Este documento apresenta uma metodologia de autoaprendizagem para equipes de saúde sobre a saúde de adolescentes e jovens. O material contém casos clínicos reais para discutir problemas de saúde comuns nessa faixa etária e incentivar o debate sobre soluções. O objetivo é melhorar o atendimento de adolescentes nos serviços de saúde, respeitando as especificidades regionais e culturais do Brasil.
1. MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas
A Saúde de Adolescentes e Jovens
Uma metodologia de auto-aprendizagem para equipes de atenção básica de saúde
módulo básico
2.ª edição
Série F. Comunicação e Educação em Saúde
Brasília – DF
2007
3. Sumário
Apresentação ........................................................................................................................................................ 5
Introdução ............................................................................................................................................................. 7
Metodologia .......................................................................................................................................................... 9
Caso 1 – O Anjinho .................................................................................................................................... 19
Caso 2 – Aprendendo Saúde ....................................................................................................................... 27
Caso 3 – A Caipirinha.................................................................................................................................. 35
Caso 4 – Abra a Boca e Tenha Cuidado ...................................................................................................... 43
Caso 5 – O Trabalho Nosso de Cada Dia ................................................................................................... 55
Caso 6 – Bafo de Onça ............................................................................................................................... 63
Caso 7 – Tornando-se Homem ................................................................................................................... 71
Caso 8 – O Barato Sai Caro ........................................................................................................................ 81
Caso 9 – Da Vida Nova à Nova Vida........................................................................................................... 89
Caso 10 – De Quem Eu Sou ..................................................................................................................... 111
Caso 11 – O Ar e o Trilho Certo .............................................................................................................. 121
Caso 12 – A História se Repete ................................................................................................................ 133
5. Apresentação
Adolescentes e jovens são pessoas em desenvolvimento que representam as mais elevadas esperanças de toda
nação e, ao mesmo tempo, trazem à tona as vulnerabilidades e contradições de cada sociedade. São cidadãos cujos
direitos à saúde, à cidadania, à participação social, à educação, ao lazer e à cultura precisam ser assegurados.
Dessa forma, o Ministério da Saúde tem priorizado as ações de promoção de saúde e de participação juvenil,
buscando o fortalecimento dos fatores protetores que possibilitarão a promoção de um bem-estar físico, mental, social
e espiritual, garantindo-lhes qualidade de vida, ao mesmo tempo em que desenvolve ações preventivas de agravos e
de atendimento às necessidades de saúde dessa população, dentro dos princípios preconizados pelo SUS.
Para que essas necessidades sejam atendidas, é preciso melhorar a qualidade dos serviços de saúde, para o
atendimento às especificidades desse grupo etário, com profissionais capazes de compreender a importância das
dimensões econômica, social e cultural que permeiam a vida desse grupo. 5
Dentro dessa perspectiva, a educação permanente das equipes de saúde constitui um elemento-chave para
garantir a atenção integral a adolescentes e jovens.
Assim, a publicação da segunda edição dos módulos: básico e avançado, do título “A saúde de Adolescentes
e Jovens – uma metodologia de auto-aprendizagem para equipes de atenção básica de saúde”, elaborados a partir
de estudos de casos do contexto da saúde de adolescentes e jovens, é um compromisso do Ministério da Saúde em
contribuir para a formação dos profissionais de saúde que atuam na atenção básica, garantindo-lhes subsídios para sua
prática cotidiana, e, conseqüentemente, para a melhoria da qualidade do atendimento e dos serviços.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
Ministro de Estado de Saúde
6.
7. Int r o d ução
Quem é o adolescente brasileiro? Quais são suas angústias, dificuldades e adoecimentos? A prática ensina que quanto mais
o profissional de saúde conhece o cliente, maiores são as chances de êxito do tratamento.
Pedro Henrique, Nelson, Verônica, Ana Maria e André são adolescentes com os quais cruzamos nas ruas todos os dias.
Pegamos o ônibus juntos, o metrô, os vemos com uniformes escolares, roupas de trabalho, nos cultos, nas festas, nos clubes e
nas unidades de saúde. Eles compõem o imenso contingente de adolescentes e jovens brasileiros que apresentam problemas,
dramas, esperanças, expectativas e sonhos. Os nomes são fictícios, mas as histórias de vida, não. Fazem parte da realidade com
a qual os profissionais de saúde se deparam cotidianamente em seus ambientes de trabalho. 7
Este material pedagógico, em seu módulo básico, pretende ajudar os profissionais a lidar com os adolescentes e seus
problemas, por meio do levantamento de casos clínicos e do debate em busca de soluções. Não oferecemos receituário pronto
e acabado, como se cada caso fosse igual ao outro. O profissional de saúde precisa inteirar-se da realidade social em que atua,
para compreender melhor os problemas que afligem o adolescente. Queremos respeitar as características específicas de cada
região do Brasil.
A dimensão numérica, a importância da saúde física e psicossocial e as circunstâncias que aumentam os riscos a que se expõem
os adolescentes e jovens impõem um lugar de destaque nas políticas públicas de saúde. Consciente desta posição, o governo federal
criou o Programa de Saúde do Adolescente e publicou suas bases programáticas em 1989. Atualmente o Programa tem o nome de
Área de Saúde do Adolescente e Jovem, subordinado à Secretaria de Políticas Públicas do Ministério da Saúde.
O Ministério pretende estabelecer mudanças no modelo de atenção à saúde, mediante estratégias como o Programa Saúde
da Família, reorganizando a prática assistencial em novos critérios de abordagem, o que oferecerá uma compreensão clara e am-
pliada do processo saúde/doença. A proposta leva em conta o meio em que vive o indivíduo e a forma de organização social.
8. Conhecer os conteúdos da atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens é tarefa importante para as equipes de saúde.
Para que o trabalho seja bem-sucedido, as equipes devem interagir com seu público-alvo, respeitar sua cultura e conhecimentos
adquiridos, criando condições para o crescimento de ambas as partes. O desenvolvimento adequado desses conteúdos aumenta
a possibilidade de absorção dos conhecimentos pela população, o que favorece o aperfeiçoamento da sociedade.
A capacitação de profissionais de saúde, em nível nacional, cresceu nas últimas décadas e permitiu a criação de uma rede
de diversas categorias profissionais e instituições. A troca de experiências e as articulações interinstitucionais garantem uma
melhor assistência às necessidades de saúde. Mas ainda resta muito a fazer. Apesar dos esforços, existe uma grande carência de
profissionais capacitados e de serviços voltados para o atendimento dessa clientela.
O Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), assumiu o
desafio de elaborar um material técnico que servisse de suporte para esta demanda. O Ministério da Saúde escolheu o NESA
devido à sua história de ensino e assistência na área de saúde do adolescente, um dos programas prioritários da UERJ.
Desde 1974, o NESA realiza programas de formação e capacitação de recursos humanos, pesquisas científicas e assistência
à saúde do adolescente. A estrutura do NESA compreende três níveis de atenção: primário, secundário e terciário. A equipe
fixa conta com 83 profissionais, dos quais 45 são de nível superior – das áreas de Medicina (10 especialidades), Enfermagem,
8
Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Biblioteconomia, Comunicação e Programação
de Sistemas de Informática – e 38 de níveis médio e elementar. Na área docente, o seu principal compromisso é a formação de
profissionais críticos, competentes, capazes de intervir e transformar a realidade.
A partir da solicitação do Ministério da Saúde, o NESA se organizou para desenvolver um material técnico-pedagógico
para equipes do Programa Saúde da Família, da Área de Saúde do Adolescente e Jovem e para outros profissionais interessados.
Para isso, estabeleceu-se uma parceria com o Laboratório de Tecnologias Cognitivas (LTC) do Núcleo de Tecnologia Educacional
em Saúde (NUTES) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O LTC desenvolve tecnologias educacionais na área de
Saúde para dar suporte aos programas, projetos e cursos, além de consultoria técnica em área pedagógica para organizações
nacionais e internacionais.
Este material técnico-pedagógico consiste em dois módulos de auto-aprendizagem. Os módulos introduzem os aspectos
conceituais e procedimentos básicos para a atenção a esse grupo populacional em suas comunidades, por meio de ações das
equipes nas Unidades de Saúde. A idéia é ampliar os conhecimentos e oferecer soluções de problemas concretos de saúde,
com os quais os profissionais se defrontam em sua prática. Nosso desafio foi criar um material que, em vez de esgotar assuntos,
estimulasse a capacidade de observação e crítica e o pluralismo de idéias.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
9. Me t o d o l og ia
Uma das finalidades da educação como estratégia de desenvolvimento nos serviços de saúde consiste em aprimorar as
práticas profissionais. Alguns pressupostos são fundamentais: modificação de práticas autoritárias que desconsideram o conhe-
cimento e a experiência prévia dos indivíduos; preocupação com a construção do conhecimento, em vez de um simples repasse
de saber desarticulado das relações humanas; elaboração de propostas que surjam das necessidades dos profissionais, da clientela
e dos serviços aos quais estejam vinculados.
A auto-aprendizagem como modalidade educativa promove a reflexão sobre a prática e faz com que todos se sintam
participantes do ato de aprender. Sua efetividade não está na dependência exclusiva da tecnologia, programação e organização
educativa, Depende essencialmente da relação entre os sujeitos do ato educativo. Essa estratégia é uma alternativa às aspirações
do homem moderno de atualizar seus conhecimentos de forma ágil e acompanhar as mudanças geradas pelo avanço da ciência
e da tecnologia.
Os módulos de auto-aprendizagem foram desenvolvidos a partir de histórias clínicas, com diferentes graus de complexidade.
Os relatos oferecem subsídios ao profissional de saúde para refletir e buscar soluções mais adequadas à sua realidade.
9
Estrutura pedagógica
O conteúdo foi organizado em três eixos temáticos: crescimento e desenvolvimento, saúde reprodutiva e sexualidade,
e principais problemas clínicos. Esses conteúdos foram selecionados a partir da experiência docente-assistencial do NESA e
em dados de morbimortalidade dessa população. As áreas temáticas foram trabalhadas dentro do marco conceitual de com-
petências, numa linguagem interativa e amigável. Define-se competência como a propriedade de conhecer, incorporar e aplicar
conhecimentos e habilidades para alcançar um resultado.
Os programas de capacitação de profissionais, baseados neste marco conceitual, visam assegurar muito mais do que um
simples domínio de conhecimentos e habilidades específicas. Buscam transformar o profissional nas suas atitudes e práticas co-
tidianas. As competências podem ser classificadas em transversais e específicas. As transversais referem-se às capacidades que
contribuem para o desenvolvimento do trabalho como um todo. Capacidade de trabalhar em equipe, interagir com as pessoas,
saber buscar informações, comunicar-se e expressar suas idéias. As competências específicas referem-se às capacidades técnicas
e habilidades definidas em função das necessidades do serviço no exercício de suas atividades cotidianas.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
10. Portanto, este modelo pedagógico estimula o pensamento crítico e a construção de um novo conhecimento vinculado à
10 realidade, que leva em consideração o compromisso individual e da equipe na tomada de decisão. O profissional aprende fazendo,
para que dessa maneira a prática e a teoria caminhem lado a lado. A finalidade do método concentra-se na responsabilidade do
grupo em buscar novas informações, análises e soluções para os problemas detectados.
Foram eleitas as seguintes competências transversais:
Ter capacidade de aplicar princípios éticos no desenvolvimento do trabalho
–
Respeitar o princípio de autonomia dentro do qual o adolescente, reconhecido como sujeito, é capaz de assumir de
imediato ou gradativamente responsabilidades sobre sua saúde e qualidade de vida;
–
Considerar a privacidade, confidencialidade e o sigilo na abordagem das questões de saúde do adolescente;
–
Garantir o direito à cidadania do adolescente, de sua família e da equipe;
–
Respeitar as escolhas do adolescente e de sua família.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
11. a n ota ç ões
Ter capacidade de trabalhar em equipe e interagir com outros setores fundamentais com os quais o serviço deve
estar articulado
–
Compreender a natureza do trabalho em equipe;
– Conhecer os conceitos de multi, inter e transdisciplinaridade; 11
– Identificar os papéis específicos dos diversos integrantes da equipe;
– Criar mecanismos de capacitação continuada da equipe, visando ao aperfeiçoamento da prática;
– Conhecer os princípios das atenções primária, secundária e terciária da saúde, estabelecendo mecanismos de formação
de rede de referência e contra-referência; conhecer as bases do SUS e suas áreas na atenção à saúde do adolescente;
– Registrar as informações necessárias para a manutenção do sistema de informação em saúde, identificando os principais
fluxos e fontes;
– Conhecer os conceitos básicos, metodologias e instrumentos de planejamento, gerência e avaliação de serviços;
– Incentivar o desenvolvimento de parcerias e alianças estratégicas com outros segmentos sociais.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
12. Ter capacidade de desenvolver ações de promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação dos agravos à
saúde do adolescente e jovem
– Compreender os conceitos ampliados de saúde e da origem multifatorial dos agravos à saúde, aplicando-os em sua prática;
12 – Identificar os principais problemas de saúde da região, buscando informações sobre seus determinantes.
– Considerar a diversidade sociocultural dos adolescentes, jovens e suas famílias no desenvolvimento das ações;
– Planejar e desenvolver práticas educativas e participativas que permeiem as ações dirigidas aos adolescentes e jovens,
no âmbito individual e no coletivo;
– Considerar a saúde do adolescente e jovem trabalhador quanto aos seus direitos, bem como a prevenção e identificação
de agravos decorrentes da atividade laborativa;
– Estar atento ao calendário vacinal dos adolescentes e jovens, procedendo à atualização sempre que necessário, de acordo
com as normas do Ministério da Saúde;
– Prestar assistência aos agravos de saúde do adolescente e jovem, envolvendo profissionais de diversas áreas, buscando
responder às necessidades de atenção nos diversos níveis.
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13. a n ota ç ões
As competências específicas foram divididas em três áreas temáticas
Crescimento e desenvolvimento
– Efetuar medidas antropométricas e de avaliação do desenvolvimento puberal, registrando-as em gráficos e tabelas
apropriados e interpretando seu valor segundo os padrões estabelecidos;
– Estabelecer o diagnóstico diferencial dos distúrbios de crescimento e desenvolvimento com base na correlação de
dados epidemiológicos, de anamnese, de exame clínico e da história de vida do adolescente em seu contexto familiar,
orientando a solicitação criteriosa de exames complementares;
– Identificar situações de risco para o crescimento e desenvolvimento – por exemplo, condições clínicas e nutricionais
– estabelecendo medidas de prevenção pertinentes; conhecer as condutas terapêuticas apropriadas para cada caso;
reconhecer as situações que deverão ser encaminhadas a serviços de maior complexidade.
13
Saúde reprodutiva e sexualidade
– Conhecer a anatomia e fisiologia normal do aparelho reprodutivo masculino e feminino; indicar o exame ginecológico
oportuno; reconhecer os comportamentos de risco que possam implicar doenças sexualmente transmissíveis e aids;
saber encaminhar a profissionais habilitados, quando necessário.
– Prevenir, diagnosticar precocemente e acompanhar a gravidez na adolescência; orientar e apoiar o exercício da mater-
nidade/paternidade; identificar e orientar os adolescentes e jovens sexualmente ativos para a prática saudável de sua
sexualidade; diagnosticar precocemente e tratar os principais problemas ginecológicos: vulvovaginites, dismenorréia e
amenorréia secundária; conhecer os aspectos socioculturais que influenciam o comportamento sexual do adolescente
e jovem.
– Considerar a família, os profissionais de educação e amigos como elementos importantes na vida afetiva e sexual do
adolescente e jovem; saber lidar com os aspectos emocionais que envolvem a vivência da sexualidade durante a ado-
lescência.
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14. Principais problemas clínicos
Saúde oral: afecções odontológicas – cáries, doença gengival-periodontal, má oclusão e traumatismos; distúrbios da voz,
fala e linguagem (disfonia, dislalia e gagueira);
Problemas neurológicos – cefaléias;
Problemas dermatológicos – acne e ectoparasitoses;
Problemas infecto-parasitários – parasitoses intestinais, infecções de vias aéreas superiores e inferiores e mononu-
cleose;
14
Problemas crônicos – febre reumática;
Problemas nutricionais – anemia ferropriva, desnutrição, obesidade/sobrepeso e uso de anabolizantes;
Problemas ortopédicos e reumáticos – vícios posturais, artrites, doença de Osgood-Schlater e orientação para a
prática de esportes;
Problemas cardiológicos – hipertensão arterial e sopros cardíacos;
Problemas geniturinários e renais – trauma testicular e infecções urinárias;
Problemas afetivos e comportamentos de risco – depressão, dependência química, abuso de substâncias psicoativas
e violência (acidentes de trânsito, maus-tratos e violência sexual);
Problemas de aprendizagem – causas orgânicas (distúrbios visuais e da audiocomunicação) e causas psicossociais.
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15. a n ota ç ões
Como trabalhar com os módulos?
Antes de mais nada, queremos dizer que a finalidade desse material é servir de base para o desenvolvimento de seu tra-
balho, dentro da atenção à saúde do adolescente e jovem em sua comunidade. Sua participação é vital – só você será capaz de
adaptar as informações nele contidas para as necessidades de sua equipe na assistência à população. Muitas perguntas e várias
respostas estão presentes; entretanto, este material não pretende trazer todas as perguntas, nem ter todas as respostas, até
porque a proposta é iniciar um diálogo que não se esgota nesse conjunto de módulos.
Chegamos à conclusão de que a melhor forma de estimular as discussões acerca dos eixos temáticos seria trazer histó-
rias reais. As histórias são narradas, em sua maioria, em capítulos com perguntas e informações pertinentes aos assuntos em
questão. Por serem histórias reais, podemos mais facilmente nos aproximar de seus protagonistas, do que eles sentiram, do
que eles pensaram, do que eles fizeram. Essas histórias nos foram contadas por vários profissionais de saúde, trazendo aspectos
especialmente valiosos para a construção do material.
Histórias como a de Ana Maria, 16 anos, grávida de três meses, preocupada com as mudanças em seu corpo. Não são 15
apenas as alterações físicas que ela sofre. Ana Maria decide abandonar a escola e antecipar o casamento com Maurício, auxiliar
de cozinha. Experiências como a vivida por Pedro Henrique, 14 anos, que se angustia com seu desenvolvimento físico e atribui
a essas transformações a dificuldade de encontrar namorada. Muitos relatos dão a dimensão da gravidade do problema social
brasileiro. É o caso de Carla, 12 anos, que nunca foi vacinada, mora numa comunidade carente, sem água tratada, e já começa a
comprometer seus dentes. Ou de Nelson, 17 anos, que teve relações sem preservativo e adquiriu doença sexualmente transmis-
sível. Outras vezes a história reflete um desajuste comportamental. André, 16 anos, foi surpreendido fumando maconha com os
colegas na escola. Em conversa com os pais, a orientadora educacional descobriu que a família tem casos de alcoolismo e vive
em conflito constante. Os nomes são fictícios para preservar os pacientes, mas os relatos certamente soam muito familiares.
A metodologia de auto-aprendizagem compõe-se de dois módulos, um básico com 12 casos clínicos e outro avançado
com 14, que podem ser utilizados de acordo com as demandas e necessidades identificadas no seu cotidiano, sem obedecer,
obrigatoriamente, a uma seqüência predeterminada. A lógica de construção e desenvolvimento das competências procura
estabelecer uma relação dialética entre teoria e realidade do trabalho. Quanto maior o diálogo entre os membros da equipe,
mais fácil será alcançar os objetivos.
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16. Por que trabalhar em equipe?
Os problemas de saúde não podem ser entendidos dentro de uma lógica estritamente biológica e descolada do contexto
em que se inserem. Sua abordagem necessita de uma ação interdisciplinar.
Uma estratégia para a viabilização da interdisciplinaridade é discutir os casos clínicos em equipe, com todos os profis-
sionais envolvidos no atendimento. Estudar e decidir em conjunto sobre a conduta de um caso propicia a avaliação com olhares
16 diferenciados e auxilia na divisão de tarefas. Porém, a interdisciplinaridade não deve ser confundida com a idéia de todos faze-
rem tudo, ou como uma simples divisão de responsabilidades. O trabalho em equipe consiste no único caminho para uma visão
integral do indivíduo, valorizando suas singularidades.
Como estão organizados os conteúdos nos módulos?
O conteúdo foi elaborado a partir de relatos de casos que seguem uma seqüência: problematização; enumeração dos
problemas; identificação e indicação de ações a serem desenvolvidas pela equipe; sugestões de abordagens e condutas dos pro-
blemas identificados; dicas e resumos. Cada relato é construído de acordo com os eixos temáticos – competências específicas
– descritos anteriormente.
Os casos clínicos, de níveis distintos de complexidade, abordam as três grandes áreas temáticas previamente eleitas, mas
não são modelos que se reproduzem da mesma forma. É importante ressaltar que cada situação poderá abranger mais de uma
competência específica. As competências transversais estarão implícitas, permeando todos os casos.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
17. a n ota ç ões
Como utilizar o material
Apesar da estrutura flexível dos módulos, que permite uma adaptação às aspirações do grupo, sugerimos que as etapas
sejam cumpridas, passo a passo. O ideal é que você use esse material com a equipe sempre que possível. Leia, escreva, rabisque,
construa árvores de decisão, e, acima de tudo, utilize-o de forma crítica. Sua avaliação é parte importante de nossos objetivos.
Inicialmente, proceda à leitura de cada capítulo de um caso. Agregue às informações outras provenientes de suas expe-
riências anteriores, de suas leituras e de casos já discutidos. Reflita individualmente e depois discuta com seu grupo as questões
por nós elaboradas, procurando esgotar as possibilidades. A seguir é importante que você sintetize suas hipóteses diagnósticas,
suas sugestões de abordagem e encaminhamentos num quadro esquemático que sistematize as suas discussões em equipe. 17
Compare suas sugestões com as nossas, para que possamos trocar experiências e construir juntos um novo saber.
Ao final de cada módulo, você terá acesso a um grupo de instrumentos (Anexos): Desenvolvimento Puberal Masculino e
Feminino; Desenvolvimento Pondo-Estaturtal Masculino e Feminino – NCHS; Tabela – Níveis de Pressão Arterial Masculino e
Feminino; Tabela – Percentis de IMC Masculino e Feminino; Tabela – Percentis de Prega Triciptal Masculino e Feminino; Tabela
– Percentis de Prega Cutânea Subscapular Masculino e Feminino; Esquema Vacinal de Rotina para Adolescentes; Formulário de
Atendimento Clínico; e Formulário Complementar de Saúde Reprodutiva.
Esse conjunto de gráficos e tabelas deverá ser utilizado de acordo com a sua necessidade, para uma melhor abordagem
das questões identificadas nos casos.
Será mais proveitoso que os conteúdos teóricos desse material sejam complementados com outras leituras. Se você tiver
alguma sugestão baseada em bibliografia consultada, ou identificado questões não consideradas nos módulos pela equipe do
NESA, por favor entre em contato conosco. Queremos organizar uma rede entre os profissionais que lidam com adolescentes
e jovens.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
18.
19. a n ota ç ões
Caso 1 – O Anjinho
1.a Parte
19
Pedro Henrique tem 14 anos e participa de grupos educativos no Centro Comunitário de seu bairro. Após uma dessas
atividades, procurou o agente comunitário de saúde, seu amigo, relatando estar preocupado por nunca ter ficado com ne-
nhuma garota. “Toda vez que estou a fim de uma menina, ela diz que sou apenas um grande amigo. Odeio essa frase! Meu
irmão é o cara mais disputado da escola, mas as meninas dizem que sou mais simpático, inteligente e educado. Será que é
por causa do meu jeito e da minha voz? O que está acontecendo comigo? Será que eu não sou normal?”
Refletindo e Discutindo
Que problemas você identifica nesse caso?
Que orientações você daria ao adolescente?
Como podem ser abordadas as dificuldades desse adolescente nos diversos contextos: escola, serviços de saúde e centros comu-
nitários?
20. Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
que participam
20
Glossário
Identidade de gênero – diz respeito ao sexo
no qual o sujeito se reconhece, não necessa-
riamente o sexo biológico.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
21. a n ota ç ões
Que outras informações buscaria e por quê?
21
Aspectos Relevantes Identificados
Insegurança na construção da identidade de gênero
Insatisfação com a auto-imagem
Muda vocal
Abordagem/Conduta
– Estimular o adolescente a falar sobre suas dúvidas e temores;
– Esclarecer a variabilidade do desenvolvimento puberal normal na adolescência;
– Agendar consulta na Unidade Básica de Saúde para avaliação do desenvolvimento puberal e continuidade do acompa-
nhamento.
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22. 2.a Parte
22
Uma semana após, Pedro Henrique comparece à consulta clínica na Unidade Básica de Saúde, conforme orientação
dada pelo agente comunitário. Na consulta relata ser o filho mais novo de uma família de quatro irmãos. Durante a anam-
nese o médico observa que a voz do adolescente sofre várias flutuações. Pedro relata que seus irmãos se desenvolveram
mais rápido do que ele e que, por ser louro e de olhos claros, tem o apelido de “anjinho” desde a infância. Isso o incomoda
bastante, porque, segundo ele, atrapalha no relacionamento com as meninas. Sua mãe é professora de pré-escola e o pai,
contador. O ambiente familiar é harmonioso, porém como os pais trabalham o dia todo, insistem na divisão de responsabi-
lidades e tarefas domésticas, o que ele acha muito chato. Ao exame: altura 1,55 m, peso 50 Kg, P3 G3.
Refletindo e Discutindo
Quais os problemas apresentados pelo adolescente?
Como abordar este caso?
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23. Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
23
A Saúde de Adolescentes e Jovens – módulo básico
24. Aspectos Relevantes Identificados
Dúvidas quanto à normalidade do desenvolvimento puberal e sexual
Abordagem/Conduta
– Conversar com o adolescente, procurando tranqüilizá-lo sobre os aspectos normais do seu desenvolvimento puberal,
incluindo a muda vocal;
24 – Procurar a família para que ajude o adolescente no sentido de valorizá-lo e incentivá-lo;
– Refletir com ele sobre questões relativas à auto-estima e às novas experiências da adolescência;
– Orientar o adolescente e sua família sobre as alterações fisiológicas da voz, se possível ilustrando com gravuras
do aparelho fonador;
– No caso de dúvida quanto à normalidade da muda vocal, encaminhar ao Serviço de Otorrinolaringologia e Fonoaudio-
logia;
– Agendar uma nova consulta.
Lembretes
– O adolescente necessita de atenção e orientação constantes;
– Existe uma grande variabilidade no desenvolvimento puberal normal.
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25. a n ota ç ões
Resumo
Adolescência
A adolescência é um momento da vida humana caracterizado por profundas mudanças físicas, emocionais, mentais e sociais.
A puberdade é o fenômeno biológico que se refere às mudanças fisiológicas e morfológicas resultantes da reativação dos mecanis-
mos neuro-hormonais do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal. As principais manifestações da puberdade são: o estirão puberal,
o desenvolvimento gonadal, o desenvolvimento dos órgãos de reprodução e das características sexuais secundárias, as mudanças
na composição corporal e no desenvolvimento dos sistemas e órgãos internos (MARSHALL; TANNER, 1986).
Ocorre uma grande variabilidade no tempo de início, duração e progressão do desenvolvimento puberal. Do mesmo modo,
ocorrem modificações nas relações sociais – na família, na escola e na comunidade. Os adolescentes vivenciam um processo
contínuo de busca de autonomia e independência. O amadurecimento emocional manifesta-se por um novo olhar para a vida,
25
acompanhado de um questionamento de valores até então aceitos. A interação dessas transformações no contexto da família,
da sociedade e do ambiente sociocultural culmina com a construção da identidade adulta.
Muda vocal
Na puberdade os caracteres sexuais secundários são definidos. A voz sofre modificações significativas em decorrência de
novos padrões hormonais. Há um aumento súbito no índice de crescimento e tamanho da laringe, principal órgão da fonação.
A muda vocal decorre desses novos níveis hormonais que, atuando sobre essa estrutura, a transformam em uma laringe adulta,
tendo como conseqüência um forte impacto vocal. A voz torna-se rouca e instável com várias flutuações. Pode-se ainda observar
pregas vocais edemaciadas, com alterações vasomotoras e hipotonia muscular.
Em sua maioria, as alterações de muda vocal representam situações funcionais, com fatores emocionais associados. Fun-
cionalmente é necessária uma adaptação às novas condições anatômicas. Todo processo é enfrentado com tranqüilidade pela
maioria dos adolescentes. Quando isto não ocorre temos as disfonias de muda, que requerem avaliação especializada.
Os desvios no processo da muda vocal podem também ser resultantes de causas orgânicas, como, por exemplo, defici-
ências auditivas ou alterações estruturais da laringe.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
26. Esquematize no quadro abaixo a proposta da equipe do NESA/UERJ
Problemas Ações Membros da equipe
26
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
27. a n ota ç ões
Caso 2 – Aprendendo Saúde
1.a Parte
D. Selma, diretora de uma escola de ensino fundamental, na periferia de uma grande cidade, vem percebendo que
grande parte dos alunos mostra-se desmotivada e falta muito à escola. Ela convoca uma reunião com os professores para
entender as razões do absenteísmo e evasão escolar e para buscar alternativas em conjunto. Júlia, 16 anos, presidente do
grêmio, também é convocada a participar da reunião. Durante a conversa o grupo fica sabendo que as aulas de História, do
professor Jair, e as de Ciências, da professora Tânia, são as que apresentam o menor índice de faltas. Júlia, aluna de ambos, 27
diz que essas aulas são dinâmicas, em que se discutem temas de interesse dos alunos, como sexualidade, uso de drogas,
profissionalização, relacionamento familiar, entre outros.
Nessa reunião, ficou decidido que todos os professores trabalhariam a cada bimestre com blocos temáticos de direitos
e deveres do cidadão e promoção de saúde, de interesse dos alunos. Para isso, a Unidade Básica de Saúde seria contatada
de modo que a sua equipe participasse da elaboração e do desenvolvimento dessas atividades.
Refletindo e Discutindo
Que problemas você identifica neste caso?
Que estratégias e ações poderão ser desenvolvidas para a melhoria da qualidade do processo de formação dos adolescentes?
Que outras informações você gostaria de saber para um melhor planejamento das estratégias a serem implementadas?
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28. Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
28
Glossário
Absenteísmo e evasão escolar – falta de
assiduidade às aulas e abandono da escola.
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29. a n ota ç ões
Aspectos Relevantes Identificados
Absenteísmo e evasão escolar
Necessidade de fornecer informações sobre saúde e cidadania aos estudantes 29
Abordagem/Conduta
– Identificar os problemas internos e/ou externos que a escola enfrenta no cotidiano, bem como as dificuldades das outras
escolas da região;
– Conhecer o perfil dos alunos matriculados na escola;
– Identificar lideranças juvenis para planejamento das estratégias a serem implementadas;
– Discutir os problemas que podem estar ocorrendo na comunidade e que estejam motivando o absenteísmo e a evasão
escolar;
– Articular atividades socioculturais com as organizações comunitárias: associação de moradores e centros comunitários;
– Buscar parcerias com outras instituições para ações intersetoriais, por exemplo, organizações governamentais e não-
governamentais, clubes, igrejas.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
30. 2.a Parte
Para conquistar os alunos e as famílias no espaço escolar, optou-se pela realização de eventos culturais e esportivos.
Para isso, a escola colocaria à disposição da comunidade o espaço da quadra esportiva para utilização nos fins de semana. Foi
planejado um “show de talentos” para o final do semestre, onde cada aluno ou grupo de alunos interessados poderia apresentar
30 números variados de dança, música, teatro, poesia. Nesse evento haveria uma comissão julgadora e distribuição de prêmios de
incentivo cultural aos melhores concorrentes. Para organizar as atividades constituiu-se um grupo de trabalho, composto por
professores, alunos e familiares, que desde já iniciaria um levantamento de possíveis patrocinadores na comunidade.
Sugeriram-se, também, reuniões entre a escola e as demais entidades que atuam na comunidade, como associações de
moradores, equipes de saúde, escolas próximas, organizações não-governamentais e projetos com atuação na área, a fim de
discutir os problemas locais e refletir acerca de soluções, especialmente as questões de saúde que afligem adolescentes e
jovens.
Refletindo e Discutindo
Que aspectos importantes podem ser identificados?
Como a equipe de saúde pode colaborar com estas atividades?
Discuta as experiências vivenciadas pela sua equipe em situações semelhantes.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
31. a n ota ç ões
Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
31
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
32. Aspectos Relevantes Identificados
Revisão e reformulação da proposta pedagógica da escola.
Articulação entre professores, alunos, familiares e comunidade na busca de alternativas para a solução dos problemas da escola.
Integração intersetorial no encaminhamento de questões comunitárias.
Abordagem/Conduta
32
– Refletir sobre o papel da escola e as possibilidades de aplicação dos resultados dessas reflexões nas atividades desen-
volvidas no cotidiano da instituição;
– Organizar o currículo escolar contemplando a realidade socioeconômica da comunidade onde a escola se insere;
– Promover o espírito de liderança juvenil, estimulando a participação no planejamento, na execução e avaliação das
atividades na escola;
– Desenvolver um trabalho em rede para apoiar as atividades escolares.
Lembretes
A escola é um espaço ideal para promoção de saúde.
A participação dos alunos e de suas famílias no planejamento de ações educativas deve ser incentivada.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
33. a n ota ç ões
Resumo
Todo espaço educativo tem a intenção de contribuir para o desenvolvimento do exercício consciente da cidadania da
população infanto-juvenil, com o auxílio de ações dirigidas à prática de esporte, lazer, cultura, expressão artística e de atividades
que promovam a saúde, principalmente na discussão de conteúdos ligados à sexualidade e a questões ambientais.
Na dimensão desse cenário pedagógico é imperativa a busca da participação dos educandos (adolescentes e jovens) em
propostas educacionais inovadoras. Tais propostas devem almejar também o engajamento dos educandos na vida da comuni-
dade, evidenciar a importância de sua participação na vida social e de seu papel protagonista na construção de um projeto de
vida consciente e responsável.
Numa proposta pedagógica mais ampla, há diversas possibilidades na escolha das áreas ou atividades que poderão ser
trabalhadas. Em qualquer opção, é importante considerar e conciliar as expectativas e interesses dos educandos e as habilidades
e aprendizagem que se quer desenvolver, a fim de que o programa empreendido tenha êxito e atraia um número cada vez maior
de participantes jovens.
Os adolescentes também utilizam o espaço da escola como um local de relações, dentro de um contexto socioeconômico,
cultural e político, em que o currículo tem dupla face – a explícita, disciplinas, e a oculta, com os valores e ideologias acerca dos 33
fatores envolvidos nesta questão. Assim, a ligação entre a vida cotidiana do educando na sua comunidade e a organização do
currículo escolar redefinem o sentido e o papel da escola. Pelo respeito às questões culturais e socioantropológicas, aos saberes
e às experiências da comunidade, devem-se criar condições para a produção e o acesso a novos saberes e ao conhecimento
socialmente produzido e sistematizado.
A tarefa de formar integralmente as novas gerações não é considerada uma atribuição exclusiva da escola, embora esta
conserve a responsabilidade fundamental e específica de ser um lugar privilegiado para o desenvolvimento da aprendizagem.
Além da família e da escola, outros espaços sociais oferecem oportunidades educativas, como amigos e grupos organizados da
sociedade civil. Embora cada um tenha características e especificidades próprias, existem algumas intenções e objetivos comuns.
Daí a importância de a escola articular-se com instituições que complementem seu processo de trabalho educacional com a
população em idade escolar.
A escola entra na vida do jovem como um espaço de grande significado, que enseja a formação de sua identidade. Por isso
a escola representa um lugar privilegiado para a promoção de saúde, ajudando a construir cidadania e envolvendo os diversos
atores deste universo: estudantes, profissionais de educação, familiares, líderes comunitários e profissionais de saúde. Todos
esperam (escola, família, governo e sociedade civil) estar contribuindo para a educação de crianças e jovens a fim de prepará-los
de forma mais adequada para a sua inserção social, mediante o desenvolvimento das potencialidades pessoais.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
34. Esquematize no quadro abaixo a proposta da equipe do NESA/UERJ
Problemas Ações Membros da equipe
34
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
35. a n ota ç ões
Caso 3 – A Caipirinha
Viviane, 15 anos, 8.a série do ensino fundamental, filha única, pais separados, mora com a mãe, empregada doméstica.
Procurou a Unidade Básica de Saúde de sua comunidade por sentir fortes cólicas no período menstrual. Nega relação das
cólicas com hábito intestinal ou alterações urinárias. Refere ter uma boa alimentação e um ciclo menstrual irregular, com
sangramento normal. Viviane nunca teve namorado, apesar de todas as suas amigas já terem vivido essa experiência. Diz
que se considera muito feia, pois seu peito é muito grande e desde que ficou “mocinha” seu nariz mudou de forma e o cabelo
35
encaracolou, não conseguindo mais dar jeito nele. Revela que somente quando bebe “caipirinha” é que consegue ficar feliz
e se relacionar com os meninos. Conta que se sente muito sozinha e triste, achando que eles não se interessam de verdade
por ela. Afirma também que detesta ficar menstruada, pois isso é um incômodo. A menarca foi aos 13 anos e ainda não
iniciou sua vida sexual. Ao exame físico: altura 1,60 cm, peso 55 Kg e estadiamento puberal P4 M4.
Refletindo e Discutindo
Que problemas você identifica nesse caso?
Você considera normal a irregularidade menstrual relatada?
Que perguntas você faria para elucidar melhor o diagnóstico?
Quais seriam as condutas adequadas?
Beber “caipirinha” oferece algum risco a Viviane?
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
36. Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
36
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
37. a n ota ç ões
Aspectos Relevantes Identificados
Dismenorréia/Irregularidade menstrual
Mudança corporal
Auto-estima baixa
Falta de suporte familiar
Uso de bebidas alcoólicas
37
Abordagem/Conduta
Dismenorréia/irregularidade menstrual
– Realizar anamnese detalhada sobre os sintomas relatados e o ambiente social, as relações interpessoais e familiares;
– Proceder a exame físico completo, incluindo a inspeção de genitais externos;
– Investigar os antecedentes ginecológicos: menarca, ritmo menstrual e características da dor;
– Verificar os antecedentes familiares, especialmente a presença de dismenorréia na mãe;
– Informar à adolescente a provável origem funcional e a importância do componente emocional como desencadeante
do quadro doloroso;
– Procurar conversar com Viviane sobre o significado da menstruação para ela e de sua aceitação como um componente
da feminilidade;
– Avaliar a necessidade de investigação diagnóstica por exames complementares (ultra-sonografia pélvica) e de trata-
mento farmacológico.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
38. Mudança corporal
– Conversar com Viviane sobre as mudanças corporais que acontecem na adolescência;
– Procurar saber sobre seu ambiente familiar para observar como essas mudanças estão sendo percebidas e vivencia-
das;
– Reforçar a importância de uma atividade física regular;
– Acompanhar a adolescente.
Baixa auto-estima
38
– Refletir com a adolescente a percepção de si mesma;
– Conversar com ela sobre suas amizades, procurando integrá-la com grupo de adolescentes da comunidade;
– Ressaltar seus aspectos positivos;
– Orientá-la sobre relacionamento afetivo, sexualidade e sobre o caráter normal desses sentimentos de insegurança pe-
rante as mudanças em seu corpo e os novos papéis que tem de desempenhar.
Falta de suporte familiar
– Perguntar à adolescente sobre o seu relacionamento com o pai;
Glossário – Fortalecer o vínculo de Viviane com sua mãe;
– Abordar as dificuldades que Viviane e sua mãe vêm enfrentando no dia-a-dia;
Família ampliada – é aquela que inclui não – Buscar situações relacionadas com a ausência paterna;
apenas o núcleo familiar – pai, mãe, filhos
– Estimular a interação e busca de apoio na “família ampliada” e na comunidade;
– mas, outros membros, tais como avós,
tios, primos. – Esclarecer a importância da figura masculina (papel paterno) na vida de Viviane (o pai ou algum substituto, padrinho, tio etc.)
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
39. a n ota ç ões
Uso de bebidas alcoólicas
– Conversar com a adolescente sobre o que a leva a beber;
– Incentivar Viviane a participar do grupo de adolescentes da Unidade;
– Procurar saber se na casa dela alguém também bebe;
– Orientar e alertar sobre os perigos do uso de bebidas alcoólicas.
Lembretes
– irregularidade menstrual é freqüente nos três primeiros anos após a menarca.
A
–
Ouvir o adolescente é o primeiro passo para entendê-lo.
39
– álcool e o fumo, no Brasil, são considerados drogas ilícitas para menores de 18 anos.
O
– alcoolismo é um grande problema de saúde pública no Brasil.
O
Fatores que contribuem para o adolescente usar álcool:
– O consumo de álcool pelos pais é um dos fatores que influenciam os jovens para o uso abusivo de álcool;
– Na grande maioria das vezes, os adolescentes que bebem participam de um círculo de amizades em que
todos consomem bebida alcoólica;
– É comum a história de uso simultâneo de várias drogas. O álcool freqüentemente é a porta de entrada para o mundo
das drogas;
– Dificuldades emocionais podem levar à busca do álcool como fonte de alívio e prazer.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
40. Resumo
Dismenorréia
A dismenorréia, ou menstruação dolorosa, significa “dificuldade de fluxo” e é uma causa freqüente de dor abdominal
crônica recorrente em adolescentes do sexo feminino. A dismenorréia primária ou funcional aparece em torno do segundo ou
terceiro ano após a menarca. A dismenorréia secundária está associada a alterações como endometriose, má formação do trato
genital, síndrome do ovário policístico, entre outros. Os sintomas são dores do tipo cólica espasmódica, no baixo ventre e região
lombo-sacra, cefaléia, náuseas, insônia, fadiga, vômitos, nervosismo. O início se dá de uma a quatro horas antes da menstruação.
Sua abordagem inclui uma explicação sobre a gênese do problema e, se necessário, tratamento farmacológico.
40 A menstruação tem um significado simbólico importante na vida da mulher, relacionado com ritos e crenças da comunidade
onde está inserida, exercendo um importante papel na construção social da feminilidade. No aparecimento da dismenorréia
podem associar-se múltiplos fatores, desde aqueles ocasionados pelo aumento da contratilidade uterina, ou contrações disrrít-
micas, até os de ordem emocional.
Auto-estima e auto-imagem
As mudanças corporais e psicológicas levam os adolescentes a uma nova relação com os pais e com o mundo. A auto-estima
está relacionada com a confiança que o indivíduo tem em si mesmo. Essa confiança começa a ser construída na família, sendo
conseqüência direta da forma como os pais tratam seus filhos, apóiam suas condutas e decisões. A adolescência se caracteriza
por uma necessidade intensa de separação do modo de pensar e sentir da família. Na busca de identidade, o indivíduo, ao se
distanciar da família, recorre à formação de grupos. Esse contato com o grupo pode proporcionar segurança e estima pessoal.
O jovem, muitas vezes, tem problemas com sua imagem corporal em função das rápidas transformações físicas que seu corpo
experimenta e da tendência a identificar-se com ideais que não correspondem à realidade. Além disso, a cultura também afeta
a auto-imagem. Há imagens que são aceitas ou rechaçadas pelos valores sociais.
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41. a n ota ç ões
Suporte familiar
A interação das mudanças na estrutura familiar e da necessidade do ingresso da mulher no mercado de trabalho aumentou
o tempo que os adolescentes passam sem a presença dos adultos, especialmente dos pais. Dessa forma, o processo de amadu-
recimento que deveria ser gradual, com a aquisição de autonomia e responsabilidade, ocorre de forma abrupta. Além disso, o
distanciamento dos pais torna-se um fato, limitando a comunicação entre os adolescentes e suas famílias. Quando os pais são
separados e a filha mora com a mãe, é importante incentivar o seu convívio com o pai. O afeto masculino é necessário para o
desenvolvimento da feminilidade da mulher. Estudos mostram que a ausência da figura paterna, afetivamente presente na vida
dos filhos, é um fator de risco para a iniciação precoce de atividade sexual, uso de drogas e comportamentos delinqüentes. O
profissional de saúde tem como uma de suas atividades perceber a dinâmica familiar e criar espaços para fortalecer essa relação,
buscando a participação de outras pessoas da família e da comunidade.
Alcoolismo
41
O consumo abusivo de bebida alcoólica pode causar problemas psicossociais, emocionais e orgânicos. Deve-se ressaltar que o
álcool responde pelos elevados índices de mortalidade em acidentes envolvendo adolescentes e jovens. O uso de álcool pelos
pais e grupos de amigos é o principal fator de influência para o consumo entre os jovens. É comum a ingestão simultânea de
várias drogas. Os motivos que levam um adolescente a beber vão desde a curiosidade, o prazer, o desejo de esquecer seus pro-
blemas, à vontade de agir de acordo com o grupo. O álcool provoca inicialmente sensação de bem-estar, euforia, desinibição,
diminuição da ansiedade e da tristeza. Dependendo do volume ingerido pode haver distúrbio psicomotor, embotamento dos
sentidos, tonturas, náuseas, vômitos, desidratação e até levar ao coma. O uso contínuo de bebidas alcoólicas pode causar vício
e lesões em várias partes do organismo, tais como fígado, pâncreas, estômago, sistema nervoso.
O alcoolismo é uma doença que se manifesta pela adição ou dependência de etanol ou álcool etílico. Essa condição faz
com que o indivíduo necessite de um certo volume de etanol na corrente sangüínea para poder executar tarefas. Outro sin-
toma comum é a perda da memória. O tratamento do alcoolismo é complicado porque primeiro o indivíduo deve reconhecer
seu problema, o que geralmente não ocorre. Os grupos de apoio (por exemplo, Alcoólicos Anônimos) podem ser de grande
ajuda porque ali se estabelece uma relação de auxílio mútuo e de maior conhecimento sobre a doença. O alcoolismo tem
conseqüências físicas, tais como pancreatite e lesão cerebral, e sociais graves, como acidentes, suicídio, abuso de menores
e assassinatos.
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42. Esquematize no quadro abaixo a proposta da equipe do NESA/UERJ
Problemas Ações Membros da equipe
42
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
43. a n ota ç ões
Caso 4 – Abra a Boca e Tenha Cuidado
43
1.a parte
Na praça da cidade de Campo Formoso, durante uma feira de saúde, um grupo de profissionais organizou uma
série de atividades voltadas para a saúde oral. Montaram uma barraca com materiais visando à prevenção dos principais
problemas de saúde oral em adolescentes e distribuíram histórias em quadrinhos, escovas, pastas de dentes e embalagens
com fio dental. Os adolescentes divertiram-se nas atividades propostas, encenando os papéis de dentista e paciente. Cada
adolescente teve a oportunidade de fazer a higienização oral e tirar suas dúvidas.
Refletindo e Discutindo
Como os diferentes membros da equipe devem organizar-se para realizar estas atividades?
O que mais você incluiria em uma atividade como esta, tendo em vista os principais problemas de saúde oral dos adolescentes?
Que problemas de saúde oral podem ser diagnosticados precocemente?
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44. Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
44
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
45. a n ota ç ões
Aspectos Relevantes Identificados
Promoção da saúde oral
Prevenção de agravos à saúde oral
Organização de atividade educativa
Abordagem/Conduta 45
Promoção da saúde oral/prevenção de agravos à saúde oral
– Reforçar a continuidade dos cuidados de saúde oral;
– Estimular a adoção de medidas de higiene oral em adolescentes que não têm esse hábito;
– Capacitar professores, promotores juvenis, líderes comunitários e profissionais de saúde para a promoção da saúde
oral e prevenção de agravos;
– Referir à Unidade Básica de Saúde para avaliação e tratamento específicos.
Organização de atividade educativa
– Incentivar a participação de voluntários nas atividades educativas;
– Adaptar metodologias educativas de outras áreas de conhecimento que possam enriquecer a discussão sobre saúde oral;
– Incentivar adolescentes e jovens a desenvolver, com meios próprios, formas de comunicação em saúde oral.
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
46. 2.ª Parte
João, 19 anos, aproxima-se do estande de saúde oral e, ao ouvir sobre a relação entre DST/aids e sexo oral, revela-se
ao mesmo tempo surpreso e preocupado. No momento em que o grupo de adolescentes se afasta, ele pede uma orientação
em particular ao Dr. Mário, cirurgião-dentista. Conta que vem assistindo a muitas palestras sobre DST/aids e que nunca
se preocupou com o risco de contaminação por meio do sexo oral. Fala que achou bastante interessante a demonstração
sobre o uso de protetor de mucosas nesta prática. Dr. Mário reforçou as orientações e mostrou-se disponível para conversar
46 sobre o assunto. O adolescente pergunta se existe diferença na transmissibilidade e poder de infectividade de DST/aids em
relações homo ou heterossexuais. Diz que possui cáries e sangramento gengival, além de aparecerem aftas em sua boca
periodicamente. O dentista enfatiza a importância de João procurá-lo na Unidade Básica de Saúde para iniciar acompa-
nhamento, o mais breve possível.
Refletindo e Discutindo
Que problemas você identifica neste caso?
Quais os principais pontos a serem esclarecidos em relação ao caráter de transmissibilidade e poder de infectividade em relação
a DST/aids na prática do sexo oral?
Quais as doenças que podem ser transmitidas por esta via?
Como podem ser abordadas as manifestações bucais de doenças sexualmente transmissíveis e aids?
Como você aborda as formas de prevenção de DST/aids no sexo oral?
Quais as dificuldades que podem existir na negociação da prática de sexo seguro?
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
47. a n ota ç ões
Esquematize no quadro abaixo a proposta da Equipe de Saúde
Problemas Ações Membros da equipe
47
A Sa úd e d e Ad ole s ce nt es e Jovens - módulo básico
48. Aspectos Relevantes Identificados
Sexo oral
Dúvidas sobre transmissão de DST/aids
Abordagem da situação pela equipe
Cárie, sangramento gengival e aftas
Abordagem/Conduta
Sexo oral
– Conversar com João sobre medidas preventivas de doenças infecciosas advindas da prática de sexo oral;
– Explicar ao adolescente o uso de protetor de mucosas do tipo filme de PVC ou preservativo masculino e feminino;
48 – Estimular o adolescente a conversar sobre suas dúvidas e ansiedades.
Dúvidas sobre transmissão de DST/aids
– Esclarecer as dúvidas sobre as formas de transmissão de DST/aids;
– Oferecer material educativo impresso para reforçar as informações;
– Informar os locais oficiais de distribuição de preservativos;
– Convidar João a participar das atividades de grupo desenvolvidas na Unidade;
– Colocar-se à disposição para esclarecimentos.
Abordagem da situação pela equipe
Glossário
– Levar à equipe da Unidade as situações e dúvidas que surgiram durante a feira de saúde;
SIA – Sistema Informático do Adolescente – Refletir com a equipe a melhor abordagem das questões trazidas por João;
-modelo de prontuário informatizado de – Enfatizar a necessidade de abordagem sistemática de medidas preventivas de DST/aids na prática de sexo oral;
atenção integral ao adolescente. – Incentivar a participação dos agentes comunitários de saúde na sistematização e orientação das medidas preventivas.
A S a ú d e d e Adolescentes e Jovens – módulo básico
49. a n ota ç ões
Cárie, sangramento gengival e aftas
– Reforçar as orientações de higienização oral;
– Encaminhar João para atendimento odontológico na Unidade de Saúde.
3.ª Parte
João foi atendido pelo cirurgião-dentista da Unidade Básica de Saúde. Na consulta, Dr. Mário seguiu o roteiro de 49
anamnese do SIA. No tópico sexualidade, o adolescente respondeu que já havia tido relações com ambos os sexos, sem
proteção. Dr. Mário alertou-o para a necessidade de usar preservativo em todas as relações como única alternativa para
prevenir-se contra DST/aids. Durante o exame da cavidade oral, Dr. Mário, após colocar as luvas, examinou a cavidade oral
e encontrou inúmeras cáries dentárias e inclusive perda de dente (CPO-D=8). Havia também gengivite e lesões aftosas na
região sublingual. Foi feito o plano de tratamento odontológico e o cirurgião-dentista reforçou as orientações de higiene oral.
Enfatizou que as lesões encontradas em sua cavidade oral poderiam facilitar a transmissão de DST/aids no caso de prática
desprotegida de sexo oral. Dr. Mário encaminhou João para consulta médica a fim de complementar o atendimento.
Refletindo e Discutindo
Que novos aspectos aparecem na história?
Quais as ações prioritárias a serem desenvolvidas?
Que profissionais devem ser envolvidos?
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50. Aspectos Relevantes Identificados
Cárie, sangramento gengival e aftas
Comportamento sexual de risco
Abordagem/Conduta
Cárie, sangramento gengival e aftas
– Orientar para evitar o consumo de alimentos ácidos para não piorar as aftas;
– Receitar medicamentos sintomáticos, se o paciente sentir dor;
– Reforçar a necessidade de higienização oral (escova de dentes, pasta dentifrícia com flúor e fio dental) e de orientação
sobre dieta não cariogênica, visando à prevenção de cárie e problemas na gengiva;
– Alertar que a escova dental deve estar em boas condições, devendo ser substituída em média a cada três meses, e que
50 não deve ser compartilhada com outras pessoas;
– Estabelecer e implementar o plano de tratamento odontológico;
– Recomendar a visita periódica ao dentista a cada seis meses ou sempre que necessário.
Comportamento sexual de risco
– Encorajar a discussão sobre sexualidade e gênero, individualmente e/ou em grupo;
– Incentivar a participação do adolescente em atividades educativas desenvolvidas na escola, na comunidade e/ou na
Unidade Básica de Saúde;
– Fornecer os endereços dos locais oficiais de distribuição de preservativo, enfatizando sua necessidade;
– Conversar sobre DST/aids, formas de transmissão, principais sinais e sintomas, importância do tratamento adequado,
comportamentos/atitudes de risco e formas de prevenção, com ênfase no uso de camisinha;
– Prover materiais educativos sobre DST/aids;
– Estimular a discussão acerca de tabus e preconceitos relacionados às DST/aids e ao sexo oral;
– Oferecer o teste anti-HIV;
– Estimular João a convidar os parceiros a comparecer à Unidade para consulta;
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51. a n ota ç ões
Lembretes
As mucosas são portas de entrada para as DST/aids.
Algumas lesões bucais sugerem o diagnóstico de DST/aids.
A atividade sexual responsável deve incluir medidas preventivas na prática do sexo oral.
51
Resumo
Promoção de saúde oral e prevenção de agravos
Os problemas de saúde oral são freqüentes e estão presentes em quase a totalidade da população de adolescentes e jovens
brasileiros. As medidas de promoção da saúde oral e a prevenção dos seus principais agravos devem ser prioritárias em qualquer
programa de saúde pública, visto seu baixo custo e grande efetividade.
As ações voltadas para promoção de saúde oral devem fazer parte do elenco de medidas que visem assegurar a saúde individual
e coletiva. Deve-se capacitar os professores, promotores juvenis e profissionais de saúde nesse campo.
As estratégias de prevenção dos principais agravos à saúde oral devem incluir aquelas que impeçam o aparecimento de doenças,
como cárie, gengivite, má oclusão e DST, entre outras. As instruções de higiene oral (uso de escova e fio dental), aplicação de flúor,
ingestão de dieta não cariogênica, detecção precoce de doenças orais e de hábitos viciosos devem ser difundidas.
A visita periódica ao dentista, de seis em seis meses, é fundamental para a manutenção da saúde oral. As atividades edu-
cativas que envolvem diversas instâncias comunitárias auxiliam na disseminação coletiva de práticas de autocuidado, incluindo
o enfoque de saúde oral.
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52. Aftas
Entre as lesões orais, destacam-se as aftas pelo seu importante componente álgico. Elas se caracterizam por lesões ulce-
rosas agudas, localizadas na mucosa oral, ocorrendo em grupos ou isoladas. Podem ser úlceras pequenas, menores de 1 cm de
diâmetro, que persistem por 10 a 14 dias e se curam sem cicatrizes. As úlceras maiores de 1 cm de diâmetro podem durar de
semanas a meses e também têm resolução completa, sem deixar cicatrizes. As crises recorrentes são comuns com duas ou três
úlceras em cada surto. As mulheres são acometidas com mais freqüência que os homens.
52 A etiologia é desconhecida, mas vários fatores apontam para reações imunológicas localizadas. Deficiências de ferro, vi-
tamina B12 e ácido fólico aumentam a susceptibilidade. Estresse e trauma local (exemplo: mordida, mau uso da escova dental)
constituem os principais fatores precipitantes.
CPO-D
O CPO-D é o índice odontológico mais utilizado para medir o ataque da cárie à dentição. É o ponto de referência para
o diagnóstico de cárie e avaliação dos programas de saúde bucal. As letras significam, respectivamente, dentes cariados (C),
perdidos (P), obturados (O) e a unidade de medida, que é o dente (D). Os perdidos (P) subdividem-se em extraídos (E) e com
extração indicada (Ei).
O total de dentes atacados representa a experiência individual de cárie, enquanto que o CPO-D médio para um grupo
é obtido pela divisão de todos os dentes atacados pelo número de indivíduos examinados. Por exemplo: a) uma pessoa com
cinco dentes cariados, três obturados e um extraído terá um CPO-D=9; b) um levantamento realizado em um grupo de 200
pessoas, encontra 400 dentes cariados, 300 obturados, 100 com extração indicada e 260 extraídos, num total de 1.060. A divisão
deste total por 200 (número de pessoas consultadas) determina um CPO-D médio igual a 5,3. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) considera aceitável um CPO-D igual ou inferior a 3.
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53. a n ota ç ões
Higiene Bucal
O procedimento co- Com a escova para-
A DOENÇA DA CÁRIE
Como a Placa Bacteriana causa Cárie
-
FIO OU FITA DENTAL
COMO ESCOVAR CORRETAMENTE
meça com o corte lela à linha da gengi-
A cárie e as doenças da gengiva são causadas pela placa aproximado de 40 cm va, escove pressio-
bacteriana. A única forma de combatê-las é adquirindo de fio dental que de- nando suavemente
como hábito a limpeza adequada dos dentes, pela esco- verá ser enrolado en- suas cerdas, para
vação correta e pelo uso do fio dental ou da fita dental. O tre os dedos médios. que elas penetrem
primeiro estágio da cárie é uma mancha branca, reversível, Após, deve ser desenrolado de um dedo entre os dentes e a gengiva, fazendo
diagnosticada pelo dentista. A recuperação dessa lesão para outros para que seja utilizada apenas movimentos horizontais curtos.
inicial se dá pela remineralização, pelo uso de flúor e a sua parte limpa entre os dentes.
por uma limpeza adequada.
Com o fio dental Sempre com movi-
bem esticado, faça-o mentos delicados
deslizar suavemen- você deve girar a
te entre os dentes escova na direção
e gengiva, fazendo da gengiva para
Consumo
freqüente de açúcar
Placa
bacteriana movimentos de o dente. Repita o 53
cima para baixo de forma delicada. procedimento em
todos os dentes.
Placa
cariogênica
Má higiene Desmineralização Boa higiene bucal Repetindo o proces- A mesma opera-
Remineralização
bucal do dente +
uso racional do flúor
do dente so em todos os es- ção deve ser feita
paços interdentais. na face interna dos
dentes, usando a
escova na vertical.
Lesões
irreversíveis
Mancha
branca
Lesões
reversíveis
(manchas brancas)
Tratamento
restaurador
Tratamento da
doença cárie
O ideal é começar Faça o mesmo na
pelos dentes do fun- parte superior dos
do. Utilize fio ou fita dentes. Para com-
Dentes dental sempre após pletar, escove tam-
restaurados
as refeições, o que bém a língua, para
Dentes
facilita em muito que todo o meio
intactos uma rápida higienização. bucal fique higienizado.
Fonte: Johnson & Johnson.
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54. Esquematize no quadro abaixo a proposta da equipe do NESA/UERJ
Problemas Ações Membros da equipe
54
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