PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
A REPRESENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO NAS CHARGES VIRTUAIS DE MAURÍCIO RICARDO
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
CURSO DE LETRAS
HABILITAÇÃO EM LÍNGUA E LITERATURA PORTUGUESA
A REPRESENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO NAS CHARGES VIRTUAIS
DE MAURÍCIO RICARDO
GISELE PACHECO VIEIRA DE SOUZA
LORENA MARIA NOBRE TOMÁS (ORIENTADORA)
MANAUS
2012
2. O PORQUÊ DE SE ESTUDAR AS CHARGES
O humor utilizado através das charges se constitui em uma
ótima forma de um interlocutor expor à sociedade o que realmente
pensa, sem nenhum pudor, pois dificilmente haverá qualquer punição
diante do conteúdo apresentado. O humor utiliza-se do efeito da
“graça” para esconder conceituações ideológicas que muitas vezes
não são entendidas inicialmente pelos que recebem o discurso.
As piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e
problemas de uma sociedade, por um lado, é uma coleção de fatos dados
impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por
outro que quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate,
uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça, tabus
sociais e outras diferenças, instituições (igreja, escola, casamento, política),
morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam anonimamente e
que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo mundo. (POSSENTI, 2001,
p. 72).
3. O presente artigo tem como objetivo analisar os estereótipos e as
identidades presentes nas charges virtuais (CV). Para tanto foram
analisadas charges que circulam no site www.charges.com.br, do
chargista Maurício Ricardo, que abordam o tema educação.
Utilizando o aporte teórico da Análise do discurso de linha
francesa.
Optamos pela AD, cujo objetivo é analisar os discursos que
circulam sobre a educação brasileira em charges virtuais, compreender
qual o efeito de sentido produzido pelos discursos, não considerando a
linguagem como transparente.
Utilizamos também os argumentos de autoria de Sírio Possenti
(2001, 2009, 2010), que além de ser um analista do discurso filiado à
linha desta pesquisa.
4. AS REDES SOCIAIS
A liberdade de acesso possibilitado pela internet como um “espaço
público” e os mecanismos tecnológicos que estão à disposição do usuário para
se deslocar pela rede, são articulados pelos chamados hiperlinks ou,
simplesmente, links. São os recursos da internet que permitem que o usuário da
rede se remeta a outro ambiente com apenas um clique.
O crescimento da necessidade de interação humana na rede que propiciou
o surgimento de ambientes específicos para essa finalidade, as redes sociais.
Segundo Dimantas apud Silva e Asevêdo (2010) na internet, as pessoas
têm a possibilidade de interagir com as comunidades e, assim, protagonizar sua
própria existência, buscando e construindo nas comunidades informacionais os
interesses comuns.
5. CHARGE VIRTUAL
O suporte virtual concede à charge um caráter de imaterialidade, tendo em
vista que ao legitimar sua existência no ambiente midiático, configura-se como uma
produção que se presentifica por meio de instrumentos tecnológicos, sendo que por
si só não se materializa e permanece em um suporte flutuante: a rede.
A charge virtual, por utilizar um número maior de quadros sequenciados,
permite, na maioria dos casos, a consonância entre as linguagens verbal e não
verbal.
O suporte virtual amplificou o potencial multissemiótico a partir da
introdução de elementos como o som e a imagem animada.
As charges, que antes apresentavam uma linguagem visual, verbal, passam a
assumir uma linguagem verbo-visual, sonora.
6. ESTEREÓTIPOS
Durante muito tempo, na tentativa de uma definição ao termo
estereótipo, várias noções foram atribuídas. Ainda no plano histórico, a palavra
estereótipo está relacionada a um aparelho tipográfico, que produzia uma
mesma impressão milhares de vezes.
Fica claro que o conceito de estereótipo está relacionado à forma como a
sociedade, de uma maneira geral, concebe, compartilha e julga determinados
grupos sociais.
Vale ressaltar que se tratando do humor, sempre a imagem de quem se
fala será negativa na maioria das representações. Essa negatividade é que
causará o riso, porque ao expor um grupo a uma situação incômoda, o olhar do
outro será de ridicularizar quem está passando por uma situação vexatória.
7. CHARGISTA MAURÍCIO RICARDO
Maurício Ricardo fundou o site www.charges.com.br no ano de 2000, que
iniciou por diversão, quando o site começou a dar lucro, deixou seu emprego no
jornal. Hoje, além de desenhar em uma prancheta digital e animar, ele dubla e
toca a música de fundo das charges apresentadas no site. Atualmente ele
também faz charges para a rede globo para programas como Big Brother Brasil
e o Mais Você e ainda toca na banda “Os Seminovos”.
ANÁLISE DA CHARGE
Analisaremos as charges que abordam tema educação, lembrando que a
partir deste gênero textual é possível expor o que se pensa, não havendo
normalmente, qualquer forma de punição para as ideias mencionadas, o humor
oferece livre arbítrio para a sociedade dizer sem medo o que realmente pensa a
respeito do outro.
8. A primeira charge a ser analisada é: Dois dos 74% de brasileiros sem
alfabetização plena cantam: “Eu quero tchu, eu quero tcha” da dupla João
Lucas e Marcelo.
O autor faz uso de algumas características para retratar a “educação
brasileira”.
O enunciado “Nem português sei falar” deixa claro a visão do
enunciador sobre o conceito de língua. Língua Portugusa é para ele igual a
“Norma Padrão”. Segundo Bagno, há o preconceito linguístico, numa série
de afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que os brasileiros
tem de si mesmo e da língua falada por aqui.
9. É claro que ele têm uma língua, também falam português brasileiro, só que falam variedades
linguísticas estigmatizadas, que não são reconhecidas como válidas, que são desprestigiadas,
ridicularizadas, alvo de chacota e de escárnio por parte dos falantes urbanos mais letrados, por isso
podemos chamá-los de sem – língua. (BAGNO, 1999, p. 30).
Sendo assim , o que a charge acima expõe não passa de uma questão
política, posto que o povo semianalfabeto é de fácil manipulação para que os
políticos mantenham-se no poder.
Universitário Canta - Tempo Perdido (Anexo 2)
Sonhos Frustrados (Anexo 3)
Aproveitando o Momento (Anexo 4)
Professor da rede pública canta: “Ouro de Tolo” (Raul Seixas) (Anexo 5)
10. CONCLUSÃO
Durante este trabalho, as charges serviram de instrumento de análise sobre
as construções de identidades e estereótipos que representam a educação nos
textos humorísticos, presentes nas charges virtuais. Também destacamos o
comportamento dos grupos sociais quando se referem ao outro. No intuito de
autoafimar sua imagem, observamos que, por meio do humor, é mais fácil
depreciar um grupo social e assim inferiorizá-lo.
O que torna engraçado um texto, uma piada, é a situação inusitada que
alguém é exposto. No que se refere à educação, foi possível verificar que este
olhar estereótipado sobre a educação provém de características que vão além do
humor. As CVs não servem apenas para o divertimento, ela evidencia um olhar
de uma comunidade que muitas vezes desconhece as peculiaridades linguísticas
e culturais de outros povos. Este desconhecimento acaba causando um
preconceito que discrimina um grupo social e o reduz a povos considerados
inferiores.
A linguagem do outro sempre vai gerar um estranhamento e como forma
de defesa, tudo o que se considera diferente é visto como inferior. No humor,
podemos utilizar a língua do outro como forma de buscar graça daquilo que
foge à normalidade.
11. Foi possível verificar, após a análise dos discursos que circulam sobre
a educação brasileira, nas cinco CV, a presença do preconceito a respeito das
variedades linguísticas e as caracterizações identitárias de um povo
considerado inferior, que já faz parte da imagem negativa que o povo
brasileiro tem de si mesmo e da sua língua, que podem ser explicadas pelas
diferenças de status socioeconômico que são grandes diferenças e que gera
um verdadeiro abismo linguístico entre os falantes da variedades
estigmatizadas do português brasileiro.
12. • REFERÊNCIAS
• BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 51. ed. São Paulo: Loyola,
1999.
• CIRNE, Moacir. A explosão criativa dos quadrinhos. 2 ed. rev. Petrópolis:
Vozes, 1971. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/46225234/3/Capitulo-III>. Acesso em: 30 mai.
2012.
• CIRNE, Moacy. Literatura em quadrinhos no Brasil: acervo da Biblioteca
Nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
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• EISNER, Will. Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos
quadrinhos. Tradução Leandro Luigi. São Paulo: Devir, 2008.
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• MENDONÇA, Márcia R. S. et al. Gêneros textuais e ensino. In: Um
gênero quadro a quadro: a história em quadrinhos. 5. ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2007. p. 194 - 206.
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13. • MUSSALIM, F; BENTES, A. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e
fronteiras. Vol. 2. São Paulo: Cortez, 2001.
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• ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 7. ed.
Campinas: Fontes, 2007.
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• POSSENTI, Sírio. Ensaio: O humor e a língua. Revista Ciência Hoje.
Campinas, v. 30, n 176, p. 72-74, Out 2001.
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• POSSENTI, Sírio. Malcomportadas línguas. São Paulo: Parábola, 2009.
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• POSSENTI, Sírio. Humor, língua e discurso. São Paulo: Contexto, 2010.
• SOUZA, Helga V. A. A charge virtual e a construção de identidades. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, 2008.
• SILVA, Marcelo Rodrigo; ASEVÊDO, Flávio Aurélio Tenório de. Charges
virtuais e redes sociais na internet: acesso e mobilidade. In: SIMPÓSIO
HIPERTEXTO E TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO DA UFPe, 3, 2010,
Recife. Redes sociais e aprendizagem: Anais eletrônicos. Recife: UFPe, 2010.
Disponível em: <http://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/simposio2010.html