1. espiralboletim da associação FRATERNIT
TERNITAS
FRATERNITAS MOVIMENTO
N.º 27 - Abril / Junho de 2007
SERVIR E AMAR
« A espiritualidade e a teologia cristãs não po-
dem ser separadas. Deus as uniu num laço
indissolúvel. A liturgia reverencia e manifesta essa uni-
pequeno grupo jovem, a continuar a caminhada da
Fraternitas, inserido na vida e testemunhando a ale-
gria e a responsabilidade de famílias cristãs autênti-
dade vital. Ela nos transmite a “mente de Cristo”, a cas.
consciência que Jesus manifestou da Realidade Últi- Na última fragilidade da Fraternitas – a situação
ma como Abbá, o Deus da compaixão infinita, to- institucional – vamos descobrindo a força da nossa
talmente transcendente e totalmente preocupado com Fé, Esperança e Caridade para com todos os que
a condição humana. Se as pessoas que participam hesitam em nos abrir as janelas.
da liturgia têm uma preparação e uma compreen- Enfim, foi uma reflexão inovadora, criativa, com
são adequadas, essa experiência de Deus é transmi- ampla participação feminina, que mais uma vez nos
tida numa intensidade crescente.» (In T. Keating, O tornou conscientes da imensa riqueza humana, cultu-
Cristo).
Mistério de Cristo ral e espiritual da Fraternitas.
Foi assim o Encontro Nacional da Fraternitas, em Por vezes pensamos que seríamos bem proveito-
Fátima, de 27 a 29 de Abril, no qual a nossa Euca- sos para a Santa Mãe Igreja, que pede exaustiva-
ristia, prolongada pelo encontro fraterno e amigo do mente «operários para a sua messe». Mas vamos per-
almoço de despedida foi, como sempre, o ponto cebendo que a vocação dos nossos maridos sacer-
alto dos três dias de reflexão. dotes casados se realiza, cada vez mais, no caminho
O tema de reflexão «Fraternitas – fragilidade e certo que é a vocação para SERVIR, como Jesus tan-
força do nosso Movimento» foi oportuníssimo, e os to insistiu com os apóstolos, que até ao fim sonha-
textos distribuídos sobre os subtemas «As mulheres da ram com «cargos» e «primeiros lugares no Céu». Afi-
Fraternitas», «O nível etário da Fraternitas», e «A situa- nal, o sacerdócio é essencialmente para SERVIR os
ção institucional da Fraternitas» foram um óptimo es- irmãos, como tão bem disse o presidente da
tímulo para o diálogo. Diálogo sempre vivo e aceso Fraternitas, Vasco Fernandes.
entre irmãos e irmãs que livremente dizem o que pen- Encontramos a Fraternitas nos hospitais, nos ban-
sam e sentem porque sabem que estão numa Famí- cos alimentares, com os ciganos, os drogados, os
lia (com dez anos) e mesmo discordando uns dos idosos, animando liturgias dominicais, na formação
outros, todos são aceites e amados. de jovens, etc... Servir e Amar, na Fé e na Esperança
Começámos por descobrir a força das nossas fra- de um mundo melhor, é a nossa FORÇA.
gilidades, e será uma reflexão a continuar por todos Maria Humberta Santos
e cada um. Descobrimos a força da mulher, no ca-
sal, com a sua afectividade própria, e a força do
casal, com a especificidade de ele ser padre, viven- Sumário:
do e sentindo uma responsabilidade acrescida na Servir e amar 1
família, na sociedade e na Igreja, numa maior exi- Notícias breves 2
gência da espiritualidade, de vivência cristã e de tes-
temunho. Dossier: Encontro Nacional Fraternitas 3
O nível etário, avançado na maioria, também se Coincidências 7
pode tornar numa força, com mais tempo disponível
para tarefas de gratuidade para os outros, crescen- Catolicismo com forte humanismo 8
do na sabedoria e no amor. Isto, sem esquecer o Cristo, o maior socialista? 8
2. 2 espiral
NOTÍCIAS BREVES HUMANIDADE PODE ABOLIR A POBREZA
A pobreza deve ser abolida e declarada ilegal,
tal como aconteceu com a escravatura, o apartheid
LAICISMO AGNÓSTICO IMPÕE-SE ou a violência doméstica. A ideia foi defendida em
«Há um novo laicismo radical que quer desenca- Lisboa pelo actual subdirector-geral da UNESCO,
dear um novo fundamentalismo, em vistas de uma Pierre Sané, durante a conferência da Comissão
purificação social, que atira os valores morais e reli- Nacional Justiça e Paz (CNJP), no dia 25 de Maio.
giosos para fora do âmbito público», denunciou Ra- Sane, ex-secretário-geral da Amnistia Internacio-
fael Navarro-Valls, catedrático da Universidade nal, justifica a sua proposta dizendo que se regista
Complutense e académico da Real Academia de no mundo um genocídio silencioso. «Se olharmos
Jurisprudência e Legislação, de Espanha. para os números, eles são apocalípticos: onze mi-
Valls demonstrou que a característica mais surpre- lhões de crianças morrem cada ano, por doenças
endente deste novo laicismo radical é substituir a «ve- ligadas à pobreza, má nutrição, fome, falta de água
lha teocracia» por «novas ideocracias», vazias de re- potável, diarreia...» Tais mortes são imorais, «porque
ligião. Como exemplo, referiu o crescente redesenhar sabemos que isso vai acontecer nos próximos 12
das festividades do Natal, nas quais se trocam as meses, temos os meios de o remediar e não o faze-
referências a Cristo por felizes férias; e também a mos,» acusa ele. «Trata-se de um crime contra a hu-
substituição de festas cristãs (como matrimónio, bap- manidade.» Todavia, «infelizmente, os pobres não têm
tismos), por eventos civis. voz, são invisíveis, não contam, as suas mortes não
Navarro Valls argumenta que o novo laicismo se atrapalham o nosso quotidiano».
rege pelo «politicamente correcto», por uma «religio- Pierre Sané considera a pobreza como o desafio
sidade light», que não são mais do que uma corrup- central no início do século XXI. E diz que a sua
ção da consciência. É por este agnosticismo que mui- erradicação será o cumprimento da Declaração Uni-
tos jovens se afastam da Igreja, quando a opinião versal dos Direitos Humanos. «Seria preferível falar
dela choca com os «valores modernos» propagados da abolição da pobreza, tal como da abolição da
pelas ideologias políticas ou por grupos de opinião, tortura ou da pena de morte, porque se trata de ac-
a que não são alheios os meios de comunicação tos contra a dignidade do ser humano. Na realidade
social. É também este laicismo que faz com que mui- a pobreza mata mais certeiramente que as guerras,
tos fiéis tomem decisões contrárias à moral cristã, e e mata sobretudo mulheres e crianças.» Mas, «a mo-
até as defendam, sem considerar que estão a entrar bilização [contra a pobreza] só será conseguida se
em choque com a sua fé. cada um conceber a pobreza como uma injustiça».
Se nos contentássemos com pouco mais do que o
PAPA ENUNCIA TRÊS DESAFIOS estilo de vida dos africanos, precisaríamos apenas
O Papa Bento XVI fez referência a três desafios de meio planeta, mas como invejamos o consumo
que o mundo enfrenta hoje, na mensagem à Acade- americano, são necessários seis planetas, lamenta ele.
mia de Ciências Sociais, em Maio passado. Na mesma linha, a economista Manuela Silva,
«O primeiro diz respeito ao ambiente e ao desen- presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz de-
volvimento sustentável. A comunidade internacional fende que «a Humanidade já venceu outros desafios
reconhece que os recursos do mundo são limitados e ao longo da História (aboliu a tortura, a escravatura)
que cada povo tem o dever de adoptar políticas vi- e, com os recursos materiais actuais (a riqueza, os
sando a protecção do ambiente, a fim de prevenir a bens produzidos, a tecnologia, o conhecimento) a
destruição daquele património natural cujos frutos são Humanidade pode abolir a pobreza».
necessários para o bem-estar da humanidade.
O segundo refere-se ao conceito de pessoa hu- SENSIBILIDADE FEMININA NO DIÁLOGO INTERFÉS
mana. Há que reconhecer todos os seres humanos Magdeleine Hutin, a fundadora das Irmãzinhas
como pessoas, dotadas de uma dignidade inviolável. de Jesus, que viveu entre 1898 e 1989, e seguiu os
E isso há-de ter consequências práticas sobre os pro- passos de Charles Foucauld, imprimiu um novo ca-
blemas globais, como o fosso entre países ricos e rácter à convivência entre cristãos e muçulmanos, e
países pobres e a desigualdade na distribuição dos deve inspirar a humanidade no mesmo sentido. «O
recursos naturais e da riqueza. seu exemplo de diálogo da vida entre cristãos e mu-
O terceiro desafio corresponde aos valores do çulmanos teve valor profético, mudou a Igreja Cató-
espírito, que, ao contrário dos bens materiais, expan- lica e teve influência no Concílio Vaticano II», afirmou
dem-se e multiplicam-se quando se comunicam; e Francesca De Lellis, autora do livro «Magdeleine de
quanto mais partilhados, mais são interiorizados. Jesus e as Pequenas Irmãs no mundo do Islão», cuja
Mais, só o amor ao próximo inspira justiça ao servi- apresentação decorreu na Grande Mesquita de
ço da vida e da promoção da dignidade humana.» Roma, em 21 de Abril passado.
3. espiral 3
ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007
AS MULHERES DA FRATERNITAS
A nossa Associação apresenta várias fragilida-
des notórias. Uma delas reside nitidamente na
sua componente feminina. Somos uma Associação de
teve certamente um papel menos determinante do
que o companheiro.
Ora esta riqueza, onde está ela na nossa
padres – todos homens, portanto. É verdade que nos Fraternitas, nos nossos encontros? E se ela apare-
distinguimos dos outros homens padres – somos pa- cesse, tendo as mulheres como protagonistas? O
dres casados. Mas não importam as mulheres com persistente silêncio das mulheres é certamente uma
quem casámos: elas continuam gente indiferenciada, grande fragilidade da nossa Associação; se fosse
anónima. Todos os holofotes, tanto na Igreja como na quebrado, este silêncio haveria de se transformar
sociedade em geral, estão assestados na nossa condi- numa nova, enorme Força!
ção de casados, não por sermos casados, mas por
sermos padres. É certo que também as nossas esposas O homem é a mais elevada das criaturas.
se realçaram, sobretudo no início. Mas apenas por te- A mulher é o mais sublime dos ideais.
rem casado com padres, o que, salvo uma ou outra Deus fez para o homem um trono,
situação em que funcionou mais a inveja que o apre- Para a mulher um altar.
O trono exalta, o altar santifica.
ço, ao anonimato lhes juntou muitos olhares de soslaio
O homem é o cérebro; a mulher o coração.
e, portanto, uma mais ou menos acentuada margina- O cérebro produz luz, o coração amor.
lização. No centro continuam assim, de forma quase A luz fecunda, o amor ressuscita.
exclusiva, os homens com quem elas casaram. O homem é o génio, a mulher o anjo.
E na nossa Associação? Não continuam elas sendo O génio é imensurável, o anjo indefinível.
apenas companheiras de uma Fraternitas – uma frater- A aspiração do homem, é a suprema glória,
nidade – de padres? Não comandam e não decidem A aspiração da mulher, a virtude extrema.
eles tudo no grupo, que todos certamente queremos A glória traduz grandeza,
uma verdadeira Comunidade? Não continuam sendo A virtude traduz divindade.
eles os que escolhem os temas dos encontros e os que O homem tem a supremacia,
A mulher a preferência.
os desenvolvem segundo parâmetros sacerdotais e te-
A supremacia representa força,
ológicos, desde os conferencistas, quase sempre bis- A preferência representa o direito.
pos ou teólogos, até à simples conversa em grupo de O homem é forte pela razão,
trabalho, que se quereria de verdadeira partilha? A mulher é invencível pela lágrima.
Ora elas são, desde o casamento, essencialmente A razão convence, a lágrima comove.
companheiras de dores, prazeres, alegrias e cansaços O homem é capaz de todos os heroísmos,
iguaizinhos àqueles que existem em todos os casais deste A mulher de todos os martírios.
mundo. Há um, há dez, há trinta anos, talvez mais!... O heroísmo enobrece, o martírio sublima.
Na maior parte dos casos este tempo do anonimato O homem é o código, a mulher é Evangelho.
O código corrige, o Evangelho aperfeiçoa.
comum a todas as vidas é ou virá a ser mais longo do
O homem é um templo, a mulher um sacrário.
que o caminho «segregado», elitista, excepcional, do Diante do templo, descobrimo-nos,
seminário e do exercício do sacerdócio institucional em Diante do sacrário, ajoelhamo-nos.
conjunto. Porque há-de então este tempo de vida na O homem pensa, a mulher sonha.
estufa clerical ter mais peso nos nossos encontros do Pensar é ter cérebro,
que aquele outro tempo tão fecundo de vivência do Sonhar é ter na fronte uma auréola.
amor e da dor numa família comum? Foi mais impor- O homem é um oceano, a mulher um lago.
tante neste sempre tenso tempo de vida anónima ele O oceano tem a pérola que o embeleza,
do que ela? Dir-se-á que terá que haver sempre qual- O lago tem a poesia que o deslumbra.
quer coisa de específico num casal em que ele é pa- O homem é a águia que voa,
A mulher o rouxinol que canta.
dre. É claro que há. Como há sempre qualquer coisa
Voar é dominar o espaço,
de específico em qualquer casal deste mundo, por Cantar é conquistar a alma.
exemplo num casal em que ela é médica ou em que O homem tem um farol: a consciência;
ele é trolha. É claro que há uma razão de peso para A mulher tem uma estrela: a esperança.
merecermos as atenções especiais da Igreja e do mun- O farol guia, a esperança salva.
do: nós abalámos irreversivelmente um dos mais sóli- Enfim, o homem está colocado
dos pilares em que assenta a estrutura do poder eclesi- Onde termina a terra,
ástico. Mas este facto não pode ofuscar toda a riqueza A mulher onde começa o céu…
de uma vida familiar em que a esposa e a mãe não Víctor Hugo
4. 4 espiral
ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007
O nível etário da Fraternitas
mais. A morte inevitável perfila-se Ninguém, como os velhos, pos-
O utra grande fragilidade
da nossa Associação é o
seu nível etário. E este facto é cer-
então diante dele, cada vez mais
nítida, e é nessa fase última que
sui tamanha lucidez; se a não
usam, é porque a têm cansada de
tamente tranquilizador para aque- ele nota que os seus sentimentos ninguém a querer receber. À im-
les que eventualmente temessem estão todos lá, fortes como sem- potência da carne junta-se-lhes a
um qualquer arroubo renovador pre, que as suas emoções estão impotência do espírito. Facilmente
passível de abalar a ordem particularmente vivas, mesmo que concordamos em que tudo isto jun-
institucional estabelecida. Para ou- apenas façam doer, doer muito… to forma um peso tanto mais insu-
tros, entre os quais se incluem tal- No coração, ele não envelhe- portável quanto maior é a lucidez.
vez alguns de nós, a idade avnçada ceu. É aqui, no coração, que resi- Surge então o vírus particularmen-
será essencialmente o tempo de de toda a força da velhice: por ele te corrosivo da resignação, que
descanso da vida, de onde já pou- passaram as mais tensas e amplas produz vida esterilizada.
co haverá a esperar como ondas da vida, que o alargaram, A não ser que a lucidez seja ali-
contributo para o Progresso. querendo, por vezes, romper-lhe os mentada por uma Fé viva e por
O Progresso, aliás, comanda e limites. Por isso o velho sente com uma Esperança indomável. Todos
condiciona tiranicamente as nos- intensidade maior do que a crian- os padres da nossa Associação
sas vidas. Por isso todo o valor é ça, o jovem, o adulto. Podem pre- proclamaram muitas vezes do Al-
atribuído à «população activa», dominar nele os sentimentos nega- tar abaixo, solenemente, que, para
que situaríamos, grosso modo, tivos, à medida que se aproxima os que crêem, «a vida não acaba;
entre os 25 e os 65 anos. Prote- da morte: saudade, desilusão, apenas se transforma». Se eles crê-
gem-se os menores de 25 porque mágoa, ressentimento, solidão, em no que pregaram, a velhice é
o Progresso vai precisar deles; ar- medo. Mas ele sente. Muito inten- o tempo privilegiado para o teste-
rumam-se os maiores de 65 por- samente. Ele sabe coisas que as munhar. Para isso, não é necessá-
que se tornaram peças desgasta- crianças e os jovens não entendem ria nenhuma força especial, da-
das da máquina do Progresso. e que os adultos não querem ou- quelas que a «população activa»
Crianças e jovens são um investi- vir. Ninguém tem tempo, porque a aprecia; basta acreditar naquela
mento; os velhos são sucata huma- roda da vida rola, inexorável, tri- outra palavra do Mestre Jesus,
na que o Progresso, com polido turando toda a paz e todo o silên- quando diz que o que é vil e des-
desprezo, procura arrumar mais ou cio em que os corações da primeira prezível aos olhos do mundo é que
menos esteticamente, para não e da segunda idades poderiam re- Deus escolheu para confundir o que
desfear a cidade, esta sim, a pre- ceber a luz acumulada nos cora- o Sistema considera forte e
ocupação máxima de quem co- ções da terceira e quarta idades. prestigiante.
manda o mundo.
Todos atribuem um valor pró- Será a «Fraternitas» um mundo de velhos?
prio à infância e à juventude. Mas
ninguém atribui um valor específi-
co à velhice. Na última idade da
vida tudo é perda: o velho perdeu
S e por um lado a nossa ida-
de avançada pode serenar
aqueles que receiam a
uma certa mágoa por ingratidões
que não deviam ter acontecido.
Mas constata-se que têm muita lu-
a beleza e o vigor; a influência e o «Fraternitas» como uma lufada re- cidez e aquela sabedoria que só
protagonismo; o poder de decisão formista a desestabilizar as estru- a experiência de vida pode dar,
e o controle dos acontecimentos. turas vigentes da Igreja, por outro embora os mais novos não os
Realçam-se-lhe as fragilidades, lado essa idade pode tentar os queiram escutar.
aparecem os achaques. E porque membros da nossa Associação a Apesar de tudo, os membros da
é muito duro ficar para trás e per- julgarem-se inúteis no progresso «Fraternitas» cultivam uma Fé e uma
der, o velho disfarça até ao limite da sociedade. Esperança muito vivas, que lhes
as deficiências, que se vão acen- Reconhecemos que hoje ape- abrem infinitos horizontes de vida
tuando e acumulando. nas se consideram as crianças e com capacidade de intervirem
Que pode ele fazer? Sente in- os jovens como forças de progres- muito positivamente na renovação
teriormente que a sua vida é pre- so. Podem os membros da da pastoral da Igreja e na vivência
ciosa e tenta conservá-la o mais «Fraternitas» sentir o aguilhão da dos grandes valores da vida soci-
possível, mas ela pesa cada vez saudade, da desilusão, e até de al, cultural e religiosa.
página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
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ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007
VELHICE VENERANDA
S e o que ocorreu em Fátima,
no Encontro da Fraternitas,
teve feição de uma boa e jucunda
imortal rainha. Mas é a esta Santa
rainha, à alma, que devemos
olhar. E esta não declina. Pelo con-
Subindo assim, levando após
de si preciosos tesouros, assoman-
do à imortalidade, a velhice tor-
fraternidade, revelou, também, o trário, sobe, sobe sempre. na-se veneranda.
alcance de um alto propósito e Suponhamos que, nas noites Veneranda pelo cabedal de
ensinamento: comprovou-se que a solenes do Pólo, um viajante deve experiência que leva consigo.
Fraternitas é uma família de mem- subir a uma elevada montanha. «Quando era menino, pensava
bros afeiçoados, disponível para Do cume, o sol invisível meses e como menino, falava como meni-
servir a Igreja e os seus irmãos, meses, aparece-lhe no horizonte no», disse S. Paulo de si, e todos
fazendo, por si, um elogio à ida- longínquo. Os cumes já estão ilu- podemos dizer de nós próprios.
de madura, escrevendo a página minados, enquanto que a noite Chegados à idade avançada,
de um «De Sanectute», que, se não polar ainda se estende aos seus desaparecem as ideias e palavras
tem o valor de Cícero, põe, no pés no fundo vale. infantis: a mente está cheia de co-
entanto, em evidência o que a Assim é a velhice. Pela largue- nhecimentos, as palavras do con-
velhice é para cada espírito bem za e vastidão das perspectivas que selho, as virtudes do exemplo, para
formado, o qual entende como se descobrem, pelos revérberos e serem chamariz, estímulo e incita-
cumpre o valor da vida. lampejos que se desvelam, pelas mento para os jovens.
A velhice no conceito cristão cumeadas que cintilam e que bem A vida da velhice ilumina-se,
não é um declinar; é um progres- depressa serão coroadas por um mas também se purifica. A pureza
so, de que bem podemos come- sol que nunca se devera apagar, do ar que corre nas alturas, corre
morar as grandezas, as alegrias o viajor da vida, o velho pode – e também nestes corações libertos do
íntimas, os deveres solenes e a su- só ele pode –, avaliar a atura a jugo das paixões e só preocupa-
prema esperança. que o levaram os anos. Ele sobe… dos com as funções e com os des-
Quando com o progredir dos sobe sempre. Subindo leva consi- tinos do espírito. Para encher de
anos sentimos e reconhecemos que go a recordação da infância lu- alegria completa a bela idade
descem uns princípios de sombras minosa e alegre, passada debai- avançada, dizemos com os discí-
aos nossos olhos, os primeiros fri- xo do tecto doméstico, sob o olhar pulos de Emaús: «Fica connosco,
os nos nossos ossos, as primeiras acariciador dos pais, entretecida Senhor, porque anoitece!»
neves a engrinaldar a nossa fron- de tantas pequenas coisas, que se Fica connosco, Senhor, para
te, somos tentados a exclamar chamavam brincadeiras, e na qual nos dar luz, força e alegria nos
como o Sol que se põe: «Eu decli- também já se originavam dores… anos que ainda nos concederes,
no». Sim, declinamos como, na re- Depois as lembranças da virili- na garantia segura de que das glo-
alidade, tudo declina. Mas decli- dade, com as canseiras, as respon- riosas memórias do passado re-
namos quanto ao corpo: aí temos sabilidades, as obras… com dias montaremos às mais puras visões
o velho inválido após 60, 70 anos venturosos e outros de trovoada… da vida imortal.
de trabalho ao serviço de uma com lágrimas e glórias. Henrique maria dos santos
Como grupo, reunidos em ple- cido Papa João Paulo II que, com da nossa vida, porque só «é ver-
nário, concluímos que se torna ne- invejável lucidez, lutou até ao últi- dadeiramente velho o homem que
cessário descobrirmos as forças es- mo momento da sua vida! pára de aprender, quer tenha 20
condidas na nossa «fragilidade», A conclusão surgiu espontânea: ou 80 anos», como disse Henry
como seja, uma nova lucidez para Se as contingências da idade nos Ford.
os valores da vida. E foram apre- bloquearem a manifestação das Saímos deste Encontro da
sentados alguns testemunhos nossas capacidades, a «Fraternitas» Fraternitas com alma nova, com
vivenciais de membros que traba- deve ser a grande força um acrescentado sentimento de
lham activamente em vários Mo- dinamizadora em que nos pode- interajuda e uma visão optimista
vimentos das suas paróquias. Não mos apoiar, e a grande esperan- do nosso valor.
foi esquecido o exemplo do fale- ça no caminhar da última etapa Manuel Paiva
Fraternitas: «brigada do reumático»?
ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
6. 6 espiral
ENCONTRO NACIONAL - Fátima 27, 28 e 29 de Abril 2007
Fraternitas: Movimento com prazo de validade?
« Os padres não podem ca
sar e às mulheres – a maio-
ria dos fiéis – o poder vai continu-
dões desfizeram-se como que por
encanto quando o poder O desa-
creditou completamente naquele
tâncias do poder. E é nesta nossa
fragilidade institucional que está a
nossa força. Uma força que não
ar vedado» – assim escreveu o julgamento e naquela cruz. sabemos até onde poderá ir se
Jornal de Notícias em 14/3/07, a Tudo se tornaria então simples nela acreditarmos. Certo é que
propósito da recente Exortação se não houvesse padres e se não toda esta força se perderá, se cair-
Apostólica Sacramentum Caritatis. houvesse poder, na Igreja. Exacta- mos na tentação de voltar à vida
Foi justamente esta situação mente a situação em que nos en- segregada e ao poder hierárqui-
que conduziu à fundação da contramos: já não há aqui padres co.
Fraternitas e marcou as nossas vi- e não temos poder nenhum (sacer- É de todo indiferente que os
das e até outras vidas próximas de dotes podemos ser nós, os homens padres sejam casados ou celiba-
nós, nalguns casos traumaticamen-
te. Mas a situação mantém-se
como um aguilhão espicaçando MUITOS OS CHAMADOS
pessoas em particular e a socie- Deus chamou quatro pessoas para a Missão na Igreja. Cha-
dade em geral, a ponto de, volta mavam-se Toda-a-Gente, Alguém, Qualquer-Um e Ninguém.
e meia, se tornar notícia. Toda-a-Gente tinha a certeza que Alguém responderia. Qual-
De facto, vistas as coisas com quer-Um podia fazê-lo, mas Ninguém o fez.
alguma atenção, esta autêntica Alguém zangou-se porque era um trabalho para Toda-a-
pedra de tropeço torna-se verda- Gente. Toda-a-Gente replicou que Qualquer-Um podia tê-lo fei-
deiramente absurda. É só olhar to, mas Ninguém constatou que Toda-a-Gente não o faria.
por um momento, sem interferên- No fim, Toda-a-Gente culpou Alguém, quando Ninguém fez
cias perturbadoras: há alguma o que Qualquer-Um poderia ter feito.
coisa no carpinteiro Jesus que se
pareça sequer com um padre, um
bispo, um papa? Quem consegue da Fraternitas, mas isso tem muito tários: desde que haja padres, há
ver no pescador Simão um papa? que se lhe diga, desde logo por- poder instituído, em nada diferente
Imaginemos um João padre, um que também as mulheres, pela sua do poder deste mundo, e portan-
Tomé padre, o publicano Mateus simples vocação cristã, pertencem to contrário ao caminho do Evan-
padre, o zelota Simão padre. Não a um «povo de sacerdotes»…). gelho. Já que nos encontramos
ficam ridículos? Imaginemo-los Está aqui, pois, a terceira fragi- fora da teia do poder, porque
bispos com aquelas sotainas, lidade da nossa Associação: a fra- havemos de desejar ser de novo
aquelas faixas, aqueles cabeções, gilidade institucional. A Instituição é enredados nela?
com aqueles paramentos, aque- hierarquia e é poder; nós não te-
les báculos, aquelas mitras. Não mos hierarquia nem poder algum. Estes três tópicos «As mulhe-
ficam mais ridículos ainda? Todos Não ocupamos sequer um deter- res da Fraternitas», «O nível
nós, homens e mulheres, temos minado lugar na hierarquia, mas etário da Fraternitas», e «A si-
obrigação de conhecer bem os aqueles de nós que nela ocuparam tuação institucional da
Evangelhos. Encontramos lá algu- um lugar de destaque, como pa- Fraternitas» ajudaram a reflec-
ma coisa que cheire sequer a pa- dres, foram «reduzidos ao estado tir o grupo que se reuniu em
dre? Olhemos outra vez. Encon- laical», isto é, tornaram-se povo co- Fátima no Encontro Nacional.
tramos lá alguma coisa que chei- mum. Inesperadamente, se atentar- Mas a discussão não se esgo-
re sequer a poder? O que lemos mos bem, somos agora, aqui reu- tou lá.
é que Jesus fustigou os sacerdotes nidos na nossa pequena Comuni- Envie o seu comentário so-
que existiam, fugiu quando O qui- dade, muito mais parecidos com bre um, dois ou aos três tópi-
seram aclamar rei e morreu esma- aquele grupo que se reuniu à volta cos para o correio electrónico
gado «como um verme e não um do carpinteiro de Nazaré, do que do Movimento (ver páginas 4
homem, o opróbrio de todos e a quando éramos quadros classifica- e 5), como por exemplo:
abjecção da plebe». E os mila- dos de uma hierarquia, segrega- direccao@fraternitas.pt.
gres? E a sedução do Mestre, que dos do comum povo. Depois, consulte os comen-
arrastava multidões? Os milagres Agora não temos poder, não tários na página da Internet
de nada Lhe valeram e as multi- temos influência nenhuma nas ins- www.fraternitas.pt.
7. espiral 7
COINCIDÊNCIAS
E ra o funeral do Papa João
Paulo II. A urna com os res-
tos mortais do Papa era colocada
cheu toda a casa onde se encon-
trava a pequena comunidade cris-
tã. Então, o vento varria o velho
comunidade dos crentes neste pós
Vaticano II, que hesita entre um
salutar progressismo e um regres-
em lugar de destaque à vista de paradigma e abria caminho ao so ao antigo, e se interrogue so-
todos quantos localmente assisti- novo paradigma cristão. Vinham bre os sinais orientadores que o
am. Sobre ela encontrava-se uma aí tempos novos, caía o que não Espírito Santo esteja a dar a en-
Bíblia. As televisões transmitiam es- era autêntico e começava uma era tender, poderá muito bem lembrar-
sas imagens para todo o mundo. nova, baseada no reconhecimen- -se do que aconteceu no dia de
No momento em que os car- to da dignidade da pessoa huma- Pentecostes: «Subitamente ressoou,
deais entravam em procissão para na, na mensagem de Jesus. Na- vindo do céu, um som compará-
ocuparem os respectivos lugares, quele momento, em que a comu- vel ao de forte rajada de vento,
irrompeu subitamente uma forte nidade cristã nascente era confron- que encheu toda a casa onde se
ventania, qual pequeno ciclone em tada com um novo programa a encontravam» (Act. 2,2).
redemoinho, que varria os solidéus cumprir, também lhe era transmiti- Como se o Espírito Santo qui-
das cabeças dos purpurados, agi- da a força e a audácia para o sesse hoje dizer àqueles velhos se-
tava violentamente os seus para- implementar. Surgia a nova Igreja nhores: «Deixai arejar as vossas
mentos e folheava freneticamente fundada em Jesus Cristo que iria purpúreas vestes, ventilai as vossas
a Bíblia que estava sobre a urna. ideias e hábitos demasiado imbu-
Foi patente a aflição de cada um ídos do espírito da Antiguidade,
dos cardeais com uma das mãos da Idade Média feudal e dos tem-
a segurar o solidéu enquanto a ou- pos modernos, não vos agarreis
tra impedia que os paramentos angustiadamente às vossas capas
adejassem violentamente. purpúreas, com as quais pretendeis
Passado pouco tempo o vento a todo o transe abafar qualquer
amainou e a Bíblia fechou-se. As ideia nova, mas voltai finalmente
cerimónias decorreram com toda à fonte pura e refrescante da Boa
a normalidade. Nova de Jesus Cristo». (Rudolf
E ra o dia da trasladação dos
restos mortais da Irmã Lú-
cia, do Carmelo de Coimbra para
Schermann, KI, 05/05, p. 4)
Quase em jeito de resposta e
de orientação, a ventania mostra-
a Basílica de Fátima. O evento es- va rapidamente cada página da
tava a ser transmitido na íntegra Escritura. É ali, naquelas páginas,
pelas televisões nacionais. Eu se- que se descobre o roteiro de na-
guia as cerimónias pela TVI. O crescer sob a acção do Espírito vegação da Barca de Pedro. Uma
caso, que quero relatar, ocorreu Santo. Igreja simples como uma criança,
durante a celebração da Eucaris- É claro que a ocorrência da- acessível aos humildes e ao servi-
tia presidida pelo Senhor D. Albino quele tornado com o início da ce- ço dos pobres. Nada do esplen-
Cleto, na Sé Nova em Coimbra. rimónia fúnebre do Papa João Pau- dor imperial romano, que é reino
Foi na altura da consagração. lo II foi mera coincidência dum fe- deste mundo.
Momento solene, silêncio profun- nómeno meteorológico com um O caso de Coimbra foi certa-
do: o celebrante pronuncia as pa- evento marcado por vontade hu- mente provocado pelo P Rego (era
.
lavras da consagração do pão, mana para aquela data. Portan- a voz dele), que era o comentador
eleva a hóstia, poisa-a sobre o to, não passa de pura especula- da emissão, ao falar sem saber
altar e genuflecte. E nesse preciso ção tentar descobrir nessa coinci- que estava no ar. Mas uma voz
momento ouve-se na TV uma voz dência eventuais interpretações de assim, naquele momento tão so-
de homem quebrando o silêncio e sentido social ou religioso. lene, remeteu-me para a voz que
anunciando: «Voltei! Voltei!» As ce- Mas quem, porventura, estiver se ouviu quando Jesus foi baptiza-
rimónias continuaram no seu ritmo. preocupado com o caminho que do nas águas do Jordão (Mt
No primeiro caso, não faltou a comunidade eclesial está a per- 3,17), ou a voz vinda da nuvem
quem se lembrasse da «forte raja- correr na sua relação com este no monte da transfiguração (Mt
da de vento», referida na Sagra- «mundo» a-religioso ou anti-religi- 17, 5).
da Escritura em Act. 2, 2, que en- oso, ou com a lenta evolução da João Simão
8. CATOLICISMO COM FORTE HUMANISMO
O saudoso Papa João XXIII, quando decidiu
a realização do Concílio Vaticano II, um dos
objectivos seria «abrir as portas e janelas da Igreja
Turquia foi um acto de inspiração divina, no meu
parecer, tal o mar de dificuldades que a antecede-
ram, o inesperado êxito que teve e as consequências
Católica ao mundo inteiro», dando ocasião à «en- que se esperam, não só quanto àquele país, como
trada de novas lufadas do Espírito de Deus», para a às regiões circunvizinhas, a breve, a médio e a longo
tornar mais fresca e acolhedora, expurgando ara- prazo, nomeadamente quanto ao ecumenismo.
gens mofas, que afastavam dela o mundo e impedi- Agora, depois da reflexão até aqui, dá-me von-
am muitos homens e mulheres de entrarem. Foi com tade de, sinceramente, me exprimir dizendo que a
esta forte e formosa esperança que se ficou, desde o nossa Santa Igreja Católica continua a olhar muito
seu anúncio até ao encerramento e consequente ca- para dentro de si própria e a preocupar-se muito
minhar durante estas décadas. E este Pastor, a quem com as suas estruturas institucionais, organizativas,
chamavam o «Papa bom», sempre se empenhou na eclesiais e pastorais, mas que, na prática, muito pouco
concretização do sonho, mesmo nos pequeníssimos transpira para a vida cristã, individual, familiar, pa-
pormenores, tal como uma mãe carinhosa. roquial, diocesana, nacional e mundial. Do muito
Paulo VI, que lhe sucedeu, tentou cumprir este pro- pouco que transpira, parece-me que fica tudo muito
grama, arrojando-se a atravessar os Oceanos para distanciado, com muito pouco acesso ao comum dos
falar num grande areópago, a ONU, cumprindo não crentes, mesmo que quase imperceptível, insuficiente
só o sonho do Papa do Concílio, mas também um para ser respirado pela (quase) totalidade dos cris-
mandamento do Senhor, que Lhe era tão querido: tãos, mesmo militantes. Assim, parece-me que é não
«Ide por todo o mundo, ensinai a Boa Nova». só necessário mas mesmo urgentíssimo, inadiável (e
João Paulo I, cujo Pontificado durou apenas 33 não será já tarde?) dar uma volta…; em poucas
dias, viveu de tal modo o Concílio, e não só, que palavras «fazer penetrar o catolicismo de um mais
isso lhe bastou para que lhe fosse já aberto o Proces- forte humanismo«, isto é, cada católico interiorizar-se
so de Beatificação. Também mereceu ser chamado de um mais forte humanismo. Recorde-se o lema ins-
o «Papa do sorriso». pirado de João Paulo II: «A Igreja é o caminho do
Sobre a acção de João Paulo II, durante 26 anos, Homem!» Por outras palavras: a Igreja foi instituída/
nada mais há a acrescentar, tão fresca está na nossa fundada e existe por causa do Homem! É preciso
memória… reflectir!...
Bento XVI singra na mesma Barca. A sua ida à José da Silva Pinto
ção de fazer a todos iguais, obstruindo as liberdades
CRISTO, O MAIOR SOCIALISTA? individuais e a iniciativa pessoal, é óbvio que este
No dia 11 de Janeiro passado, o Presidente da socialismo já está superado pela História. E, portan-
Venezuela, Hugo Chávez, ao fazer o juramento para to, se o sistema socialista for identificado com o mar-
um terceiro mandato de seis anos, com a possibili- xismo, Cristo não é socialista.
dade de promover uma reeleição sem limite, disse Ao contrário, se por socialismo se entende a luta
que o fazia em nome de «Cristo, o maior socialista para que o sistema social, político e económico seja
da História». Na tarde do mesmo dia, Daniel Ortega, justo e solidário, sobretudo para que os pobres vi-
ao assumir a presidência da Nicarágua para os pró- vam com a dignidade que Deus quer, isso está muito
ximos cinco anos, sustentou que «deve imperar o Rei- de acordo com o que Cristo veio ensinar. A Sua mai-
no de Cristo e não o reino das guerras, do empobre- or preocupação foi que aprendêssemos a amar-nos
cimento ou da destruição da natureza». É o mesmo como irmãos, com uma opção solidária pelos mar-
comandante que, há anos, quando os bispos come- ginalizados. Essa é a prova de que realmente o com-
çaram a criticar os desvios marxistas do sandinismo, preendemos e de que somos discípulos Seus.
afirmou: «Eu creio em Cristo, mas não nos bispos». Os primeiros cristãos distinguiam-se por compar-
A Igreja latino-americana reagiu a várias vozes, tilhar fraternalmente os bens, de forma que entre eles
entre elas a de D. Felipe Arizmendi Esquivel, Bispo de não havia quem passasse necessidades. Se isso é o
San Cristóbal de Las Casas, no México. Para o pre- que se pretende pôr em prática quando se fala de
lado, antes de tudo, é preciso distinguir o que se en- socialismo, bem-vindo seja! E todos teremos de com-
tende por socialismo. Se for considerado equivalente prometer-nos em pô-lo em prática, pois nisso se vê a
ao marxismo, que é um materialismo fechado à trans- nossa identidade cristã. A Igreja dará a sua contri-
cendência, centrado na economia e na boa inten- buição, mantendo-se fiel à sua Doutrina Social.
espiral Associação Boletim da
Fraternitas Movimento
Responsável: Fernando Félix
Praceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq.
N.º 27 - Abril/Junho de 2007 Massamá / 2745-816 Queluz
www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com