O documento discute a psicologia cognitiva da depressão. Aprende-se que pessoas propensas à depressão desenvolvem atitudes negativas sobre si mesmas, o mundo e o futuro, tornando-se sensíveis a estresses específicos. Quando expostas a esses estresses, respondem desproporcionalmente com ideias negativas reforçadas por esquemas cognitivos. À medida que a depressão avança, esses esquemas dominam os processos cognitivos, impedindo o pensamento objetivo.
2. A predisposição à depressão
Entre os conceitos centrais na patogênese da depressão
estão as atitudes das pessoas em relação a si mesmas, ao
ambiente e ao futuro. Uma vez que a formulação de todos
os três tipos de conceitos é semelhante, a dos autoconceitos
pode servir de padrão para as outras duas.
3. A predisposição à depressão
Os autoconceitos das pessoas são aglomerados de atitudes
sobre si mesmas, algumas favoráveis e outras desfavoráveis.
Esses aglomerados consistem em generalizações baseadas
em interações com o ambiente.
Assim, forma-se um ciclo: cada juízo negativo fortalece a
autoimagem negativa, que por sua vez facilita a
interpretação negativa das vivências posteriores, as quais
consolidam o autoconceito negativo.
4. Autoconceitos
Entre os autoconceitos positivos (ou autoengrandecedores)
positivos estão atitudes como “sou capaz”, “sou atraente”,
“posso conseguir o que quero”, “sou capaz de entender
problemas e resolvê-los”.
Exemplos de autoconceitos negativos (ou
autodepreciativos) são “sou fraco”, “sou inferior”, “sou
detestável” e “não sou capaz de fazer nada direito”.
5. Juízos de valor e afeto
Quando vem a si mesmos positivamente, como
admiráveis, vivenciam um afeto agradável.
Estabelecidas as rotas entre um determinado conceito,
tal como “sou inepto”, e o afeto negativo, a pessoa
vivencia o afeto desagradável toda vez que faz um juízo
negativo.
6. Vulnerabilidade
Os autoconceitos negativos, embora possam não ser perceptíveis,
mantém-se na surdina e, em uma situação eliciadora, podem vir à tona.
“Quando todos os componentes da constelação de características de
depressão são ativados, ocorre o seguinte: os indivíduos interpretam
uma vivência como representativa de derrota ou frustração pessoal;
atribuem essa derrota a algum defeito em si mesmos; consideram-se
sem valor por terem esse traço; culpam a si mesmos por terem
adquirido essa característica e não gostam de si mesmos por isso; como
eles consideram o traço uma parte intrínseca de si mesmos, não têm
esperança de mudar e veem o futuro como desprovido de satisfação ou
repleto de dor” (BECK, p. 211).
7. Estresse específico
Exemplo: executiva que veio de uma classe baixa sentia-se
inferior
Situações que previsivelmente diminuiriam a autoestima de
um indivíduo são precipitadores frequentes frequentes de
depressão. Algumas observadas na prática clínica incluem
reprovação em uma prova, rejeição pelo namorado ou pela
namorada, rejeição por associação estudantil e demissão
(BECK, p. 212).
8. Estresse específico
Essas circunstâncias produziriam sentimentos de dor
ou frustração na maioria das pessoas, mas não
causariam depressão. O indivíduo deve ser
peculiarmente sensível à situação e deve ter a
constelação pré-depressiva necessária para desenvolver
depressão clínica (BECK, p. 212).
9. Moderação genética do vínculo estresse-depressão
Estudo: “A influência de eventos estressantes na predição de
depressão foi moderada (afetada) por um polimorfismo
funcional na região promotora do gene transportador da
serotonina (5-HTT). Aqueles com uma ou duas cópias do alelo
curto do polimorfismo diferiam dos indivíduos homozigóticos
para o alelo longo. Especificamente, o alelo curto estava
associado a mais depressão e tentativas ou pensamentos suicidas
em resposta a estresse comparados com indivíduos
homozigóticos para o alelo longo. Entretanto, os autores
reconheceram que o estudo não fornece evidências inequívocas
de um gene por interação com estresse, pois é possível que a
frequente exposição a eventos estressantes seja ela mesma
mediada pela variação genética (BECK, p. 213).
10. Moderação genética do vínculo estresse-depressão
Nemeroff e Vale assinalaram que a maioria dos
transtornos psiquiátricos incluindo transtornos de
humor e de ansiedade, são de natureza poligênica, e
não dterminados pela tradicional genética mendeliana
autossômica-dominante (BECK, p. 214).
11. Estresse não específico
Às vezes a depressão é precipitada, não por um único
incidente esmagador, mas por uma série de eventos
traumáticos (BECK, p. 214).
12. Organização da personalidade na depressão
- Como o pensamento depressivo peculiar torna-se
dominante? Por que o paciente deprimido agarra-se
com tanta tenacidade a ideias dolorosas, mesmo
quando confrontado com evidências em contrário?
Qual é a relação entre pensamento e afeto?
13. Literatura sobre organizações cognitivas
Exemplos de estruturas cognitivas: “conceitualizações
de Freud dos processos primários e secundários, o
conceito de autoimagem de Horney, a formulação do
autoconceito de Rogers, a teoria dos construtos
pessoais de Kelly, o conceito de autoverbalizações de
Ellis. Harvey e colaboradores apresentaram o modelo
mais completo de sistemas conceituais em
psicopatologias específicas, incluindo a depressão”
(BECK, p. 216).
14. Definição de esquemas
Um determinado indivíduo tende a mostrar
consistências no modo como responde a tipos
semelhantes de eventos (...) Padrões estereotipados ou
repetitivos de conceitualização são considerados
manifestações de organizações ou estruturas
cognitivas.
15. Definição de esquemas
Uma estrutura cognitiva é um componente
relativamente duradouro de uma organização
cognitiva, em contraste como um processo cognitivo,
que é transitório.
Esquema é uma estrutura para classificar, codificar e
avaliar os estímulos que afetam o organismo.
16. Definição de esquemas
Quando um determinado conjunto de estímulos
afetam o indivíduo, um esquema pertinente a esses
estímulos é ativado.
O esquema condensa e molda os dados brutos em
cognições. Uma cognição refere-se a qualquer
atividade mental que possui conteúdo verbal; assim,
ela inclui não somente ideias ou juízos, mas também
autoinstruções, autocríticas e desejos verbalmente
articulados.
17. Definição de esquemas
Como são estruturas, os esquemas também se
caracterizam por outras qualidades, tais como
flexibilidade-inflexibilidade, abertura-fechamento,
permeabilidade-impermeabilidade e concretude-abstração.
18. Identificação dos esquemas
A característica mais marcante dos esquemas é o seu
conteúdo. O conteúdo geralmente tem a forma de uma
generalização que corresponde às atitudes, aos
objetivos, aos valores e às concepções do indivíduo.
Exemplo: estudante que tinha a crença “eu sou burra”.
19. Esquemas na depressão
A ideação nos indivíduos deprimidos é matizada por
certos temas depressivos típicos. A interpretação das
vivências, a explicação para sua ocorrência e as
perspectivas para o futuro demonstram,
respectivamente, temas de deficiência pessoal,
autorrecriminação e expectativas negativas.
20. Modos de psicopatologia
A maneira como os esquemas se inter-relacionam na
coordenação dos diversos sistemas psicológicos é
referida como modo.
O modo é a ativação dos conglomerados de esquemas e
varia segundo o contexto e a percepção que o indivíduo
tem dos eventos.
21. Distorção e erros de interpretação
Quando procuramos prever a resposta a uma situação
de estímulo, é evidente que existem diversos modos
possíveis de interpretar uma situação.
Na depressão e outros tipos de psicopatologia, a
organizada correspondência de estímulo e esquema é
perturbada pela intromissão dos esquemas
idiossincráticos hiperativos.
22. Distorção e erros de interpretação
Somente os detalhes da situação de estímulo compatíveis
com o esquema são selecionados, e estes são reorganizados
de forma a torná-los congruentes com o esquema.
Em outras palavras, em vez de um esquema ser selecionado
para ajustar-se a detalhes externos, os detalhes são
seletivamente extraídos e moldados para que se ajustem ao
esquema.
23. Perseveração (ruminação)
À medida que a depressão avança, os pacientes perdem o
controle sobre seus processos de pensamento; ou seja,
mesmo quando tentam focar em outros assuntos, as
cognições depressivas continuam se intrometer e ocupar
uma posição central.
Nolen-Hoeksema e colaboradores investigaram a hipótese
de que as mulheres são mais vulneráveis aos sintomas
depressivos do que os homens em parte por causa da maior
ruminação.
24. Perda da objetividade
Nos estágios mais graves, os pacientes têm dificuldade
até para considerar a possibilidade de que suas ideias
ou interpretações talvez sejam errôneas.
25. Afetos e cognição
Tese: a resposta afetiva é determinada pelo modo como
um indivíduo estrutura sua vivência. Ou seja, o
esquema determina o tipo específico de resposta
afetiva.
Mas também é possível que um mecanismo circular
seja ativado, no qual os esquemas estimulam os afetos
e os afetos reforçam a atividade dos esquemas.
26. Esquemas de feedback
Quanto mais negativamente os pacientes pensam, pior
se sentem; quanto pior se sentem, mais negativamente
pensam.
27. Conclusão
Durante o período de desenvolvimento, indivíduos
propensos à depressão adquirem algumas atitudes
negativas sobre si mesmo, sobre o mundo externo e sobre o
futuro.
Como consequência dessas atitudes, tornam-se
especialmente sensíveis a alguns estresses específicos, tais
como sentir-se privado, frustrado ou rejeitado. Quando
expostos a esses estresses, esses indivíduos respondem
desproporcionalmente com ideações de deficiência pessoal,
autorrecriminação e pessimismo.
28. Conclusão
Os esquemas idiossincráticos na depressão consistem
em concepções negativas do valor, das características
pessoais e do desempenho ou saúde do indivíduo, e
incluem expectativas niilistas. Quando evocados, esses
esquemas moldam o conteúdo do pensamento e levam
aos típicos sentimentos depressivos de tristeza, culpa,
solidão e pessimismo.
29. Conclusão
Os esquemas permanecem basicamente inativos
durante os períodos assintomáticos, mas são ativados
com o início da depressão. À medida que a depressão
se aprofunda, tais esquemas dominam cada vez mais
os processos cognitivos e substituem os esquemas
apropriados, além de interromperem os processos
cognitivos envolvidos na realização de auto-objetividade
e testagem da realidade.
30. Conclusão
A relativa ausência de raiva na depressão talvez se deva
à substituição dos esquemas relativos à culpa dos
outros por esquemas de autorrecriminação.