uns petelecos
do diretor da escola por ter aprontado naquele dia. Quando eu
respondia: “Não, Papaw”, ele ria, me dava um tapa no braço e dizia:
“Puxa vida, rapaz, o que é que você consegue fazer de bom?”
Papaw nunca me fez sentar para dar uma aula sobre como ver e
interpretar os cachorros perdidos, as mulheres, os pregadores ou a
pele não branca, mas o jeito do Papaw ver o mundo, junto com
outros em minha jovem vida, ia treinando e formando o meu próprio
jeito.
Os jeitos ensinam. Formam as principais salas de aula de nosso
aprendizado. Para melhor e para o pior, aprendemos a ver o mundo
e a nos apresentar nele como testemunhas, não somente das
declarações de crença que aprendemos na aula, mas também pela
mentoria relacional com aqueles com os quais vivemos (Pv 13.20;
22.24–25). Seria ingênuo se acreditasse que meu ministério atual,
como adulto em St. Louis, Missouri, fosse estranho ao meu Papaw e
ao modo como ele e eu compartilhávamos juntos a vida comum e
cotidiana de Henryville, Indiana. Você também não é diferente disso.
Você e eu aprendemos muitas coisas em casa, e nem todas
concordam com Jesus. E o que é pior, quando saímos de casa para
o ministério, levamos conosco, para o bem ou para o mal, as coisas
que a nossa casa nos ensinou.
A mentoria que trazemos conosco
Os discípulos repreenderam as crianças por tomarem o tempo de
Jesus (Lc 18.15). Quando a mulher quebrou o vaso de alabastro,
perfumando Jesus com a sua adoração, eles se indignaram e
repreenderam a mulher (Mt 26.7–10). Quando viram Jesus
conversando com uma mulher samaritana, esses discípulos judeus
ficaram confusos (Jo 4.27). Vendo Jesus prestes a ser traído,
desembainharam as suas espadas para uma ação violenta (Lc
22.49). Ao testemunharem um homem rico indo embora, em vez de
seguir a Jesus, indagaram: “Quem poderá ser salvo?” (Lc 18.25–
26). Quando viram o cego de nascença, presumiram que a
deficiência fosse um castigo pelo pecado (Jo 9.1–3). Assumiram que
as diferenças entre os pregadores de Jesus fossem motivo para a
rejeição e a separação imediata (Mc 9.38–41).
As pessoas que viviam em volta dos discípulos tinham lentes
similares pelas quais viam o mundo. Por exemplo, ao vir Jesus
receber bem a um cobrador de impostos, “todos murmuraram” (Lc
19.7). O morador de sepulturas, quando teve a mente curada por
Jesus, foi obrigado a “deixar sua região” (Mt 8.34). Quando
aconteceu uma tragédia e pessoas inocentes morreram,
presumiram seriamente que tragédias só acontecem aos piores
pecadores (Lc 13.4).
Cada um de nós carrega “Teologias” e “teologias” para o
ministério. As realidades “maiúsculas” foram aprendidas em sala de
aula com bons professores bíblicos. As “minúsculas” muitas vezes
aprendemos sem perceber, do lado de fora ou apesar da sala de
aula. O problema é que, não importa o que professemos sobre
nossa Teologia, todas as nossas pequenas teologias aparecem nas
horas menos esperadas. Por exemplo, Jesus ensinou a seus
pastores em treinamento a amar ao próximo, até mesmo os
inimigos. Tenho certeza de que esses seguidores sinceros
concordaram com essa “Teologia”. Mas a primeira vez em que os
samaritanos ofenderam a Jesus, Tiago e João queriam, em nome de
Deus, matá-los (Lc 9.54).
Homens com punhos e temores
No primeiro ano de meu primeiro pastorado, contava vinte e seis
anos de idade. A reunião de educação cristã tinha terminado, mas a
raiva estava só começando. Esse homem, trinta anos mais velho
que eu, começou a vociferar: “Você nunca vai . . .”. Nos próximos
minutos, ele deixou patente que eu não tinha sido chamado por
Deus e que era uma desgraça como pastor, e que, como homem, eu
somente era digno de desrespeito. Usando um vocabulário de filme
impróprio para menores, ele escolheu palavras que deixaram claro
para mim que se eu o contrariasse novamente estaria arrasado
como pastor. (Foi uma ameaça que mais tarde ele tentou cumprir).
Meu coração batia acelerado. A ansiedade inundou minhas veias.
Lembrei-me de que “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra
dura suscita a ira” (Pv 15.1). Tentei, mas ele não desviou a ira.
“Sinto muito”, disse eu.
Ele fez uma careta mais para baixo, à altura possível para atacar
minha cabeça, ergueu o dedo em riste e ameaçou: “Vou vigiar você
para ver se está sendo sincero”. Depois de longa pausa, saiu. Eu
permaneci de olhos no chão e chorei como se fosse um bebezinho
(ou será que chorei como homem?).
Como é que um homem que já sacrificou tantos de seus recursos
e tempo desejando o ministério, e que já realizou tanto bem, pode
ter tanto apetite por uma briga caso seja contrariado?
Como eu podia desmoronar desse jeito? O fato é que, por mais
que eu tivesse aprendido no seminário, quando a tempestade rugia
saindo do nada e a chuva jorrava, eu era como um menino do
primeiro ano de ensino médio, fugindo dos punhos de meu padrasto
em Clarksville, Indiana.
Eu era um pastor chamado por Deus a fazer o bem para este
homem e para a congregação, resistindo ao pior dele e procurando
seu maior bem em Cristo. Mas naquela hora, tudo que eu via era um
homem de punhos cerrados. As lembranças de menino
amontoavam-se na sala. Temores de menino roubavam as minhas
credenciais e as escondiam em algum lugar do armário. Eu não as
encontrava em meio àquele estouro de raiva.
Porém, o temor de menino não é a única fotografia que tenho de
minha história de mentoria. Meu padrasto me esmurrou com as
mãos abertas de adulto; as marcas vermelhas da surra em minhas
bochechas e as lágrimas produzidas tiveram como resultado tornar-
me mais duro. A primeira vez em que eu, já pastor, me escutei dizer:
“Vai mexer comigo?”, para um homem que não estava em seu
melhor momento, na fila em uma loja de móveis, eu me surpreendi e
fiquei sério. Caiu a ficha. Estava correndo perigo de ser nada
diferente dos homens que eu tentara vencer.
Sendo pastor, vejo homens na congregação e comunidade todos
os dias. Alguns homens também estão sempre me vendo. Jesus vê
a ambos.
Mulheres com corpos
Mas os homens também enxergam as mulheres. De mãos dadas,
minha esposa e eu caminhamos pelo bar Llywellyns numa sexta-
feira. Os homens agarram-na com os olhos. Não se importam por eu
ser dela ou por ela ser minha ou por nossa aliança diante de Deus
ser sagrada e feliz para nós. Acabei aprendendo que ela tem de
conviver com aqueles olhos da maioria dos homens na vida que
dizem: “Você não quer se embebedar comigo?”
June era conhecida por “tentar se insinuar”. Ela estava bêbada no
McDonalds. “Oi, Zack”, chamou. “Quer ficar aqui comigo?” June deu
uma piscada, enrolou as palavras e tropeçou, enquanto meus
amigos sorriram. “Enfia ela no carro”, disse um deles. “Põe ela no
seu carro!” Eu não o fiz. Não sei onde está June agora. Será que ela
veio a conhecer o descanso gracioso e dignificante dos olhos de
Jesus, totalmente isentos de pornografia? Será que eu possuo tais
olhos ao abrir a Bíblia, orar ou mesmo tomar minha refeição na
presença de uma mulher?
Penso em Judy, sentada no meu escritório na igreja. “Você tem de
deixá-lo”, eu disse a ela com respeito ao seu namorado abusivo. “Eu
sei, mas não posso”, disse ela. Orei silenciosamente em minha
cabeça. Vi a vergonha do seu rosto. Arrisquei uma declaração no
contexto de nossa história e longo conhecimento: “Estou
imaginando que o sexo nem é assim tão bom”, eu disse quase em
um sussurro.
Ela me olhou. O rosto duro atenuou. Abaixou os olhos e as
lágrimas começaram a escorrer. “Não, não é”, admitiu, balançando a
cabeça. “Sinto-me tão suja depois, com as coisas que ele quer que
eu faça. Fico tomando banhos de chuveiro. Mas não consigo me
limpar”.
“Então por que você continua com ele?”, perguntei-lhe. “Porque
pelo menos por um momento eu me sinto desejada”.
Lembro do canal da Playboy da casa de meus avós postiços, da
coleção de revistas pornográficas Hustler no armário debaixo da pia
no quarto de cima. Penso no armário de Papaw, e sou esmagado
com uma percepção. Não consigo ver ou ministrar a mulheres até
que eu aprenda a graça de ver além do seu corpo, para aquilo que
ela é. Escrevo um pouco de minha própria poesia:
Você escondeu no armário as suas Playboys
junto com tudo mais.
Você também me escondeu ali
e foi isso em que nos tornamos.
Assim, quando Jesus nos pergunta: “Vês esta mulher?” (Lc 7.44),
pergunto-me como deve ter sido para ela. Não havia luxúria nos
olhos de Jesus, nem abuso por trás de seu sorriso, nenhuma
cantada familiar ou bajulação em seu tom. Sua beleza era notada e
admirada; seu coração e sua mente eram compreendidas e
conhecidas. Será que já teria sido observada dessa maneira por
algum homem? Será que os homens ali de pé sabiam que eles
também, pela graça, poderiam olhar deste modo para uma mulher?
Os netos se esquecem de que as Mamaws são mulheres. Seu
nome era Pauline. O nome dele era Bud. Na sua juventude, imagino
que ela colocasse seu melhor vestido e passasse perfume no
pescoço, esperando que os dedos dele também a tocassem ali com
ternura. Havia gratidão e ternura, um anseio nos olhos ao dizer seu
nome ou relembrar a sua presença. Naqueles anos ela ficava
sentada com ele na sala, descascando batatas com ele na cozinha,
deitava com jeito de mulher diante dele em seu leito de vários anos
juntos. Gosto de pensar que no final ele via a ela, e os anos das
revistas Playboy tiveram os olhos vazados. Gosto de pensar que a
mulher, que conhecia e amava esse homem de punhos cerrados,
finalmente teve as suas envelhecidas orações por ele finalmente
respondidas, enquanto os punhos dele se abriam ternamente.
Punhos finalmente relaxados e acariciados, nos cacos de uma velha
promessa e um longo amor.
Racismo na conversa
Outra coisa também mudou, não plenamente, mas
verdadeiramente. Papaw estava se recuperando no Hospital
Municipal da cidade de Clark. Ele havia trabalhado ali como zelador
durante muitos anos. Agora era ele que precisava de reparos. O seu
coração estava cansado e queria parar antes da hora. Por isso,
deve ter sido algo notável para Papaw naquele dia, quando um
estranho veio visitá-lo entre os tubos e monitores presos aos seus
braços. Esse “alguém” era um capelão afrodescendente com as
boas novas de Jesus, trazendo cuidado pastoral para os enfermos.
Eu queria ter sido uma mosca na parede para ver aquele momento.
Mas como filho do meu Papaw, eu mesmo tenho tido necessidade
de muitos “capelães negros”.
“Você está se esforçando demais”, disse o meu amigo
afrodescendente. “Você não tem de frequentar todas essas
reuniões, sessões de planejamento e eventos contra o racismo. Tem
um jeito mais fácil”, ele insistiu. Seus olhos transmitiam seu amor
enquanto falava essas palavras. Ele tinha idade para ser meu pai.
“O que você quer dizer com isso?”, perguntei.
“O seu escritório fica em um pequeno centro comercial perto de
alguns comerciantes negros, certo? Então, quanto tempo levaria
para você chegar do seu escritório até a uma dessas lojas?”
Fiz uma pausa. Tenho certeza de que também parei de mastigar o
meu sanduíche. Dava para ver que um senso de convicção estava
prestes a me cumprimentar. Sentei para trás na cadeira. Ele sorria
agora, e era gentil.
“Uns três segundos”, respondi finalmente.
“É isso que estou dizendo”, disse ele. “Você está se esforçando
demais, frequentando na correria todas essas reuniões. Ao invés
disso, ande três segundos até ali, enfie a cabeça à porta, e
simplesmente diga ‘olá’. Se ninguém retribuir o seu cumprimento,
tente de novo na semana seguinte. Se eles lhe derem um alô,
simplesmente converse como um ser humano sobre coisas de
humanos”.
Fiquei pensando no que ele disse. Admiti em voz alta o que eu
sentia por dentro.
“Parece que essa caminhada de três segundos é mais difícil. Por
que é assim?”, perguntei.
Ele não me respondeu. Ele não precisava me responder. Ambos
demorávamos com o pensamento, enquanto comíamos as fritas
devagar.
Jesus entra em nossa mentoria e reformula as narrativas com as
quais mapeamos o mundo. Os discípulos cresceram ouvindo
histórias que deixavam implícito que os pobres estavam no inferno e
os ricos iam para o céu. Mas Jesus inverte isso (Lc 16.19–31). Os
samaritanos são vizinhos nobres (Lc 10.25–37), pecadores
arrependidos são justificados diante de Deus, e os arrogantes
mestres da Bíblia não o são (Lc 18.9–14). E as crianças, longe de
serem repreendidas e silenciadas, são exatamente como devemos
nos tornar a fim de entrar no reino de Deus (Lc 18.15–17). Trazemos
histórias de casa conosco quando entramos no ministério. Jesus
entra nelas e dá à luz novas histórias para que as contemos.
O ajuste doloroso
Estas novas narrativas da graça para nossa família não são baratas.
Não apenas as levamos conosco de casa; também quando
voltamos para casa de tempos em tempos. Fazer com que isso dê
certo requer graça e tempo.
Na sua própria cidade, enquanto Jesus era “o filho do carpinteiro,
filho de Maria e irmão de Tiago e José e Judas e Simão” junto a
suas irmãs, Jesus era bem-vindo. Era parte do povo e do lugar (Mc
6.3). Mas uma vez que Jesus “começou a ensinar na sinagoga”, as
pessoas, em sua maioria, retiraram suas boas-vindas. “Se
ofenderam com ele” (Mc 6.1–8; Lc 4.16–30).
Meu jeito de tratar minha pequena semelhança ao que Jesus
experimentou por vezes tem feito as coisas piorarem. Ao tentar
separar aquilo que é menos parecido com Jesus na mentoria de
nossa família, frequentemente o fazemos mal, como a vez quando
escrevi um tratado de sessenta páginas que chamei “Por que sou o
que algumas pessoas chamam de ‘calvinista’.” Fiz cópias e mandei
para todos os membros da minha família no sul de Indiana. Que
maneira melhor haveria de mostrar o amor de Jesus aos entes
queridos do que escrever e enviar um documento que eles não
esperariam, respondendo perguntas que não estavam fazendo, com
um tom que não era necessário, para defender uma discussão na
qual eles não estavam envolvidos, e isso tudo para surpreendê-los,
sem que tivéssemos tido qualquer conversa pessoal a respeito
disso?
Assim, quando tentarmos orar ou dizer algo de significado
espiritual, os membros da família não nos deixarão esquecer dessas
coisas. Como isso pode se tornar um dom de graça! Nós todos
podemos olhar para trás e dar risada devido ao perdão necessário e
concedido. Novas histórias de família poderão tornar-se fonte de
encorajamento para todos.
Porém, a lembrança de nossos momentos de tolice não vai
embora com os outros membros da família. Eles ficam contentes em
ter um encanador na família quando os canos estouram, ou um
cabeleireiro que corte o cabelo de graça, mas raramente pensam na
bênção que um ministro humilde pode oferecer à família. Não
reconhecem a agulhada que trazemos conosco por causa disso.
Talvez nos assemelhemos ao hipócrita que os feriu. O seu cinismo
põe a culpa sobre aquilo que nós representamos.
Muitas vezes, as vozes críticas ou decepções implícitas vem numa
disposição bem-intencionada. A família sente nossa falta e desejaria
que estivéssemos em casa. “Filho, por que fizeste assim conosco?”
(Lc 2.48), poderão dizer. A família de Jesus sentia-se ferida por
Jesus. Maria acrescenta, “Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua
procura” (Lc 2.48).
Jesus faz uma pergunta direta e gentil em resposta: “Por que me
procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu
Pai?” (Lc 2.49). Como seria para José ouvir que Jesus tinha de estar
na casa de um Pai diferente, e que esse Pai não era ele, José, e
não incluía a provisão e a habitação de José? Deve ter doído.
Quando Jesus e sua família começaram a ter esse ajustamento
dolorido, sua família “não entendia” o que Jesus estava lhes
revelando (Lc 2.50). Teriam de ponderar essas coisas nos corações
e ruminá-las por algum tempo (Lc 2.51).
Tempo de ficar de pé
Na hora que as multidões se juntam e Jesus não tem tempo para
comer, a sua família reage mal. Poderiam ter trazido comida para
ele, encorajando-o com a mensagem de que o Senhor, que o
chamou, o sustentaria e sempre seria fiel. Em vez disso, olharam as
coisas boas que Jesus fazia e denegriram seu caráter. Enquanto
outros se ajuntavam para aprender sobre Deus através de Jesus,
“sua mãe e seus irmãos” ficaram do lado de fora (Mc 3.31). Naquele
momento público eles se referem a Jesus como um homem fora de
si (Mc 3.21). Em termos humanos, existem pouquíssimas críticas
mais dolorosas do que aquelas feitas contra nós por aqueles que
nos conhecem por mais tempo.
Normalmente, Jesus se maravilhava dessa falta de boas-vindas
em sua própria casa; suportava a dor produzida por isso, e
simplesmente prosseguia em seu ministério (Mc 6.5–6). Mas chegou
a hora. Desde os doze anos, Jesus havia se submetido e amado
sua família respeitosamente, mesmo quando eles não o
compreendiam. Agora, aos trinta anos, ele cumpriria o seu
chamado, quer eles entendessem quer não. Certas coisas até eles
teriam de aprender de Deus. Não podiam continuar a apoquentá-lo
desse jeito. A manipulação, os xingamentos e a utilização da culpa
para envergonhá-lo tinham de parar. Jesus os amaria, mas não faria
concessões à descaracterização que faziam dele, bem como das
interpretações sobre quem Deus é e de como o ministério de Deus
deveria funcionar. A família e Jesus teria de se entregar aos
propósitos de Deus para eles — não havia como evitar. Jesus
continuaria em seu chamado, quer eles quisessem quer não, quer
estivessem envergonhados por ele quer não, quer achassem que
seriam maltratados quer não. “Quem é minha mãe e meus irmãos?”,
ele pergunta (Mc 3.31–35). Este momento na vida de Jesus me
deixa boquiaberto.
Certamente, naquele dia a família foi para casa furiosa ou ferida.
Jesus só confirmou as suas suspeitas. Está fora de si. Eles estão
certos em ficar do lado de fora e não se juntar aos que o seguem.
Ou talvez acreditassem mesmo que ele se importava mais com os
outros do que com eles. Pode ser que tivessem se sentido
desrespeitados por ele falar as coisas tão claramente. Talvez
pensassem no homem egoísta e orgulhoso que seu filho e irmão se
tornara, amando as multidões, a fama e a atenção.
O que sabemos com certeza é que, enquanto se entregava à obra
do Pai, Jesus não parou de amar a sua família (Jo 19.26). Com o
tempo, sua mãe viria a entender todas essas coisas que foram
profetizadas e as guardaria no coração. Com o tempo, o seu irmão
Tiago se curvaria a ele afetuosamente como Senhor e Salvador.
Mas não os vemos muito todos juntos.
As percepções da sua família estendida e dos seus concidadãos
acerca do ministério são uma confusão — era assim até mesmo
para nosso Senhor na plenitude de sua humanidade. Mas até
mesmo aqui, a graça não desiste.
Conclusão
Eu estava saindo da reunião do almoço de Dia de Ação de Graças
da casa dos Guernseys. Havia passado trinta e cinco anos ou mais
desde que Papaw me dissera que planejava atirar no Papai Noel;
seis ou sete anos desde que chegara o capelão negro; e seis ou
sete anos desde que eu lhe escrevera uma carta contando do meu
amor por ele e por Jesus, aquela carta que ele referiu como algo
para ser guardado junto ao peito. Foi um ano ou dois antes da morte
de Mamaw. E foi após mais de cinquenta anos que Mamaw orava.
“O que você sabe, jovem?”, disse ele com muita magreza e
cabelos de prata. Há muito sumiram as costeletas fortes e escuras
emoldurando o rosto murcho. A seriedade e clareza de seus olhos
castanhos me surpreendeu. “Não tem muita gente que sabe o que
tem dentro desse velho aqui”.
“Ah é?”, disse eu perguntando.
“Dois anos atrás, esse velho aqui começou a dar graças a Deus
toda noite”, ele disse. “Uns meses atrás, o velho aqui começou a
voltar para a igreja”.
Eu estava chocado com a sacralidade daquele momento. Remexi
as minhas chaves, vasculhando o vazio profundo do bolso de meus
jeans, tentando encontrar palavras. “Como é isso para o senhor,
Papaw?”, ousei indagar.
“Bem, não concordo com tudo isso”, disse. “Mas, para dizer a
verdade, tenho sentido falta”.
Ele se aproximou de mim para me abraçar.
Então sorriu ao falar: “A gente nunca sabe o que vai acontecer
com esse velho aqui, não é mesmo?”
“Nunca se sabe”.
4 | Invisível
O fato é que os pastores são invisíveis seis dias da semana... Grande
parte de nosso trabalho mais importante é feito nos bastidores.
– E H. P
O que dissemos até aqui:
Pastores anseiam.
Pastores pregam com pele e osso.
Nossa pressa não ajuda muito.
Entediados com a verdadeira grandeza que nos foi dada, tentamos
sair de casa, mas levamos nossa casa conosco.
Estamos esgotados por correr atrás das falsas grandezas.
Somos encharcados por sucessos, mas secos quanto a Deus.
Estamos fazendo de novo antigas perguntas, olhando para trás.
Mas de que adianta ser pastor?
Trabalho monótono
“Quero agradecer-lhe por aquilo que você disse da última vez em
que nos encontramos”.
Ele disse isso em uma cafeteria. A filha pequena de meu amigo
dizia com linguagem de garotinha: “Num quero Deus” ou “mim não
ora”. Sofrendo, esses pais preocupavam-se que estivessem fazendo
algo errado. Eu respondi dizendo algo sobre como nós adultos,
muitas vezes, não gostamos de Deus em nossa vida ou não
queremos orar.
“Quem sabe o deus que sua filha não gosta seja um que nós
também não gostaríamos nem desejaríamos crer; talvez não seja,
afinal, uma imagem verdadeira de como Deus realmente é”, eu
sugeri. Então fiz uma pausa. Não tinha certeza, como era
costumeiro, se aquilo que em oração eu tentava entender estava
plenamente correto. Eu orava daquele jeito estranho que podemos
fazer, silenciosamente, entre as sentenças e os pequenos silêncios
que perduram enquanto enfiamos a colher em uma tigela de caldo
quente.
“Em vez de fazer sua garotinha parar de falar que não gosta de
Deus”, eu disse, “que tal admitir que, às vezes, mesmo como
adultos, nós desgostamos de Deus, e deixar que isso molde as suas
orações em família? Afinal de contas, os Salmos ou Eclesiastes,
Jonas ou Jó nos mostram orações dessa espécie. Nos ensinam que
Deus nos ouve em Cristo, mesmo quando temos sentimentos feios
e quando esses sentimentos feios são dirigidos a ele. Quem sabe se
neste exato momento é isto que ela pode aprender com você? Que
tal se, em vez de ler a Bíblia por uma temporada, você convidasse
os filhos a dramatizar as cenas escritas nos Evangelhos? Alguém é
o que está doente. Um outro atua como o fariseu zangado. E
alguém começa a dizer o que Jesus fez e a estender a mão ao que
está enfermo ali mesmo em sua sala de estar”.
Nas semanas seguintes aconteceu algo maravilhoso. Aquela
criança começou a relacionar-se de maneira diferente quanto à
oração, e deixou de falar que não gostava de Deus. Um momento
como este nos ajuda a entender por que não é fácil descrever o que
um pastor faz. É também desagradável e fere nosso inquieto desejo
de legados maiores e mais famosos.
• Comum e cotidiano. Este momento quase não se nota no mundo
e não será documentado pela história. Dois homens tomavam
sopa e conversaram por alguns minutos numa terça-feira em uma
cidade do Missouri.
• Invisível. Ninguém mais da congregação viu ou sabe sobre isso.
• Incontrolável. Não existe uma fórmula. Nunca me fizeram antes
aquela pergunta e eu poderia não ter sabido como dizer, ou errar
completamente no que disse. Foram feitas orações. Dar um
passo à frente foi um ato de esperar em Deus quanto ao
desconhecido.
• Inacabado. Demos graças com risadas quando se falou dessa
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  • 1.
  • 2. “É difícil imaginar um livro mais cheio de graça e discernimento quanto à vida incomum do pastor comum. Por isso, deixarei a tentativa de encontrar algum outro e lerei novamente O Pastor Imperfeito, de Zack Eswine. Ninguém hoje expressa mais discernimento quanto aos perigos e às alegrias do ministério diário na igreja local – uma meditação refrescantemente honesta, escrita com beleza.” Mark Galli, editor-chefe, Christianity Today “Gostaria de ter lido esta obra vinte anos atrás, quando comecei a considerar o ministério pastoral. O assunto que Zack aborda é vital tanto para pastores novatos quanto para pastores experientes. Ele nos direciona a evitarmos as ambições perigosas, as expectativas absurdas e os padrões de trabalho prejudiciais. No entanto, ele faz isso com inteligência, autocrítica e profundo realismo. Eswine reacendeu em mim um amor pelo Pastor Perfeito, cuja graça extraordinária inclui pastores imperfeitos na obra de seu reino. Este livro deveria estar na lista de leituras indispensáveis de todo pastor!” Mark Meynell, diretor associado (Europa), Langham Preaching; Autor, A Wilderness of Mirrors “Zack Eswine o fez novamente. Em O Pastor Imperfeito, ele estende a mão de irmandade a cada ministro do evangelho. Muitos soldados fatigados guardam as linhas de frente; Eswine lembra a todos nós que Cristo é nosso guarda e defensor, e que nele está o nosso lugar de maior força.” Lore Fergurson, escritor, designer gráfico, palestrante “Este livro precisa ser lido por todo pastor, para nos resgatar e nos chamar de volta ao que realmente importa. As expectativas de ministério grande, rápido e famoso numa cultura pós-cristã podem ser um fardo destrutivo. A sabedoria de Zack é um bálsamo curador que traz a graça necessária para nos ajudar a ministrarmos com paciência e perseverança.”
  • 3. Peter Boyd, pastor, Shore Presbiterian Church, Auckland, New Zeland “Aqui há sabedoria reminiscente dos pregadores dotados de outras épocas, mas expressa no tom e no som de nossos dias. Há teologia pastoral escrita, pregada e vivenciada na vida real e provada do próprio Zack. Há conselho humano e piedoso. Você deve ler este livro.” Leighton Ford, presidente, Leigthon Ford Ministries “Zack Eswine projeta sua prosa numa área muito sensível que nós, pastores e líderes, odiamos discutir: nós extraímos nosso senso de identidade e estima do número de pessoas que vão às nossas igrejas, do volume das ofertas e de nossos seguidores em mídias sociais. Este é um livro cheio não de condenação e sim de encorajamento cativante. Pude sentir os braços de Zack ao meu redor quando Deus o usou para me mostrar o caminho adiante – em direção a uma vereda de cura e esperança.” Bryan Loritts, pastor de pregação e missões, Trinity Grace Church, New York City; fundador e presidente, The Kainos Movement; editor, Letters to a Birmingham Jail “Este é simplesmente o melhor livro sobre ministério pastoral que já li. Num mundo de ministério caótico que idolatra tamanho e estrelato, Zack abre nossos olhos para a única coisa que realmente importa. Leia com oração e releia esta meditação bela e pungente, e você descobrirá alegria e verdadeira grandeza em meio à sua extraordinária vida comum diária.” Ken Shigematsu, pastor, Tenth Church Vancouver; Autor best-seller, God in My Everything “O Pastor Imperfeito é um lembrete revigorante do que o ministério
  • 4. realmente é: andarmos com Jesus, reconhecermos nossos próprios desejos e limitações e refletirmos uma atitude ouvinte, uma paciência esperançosa e um propósito restaurador. As experiências pessoais de Zack relacionadas aos altos e baixos do ministério, bem como sua abordagem contemplativa à espiritualidade, desafiarão e encorajarão qualquer um que busca ministrar em nome de Jesus.” Wendy Der, diretor de mobilização no México, Avance Internacional
  • 5.
  • 6.
  • 7. Para Mamaw, Papaw e Jessica. Aguardo ansioso o momento de poder apresentá-los
  • 8. Sumário Agradecimentos Apresentação à Edição em Português Introdução PRIMEIRA PARTE | A Chamada que seguimos 1 | Desejo 2 | Reconquistando nossa humanidade 3 | Saindo de casa 4 | Invisível SEGUNDA PARTE | As tentações que enfrentamos 5 | Estar em todo lugar para todos 6 | Consertar tudo 7 | Saber tudo 8 | Imediatismo TERCEIRA PARTE | Reformulando nossa vida interior 9 | Uma nova ambição 10 | Contemplando Deus 11 | Encontrando o nosso ritmo QUARTA PARTE | Reformulando o trabalho que fazemos 12 | Cuidando dos enfermos 13 | Cuidando dos pecadores 14 | Conhecimento Local 15 | Liderança 16 | Realismo Romântico
  • 9.
  • 10. Agradecimentos Quero agradecer a Dave Dewit, cujo coração em favor de líderes no ministério e dedicação a este livro me humilha e encoraja. Obrigado também a Lydia Brownback por seu trabalho de edição. Sou grato à Bruwer Vroon, Matt Blazer, e aos presbíteros da igreja de Riverside que leram os esboços iniciais e fizeram sugestões. Obrigado, Jessica, pelas muitas leituras que fez tarde da noite e aos sábados. Sua sensibilidade, sugestões e seu estímulo em nossa mútua parceria me abençoam. Sou grato à Igreja de Riverside, de cujo contexto de cotidiana vida mútua e de meios comuns eu escrevo este livro.
  • 11.
  • 12. Apresentação à Edição em Português Lidando com o aconselhamento pastoral por alguns anos, tenho percebido que muitos dos grandes problemas que enfrentamos parecem resultar de uma equação simples e binária: Não queremos Deus e queremos ser Deus. No fim das contas, o verso e reverso de uma mesma moeda. A marca registrada da impiedade humana, a qual, desde as suas raízes, caracteriza-se ativamente por estultícia, soberba e idolatria. Em rigor, a impiedade que acometeu os seres humanos é isto, a saber, o desprezo a Deus, que se manifesta em virar as costas para ele e tentar assumir o controle de tudo. A lógica falida de não querer Deus e querer ser Deus, logo percebi, pode também ser uma realidade muito fortemente ativa em mim, pastor e conselheiro. Se você, leitor, pastoreia um rebanho de Cristo, suponho que entende o que estou tentando dizer. Nós, pastores, estamos constantemente sujeitos à tentação tão antiga quanto a astuta serpente no jardim: “É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3. 4b-5). O único pastor perfeito, Jesus Cristo, sofreu um ataque semelhante. No quarto capítulo do Evangelho de Mateus, lemos que ele foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Vemos neste texto três áreas de tentações frequentes no ministério pastoral. “Manda que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Jesus estava com fome. “Supra sua necessidade física”, foi o conselho do maligno. A tentação para ser imediatista, por atender as necessidades do momento, suprir o povo naquilo que este julga ser as suas mais sérias e importantes necessidades... Em suma, agir inteiramente referenciado por interesses pessoais. Isso atinge o centro de nossa identidade. Trata-se de uma tentação muito sutil,
  • 13. pois não é prontamente reconhecida como tal. Geralmente, trocando alhos por bugalhos, confundimos esta tentação como sendo um chamado de Deus. E nos indagamos: “Afinal de contas, o Senhor não quer que alimentemos o povo?” “Ele não quer que sejamos produtivos e eficientes em nosso trabalho?” Assim, pensar em um ministério que lance raízes, que trabalhe sistemática e perseverantemente a fim de ver vidas serem transformadas, que seja constante e diacrônico na pregação e no discipulado cotidiano, enfim, tudo que exija o concurso de tempo para o amadurecimento, pode ser inconcebível para alguns de nós. Há alguns, em nossa atual geração de pastores, que têm imensa dificuldade com processos lentos, que exigem dedicação e esforço e que não trazem resultados imediatos. “Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo. E lhe disse: Se és filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem...” (vv. 5-6). Assim, a tentação para se realizar algo espetacular não diminui desde os tempos de Jesus. Imagine o espetáculo que seria Jesus pulando do alto do templo e os anjos apressando-se em segurá-lo nos céus. Este cenário teria toda uma atmosfera Hollywoodiana. Em nossos ministérios, também podemos ser seduzidos pelo ideal de sucesso reluzente ao custo da fidelidade. Certamente, queremos ser bem sucedidos. Mas o que isto significa? A realidade é que podemos ter nesta área referenciais absolutamente mundanos, secularizados, e tomá-los como sinais indiscutíveis de bênção e evidente aprovação de Deus. Pare um pouco e pense na história do povo de Deus, e sobretudo na pessoa de Jesus Cristo, o melhor dos pastores. Pode ser difícil lembrarmos que a salvação vem do “remanescente de Israel”; do “renovo que brota de uma terra seca”. É difícil acreditar no nascimento despretensioso do Rei dos reis, que veio ao mundo como servo, entrou em Jerusalém montado num pequeno jumentinho, morreu em uma cruz ao lado de ladrões e como um
  • 14. criminoso amaldiçoado e proscrito. Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, constatamos que o evangelho se espalhou e tomou força pela pregação de “homens comuns”, de “pescadores incultos”, e de um outrora fariseu, perseguidor da igreja, que foi o apóstolo Paulo. E o poder de Deus aperfeiçoou-se em meio àquelas fraquezas, a fim de que a glória fosse inteiramente do Senhor. Um incansável missionário norte-americano no Brasil, certa ocasião, escreveu oferecendo um alerta: “É importante compreender que nossa ânsia pelo espetacular é mais uma manifestação de nossa busca por identidade. Queremos ser alguém, queremos ser celebrados, ter ministério reconhecido. Se o espetacular cumpre nossa necessidade íntima, faremos qualquer coisa para consegui- lo.” Porém, o que realmente importa? Quem realmente somos? O que nos motiva a provarmos o nosso valor por meio daquilo que fazemos? Nós pastores sabemos que o cenário do ministério pastoral evangélico, tristemente, pode ser caracterizado por competições, manipulações e comparações ministeriais. Aqui neste livro temos um chamado a “permitir” que o poder de Deus se evidencie através de nós, que somos frágeis vasos de barro, por meio de nossa fraqueza e pequenez. “Levou-o ainda o diabo a um monte alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e lhe disse: tudo isso te darei se prostrado, me adorares” (vv. 8-9). Penso que entendemos ser esta uma tentação contínua no ministério pastoral. Com alguma frequência, nos encontramos persuadidos de que a busca de poder e o desejo de servir têm o mesmo significado. Em um contexto assim, facilmente os fins podem justificar os meios, atendendo ao nosso desejo de sermos mais eficazes no trabalho de Deus. Indagamos intimamente: “Que valor há em não termos poder, em não causarmos impacto?”. Nos momentos em que nos virmos sujeitos a tal realidade, ajuda- nos lembrarmos que o ministério é servir ao Senhor dependendo do seu poder e não do nosso. No reconhecimento de nossa fraqueza e
  • 15. vulnerabilidade nos tornamos mais dependentes da graça de Deus, e mais agradecidos por ela, ao mesmo tempo em que somos levados à empática posição de nos tornamos solidários ao próximo. Quando o Senhor Jesus Cristo foi tentado, respondeu: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (v. 10b). Estas palavras nos lembram que vamos nos tornando parecidos com aquilo que adoramos, e constituem-se em alerta para que, em nosso ministério, tenhamos os olhos fixos em Cristo. Quando deixamos de olhar para Jesus, podemos ser facilmente conduzidos a usar pessoas, manipular circunstâncias, armar situações para alcançar os nossos objetivos, e entrar em vergonhosas e patéticas disputas de poder. Nunca ficaremos livres destas tentações em nosso ministério. Elas são constrangedoras e sedutoras por atingirem a nossa ambição e prometerem satisfazer a ilusão do ser humano egocêntrico. Eu e você podemos servir ao Senhor com o coração puro e autêntico. Eu e você podemos servir sem que dependamos, em todo tempo, de que o nosso valor seja referenciado pelo meio – e se há uma verdade acerca do meio é que ele é instável e caprichoso. E se o Senhor nos conceder aquela graça, então estaremos mais livres. E desfrutar do oxigênio dessa liberdade, provocará uma alegria profunda em servir ao nosso Deus com um coração inteiramente voltado para ele. O triste fato, porém, é que reconhecidamente chegamos até aqui com uma história de fracassos nessas áreas. Cristo, que foi vitorioso nestas tentações tão prementes, é o único pastor perfeito. Ele é o “supremo pastor e bispo” de nossas almas que, por natureza, são carentes e mesquinhas. Digno é o cordeiro! Sim. Nós, assim como Pedro e Paulo, somos todos pastores imperfeitos, com histórias de fracassos para contar. O Pastor Imperfeito é o segundo livro de Zack Eswine publicado em português. O primeiro foi A Depressão de Spurgeon (Fiel, 2015). O Senhor me conferiu a oportunidade honrosa de revisar e prefaciar a ambos. O Dr. Zachary W. Eswine foi por seis anos professor
  • 16. assistente de Homilética e diretor do programa de Doutorado no Covenant Theological Seminary, em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos. Atualmente, ele conduz o ministério pastoral em uma igreja na mesma cidade. Eswine é também o autor de alguns outros livros, inclusive de um acerca do método de pregação de Spurgeon — Kindled Fire: How the methods of C.H. Spurgeon can help your preaching. Em O Pastor Imperfeito, Eswine faz pulsar, com uma sonoridade simples porém vibrante, o seu “coração de pastor”. Com acolhedora ternura, sensível compaixão e graciosa firmeza, ele situa o chamado que seguimos, reposicionando-nos em nossa humanidade. A seguir expõe a insensatez de engrossarmos as tipologias ministeriais que refletem o padrão de não querer Deus e querer ser como Deus. Na terceira parte do livro, faz uma chamada à reformulação de nosso mundo interior, por situarmos as nossas ambições em perspectivas divinas e realistas. A parte final do livro é dedicada a uma reformulação do trabalho pastoral cotidiano, de uma forma prática e balizada instrumentalmente por discernimento, critério e medida. O Pastor Imperfeito, penso eu, é oportuna contribuição à teologia pastoral, e particularmente à poimênica evangélico-reformada. Ele nos será muito útil, os quatro presbíteros de nossa igreja, pois pastores imperfeitos é o que somos, embora nem sempre estejamos lembrados ou crendo nisto. Como João Batista, eu precisarei relembrar a mim mesmo, aos meus colegas e à nossa preciosa congregação: “Eu não sou o Cristo”. Gilson Santos
  • 17.
  • 18. Introdução Tornei-me pastor. Mas eu não sabia como ser um deles. A Serpente viu isso. Aproveitou a oportunidade. “Você pode ser como Deus”, disse ela. E eu, tolo, acreditei. Olhando atrás, para esses vinte anos de trabalho pastoral, vêm à minha mente as palavras de um poeta. Elas preparam o palco para a conversa que quero ter com você. É muito provável, arrazoa o pregador, Que você esteja mais disposto a escutar Agora que sua cidade desmoronou de onde estivera.1 Estou escutando mais. Convido você, em sua cidade derribada, a juntar-se a mim. Quando comecei não sabia que a vocação pastoral em Jesus traria limites, faria com que eu andasse mais devagar, e desmancharia, dolorosamente, a mal direcionada orientação de minha vida. Agora sei que meu sucesso e minha alegria como pastor dependem disso. O seu também. Carl Dennis, “Smaller”, em Unknown Friends [Amigos desconhecidos], (New York: Penguin Poets, 2007), 16.
  • 19. PRIMEIRA PARTE | A CHAMADA QUE SEGUIMOS
  • 20. Vocação O lugar que ele nos dá para habitar. O pouco que ele nos dá para fazer naquele lugar. As pessoas a quem convida para que conheçamos ali. Esses nossos dias, em que continuamos por aí. Basta então, essa velha obra de mãos Dele e nossa para aqui amar, para aprender aqui a sua canção, como grilos que arranham e cantam, dos recantos invisíveis, continuando a fazer aquilo para o que foram criados, a arte noturna de faces não notadas, com nossas asas não observadas, até que, mais uma vez, ele caminhe no frescor do dia, para reclamar nossos nomes. E nós então, com nossas bandeiras brancas costuradas, estaremos por trás de suas sempre verdejantes, finalmente deixando o lugar escondido e com ele mais uma vez caminhando juntos.
  • 21. 1 | Desejo Ele pensa somente naquilo que deseja e não se pergunta se deveria desejar isso. – B C Eu me lembro de estar sentado no estacionamento, em uma mesa de piquenique na casa de meus avós em Henryville, Indiana. Estava no terceiro ano de meu primeiro pastorado. Tirara uma breve licença de estudo para escrever meu primeiro artigo para uma publicação ministerial. Mamaw, feliz com a minha visita mais longa, fez o bolo de especiarias que sempre fazia quando eu vinha à sua cidade. Pegando minha caneta e olhando rua abaixo, senti o que qualquer pessoa com certeza sentiria quando começa a realizar aquilo que sabe que foi feita para fazer — o nobre prazer de sentir que, de alguma forma, basta a nós esse dia, que o dia não pode nos conter porque brilharemos mais que ele. No meu caso, sentia um crescente desejo de escrever algo significativo para os pastores. Queria que fosse algo excepcional. Naquela semana sabática, devorei o assunto que mais me empolgava na época — os primórdios do Seminário Princeton e a pregação. Isso provavelmente soa irritante ou incrivelmente maçante para algumas pessoas. Mas, para mim, o assunto era como o bolo de especiarias da Mamaw. O primeiro reitor de Princeton, Archibald Alexander, bem como o seu filho, pareciam ter tanto para dizer, e isso alimentou minha alma com respeito à pregação. Ofereciam alimento deleitoso para o pastor ferido em que eu estava me tornando. Fazendo uma retrospectiva, penso que mesmo sendo novo no ministério, eu já estava profundamente cansado. De alguma forma, no entanto, aquele sentimento de estarmos realizando algo significativo pode fazer com que nos enganemos, ao
  • 22. ponto de acharmos que as coisas na verdade não são tão ruins quanto parecem. Uma boa lembrança pode se juntar a esse sentimento e, juntos, eles alimentam um refúgio de esperança. Dr. Calhoun compartilhou com regularidade sua sala de estar e uma xícara de chá. Com o passar dos meses, ele transmitira o amor que sentia pelo velho Princeton para mim (e para outros). Tendo tal memória jungida à oportunidade de escrever, e o bolo de especiarias da Mamaw à minha frente, eu me sentia animado. Sempre quis transformar o mundo. Desejava muito fazer isso. Olhando para trás, eu achava que esse tipo de desejo era para um grande momento épico. (As pessoas excepcionais não são presas a uma vida de momentos nada excepcionais, não é mesmo?) Esses momentos épicos, quando realizados, não deixariam nada ser o mesmo. O próprio céu teria nos tocado. Essa ideia de uma grande arremetida flertava com os meus desejos. A aspiração épica começou a andar de mãos dadas com as minhas tentativas de pregar. Não estava só nisso. Os meus colegas que se formaram comigo no seminário partilhavam desses mesmos anseios e sonhos. E em minha mente isso não era irracional. Afinal, os meus professores e colegas de estudo reconheciam publicamente a minha pregação e afirmavam meus dons. Eu também tinha lido sobre como Deus atendera a pregadores com o seu Espírito no passado, e desejava que ele fizesse o mesmo conosco no presente. Mas depois de dois anos em minha primeira igreja, toda a minha pregação parecia apenas dar às pessoas um motivo para visitar e escolher outras igrejas. Passei, portanto, a desejar o encontro de um momento épico fora do púlpito. Tentaria pastorear pessoas com este grandioso fim. Porém, o nível de conflito existente entre meus presbíteros me deixava atônito. Eu estava chegando àquele pedaço da estrada no deserto que a maioria dos pastores novos têm de passar nos primeiros dois a quatro anos de um novo chamado — o deserto em
  • 23. que a maioria de nós desiste. Mas naquela época eu não percebia. Nem percebia o grande quebrantamento que uma pequena igreja consegue suportar. Naquele tempo, eu não compreendia o que agora estou compelido a dizer. Os pastores não são diferentes de outras pessoas. Nós também nos “perdemos em nossos anseios”.2 Desejo A Serpente sabe disso. As árvores do jardim eram desejáveis, boas e agradáveis aos olhos (Gn 2.9). Entretanto, quando Eva viu aquela árvore única, desejou-a de modo torto. Ela e Adão procuraram consumi-la à parte de Deus, apesar do propósito declarado para aquela árvore (Gn 3.6). Queriam algo desejável, mas do modo errado. É possível que façamos o mesmo no ministério. Não se engane. O desejo é um fogo de artifício. Manuseado com sabedoria, enche o céu da noite com luz, cor, beleza e deleite. O desejo mal manuseado pode queimar e incendiar toda a sua vizinhança (Tg 4.1–2). Conheço em primeira mão a beleza e o incêndio criminoso dos desejos ministeriais. Sei o que é ficar perdido nesses desejos e precisar ser reencontrado em Jesus. Eu era um desses caras a quem as pessoas diziam: “Você é um dos melhores pregadores que já ouvi, e é tão jovem — mal posso esperar ouvi-lo daqui a dez anos”. Bem, há muito se passaram dez anos e eu não me tornei aquilo que foi projetado antes. Não falo isso com morbidez. Espero que você logo perceba que escrevo como quem sente profundamente ter sido resgatado de si mesmo pela abundante graça de Jesus. As águas insalubres da celebridade, consumismo e gratificação imediata haviam infiltrado a água que eu bebia. Meus desejos pastorais tinham se maculado sem que eu percebesse. Muitos de nós não percebemos. Nós e nossas congregações sofremos por isso. Portanto, estabeleçamos o fato de que a vocação pastoral começa com o desejo. O apóstolo Paulo diz o seguinte: “Fiel é a palavra: se
  • 24. alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja (1Tm 3.1). Pedro concorda: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.2). Reflita comigo por um momento. Quando foi que você tornou conhecido o seu desejo pelo ministério pela primeira vez? Era mais velho ou mais jovem? A quem você contou? No meu caso, eu estava na segunda série do ensino fundamental da escola Saint Anthony. A Sra. Canter escrevera no quadro de giz: “O que você quer ser quando crescer?” Eu respondi, e Sra. Canter ajuntou as duas palavras para todos verem: “Zack — Sacerdote”. Eu ainda não associara o desejo pastoral ao amor por dinheiro (Lc 16.4), contatos para angariar posição (Mt 23.6–7), cobiça por poder (At 8.18–21) ou ao avanço de meu próprio nome. Ainda não sabia que servir a Deus poderia ser usado, até mesmo por mim, como modo de tentar, alinhado com o velho sussurro da Serpente, tornar- me como Deus (Gn 3.5). Só sabia, como menino de oito anos, que eu desejava servir a Deus com minha vida em ministério vocacional. Eu não estava inquieto naquela época, nem um pouco. Era maravilhoso. Desde então, porém, aprendi algo, não como sacerdote, mas como pastor. Existem muitos tipos de desejos atuando neste mundo, e nem todos eles são bons. E se você for uma montanha sem nome? Meus desejos começaram a correr atrás de toda espécie errada de mentoria. Fui auxiliar de pastor da juventude em uma igreja pequena, lugar onde iniciei o meu ministério pastoral. O meu pastor gastou horas e mais horas me ensinando por três anos. Mas notei algo. Ao entrar em reuniões regionais regulares de pastores e líderes de igreja, ele e eu entramos calmamente, enquanto outros pastores geralmente entravam na sala com certo estardalhaço.
  • 25. Eram os pastores de grandes igrejas. Alguns tinham escrito livros, moderado congressos e pregado a milhares de pessoas. Embora anos mais tarde eu viesse a conhecer um pouco dessa espécie de fanfarra, o fiel pastor que foi meu mentor jamais teria essa experiência. Ao longo do caminho, descobri algumas das razões para isso. Eu fazia parte de uma equipe que oferecia uma conferência anual para pastores. No ano em que tentamos resistir a um pensamento centrado em celebridade, mal conseguimos financiar a conferência. Nossos pregadores eram líderes veteranos, de muito tempo de ministério, mas desconhecidos. Tristemente, as inscrições para essa conferência foram poucas. No ano seguinte voltamos a obter grandes nomes para que as pessoas viessem. Com certeza, a conferência ficou lotada de gente. Na nossa terra, a experiência e sabedoria do pastor têm pouco valor financeiro, a não ser que ele seja bem conhecido. De onde veio essa ideia? Não sei, mas preste atenção. Essa mensagem gritava alto e claro para mim quando eu era jovem pastor em treinamento. O que estou tentando dizer a você é que naquela época eu estava com vinte e seis anos, terminando o seminário, e a pureza do meu desejo de servir a Deus por aquilo que ele é, enquanto ainda cursava a segunda série do ensino fundamental, estava se apagando. Estava se tornando bem claro que, se quisesse obter sucesso no ministério, eu precisaria fazer algo grandioso. Eu teria de definir o que seria grande em termos de tamanho, fama e a rapidez com que conseguiria realizar. Voltando àquelas introduções iniciais, à cultura pastoral, vem à mente uma historieta contada sobre o famoso Richard Foster e seu filho, Nathan. Nathan estava ansioso por conquistar rapidamente as famosas montanhas do Colorado. Enquanto descansava na encosta rochosa de uma dessas montanhas célebres, Richard apontou para o filho a beleza de uma montanha adjacente: “Nate, está vendo aquela montanha? Tem uma cumeeira impressionante. É um pico
  • 26. perfeito. Se tivesse uns poucos metros a mais de altura, você conheceria o nome e desejaria subi-la. Como esta é uma montanha sem nome, ninguém liga para ela”.3 Desejando fazer grandes coisas para Deus Até o tempo em que estava no terceiro ano do primeiro pastorado, comendo o bolo de especiarias da Mamaw em sua varanda, eu vivia cada dia mais inquieto. Como muitos de meus colegas, ansiava por fazer diferença para Deus na minha vocação — o mais rápido possível. Contraste os sinônimos de comum aos sinônimos para épico, e quem pode culpar-nos? Aspiro servir como pastor de modo comum, corriqueiro, humano, normal, rotineiro, médio, usual e sem novidades, a pessoas comuns e em nada excepcionais. Ser banal e medíocre como pastor. Ou, Aspiro servir como pastor olímpico, incomum, surpreendente. Ser pastor extraordinário e especial em uma congregação maravilhosa, notável, singular, excessivamente grande. Ser estelar e inesquecível como pregador. Eu me sentia qualquer coisa menos estelar. Quem sabe este artigo seja apenas o começo, pensei. Não sou pastor ou pregador épico. Mas talvez pudesse escrever algo que transformasse o mundo para Deus. Isso foi há vinte anos. Publiquei o artigo, mas o mundo não mudou e ainda tive de escovar os dentes normalmente no dia seguinte. Nos anos desde então, tenho visto gente vindo à fé salvadora em Jesus, casamentos curados e vícios vencidos. Tenho viajado, pregado e obtive um doutorado. Tenho ensinado, aconselhado, e escrito livros. Jesus tem se revelado tão bondoso, verdadeiro, presente e poderoso a mim. Mas, conforme já mencionei, existe beleza e
  • 27. destruição no desejo. Entre aqueles que participaram de minha ordenação ao ministério tempos atrás, um pastor mentor tirou sua própria vida, e outro já não está no ministério devido à má conduta moral. Um presbítero e um diácono foram dolorosamente disciplinados, um por raivosos maus tratos e o outro por um caso amoroso devastador. Outras amizades acabaram se dissipando entre a feia politicagem dentro do ministério. E doze anos depois de meu juramento público de ministrar no evangelho, meu casamento acabou. A única coisa grande, famosa e veloz a meu respeito e a respeito de muitos de minha turma ministerial era nosso quebrantamento. Quando falei sobre o desejo pelo ministério na turma de segundo ano da Sra. Canter, jamais imaginei que meu futuro requereria que eu aprendesse a viver como pai solteiro, com a guarda principal dos três filhos, no meio de uma comunidade de “escândalo” e fofocas. Eu tive de olhar longa e profundamente no espelho dos meus próprios desejos contaminados. Estou pedindo-lhe para fazer o mesmo, na esperança de poupar-lhe o custo que paguei. Ser declarado “parte inocente” não removeu os sussurros ou as calúnias, quer em minha comunidade ou em minha própria cabeça. Nem isso removeu o que significa para cada um de meus três filhos, e para mim, aprender diariamente, juntos, a novamente ver o sol e sorrir. Mas, note bem, caso você pense que não é como eu. Tive também de examinar aqueles que projetavam como eu “deveria” me tornar a seus olhos dentro de dez anos. Você terá de lutar com isso também. Temos de analisar friamente o desejo por “coisas grandes, famosas e rápidas” que membros da congregação e lideranças pastorais parecem almejar constantemente. A ausência de nossa atenção a esses desejos mal projetados está nos tornando em um bando maltrapilho. Agora estou aqui sentado, todos esses anos mais tarde, digitando essas palavras como pastor de uma pequena igreja no Missouri. E uma ironia sussurra aos meus pensamentos. Espero que o que
  • 28. escrevo para você prove ser significativo. Balanço a cabeça e quase dou risada —aquela exalação curta de risada pelo nariz. Engraçado como, antigamente, eu pensava que a significância estaria em algum lugar além de Henryville e da presença de Mamaw — local próximo e amor comum — como se um artigo numa publicação ou um sermão de púlpito pudesse fazer mais para glorificar a Deus em minha geração do que atender com fidelidade a qualquer outro desses dons criativos que Deus deu. Conversas com um jovem pastor À luz disso, escute por um momento. Anos depois, do outro lado das ruínas, encontrei-me escutando os desejos de um jovem pastor. Eu me via e escutava nele. Talvez você também se identifique. “Não importa o que vier, quero me entregar totalmente ao ministério”, disse ele. A sua paixão me inspirava, mas o contexto me preocupava. Tínhamos acabado de falar sobre a dificuldade dele, como marido e pai, junto a uma dobra recorrente dentro da estrada de sua alma. Respirei fundo e parei, olhando para a tigela de pad thai à minha frente. “Se o ministério for tudo que almejamos alcançar”, comecei dizendo, “então como definimos ‘o ministério’ parece importante, sabe?” Levei um pouco de comida à boca e mastiguei. “Só quero pregar a Palavra”, ele declarou. “Não importa o que aconteça, enquanto eu continuar falando o que Deus diz, ele vai me abençoar. Sei que Deus me deu um propósito”. Havia urgência em sua voz e pressa em seus olhos. Ambos eram como espelho para mim. Enrolei o amendoim e o macarrão em volta de meu garfo (os palitos chineses já haviam começado o trabalho de me humilhar). Eu procurava as palavras. “Sim, Deus abençoa a sua Palavra”, comecei. “Você tem um propósito”, afirmei. Demorei mais um pouco com a tigela, tentando achar o que eu
  • 29. deveria deixar de dizer. “Certa vez falei em uma conferência. Preguei cinco vezes. Foi um daqueles momentos quando sentia a presença de Deus de maneira tangível. De fato, depois daquela conferência específica, o resto do meu ano estava planejado, repleto de pregações por todo o país. Realmente, Deus abençoou a sua Palavra. Eu vejo isso de primeira mão.” “Mas”, disse eu, e parei. Em minha cabeça, eu estava numa encruzilhada, perguntando-me como dizer o que seguiria. “No caminho para casa depois daquele último sermão, entre as divinas bênçãos daquela noite, a minha esposa de quinze anos de casamento disse que estava me deixando”. Houve um silêncio entre meu jovem amigo e eu. Tomei meu refrigerante. Temia ter falado demais e cedo demais. Ele conhecia as circunstâncias da minha vida. Mas será que estava pronto para aprender um pouco sobre o que tais circunstâncias podem nos ensinar? Além do mais, será que eu estava pronto a tentar e dar uma voz a isso? “Estou tentando sugerir que o ministério envolve mais do que a questão de nossos sermões serem poderosos e de como influenciamos multidões de pessoas. Entregar tudo a Deus significa muito mais do que entregar-se aos sermões e às multidões.” Mais tarde, naquela mesma noite, estávamos de pé sob as estrelas. “Quando chegar em casa”, disse ele, “finalmente começarei a ser pastor. Quem sabe, logo estarei no seminário e serei equipado, e então serei professor em algum lugar. Mal posso esperar para chegar lá. Dois anos de pastorado e então...” Eu me encontrava fitando o cascalho da entrada de carro como se fosse uma tigela de pad thai. Novamente eu procurei palavras para dizer o que ainda não fora dito. Eu ouvia a minha voz na voz dele. Ele estava inquieto por fazer algo grande para Deus. Seu trabalho pastoral era uma plataforma para ajudá-lo a chegar a outro lugar onde não estava. No entanto, ele não sabia como incluir trocar as
  • 30. fraldas do filho ou ficar de mãos dadas com a esposa na sua definição de grandeza. “E se você já estiver onde Deus quer?”, tentei timidamente. “Em Jesus você já é uma bênção para as pessoas. E se seu lugar no ministério for onde você está com a família, no lugar em que Deus quer você junto dele?” Seu rosto demonstrava sofrimento. “Por favor, me perdoe se estou falando demais”, eu disse. Então fiz uma pausa. “É que você está falando com um homem que ganhou tudo que sempre sonhou e perdeu muito do que realmente importava, tudo em nome de se entregar totalmente ao ministério para servir a Deus. Apenas estou tentando dizer que parece realmente importante saber o que queremos dizer por ‘ministério’ se vamos nos entregar totalmente a isso. Meu desejo é que aquilo a que você está se entregando totalmente seja realmente aquilo que Deus deseja, com a definição que Deus dá a isso.” Ele olhou novamente para o céu. “Não sei onde começar com isso tudo”, protestou. Sem-teto em nossas salas de estar Na semana seguinte, sentei-me para almoçar com um pastor que está subindo e se tornando famoso. A igreja na qual ele servia existia apenas há quatro anos, mas já tinha frequência de várias centenas de pessoas. Ele surgia em nossa comunidade como o próximo grande acontecimento. Contudo, havia algo que o perturbava. “Durante os primeiros dois anos de nosso crescimento explosivo”, ele admitiu, “relacionei-me mal como marido e pai”. Ele fitou sua água gelada e fez careta. “Eu me escondia no meu sucesso como pastor”, continuou. “Acho que usei isso para evitar ver minhas falhas em casa e em meu coração”. Este homem era o exemplo máximo do que meu amigo mais jovem se esforçava para ser. Contudo, os dois homens revelavam a mesma luta — o reconhecimento de que alguém pode receber
  • 31. grandes elogios por pregar Jesus, e ao mesmo tempo conhecer pouco sobre como seguir Jesus nas coisas pequenas e simples do dia a dia. Conseguem comunicar amor à multidão do púlpito ou num escritório ou numa sala de aula, mas quando são chamados para entregar a si mesmos (não os seus dons), são propensos a ficar desajeitados. Vejo isso em mim. Meu jovem amigo escreveu-me na primeira semana de seu novo pastorado: Estou cheio de ansiedade, principalmente sobre o que fazer com todo esse tempo. Fico me perguntando se fiz número X de dólares de trabalho para a igreja hoje? Não estou acostumado com tanto tempo livre em um só dia, e isso me deixa ansioso. Consigo realizar melhor as coisas quando meu horário está abarrotado e vou a mil por hora. Tenho vivido sob pressão por anos, e agora que Deus está alargando o meu espaço, de alguma forma quero sabotá-lo. Como posso sair dessa e encontrar minha vida? Meu amigo não sabia como fazer um dia de trabalho pastoral se as variáveis da eficiência, quantidade, rapidez e medidas econômicas fossem removidas. Ele não fora ensinado sobre os outros tipos de tesouros que eram dele em Jesus, os quais ele podia desejar usar no seu dia. Eu também não tinha aprendido. O tempo que ele esteve comigo no passar dos anos não o havia ajudado. Desejo, pressa, e “as coisas que importam” Espero, contudo, que mesmo em meio a a dores você e eu possamos ajudá-lo agora. Poderíamos dizer algo como isto, não poderíamos? Ao entrar no ministério, você será tentado a orientar os seus desejos para fazer grandes coisas, de maneira notória, com a maior rapidez e eficiência possível. Mas, preste atenção. Uma encruzilhada espera por você. Jesus é essa encruzilhada. Como quase tudo na vida que
  • 32. realmente tem importância, ele exigirá que sejam feitas coisas pequenas, não notadas em sua maioria, durante um longo período de tempo com ele. A vocação pastoral, porque visa ajudar as pessoas a cultivar aquilo que é realmente importante, não é exceção. Por quê? O que são essas coisas que importam para nossos desejos? Bem, primeiro, amor a Deus. Este nobre desejo leva tempo. Perdão, reconciliação, chegar à sensatez, crescimento espiritual em fé, esperança e amor; conhecimento e entrega aos ensinos da Escritura em Jesus, crescimento na obediência, mansidão, paz, paciência, bondade e domínio próprio, junto com enfrentar os vícios, as idolatrias e os pecados com o evangelho; aprender o contentamento em Jesus, quer em abundância quer em escassez; aguardar a vinda do Senhor e seu reino bem como o cumprimento de todas as promessas de Deus para sua glória e nosso bem. A linha de chegada na satisfação desses desejos não poderá ser atravessada com uma corrida de quarenta metros, não importa quão furiosamente tentemos. Segundo, amor ao próximo em seus prazeres também é importante, e isso também leva tempo. Aprender a andar e falar e contar, crescer, fazer matemática, aprender a dirigir ou viver de forma independente, junto com começar ou participar de uma igreja ou ministério. A pressa não consegue realizar essas coisas, quanto menos continuar solteiro, encontrar verdadeiras amizades, desfrutar de um bom casamento, fazer amor que satisfaz, ser pai ou mãe, avós ou criar integridade e boa reputação no seu trabalho. Aprender a tocar um instrumento, subir ao ápice em um esporte ou tornar-se especialista em uma arte ou ofício, não acontece da noite para o dia. Porém, muitas pessoas a quem você serve acreditam que essa espécie de amor a Deus e ao próximo acontece instantaneamente. Tome, por exemplo, um marido frustrado. Ele me disse: “Simplesmente não suporto mais; é demais! Ou ela trata a questão ou é óbvio que não se importa com nosso casamento! Não vou mais
  • 33. suportar isso não!” Quando disse essas palavras para mim, ele estava casado há apenas três meses. A questão a que se referia era de seis dias atrás. Ele citava a Bíblia e falava em termos épicos sobre o que Deus deseja para um casamento e para uma vida. No entanto, se ele tivesse de esperar seis dias para consertar a questão, em um contexto conjugal de, ao todo, oitenta e nove dias, estava claro para ele que Deus não estava no casamento ou que sua esposa não o amava, e que ele tinha de preparar-se para seguir em frente. Este homem consegue citar a Bíblia, mas não tem garra para esperar em Deus em meio a algo de que não gosta. Com toda a conversa grandiosa sobre coisas maravilhosas que Deus quer, não ocorre a ele como é grandioso o que Deus diz sobre aprender a perseverar e esperar nele. Muitos de nós pastores expressamos o mesmo tipo de inabilidade emocional de esperar em Deus em e por nossas congregações. Nosso problema é que a maioria das alegrias dadas por Deus que almejamos são deterioradas quando palavras como instantaneamente, pressa e impaciência são lançadas contra nós. Muitos estão confusos sobre o que significa verdadeira alegria se tiverem de assumir uma gratificação adiada entre as velocidades menores requeridas pelas coisas que importam mais para Jesus. Ora, imagine amar a Deus e ao próximo em meio aos desalentos ou desolações da vida. A desolação não consegue suportar facilmente um ritmo pastoral acelerado. Isso explica por que muitos de nós não têm paciência no cuidado pastoral. Ossos e mentes quebrados não estão propensos à pressa. Pele queimada ou almas vitimizadas têm de chegar a uma coceira miserável a fim de se curar, e nós que esperamos ao lado do leito temos de esperar mais ainda. Morte, luto, perda, recuperação dos vícios, como também traumas emocionais ou físicos, ser pais e mães de crianças portadoras de necessidade especiais, aprender a se ajustar a doenças crônicas, depressão, incapacidades ou doenças — todas
  • 34. essas desolações são tratadas pobremente quando se requer delas “eficiência” e “medidas quantitativas”. Para o pastor importante, que faz coisas grandes e notórias rapidamente, o fato das pessoas estarem quebradas, na verdade, parece uma intrusão que o impede de fazer sua importante obra para Deus. Estou escrevendo essa última frase, e isso me faz desmoronar. Releia. Em seguida, caia comigo, está bem? Caia de joelhos comigo perante o Salvador. Ele é quem ergue nossa cabeça. Precisamos desse soerguimento gracioso, pois ainda não falamos sobre palavras como instantâneo e impaciente não nos oferecerem recursos para tratar das coisas que realmente importam – de amar nossos inimigos no ministério. E não se engane: eventualmente você também terá de aprender o mais difícil dos amores ao próximo. Em geral (e isso muitas vezes nos surpreende), a pressa não é amiga do desejo. O sábio entendeu isto quando disse que “não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv 19.2). Seu ponto está bastante claro. A pressa tem o hábito de não completar as coisas que realmente importam. Numa crise pode até ajudar. Mas quando chegamos ao entendimento, dedicação e cumprimento dos desejos de uma alma humana, a precipitação constantemente e legitimamente é processada por negligência. A rapidez oferece promessas imediatas para nossos desejos conjugais, ou ministeriais, ou para o trabalho, ou para os nossos filhos, mas, na verdade, a pressa nunca entrega o que promete naquilo que é mais precioso para nós. O ponto que quero destacar é o seguinte. Nosso desejo por grandeza no ministério não é o problema. O problema surge quando a pressa de fazer grandes coisas de maneira notória e com a maior rapidez possível reformula nossa definição do que seja uma grande coisa. Deseje grandeza, querido pastor! Mas, submeta a sua definição de grandeza àquilo que Jesus nos dá. No mínimo teremos de começar a tomar posição quanto a este importante fato: a obscuridade e a grandeza não são opostas.
  • 35. O que você quer que Jesus faça por você? Jesus colocava a questão do desejo de modo muito claro quando treinava os seus ministros. “O que queres que eu faça?”, ele pergunta (Mc 10.36). Pare aqui por um instante. Vá mais devagar se puder. Você tem uma lista do que quer para o ministério, e todas as demais realizações ministeriais que deseja conseguir em nome de Cristo antes de morrer? Você não iria estar sozinho se esse fosse o caso. Basta ler os anúncios. Uma miríade de desejos daqueles que compõem a sua congregação e comunidade serão revelados. Tiago e João tinham suas listas. “Queremos que nos concedas o que te vamos pedir”, disseram. “Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda” (Mc 10.35– 37). Tiago e João sutilmente começaram a almejar que seu ministério com Jesus lhes providenciasse uma plataforma de grandeza. Seus anseios começavam a estragar sua comunidade (Mc 10.41). Jesus não impediu que essa fricção ou destruição potencial acontecesse. Ainda hoje ele não impede. Você marcou bem isso? Tiago e João eram muito amados, dotados, chamados, frutíferos, e centrais no ministério terrestre de Jesus. Ele graciosamente escutou os seus desejos. Mas sua proximidade com Jesus, e sua fecundidade no ministério, não significavam que tudo que faziam era bom, certo e útil para os que os conheciam. Em vez de dar-lhes tal imunidade, Jesus confrontou-os, e o que ele disse nos deixa mais sóbrios. É possível que líderes ministeriais desejem grandeza de formas nada diferentes daqueles que se encontram ao nosso redor, ou em qualquer lugar em nossa cultura. Ligar o nome de Jesus a esses desejos não muda o fato de serem idênticos aos anseios do mundo. Faça uma pausa aqui. Repita a leitura dessa última sentença se for necessário. Em oração, vá mais devagar. Os líderes humanos
  • 36. em toda parte desejam grandeza e domínio sobre outros. “Não é assim convosco”, Jesus declarou. Se grandeza é o que você deseja, de agora em diante você tem de entregar sua vida a uma outra espécie de grandeza. “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mc 10.43). Servos entregam os seus dias a tarefas pequenas, muitas vezes não notadas por longos períodos de tempo, e sem receber nenhum elogio. Jesus, então, toma Tiago, João e seus outros alunos de discipulado para um vivo e real estudo de caso. Ele mostra-lhes um monte sem nome, pertencente a um homem. Este era pobre e cego. Jesus lhe oferece a mesma pergunta poderosa que fez aos “maiorais” que viajavam com ele: “O que queres que eu faça?” (Mc 10.51). Ali mesmo, a graça de Jesus nos humilha, contrastando os desejos que são revelados. Tiago e João estavam no centro do ministério, junto com Jesus, e estavam entre os melhores pupilos de Jesus. Mas isto não bastava para eles. Queriam lugares melhores. Enquanto isso, o pobre pede a Jesus apenas duas coisas, sendo a primeira misericórdia. A segunda era que pudesse ver. Penso na classe da Sra. Canter no passado, nos meus estágios de seminarista, no meu primeiro pastorado, na varanda da casa de Mamaw, e nos restos destroçados da minha turma ministerial. Quando, em minhas ambições por ministério, deixei de sentir minha necessidade de desejar misericórdia quando estava com Jesus? Quando comecei a supor ter o privilégio de ver corretamente com meus olhos e a definir grandeza do ponto de vista desse meu privilégio, em vez de vê-la do ponto de vista da graça de Jesus? Existe um jeito de desejar entregar-se totalmente ao ministério que o dividirá em dois, causando dor para aqueles a quem você serve, revelando o quanto você se desviou e o quanto está longe da definição de Jesus do que seja a grandeza. Conheço isso em primeira mão. Mas estou aprendendo mais uma coisa. Existe mais graça e esperança aqui do que você talvez saiba — nas mãos de
  • 37. Deus, uma chamada para o trabalho pastoral entre a preciosidade de pessoas e lugares vagarosos e sobrecarregados de trabalho, pode se tornar em dons, verdadeira alegria, contentamento que perdura e uma boa vida. Por quê? Porque esse é o caminho de Jesus. Onde Jesus é nossa porção e nosso desejo, não nos faltará nenhum verdadeiro tesouro. “O reino do céu é como um tesouro escondido no campo, que um homem encontra e enterra. Em sua alegria ele vai, vende tudo que tem, e compra esse campo” (Mt 13.44). Será que vender tudo que temos com alegria inclui abrir mão de nossas desorientadas listas para o ministério? E se as alegrias que desejamos em Jesus forem como tesouros escondidos em um campo, que muitas pessoas, mesmo as que estão no ministério, desprezam e raramente compram? Você se lembra como eram as coisas antes que desejasse um ministério vocacional? Você não possuía treino. Era desconhecido no mundo. Jesus era belo para você. Ele o havia salvo. Havia comunicado o seu amor a você. Era um imenso tesouro, verdade que satisfaz, e sobremodo belo. Ele era a sua porção. Era o seu desejo. No princípio, tal deslumbrante provisão de Jesus despertou os seus afetos para servi-lo com a sua vida em um ministério vocacional. Não era de admirar que, quando Pedro declarou que excederia e seria maior que todos os seus colegas ministeriais, o canto do galo não demorasse a chegar. Para restaurar Pedro ao ministério, Jesus o levou de volta às primeiras coisas, ao primeiro amor. “Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21.15–17). Aqui começa a nossa vocação. O chamado pastoral para alimentar o próximo é secundário e decorrente do desejo anterior pela beleza do próprio Jesus. Vem-me à mente o antigo hino: “Propenso a vaguear, Senhor, eu sinto-me, propenso a deixar o Deus de amor”. Mas Pedro aprendeu o que todos deveríamos fazer com as cinzas deixada pelos cantos de galo ministeriais. Jesus vem ao nosso encontro. Ele não nos abandona. Sua benignidade dura
  • 38. para sempre. Conclusão Fechemos esta conversa introdutória sobre o desejo pastoral com uma parábola da vida real. Dois homens saíram de casa para plantar uma igreja numa cidade necessitada. O primeiro que chegou sonhou com uma cidade alcançada por Jesus com o evangelho. Por meio desse primeiro pastor, pessoas conheceram a Jesus, os crentes se reuniram e nasceu uma comunidade de seguidores de Cristo. Foi um trabalho vagaroso, mas estava acontecendo. As suas orações estavam sendo respondidas. Com o tempo, ele começou a se reunir com o segundo plantador de igrejas. Fez isso com o intuito de encorajar o segundo pastor em seu trabalho incipiente. O mais experiente e o novato oravam para que Jesus alcançasse a cidade. Através do iniciante, as pessoas passaram a conhecer a Jesus, os crentes se reuniram e nasceu uma comunidade de seguidores de Jesus. Dez anos mais tarde, aquele que veio primeiro serve como pastor de uma igreja “simples”. Seus mais de duzentos membros demonstram o amor de Jesus de formas inexistentes ali dez anos atrás. O novato que veio em segundo lugar é pastor de uma igreja “épica”. Seus milhares de membros e múltiplas congregações pela cidade demonstram o amor de Jesus de maneiras que não existiam dez anos atrás. As orações de ambos foram respondidas. Por que então, um deles está triste? Por que então, somente um deles recebe nossos convites para falar nas conferências e para nos oferecer os seus conselhos? Kathleen Graber, “Book Nine”, Poetry Foundation website, acessado em 3 de dezembro de 2014, http:// www .poetryfoundation .org poem 241278. Nathan Foster, Wisdom Chasers: Finding My Father at 14,000 Feet (Seguidores de sabedoria: encontrando meu pai aos 4.000 metros), (Down¬ers Grove, IL: InterVarsity, 2010), 41.
  • 39. 2 | Reconquistando nossa humanidade Não temos lar neste mundo, eu costumava dizer. Então, eu voltei pela estrada para este velho lugar e preparava um bule de café e um sanduíche de ovo frito. – M R “Você poderá ser como Deus”, diz a Serpente. “Mas, como?”, pergunto eu. Eu leio a Bíblia com óculos. Ajoelho-me para orar pelas pessoas com hálito de café. Fico em pé e prego Jesus com uma bolha no pé. Sirvo a Ceia do Senhor com pão comprado por $1.99 no mercadinho Schnuck’s. “Apenas finja que é diferente”, a Serpente diz. “As pessoas adoram quando fazem isso”. Conselho a um aspirante ao pastorado Fiquei sabendo recentemente que um antigo pastor e mentor pessoal cometeu suicídio. Tirei um período sabático do seminário onde servia como professor e passei seis meses como pastor interino com a família e a congregação do meu amigo falecido. Eu havia pastoreado antes uma igreja. Havia servido como pastor interino antes. Mas não desse jeito. Nós teríamos de buscar juntos sucatas de graça e verdade em meio às ferragens. O Cristo vivo habitaria conosco em meio aos destroços. Aprenderíamos dele em meio ao lixo. Ele jantaria conosco no vale de sombra. Eu estava sentado junto de uma multidão de professores e estudantes para o ministério com seus tênis e jeans. Pediram que eu desse uma palavra. O que eu poderia dizer para ajudar um iniciante no ministério? A atmosfera era leve, mas meu coração estava pesado. Eu
  • 40. pensava em como meu pastor mentor poderia até ter escolhido deixar o ministério, e ainda assim ser importante para todos nós. Mas para ele, rebaixar-se em meio às assombrações interiores não indicava humanidade, e sim fracasso. Ele não conseguia ver-se como útil se não tivesse mais a posição de pastor, com os cuidados pastorais que essa posição requeria. Eu sentia sua falta. Estava, pela primeira vez em minha vida, fazendo as mesmas perguntas. Será que eu sabia que poderia servir a Cristo humanamente e de forma significativa, quer fosse pastor ou um líder ministerial quer não? Eu não sabia naquela época, mas logo teria de responder a essa pergunta de uma maneira dolorosa e pública. Mas naquele momento, entre aqueles seminaristas, com dor no coração e sobriedade, eu confrontava meus pressupostos sobre o que significa liderar no ministério. Agora era a minha vez de falar. Respirei uma oração relâmpago, fiquei em pé e disse: “Jonathan Edwards peidava”. Alguns riram. Eu não. Alguns tinham sorrisos de canto de boca com a minha irreverência. Talvez eu tenha sido irreverente. Mas eu não estava tentando ser engraçado. Provavelmente poderia ter encontrado linguagem melhor para descrever o que eu estava enfrentando. Não tinha intenção de difamar o grande teólogo e pastor da história norte-americana. Estava tentando pôr palavras no estrago e no mito de sua celebridade assim como de outros. Sentia- me perturbado por um novo questionamento: O que significaria para nós se viesse o avivamento e continuássemos noite adentro com orações enviadas ao céu? Em algum ponto ainda teríamos de usar o banheiro? Queria dizer-lhes que até mesmo os maiores teólogos ou pregadores entre nós ainda são pessoas comuns, carentes da graça de Jesus. Eu estava cansado de fingir outra coisa. As primeiras coisas primeiro Numa conferência, enquanto prego sobre Cristo para você, estou incomodado por uma hemorroida e meus livros estão à venda no
  • 41. saguão. Ainda mais, posso ter me enxergado nos olhos de meus filhos naquela manhã e ter pedido perdão por algo que aconteceu no dia anterior. Ou talvez eu ainda esteja cego enquanto falo a você sobre o que minha esposa, ou meus filhos ou minha congregação ainda precisam desesperadamente que eu veja. Quando visito no hospital, tenho de amarrar os sapatos pela manhã ou calcular qual blusa de frio me fará parecer um pouco mais magro ou clamar a Deus com respeito às minhas próprias dúvidas, enquanto você se sente ferido e eu não tenho resposta sobre as razões de sua dor. Enquanto você é transformado pela graça mediante algo que eu disse ou escrevi, é provável que eu tenha tomado uma tigela de mingau de aveia no café da manhã ou tenha me deliciado com o som da coruja que visita a nossa casa. Portanto, ao começar a pensar a respeito dos desejos, temos de clamar de cima dos telhados que o ministério pastoral é algo pertencente a criaturas. O pastor é um ser humano. Creio que a vida e o ministério cristão são um aprendizado com Jesus em direção à recuperação de nossa humanidade e, mediante o seu Espírito, uma ajuda para que nosso próximo faça o mesmo. Tudo isso é para ele, por meio dele, com ele e nele, para a glória de Deus. Creio também que a ausência geral dessa recuperação de nossa humanidade dentro do ministério pastoral está nos matando espiritualmente. Quero que seja feito algo sobre isso. Eu reconheço que colocar nossa humanidade em Cristo na frente e no centro da vida cristã e da tarefa pastoral fará com que alguns de nós se sintam desconfortáveis, e com razão. Pode parecer que quero apenas repetir mais da espiritualidade egocêntrica que a nossa geração e nossos corações perigosamente querem. Para corrigir tais temores, penso em um professor e amigo meu. Ele, às vezes, manda que os seus ministros em treinamento se virem ao resto da classe e confessem em voz alta para os outros: “Eu não sou o Cristo”. Nessas palavras de João Batista aprendemos que, conquanto seja verdade que possamos perigosamente fazer
  • 42. pouco caso de Deus ao chamar a atenção sobre nós mesmos impropriamente, é igualmente verdade que não podemos glorificar plenamente a Deus sem que confessemos que não somos divinos. Dizer: “Eu não sou o Cristo” é simultaneamente expor para todos que nós, pastores, que somos meros humanos e apenas pessoas locais. Uso as palavras meros humanos e apenas pessoas locais para diferenciar-nos de Jesus. Jesus é humano, mas não meramente. Jesus é local, mas não apenas. Esclarecemos essa distinção entre Jesus e nós como um ato de adoração e compromisso. Como líderes de ministério, esforcemo-nos para entregar nossa vida, de modo que toda pessoa a quem servimos saiba que não somos Deus. Cada um de nós não é Deus; é apenas um ser humano. Então, ressaltemos este ponto. A grandeza, mesmo no ministério, não pode fugir à humanidade. Ser humano não macula a grandeza; antes, a informa e marca seus nobres limites. Como chegamos a pensar de maneira diferente? Seja qual for o desejo que tenhamos para o ministério, haveremos de realizá-lo como quem pode ter coceira no dedão do pé, e cujo pé sem meias passa frio no inverno. A fisicalidade humana Os desejos pastorais, por mais grandiosos e nobres, não nos livram dos limites físicos que temos. O estudo teológico me ensinou a doutrina da Criação. Fui examinado para a ordenação acerca do meu ponto de vista sobre os dias da criação e o legado de Darwin. Mas o significado de Deus ter nos criado humanos, corpóreos, localizados, finitos e à sua imagem não se traduzia em minha teologia de ministério pastoral nem informava a forma que o trabalho pastoral devia assumir. Hoje penso que deveria. Por exemplo, sou um dos pastores de Wendell. A paralisia infantil tem impedido o movimento das pernas de Wendell há setenta anos. Wendell também tem se sujeitado ao regime da diabetes, com as
  • 43. exigências de sargento de tiro de guerra sobre as suas rotinas diárias. Duas ocasiões com o câncer atacaram terrivelmente a vida dele. A morte da sua esposa arrasou seu coração e esvaziou sua cama à noite. As suas mãos tremem. Às vezes sua voz fica arrastada. Com sua cadeira motorizada, Wendell faz as suas tarefas diárias, lê a sua Bíblia, ora a Deus e compartilha Cristo com outras pessoas, expressando louvor pelo cuidado de Deus por todos esses anos. Para cuidar como um médico da alma de Wendell, temos de levar em conta seu corpo físico. Nas palavras do pastor-poeta G. M. Hopkins, somos como uma “cotovia” em nossa “casa de ossos”, “almas e corpos”.4 Ainda cedo na liderança pastoral, soube que a luta que travava não seria contra “carne e sangue” (Ef 6.12). Mas eu não entendia como a carne e o sangue formariam a arena para esta luta. “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” (3Jo 2). João, o apóstolo, orava assim, e aprendemos com ele. Preparando os sentidos de nosso corpo para o ministério Não podemos nos esquecer de que aqueles a quem servimos são também criaturas corporais. Pediram que eu visitasse uma senhora de meia-idade da comunidade. Mentalmente, ela tinha quatro ou cinco anos, apesar de já ter vivido quarenta ou cinquenta. Quando entrei pela porta, vi que ela tinha um babador e estava tentando comer uma pratada de espaguete. Ela deu um amplo sorriso maravilhado quando me sentei ao seu lado. “Quem é você?”, perguntou, coberta de molho vermelho e pedacinhos de macarrão. “Meu nome é Zack. Sou pastor”, respondi.
  • 44. Ela imediatamente e com grande animação respondeu. “Aprendi o ‘Pai Nosso’ de cor”, disse ela. “Quer que eu recite?” “Adoraria”, disse eu. Depois de declamar orgulhosamente a Oração do Senhor, ela recitou de cor o Salmo 23. “Fiz bonito?”, ela perguntou. “Com certeza!”, disse eu. “Eu creio em Deus!”, ela continuou. “Ele me ama. Eu o amo. Ele morreu na cruz por mim. Um dia ele voltará para me levar para sua casa”. Ela disse isso com a maior seriedade, olhando nos meus olhos. Era como se soubesse qual era o meu papel. E falar sobre Deus com um pastor é coisa normal. Ela também estava me avaliando. Quem sabe procurando detectar o tipo de pastor que eu era. De repente, ela deixou cair o garfo, estendeu a mão coberta de macarronada salpicada de saliva, e perguntou: “Quer orar? Segura a minha mão”. Eu o fiz e oramos com nossas mãos molhadas de molho de macarronada, numa sala desconhecida para o mundo, mas amada por Deus. Pare aqui por um instante. Demore em oração com esta pergunta: O que significa para você o fato de que o ministério é um ato de amor ao próximo e amar o próximo vai requerer proximidade física? Se atualmente você não tem paciência com os sentidos, nada de atenção ao corpo a não ser naquilo que é lascivo, é bem possível que você ainda tenha pouca ideia quanto ao que consiste a vida de um pastor e o que ela vai requerer de você. Localidade Humana Nossa teologia pastoral do Éden nos lembra que as criaturas com corpos também são locais. Elas habitam lugares. No jardim que Deus plantou, Adão e Eva comiam comida, cuidavam de animais, plantavam sementes,
  • 45. oravam, trabalhavam e se amavam. Não havia pornografia no mundo e eles repousavam em sua nudez. Agradar a Deus significava nada mais que escutar suas palavras, segui-lo pelo Éden, e, com gratidão, nadar nas águas seguras da companhia um do outro. De mãos dadas, cortando a grama, resistindo às vis tentações, e aprendendo a amar aquele que os criou, tinham o suficiente para uma vida significativa com Deus. Mas parece que isso não lhes bastava. Adão e Eva ouviram sórdidos sussurros rastejando pelo capim. O dom de Deus, de um significado local com ele, começou a entediar o casal. Pause aqui por um momento. Considere o que deixa você entediado e inquieto. E observe também aquilo que Deus considera revigorante. 1. Fomos criados para honrar a Deus e não colocar nada mais em seu lugar, entregando-nos a ele. Em outras palavras, deveríamos amar a Deus. 2. Deveríamos amar um ao outro (unir-se à sua mulher, Gn 2.24), relacionar-nos corretamente com nossa família mais extensa (deixar pai e mãe, v. 24), e cultivar a comunidade (ser fecundos e multiplicar, Gn 1.22). Noutras palavras, fomos feitos para amar o nosso próximo. 3. Deveríamos reconhecer a bondade e qualidade sagrada do lugar, das criaturas e das coisas que Deus criou, cuidando dessas boas dádivas. Deveríamos contribuir para o cultivo da criação (cultivar e guardar, Gn 2.15) e para uma cultura que reflita essa bondade concedida. Estes primeiros textos de Gênesis nos ensinam que os seres humanos têm o propósito de amar a Deus e ao próximo, ao viverem localmente em um lugar, para a glória de Deus. O que isso nos diz sobre grandeza? 1. Deus deu a si mesmo para que nos entregássemos e amássemos a ele. Isto quer dizer que orientar nossa vida para um relacionamento diário com Deus a cada momento traz glória
  • 46. a ele. 2. Deus nos deu um punhado de pessoas a quem amar. Você não tem de se tornar outra pessoa ou olhar constantemente sobre os ombros dessas pessoas que estão bem à nossa frente. Atender à obra de Deus entre os rostos, nomes e histórias onde nos encontramos já é fazer o que Deus considera significativo. 3. Deus nos dará um lugar em que habitar e algo para fazer nesse lugar. Isso significa que devemos atentar ao que está ali, no local onde estamos. Habitar com conhecimento e hospitalidade, no lugar que Deus nos dá, é glorificá-lo. À luz disso, o que você supõe que seja a obra do pastor? No mínimo, presumimos uma atenção local ao amor divino, entre pessoas comuns e lugares ordinários, com temperatura e histórias locais. Aqui, as palavras “atenção” a “pessoas comuns e locais ordinários” desafia grandemente o nosso tédio, pois nós pastores temos uma tendência para encontrar o propósito do trabalho pastoral, não com Deus no Éden, no precioso local de limites com ele, mas, em vez disso, com a Serpente, que descaradamente sussurrou ali, falando ilusões de uma vida sem limites no mundo. Você vê esta mulher? Vê este homem? “O que queres que eu faça?”, Jesus pergunta. “Alarga os meus limites e os de minha congregação, para a glória de Deus, em minha geração!”, podemos dizer. Mas quando passamos a pedir “alarga os meus limites”, não somos os primeiros a fazer essa oração. Um desejo de “tire agora os meus limites!” estragou o Éden em primeiro lugar e requereu que Jesus viesse morrer por nós. Ando fazendo essas perguntas dolorosas a mim mesmo. Se estou entediado com gente comum, em lugares comuns, então não estaria eu entediado com aquilo em que Deus se deleita? Se penso que os limites locais de corpo e lugar são estreitos demais para uma pessoa tão talentosa quanto eu, não desejaria fugir daquilo em que
  • 47. o próprio Deus habita com alegria e a cada dia? Se olho para um rosto, uma flor, uma criança, ou uma congregação dizendo: “Não isto, Deus! Quero fazer algo grandioso para ti!”, não estaria eu profundamente enganado quanto ao que Deus diz ser uma grande coisa? Faça aqui uma pausa por um momento, se puder. Demore um pouco nas frases seguintes. A mulher lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os secou com seus cabelos. Os “homens da Bíblia” viram isso e murmuraram sobre o “tipo” de gente que ela era. Mas Jesus confrontou os ataques de postagens de blog, seus rostos franzidos e recusa em dar as mãos, as pressões dos que votaram nele, a ameaça de destituí-lo dentre os que tinham posição no ministério. Enquanto aqueles que treinou para o ministério observavam o desenrolar desse cenário, Jesus desviou o olhar, voltando-se, em vez disso, para ela, e perguntou ao líder desses homens conhecedores da Bíblia: “Vês esta mulher?” (Lc 7.44). O que dizer dos homens? Quando conta sobre a hora em que Jesus chamou Mateus para lhe seguir, Lucas identifica Mateus por seu trabalho. Jesus “saindo, viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disselhe: Segue-me!” (Lc 5.27). Quando narra esse mesmo momento, no entanto, Marcos identifica Mateus não tanto por seu tipo de trabalho, mas por seu pedigree na família. “Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria” (Mc 2.14). Fico a me perguntar: Ser filho de Alfeu curava ou corroía o coração de Levi? Não sei. Mas sei que Mateus não menciona a família quando lembra para si esse momento, e coloca o emprego nos bastidores: “Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disselhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9). O ponto? Marcos via a família de Mateus. Lucas via a profissão de Mateus. Jesus viu Mateus. Suponha que você estivesse nesse cenário, se preparando para o ministério com Jesus.
  • 48. “Você veria esta mulher?” “Você veria este homem?” Um dos privilégios contínuos de nosso ministério pastoral em Jesus é aprender a ver as pessoas como pessoas e a nós mesmos como alguém entre elas. Pregando descalço Quando um casal entra no ministério, o amor jovem de vidas comuns poderá ser pressionado a ponto de deixá-los. Poderá ser o caso de ela ter acabado de dar à luz um filho. Ou então, são recém- casados. E já estão exaustos pelo ritmo do treinamento bíblico que fizeram, e começando a obra do ministério como quem já precisa de uma folga. Mas começar o trabalho para Deus significa pouco tempo para cansaço. E assim, a esposa vai com seu líder no ministério a um novo local, sem raízes, com uma criança pequena e um novo emprego. A igreja espera que ele chegue correndo e vencendo a corrida. Ele quer mostrar que vale o dinheiro pelo qual foi contratado. Trabalha demais o tempo todo por amor a Jesus, enquanto a sua esposa recente e seu bebê ainda novinho tentam aprender a confiar em Jesus em meio a lavar pratos e o programa da Galinha Pintadinha, sem amigos locais e saber ainda os nomes das ruas de sua nova vizinhança. A pessoa solteira que se forma depois do treinamento bíblico, semelhantemente, enche todas as horas em que está acordada para Deus, ficando exausta, dizendo com seus botões que no dia em que se casar vai diminuir o ritmo da correria (sem perceber que o hábito do ritmo atual será muito difícil de ser interrompido). Por que pressionamos nossos jovens no ministério a produzir resultados ministeriais dessa maneira? Por que eles acham que têm de se tornar algo mais que um ser humano normal, que mora fisicamente em um determinado local? Por que deixamos implícito que, no ministério, eles têm de ser mais do que um casal jovem apaixonado em amor sagrado, que tiveram seu primeiro filho e estão
  • 49. aprendendo em seu primeiro chamado no mundo? O meu pastor/mentor colocou sua própria vida no meio de tudo que chamaríamos de sucesso. Ele tinha um programa de construção em duas fases, estava plantando igrejas e era notável como conselheiro e pregador em conferências. Porém, às vezes, as coisas do ministério que desejamos na nossa cultura não são as coisas importantes que Jesus nos dá. Falamos aos empresários que não vale a pena ganhar o mundo e perder a alma. Não seria possível fazer o mesmo em um ministério vocacional? No meu primeiro pastorado tínhamos dezoito alqueires de terra. Quando propus que cortássemos nossos programas de ministério pela metade, para que as pessoas pudessem descansar mais com as suas famílias e estar em casa na sua vizinhança para compartilhar o evangelho, alguns me julgaram como quem conduz a igreja para trás (mesmo que tivéssemos uns trinta programas numa igreja de oitenta e cinco pessoas). Enquanto isso, poderíamos discutir sem trégua nossas declarações de visão e debater com eloquência perguntas chatas (tais quais se João Calvino teria removido a cruz de madeira pendurada na parede de nosso santuário, ou se nós, como protestantes, devemos rebatizar alguém que foi anteriormente batizado na igreja católica, ou se devemos ter o nome “Presbiteriano” no logotipo de nossa igreja). Mas como líderes, muitas vezes demonstramos pouca capacidade de demonstrar o amor, a graça ou a humildade de Jesus em nossos relacionamentos diários. Nossos sonhos e planos de realizar algo grande para Deus injeta-nos energia. Nosso tratamento uns com os outros, porém, só nos ferem e fatigam. É fácil fazer grandes coisas para Deus desde que essa grandeza não requeira humildade interior, amor prático pelas pessoas bem à nossa frente nem submissão à presença de Jesus no lugar em que já estamos. Estou tentando dizer que quando um homem iracundo se torna manso em Cristo, existe mais poder do que em trinta homens cheios
  • 50. de ira que vieram a nosso evento ministerial e foram para casa sem transformação. O problema para mim e para muitos dos que tenho servido é que a assistência de trinta pessoas soa melhor que a de uma só. Mesmo que, querendo nosso Senhor, viessem trinta e esses trinta fossem transformados, por mais que nos alegremos, ainda teríamos, nalguma altura, de usar o banheiro. Marque bem isso aí: Nós também podemos tentar resistir à nossa humanidade, dizendo com convicção algumas coisas horríveis diante de um santuário, dentre todos os lugares, durante a oração: “Deus, eu te agradeço porque não sou como outros homens” (Lc 18.11). Lá está: o ar mortífero, a crença envenenada que, de algum jeito, nós que desejamos realizar grandes coisas para Deus não sucumbimos a ser meros humanos, do modo que são as outras pessoas. Talvez seja por isso que, trinta anos após falar pela primeira vez sobre meu chamado na sala de aula da Sra. Canter, eu tenha pregado descalço em meu primeiro domingo como novo pastor titular, tendo uma segunda chance. Permanecer em pé ali, com a Bíblia na mão, sobre um fundamento comum e não escondido, com pelos de hobbit sobre os dedos calosos do pé, era um ato de testemunho pessoal, um lembrete tolo, mas tangível, de que eu não sou o Cristo. Por tempo demais, ignorei nas minhas aspirações por grandeza, o fato de que sou humano. Talvez seja isso, em parte, o que aconteceu a meu amigo pastor que se matou. Ele era um “sucesso”. Eu estava me tornando assim. Foi por isso que eu disse: “Jonathan Edwards peida”.
  • 51. Gerard Manley Hopkins, “The Caged Skylark”, [A cotovia engaiolada] em Hopkins: Poems and Prose (New York: Knopf, 1995), 17.
  • 52. 3 | Saindo de casa O ministério pastoral é uma peregrinação pelo deserto. – D H . Quando um cão selvagem entrava no nosso quintal, Papaw irrompia pela porta de tela, correndo para carregar a seu rifle. Enquanto o metal arranhado batia forte contra o fundo da casa para então retornar de volta em seu lugar, Papaw, agora de pé e calçando as meias, firme sobre a entrada do carro, mirava a arma e atirava. Não se importava com o ganido resultante. Na verdade, parecia ter prazer nisso, como se tivesse acabado de defender a sua família do ataque de uma manada de lobos. Tentava esconder seu largo sorriso e xingava o vira-lata que uivava de dor, como se fosse um homem chamando Papaw para brigar. Assim, quando ele me disse bem cedo na manhã no dia de Natal que ia atirar no Papai Noel, eu acreditei. Não era nada fácil possuir um coração sensível no mundo daquele querido homem quando ele era mais jovem. “Abaixe as calças e corra, Mamaw! Você tem cinta de babados e calcinha de rendas”. Foi o que Papaw me ensinou a dizer para minha Mamaw quando eu era um menino bem pequeno, e eu dizia. Aprendi a ver as mulheres não somente pelo jeito que Papaw falava a Mamaw, mas também pelas revistas Playboy e pelos calendários de mulheres nuas que não eram segredo para Mamaw ou para nós, e que eram colocados estrategicamente pela casa que ele construiu. À mesa de jantar, aprendi que havia no mundo alguns chamados de “negros”. Os pregadores não eram melhores em sua estimativa. A casa pastoral da igreja metodista era vizinha da nossa. Pregadores nada mais eram que hipócritas, e Papaw tinha várias histórias para provar isso. Quando eu voltava da escola no ensino fundamental, a primeira
  • 53. coisa que Papaw perguntava era se eu tinha levado uns petelecos do diretor da escola por ter aprontado naquele dia. Quando eu respondia: “Não, Papaw”, ele ria, me dava um tapa no braço e dizia: “Puxa vida, rapaz, o que é que você consegue fazer de bom?” Papaw nunca me fez sentar para dar uma aula sobre como ver e interpretar os cachorros perdidos, as mulheres, os pregadores ou a pele não branca, mas o jeito do Papaw ver o mundo, junto com outros em minha jovem vida, ia treinando e formando o meu próprio jeito. Os jeitos ensinam. Formam as principais salas de aula de nosso aprendizado. Para melhor e para o pior, aprendemos a ver o mundo e a nos apresentar nele como testemunhas, não somente das declarações de crença que aprendemos na aula, mas também pela mentoria relacional com aqueles com os quais vivemos (Pv 13.20; 22.24–25). Seria ingênuo se acreditasse que meu ministério atual, como adulto em St. Louis, Missouri, fosse estranho ao meu Papaw e ao modo como ele e eu compartilhávamos juntos a vida comum e cotidiana de Henryville, Indiana. Você também não é diferente disso. Você e eu aprendemos muitas coisas em casa, e nem todas concordam com Jesus. E o que é pior, quando saímos de casa para o ministério, levamos conosco, para o bem ou para o mal, as coisas que a nossa casa nos ensinou. A mentoria que trazemos conosco Os discípulos repreenderam as crianças por tomarem o tempo de Jesus (Lc 18.15). Quando a mulher quebrou o vaso de alabastro, perfumando Jesus com a sua adoração, eles se indignaram e repreenderam a mulher (Mt 26.7–10). Quando viram Jesus conversando com uma mulher samaritana, esses discípulos judeus ficaram confusos (Jo 4.27). Vendo Jesus prestes a ser traído, desembainharam as suas espadas para uma ação violenta (Lc 22.49). Ao testemunharem um homem rico indo embora, em vez de seguir a Jesus, indagaram: “Quem poderá ser salvo?” (Lc 18.25–
  • 54. 26). Quando viram o cego de nascença, presumiram que a deficiência fosse um castigo pelo pecado (Jo 9.1–3). Assumiram que as diferenças entre os pregadores de Jesus fossem motivo para a rejeição e a separação imediata (Mc 9.38–41). As pessoas que viviam em volta dos discípulos tinham lentes similares pelas quais viam o mundo. Por exemplo, ao vir Jesus receber bem a um cobrador de impostos, “todos murmuraram” (Lc 19.7). O morador de sepulturas, quando teve a mente curada por Jesus, foi obrigado a “deixar sua região” (Mt 8.34). Quando aconteceu uma tragédia e pessoas inocentes morreram, presumiram seriamente que tragédias só acontecem aos piores pecadores (Lc 13.4). Cada um de nós carrega “Teologias” e “teologias” para o ministério. As realidades “maiúsculas” foram aprendidas em sala de aula com bons professores bíblicos. As “minúsculas” muitas vezes aprendemos sem perceber, do lado de fora ou apesar da sala de aula. O problema é que, não importa o que professemos sobre nossa Teologia, todas as nossas pequenas teologias aparecem nas horas menos esperadas. Por exemplo, Jesus ensinou a seus pastores em treinamento a amar ao próximo, até mesmo os inimigos. Tenho certeza de que esses seguidores sinceros concordaram com essa “Teologia”. Mas a primeira vez em que os samaritanos ofenderam a Jesus, Tiago e João queriam, em nome de Deus, matá-los (Lc 9.54). Homens com punhos e temores No primeiro ano de meu primeiro pastorado, contava vinte e seis anos de idade. A reunião de educação cristã tinha terminado, mas a raiva estava só começando. Esse homem, trinta anos mais velho que eu, começou a vociferar: “Você nunca vai . . .”. Nos próximos minutos, ele deixou patente que eu não tinha sido chamado por Deus e que era uma desgraça como pastor, e que, como homem, eu somente era digno de desrespeito. Usando um vocabulário de filme
  • 55. impróprio para menores, ele escolheu palavras que deixaram claro para mim que se eu o contrariasse novamente estaria arrasado como pastor. (Foi uma ameaça que mais tarde ele tentou cumprir). Meu coração batia acelerado. A ansiedade inundou minhas veias. Lembrei-me de que “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1). Tentei, mas ele não desviou a ira. “Sinto muito”, disse eu. Ele fez uma careta mais para baixo, à altura possível para atacar minha cabeça, ergueu o dedo em riste e ameaçou: “Vou vigiar você para ver se está sendo sincero”. Depois de longa pausa, saiu. Eu permaneci de olhos no chão e chorei como se fosse um bebezinho (ou será que chorei como homem?). Como é que um homem que já sacrificou tantos de seus recursos e tempo desejando o ministério, e que já realizou tanto bem, pode ter tanto apetite por uma briga caso seja contrariado? Como eu podia desmoronar desse jeito? O fato é que, por mais que eu tivesse aprendido no seminário, quando a tempestade rugia saindo do nada e a chuva jorrava, eu era como um menino do primeiro ano de ensino médio, fugindo dos punhos de meu padrasto em Clarksville, Indiana. Eu era um pastor chamado por Deus a fazer o bem para este homem e para a congregação, resistindo ao pior dele e procurando seu maior bem em Cristo. Mas naquela hora, tudo que eu via era um homem de punhos cerrados. As lembranças de menino amontoavam-se na sala. Temores de menino roubavam as minhas credenciais e as escondiam em algum lugar do armário. Eu não as encontrava em meio àquele estouro de raiva. Porém, o temor de menino não é a única fotografia que tenho de minha história de mentoria. Meu padrasto me esmurrou com as mãos abertas de adulto; as marcas vermelhas da surra em minhas bochechas e as lágrimas produzidas tiveram como resultado tornar- me mais duro. A primeira vez em que eu, já pastor, me escutei dizer: “Vai mexer comigo?”, para um homem que não estava em seu
  • 56. melhor momento, na fila em uma loja de móveis, eu me surpreendi e fiquei sério. Caiu a ficha. Estava correndo perigo de ser nada diferente dos homens que eu tentara vencer. Sendo pastor, vejo homens na congregação e comunidade todos os dias. Alguns homens também estão sempre me vendo. Jesus vê a ambos. Mulheres com corpos Mas os homens também enxergam as mulheres. De mãos dadas, minha esposa e eu caminhamos pelo bar Llywellyns numa sexta- feira. Os homens agarram-na com os olhos. Não se importam por eu ser dela ou por ela ser minha ou por nossa aliança diante de Deus ser sagrada e feliz para nós. Acabei aprendendo que ela tem de conviver com aqueles olhos da maioria dos homens na vida que dizem: “Você não quer se embebedar comigo?” June era conhecida por “tentar se insinuar”. Ela estava bêbada no McDonalds. “Oi, Zack”, chamou. “Quer ficar aqui comigo?” June deu uma piscada, enrolou as palavras e tropeçou, enquanto meus amigos sorriram. “Enfia ela no carro”, disse um deles. “Põe ela no seu carro!” Eu não o fiz. Não sei onde está June agora. Será que ela veio a conhecer o descanso gracioso e dignificante dos olhos de Jesus, totalmente isentos de pornografia? Será que eu possuo tais olhos ao abrir a Bíblia, orar ou mesmo tomar minha refeição na presença de uma mulher? Penso em Judy, sentada no meu escritório na igreja. “Você tem de deixá-lo”, eu disse a ela com respeito ao seu namorado abusivo. “Eu sei, mas não posso”, disse ela. Orei silenciosamente em minha cabeça. Vi a vergonha do seu rosto. Arrisquei uma declaração no contexto de nossa história e longo conhecimento: “Estou imaginando que o sexo nem é assim tão bom”, eu disse quase em um sussurro. Ela me olhou. O rosto duro atenuou. Abaixou os olhos e as lágrimas começaram a escorrer. “Não, não é”, admitiu, balançando a
  • 57. cabeça. “Sinto-me tão suja depois, com as coisas que ele quer que eu faça. Fico tomando banhos de chuveiro. Mas não consigo me limpar”. “Então por que você continua com ele?”, perguntei-lhe. “Porque pelo menos por um momento eu me sinto desejada”. Lembro do canal da Playboy da casa de meus avós postiços, da coleção de revistas pornográficas Hustler no armário debaixo da pia no quarto de cima. Penso no armário de Papaw, e sou esmagado com uma percepção. Não consigo ver ou ministrar a mulheres até que eu aprenda a graça de ver além do seu corpo, para aquilo que ela é. Escrevo um pouco de minha própria poesia: Você escondeu no armário as suas Playboys junto com tudo mais. Você também me escondeu ali e foi isso em que nos tornamos. Assim, quando Jesus nos pergunta: “Vês esta mulher?” (Lc 7.44), pergunto-me como deve ter sido para ela. Não havia luxúria nos olhos de Jesus, nem abuso por trás de seu sorriso, nenhuma cantada familiar ou bajulação em seu tom. Sua beleza era notada e admirada; seu coração e sua mente eram compreendidas e conhecidas. Será que já teria sido observada dessa maneira por algum homem? Será que os homens ali de pé sabiam que eles também, pela graça, poderiam olhar deste modo para uma mulher? Os netos se esquecem de que as Mamaws são mulheres. Seu nome era Pauline. O nome dele era Bud. Na sua juventude, imagino que ela colocasse seu melhor vestido e passasse perfume no pescoço, esperando que os dedos dele também a tocassem ali com ternura. Havia gratidão e ternura, um anseio nos olhos ao dizer seu nome ou relembrar a sua presença. Naqueles anos ela ficava sentada com ele na sala, descascando batatas com ele na cozinha, deitava com jeito de mulher diante dele em seu leito de vários anos
  • 58. juntos. Gosto de pensar que no final ele via a ela, e os anos das revistas Playboy tiveram os olhos vazados. Gosto de pensar que a mulher, que conhecia e amava esse homem de punhos cerrados, finalmente teve as suas envelhecidas orações por ele finalmente respondidas, enquanto os punhos dele se abriam ternamente. Punhos finalmente relaxados e acariciados, nos cacos de uma velha promessa e um longo amor. Racismo na conversa Outra coisa também mudou, não plenamente, mas verdadeiramente. Papaw estava se recuperando no Hospital Municipal da cidade de Clark. Ele havia trabalhado ali como zelador durante muitos anos. Agora era ele que precisava de reparos. O seu coração estava cansado e queria parar antes da hora. Por isso, deve ter sido algo notável para Papaw naquele dia, quando um estranho veio visitá-lo entre os tubos e monitores presos aos seus braços. Esse “alguém” era um capelão afrodescendente com as boas novas de Jesus, trazendo cuidado pastoral para os enfermos. Eu queria ter sido uma mosca na parede para ver aquele momento. Mas como filho do meu Papaw, eu mesmo tenho tido necessidade de muitos “capelães negros”. “Você está se esforçando demais”, disse o meu amigo afrodescendente. “Você não tem de frequentar todas essas reuniões, sessões de planejamento e eventos contra o racismo. Tem um jeito mais fácil”, ele insistiu. Seus olhos transmitiam seu amor enquanto falava essas palavras. Ele tinha idade para ser meu pai. “O que você quer dizer com isso?”, perguntei. “O seu escritório fica em um pequeno centro comercial perto de alguns comerciantes negros, certo? Então, quanto tempo levaria para você chegar do seu escritório até a uma dessas lojas?” Fiz uma pausa. Tenho certeza de que também parei de mastigar o meu sanduíche. Dava para ver que um senso de convicção estava prestes a me cumprimentar. Sentei para trás na cadeira. Ele sorria
  • 59. agora, e era gentil. “Uns três segundos”, respondi finalmente. “É isso que estou dizendo”, disse ele. “Você está se esforçando demais, frequentando na correria todas essas reuniões. Ao invés disso, ande três segundos até ali, enfie a cabeça à porta, e simplesmente diga ‘olá’. Se ninguém retribuir o seu cumprimento, tente de novo na semana seguinte. Se eles lhe derem um alô, simplesmente converse como um ser humano sobre coisas de humanos”. Fiquei pensando no que ele disse. Admiti em voz alta o que eu sentia por dentro. “Parece que essa caminhada de três segundos é mais difícil. Por que é assim?”, perguntei. Ele não me respondeu. Ele não precisava me responder. Ambos demorávamos com o pensamento, enquanto comíamos as fritas devagar. Jesus entra em nossa mentoria e reformula as narrativas com as quais mapeamos o mundo. Os discípulos cresceram ouvindo histórias que deixavam implícito que os pobres estavam no inferno e os ricos iam para o céu. Mas Jesus inverte isso (Lc 16.19–31). Os samaritanos são vizinhos nobres (Lc 10.25–37), pecadores arrependidos são justificados diante de Deus, e os arrogantes mestres da Bíblia não o são (Lc 18.9–14). E as crianças, longe de serem repreendidas e silenciadas, são exatamente como devemos nos tornar a fim de entrar no reino de Deus (Lc 18.15–17). Trazemos histórias de casa conosco quando entramos no ministério. Jesus entra nelas e dá à luz novas histórias para que as contemos. O ajuste doloroso Estas novas narrativas da graça para nossa família não são baratas. Não apenas as levamos conosco de casa; também quando voltamos para casa de tempos em tempos. Fazer com que isso dê certo requer graça e tempo.
  • 60. Na sua própria cidade, enquanto Jesus era “o filho do carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago e José e Judas e Simão” junto a suas irmãs, Jesus era bem-vindo. Era parte do povo e do lugar (Mc 6.3). Mas uma vez que Jesus “começou a ensinar na sinagoga”, as pessoas, em sua maioria, retiraram suas boas-vindas. “Se ofenderam com ele” (Mc 6.1–8; Lc 4.16–30). Meu jeito de tratar minha pequena semelhança ao que Jesus experimentou por vezes tem feito as coisas piorarem. Ao tentar separar aquilo que é menos parecido com Jesus na mentoria de nossa família, frequentemente o fazemos mal, como a vez quando escrevi um tratado de sessenta páginas que chamei “Por que sou o que algumas pessoas chamam de ‘calvinista’.” Fiz cópias e mandei para todos os membros da minha família no sul de Indiana. Que maneira melhor haveria de mostrar o amor de Jesus aos entes queridos do que escrever e enviar um documento que eles não esperariam, respondendo perguntas que não estavam fazendo, com um tom que não era necessário, para defender uma discussão na qual eles não estavam envolvidos, e isso tudo para surpreendê-los, sem que tivéssemos tido qualquer conversa pessoal a respeito disso? Assim, quando tentarmos orar ou dizer algo de significado espiritual, os membros da família não nos deixarão esquecer dessas coisas. Como isso pode se tornar um dom de graça! Nós todos podemos olhar para trás e dar risada devido ao perdão necessário e concedido. Novas histórias de família poderão tornar-se fonte de encorajamento para todos. Porém, a lembrança de nossos momentos de tolice não vai embora com os outros membros da família. Eles ficam contentes em ter um encanador na família quando os canos estouram, ou um cabeleireiro que corte o cabelo de graça, mas raramente pensam na bênção que um ministro humilde pode oferecer à família. Não reconhecem a agulhada que trazemos conosco por causa disso. Talvez nos assemelhemos ao hipócrita que os feriu. O seu cinismo
  • 61. põe a culpa sobre aquilo que nós representamos. Muitas vezes, as vozes críticas ou decepções implícitas vem numa disposição bem-intencionada. A família sente nossa falta e desejaria que estivéssemos em casa. “Filho, por que fizeste assim conosco?” (Lc 2.48), poderão dizer. A família de Jesus sentia-se ferida por Jesus. Maria acrescenta, “Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura” (Lc 2.48). Jesus faz uma pergunta direta e gentil em resposta: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 2.49). Como seria para José ouvir que Jesus tinha de estar na casa de um Pai diferente, e que esse Pai não era ele, José, e não incluía a provisão e a habitação de José? Deve ter doído. Quando Jesus e sua família começaram a ter esse ajustamento dolorido, sua família “não entendia” o que Jesus estava lhes revelando (Lc 2.50). Teriam de ponderar essas coisas nos corações e ruminá-las por algum tempo (Lc 2.51). Tempo de ficar de pé Na hora que as multidões se juntam e Jesus não tem tempo para comer, a sua família reage mal. Poderiam ter trazido comida para ele, encorajando-o com a mensagem de que o Senhor, que o chamou, o sustentaria e sempre seria fiel. Em vez disso, olharam as coisas boas que Jesus fazia e denegriram seu caráter. Enquanto outros se ajuntavam para aprender sobre Deus através de Jesus, “sua mãe e seus irmãos” ficaram do lado de fora (Mc 3.31). Naquele momento público eles se referem a Jesus como um homem fora de si (Mc 3.21). Em termos humanos, existem pouquíssimas críticas mais dolorosas do que aquelas feitas contra nós por aqueles que nos conhecem por mais tempo. Normalmente, Jesus se maravilhava dessa falta de boas-vindas em sua própria casa; suportava a dor produzida por isso, e simplesmente prosseguia em seu ministério (Mc 6.5–6). Mas chegou a hora. Desde os doze anos, Jesus havia se submetido e amado
  • 62. sua família respeitosamente, mesmo quando eles não o compreendiam. Agora, aos trinta anos, ele cumpriria o seu chamado, quer eles entendessem quer não. Certas coisas até eles teriam de aprender de Deus. Não podiam continuar a apoquentá-lo desse jeito. A manipulação, os xingamentos e a utilização da culpa para envergonhá-lo tinham de parar. Jesus os amaria, mas não faria concessões à descaracterização que faziam dele, bem como das interpretações sobre quem Deus é e de como o ministério de Deus deveria funcionar. A família e Jesus teria de se entregar aos propósitos de Deus para eles — não havia como evitar. Jesus continuaria em seu chamado, quer eles quisessem quer não, quer estivessem envergonhados por ele quer não, quer achassem que seriam maltratados quer não. “Quem é minha mãe e meus irmãos?”, ele pergunta (Mc 3.31–35). Este momento na vida de Jesus me deixa boquiaberto. Certamente, naquele dia a família foi para casa furiosa ou ferida. Jesus só confirmou as suas suspeitas. Está fora de si. Eles estão certos em ficar do lado de fora e não se juntar aos que o seguem. Ou talvez acreditassem mesmo que ele se importava mais com os outros do que com eles. Pode ser que tivessem se sentido desrespeitados por ele falar as coisas tão claramente. Talvez pensassem no homem egoísta e orgulhoso que seu filho e irmão se tornara, amando as multidões, a fama e a atenção. O que sabemos com certeza é que, enquanto se entregava à obra do Pai, Jesus não parou de amar a sua família (Jo 19.26). Com o tempo, sua mãe viria a entender todas essas coisas que foram profetizadas e as guardaria no coração. Com o tempo, o seu irmão Tiago se curvaria a ele afetuosamente como Senhor e Salvador. Mas não os vemos muito todos juntos. As percepções da sua família estendida e dos seus concidadãos acerca do ministério são uma confusão — era assim até mesmo para nosso Senhor na plenitude de sua humanidade. Mas até mesmo aqui, a graça não desiste.
  • 63. Conclusão Eu estava saindo da reunião do almoço de Dia de Ação de Graças da casa dos Guernseys. Havia passado trinta e cinco anos ou mais desde que Papaw me dissera que planejava atirar no Papai Noel; seis ou sete anos desde que chegara o capelão negro; e seis ou sete anos desde que eu lhe escrevera uma carta contando do meu amor por ele e por Jesus, aquela carta que ele referiu como algo para ser guardado junto ao peito. Foi um ano ou dois antes da morte de Mamaw. E foi após mais de cinquenta anos que Mamaw orava. “O que você sabe, jovem?”, disse ele com muita magreza e cabelos de prata. Há muito sumiram as costeletas fortes e escuras emoldurando o rosto murcho. A seriedade e clareza de seus olhos castanhos me surpreendeu. “Não tem muita gente que sabe o que tem dentro desse velho aqui”. “Ah é?”, disse eu perguntando. “Dois anos atrás, esse velho aqui começou a dar graças a Deus toda noite”, ele disse. “Uns meses atrás, o velho aqui começou a voltar para a igreja”. Eu estava chocado com a sacralidade daquele momento. Remexi as minhas chaves, vasculhando o vazio profundo do bolso de meus jeans, tentando encontrar palavras. “Como é isso para o senhor, Papaw?”, ousei indagar. “Bem, não concordo com tudo isso”, disse. “Mas, para dizer a verdade, tenho sentido falta”. Ele se aproximou de mim para me abraçar. Então sorriu ao falar: “A gente nunca sabe o que vai acontecer com esse velho aqui, não é mesmo?” “Nunca se sabe”.
  • 64. 4 | Invisível O fato é que os pastores são invisíveis seis dias da semana... Grande parte de nosso trabalho mais importante é feito nos bastidores. – E H. P O que dissemos até aqui: Pastores anseiam. Pastores pregam com pele e osso. Nossa pressa não ajuda muito. Entediados com a verdadeira grandeza que nos foi dada, tentamos sair de casa, mas levamos nossa casa conosco. Estamos esgotados por correr atrás das falsas grandezas. Somos encharcados por sucessos, mas secos quanto a Deus. Estamos fazendo de novo antigas perguntas, olhando para trás. Mas de que adianta ser pastor? Trabalho monótono “Quero agradecer-lhe por aquilo que você disse da última vez em que nos encontramos”. Ele disse isso em uma cafeteria. A filha pequena de meu amigo dizia com linguagem de garotinha: “Num quero Deus” ou “mim não ora”. Sofrendo, esses pais preocupavam-se que estivessem fazendo algo errado. Eu respondi dizendo algo sobre como nós adultos, muitas vezes, não gostamos de Deus em nossa vida ou não queremos orar. “Quem sabe o deus que sua filha não gosta seja um que nós também não gostaríamos nem desejaríamos crer; talvez não seja, afinal, uma imagem verdadeira de como Deus realmente é”, eu sugeri. Então fiz uma pausa. Não tinha certeza, como era costumeiro, se aquilo que em oração eu tentava entender estava plenamente correto. Eu orava daquele jeito estranho que podemos
  • 65. fazer, silenciosamente, entre as sentenças e os pequenos silêncios que perduram enquanto enfiamos a colher em uma tigela de caldo quente. “Em vez de fazer sua garotinha parar de falar que não gosta de Deus”, eu disse, “que tal admitir que, às vezes, mesmo como adultos, nós desgostamos de Deus, e deixar que isso molde as suas orações em família? Afinal de contas, os Salmos ou Eclesiastes, Jonas ou Jó nos mostram orações dessa espécie. Nos ensinam que Deus nos ouve em Cristo, mesmo quando temos sentimentos feios e quando esses sentimentos feios são dirigidos a ele. Quem sabe se neste exato momento é isto que ela pode aprender com você? Que tal se, em vez de ler a Bíblia por uma temporada, você convidasse os filhos a dramatizar as cenas escritas nos Evangelhos? Alguém é o que está doente. Um outro atua como o fariseu zangado. E alguém começa a dizer o que Jesus fez e a estender a mão ao que está enfermo ali mesmo em sua sala de estar”. Nas semanas seguintes aconteceu algo maravilhoso. Aquela criança começou a relacionar-se de maneira diferente quanto à oração, e deixou de falar que não gostava de Deus. Um momento como este nos ajuda a entender por que não é fácil descrever o que um pastor faz. É também desagradável e fere nosso inquieto desejo de legados maiores e mais famosos. • Comum e cotidiano. Este momento quase não se nota no mundo e não será documentado pela história. Dois homens tomavam sopa e conversaram por alguns minutos numa terça-feira em uma cidade do Missouri. • Invisível. Ninguém mais da congregação viu ou sabe sobre isso. • Incontrolável. Não existe uma fórmula. Nunca me fizeram antes aquela pergunta e eu poderia não ter sabido como dizer, ou errar completamente no que disse. Foram feitas orações. Dar um passo à frente foi um ato de esperar em Deus quanto ao desconhecido. • Inacabado. Demos graças com risadas quando se falou dessa