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Surgimento
Disciplina relativamente nova. Surgiu como uma das manifestações do pensamento
moderno. A evolução do pensamento científico intenta cobrir uma nova área do
conhecimento humano ainda não incorporada ao saber científico, qual seja, o mundo
social.
Reinaldo Dias (2005, p. 3)diz que a sociologia surgiu seguramente no século XIX como
decorrência da necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais
que estavam aparecendo.
Enquanto ciência, a sociologia tinha o objetivo de sistematizar o estudo dos fenômenos
sociais em busca de resolução aos problemas sociais. Os sociólogos buscam
compreender as diferentes interações entre as pessoas para que possam estabelecer
relações de causa e efeito dos diferentes fenômenos sociais e “assim indicar para as
organizações públicas e privadas maneiras de atender às necessidades dos indivíduos,
buscar os seus direitos, estabelecer os seus deveres ou o que quer que seja para a
humanidade como um todo avance em busca de melhor qualidade de vida” (DIAS,
idem).
Augusto Comte (positivista2): “as sociedades estavam em estado de caos social, era
necessário restabelecer a ordem nas idéias e nos conhecimentos”. Comte estabeleceu as
bases iniciais do que seria uma ciência social, abriu perspectivas para um novo campo
de pesquisa científica o qual se ocupou dos fenômenos sociais.
Surgimento da Sociologia: mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica
(Revolução Industrial) iniciada no século XVIII. Influência também da Revolução
Francesa de 1789.
Esse surgimento ocorre num contexto histórico específico: nos derradeiros momentos
da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista.
(MARTINS, 2007, p. 10). Mudanças profundas no campo social.
As relações entre as pessoas de uma realidade rural (relações pouco complexas) passam
a sofrer modificações em função das novas estruturas sociais que se desenvolveram em
torno de uma nova realidade industrial complexa.
“(...) em cerca de cem anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma
Europa de cidades abertamente industriais (...). Os utensílios manuais e os dispositivos
mecânicos simples foram substituídos por máquinas, a lojinha do artífice pela fábrica.
(...) Os aldeãos, como as suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam
para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era (...),
enquanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de
cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia
rapidamente”.(HENDERSON apud DIAS, 2005, p. 15).
Principais características da Revolução Industrial:
1. Transformação da economia inglesa, que passou de predominantemente agrária
a uma economia industrial.
1. Relação patrão x empregado; homem x máquina.
Com o advento da Revolução Industrial, surgem novos papéis sociais, principalmente o
empresário capitalista e o de operário.
Com a consolidação industrial se configura um ‘mercado de trabalho’, no qual se
vendem as ‘capacidades de trabalho’ (na linguagem de Marx, a alienação da força de
trabalho). Os novos trabalhadores industriais têm que empregar disciplinadamente3 sua
força laboral em benefício dos detentores dos meios-de-produção, do local de trabalho,
do maquinário e da matéria-prima (os capitalistas).
“o empresário capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as
ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples
trabalhadores despossuídos. Cada avanço com relação à consolidação da sociedade
capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até
então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social” (MARTINS,
2007, p. 12).
Em decorrência da rápida urbanização, é provocado o aumento de problemas sociais,
como ausências de moradia, miséria, precariedade de serviços sanitários e de saúde,
prostituição, alcoolismo, suicídios, infanticídios, surtos de violências e de epidemias
(cólera, tifo) entre outros.
Características fundamentais das novas formas de organização social:
1. Substituição progressiva do trabalho humano por máquinas
1. A divisão do trabalho e a necessidade de sua coordenação (que resulta no
empobrecimento intelectual do empregado e não do aumento da habilidade
individual).
1. Mudanças culturais no trabalho (problemas na gestão do fator humano –
imposição de disciplina rígida e articulação dos indivíduos isolados);
1. Produção de bens em grande quantidade;
1. Surgimento de novos papéis sociais (empresário X operário). Agora os
trabalhadores não vendiam mais os seus produtos, mas sua ‘capacidade de
trabalho’4.
- Surgimento do proletariado:
Um dos pontos mais significativos dos anos que se seguiram a este estado de coisas foi
o surgimento do proletariado, que desempenha um papel histórico essencial ao
desenvolvimento da sociedade capitalista.
Os trabalhadores começam a negar suas condições de vida. Passam a se revoltar e
destruir máquinas, sabotar oficinas, cometer roubos e crimes, evoluindo para as
associações livres, criação de sindicatos, etc. A classe operária começou a organizar-se.
- Todos esses eventos de impacto social profundo colocaram a sociedade num plano de
análise. A sociedade passa a se constituir em “problema”, em “objeto” a ser analisado.
Os primeiros homens que se preocuparam com essas transformações não eram homens
da ciência (ainda), mas homens que, pela ação, queriam empreender uma mudança (no
século XVIII para o XIV: Owen, Willian Thompson, Jeremy Bentham, por exemplos).
A sociologia surge como constituição de um saber sobre a sociedade, ela constitui uma
resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial.
- Mudança no pensamento:
Não só as transformações sociais foram importantes no surgimento da sociologia, mas
também uma mudança no pensamento:
Renúncia a uma visão sobrenatural para explicar os fatos, substituindo-a por uma
indagação racional. Há modificações na forma de se conhecer a natureza e a cultura.
A experimentação e o método científico são aplicados para o conhecimento da natureza
(domínio racional da natureza). O progresso nesse campo é intenso, desde Copérnico a
Newton.
A crença cede lugar à dúvida metódica a fim de possibilitar um conhecimento objetivo
da realidade.
Esse conhecimento deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Passa-
se a buscar leis gerais sobre a sociedade, campo em que deveriam serevitadas
conjecturas e especulações (Ferguson apud Martins, 2007, p. 19).
O método é o empírico e indutivo (baseado no método das ciências da natureza).
Compreensão de uma lógica do processo histórico (Vico, Hegel, Marx).
Alie-se a esses fatos que o iluminismo e a revolução burguesa (1789) questionavam as
instituições da época denunciando-as injustas e irracionais, que atentavam contra a
natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem.
Surge uma crescente racionalização da vida social. As instituições começam a ser vistas
como produtos da atividade do próprio homem, e não fenômenos sagrados e imutáveis.
Sendo produtos do homem, elas podem ser transformadas com a ajuda da filosofia e da
sociologia (Marx).
A partir da terceira década do século XIX intensificam-se as crises econômicas e as
lutas de classe na sociedade francesa. A burguesia, já no poder, começa a utilizar as
instituições estatais para conter o movimento social e a “desordem”. Tornam-se
evidentes os motivos da revolução burguesa (em prol da burguesia, que se torna elite).
A Revolução segue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro,
descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições e
muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a
estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até
Deus; quando essa mesma Revolução expande-se rapidamente por toda a parte com
procedimentos desconhecidos, novas táticas, máximas mortíferas, poder espantoso que
derruba as barreiras dos impérios, quebra coroas esmaga povos e – coisa estranha –
chega ao mesmo tempo ganhá-los para a sua causa; à medida que todas as coisas
explodem o ponto de vista muda. O que à primeira vista parecia aos príncipes da Europa
e aos estadistas um acidente comum na vida dos povos, tornou-se um fato novo, tão
contrário a tudo que aconteceu antes no mundo e no entanto tão geral, tão monstruoso,
tão incompreensível que, ao apercebê-lo, o espírito fica como que perdido (Alexis de
Tocqueville apud Martins, 2007 p. 24-26).
Passada a revolução, alguns pensadores franceses como Durkheim e Comte começam
a fomentar uma ciência social ao buscar entender a nova realidade provocada pela
revolução. Esses pensadores nutriam certo rancor pela revolução, principalmente pelos
seus falsos dogmas (liberdade, igualdade e importância do indivíduo em face das
instituições sociais). Esses primeiros teóricos começam a utilizar os termos “anarquia”,
“perturbação”, “crise”, “desordem” para julgar aquele estado de coisas.
Os novos teóricos propõem racionalizar a nova ordem e encontrar soluções. Para tanto
era necessário conhecer as “leis” (científicas) que regem os fatos sociais.
Saint-Simon: “a filosofia do último século foi revolucionária; a do século XX deve ser
reorganizadora” (apud Martins, 2007, p. 28).
Auguste Comte: “a nova teoria positiva da sociedade deve ensinar os homens a aceitar a
ordem (industrial) existente, deixando de lado sua negação” (idem).
- A sociologia, nova ciência da sociedade, surge com fins e interesses práticos.
A nova ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem
social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família5, a
hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da
sociedade.
Mas, no início, a sociologia surge tentando instaurar um estado de equilíbrio, pregando
a ordem e a obediência (como a defesa do papel chefe de família por Le Play). A
sociologia revestiu-se de indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos
movimentos de reforma conservadora da sociedade.
Comte intentava atribuir o status de ciência natural à sociologia, inclusive separando-a,
por seu objeto, da filosofia e da economia:
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos
sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos
astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja
descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se o
ponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim
dizer, como objetivo real descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a esses
dados fundamentais, a fim de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises
mais ou menos graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi
previsto. Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular
a ação. (apud Martins, 2007 p. 32).
- A sociologia só se liga ao socialismo e ao comunismo posteriormente. À época de
Comte se pretendia colocar em questão os fundamentos da sociedade capitalista por
intermédio de um estudo por uma ciência positivista.
1.2 O Positivismo
- O positivismo foi uma reação intelectual conservadora às transformações
desencadeadas pela Revolução Francesa e Industrial, transformações que não eram
previstas pelos filósofos e intelectuais (urbanização, miséria, suicídio, epidemias, etc.).
- Esses conservadores construíram suas obras contra a herança iluminista que, na visão
de Auguste Comte, só fazia criticar as velhas instituições sociais (negativismo). O
Positivismo tinha a intenção de construir (positiva, portanto) uma nova coesão social,
uma nova sociedade saudável sob o solo de instituições fortes como a família, a religião
e o grupo social.
- Não obstante, antes de se falar propriamente dos positivistas, é mister mencionar os
críticos pioneiros aos revolucionários, os pensadores conhecidos como profetas do
passado.
- Os conservadores que foram chamados profetas do passado construíram suas obras
contra a herança dos filósofos iluministas. A inspiração desses “profetas” era a
sociedade feudal, com sua estabilidade e acentuada hierarquia social (não defendiam
propriamente o capitalismo por sua faceta industrial e financeira).
- Responsabilizavam os iluministas e suas idéias como desencadeadores da Revolução
de 1789 (um castigo de Deus à humanidade, segundo tais conservadores).
- Os conservadores, defensores fervorosos das instituições religiosas, monárquicas e
aristocráticas, que se encontravam em processo de desmoronamento, consideravam as
crenças iluministas como aniquiladoras da propriedade, da autoridade, da religião e da
própria vida. Julgavam a época moderna era dominada pelo caos social. A Revolução de
1789 era o último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a
Reforma Protestante e a era da razão.
- Exemplos desses pensadores: Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754-
1821), Louis de Bonald (1754-1840).
- Pois bem. Estes profetas do passado, conservadores, constituíram um ponto de
referência para os pioneiros da sociologia, interessados na preservação da nova ordem
econômica e política que estava sendo implantada na Europa daquela época.
- Mas estes pioneiros adaptaram as concepções dos profetas do passado às novas
circunstâncias históricas. Não era possível o retorno à sociedade feudal e a restauração
de suas instituições. Mas o que encantava os pensadores pioneiros da sociologia era a
devoção daqueles “profetas” na tentativa de manutenção da ordem.
- Os primeiros positivistas, Sait-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857) e
Émile Durkheim (1858-1917), revisaram algumas das idéias conservadoras e as
adaptaram na tentativa de alcançar meios de manutenção da ordem na nova sociedade,
defendendo os interesses dominantes da sociedade capitalista (Martins, 2007 p. 40).
- Saint-Simon é considerado o mais eloqüente dos profetas da burguesia, um entusiasta
da sociedade industrial. Para ele as relações sociais haviam se tornado instáveis e o
problema a ser enfrentado era o da restauração da ordem. Via no industrialismo a
possibilidade de satisfação das necessidade humanas e constituía a única fonte de
riqueza e prosperidade.
- A função do pensamento social neste contexto deveria ser a de orientar a industria e a
produção.
Os fundamentos da reflexão sociológica a partir da problematização do mundo social .
Para alguns, a Sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses
dominantes; para outros, é a expressão teórica dos movimentos revolucionários. Mas
afinal, o que é Sociologia ?
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que
interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.
Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os
fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos
diversos, e interagem no interior desses grupos.
Pondo-se de lado alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel ( Itália em
Florença, 1469 - 1527) e Montesquieu ( França em Bordéus, 1689 - 1755), o estudo
científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados do século
XIX. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências naturais.
Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho metodológico apontado
por Galileu ( Itália em Pisa, 1564 - 1642) e outros, alguns pensadores que procuravam
conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los segundo as
coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmando a peculiaridade do
fato humano e a conseqüente necessidade de uma metodologia própria. Essa
metodologia deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos
fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto
nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria experiência humana (
interna ).
De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia
distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As
ciências exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais, procurando
obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de
leis de caráter matemático.
As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana,
seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não
generalidades de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas
fundamentais da vida do espírito.
Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental entre as
ciências exatas e as ciências humanas) tinham suas origens sobretudo na tradição
empirista inglesa que remonta a Francis Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561 – 1626 )
e encontrou expressão em David Hume ( Escócia em Edimburgo, 1711 – 1776 ), nos
utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos
humanos se colocariam Augusto Comte ( França, 1798 – 1857 ) e Émile Durkheim (
França, 1858 – 1917 ), este considerado por muitos como o fundador da sociologia
como disciplina científica. Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências
humanas e ciências naturais, foram sobretudo os alemães, vinculados ao idealismo dos
filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel ( Alemanha em Esturgarda,
1770 – 1831 ) e Schleiermacher ( Polônia em Breslau, 1768 – 1834 ). Os principais
representantes dessa orientação foram os neokantianos Wilhelm Dilthey ( Alemanha
em Briebrich, Renânia, 1833 – 1911 ), Wilhelm Windelband ( Alemanha em Potsdam,
1848-1915) e Heinrich Rickert ( Alemanha em Danzig, 1863 – 1936 ).
Dilthey estabeleceu uma distinção que fez fortuna: entre explicação (erklären) e
compreensão (verstehen). O modo explicativo seria característico das ciências
naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão
seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que
possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos
da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido.
Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência do
investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos por outros em interação com
ele conforme a vivência de cada um.
Dilthey (como Windelband e Rickert), contudo, foi sobretudo filósofo e historiador e
não, propriamente, cientista social, no sentido que a expressão ganharia no século XX.
Outros levaram o método da compreensão ao estudo de fatos humanos particulares,
constituindo diversas disciplinas compreensivas. Na sociologia, a tarefa ficaria
reservada a Max Weber.
Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a Antigüidade,
para entender a sociedade e o seu desenvolvimento, a Sociologia poderia ser
considerada a mais velha de todas as ciências, e a mais acolhedora. Tanto que hoje em
dia praticamente todo mundo é “sociólogo” — “porque todos estamos sempre
analisando os nossos comportamentos e as nossas experiências interpessoais”1 —, pois,
até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar
palpite sobre os movimentos da sociedade, as forças que conduzem os seres humanos,
as razões dos conflitos sociais, as origens da família, as relações entre Estado e Direito,
o funcionamento dos sistemas políticos, a função das ideologias e das religiões etc.
Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos os veneráveis santos Agostinho
(Tagasta, Numídia ao norte da África, 354 – 430 ) e Tomás de Aquino ( Campânia no
sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre Antônio Vieira (Portugal em Lisboa, 1608 - 1697),
que interpretavam a realidade social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja
Católica, bem como os notáveis lbn Khaldun, historiador islâmico ( Tunísia, 1332 –
1406 ) e Maquiavel, que criticavam toda interpretação teológica da sociedade.
Ibn Khaldun, é um precursor das ciências sociais e é reconhecido como o historiador
principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo árabe de então dominava
também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa do leste. É considerado como
hispânico-árabe pois sua família foi uma das principais e mais antigas de Sevilha,
embora tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era diplomata e estadista,
professor nas instituições precursoras do que hoje associamos a idéia de universidade e
magistratura.
Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que trata do mundo árabe
e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma teoria da história e do seu
método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que segundo alguns, como Arnold
Toynbee ( Inglaterra, 1889 – 1975 ) , «desarrolla una filosofía de la historia que es sin
duda lo más grandioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais do
que um tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analítico
sobre o fenômeno social que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua
história é um tratado geral da Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o
que hoje chamamos de Ciência Política); o IV é sobre economia política e o V versa
sobre educação e conhecimento.
Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou “asabiyah”, ou
coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social que surge
espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e
institucionalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruído ou
debilitado pela decadência.
Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a
existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político,
econômico, legal e moral.
Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou “im al umran”,
ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto de estudo, ou seja, a
sociedade humana, com seus problemas e suas mudanças que se sucedem conforme essa
natureza própria da sociedade”. ( traduzido do artigo original em espanhol )
Porém, a trajetória da Sociologia no Ocidente, só começa a ser delineada com o
movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo ( Inglaterra, Holanda e
França, 1590 - séc XVII e XVIII ), que exerceu enorme influência no século XVIII,
propondo reformas no interesse das classes privilegiadas ( elite ), conforme leis que
regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução
Industrial ( Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a vapor - séc. XVIII em diante
). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e a queda do
Antigo Regime (regime político vigente na França até a Rev. Francesa ), a Sociologia
adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de
ciência ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa
das relações humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos —
desempenhos, grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam
a integração dos sistemas sociais.
Revolução Século / Ano Esfera de atuação e impacto
Iluminismo a partir de 1590, séc. XVII – XVIII ideológica
Industrial segunda metade do séc. XVIII ( 1750 ) econômica
Francesa segunda metade do séc. XVIII ( 1789 ) política
Nesse sentido, a Sociologia é um fenômeno estrito e uma ciência, característica da
sociedade moderna.
O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os
estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu
esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no
século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases
históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia
prescrever os remédios para os problemas de ordem social.
O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do capitalismo,
desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo da indústria
capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e
urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas
formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais
radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade
passasse a se constituir em "problema". Diante disso, pensadores ingleses da época
procuraram extrair dessas novas situações temas para a análise e a reflexão, no objetivo
de agir, tanto para manter como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de
seu tempo. Isto foi fundamental para a formação e a constituição de um saber sobre a
sociedade. Outra circunstância que também influenciou e contribui para a formação da
sociologia se deve às transformações ocorridas nas formas de pensamento, originadas
pelo Iluminismo.
As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI,
provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o
pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza
e passa a ser substituído pelo uso da razão.
O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do
controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude
intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Essas novas maneiras de
produzir e viver, propiciaram um visível progresso das formas de pensar e contribuíram
para afastar interpretações baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo
conseqüentemente um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos
histórico-sociais.
Esta crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos
e homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa
época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças sobrenaturais,
passando a percebê-los como produtos da atividade humana, passíveis de serem
conhecidos e transformados.
A revolução francesa contribuiu para o surgimento da sociologia na medida em que o
objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo
tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações
na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a
Igreja. Tais atitudes ocasionaram profundos impactos, causando espanto aos pensadores
da época e à própria burguesia, já instalada no poder. Diante disso, esses pensadores se
incumbem à tarefa de racionalizar a nova ordem e encontrar soluções para o estado de
"desorganização" então existente. Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário,
segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da
sociedade.
Assim, pensadores positivistas da época concluíram que, para restabelecer a
organização e o aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova
ciência. Essa nova ciência assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da
ordem social, ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a
hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. A
oficialização da sociologia foi, portanto, em larga medida, uma criação do positivismo
que procurará realizar a legitimação intelectual do novo regime.
Foram as idéias desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história
humana, que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do
nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje temos
como CONHECIMENTO em todas as áreas da vida.
A Sociologia foi o resultado da união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do
mundo. Alguns se conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando
outros, até formar o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade
ou Sociologia. Destes tantos, quatro pensadores foram responsáveis por estruturar os
fundamentos da Sociologia possibilitando criar três linhas mestras explicativas,
fundadas por eles e aos quais iremos estudar com mais profundidade:
1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comtee seu principal
expoente clássico Émile Durkheim( França, 1858 – 1917 ), de fundamentação
analítica;
2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber( Alemanha, 1864 – 1920 ), de
matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e
3) a Sociologia dialética, iniciada por Karl Marx( Inglaterra, 1818 – 1883 ) que mesmo
não sendo um sociológo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha
de explicação sociológica.
Teórico Princípios Teóricos
Auguste
Comte
Positivismo
Émile
Durkheim
Fato Social, Consciência coletiva, Anomia
Max Weber Ação Social
Karl Marx
Modo de produção, mais-valia, acumulação primitiva, alienação,
materialismo histórico, ideologia, luta de classes, materialismo dialético
Como fazer ciência ? Com OBJETO e MÉTODO
Parte II – os Clássicos da Sociologia
Auguste Comte
O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser
convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem.
Ele achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens novos
hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. Por essa razão, o
sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos : em primeiro lugar, uma
filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira
de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar
entre os homens. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências
baseadas na filosofia positiva. Finalmente, uma sociologia que, determinando a
estrutura e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das
instituições.
A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método
científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.
O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo
designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o
precisoem oposição ao vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de
explicação do mundo.
Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como
uma ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos
corpos pesados, cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural;
Galileu, espírito positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e
últimas, mas se contentaria em descrever como o fenômeno da queda ocorre.
Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se
aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um
organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente,
segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de
organicismo.
Características do Positivismo
A realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos
fenômenos se dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas
relações entre os fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um
método para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são
regidos por leis invariáveis.
Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza
que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por
um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos
dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que
as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras
abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se
distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano.
Lei dos Três Estados -
características
Estado Teológico Estado Metafísico Estado Positivo
- tudo tem origem no
sobrenatural- época dos
sacerdotes e militares-
domínio da organização
militar
- tudo tem origem na
razão, na natureza e em
forças misteriosas|-
época jurídica-
prevalece a
organização jurídica
- ciência substitui a razão, natureza e
forças misteriosas- época industrial-
predomínio do intelectual,
principalmente o sociólogo|- a
economia se junta à sociologia para,
juntas, guiarem os destinos da
organização social
Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese que as
ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e
abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos.
Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da
física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da
sociologia.
De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série
mas também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o
conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.
Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte
ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos
principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e
Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.
ESTUDO DA ESTÁTICA SOCIAL = ORDEM
O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social,
que é a interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo
Comte os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são
fundamentalmente conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia
Social.
A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são
famílias e não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade social por ser a
associação mais espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educação moral e
constitui a base natural da organização política.
A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como
características principais:
 subordinação - subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos aos
pais
 união - a família é possível graças a união de seus membros
 cooperação - a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação
 altruísmo - o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e para
o outro.
Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo
e que se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma
autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo. Não há
sociedade sem governo, nem governo sem sociedade.
O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma
material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize. Segundo Comte,
o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem. Essa é a
intervenção do "conjunto sobre as partes".
As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a
moral. A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de
esforços.
ESTUDO DA DINÂMICA SOCIAL = PROGRESSO
Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro. Não
há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o estado social são leis
análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a
humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá quando for
ultrapassada a sua etapa metafísica.
Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a
para o inevitável caminho da decadência final.
No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase
provisória, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural.
A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os agentes
sobrenaturais são substituídos por força abstratas, entendidas como seres do mundo.
A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade,
quando o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e
desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim como sobre as
causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar apenas em descobrir as
leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis de sucessão e semelhança. Estuda-
se as leis a abandona-se a pesquisa das causas.
Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso,
que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político. Toda
ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso,
para ser realizado, deverá permitir as consolidação da ordem.
Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o
domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade",
com o predomínio do altruísmo e da harmonia social.
COMO SURGIU A SOCIOLOGIA?
A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da
sociedade, resultando no surgimento do capitalismo.
O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um
novo "objeto" de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que
mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução
Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a
destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e
violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, paulatinamente,
modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e científico, substituindo as
explicações teológicas, filosóficas e de senso comum.
Na Revolução Francesa, encontra-se filósofos a fim de transformar a sociedade, os iluministas,
que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições,
pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde
que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição de um estudo científico da
sociedade.
Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem,
conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a
instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a
revolução francesa tentou destruir e criou uma "física social", criada por Comte, "pai da
sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta nova
ciência, se esforçando para emancipa-la como disciplina científica.
Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência que, mesmo antes de ser
considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como "objeto de
estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Conte e Émile
Durkheim.
(AUGUSTO COMTE, O CRIADOR DA
SOCIOLOGIA)
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
Podemos entender a Sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno.
O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os
derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da
civilização capitalista. O século XVIII constitui um marco importante para a história do
pensamento ocidental e para o surgimento da Sociologia.
A dupla revolução que este século testemunha. – A industrial e a francesa – constituía os
dois lados de um mesmo processo, qual seja a instalação definitiva da sociedade
capitalista.
Na Revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e
dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da
indústria capitalista, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores
despossuídos.
A cada avanço com relação á consolidação da sociedade capitalista representava a
desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a
introdução de novas formas de organizar a vida social.
A utilização da máquina na produção não apenas destruiu o artesão independente. Este
foi também submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações
de trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por ele.
A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente
implicava a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento
da família patriarcal, etc.
A transformação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade
fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como engajou
mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas. A desaparição
dos pequenos proprietários rurais, dos artesões independentes, a imposição de
prolongadas horas de trabalho, teve um efeito traumático sobre milhões de seres humanos
ao modifi car radicalmente suas formas habituais de vida. As desaparições dos pequenos
proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de
trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi
carradicalmente suas formas habituais de vida.
Estas transformações, incluindo as cidades, passavam por um vertiginoso crescimento
demográfi co, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários,
de saúde.
As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema
capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento da prostituição, do suicídio, de
surtos de epidemia de tifo e cólera.
Um dos fatos de maior importância relacionados com a revolução industrial é sem dúvida
o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia. Os efeitos
catastróficos que esta revolução acarretava para a classe trabalhadora levaramna a negar
suas condições e vida. As manifestações atravessam várias fases:destruição as máquinas,
atos de sabotagem, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, etc.
A conseqüência desta crescente organização foi a de que os “pobres” deixaram de se
confrontar com os “ricos”; mas uma classe específi ca, a classe operária, começava a
organizar-se.
Qual a importância desses acontecimentos para a sociologia?
O que merece ser salientado é que a profundidade das transformações em curso colocava
a sociedade num plano de análise, ou seja, Visto que na nascente sociedade industrial
produziria fenômenos inteiramente novos que mereciam serem analisados.
A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual ás novas situações
colocadas pela revolução industrial. É a formação de uma estrutura social muito
específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma reflexão sobre a sociedade.
O pensamento paulatinamente vai renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os
fatos e substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da
experimentação, ou seja, do método científi co para a explicação da natureza, conhecia
uma fase grandes avanços.
O emprego sistemático da observação e da experimentação como fonte para a exploração
dos fenômenos da natureza estava possibilitando uma grande acumulação de tatos.
Possibilitando controlar e dominar.
Outro fator para o surgimento da sociologia foi dada pelas modifi cações que vinham
ocorrendo nas formas de pensamento. Assim como abriu um espaço para a constituição
de um saber sobre os fenômenos históricos sociais.
Nesse caso, o “homem comum” também deixava, cada vez mais, de encarar as
instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e passando a percebê-las como
produtos da atividade humana.
Nesse período segue-se a tomada do poder pela burguesia, 1789, a tarefa que esses
pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, encontrando soluções para o
estado de “desorganização” então existente. Mas para restabelecer a “ordem e a paz”, pois
é a esta missão que esses pensadores se entregam, para encontrar um estado de equilíbrio
na nova sociedade, seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos
sociais, instituindo, portanto uma ciência da sociedade.
A verdade é que a burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com a própria
revolução (por exemplo, os jacobinos).Seria necessário controlar e neutralizar novos
levantes revolucionários. Assim, o projeto revolucionário da burguesia, deveria de agora
em diante ser “superada”por uma outra que conduzisse não mais à revolução, mas à
“organização”, ao “aperfeiçoamento” da sociedade.
Determinados pensados da época estavam imbuídos da crença de que para introduzir uma
“higiene” na sociedade, para “reorganizá-la”, seria necessário fundar uma nova ciência.
Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão
revalorizar determinadas instituições que segundo eles desempenham papéis
fundamentais na integração e na coesão da vida social.
ATIVIDADES
QUESTÃO 01
01. “A Sociologia é a ciência é dos problemas sociais que emergem com a chegada do
século XVIII. Que tem um marco econômico e outro político e social”.
TELES, Mª Luiza. Sociologia para Jovens. Petropólis – RJ, Ed. Vozes: 2002.
Sobre os aspectos que determinam o surgimento da sociologia é correto afirma que:
a) O renascimento Comercial e Urbano, assim com, a ascenção das monarquias
absolutistas determinou o surgimento das ciências sociais.
b) Com a revolução Francesa e a Revolução Industrial a Europa passa por grandes
transformações sociais, políticas e econômicas que determinam o surgimento da
Sociologia.
c) É a partir da desagregação feudal e da consequênte consolidação do trabalho servil que
a sociologia passa a ter seus fundamentos estabelecidos.
d) A partir da consolidação do modo de produção feudal a Sociologia passa a ser todos
os fundamentos necessários para se organizar sistematicamente como ciência.
e) É somente com a revolução Francesa que a sociedade européia passa a ter a
consolidação do poder nobiliárquico e o surgimento da sociologia.
QUESTÃO 02
02. Nos séc. XV e XVI o conhecimento racional do universo e da dos homens em
sociedade começa a ser uma regra seguida; é uma mudança lenta, sempre enfrentando
embates contra o dogmatismo e a autoridade da igreja, criando uma nova atitude diante
das possibilidades de explicar a sociedade humana”. Essas formas de conhecer a
sociedade eram fundamentadas:
a) O homem não deveria questionar sobre a sua realidade social, suas mazelas, visto que
era a natureza das coisas, somente.
b) A irracionalidade e a busca do pensamento religioso explicaria a realidade.
c) A desigualdade social seria apenas fruto da vontade divina.
d) a experimentação e a observação, como fundamentos para compreender as leis da
natureza e da sociedade.
e) O universo teria que se visto apenas de um ponto de vista, apoiado na racionalidade.
QUESTÃO 03
03. Selecione as afirmativas que Indicam o contexto histórico, social e filosófico que
possibilitou a gênese da sociologia.
I. A sociologia é um produto das revoluções francesa e industrial e foi uma resposta as
novas situações colocadas por estas revoluções.
II. O pensamento filosófico dos séculos XVII e XVIII contribuiu para popularizar os
avanços científicos, sendo a teologia a forma norteadora desse pensamento.
III. A formação de uma sociedade, que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente,
propiciou o fortalecimento da servidão e da família patriarcal.
Assinale a alternativa correta.
a) apenas I, II
b) todas I, II e III
c) apenas II e III
d) apenas I
QUESTÃO 04
04. Sobre o surgimento da Sociologia, podemos firmar que:
I. A consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos
que serviram de base para o surgimento da sociologia como ciência particular.
II. O homem passou ser a visto, do ponto de vista sociológico, a partir de sua inserção na
sociedade e nos grupos sociais que a constituem.
III. Aquilo que a sociologia estuda constitui-se historicamente como o conjunto de
relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade.
IV. Interessa para a sociologia não os indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os
diferentes grupos sociais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes
sociais etc.
a) II e III estão corretas.
b) Todas as afirmativas estão corretas.
c) I e IV estão corretas.
d) I, III e IV estão corretas.
e) II, III e IV estão corretas.
QUESTÃO 05
05. Assinale a alternativa correta. O surgimento da sociologia foi propiciado pela
necessidade de:
a) Manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo
sacerdotal.
b) Manter uma estrutura de pensamento mítica para a aplicação do mundo.
c) Condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos
transmitidos pelos deuses.
d) Considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de força transcendentais.
e) Observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever
e controlar os fenômenos sociais
O lugar e o limite da contribuição de Karl Marx par
a a Sociologia do Conhecimento
na perspectiva de Karl Mannheim
DEFFACCI, Fabricio.A.
1
CEPÊDA, Vera.A.
2
Introdução
O sociólogo alemão Karl Mannheim (1894-1947) é freq
üentemente citado como
idealizador da
Sociologia do Conhecimento
e por extensão pela apresentação de uma nova
metodologia de interpretação dos fenômenos sociais.
Em sua maioria estas referências
destacam traços gerais de sua obra e poucos estudos
trabalham com a totalidade do
pensamento mannheiniano que se multiplica em várias
direções (epistemologia, sociologia,
política e educação), ou se aprofundam no papel que
suas teses representaram na
consolidação das ciências sociais, notadamente a so
ciologia sistêmica. Nesta comunicação
o objetivo é analisar especificamente parte importa
nte dessa contribuição, a concepção de
ontologia
social
(base epistemológica da Sociologia do Conhecimento
) e sua relação com a
teoria marxista, em especial a determinação materia
l do pensamento na configuração do
tema da ideologia
.
Propomos em primeiro lugar estabelecer o percurso h
istórico que
permitiu a ruptura com o idealismo metafísico – des
tacando o papel exercido pela
publicação de
A ideologia alemã
e a ressonância dessa concepção na formulação de
Mannheim; e em segundo lugar, analisar as caracterí
sticas singulares da contribuição
mannheiniana a este problema, utilizando como base
Sociologia do Conhecimento
(1925) e
Ideologia e Utopia
(1929).
Um primeiro ponto a ser investigado (ou enunciado)
ao se tratar da metodologia
proposta pela sociologia do conhecimento deve ser o
estudo de sua própria emergência no
cenário histórico. Esta preocupação é central em Ma
nnheim ao analisar o processo pelo
qual teria ocorrido um descolamento tanto das conce
pções apriorísticas do conhecimento
(tomado como Verdade absoluta), como da multiplicaç
ão dos focos produtores de
‘verdades’ concorrentes. Assim, sua análise reconst
itui o percurso do pensamento moderno
que, segundo ele, tem sua origem na gestação do Suj
eito empreendida por Descartes e seu
1
Mestrando do programa de Ciências Sociais / UFSCar
.
2
Docente do departamento de Ciências Sociais/ UFSCa
r.
respectivo declínio na crise resultante das crítica
s à filosofia do sujeito no século XIX,
dentre as quais destaca-se a crítica elaborada por
Marx.
Nessa direção, Marx ocupa na análise mannheimiana d
ois momentos. No primeiro
sua teoria estaria operando na direção oposta do pe
nsamento moderno, fragmentando as
bases do Iluminismo delineadas pela filosofia do su
jeito; sendo este momento
caracterizado pela desconstrução do racionalismo. O
segundo momento traz a construção
de um novo paradigma, mas agora não mais pelo viés
do sujeito cognoscente e sim através
do horizonte da história, o qual, conforme afirma M
annheim, derivou da
Filosofia da
História
descoberta por Hegel.
Contudo, o fio de ligação entre os dois momentos e
também o pilar de sustentação
de uma contribuição inaugural à Sociologia do conhe
cimento na teoria marxista é a noção
de
ideologia
. Em meio a todos os argumentos pertinentes à críti
ca feita por Marx em
direção a noção de sujeito, o marco fundamental apa
rece n’
A Ideologia Alemã
, obra com
conteúdo capaz de inverter a ordem explicativa da f
ormação da consciência, constituindo
um novo horizonte de sentido acerca do pensamento h
umano. O enfoque neste ponto é
sobre o papel revolucionário desta concepção marxis
ta, tomando o conceito de
ideologia
como ferramenta de desconstrução e reconstrução do
pensamento moderno e sua influência
na posterior formulação de Mannheim (que sempre rec
onheceu a presença na Sociologia
do Conhecimento da tese de Marx, ainda que apontand
o para seu aprofundamento e
cinzelamento final).
Descentralização do paradigma da consciência
A capacidade racional do homem em decodificar as le
is da natureza e com isso
controlá-la foi elevada ao ápice a partir do século
XVI, em especial quando Descartes
fundamentou o racionalismo moderno. Na base desta c
oncepção apareceu a noção de
Sujeito, enquanto uma entidade metafísica autônoma
e capaz de por si mesma atingir a
verdade. Os recursos empregados pelo raciocínio car
tesiano para promover a Razão ao
topo da hierarquia das faculdades humanas também pr
oporcionaram o afastamento das
condições exteriores como a realidade social, por e
xemplo, na determinação do
pensamento humano. O pensamento adquiriu uma format
ação auto-suficiente, bastando-lhe
um processo de auto-experiência para alcançar as ve
rdades com características universais.
Este processo teria, segundo Mannheim
3
, sido impulsionado pela desintegração da
estrutura de pensamento do mundo medieval, a qual e
ra caracterizada por um estrato
fechado de intelectuais capaz de recolher as difere
ntes percepções da realidade e canalizá-
las numa mesma direção. Paralelo a isso, a crise qu
e atingiu tal estrato de intelectuais
diante de uma sociedade em transformação nas suas n
uances econômicas e políticas
também ocasionou o aparecimento de modos de experiê
ncia e pensamento divergentes,
sem um centro de convergência em comum. Assim, o ra
cionalismo cartesiano emerge
como uma resposta a esse estrato livre de intelectu
ais, sendo uma unidade para as
concepções acerca da realidade que no momento apres
entavam-se como multifacetadas.
Este novo centro explicativo e ordenador da realida
de, no instante em que
proporciona um sentido englobante dos pontos de vis
ta dispersos no pensamento da época
também absorve as diferenças oriundas das várias ca
madas da sociedade, que passam a ter
espaço e voz na elevação de suas concepções particu
lares, unificando-as no propósito
único de defesa da Razão enquanto uma entidade abso
luta capacitada a obter e controlar a
natureza. A Razão humana associada a ascensão das c
iências experimentais com
finalidades práticas
4
tornou-se a referência para os diferentes estilos
de pensamento da
época, passando da condição de meio de apreensão da
s verdades divinas para fim último
na própria validação da realidade: o real é raciona
l e vice-versa; sendo assim o paradigma
que sustenta a modernidade num projeto de realizaçã
o do homem no mundo por meio do
progresso a ser alcançado com a ciência.
Se por um lado a descoberta do mundo se dá na capac
idade imanente ao próprio
homem, sua realização passa agora a depender soment
e dele. Esse circuito que tem como
ponto de partida e também de chegada uma base puram
ente antropocêntrica propicia a
substituição do paradigma divino pelo paradigma da
consciência humana, a qual é
separada da dimensão moral para constituir-se, num
primeiro momento, como suporte de
uma nova dimensão ontológica e epistemológica. As i
mplicações desse novo paradigma
que abandonou as referências transcendentes, para a
os poucos erigir uma visão de homem
auto-suficiente no uso da razão, são encontradas no
campo econômico, político e moral; o
que converte o homem em indivíduo livre, proprietár
io absoluto de seus bens materiais e
capaz de prever/prover todos os seus julgamentos.
3
Mannheim (1976: .37; 41) e também Horkheimer (1976
).
4
Cf. Hobsbawm (1979). No capítulo XV o autor discut
e o surgimento dos procedimentos científicos da
química em paralelo com as necessidades da industri
alização no período, isso torna clara a noção de
ciência
com finalidade prática
que utilizamos nesse ponto.
Em traços gerais, a dissolução das particularidades
no âmbito do pensamento em
vista da consolidação hegemônica do paradigma da co
nsciência neste período, representa
segundo Mannheim a expressão de uma
ideologia total
5
e, portanto, a primeira síntese
alcançada pelo pensamento moderno após a crise da v
isão de mundo medieval. Entretanto,
a legitimidade desse novo modo de conceber a realid
ade a partir da Razão consegue
permanecer intacta até o momento em que os elemento
s históricos apresentam-se com
força suficiente para exigir uma outra via explicat
iva, a qual passa a transcender os
conteúdos puramente cognoscíveis e racionais.
Durante o Iluminismo, o sujeito, enquanto portador
da unidade da consciência,
era visto como uma entidade totalmente abstrata, su
pra-temporal e supra-social:
‘a consciência em si’. Durante este período, o
volksgeist
, o ‘
folk spirit’
vem a
representar os elementos historicamente diferenciad
os da consciência, que
Hegel integra em um ‘espírito no mundo’. É evidente
que a crescente concreção
deste tipo de Filosofia resulta da preocupação mais
imediata com as idéias
surgidas da interação social e da incorporação de c
orrentes histórico-políticas
de pensamento ao domínio da Filosofia. (Mannheim, 1
976: 93)
A Filosofia da História arquitetada por Hegel ao se
propor a preservação da
consciência e, ao mesmo tempo, absorver nela os con
teúdos dinâmicos da dimensão
histórica, abre a possibilidade de se pensar os ele
mentos históricos como decisivos na
constituição (realização) da realidade e, a partir
disso, na formação da consciência e do
pensamento humano. Nessa perspectiva, Hegel estaria
dando início à passagem – mesmo
que sua pretensão tenha sido evitá-la – para uma ou
tra via crítica na modernidade, que não
mais estaria preocupada somente em se afastar das e
xplicações religiosas e transcendentes
do mundo, mas sim em incorporar no horizonte da Raz
ão a sua autocrítica e os elementos
de cunho social que lhe foram renegados. Foi por co
nta disso que o século XIX viu surgir
no meio dos debates teóricos os pensadores da suspe
ita
6
, foram eles que por primeiro
denunciaram a fragilidade do projeto racionalista/i
luminista centrado numa perspectiva
inovadora – no que tange ao lugar do sujeito antrop
ocêntrico – mas presos numa outra teia:
a da estrutura ou elementos capazes de uma explicaç
ão não contingente e caótica sob o
impulso de uma maximização da volição humana. Dentr
e tais pensadores, aparece como
uma cunha que dá impulso à crise do pensamento mode
rno a obra de Karl Marx. Isto se
explica pelo fato de que a denúncia nela contida at
inge a unidade que havia sido
constituída através do pressuposto da Razão, a qual
perde espaço dando lugar novamente a
5
,
É possível detectar aqui uma similitude, neste pont
o entre Mannheim e Weber na idéia de que a
modernidade é mais que um conteúdo – é um modo ou u
ma lógica de pensar e de orientar a ação humana que
por extensão cristaliza estruturas (no caso de Webe
r a idéia de cálculo racional).
6
Habermas (1990).
duplicidade dos valores e interesses próprios do co
ntorno social. Por um lado, essa
denúncia está carregada da proposta de uma recoloca
ção da visão de mundo e, por outro,
traz consigo a adequação entre o pensamento e a exi
stência, colocando as condições
existenciais como bases para o próprio pensar. Em o
utras palavras, essa denúncia pode ser
entendia na noção de ideologia, de sorte que em sua
concretização encontramos o
fundamento da Sociologia do Conhecimento utilizado
por Mannheim: a base material do
pensamento.
Da noção de ideologia para a Sociologia do Conhecim
ento
Entendido enquanto um mecanismo de recolocação onto
lógica, a noção de
ideologia descoberta por Marx passa a incorporar os
elementos extra-teóricos na
constituição do pensamento e, por conseguinte, na e
strutura da consciência. “O primeiro
pressuposto de toda a história humana é naturalment
e a existência de indivíduos humanos
vivos. O primeiro fator a constatar é pois a organi
zação corporal destes indivíduos e, por
meio disto, sua relação dada com o resto da naturez
a
.
”(Marx & Engels, 1987: 27). A crítica
erguida na perspectiva marxista destitui o estatuto
do sujeito que pensa o mundo isolado do
mesmo, tornado-se de fundamental importância para o
próprio pensar a dimensão do “estar
no mundo”, a qual é efetivada por meio da atividade
sensível: o
trabalho
7
.
Apesar de Hegel ter enfocado o processo de constitu
ição da consciência através do
movimento da história, essa possível historicização
ainda permaneceu no âmbito da
realização da própria consciência e não dos indivíd
uos concretos que ocupam a
centralidade da via histórica em Marx. A partir des
se momento o pensamento foi sendo
separado das últimas demarcações estáticas que o ha
viam determinado desde o
racionalismo cartesiano e, ao mesmo tempo, submetid
o às determinações do contexto
histórico e social que viabilizou a transubstanciaç
ão de sua natureza por meio da
concepção de uma gênese dinâmica
8
.
7
O lugar do trabalho na antropologia filosófica de
Marx é fundamental, constituindo o eixo da
condição
humana
enquanto ato da própria
ação
hu
m
ana (o
trabalho funda o homem:
trabalhar é abstrair, planejar e
intervir alterando um cenário que novamente será su
perado pela condição dialética de evolução das forç
as
produtivas e que redesenhará as possibilidades da a
ção humana). Mas na sua estrutura trabalho é civili
zação
pois se organiza enquanto ‘divisão social do trabal
ho’, estabelecendo relações e normas societárias (d
as
condições materiais de produção para o reino sofist
icado das relações sociais e políticas).
8
Mannheim.
O Historicismo
. In:
Sociologia do Conhecimento
(s/d).
A crítica de Marx torna-se pontual ao apontar na co
nfiguração da ideologia na
Alemanha a separação promovida pelo idealismo entre
o produto do pensamento e o meio
material no qual o mesmo está inserido; uma vez que
tornou a dimensão material um
elemento da consciência e fez da ação dos homens um
objeto abstrato. O rompimento com
o idealismo só pode ser viabilizado pela restituiçã
o dos indivíduos enquanto reais
(concretos), mantendo relação uns com os outros em
suas ações e em suas condições
materiais de vida, percebidos por um processo não m
ais abstrato, mas sim empírico. Nesta
direção é possível apreender o modo de sua organiza
ção e também a relação que mantêm
com a natureza.
Os pressupostos não são arbitrários, nem dogmas. Sã
o pressupostos reais de que
não se pode fazer abstração a não ser na imaginação
. São os indivíduos reais,
sua ação e suas condições materiais de vida, tanto
aquelas por eles já
encontradas, como as produzidas por sua própria açã
o. Estes pressupostos são,
pois, verificáveis por via puramente empírica. (Mar
x & Engels, 1987: 26)
Este pressuposto que abre o caminho para a noção de
ideologia é resgatado da
percepção de que os indivíduos existindo são atuant
es, disponibilizam-se em face de suas
necessidades e, portanto, pensam conforme tais nece
ssidades se apresentam. Percebe-se,
pois, que o pensamento enquanto um fenômeno forteme
nte firmado pelo idealismo como
anterior a qualquer outro elemento, torna-se neste
momento secundário, sendo determinado
por condições exteriores ao homem e, em grande medi
da, pelas suas necessidades. Assim,
evidenciado o fato de que o pensamento é decorrente
da produção dos meios de
sobrevivência, Marx sustenta a base material do pen
samento, fragmentando a primazia
adquirida pelo paradigma da consciência no idealism
o.
Na interpretação feita por Mannheim acerca da gesta
ção e desenvolvimento da
Sociologia do Conhecimento, este processo de descob
erta e postulação da noção de
ideologia representa a base de um momento constituí
do por quatro etapas que ocasionou a
mudança de enfoque teórico na modernidade
9
. Na primeira delas, o pensamento, que
hegemonicamente era entendido em si mesmo, incorpor
a o fracionamento advindo da
dimensão social que o coloca para além do tratament
o acadêmico/escolástico,
enquadrando-o agora numa perspectiva existencial. T
al fracionamento reflete a
auto-
relativização do pensamento e do conhecimento
, uma vez que os critérios de sua validação
estão determinados por elementos não apenas lógicos
, mas sim existenciais.
9
Mannheim.
O problema da Sociologia do Conhecimento
In:
Sociologia do Conhecimento
(SD).
A relativização do pensamento foi aprofundada com a
descoberta de que os
condicionantes sociais do próprio pensar permanecem
ligados aos interesses particulares
dos grupos no campo da disputa simbólica. Em outras
palavras, grupos distintos expressam
a realidade de maneira distinta e, por conseqüência
, a hegemonia de um modo de pensar é
também a sobreposição da visão de mundo de um grupo
sobre o outro. Neste caso, a
segunda etapa de desconstrução das bases teóricas d
o pensamento moderno passa pela via
do confronto político no âmbito do
desmascaramento da mentalidade parcial
de um grupo.
As duas primeiras etapas garantem a sustentação de
um terceiro passo, a saber, a
autonomia da esfera social
como um sistema de referência para entender a gêne
se e o
desenvolvimento do pensamento. Em vista disso, os f
undamentos ontológicos da
modernidade são definitivamente transportados do ca
mpo da consciência para o contexto
social, recebendo uma nova configuração a partir da
introdução de uma perspectiva
englobante e dinâmica da realidade
. Tal perspectiva, caracterizada como sendo a quart
a
etapa, corresponde à proposta de vincular todas as
idéias de uma época, embora
fracionadas e conflitantes, numa única base: a real
idade social (
Weltanschauung
).
Apesar de identificar a correlação entre a dimensão
social e o pensamento, a tese
marxista da ideologia comportada um entrave que seg
undo Mannheim não lhe
proporcionou o avanço até a completa consolidação d
a Sociologia do Conhecimento.
Sendo assim, podemos encontrar em Marx somente o po
stulado deste novo horizonte
ontológico e epistemológico desenvolvido em meio a
questões filosóficas e apropriado
pelas Ciências Sociais.
A Sociologia do Conhecimento surgiu realmente com M
arx, cujas
contribuições profundamente sugestivas atingiram o
cerne da questão.
Entretanto, em sua obra, a Sociologia do Conhecimen
to é ainda
indistinguível do desmascaramento das ideologias, v
isto que, para ele, os
estratos e classes sociais eram os portadores de id
eologias (Mannheim,
1976: 329)
A superação deste obstáculo em direção à completa c
onsolidação da Sociologia do
Conhecimento somente pode ser atingida no instante
em que a dimensão particular da
ideologia é ultrapassada em vista da apreensão do e
lemento que sustenta e germina as
ideologias parciais. Reconhece Mannheim que se todo
pensamento é a manifestação da
condição social do seu portador – seja ele o indiví
duo ou o grupo –, então a questão a ser
proposta por uma ciência enquanto investigadora do
pensamento de base existencial, como
é o caso da Sociologia do Conhecimento, deve explic
itar a realidade social como um todo.
Em paralelo a isso, a realidade social somente pode
ser expressa em sua totalidade
no momento em que o próprio enunciador possa reconh
ecer no seu enunciado apenas um
dos inúmeros pontos-de-vista possíveis. Desse modo,
a contribuição da ideologia para a
fundamentação da abordagem sociológica ocorre na au
sência de hierarquização entre os
distintos posicionamentos dentro de um contexto soc
ial, tornando necessária a aplicação de
um mecanismo compreensivo em que todas as partes po
ssam ser elucidadas na sua relação
com a estrutura mental coletiva.
A Sociologia do Conhecimento não critica o pensamen
to ao nível das
próprias afirmativas, que podem envolver enganos e
disfarces, mas as
examina ao nível estrutural ou noológico, que vê nã
o como sendo
necessariamente o mesmo para todos os homens, mas,
ao contrário, como
permitindo que um mesmo objeto assuma diferentes fo
rmas e aspectos no
decurso do desenvolvimento social (Mannheim, 1976:
288)
A recolocação feita por Mannheim do pressuposto da
Sociologia do Conhecimento
descoberto por Marx exige que a noção de ideologia
seja entendida em dois aspectos. No
primeiro deles é tão somente um dado da realidade s
ocial, aparece multifacetada e recebe
inúmeras variações. Este aspecto Mannheim denomina
de nível particular de ideologia, o
qual está fundido nas percepções particulares dos i
ndivíduos que, por sua vez, retiram do
convívio com os grupos o seu conteúdo. Uma análise
sociológica direcionada a este nível
da ideologia é incompleta, pois tende a apreender s
omente os traços não estruturados do
pensamento social.
No segundo nível de manifestação a ideologia se dá
de forma completa (
Ideologia
Total
,
Weltanschauung
,
nível Noológico
), condensando em sua amplitude os traços
manifestados pela dimensão psicológica dos indivídu
os e, para além destes, revela a
essência do processo social. No entanto, para que e
ssa dimensão da ideologia seja
apreendida faz-se necessário a revisão radical da e
pistemologia moderna e dos aparatos
metodológicos de investigação. Em se tratando de um
a abordagem empírica é preciso ter
clareza quanto a dois passos: 1) os conteúdos parci
ais que são manifestados pelo
pensamento, como os interesses particulares dos ind
ivíduos e/ou dos grupos, são respostas
ou reações apresentadas diante de uma concepção de
mundo divergente. No tocante a uma
situação deste tipo, o sociólogo do conhecimento re
quer uma análise relacional para sua
pesquisa com o intuito de estabelecer a base comum
aos dois lados da disputa; 2) por outro
lado, tal análise somente é viável quando a correla
ção entre o pensamento manifestado e
sua base existencial tiver sido suficientemente est
abelecida. Assim, a passagem da
apreensão particular para a total da ideologia nece
ssita também da particularização dos
pontos-de-vista em questão.
Diante disso, a crítica ao posicionamento marxiano
frente à questão da ideologia é
retomada por Mannheim, tendo em vista que ao atribu
ir a ideologia a uma classe em
específico e, ao mesmo tempo, carregá-la de um aspe
cto moral, construiu-se um obstáculo
para sua abordagem de um modo compreensivo. A passa
gem do nível particular para o
nível total foi interrompida no instante em que ape
nas uma classe pôde ser a portadora da
“verdadeira” visão de mundo.
Considerações Finais
Este trabalho procurou permanecer no âmbito da discussão epistemológica
desenvolvida por Mannheim. Assim, a pretensão mante
ve-se distante de avaliar em que
medida a influência de Marx aparece no pensamento d
o autor em outros níveis para além
do debate acerca das bases da Sociologia do Conheci
mento. Por outro lado, o percurso
escolhido permaneceu distante das demais influência
s recebidas por Mannheim, como é o
caso da corrente fenomenológica assimilada via Max
Scheler. Isto se explica pelo fato de
que observar a presença de Marx na confecção teóric
a sugerida por Mannheim guarda uma
singularidade em vista de análises sobre outras pos
síveis contribuições, uma vez que a
postura mannheimiana não somente apresenta, mas rec
oloca a tese adotada.
Ao final do texto ficamos com uma visão geral do su
rgimento da noção de
ideologia em face às questões teóricas levantadas p
elo pensamento moderno e, ao mesmo
tempo, do reflexo do desdobramento dessa noção para
dentro do horizonte das Ciências
Sociais. Assim, observar a teoria marxista através
da perspectiva mannheimiana é também
constatar suas mutações no decurso da história, des
embocando em parte na sua revalidação
e em parte na readequação aos novos desafios a sere
m problematizados.
Referências Bibliográficas
HABERMAS, J.
Conhecimento e Interesse
. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987.
___________.
O Discurso Filosófico da Modernidade
. Lisboa: Dom Quixote, 1990.
HOBSBAWM, E. J.
Era das Revoluções
. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
HORKHEIMER, Max.
Eclipse da razão
. Rio de Janeiro: Labor, 1976.

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Surgimento da sociologia

  • 1. Surgimento Disciplina relativamente nova. Surgiu como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico intenta cobrir uma nova área do conhecimento humano ainda não incorporada ao saber científico, qual seja, o mundo social. Reinaldo Dias (2005, p. 3)diz que a sociologia surgiu seguramente no século XIX como decorrência da necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais que estavam aparecendo. Enquanto ciência, a sociologia tinha o objetivo de sistematizar o estudo dos fenômenos sociais em busca de resolução aos problemas sociais. Os sociólogos buscam compreender as diferentes interações entre as pessoas para que possam estabelecer relações de causa e efeito dos diferentes fenômenos sociais e “assim indicar para as organizações públicas e privadas maneiras de atender às necessidades dos indivíduos, buscar os seus direitos, estabelecer os seus deveres ou o que quer que seja para a humanidade como um todo avance em busca de melhor qualidade de vida” (DIAS, idem). Augusto Comte (positivista2): “as sociedades estavam em estado de caos social, era necessário restabelecer a ordem nas idéias e nos conhecimentos”. Comte estabeleceu as bases iniciais do que seria uma ciência social, abriu perspectivas para um novo campo de pesquisa científica o qual se ocupou dos fenômenos sociais. Surgimento da Sociologia: mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica (Revolução Industrial) iniciada no século XVIII. Influência também da Revolução Francesa de 1789. Esse surgimento ocorre num contexto histórico específico: nos derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista. (MARTINS, 2007, p. 10). Mudanças profundas no campo social. As relações entre as pessoas de uma realidade rural (relações pouco complexas) passam a sofrer modificações em função das novas estruturas sociais que se desenvolveram em torno de uma nova realidade industrial complexa. “(...) em cerca de cem anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais (...). Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas, a lojinha do artífice pela fábrica. (...) Os aldeãos, como as suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era (...), enquanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente”.(HENDERSON apud DIAS, 2005, p. 15). Principais características da Revolução Industrial: 1. Transformação da economia inglesa, que passou de predominantemente agrária a uma economia industrial.
  • 2. 1. Relação patrão x empregado; homem x máquina. Com o advento da Revolução Industrial, surgem novos papéis sociais, principalmente o empresário capitalista e o de operário. Com a consolidação industrial se configura um ‘mercado de trabalho’, no qual se vendem as ‘capacidades de trabalho’ (na linguagem de Marx, a alienação da força de trabalho). Os novos trabalhadores industriais têm que empregar disciplinadamente3 sua força laboral em benefício dos detentores dos meios-de-produção, do local de trabalho, do maquinário e da matéria-prima (os capitalistas). “o empresário capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social” (MARTINS, 2007, p. 12). Em decorrência da rápida urbanização, é provocado o aumento de problemas sociais, como ausências de moradia, miséria, precariedade de serviços sanitários e de saúde, prostituição, alcoolismo, suicídios, infanticídios, surtos de violências e de epidemias (cólera, tifo) entre outros. Características fundamentais das novas formas de organização social: 1. Substituição progressiva do trabalho humano por máquinas 1. A divisão do trabalho e a necessidade de sua coordenação (que resulta no empobrecimento intelectual do empregado e não do aumento da habilidade individual). 1. Mudanças culturais no trabalho (problemas na gestão do fator humano – imposição de disciplina rígida e articulação dos indivíduos isolados); 1. Produção de bens em grande quantidade; 1. Surgimento de novos papéis sociais (empresário X operário). Agora os trabalhadores não vendiam mais os seus produtos, mas sua ‘capacidade de trabalho’4. - Surgimento do proletariado: Um dos pontos mais significativos dos anos que se seguiram a este estado de coisas foi o surgimento do proletariado, que desempenha um papel histórico essencial ao desenvolvimento da sociedade capitalista. Os trabalhadores começam a negar suas condições de vida. Passam a se revoltar e destruir máquinas, sabotar oficinas, cometer roubos e crimes, evoluindo para as associações livres, criação de sindicatos, etc. A classe operária começou a organizar-se.
  • 3. - Todos esses eventos de impacto social profundo colocaram a sociedade num plano de análise. A sociedade passa a se constituir em “problema”, em “objeto” a ser analisado. Os primeiros homens que se preocuparam com essas transformações não eram homens da ciência (ainda), mas homens que, pela ação, queriam empreender uma mudança (no século XVIII para o XIV: Owen, Willian Thompson, Jeremy Bentham, por exemplos). A sociologia surge como constituição de um saber sobre a sociedade, ela constitui uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial. - Mudança no pensamento: Não só as transformações sociais foram importantes no surgimento da sociologia, mas também uma mudança no pensamento: Renúncia a uma visão sobrenatural para explicar os fatos, substituindo-a por uma indagação racional. Há modificações na forma de se conhecer a natureza e a cultura. A experimentação e o método científico são aplicados para o conhecimento da natureza (domínio racional da natureza). O progresso nesse campo é intenso, desde Copérnico a Newton. A crença cede lugar à dúvida metódica a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. Esse conhecimento deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Passa- se a buscar leis gerais sobre a sociedade, campo em que deveriam serevitadas conjecturas e especulações (Ferguson apud Martins, 2007, p. 19). O método é o empírico e indutivo (baseado no método das ciências da natureza). Compreensão de uma lógica do processo histórico (Vico, Hegel, Marx). Alie-se a esses fatos que o iluminismo e a revolução burguesa (1789) questionavam as instituições da época denunciando-as injustas e irracionais, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem. Surge uma crescente racionalização da vida social. As instituições começam a ser vistas como produtos da atividade do próprio homem, e não fenômenos sagrados e imutáveis. Sendo produtos do homem, elas podem ser transformadas com a ajuda da filosofia e da sociologia (Marx). A partir da terceira década do século XIX intensificam-se as crises econômicas e as lutas de classe na sociedade francesa. A burguesia, já no poder, começa a utilizar as instituições estatais para conter o movimento social e a “desordem”. Tornam-se evidentes os motivos da revolução burguesa (em prol da burguesia, que se torna elite). A Revolução segue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições e muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a
  • 4. estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus; quando essa mesma Revolução expande-se rapidamente por toda a parte com procedimentos desconhecidos, novas táticas, máximas mortíferas, poder espantoso que derruba as barreiras dos impérios, quebra coroas esmaga povos e – coisa estranha – chega ao mesmo tempo ganhá-los para a sua causa; à medida que todas as coisas explodem o ponto de vista muda. O que à primeira vista parecia aos príncipes da Europa e aos estadistas um acidente comum na vida dos povos, tornou-se um fato novo, tão contrário a tudo que aconteceu antes no mundo e no entanto tão geral, tão monstruoso, tão incompreensível que, ao apercebê-lo, o espírito fica como que perdido (Alexis de Tocqueville apud Martins, 2007 p. 24-26). Passada a revolução, alguns pensadores franceses como Durkheim e Comte começam a fomentar uma ciência social ao buscar entender a nova realidade provocada pela revolução. Esses pensadores nutriam certo rancor pela revolução, principalmente pelos seus falsos dogmas (liberdade, igualdade e importância do indivíduo em face das instituições sociais). Esses primeiros teóricos começam a utilizar os termos “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem” para julgar aquele estado de coisas. Os novos teóricos propõem racionalizar a nova ordem e encontrar soluções. Para tanto era necessário conhecer as “leis” (científicas) que regem os fatos sociais. Saint-Simon: “a filosofia do último século foi revolucionária; a do século XX deve ser reorganizadora” (apud Martins, 2007, p. 28). Auguste Comte: “a nova teoria positiva da sociedade deve ensinar os homens a aceitar a ordem (industrial) existente, deixando de lado sua negação” (idem). - A sociologia, nova ciência da sociedade, surge com fins e interesses práticos. A nova ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família5, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. Mas, no início, a sociologia surge tentando instaurar um estado de equilíbrio, pregando a ordem e a obediência (como a defesa do papel chefe de família por Le Play). A sociologia revestiu-se de indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade. Comte intentava atribuir o status de ciência natural à sociologia, inclusive separando-a, por seu objeto, da filosofia e da economia: Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se o ponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim dizer, como objetivo real descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a esses dados fundamentais, a fim de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises mais ou menos graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi
  • 5. previsto. Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação. (apud Martins, 2007 p. 32). - A sociologia só se liga ao socialismo e ao comunismo posteriormente. À época de Comte se pretendia colocar em questão os fundamentos da sociedade capitalista por intermédio de um estudo por uma ciência positivista. 1.2 O Positivismo - O positivismo foi uma reação intelectual conservadora às transformações desencadeadas pela Revolução Francesa e Industrial, transformações que não eram previstas pelos filósofos e intelectuais (urbanização, miséria, suicídio, epidemias, etc.). - Esses conservadores construíram suas obras contra a herança iluminista que, na visão de Auguste Comte, só fazia criticar as velhas instituições sociais (negativismo). O Positivismo tinha a intenção de construir (positiva, portanto) uma nova coesão social, uma nova sociedade saudável sob o solo de instituições fortes como a família, a religião e o grupo social. - Não obstante, antes de se falar propriamente dos positivistas, é mister mencionar os críticos pioneiros aos revolucionários, os pensadores conhecidos como profetas do passado. - Os conservadores que foram chamados profetas do passado construíram suas obras contra a herança dos filósofos iluministas. A inspiração desses “profetas” era a sociedade feudal, com sua estabilidade e acentuada hierarquia social (não defendiam propriamente o capitalismo por sua faceta industrial e financeira). - Responsabilizavam os iluministas e suas idéias como desencadeadores da Revolução de 1789 (um castigo de Deus à humanidade, segundo tais conservadores). - Os conservadores, defensores fervorosos das instituições religiosas, monárquicas e aristocráticas, que se encontravam em processo de desmoronamento, consideravam as crenças iluministas como aniquiladoras da propriedade, da autoridade, da religião e da própria vida. Julgavam a época moderna era dominada pelo caos social. A Revolução de 1789 era o último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a Reforma Protestante e a era da razão. - Exemplos desses pensadores: Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754- 1821), Louis de Bonald (1754-1840). - Pois bem. Estes profetas do passado, conservadores, constituíram um ponto de referência para os pioneiros da sociologia, interessados na preservação da nova ordem econômica e política que estava sendo implantada na Europa daquela época. - Mas estes pioneiros adaptaram as concepções dos profetas do passado às novas circunstâncias históricas. Não era possível o retorno à sociedade feudal e a restauração de suas instituições. Mas o que encantava os pensadores pioneiros da sociologia era a devoção daqueles “profetas” na tentativa de manutenção da ordem.
  • 6. - Os primeiros positivistas, Sait-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-1917), revisaram algumas das idéias conservadoras e as adaptaram na tentativa de alcançar meios de manutenção da ordem na nova sociedade, defendendo os interesses dominantes da sociedade capitalista (Martins, 2007 p. 40). - Saint-Simon é considerado o mais eloqüente dos profetas da burguesia, um entusiasta da sociedade industrial. Para ele as relações sociais haviam se tornado instáveis e o problema a ser enfrentado era o da restauração da ordem. Via no industrialismo a possibilidade de satisfação das necessidade humanas e constituía a única fonte de riqueza e prosperidade. - A função do pensamento social neste contexto deveria ser a de orientar a industria e a produção. Os fundamentos da reflexão sociológica a partir da problematização do mundo social . Para alguns, a Sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes; para outros, é a expressão teórica dos movimentos revolucionários. Mas afinal, o que é Sociologia ? A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos. Pondo-se de lado alguns trabalhos precursores, como os de Maquiavel ( Itália em Florença, 1469 - 1527) e Montesquieu ( França em Bordéus, 1689 - 1755), o estudo científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados do século XIX. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências naturais. Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho metodológico apontado por Galileu ( Itália em Pisa, 1564 - 1642) e outros, alguns pensadores que procuravam conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmando a peculiaridade do fato humano e a conseqüente necessidade de uma metodologia própria. Essa metodologia deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais e um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria experiência humana ( interna ). De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia distinguir uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências exatas partiriam da observação sensível e seriam experimentais, procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à formulação de leis de caráter matemático. As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não
  • 7. generalidades de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito. Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental entre as ciências exatas e as ciências humanas) tinham suas origens sobretudo na tradição empirista inglesa que remonta a Francis Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561 – 1626 ) e encontrou expressão em David Hume ( Escócia em Edimburgo, 1711 – 1776 ), nos utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte ( França, 1798 – 1857 ) e Émile Durkheim ( França, 1858 – 1917 ), este considerado por muitos como o fundador da sociologia como disciplina científica. Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram sobretudo os alemães, vinculados ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel ( Alemanha em Esturgarda, 1770 – 1831 ) e Schleiermacher ( Polônia em Breslau, 1768 – 1834 ). Os principais representantes dessa orientação foram os neokantianos Wilhelm Dilthey ( Alemanha em Briebrich, Renânia, 1833 – 1911 ), Wilhelm Windelband ( Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e Heinrich Rickert ( Alemanha em Danzig, 1863 – 1936 ). Dilthey estabeleceu uma distinção que fez fortuna: entre explicação (erklären) e compreensão (verstehen). O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido. Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência do investigador, e poderiam ser empaticamente apreendidos por outros em interação com ele conforme a vivência de cada um. Dilthey (como Windelband e Rickert), contudo, foi sobretudo filósofo e historiador e não, propriamente, cientista social, no sentido que a expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método da compreensão ao estudo de fatos humanos particulares, constituindo diversas disciplinas compreensivas. Na sociologia, a tarefa ficaria reservada a Max Weber. Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a Antigüidade, para entender a sociedade e o seu desenvolvimento, a Sociologia poderia ser considerada a mais velha de todas as ciências, e a mais acolhedora. Tanto que hoje em dia praticamente todo mundo é “sociólogo” — “porque todos estamos sempre analisando os nossos comportamentos e as nossas experiências interpessoais”1 —, pois, até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da sociedade, as forças que conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as origens da família, as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas políticos, a função das ideologias e das religiões etc. Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos os veneráveis santos Agostinho (Tagasta, Numídia ao norte da África, 354 – 430 ) e Tomás de Aquino ( Campânia no sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre Antônio Vieira (Portugal em Lisboa, 1608 - 1697), que interpretavam a realidade social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja Católica, bem como os notáveis lbn Khaldun, historiador islâmico ( Tunísia, 1332 – 1406 ) e Maquiavel, que criticavam toda interpretação teológica da sociedade.
  • 8. Ibn Khaldun, é um precursor das ciências sociais e é reconhecido como o historiador principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo árabe de então dominava também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa do leste. É considerado como hispânico-árabe pois sua família foi uma das principais e mais antigas de Sevilha, embora tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era diplomata e estadista, professor nas instituições precursoras do que hoje associamos a idéia de universidade e magistratura. Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que trata do mundo árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma teoria da história e do seu método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que segundo alguns, como Arnold Toynbee ( Inglaterra, 1889 – 1975 ) , «desarrolla una filosofía de la historia que es sin duda lo más grandioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais do que um tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analítico sobre o fenômeno social que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua história é um tratado geral da Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o que hoje chamamos de Ciência Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educação e conhecimento. Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou “asabiyah”, ou coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social que surge espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e institucionalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruído ou debilitado pela decadência. Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político, econômico, legal e moral. Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou “im al umran”, ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto de estudo, ou seja, a sociedade humana, com seus problemas e suas mudanças que se sucedem conforme essa natureza própria da sociedade”. ( traduzido do artigo original em espanhol ) Porém, a trajetória da Sociologia no Ocidente, só começa a ser delineada com o movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo ( Inglaterra, Holanda e França, 1590 - séc XVII e XVIII ), que exerceu enorme influência no século XVIII, propondo reformas no interesse das classes privilegiadas ( elite ), conforme leis que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução Industrial ( Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a vapor - séc. XVIII em diante ). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e a queda do Antigo Regime (regime político vigente na França até a Rev. Francesa ), a Sociologia adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de ciência ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos, grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a integração dos sistemas sociais. Revolução Século / Ano Esfera de atuação e impacto Iluminismo a partir de 1590, séc. XVII – XVIII ideológica
  • 9. Industrial segunda metade do séc. XVIII ( 1750 ) econômica Francesa segunda metade do séc. XVIII ( 1789 ) política Nesse sentido, a Sociologia é um fenômeno estrito e uma ciência, característica da sociedade moderna. O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social. O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do capitalismo, desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo da indústria capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade passasse a se constituir em "problema". Diante disso, pensadores ingleses da época procuraram extrair dessas novas situações temas para a análise e a reflexão, no objetivo de agir, tanto para manter como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Isto foi fundamental para a formação e a constituição de um saber sobre a sociedade. Outra circunstância que também influenciou e contribui para a formação da sociologia se deve às transformações ocorridas nas formas de pensamento, originadas pelo Iluminismo. As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão. O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Essas novas maneiras de produzir e viver, propiciaram um visível progresso das formas de pensar e contribuíram para afastar interpretações baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo conseqüentemente um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais. Esta crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade humana, passíveis de serem conhecidos e transformados. A revolução francesa contribuiu para o surgimento da sociologia na medida em que o objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a
  • 10. Igreja. Tais atitudes ocasionaram profundos impactos, causando espanto aos pensadores da época e à própria burguesia, já instalada no poder. Diante disso, esses pensadores se incumbem à tarefa de racionalizar a nova ordem e encontrar soluções para o estado de "desorganização" então existente. Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da sociedade. Assim, pensadores positivistas da época concluíram que, para restabelecer a organização e o aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova ciência. Essa nova ciência assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social, ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. A oficialização da sociologia foi, portanto, em larga medida, uma criação do positivismo que procurará realizar a legitimação intelectual do novo regime. Foram as idéias desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história humana, que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje temos como CONHECIMENTO em todas as áreas da vida. A Sociologia foi o resultado da união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do mundo. Alguns se conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando outros, até formar o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade ou Sociologia. Destes tantos, quatro pensadores foram responsáveis por estruturar os fundamentos da Sociologia possibilitando criar três linhas mestras explicativas, fundadas por eles e aos quais iremos estudar com mais profundidade: 1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comtee seu principal expoente clássico Émile Durkheim( França, 1858 – 1917 ), de fundamentação analítica; 2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber( Alemanha, 1864 – 1920 ), de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e 3) a Sociologia dialética, iniciada por Karl Marx( Inglaterra, 1818 – 1883 ) que mesmo não sendo um sociológo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica. Teórico Princípios Teóricos Auguste Comte Positivismo Émile Durkheim Fato Social, Consciência coletiva, Anomia Max Weber Ação Social Karl Marx Modo de produção, mais-valia, acumulação primitiva, alienação, materialismo histórico, ideologia, luta de classes, materialismo dialético Como fazer ciência ? Com OBJETO e MÉTODO
  • 11. Parte II – os Clássicos da Sociologia Auguste Comte O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. Ele achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo. Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos : em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva. Finalmente, uma sociologia que, determinando a estrutura e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das instituições. A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna. O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o precisoem oposição ao vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo. Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados, cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em descrever como o fenômeno da queda ocorre. Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo. Características do Positivismo A realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos fenômenos se dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas relações entre os fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis invariáveis. Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras
  • 12. abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano. Lei dos Três Estados - características Estado Teológico Estado Metafísico Estado Positivo - tudo tem origem no sobrenatural- época dos sacerdotes e militares- domínio da organização militar - tudo tem origem na razão, na natureza e em forças misteriosas|- época jurídica- prevalece a organização jurídica - ciência substitui a razão, natureza e forças misteriosas- época industrial- predomínio do intelectual, principalmente o sociólogo|- a economia se junta à sociologia para, juntas, guiarem os destinos da organização social Comte tentou também uma classificação das ciências; baseada na hipótese que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos. Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da sociologia. De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a ciência. Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais. ESTUDO DA ESTÁTICA SOCIAL = ORDEM O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social. A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são famílias e não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade social por ser a associação mais espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educação moral e constitui a base natural da organização política. A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como características principais:  subordinação - subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos aos pais
  • 13.  união - a família é possível graças a união de seus membros  cooperação - a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação  altruísmo - o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e para o outro. Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo e que se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo. Não há sociedade sem governo, nem governo sem sociedade. O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize. Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem. Essa é a intervenção do "conjunto sobre as partes". As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral. A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de esforços. ESTUDO DA DINÂMICA SOCIAL = PROGRESSO Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro. Não há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá quando for ultrapassada a sua etapa metafísica. Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a para o inevitável caminho da decadência final. No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase provisória, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural. A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os agentes sobrenaturais são substituídos por força abstratas, entendidas como seres do mundo. A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade, quando o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim como sobre as causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis de sucessão e semelhança. Estuda- se as leis a abandona-se a pesquisa das causas. Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso, que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político. Toda ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá permitir as consolidação da ordem.
  • 14. Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do altruísmo e da harmonia social. COMO SURGIU A SOCIOLOGIA? A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo. O século XVIII foi marcado por transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo "objeto" de estudo. Essa situação foi gerada pelas revoluções industrial e francesa, que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e violência, a formação do proletariado, etc. Essas novas existências vão, paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e científico, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. Na Revolução Francesa, encontra-se filósofos a fim de transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde que esses eram falsos dogmas. Esse cenário leva à constituição de um estudo científico da sociedade. Contra a revolução, pensadores tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem, conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma "física social", criada por Comte, "pai da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipa-la como disciplina científica. Foi dentro desse contexto que surgiu a sociologia, ciência que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como "objeto de estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Conte e Émile Durkheim.
  • 15. (AUGUSTO COMTE, O CRIADOR DA SOCIOLOGIA) O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA Podemos entender a Sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. O século XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para o surgimento da Sociologia. A dupla revolução que este século testemunha. – A industrial e a francesa – constituía os dois lados de um mesmo processo, qual seja a instalação definitiva da sociedade capitalista. Na Revolução industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. A cada avanço com relação á consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social. A utilização da máquina na produção não apenas destruiu o artesão independente. Este foi também submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por ele. A formação de uma sociedade que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente implicava a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal, etc. A transformação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade, assim como engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas. A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesões independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, teve um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi car radicalmente suas formas habituais de vida. As desaparições dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modifi carradicalmente suas formas habituais de vida. Estas transformações, incluindo as cidades, passavam por um vertiginoso crescimento demográfi co, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários, de saúde. As conseqüências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento da prostituição, do suicídio, de surtos de epidemia de tifo e cólera. Um dos fatos de maior importância relacionados com a revolução industrial é sem dúvida o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia. Os efeitos catastróficos que esta revolução acarretava para a classe trabalhadora levaramna a negar suas condições e vida. As manifestações atravessam várias fases:destruição as máquinas, atos de sabotagem, roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, etc. A conseqüência desta crescente organização foi a de que os “pobres” deixaram de se confrontar com os “ricos”; mas uma classe específi ca, a classe operária, começava a
  • 16. organizar-se. Qual a importância desses acontecimentos para a sociologia? O que merece ser salientado é que a profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de análise, ou seja, Visto que na nascente sociedade industrial produziria fenômenos inteiramente novos que mereciam serem analisados. A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual ás novas situações colocadas pela revolução industrial. É a formação de uma estrutura social muito específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma reflexão sobre a sociedade. O pensamento paulatinamente vai renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos e substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da experimentação, ou seja, do método científi co para a explicação da natureza, conhecia uma fase grandes avanços. O emprego sistemático da observação e da experimentação como fonte para a exploração dos fenômenos da natureza estava possibilitando uma grande acumulação de tatos. Possibilitando controlar e dominar. Outro fator para o surgimento da sociologia foi dada pelas modifi cações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento. Assim como abriu um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos históricos sociais. Nesse caso, o “homem comum” também deixava, cada vez mais, de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e passando a percebê-las como produtos da atividade humana. Nesse período segue-se a tomada do poder pela burguesia, 1789, a tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, encontrando soluções para o estado de “desorganização” então existente. Mas para restabelecer a “ordem e a paz”, pois é a esta missão que esses pensadores se entregam, para encontrar um estado de equilíbrio na nova sociedade, seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo, portanto uma ciência da sociedade. A verdade é que a burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com a própria revolução (por exemplo, os jacobinos).Seria necessário controlar e neutralizar novos levantes revolucionários. Assim, o projeto revolucionário da burguesia, deveria de agora em diante ser “superada”por uma outra que conduzisse não mais à revolução, mas à “organização”, ao “aperfeiçoamento” da sociedade. Determinados pensados da época estavam imbuídos da crença de que para introduzir uma “higiene” na sociedade, para “reorganizá-la”, seria necessário fundar uma nova ciência. Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que segundo eles desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social. ATIVIDADES QUESTÃO 01 01. “A Sociologia é a ciência é dos problemas sociais que emergem com a chegada do século XVIII. Que tem um marco econômico e outro político e social”. TELES, Mª Luiza. Sociologia para Jovens. Petropólis – RJ, Ed. Vozes: 2002. Sobre os aspectos que determinam o surgimento da sociologia é correto afirma que: a) O renascimento Comercial e Urbano, assim com, a ascenção das monarquias absolutistas determinou o surgimento das ciências sociais. b) Com a revolução Francesa e a Revolução Industrial a Europa passa por grandes transformações sociais, políticas e econômicas que determinam o surgimento da Sociologia. c) É a partir da desagregação feudal e da consequênte consolidação do trabalho servil que
  • 17. a sociologia passa a ter seus fundamentos estabelecidos. d) A partir da consolidação do modo de produção feudal a Sociologia passa a ser todos os fundamentos necessários para se organizar sistematicamente como ciência. e) É somente com a revolução Francesa que a sociedade européia passa a ter a consolidação do poder nobiliárquico e o surgimento da sociologia. QUESTÃO 02 02. Nos séc. XV e XVI o conhecimento racional do universo e da dos homens em sociedade começa a ser uma regra seguida; é uma mudança lenta, sempre enfrentando embates contra o dogmatismo e a autoridade da igreja, criando uma nova atitude diante das possibilidades de explicar a sociedade humana”. Essas formas de conhecer a sociedade eram fundamentadas: a) O homem não deveria questionar sobre a sua realidade social, suas mazelas, visto que era a natureza das coisas, somente. b) A irracionalidade e a busca do pensamento religioso explicaria a realidade. c) A desigualdade social seria apenas fruto da vontade divina. d) a experimentação e a observação, como fundamentos para compreender as leis da natureza e da sociedade. e) O universo teria que se visto apenas de um ponto de vista, apoiado na racionalidade. QUESTÃO 03 03. Selecione as afirmativas que Indicam o contexto histórico, social e filosófico que possibilitou a gênese da sociologia. I. A sociologia é um produto das revoluções francesa e industrial e foi uma resposta as novas situações colocadas por estas revoluções. II. O pensamento filosófico dos séculos XVII e XVIII contribuiu para popularizar os avanços científicos, sendo a teologia a forma norteadora desse pensamento. III. A formação de uma sociedade, que se industrializava e urbanizava em ritmo crescente, propiciou o fortalecimento da servidão e da família patriarcal. Assinale a alternativa correta. a) apenas I, II b) todas I, II e III c) apenas II e III d) apenas I QUESTÃO 04 04. Sobre o surgimento da Sociologia, podemos firmar que: I. A consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos que serviram de base para o surgimento da sociologia como ciência particular. II. O homem passou ser a visto, do ponto de vista sociológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos grupos sociais que a constituem. III. Aquilo que a sociologia estuda constitui-se historicamente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade. IV. Interessa para a sociologia não os indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes sociais etc. a) II e III estão corretas. b) Todas as afirmativas estão corretas. c) I e IV estão corretas. d) I, III e IV estão corretas. e) II, III e IV estão corretas. QUESTÃO 05
  • 18. 05. Assinale a alternativa correta. O surgimento da sociologia foi propiciado pela necessidade de: a) Manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal. b) Manter uma estrutura de pensamento mítica para a aplicação do mundo. c) Condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses. d) Considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de força transcendentais. e) Observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenômenos sociais O lugar e o limite da contribuição de Karl Marx par a a Sociologia do Conhecimento na perspectiva de Karl Mannheim DEFFACCI, Fabricio.A. 1 CEPÊDA, Vera.A. 2 Introdução O sociólogo alemão Karl Mannheim (1894-1947) é freq üentemente citado como idealizador da Sociologia do Conhecimento e por extensão pela apresentação de uma nova metodologia de interpretação dos fenômenos sociais. Em sua maioria estas referências destacam traços gerais de sua obra e poucos estudos trabalham com a totalidade do pensamento mannheiniano que se multiplica em várias direções (epistemologia, sociologia, política e educação), ou se aprofundam no papel que suas teses representaram na consolidação das ciências sociais, notadamente a so ciologia sistêmica. Nesta comunicação o objetivo é analisar especificamente parte importa nte dessa contribuição, a concepção de
  • 19. ontologia social (base epistemológica da Sociologia do Conhecimento ) e sua relação com a teoria marxista, em especial a determinação materia l do pensamento na configuração do tema da ideologia . Propomos em primeiro lugar estabelecer o percurso h istórico que permitiu a ruptura com o idealismo metafísico – des tacando o papel exercido pela publicação de A ideologia alemã e a ressonância dessa concepção na formulação de Mannheim; e em segundo lugar, analisar as caracterí sticas singulares da contribuição mannheiniana a este problema, utilizando como base Sociologia do Conhecimento (1925) e Ideologia e Utopia (1929). Um primeiro ponto a ser investigado (ou enunciado) ao se tratar da metodologia proposta pela sociologia do conhecimento deve ser o estudo de sua própria emergência no cenário histórico. Esta preocupação é central em Ma nnheim ao analisar o processo pelo qual teria ocorrido um descolamento tanto das conce pções apriorísticas do conhecimento (tomado como Verdade absoluta), como da multiplicaç ão dos focos produtores de ‘verdades’ concorrentes. Assim, sua análise reconst itui o percurso do pensamento moderno que, segundo ele, tem sua origem na gestação do Suj eito empreendida por Descartes e seu 1 Mestrando do programa de Ciências Sociais / UFSCar . 2 Docente do departamento de Ciências Sociais/ UFSCa r. respectivo declínio na crise resultante das crítica s à filosofia do sujeito no século XIX, dentre as quais destaca-se a crítica elaborada por Marx. Nessa direção, Marx ocupa na análise mannheimiana d ois momentos. No primeiro sua teoria estaria operando na direção oposta do pe nsamento moderno, fragmentando as bases do Iluminismo delineadas pela filosofia do su jeito; sendo este momento
  • 20. caracterizado pela desconstrução do racionalismo. O segundo momento traz a construção de um novo paradigma, mas agora não mais pelo viés do sujeito cognoscente e sim através do horizonte da história, o qual, conforme afirma M annheim, derivou da Filosofia da História descoberta por Hegel. Contudo, o fio de ligação entre os dois momentos e também o pilar de sustentação de uma contribuição inaugural à Sociologia do conhe cimento na teoria marxista é a noção de ideologia . Em meio a todos os argumentos pertinentes à críti ca feita por Marx em direção a noção de sujeito, o marco fundamental apa rece n’ A Ideologia Alemã , obra com conteúdo capaz de inverter a ordem explicativa da f ormação da consciência, constituindo um novo horizonte de sentido acerca do pensamento h umano. O enfoque neste ponto é sobre o papel revolucionário desta concepção marxis ta, tomando o conceito de ideologia como ferramenta de desconstrução e reconstrução do pensamento moderno e sua influência na posterior formulação de Mannheim (que sempre rec onheceu a presença na Sociologia do Conhecimento da tese de Marx, ainda que apontand o para seu aprofundamento e cinzelamento final). Descentralização do paradigma da consciência A capacidade racional do homem em decodificar as le is da natureza e com isso controlá-la foi elevada ao ápice a partir do século XVI, em especial quando Descartes fundamentou o racionalismo moderno. Na base desta c oncepção apareceu a noção de Sujeito, enquanto uma entidade metafísica autônoma e capaz de por si mesma atingir a verdade. Os recursos empregados pelo raciocínio car tesiano para promover a Razão ao topo da hierarquia das faculdades humanas também pr oporcionaram o afastamento das condições exteriores como a realidade social, por e xemplo, na determinação do
  • 21. pensamento humano. O pensamento adquiriu uma format ação auto-suficiente, bastando-lhe um processo de auto-experiência para alcançar as ve rdades com características universais. Este processo teria, segundo Mannheim 3 , sido impulsionado pela desintegração da estrutura de pensamento do mundo medieval, a qual e ra caracterizada por um estrato fechado de intelectuais capaz de recolher as difere ntes percepções da realidade e canalizá- las numa mesma direção. Paralelo a isso, a crise qu e atingiu tal estrato de intelectuais diante de uma sociedade em transformação nas suas n uances econômicas e políticas também ocasionou o aparecimento de modos de experiê ncia e pensamento divergentes, sem um centro de convergência em comum. Assim, o ra cionalismo cartesiano emerge como uma resposta a esse estrato livre de intelectu ais, sendo uma unidade para as concepções acerca da realidade que no momento apres entavam-se como multifacetadas. Este novo centro explicativo e ordenador da realida de, no instante em que proporciona um sentido englobante dos pontos de vis ta dispersos no pensamento da época também absorve as diferenças oriundas das várias ca madas da sociedade, que passam a ter espaço e voz na elevação de suas concepções particu lares, unificando-as no propósito único de defesa da Razão enquanto uma entidade abso luta capacitada a obter e controlar a natureza. A Razão humana associada a ascensão das c iências experimentais com finalidades práticas 4 tornou-se a referência para os diferentes estilos de pensamento da época, passando da condição de meio de apreensão da s verdades divinas para fim último na própria validação da realidade: o real é raciona l e vice-versa; sendo assim o paradigma que sustenta a modernidade num projeto de realizaçã o do homem no mundo por meio do progresso a ser alcançado com a ciência. Se por um lado a descoberta do mundo se dá na capac idade imanente ao próprio homem, sua realização passa agora a depender soment e dele. Esse circuito que tem como ponto de partida e também de chegada uma base puram
  • 22. ente antropocêntrica propicia a substituição do paradigma divino pelo paradigma da consciência humana, a qual é separada da dimensão moral para constituir-se, num primeiro momento, como suporte de uma nova dimensão ontológica e epistemológica. As i mplicações desse novo paradigma que abandonou as referências transcendentes, para a os poucos erigir uma visão de homem auto-suficiente no uso da razão, são encontradas no campo econômico, político e moral; o que converte o homem em indivíduo livre, proprietár io absoluto de seus bens materiais e capaz de prever/prover todos os seus julgamentos. 3 Mannheim (1976: .37; 41) e também Horkheimer (1976 ). 4 Cf. Hobsbawm (1979). No capítulo XV o autor discut e o surgimento dos procedimentos científicos da química em paralelo com as necessidades da industri alização no período, isso torna clara a noção de ciência com finalidade prática que utilizamos nesse ponto. Em traços gerais, a dissolução das particularidades no âmbito do pensamento em vista da consolidação hegemônica do paradigma da co nsciência neste período, representa segundo Mannheim a expressão de uma ideologia total 5 e, portanto, a primeira síntese alcançada pelo pensamento moderno após a crise da v isão de mundo medieval. Entretanto, a legitimidade desse novo modo de conceber a realid ade a partir da Razão consegue permanecer intacta até o momento em que os elemento s históricos apresentam-se com força suficiente para exigir uma outra via explicat iva, a qual passa a transcender os conteúdos puramente cognoscíveis e racionais. Durante o Iluminismo, o sujeito, enquanto portador da unidade da consciência, era visto como uma entidade totalmente abstrata, su pra-temporal e supra-social: ‘a consciência em si’. Durante este período, o volksgeist , o ‘ folk spirit’ vem a representar os elementos historicamente diferenciad os da consciência, que Hegel integra em um ‘espírito no mundo’. É evidente
  • 23. que a crescente concreção deste tipo de Filosofia resulta da preocupação mais imediata com as idéias surgidas da interação social e da incorporação de c orrentes histórico-políticas de pensamento ao domínio da Filosofia. (Mannheim, 1 976: 93) A Filosofia da História arquitetada por Hegel ao se propor a preservação da consciência e, ao mesmo tempo, absorver nela os con teúdos dinâmicos da dimensão histórica, abre a possibilidade de se pensar os ele mentos históricos como decisivos na constituição (realização) da realidade e, a partir disso, na formação da consciência e do pensamento humano. Nessa perspectiva, Hegel estaria dando início à passagem – mesmo que sua pretensão tenha sido evitá-la – para uma ou tra via crítica na modernidade, que não mais estaria preocupada somente em se afastar das e xplicações religiosas e transcendentes do mundo, mas sim em incorporar no horizonte da Raz ão a sua autocrítica e os elementos de cunho social que lhe foram renegados. Foi por co nta disso que o século XIX viu surgir no meio dos debates teóricos os pensadores da suspe ita 6 , foram eles que por primeiro denunciaram a fragilidade do projeto racionalista/i luminista centrado numa perspectiva inovadora – no que tange ao lugar do sujeito antrop ocêntrico – mas presos numa outra teia: a da estrutura ou elementos capazes de uma explicaç ão não contingente e caótica sob o impulso de uma maximização da volição humana. Dentr e tais pensadores, aparece como uma cunha que dá impulso à crise do pensamento mode rno a obra de Karl Marx. Isto se explica pelo fato de que a denúncia nela contida at inge a unidade que havia sido constituída através do pressuposto da Razão, a qual perde espaço dando lugar novamente a 5 , É possível detectar aqui uma similitude, neste pont o entre Mannheim e Weber na idéia de que a modernidade é mais que um conteúdo – é um modo ou u ma lógica de pensar e de orientar a ação humana que por extensão cristaliza estruturas (no caso de Webe r a idéia de cálculo racional). 6 Habermas (1990).
  • 24. duplicidade dos valores e interesses próprios do co ntorno social. Por um lado, essa denúncia está carregada da proposta de uma recoloca ção da visão de mundo e, por outro, traz consigo a adequação entre o pensamento e a exi stência, colocando as condições existenciais como bases para o próprio pensar. Em o utras palavras, essa denúncia pode ser entendia na noção de ideologia, de sorte que em sua concretização encontramos o fundamento da Sociologia do Conhecimento utilizado por Mannheim: a base material do pensamento. Da noção de ideologia para a Sociologia do Conhecim ento Entendido enquanto um mecanismo de recolocação onto lógica, a noção de ideologia descoberta por Marx passa a incorporar os elementos extra-teóricos na constituição do pensamento e, por conseguinte, na e strutura da consciência. “O primeiro pressuposto de toda a história humana é naturalment e a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fator a constatar é pois a organi zação corporal destes indivíduos e, por meio disto, sua relação dada com o resto da naturez a . ”(Marx & Engels, 1987: 27). A crítica erguida na perspectiva marxista destitui o estatuto do sujeito que pensa o mundo isolado do mesmo, tornado-se de fundamental importância para o próprio pensar a dimensão do “estar no mundo”, a qual é efetivada por meio da atividade sensível: o trabalho 7 . Apesar de Hegel ter enfocado o processo de constitu ição da consciência através do movimento da história, essa possível historicização ainda permaneceu no âmbito da realização da própria consciência e não dos indivíd uos concretos que ocupam a centralidade da via histórica em Marx. A partir des se momento o pensamento foi sendo separado das últimas demarcações estáticas que o ha viam determinado desde o racionalismo cartesiano e, ao mesmo tempo, submetid o às determinações do contexto histórico e social que viabilizou a transubstanciaç
  • 25. ão de sua natureza por meio da concepção de uma gênese dinâmica 8 . 7 O lugar do trabalho na antropologia filosófica de Marx é fundamental, constituindo o eixo da condição humana enquanto ato da própria ação hu m ana (o trabalho funda o homem: trabalhar é abstrair, planejar e intervir alterando um cenário que novamente será su perado pela condição dialética de evolução das forç as produtivas e que redesenhará as possibilidades da a ção humana). Mas na sua estrutura trabalho é civili zação pois se organiza enquanto ‘divisão social do trabal ho’, estabelecendo relações e normas societárias (d as condições materiais de produção para o reino sofist icado das relações sociais e políticas). 8 Mannheim. O Historicismo . In: Sociologia do Conhecimento (s/d). A crítica de Marx torna-se pontual ao apontar na co nfiguração da ideologia na Alemanha a separação promovida pelo idealismo entre o produto do pensamento e o meio material no qual o mesmo está inserido; uma vez que tornou a dimensão material um elemento da consciência e fez da ação dos homens um objeto abstrato. O rompimento com o idealismo só pode ser viabilizado pela restituiçã o dos indivíduos enquanto reais (concretos), mantendo relação uns com os outros em suas ações e em suas condições materiais de vida, percebidos por um processo não m ais abstrato, mas sim empírico. Nesta direção é possível apreender o modo de sua organiza ção e também a relação que mantêm com a natureza. Os pressupostos não são arbitrários, nem dogmas. Sã o pressupostos reais de que não se pode fazer abstração a não ser na imaginação . São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já encontradas, como as produzidas por sua própria açã
  • 26. o. Estes pressupostos são, pois, verificáveis por via puramente empírica. (Mar x & Engels, 1987: 26) Este pressuposto que abre o caminho para a noção de ideologia é resgatado da percepção de que os indivíduos existindo são atuant es, disponibilizam-se em face de suas necessidades e, portanto, pensam conforme tais nece ssidades se apresentam. Percebe-se, pois, que o pensamento enquanto um fenômeno forteme nte firmado pelo idealismo como anterior a qualquer outro elemento, torna-se neste momento secundário, sendo determinado por condições exteriores ao homem e, em grande medi da, pelas suas necessidades. Assim, evidenciado o fato de que o pensamento é decorrente da produção dos meios de sobrevivência, Marx sustenta a base material do pen samento, fragmentando a primazia adquirida pelo paradigma da consciência no idealism o. Na interpretação feita por Mannheim acerca da gesta ção e desenvolvimento da Sociologia do Conhecimento, este processo de descob erta e postulação da noção de ideologia representa a base de um momento constituí do por quatro etapas que ocasionou a mudança de enfoque teórico na modernidade 9 . Na primeira delas, o pensamento, que hegemonicamente era entendido em si mesmo, incorpor a o fracionamento advindo da dimensão social que o coloca para além do tratament o acadêmico/escolástico, enquadrando-o agora numa perspectiva existencial. T al fracionamento reflete a auto- relativização do pensamento e do conhecimento , uma vez que os critérios de sua validação estão determinados por elementos não apenas lógicos , mas sim existenciais. 9 Mannheim. O problema da Sociologia do Conhecimento In: Sociologia do Conhecimento (SD). A relativização do pensamento foi aprofundada com a descoberta de que os condicionantes sociais do próprio pensar permanecem ligados aos interesses particulares dos grupos no campo da disputa simbólica. Em outras
  • 27. palavras, grupos distintos expressam a realidade de maneira distinta e, por conseqüência , a hegemonia de um modo de pensar é também a sobreposição da visão de mundo de um grupo sobre o outro. Neste caso, a segunda etapa de desconstrução das bases teóricas d o pensamento moderno passa pela via do confronto político no âmbito do desmascaramento da mentalidade parcial de um grupo. As duas primeiras etapas garantem a sustentação de um terceiro passo, a saber, a autonomia da esfera social como um sistema de referência para entender a gêne se e o desenvolvimento do pensamento. Em vista disso, os f undamentos ontológicos da modernidade são definitivamente transportados do ca mpo da consciência para o contexto social, recebendo uma nova configuração a partir da introdução de uma perspectiva englobante e dinâmica da realidade . Tal perspectiva, caracterizada como sendo a quart a etapa, corresponde à proposta de vincular todas as idéias de uma época, embora fracionadas e conflitantes, numa única base: a real idade social ( Weltanschauung ). Apesar de identificar a correlação entre a dimensão social e o pensamento, a tese marxista da ideologia comportada um entrave que seg undo Mannheim não lhe proporcionou o avanço até a completa consolidação d a Sociologia do Conhecimento. Sendo assim, podemos encontrar em Marx somente o po stulado deste novo horizonte ontológico e epistemológico desenvolvido em meio a questões filosóficas e apropriado pelas Ciências Sociais. A Sociologia do Conhecimento surgiu realmente com M arx, cujas contribuições profundamente sugestivas atingiram o cerne da questão. Entretanto, em sua obra, a Sociologia do Conhecimen to é ainda indistinguível do desmascaramento das ideologias, v isto que, para ele, os estratos e classes sociais eram os portadores de id eologias (Mannheim,
  • 28. 1976: 329) A superação deste obstáculo em direção à completa c onsolidação da Sociologia do Conhecimento somente pode ser atingida no instante em que a dimensão particular da ideologia é ultrapassada em vista da apreensão do e lemento que sustenta e germina as ideologias parciais. Reconhece Mannheim que se todo pensamento é a manifestação da condição social do seu portador – seja ele o indiví duo ou o grupo –, então a questão a ser proposta por uma ciência enquanto investigadora do pensamento de base existencial, como é o caso da Sociologia do Conhecimento, deve explic itar a realidade social como um todo. Em paralelo a isso, a realidade social somente pode ser expressa em sua totalidade no momento em que o próprio enunciador possa reconh ecer no seu enunciado apenas um dos inúmeros pontos-de-vista possíveis. Desse modo, a contribuição da ideologia para a fundamentação da abordagem sociológica ocorre na au sência de hierarquização entre os distintos posicionamentos dentro de um contexto soc ial, tornando necessária a aplicação de um mecanismo compreensivo em que todas as partes po ssam ser elucidadas na sua relação com a estrutura mental coletiva. A Sociologia do Conhecimento não critica o pensamen to ao nível das próprias afirmativas, que podem envolver enganos e disfarces, mas as examina ao nível estrutural ou noológico, que vê nã o como sendo necessariamente o mesmo para todos os homens, mas, ao contrário, como permitindo que um mesmo objeto assuma diferentes fo rmas e aspectos no decurso do desenvolvimento social (Mannheim, 1976: 288) A recolocação feita por Mannheim do pressuposto da Sociologia do Conhecimento descoberto por Marx exige que a noção de ideologia seja entendida em dois aspectos. No primeiro deles é tão somente um dado da realidade s ocial, aparece multifacetada e recebe inúmeras variações. Este aspecto Mannheim denomina de nível particular de ideologia, o qual está fundido nas percepções particulares dos i ndivíduos que, por sua vez, retiram do convívio com os grupos o seu conteúdo. Uma análise
  • 29. sociológica direcionada a este nível da ideologia é incompleta, pois tende a apreender s omente os traços não estruturados do pensamento social. No segundo nível de manifestação a ideologia se dá de forma completa ( Ideologia Total , Weltanschauung , nível Noológico ), condensando em sua amplitude os traços manifestados pela dimensão psicológica dos indivídu os e, para além destes, revela a essência do processo social. No entanto, para que e ssa dimensão da ideologia seja apreendida faz-se necessário a revisão radical da e pistemologia moderna e dos aparatos metodológicos de investigação. Em se tratando de um a abordagem empírica é preciso ter clareza quanto a dois passos: 1) os conteúdos parci ais que são manifestados pelo pensamento, como os interesses particulares dos ind ivíduos e/ou dos grupos, são respostas ou reações apresentadas diante de uma concepção de mundo divergente. No tocante a uma situação deste tipo, o sociólogo do conhecimento re quer uma análise relacional para sua pesquisa com o intuito de estabelecer a base comum aos dois lados da disputa; 2) por outro lado, tal análise somente é viável quando a correla ção entre o pensamento manifestado e sua base existencial tiver sido suficientemente est abelecida. Assim, a passagem da apreensão particular para a total da ideologia nece ssita também da particularização dos pontos-de-vista em questão. Diante disso, a crítica ao posicionamento marxiano frente à questão da ideologia é retomada por Mannheim, tendo em vista que ao atribu ir a ideologia a uma classe em específico e, ao mesmo tempo, carregá-la de um aspe cto moral, construiu-se um obstáculo para sua abordagem de um modo compreensivo. A passa gem do nível particular para o nível total foi interrompida no instante em que ape nas uma classe pôde ser a portadora da “verdadeira” visão de mundo. Considerações Finais
  • 30. Este trabalho procurou permanecer no âmbito da discussão epistemológica desenvolvida por Mannheim. Assim, a pretensão mante ve-se distante de avaliar em que medida a influência de Marx aparece no pensamento d o autor em outros níveis para além do debate acerca das bases da Sociologia do Conheci mento. Por outro lado, o percurso escolhido permaneceu distante das demais influência s recebidas por Mannheim, como é o caso da corrente fenomenológica assimilada via Max Scheler. Isto se explica pelo fato de que observar a presença de Marx na confecção teóric a sugerida por Mannheim guarda uma singularidade em vista de análises sobre outras pos síveis contribuições, uma vez que a postura mannheimiana não somente apresenta, mas rec oloca a tese adotada. Ao final do texto ficamos com uma visão geral do su rgimento da noção de ideologia em face às questões teóricas levantadas p elo pensamento moderno e, ao mesmo tempo, do reflexo do desdobramento dessa noção para dentro do horizonte das Ciências Sociais. Assim, observar a teoria marxista através da perspectiva mannheimiana é também constatar suas mutações no decurso da história, des embocando em parte na sua revalidação e em parte na readequação aos novos desafios a sere m problematizados. Referências Bibliográficas HABERMAS, J. Conhecimento e Interesse . Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987. ___________. O Discurso Filosófico da Modernidade . Lisboa: Dom Quixote, 1990. HOBSBAWM, E. J. Era das Revoluções . 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão . Rio de Janeiro: Labor, 1976.