2. Proençaissoenmuibentrobar e dizen eles que é con amor, mays os que troban no tempo da flor e nonen outro sey eu ben que non amtamgrancoyta no seu coraçon qual m’eu por mha senhor vejo levar. Pero que troban e sabenloar sas senhores o mays e o melhor que eles podem, sõo sabedor que os que troban, quand’afrolsazon á e non ante, se Deus mi perdon, nonan tal coyta qual eu seysen par. Ca os que troban e que ss’alegrar vaneno tempo que ten a color a frolconsigu’e, tanto que se fôr aquel tempo, logu’entrobarrazon nonan, nonviven (en) qual perdiçon oj’euvyvo, que poysm’á de matar. D. Dinis Os provençais que bem sabem trovar! e dizem eles que trovam com amor, mas os que cantam na estação da flor e nunca antes, jamais no coração semelhante tristeza sentirão qual por minha senhora ando a levar. Muito bem trovam! Que bem sabem louvar as suas bem-amadas! Com que ardor os povençais lhes tecem um louvor! Mas os que trovam durante a estação da flor e nunca antes, sei que não conhecem dor que à minha se compare. Os que trovam e alegres vejo estar quando na flor está derramada a cor e que depois quando a estação se for, de trovar não mais se lembrarão, esses, sei eu que nunca morrerão de desventura que vejo a mim matar. Natália Correia
6. Essa cantiga é chamada de mestria porque não tem refrão, é artisticamente mais bem elaborada, fugindo aos esquemas da lírica popular. Quanto à estrutura, o poema é composto de três estrofes, cada qual de oito versos decassílabos, com o esquema rítmico abbcca, que se repete em todas as cobras, estabelecendo assim um chamamento fónico entre os versos externos (primeiro e último) e internos (segundo e terceiro, quarto e quinto) das três estrofes. A tal entrelaçamento sonoro corresponde uma interacção semântica, pois as três cobras giram em torno da mesma idéia básica: o amor que o eu poemático sente pela mulher amada é muito mais sincero e duradouro que o amor cantado pelos trovadores da Provença. Se, de um lado, o rei-trovador admite a inegável influência da poesia trovadoresca do sul da França sobre a lírica peninsular, de outro lado faz questão de ressaltar que sua poesia, fugindo do convencionalismo de escola, é mais autêntica, exprimindo realmente o que se passa no coração do poeta. Assim, na primeira estrofe, revela que os trovadores provençais, por cantarem apenas durante a primavera, não podem sentir a coita, a dor amorosa que ele sente por sua senhora durante o ano todo. Dá a entender, então, que os provençais são versejadores profissionais, que não sentem o que cantam. Tal momento ideológico, com pequenas variantes, encontra-se repetido nas duas estrofes seguintes. É interessante notar que, nos dois versos finais, o eu poemático afirma que a intensidade do sofrimento de amor pode levá-lo à morte. A relação amor-morte, como já vimos, é uma constante na lírica occitânica. Na cantiga de amigo que analisamos, de carácter realístico, era a falta do amor carnal que poderia causar a morte da jovem apaixonada; aqui, na cantiga de amor, de carácter idealizante, é apenas a ausência, a não-visão do rosto da mulher amada, que pode causar a morte do trovador. A mulher, portanto, é quase divinizada: sua figura irradia a luz que dá a vida. A cantiga de amor contém em germe uma concepção de vida medieval que encontrará em Dante Alighieri a melhor expressão estética: especialmente no cântico do Paraíso de sua Divina comédia, as almas são tanto mais felizes quanto mais estão perto da luz celestial.
7. Que soidade de mia senhor heiquando me nembra dela qual a vi,e que me nembra que bem a oífalar; e por quanto bem dela sei,rogu'eu a Deus que end'há o poder,que ma leixe, se lhiprouguer, veer cedo; ca, pero mi nunca fez bem,se a nom vir, nom me posso guardard'ensandecer[1] ou morrer com pesar;e, porque ela tod'em poder tem,rogu'eu a Deus que end'há o poder,que ma leixe, se lhiprouguer, veer cedo; ca tal a fez Nostro Senhor,de quantas outras no mundo somnomlhi fez par, a la minha fé, nom;e poi-la fez das melhores melhor,rogu'eu a Deus que end'há o poder,que ma leixe, se lhiprouguer, veer cedo; ca tal a quis Deus fazerque, se a nom vir, nom posso viver. Que saudade da minha senhor tenho,quando me lembro de como a vie que me lembro de como bem a ouvifalar, e, por quanto bem de ela sei rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque, para mim nunca fez bem,se não a vir, não me posso guardarde enlouquecer ou morrer com pesar,e, por que ela todo o poder disso tem, rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque como a fez Nosso Senhor;de quantas outras no mundo hánão fez outra como ela, não,e, pois a fez das melhores a melhor, rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque tal como a quis Deus fazerque, se não a vir, não posso viver.
9. Que saudade da minha senhor tenho,quando me lembro de como a vie que me lembro de como bem a ouvifalar, e, por quanto bem de ela sei rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque, para mim nunca fez bem,se não a vir, não me posso guardarde enlouquecer ou morrer com pesar,e, por que ela todo o poder disso tem, rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque como a fez Nosso Senhor;de quantas outras no mundo hánão fez outra como ela, não,e, pois a fez das melhores a melhor, rogo a Deus, que para isso tem o poder que me deixe, se a assim aprovar, verCedo, porque tal como a quis Deus fazerque, se não a vir, não posso viver.
10. Tema: trovar de amor. Assunto: o sujeito poético enaltece e elogia a sua dama, referindo as suas qualidades morais, exaltando a sua beleza e afirmando que nenhuma outra a ela se compara. Recursos estilísticos: hipérbole (ao longo de todo o poema); quantificativos: "todo, gran, mui, ben, muigran, melhor"; polissíndeto: "e beleza e lorr e falar muiben e rir melhor". Forma:cantiga de mestria, Verbos decassílabos Esquema rimático: abbacca; rima interpolada e emparelhada, pobre.