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História da Leitura e da Edição


Sessão de 25 de Janeiro de 2013

Livro, Leitura e Edição Digital:
Contornos e Questões




                                   1
Do que falamos quando falamos em
livro, texto ou edição digital?
   Recordemos a definição canónica atribuída
    ao livro: “conjunto de cadernos, manuscritos ou
    impressos, cosidos ordenadamente e formando
    um bloco. (…) Segundo a agência portuguesa
    para o ISBN é toda a publicação não periódica
    com um mínimo de 48 páginas. Segundo a ISO
    é uma publicação impressa não periódica, com
    mais de 48 páginas, sem incluir as da capa, que
    constitui uma unidade bibliográfica”. In FARIA e
    PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao
    livro electrónico, 2008, p. 763.

                                                   2
   Esta definição, não obstante arbitrária, tem
    servido de conceito operativo. Porém, pode
    contribuir para o apagamento de dois factos:
    Primeiro, do livro electrónico, entendido pelas
    autoras citadas como “livro em forma electrónica.
    Usa-se por oposição a livro impresso” (p. 778).
    Segundo, da diversidade que pode existir entre
    tudo aquilo que caiba naquela definição. Um livro
    impresso poucas semelhanças tem com um livro
    manuscrito (excepto na fase dos incunábulos), e é
    igualmente abusivo pensar que todos os livros
    impressos são semelhantes, quer enquanto
    objecto (“que um livro não é hoje, para as pessoas, o
    mesmo objecto de há trezentos, cem, ou mesmo
    trinta anos, ninguém tem dúvidas”. In LISBOA – Ao
    leytor, 1997, p. 19), quer respeitante ao modo
    como são ou podem ser lidos (Rayuela, dic., enc). 3
Cosmographia, Pomponius Mela                Bíblia de 42 linhas, Gutenberg
Fonte: FONTAINE - L’aventure du             Fonte: Fontaine – idem.
livre, 1999.




         Fonte: FOUCHÉ (dir) -L’édition française depuis 1945, 1998.    4
 No digital, essa variância talvez seja ainda mais
  evidente, nutrindo de uma maior complexidade
  qualquer análise.
 Furtado alerta para a dificuldade em definir o livro e a
  edição electrónicas, embora seja imperioso fazê-lo.
  Vagamente, edição electrónica é aquela que, não
  tendo o papel como suporte, apresenta um texto na
  sua forma electrónica, a qual pode ser bastante
  diversa – e-mail, páginas Web, processadores de
  texto, etc. In Furtado – O papel e o pixel, 2007, p. 23-
  24.
 Livro electrónico/digital ou e-book designa o texto
  que é convertido para o suporte digital, e também o
  texto que é originalmente criado neste ambiente.
  Mais estritamente, um e-book é a integração de um
  texto        electrónico      (e-text)     num        e-
  reader, precisamente um aparelho leitor. Mas além de
  texto, imagens, vídeo e áudio podem também ser
  incluídos.
                                                         5
   Edição electrónica: “expressão usada para designar a
    aplicação das tecnologias da informação às artes gráficas.
    Baseia-se na utilização de um software capaz de
    controlar o tratamento de texto, de modo a poder
    formatar, corrigir gralhas, melhorar e alterar esse texto,
    bem como fazer o seu armazenamento em memória
    magnética e ainda a sua impressão. (…) Engloba dois
    tipos de textos, que vão desde as representações
    derivadas ou secundárias de livros impressos publicados
    ou de textos que foram pensados primeiro que tudo para
    serem publicação impressa e a publicação de textos
    electrónicos, que à partida foram pensados e concebidos
    para serem apresentados em suportes digitais”. In FARIA
    e PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao livro
    electrónico, 2008, p. 430. Esta definição reúne a ideia de
    desktop publishing, a digitalização (transferência de
    suporte) de textos e os textos nados digitais.


                                                             6
Vários ramos da leitura e do texto
digitais
 Web
 Ebook “tradicional” – se as primeiras versões se
  apresentavam em Cd-Rom ou DVD-Rom, hoje em dia
  são software/ficheiros que podem surgir numa
  multiplicidade de formatos (PDF, DOC, e-
  PUB, AZW, TXT, CBR, MOBI…) e ser lidos em
  diferentes     plataformas:   PCs, portáteis, e-
  readers, tablets, telemóveis.
 Enhanced ebook – trata-se de um ebook que é
  “enriquecido” com elementos multimédia ou
  realidade aumentada, podendo mesmo ser
  interactivos.

   Destes ramos, uns aproximam-se mais do livro
    impresso, outros afastam-se consideravelmente – o
    que nos remeterá para as questões da leitura.    7
Le Petit Robert em Cd-Rom     E-reader Kindle 3.
Fonte: BLASSELLE – Histoire   Fonte: Wikipedia.
du livre, v. II, 1998.




                                                   8
Leitura e leituras
   Ora, muitos investigadores e historiadores assumem
    que, como coloca McKenzie, “forms effect meaning” (in
    MCKENZIE – Bibliography and the sociology of texts, p.
    13), ou seja, as formas produzem sentido. Quer esta
    fórmula dizer que o modo com que os textos se
    apresentam, seja o seu suporte, o seu formato, a sua
    organização,        a   tipografia,     entre     outros
    elementos, influem na leitura.
   Evidentemente, isto não significa desvalorizar outros
    elementos determinantes para a recepção do leitor. A
    sua condição histórica, a sua psicologia, entre
    outros, são importantes. Quer-se apenas frisar que, do
    lado do texto, a sua materialidade é fundamental.
   Refere Darnton: “a experiência de leitura de um pequeno
    in-12º, desenhado para caber facilmente numa das mãos, é
    consideravelmente diferente da de ler um fólio pesado
    sustentado por um suporte”. In DARNTON – The case for
    books, 2009, p. 39.                                     9
 Tal linha de raciocínio ajuda a compreender a
  evolução da leitura ao longo dos séculos. O
  códice permitia uma experiência de leitura
  distinta quando comparado com o rolo.
  Possibilitava ler e escrever em simultâneo, por
  exemplo. Tornava mais fácil comparar passagens
  e avançar/recuar no texto. Era portátil e
  manuseável. Posteriormente, novas experiências
  de leitura foram abertas com a separação de
  palavras, pontuação, paginação, índices, minúscul
  as, entre outros elementos.
 Na realidade, “ao longo da história, a leitura tem
  significado coisas bem diferentes para vários povos”.
  In Fischer – A history of reading, 2004, p. 12.


                                                      10
 Continuando         a     seguir      esta      linha
  argumentativa, e reconhecendo o digital como
  um novo suporte da escrita, compreende-se
  que este se apresente capaz de introduzir novas
  experiências de leitura e modificando mesmo a
  relação do texto com o leitor.
 Esta é a posição de um Roger Chartier, para
  quem o digital significa uma nova técnica de
  reprodução       dos     textos, uma          radical
  transformação do suporte e uma nova
  organização da escrita. (In CHARTIER –
  “Lecture. Histoire de la lecture”. In FOUCHÉ et
  al – Dictionnaire encyclopedique du livre, 2005).
 A leitura digital, a experiência de leitura que é
  executada sobre textos digitais, terá as suas
  particularidades, que devêm precisamente das
  formas que o texto aí assume.
                                                      11
   Há porém que entender as diferenças de práticas de
    leitura entre os vários “ramos” das publicações digitais.
    Porque o digital não é unívoco. E a experiência de
    leitura que proporciona nem sempre é radicalmente
    distinta da do impresso.
   A Web, regra geral, traduz uma leitura mais próxima da
    que se fazia no rolo da Antiguidade (o texto no ecrã
    “desenrola-se” de cima para baixo), do que da leitura
    página a página habitualmente presente no impresso.

    Ao mesmo tempo, a Web caracteriza-se pela presença
    do hipertexto, que potencia uma leitura menos
    sequencial e mais radial. Privilegia-se a navegação rápida
    e a identificação imediata do conteúdo; tais
    aspectos, documentam estudos na área das
    neurociências, se beneficiam o multitasking, podem
    conduzir à distracção e à falta de concentração. Estes
    efeitos têm sido amplamente criticados por um
    Nicholas Carr, por exemplo.                              12
 O e-book típico, nesse sentido, assemelha-se ao que
  um livro impresso oferece. O design é similar ao de
  um códice, incluindo a paginação e a tipografia.
  Certos ebooks – mesmo aqueles que são produzidos
  de raiz em ambiente digital – são como que fac-
  símiles de livros impressos (e-cunábulos).
 Conclui-se que o ebook não é tão revolucionário, na
  experiência de leitura, quanto o enhanced ebook ou a
  Web.
 Na      verdade,       cruzam-se     duas     filosofias:
  Uma, a de que o ebook deve mimetizar o
  impresso, sendo uma das razões o hábito dos
  leitores, que transitarão mais facilmente para o digital
  caso este imite aquilo a que estão acostumados;
  Outra, a de que o ebook se deve afastar do impresso
  e tirar partido das capacidades do digital: integrando
  links    internos     e    externos, multimédia        e
  interactividade, facultando uma experiência nova.
                                                          13
Entre tablets e e-readers…
   São dois dispositivos (aos quais poderíamos juntar
    PCs, notebooks, telemóveis…) com propósitos distintos. Um e-
    reader é um aparelho desenhado essencialmente para ler e-books.
    Um tablet é um aparelho multifunções; entre elas, a leitura de
    textos (através de aplicações dedicadas à função).
   A experiência de leitura que se tem em ambos os aparelhos é
    distinta – porque, reforce-se, os propósitos de cada um são
    também distintos.
   E-readers trabalham com a tecnologia e-ink (RGB ou p/b que
    preenche micro-esferas). Tablets (assim como PCs) valem-se de
    pixéis com brilho. Isto influencia a legibilidade e o cansaço da vista.
    Ademais, a duração da bateria é bastante superior num e-reader.
   O conforto é então diferente quando se comparam os dois
    aparelhos. E-readers são mais eficazes quando o que se pretende é
    uma leitura prolongada e imersiva (deep reading); os tablets são
    mais eficazes para o zapping, leituras “activas” onde é necessário
    comparar passagens de fontes diversas.                                14
   Refira-se que os consumidores estão a preferir os tablets aos e-
    readers. Estes últimos sofrem um decréscimo acentuado das
    vendas em 2012, prevendo-se a continuação dessa queda (números
    relativos aos EUA)




             Fonte: YAROW – Chart of the day: the death of
             the e-book reader, Dec. 13 2012. [Em linha].
   A recolha executada pelo PEW sustenta esta tendência. A nov. de
    2012, 19% dos adultos norte-americanos possuía e-reader, 25%
    tablet.                                                       15
O Crescimento do mercado digital
(oferta e procura)
   Não há ainda muitas estatísticas, e nem todas são fiáveis, quer
    porque os critérios nem sempre são explicitados, quer porque a
    pirataria constitui um obstáculo sério, quer porque as grandes
    empresas nem sempre apresentam valores, mas os poucos
    números disponíveis apontam para um sólido crescimento, pelo
    menos em alguns países.

   Em 2011, o mercado ebook registou vendas próximas dos 2.4 mil
    milhões de euros e foi dominado pela América do Norte, com os
    EUA a deterem 98% e o Canadá 2% de aproximadamente 2 mil
    milhões de euros, seguindo-se a Ásia (cerca de 250 milhões de
    euros), com a Coreia do Sul, o Japão e a China como principais
    mercados (45%, 25% e 25%, respectivamente) e a União
    Europeia, terceira região a nível mundial, com vendas próximas dos
    180 milhões de euros. Reino Unido (52%), Alemanha (28%) e
    França (7%) são os países com maior volume de vendas.


Fontes: BONFANTI, BOTTAI, FERRARIO – Do readers dream of electronic books?
Presentation for the IfBookThen Conference,February 2012. [Em linha].   16
 A taxa de penetração do ebook no mercado editorial
  era assim estimada:
  América do Norte = 17-18%
  Ásia = 2.2-2.4%
  Europa = 1-1.1%
  América do Sul = inferior a 0.1%
 Por países, estimava-se:
  EUA = 20% (21% segundo o PEW)
  Coreia do Sul = 14-15%
  Reino Unido = 7% (segundo a Publishers Association, no
  seu relatório sobre 2011, as vendas representaram 92
  milhões de libras,uma subida de 366% em comparação
  com 2010. O impresso registou uma queda de 7%, com
  vendas de 1.579 milhões de libras).
Fontes: COLPISA/AFP – Los expertos consideram que el e-book no matará
el libro, 2012. [Em linha]
          FLOOD – Huge rise in ebook sales offsets…, 2012 [Em linha].   17
   Recentemente, foi publicado um estudo fiável com dados relativos
      a Espanha. A conclusão a que chegou foi a de uma ascensão da
      edição electrónica no país vizinho.

               2008         2009        2010        2011        2012*
      Nº       2.519        5.077       12.948      18.538      20.079
      % do      2.4%        4.6%      11.3%      15.9%      22%
      total
      Contudo, a facturação não acompanha os valores da oferta. Em
       2011, representava apenas 2,6% do total (equivalente a 72,58
       milhões de Euros). Os indicadores mais recentes mostram, no
       entanto, que os valores para os produtos digitais estão a subir, ao
       passo que a facturação do impresso cai (números da Federación de
       Gremios de Editores de España relativos ao 1º sem. 2012 indicam
       uma queda de 10% face ao mesmo período de 2011).
Fontes: OBSERVATORIO DE LA LECTURA Y DEL LIBRO – El sector del libro
en España, 2010-2012, Septiembre 2012. [Em linha].
        EUROPA PRESS – La venta de livros en España cae un 10%, 2012. [Em linha].
       VAINAIMOINEN – Aumentan las ventas de ereaders…, 2012. [Em linha].
        *FGEE – El sector editorial español publicó…, 2013. [Em linha].       18
   Números para os Estados Unidos confirmam a tendência, com a
    agravante de o mercado digital, aqui, estar mais avançado. O
    projecto Pew Internet & American Life fez um levantamento a
    norte-americanos acima dos 16 anos, e confirmou:
    - 78% dos indivíduos declarava ter lido um livro
    (independentemente do suporte) em 2011.
    - Essa percentagem baixou para 75% em 2012 (até nov.).
    - Em 2011, 16% dos norte-americanos liam e-books.
    - Esse número passou a 23% em 2012.
    - A % de pessoas que lia livros impressos em 2011 era de 72%.
    - Esse valor caiu para 67% em 2012.
    - A % de pessoas que tinham pelo menos um tablet ou um e-
    reader era, até dez. de 2011, de 18%. A novembro de 2012, cifrava-
    se nos 33%.
    - Do universo de indívidos leitores (75% da população maior de 16
    anos, recorde-se), a percentagem que declarou ler ebooks é de
    30% (números até nov. 2012), com destaque para o segmento da
    população entre os 30 e os 49 anos (41% declara ler livros digitais).
Fonte: PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-book reading jumps;
print book reading declines, December 2012. [Em linha].                 19
   Os números disponíveis relativamente a 2012:
    Espanha: 3%.
    EUA: 23% (total pop.), 30% (pop. leitora)
    Reino Unido: sabe-se que, durante o primeiro
    semestre, as vendas de ebooks cresceram face a 2011:
    188% na ficção, 128% na não-ficção, 171% nos livros
    infantis.
   E em Portugal? Escasseiam as informações. Dados não
    oficiais apontam que a penetração do ebook, em
    2011, era de 1-2%. A preferência pelo livro impresso e o
    preço dos e-readers são apontadas como as razões
    mais significativas da resistência aos ebooks, isto
    segundo um estudo divulgado pela Renascença.
Fontes: COSTA (editado por) – Estudo desvenda hábitos de leitura em livros
electrónicos, 2012. [Em linha]
        CELLAN-JONES – Digital fiction book sales roar…, 2012. [Em linha].
                                                                             20
   No Brasil, o mercado da oferta está a avançar a passos
    lentos, mas consistentes (o gráfico não mostra o total).




   Quanto à procura, os resultados são contraditórios. Em
    2011, as vendas de ebooks corresponderam a apenas 862 mil
    reais, quando foram lançados 5235 títulos. Claro que estes
    números não reflectem os que leram gratuitamente nem os
    que lêem sobretudo em língua inglesa.

Fontes: MELO – Em 6 meses, catálogo de ebooks…, 2012. [Em linha]
        MELO – Faturamento com ebooks em 2011…, 2012 [Em linha].   21
   Parece ser essa discrepância entre ebooks comprados na
    língua nativa (relativamente poucos) e entre ebooks
    comprados em língua inglesa (aparentemente muitos) que
    tem deixado editores e livreiros brasileiros espantados. Um
    estudo da Bowker divulgado a mar. 2012 aponta mesmo o
    Brasil como o terceiro mercado mundial do livro
    digital, indicando que 7% dos brasileiros já havia adquirido
    ebooks. Estes números não convencem os especialistas.




Fontes: GREENFIELD – E-book adoption in the US…, 2012. [Em linha]
                                                                    22
Algumas      especificidades          do
ecossistema digital
 Embora o mercado do livro impresso e o
  mercado do livro digital sejam ambos
  mercados editoriais, existem diferenças
  marcantes.
 Teoria da cauda longa
 Os modelos de negócio de big players
  como a Apple e a Amazon
 O problema do lock in
 Auto-publicação
                                        23
A teoria da Cauda Longa
   O mercado tradicional e a regra de Pareto: 20% dos produtos
    geram 80% das receitas (mercado de massa). Deste modo, a grande
    maioria dos comerciantes – por exemplo, livreiros –, como não
    pode (por razões de armazenamento) oferecer todos os títulos
    disponíveis, aposta mais nos livros que garantem retorno.
   A Cauda Longa (Long Tail) fundamenta-se nas capacidades
    permitidas pela Internet, que torna rentável um mercado de nicho:
    este mercado caracteriza-se por disponibilizar uma oferta
    praticamente ilimitada, em lugar de privilegiar apenas o que é mais
    vendável, e baseia-se na regra dos 98%: 98% dos produtos
    oferecidos vendem pelo menos um exemplar, consistindo numa
    procura de cauda longa – aposta-se num grande número de
    produtos que vendem pouco, produtos de nicho, aposta
    economicamente atractiva visto os custos de manutenção serem
    iguais para um produto que vende muito e para um que vende
    pouco. Os grandes retalhistas, como a Amazon, têm aqui o grosso
    das suas receitas, sendo a principal razão para o seu vasto catálogo..
                                                                        24
Fonte: OKABE, Marcio Hiroshi – Cauda longa e o Google. 2009 [Em linha]
                                                                         25
Os modelos de negócio dos
big players
 Apple e Amazon são os dois grandes revendedores
  do mercado norte-americano e mundial. Cada uma
  destas empresas tem apresentado um modelo de
  sucesso.
 A Amazon compra ebooks a editoras e coloca-os à
  venda na sua loja (revenda), ao preço que bem
  entende – muitas das vezes, abaixo do preço de
  custo, quando não gratuitamente. Isto porque o
  grande propósito da Amazon é criar mercado para o
  Kindle.
 Já a Apple desenvolve um revenue sharing. É feito um
  acordo com as editoras, a quem cabe definir o preço
  de venda ao público. Os lucros são partilhados, tendo
  a Apple uma margem de 30%.

Fonte: FAVA – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011, p. 142.
                                                          26
O Problema do lock in
   Embora esteja a ser sucessivamente mitigado, graças à
    proliferação e crescente adopção de formatos
    abertos, o lock in constitui ainda uma barreira a uma
    maior penetração do livro electrónico.
   Em que consiste o lock in? Na vinculação, provocada
    pelos fabricantes, entre e-readers e textos, de tal forma
    que um mesmo texto não possa ser lido por dois e-
    readers diferentes.
   Actualmente, há uma cada vez maior aposta em
    formatos abertos, que possam ser lidos pela maior
    parte dos aparelhos (PDF, e-PUB…), mas os formatos
    proprietários continuam a aparecer, obrigando, no
    melhor dos casos, a constantes actualizações de
    software e, no pior, a não se poder ler. Exemplos: Sony
    Reader = BBeB; Kindle = AZW.

                                                            27
Auto-publicação
 A auto-publicação, “a decisão de um autor publicar uma
  obra por si escrita, em nome próprio, assumindo o grosso
  das responsabilidades inerentes à sua opção:
  financia, produz, cormercializa e vende o seu próprio livro”
  (in FURTADO – Chegámos ao mundo…, 2011. [Em
  linha]), não sendo um fenómeno exclusivo do
  digital, tem encontrado neste suporte um terreno fértil.
 Plataformas como iBooks Author (Apple), Kindle Direct
  Publishing (Amazon), Simplíssimo (Brasil), Bubok
  (Espanha e Portugal) e a recém-criada Escrytos (LeYa)
  permitem a qualquer pessoa publicar um ebook, sem
  passar pelos aspectos formais da edição tradicional.
 Porém, é uma via não isenta de problemas, como
  plágios, ausência de qualidade, falta de registo de ISBN.
                                                             28
Há livros e “livros”…
 Falou-se, no início, da tendência para
  esquecer o livro digital.
 O ebook continua a padecer de uma
  subalternidade de estatuto relativamente
  ao impresso. O paradigma dessa
  menoridade encontra-se estabelecida na
  muito criticada taxa de IVA, que trata o
  ebook como se fosse um produto
  informático e não como um livro.

                                         29
IVA praticado no livro e no ebook
                                  NO LIVRO

DE        ES          FR          IT       UK        EUA        BR           PT
7%      4%/21%    5,5%/19,6%    4%/21%      0%        0%        0%           6%



                                  NO EBOOK

 DE        ES         FR           IT       UK       EUA        BR           PT
19%       21%         7%          21%      20%        0%        0%           23%

Nota: à excepção da França (19,6%), estes são os valores taxados aos Cds e
Cd-Roms na União Europeia (o que, de resto, valeu protestos da UE).

Fonte:
EUROPEAN COMISSION – VAT rates applied in the member states of the
European Union. Situation at 14th January 2013. [Em linha].
                                                                                   30
   Em resposta às críticas (não só de indivíduos, mas
    inclusivamente de alguns Estados-membros) que visam estas
    discrepâncias, bem reveladoras da diferença de estatuto
    entre o livro impresso e o livro electrónico, e ao
    crescimento do mercado do ebook na Europa, a União
    Europeia fez sair, a 26 de Junho de 2012, uma Declaration on
    ebooks, na qual se compromete a rever a questão do
    IVA, revisão essa assente em duas premissas:
    a) o novo regime deve ser neutral relativamente aos ebooks
    b) não deve prejudicar as vendas dos livros impressos.

   Contudo, estima-se que uma proposta legislativa só venha a
    conhecer a luz do dia em finais de 2013.

   Em Portugal, a proposta de OE para 2013 reconhecia ser
    “urgente preparar a indústria do livro para o fim da discriminação
    fiscal do livro electrónico”, mas tal requer precisamente a União
    Europeia: tentativas de Estados-membros em aplicar, por
    iniciativa própria, taxas reduzidas de IVA aos ebooks
    (França, Luxemburgo, Espanha) sofreram oposição da
    UE, argumentando distorção da concorrência.
                                                                     31
O “Papel” do editor
 A validade do editor tem sido questionada no domínio da
  publicação digital, seja porque o mercado é dinamizado por
  big players como a Amazon ou a Apple (que não são editores
  no sentido estrito do termo), seja porque as plataformas de
  auto-publicação aparentam dispensar a função de filtro que
  tradicionalmente o editor tem desempenhado.
 Não oferece discussão que o digital vem introduzir uma
  fractura e obrigar as profissões ligadas à edição a lidar com a
  mudança. Mas os rumores sobre o fim do editor são
  manifestamente exagerados. Há mesmo vozes (Fava, Mollet)
  que indicam o editor poder tornar-se mais importante à
  medida que o mercado digital evolui, mantendo as suas
  competências core – mediação, escolha, gestão e promoção
  de autores, marketing e distribuição – e adquirindo outras
  novas.
 Exige-se, sobretudo, que o editor esteja tecnologicamente
  actualizado.

                                                                32
ANÁLISE SWOT
STRENGTHS WEAKNESSES                   OPPORTUNITIES           THREATS

   Contínua            Lock in            Mercado mais          Resistência dos
   inovação                                disponível               luditas
 Leitura social   Obsolescência (de     Novos modelos de            Pirataria
                   formatos e de       negócio (cauda longa)
                    dispositivos)
  Multimédia        Dificuldades de       Nativos digitais      Transparência
                  interoperabilidade                               invasiva
    Elevada       Menor legibilidade       Crescimento         IVA diferenciado
 capacidade de                         sucessivo da oferta e
armazenamento                               da procura
 /portabilidade
                   DRM restritivo           Efeito rede        Direitos de autor
                                                               pouco adequados
                      Mediação                                  Iliteracia digital
                     tecnológica                                                     33
Incógnita final
 Crescendo o mercado digital (embora só nos EUA e em
  alguns países asiáticos se atinjam números relevantes), é
  provável, mas não definitivo, haver uma redefinição do
  mercado do impresso para uma situação de
  nicho, valorizando o livro-objecto, evitando canibalizar as
  vendas. Menos provável? A “morte do livro”. E muito menos
  a morte da leitura.
 Não se deve esquecer que o digital pode apoiar o livro
  impresso. Basta citar o desktop publishing ou a divulgação pela
  Web, e há casos de lançamentos de ebooks feitos com o
  propósito de publicitar as versões impressas.
 O livro e a leitura tradicionais, feitas sobre documentos
  impressos, não parecem estar em risco, pelo menos a curto-
  médio prazo. Pacífico é perderem o monopólio que detinham
  antes da chegada do digital.                                  34
   Uma sondagem levada a cabo pela Random House dentro do
       universo composto pelos leitores adultos de ebooks nos EUA
       permite tecer comparações com os leitores de livros impressos.
            ebook        impresso                           l. ebook     l. impresso
                                          Importância da    73%          60%
                                          leitura
homens      37%          41%              Falar de livros   51%          37%
                                          c/amigos
mulheres    63%          59%
                                          A par das         34%          23%
<45 anos    60%          53%              novidades

       Esta e outras sondagens revelam que os leitores de ebooks são
       mais activos e mais entusiastas, quer com textos digitais, quer com
       textos impressos. E também que o leitor normal de ebooks lê e
       compra mais livros impressos do que os restantes. Há uma maior
       probabilidade de os leitores de ebooks serem grandes leitores, isto
       é, de lerem mais de x (os valores variam de país para país: mais de
       11 em Portugal, pelo menos 20 na Alemanha, mais de 25 em
       França…) livros por ano. (In SIGNORINI, Les images…, 2003).
       Fonte: PARK – Who reads ebooks?, 2013 [Em linha]
              DAUER – Infográfico – a tendência do e-reading, 2012 [Em linha].   35
Alguma bibliografia aconselhada
   CHARTIER, Roger – A ordem dos livros, 1997.
   FARIA, Maria Isabel e PERICÃO, Maria Graça –
    Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008.
   FAVA,Andrea – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011.
   FURTADO, José Afonso – O papel e o pixel, 2007.
   PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-
    book reading jumps; print book reading declines, December
    2012.
   PINHEIRO, Carlos – Dicionário do e-book, 2011.
   E o programa exibido na RTP2, Nativos Digitais:
http://www.rtp.pt/play/p682/e101096/nativos-digitais


                                                              36

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Hle25 jan

  • 1. História da Leitura e da Edição Sessão de 25 de Janeiro de 2013 Livro, Leitura e Edição Digital: Contornos e Questões 1
  • 2. Do que falamos quando falamos em livro, texto ou edição digital?  Recordemos a definição canónica atribuída ao livro: “conjunto de cadernos, manuscritos ou impressos, cosidos ordenadamente e formando um bloco. (…) Segundo a agência portuguesa para o ISBN é toda a publicação não periódica com um mínimo de 48 páginas. Segundo a ISO é uma publicação impressa não periódica, com mais de 48 páginas, sem incluir as da capa, que constitui uma unidade bibliográfica”. In FARIA e PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008, p. 763. 2
  • 3. Esta definição, não obstante arbitrária, tem servido de conceito operativo. Porém, pode contribuir para o apagamento de dois factos: Primeiro, do livro electrónico, entendido pelas autoras citadas como “livro em forma electrónica. Usa-se por oposição a livro impresso” (p. 778). Segundo, da diversidade que pode existir entre tudo aquilo que caiba naquela definição. Um livro impresso poucas semelhanças tem com um livro manuscrito (excepto na fase dos incunábulos), e é igualmente abusivo pensar que todos os livros impressos são semelhantes, quer enquanto objecto (“que um livro não é hoje, para as pessoas, o mesmo objecto de há trezentos, cem, ou mesmo trinta anos, ninguém tem dúvidas”. In LISBOA – Ao leytor, 1997, p. 19), quer respeitante ao modo como são ou podem ser lidos (Rayuela, dic., enc). 3
  • 4. Cosmographia, Pomponius Mela Bíblia de 42 linhas, Gutenberg Fonte: FONTAINE - L’aventure du Fonte: Fontaine – idem. livre, 1999. Fonte: FOUCHÉ (dir) -L’édition française depuis 1945, 1998. 4
  • 5.  No digital, essa variância talvez seja ainda mais evidente, nutrindo de uma maior complexidade qualquer análise.  Furtado alerta para a dificuldade em definir o livro e a edição electrónicas, embora seja imperioso fazê-lo. Vagamente, edição electrónica é aquela que, não tendo o papel como suporte, apresenta um texto na sua forma electrónica, a qual pode ser bastante diversa – e-mail, páginas Web, processadores de texto, etc. In Furtado – O papel e o pixel, 2007, p. 23- 24.  Livro electrónico/digital ou e-book designa o texto que é convertido para o suporte digital, e também o texto que é originalmente criado neste ambiente. Mais estritamente, um e-book é a integração de um texto electrónico (e-text) num e- reader, precisamente um aparelho leitor. Mas além de texto, imagens, vídeo e áudio podem também ser incluídos. 5
  • 6. Edição electrónica: “expressão usada para designar a aplicação das tecnologias da informação às artes gráficas. Baseia-se na utilização de um software capaz de controlar o tratamento de texto, de modo a poder formatar, corrigir gralhas, melhorar e alterar esse texto, bem como fazer o seu armazenamento em memória magnética e ainda a sua impressão. (…) Engloba dois tipos de textos, que vão desde as representações derivadas ou secundárias de livros impressos publicados ou de textos que foram pensados primeiro que tudo para serem publicação impressa e a publicação de textos electrónicos, que à partida foram pensados e concebidos para serem apresentados em suportes digitais”. In FARIA e PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008, p. 430. Esta definição reúne a ideia de desktop publishing, a digitalização (transferência de suporte) de textos e os textos nados digitais. 6
  • 7. Vários ramos da leitura e do texto digitais  Web  Ebook “tradicional” – se as primeiras versões se apresentavam em Cd-Rom ou DVD-Rom, hoje em dia são software/ficheiros que podem surgir numa multiplicidade de formatos (PDF, DOC, e- PUB, AZW, TXT, CBR, MOBI…) e ser lidos em diferentes plataformas: PCs, portáteis, e- readers, tablets, telemóveis.  Enhanced ebook – trata-se de um ebook que é “enriquecido” com elementos multimédia ou realidade aumentada, podendo mesmo ser interactivos.  Destes ramos, uns aproximam-se mais do livro impresso, outros afastam-se consideravelmente – o que nos remeterá para as questões da leitura. 7
  • 8. Le Petit Robert em Cd-Rom E-reader Kindle 3. Fonte: BLASSELLE – Histoire Fonte: Wikipedia. du livre, v. II, 1998. 8
  • 9. Leitura e leituras  Ora, muitos investigadores e historiadores assumem que, como coloca McKenzie, “forms effect meaning” (in MCKENZIE – Bibliography and the sociology of texts, p. 13), ou seja, as formas produzem sentido. Quer esta fórmula dizer que o modo com que os textos se apresentam, seja o seu suporte, o seu formato, a sua organização, a tipografia, entre outros elementos, influem na leitura.  Evidentemente, isto não significa desvalorizar outros elementos determinantes para a recepção do leitor. A sua condição histórica, a sua psicologia, entre outros, são importantes. Quer-se apenas frisar que, do lado do texto, a sua materialidade é fundamental.  Refere Darnton: “a experiência de leitura de um pequeno in-12º, desenhado para caber facilmente numa das mãos, é consideravelmente diferente da de ler um fólio pesado sustentado por um suporte”. In DARNTON – The case for books, 2009, p. 39. 9
  • 10.  Tal linha de raciocínio ajuda a compreender a evolução da leitura ao longo dos séculos. O códice permitia uma experiência de leitura distinta quando comparado com o rolo. Possibilitava ler e escrever em simultâneo, por exemplo. Tornava mais fácil comparar passagens e avançar/recuar no texto. Era portátil e manuseável. Posteriormente, novas experiências de leitura foram abertas com a separação de palavras, pontuação, paginação, índices, minúscul as, entre outros elementos.  Na realidade, “ao longo da história, a leitura tem significado coisas bem diferentes para vários povos”. In Fischer – A history of reading, 2004, p. 12. 10
  • 11.  Continuando a seguir esta linha argumentativa, e reconhecendo o digital como um novo suporte da escrita, compreende-se que este se apresente capaz de introduzir novas experiências de leitura e modificando mesmo a relação do texto com o leitor.  Esta é a posição de um Roger Chartier, para quem o digital significa uma nova técnica de reprodução dos textos, uma radical transformação do suporte e uma nova organização da escrita. (In CHARTIER – “Lecture. Histoire de la lecture”. In FOUCHÉ et al – Dictionnaire encyclopedique du livre, 2005).  A leitura digital, a experiência de leitura que é executada sobre textos digitais, terá as suas particularidades, que devêm precisamente das formas que o texto aí assume. 11
  • 12. Há porém que entender as diferenças de práticas de leitura entre os vários “ramos” das publicações digitais. Porque o digital não é unívoco. E a experiência de leitura que proporciona nem sempre é radicalmente distinta da do impresso.  A Web, regra geral, traduz uma leitura mais próxima da que se fazia no rolo da Antiguidade (o texto no ecrã “desenrola-se” de cima para baixo), do que da leitura página a página habitualmente presente no impresso. Ao mesmo tempo, a Web caracteriza-se pela presença do hipertexto, que potencia uma leitura menos sequencial e mais radial. Privilegia-se a navegação rápida e a identificação imediata do conteúdo; tais aspectos, documentam estudos na área das neurociências, se beneficiam o multitasking, podem conduzir à distracção e à falta de concentração. Estes efeitos têm sido amplamente criticados por um Nicholas Carr, por exemplo. 12
  • 13.  O e-book típico, nesse sentido, assemelha-se ao que um livro impresso oferece. O design é similar ao de um códice, incluindo a paginação e a tipografia. Certos ebooks – mesmo aqueles que são produzidos de raiz em ambiente digital – são como que fac- símiles de livros impressos (e-cunábulos).  Conclui-se que o ebook não é tão revolucionário, na experiência de leitura, quanto o enhanced ebook ou a Web.  Na verdade, cruzam-se duas filosofias: Uma, a de que o ebook deve mimetizar o impresso, sendo uma das razões o hábito dos leitores, que transitarão mais facilmente para o digital caso este imite aquilo a que estão acostumados; Outra, a de que o ebook se deve afastar do impresso e tirar partido das capacidades do digital: integrando links internos e externos, multimédia e interactividade, facultando uma experiência nova. 13
  • 14. Entre tablets e e-readers…  São dois dispositivos (aos quais poderíamos juntar PCs, notebooks, telemóveis…) com propósitos distintos. Um e- reader é um aparelho desenhado essencialmente para ler e-books. Um tablet é um aparelho multifunções; entre elas, a leitura de textos (através de aplicações dedicadas à função).  A experiência de leitura que se tem em ambos os aparelhos é distinta – porque, reforce-se, os propósitos de cada um são também distintos.  E-readers trabalham com a tecnologia e-ink (RGB ou p/b que preenche micro-esferas). Tablets (assim como PCs) valem-se de pixéis com brilho. Isto influencia a legibilidade e o cansaço da vista. Ademais, a duração da bateria é bastante superior num e-reader.  O conforto é então diferente quando se comparam os dois aparelhos. E-readers são mais eficazes quando o que se pretende é uma leitura prolongada e imersiva (deep reading); os tablets são mais eficazes para o zapping, leituras “activas” onde é necessário comparar passagens de fontes diversas. 14
  • 15. Refira-se que os consumidores estão a preferir os tablets aos e- readers. Estes últimos sofrem um decréscimo acentuado das vendas em 2012, prevendo-se a continuação dessa queda (números relativos aos EUA) Fonte: YAROW – Chart of the day: the death of the e-book reader, Dec. 13 2012. [Em linha].  A recolha executada pelo PEW sustenta esta tendência. A nov. de 2012, 19% dos adultos norte-americanos possuía e-reader, 25% tablet. 15
  • 16. O Crescimento do mercado digital (oferta e procura)  Não há ainda muitas estatísticas, e nem todas são fiáveis, quer porque os critérios nem sempre são explicitados, quer porque a pirataria constitui um obstáculo sério, quer porque as grandes empresas nem sempre apresentam valores, mas os poucos números disponíveis apontam para um sólido crescimento, pelo menos em alguns países.  Em 2011, o mercado ebook registou vendas próximas dos 2.4 mil milhões de euros e foi dominado pela América do Norte, com os EUA a deterem 98% e o Canadá 2% de aproximadamente 2 mil milhões de euros, seguindo-se a Ásia (cerca de 250 milhões de euros), com a Coreia do Sul, o Japão e a China como principais mercados (45%, 25% e 25%, respectivamente) e a União Europeia, terceira região a nível mundial, com vendas próximas dos 180 milhões de euros. Reino Unido (52%), Alemanha (28%) e França (7%) são os países com maior volume de vendas. Fontes: BONFANTI, BOTTAI, FERRARIO – Do readers dream of electronic books? Presentation for the IfBookThen Conference,February 2012. [Em linha]. 16
  • 17.  A taxa de penetração do ebook no mercado editorial era assim estimada: América do Norte = 17-18% Ásia = 2.2-2.4% Europa = 1-1.1% América do Sul = inferior a 0.1%  Por países, estimava-se: EUA = 20% (21% segundo o PEW) Coreia do Sul = 14-15% Reino Unido = 7% (segundo a Publishers Association, no seu relatório sobre 2011, as vendas representaram 92 milhões de libras,uma subida de 366% em comparação com 2010. O impresso registou uma queda de 7%, com vendas de 1.579 milhões de libras). Fontes: COLPISA/AFP – Los expertos consideram que el e-book no matará el libro, 2012. [Em linha] FLOOD – Huge rise in ebook sales offsets…, 2012 [Em linha]. 17
  • 18. Recentemente, foi publicado um estudo fiável com dados relativos a Espanha. A conclusão a que chegou foi a de uma ascensão da edição electrónica no país vizinho. 2008 2009 2010 2011 2012* Nº 2.519 5.077 12.948 18.538 20.079 % do 2.4% 4.6% 11.3% 15.9% 22% total  Contudo, a facturação não acompanha os valores da oferta. Em 2011, representava apenas 2,6% do total (equivalente a 72,58 milhões de Euros). Os indicadores mais recentes mostram, no entanto, que os valores para os produtos digitais estão a subir, ao passo que a facturação do impresso cai (números da Federación de Gremios de Editores de España relativos ao 1º sem. 2012 indicam uma queda de 10% face ao mesmo período de 2011). Fontes: OBSERVATORIO DE LA LECTURA Y DEL LIBRO – El sector del libro en España, 2010-2012, Septiembre 2012. [Em linha]. EUROPA PRESS – La venta de livros en España cae un 10%, 2012. [Em linha]. VAINAIMOINEN – Aumentan las ventas de ereaders…, 2012. [Em linha]. *FGEE – El sector editorial español publicó…, 2013. [Em linha]. 18
  • 19. Números para os Estados Unidos confirmam a tendência, com a agravante de o mercado digital, aqui, estar mais avançado. O projecto Pew Internet & American Life fez um levantamento a norte-americanos acima dos 16 anos, e confirmou: - 78% dos indivíduos declarava ter lido um livro (independentemente do suporte) em 2011. - Essa percentagem baixou para 75% em 2012 (até nov.). - Em 2011, 16% dos norte-americanos liam e-books. - Esse número passou a 23% em 2012. - A % de pessoas que lia livros impressos em 2011 era de 72%. - Esse valor caiu para 67% em 2012. - A % de pessoas que tinham pelo menos um tablet ou um e- reader era, até dez. de 2011, de 18%. A novembro de 2012, cifrava- se nos 33%. - Do universo de indívidos leitores (75% da população maior de 16 anos, recorde-se), a percentagem que declarou ler ebooks é de 30% (números até nov. 2012), com destaque para o segmento da população entre os 30 e os 49 anos (41% declara ler livros digitais). Fonte: PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-book reading jumps; print book reading declines, December 2012. [Em linha]. 19
  • 20. Os números disponíveis relativamente a 2012: Espanha: 3%. EUA: 23% (total pop.), 30% (pop. leitora) Reino Unido: sabe-se que, durante o primeiro semestre, as vendas de ebooks cresceram face a 2011: 188% na ficção, 128% na não-ficção, 171% nos livros infantis.  E em Portugal? Escasseiam as informações. Dados não oficiais apontam que a penetração do ebook, em 2011, era de 1-2%. A preferência pelo livro impresso e o preço dos e-readers são apontadas como as razões mais significativas da resistência aos ebooks, isto segundo um estudo divulgado pela Renascença. Fontes: COSTA (editado por) – Estudo desvenda hábitos de leitura em livros electrónicos, 2012. [Em linha] CELLAN-JONES – Digital fiction book sales roar…, 2012. [Em linha]. 20
  • 21. No Brasil, o mercado da oferta está a avançar a passos lentos, mas consistentes (o gráfico não mostra o total).  Quanto à procura, os resultados são contraditórios. Em 2011, as vendas de ebooks corresponderam a apenas 862 mil reais, quando foram lançados 5235 títulos. Claro que estes números não reflectem os que leram gratuitamente nem os que lêem sobretudo em língua inglesa. Fontes: MELO – Em 6 meses, catálogo de ebooks…, 2012. [Em linha] MELO – Faturamento com ebooks em 2011…, 2012 [Em linha]. 21
  • 22. Parece ser essa discrepância entre ebooks comprados na língua nativa (relativamente poucos) e entre ebooks comprados em língua inglesa (aparentemente muitos) que tem deixado editores e livreiros brasileiros espantados. Um estudo da Bowker divulgado a mar. 2012 aponta mesmo o Brasil como o terceiro mercado mundial do livro digital, indicando que 7% dos brasileiros já havia adquirido ebooks. Estes números não convencem os especialistas. Fontes: GREENFIELD – E-book adoption in the US…, 2012. [Em linha] 22
  • 23. Algumas especificidades do ecossistema digital  Embora o mercado do livro impresso e o mercado do livro digital sejam ambos mercados editoriais, existem diferenças marcantes.  Teoria da cauda longa  Os modelos de negócio de big players como a Apple e a Amazon  O problema do lock in  Auto-publicação 23
  • 24. A teoria da Cauda Longa  O mercado tradicional e a regra de Pareto: 20% dos produtos geram 80% das receitas (mercado de massa). Deste modo, a grande maioria dos comerciantes – por exemplo, livreiros –, como não pode (por razões de armazenamento) oferecer todos os títulos disponíveis, aposta mais nos livros que garantem retorno.  A Cauda Longa (Long Tail) fundamenta-se nas capacidades permitidas pela Internet, que torna rentável um mercado de nicho: este mercado caracteriza-se por disponibilizar uma oferta praticamente ilimitada, em lugar de privilegiar apenas o que é mais vendável, e baseia-se na regra dos 98%: 98% dos produtos oferecidos vendem pelo menos um exemplar, consistindo numa procura de cauda longa – aposta-se num grande número de produtos que vendem pouco, produtos de nicho, aposta economicamente atractiva visto os custos de manutenção serem iguais para um produto que vende muito e para um que vende pouco. Os grandes retalhistas, como a Amazon, têm aqui o grosso das suas receitas, sendo a principal razão para o seu vasto catálogo.. 24
  • 25. Fonte: OKABE, Marcio Hiroshi – Cauda longa e o Google. 2009 [Em linha] 25
  • 26. Os modelos de negócio dos big players  Apple e Amazon são os dois grandes revendedores do mercado norte-americano e mundial. Cada uma destas empresas tem apresentado um modelo de sucesso.  A Amazon compra ebooks a editoras e coloca-os à venda na sua loja (revenda), ao preço que bem entende – muitas das vezes, abaixo do preço de custo, quando não gratuitamente. Isto porque o grande propósito da Amazon é criar mercado para o Kindle.  Já a Apple desenvolve um revenue sharing. É feito um acordo com as editoras, a quem cabe definir o preço de venda ao público. Os lucros são partilhados, tendo a Apple uma margem de 30%. Fonte: FAVA – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011, p. 142. 26
  • 27. O Problema do lock in  Embora esteja a ser sucessivamente mitigado, graças à proliferação e crescente adopção de formatos abertos, o lock in constitui ainda uma barreira a uma maior penetração do livro electrónico.  Em que consiste o lock in? Na vinculação, provocada pelos fabricantes, entre e-readers e textos, de tal forma que um mesmo texto não possa ser lido por dois e- readers diferentes.  Actualmente, há uma cada vez maior aposta em formatos abertos, que possam ser lidos pela maior parte dos aparelhos (PDF, e-PUB…), mas os formatos proprietários continuam a aparecer, obrigando, no melhor dos casos, a constantes actualizações de software e, no pior, a não se poder ler. Exemplos: Sony Reader = BBeB; Kindle = AZW. 27
  • 28. Auto-publicação  A auto-publicação, “a decisão de um autor publicar uma obra por si escrita, em nome próprio, assumindo o grosso das responsabilidades inerentes à sua opção: financia, produz, cormercializa e vende o seu próprio livro” (in FURTADO – Chegámos ao mundo…, 2011. [Em linha]), não sendo um fenómeno exclusivo do digital, tem encontrado neste suporte um terreno fértil.  Plataformas como iBooks Author (Apple), Kindle Direct Publishing (Amazon), Simplíssimo (Brasil), Bubok (Espanha e Portugal) e a recém-criada Escrytos (LeYa) permitem a qualquer pessoa publicar um ebook, sem passar pelos aspectos formais da edição tradicional.  Porém, é uma via não isenta de problemas, como plágios, ausência de qualidade, falta de registo de ISBN. 28
  • 29. Há livros e “livros”…  Falou-se, no início, da tendência para esquecer o livro digital.  O ebook continua a padecer de uma subalternidade de estatuto relativamente ao impresso. O paradigma dessa menoridade encontra-se estabelecida na muito criticada taxa de IVA, que trata o ebook como se fosse um produto informático e não como um livro. 29
  • 30. IVA praticado no livro e no ebook NO LIVRO DE ES FR IT UK EUA BR PT 7% 4%/21% 5,5%/19,6% 4%/21% 0% 0% 0% 6% NO EBOOK DE ES FR IT UK EUA BR PT 19% 21% 7% 21% 20% 0% 0% 23% Nota: à excepção da França (19,6%), estes são os valores taxados aos Cds e Cd-Roms na União Europeia (o que, de resto, valeu protestos da UE). Fonte: EUROPEAN COMISSION – VAT rates applied in the member states of the European Union. Situation at 14th January 2013. [Em linha]. 30
  • 31. Em resposta às críticas (não só de indivíduos, mas inclusivamente de alguns Estados-membros) que visam estas discrepâncias, bem reveladoras da diferença de estatuto entre o livro impresso e o livro electrónico, e ao crescimento do mercado do ebook na Europa, a União Europeia fez sair, a 26 de Junho de 2012, uma Declaration on ebooks, na qual se compromete a rever a questão do IVA, revisão essa assente em duas premissas: a) o novo regime deve ser neutral relativamente aos ebooks b) não deve prejudicar as vendas dos livros impressos.  Contudo, estima-se que uma proposta legislativa só venha a conhecer a luz do dia em finais de 2013.  Em Portugal, a proposta de OE para 2013 reconhecia ser “urgente preparar a indústria do livro para o fim da discriminação fiscal do livro electrónico”, mas tal requer precisamente a União Europeia: tentativas de Estados-membros em aplicar, por iniciativa própria, taxas reduzidas de IVA aos ebooks (França, Luxemburgo, Espanha) sofreram oposição da UE, argumentando distorção da concorrência. 31
  • 32. O “Papel” do editor  A validade do editor tem sido questionada no domínio da publicação digital, seja porque o mercado é dinamizado por big players como a Amazon ou a Apple (que não são editores no sentido estrito do termo), seja porque as plataformas de auto-publicação aparentam dispensar a função de filtro que tradicionalmente o editor tem desempenhado.  Não oferece discussão que o digital vem introduzir uma fractura e obrigar as profissões ligadas à edição a lidar com a mudança. Mas os rumores sobre o fim do editor são manifestamente exagerados. Há mesmo vozes (Fava, Mollet) que indicam o editor poder tornar-se mais importante à medida que o mercado digital evolui, mantendo as suas competências core – mediação, escolha, gestão e promoção de autores, marketing e distribuição – e adquirindo outras novas.  Exige-se, sobretudo, que o editor esteja tecnologicamente actualizado. 32
  • 33. ANÁLISE SWOT STRENGTHS WEAKNESSES OPPORTUNITIES THREATS Contínua Lock in Mercado mais Resistência dos inovação disponível luditas Leitura social Obsolescência (de Novos modelos de Pirataria formatos e de negócio (cauda longa) dispositivos) Multimédia Dificuldades de Nativos digitais Transparência interoperabilidade invasiva Elevada Menor legibilidade Crescimento IVA diferenciado capacidade de sucessivo da oferta e armazenamento da procura /portabilidade DRM restritivo Efeito rede Direitos de autor pouco adequados Mediação Iliteracia digital tecnológica 33
  • 34. Incógnita final  Crescendo o mercado digital (embora só nos EUA e em alguns países asiáticos se atinjam números relevantes), é provável, mas não definitivo, haver uma redefinição do mercado do impresso para uma situação de nicho, valorizando o livro-objecto, evitando canibalizar as vendas. Menos provável? A “morte do livro”. E muito menos a morte da leitura.  Não se deve esquecer que o digital pode apoiar o livro impresso. Basta citar o desktop publishing ou a divulgação pela Web, e há casos de lançamentos de ebooks feitos com o propósito de publicitar as versões impressas.  O livro e a leitura tradicionais, feitas sobre documentos impressos, não parecem estar em risco, pelo menos a curto- médio prazo. Pacífico é perderem o monopólio que detinham antes da chegada do digital. 34
  • 35. Uma sondagem levada a cabo pela Random House dentro do universo composto pelos leitores adultos de ebooks nos EUA permite tecer comparações com os leitores de livros impressos. ebook impresso l. ebook l. impresso Importância da 73% 60% leitura homens 37% 41% Falar de livros 51% 37% c/amigos mulheres 63% 59% A par das 34% 23% <45 anos 60% 53% novidades Esta e outras sondagens revelam que os leitores de ebooks são mais activos e mais entusiastas, quer com textos digitais, quer com textos impressos. E também que o leitor normal de ebooks lê e compra mais livros impressos do que os restantes. Há uma maior probabilidade de os leitores de ebooks serem grandes leitores, isto é, de lerem mais de x (os valores variam de país para país: mais de 11 em Portugal, pelo menos 20 na Alemanha, mais de 25 em França…) livros por ano. (In SIGNORINI, Les images…, 2003). Fonte: PARK – Who reads ebooks?, 2013 [Em linha] DAUER – Infográfico – a tendência do e-reading, 2012 [Em linha]. 35
  • 36. Alguma bibliografia aconselhada  CHARTIER, Roger – A ordem dos livros, 1997.  FARIA, Maria Isabel e PERICÃO, Maria Graça – Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008.  FAVA,Andrea – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011.  FURTADO, José Afonso – O papel e o pixel, 2007.  PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E- book reading jumps; print book reading declines, December 2012.  PINHEIRO, Carlos – Dicionário do e-book, 2011.  E o programa exibido na RTP2, Nativos Digitais: http://www.rtp.pt/play/p682/e101096/nativos-digitais 36