Este documento discute vários tópicos relacionados a livros, leitura e edição digital. Primeiro, define livro digital e edição eletrônica e discute as diferentes formas de publicações digitais como web, e-books e enhanced e-books. Em seguida, analisa como os diferentes formatos afetam a experiência de leitura e como tablets e e-readers proporcionam experiências distintas. Por fim, apresenta dados sobre o crescimento do mercado digital de livros em diferentes regiões.
1. História da Leitura e da Edição
Sessão de 25 de Janeiro de 2013
Livro, Leitura e Edição Digital:
Contornos e Questões
1
2. Do que falamos quando falamos em
livro, texto ou edição digital?
Recordemos a definição canónica atribuída
ao livro: “conjunto de cadernos, manuscritos ou
impressos, cosidos ordenadamente e formando
um bloco. (…) Segundo a agência portuguesa
para o ISBN é toda a publicação não periódica
com um mínimo de 48 páginas. Segundo a ISO
é uma publicação impressa não periódica, com
mais de 48 páginas, sem incluir as da capa, que
constitui uma unidade bibliográfica”. In FARIA e
PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao
livro electrónico, 2008, p. 763.
2
3. Esta definição, não obstante arbitrária, tem
servido de conceito operativo. Porém, pode
contribuir para o apagamento de dois factos:
Primeiro, do livro electrónico, entendido pelas
autoras citadas como “livro em forma electrónica.
Usa-se por oposição a livro impresso” (p. 778).
Segundo, da diversidade que pode existir entre
tudo aquilo que caiba naquela definição. Um livro
impresso poucas semelhanças tem com um livro
manuscrito (excepto na fase dos incunábulos), e é
igualmente abusivo pensar que todos os livros
impressos são semelhantes, quer enquanto
objecto (“que um livro não é hoje, para as pessoas, o
mesmo objecto de há trezentos, cem, ou mesmo
trinta anos, ninguém tem dúvidas”. In LISBOA – Ao
leytor, 1997, p. 19), quer respeitante ao modo
como são ou podem ser lidos (Rayuela, dic., enc). 3
4. Cosmographia, Pomponius Mela Bíblia de 42 linhas, Gutenberg
Fonte: FONTAINE - L’aventure du Fonte: Fontaine – idem.
livre, 1999.
Fonte: FOUCHÉ (dir) -L’édition française depuis 1945, 1998. 4
5. No digital, essa variância talvez seja ainda mais
evidente, nutrindo de uma maior complexidade
qualquer análise.
Furtado alerta para a dificuldade em definir o livro e a
edição electrónicas, embora seja imperioso fazê-lo.
Vagamente, edição electrónica é aquela que, não
tendo o papel como suporte, apresenta um texto na
sua forma electrónica, a qual pode ser bastante
diversa – e-mail, páginas Web, processadores de
texto, etc. In Furtado – O papel e o pixel, 2007, p. 23-
24.
Livro electrónico/digital ou e-book designa o texto
que é convertido para o suporte digital, e também o
texto que é originalmente criado neste ambiente.
Mais estritamente, um e-book é a integração de um
texto electrónico (e-text) num e-
reader, precisamente um aparelho leitor. Mas além de
texto, imagens, vídeo e áudio podem também ser
incluídos.
5
6. Edição electrónica: “expressão usada para designar a
aplicação das tecnologias da informação às artes gráficas.
Baseia-se na utilização de um software capaz de
controlar o tratamento de texto, de modo a poder
formatar, corrigir gralhas, melhorar e alterar esse texto,
bem como fazer o seu armazenamento em memória
magnética e ainda a sua impressão. (…) Engloba dois
tipos de textos, que vão desde as representações
derivadas ou secundárias de livros impressos publicados
ou de textos que foram pensados primeiro que tudo para
serem publicação impressa e a publicação de textos
electrónicos, que à partida foram pensados e concebidos
para serem apresentados em suportes digitais”. In FARIA
e PERICÃO – Dicionário do livro: da escrita ao livro
electrónico, 2008, p. 430. Esta definição reúne a ideia de
desktop publishing, a digitalização (transferência de
suporte) de textos e os textos nados digitais.
6
7. Vários ramos da leitura e do texto
digitais
Web
Ebook “tradicional” – se as primeiras versões se
apresentavam em Cd-Rom ou DVD-Rom, hoje em dia
são software/ficheiros que podem surgir numa
multiplicidade de formatos (PDF, DOC, e-
PUB, AZW, TXT, CBR, MOBI…) e ser lidos em
diferentes plataformas: PCs, portáteis, e-
readers, tablets, telemóveis.
Enhanced ebook – trata-se de um ebook que é
“enriquecido” com elementos multimédia ou
realidade aumentada, podendo mesmo ser
interactivos.
Destes ramos, uns aproximam-se mais do livro
impresso, outros afastam-se consideravelmente – o
que nos remeterá para as questões da leitura. 7
8. Le Petit Robert em Cd-Rom E-reader Kindle 3.
Fonte: BLASSELLE – Histoire Fonte: Wikipedia.
du livre, v. II, 1998.
8
9. Leitura e leituras
Ora, muitos investigadores e historiadores assumem
que, como coloca McKenzie, “forms effect meaning” (in
MCKENZIE – Bibliography and the sociology of texts, p.
13), ou seja, as formas produzem sentido. Quer esta
fórmula dizer que o modo com que os textos se
apresentam, seja o seu suporte, o seu formato, a sua
organização, a tipografia, entre outros
elementos, influem na leitura.
Evidentemente, isto não significa desvalorizar outros
elementos determinantes para a recepção do leitor. A
sua condição histórica, a sua psicologia, entre
outros, são importantes. Quer-se apenas frisar que, do
lado do texto, a sua materialidade é fundamental.
Refere Darnton: “a experiência de leitura de um pequeno
in-12º, desenhado para caber facilmente numa das mãos, é
consideravelmente diferente da de ler um fólio pesado
sustentado por um suporte”. In DARNTON – The case for
books, 2009, p. 39. 9
10. Tal linha de raciocínio ajuda a compreender a
evolução da leitura ao longo dos séculos. O
códice permitia uma experiência de leitura
distinta quando comparado com o rolo.
Possibilitava ler e escrever em simultâneo, por
exemplo. Tornava mais fácil comparar passagens
e avançar/recuar no texto. Era portátil e
manuseável. Posteriormente, novas experiências
de leitura foram abertas com a separação de
palavras, pontuação, paginação, índices, minúscul
as, entre outros elementos.
Na realidade, “ao longo da história, a leitura tem
significado coisas bem diferentes para vários povos”.
In Fischer – A history of reading, 2004, p. 12.
10
11. Continuando a seguir esta linha
argumentativa, e reconhecendo o digital como
um novo suporte da escrita, compreende-se
que este se apresente capaz de introduzir novas
experiências de leitura e modificando mesmo a
relação do texto com o leitor.
Esta é a posição de um Roger Chartier, para
quem o digital significa uma nova técnica de
reprodução dos textos, uma radical
transformação do suporte e uma nova
organização da escrita. (In CHARTIER –
“Lecture. Histoire de la lecture”. In FOUCHÉ et
al – Dictionnaire encyclopedique du livre, 2005).
A leitura digital, a experiência de leitura que é
executada sobre textos digitais, terá as suas
particularidades, que devêm precisamente das
formas que o texto aí assume.
11
12. Há porém que entender as diferenças de práticas de
leitura entre os vários “ramos” das publicações digitais.
Porque o digital não é unívoco. E a experiência de
leitura que proporciona nem sempre é radicalmente
distinta da do impresso.
A Web, regra geral, traduz uma leitura mais próxima da
que se fazia no rolo da Antiguidade (o texto no ecrã
“desenrola-se” de cima para baixo), do que da leitura
página a página habitualmente presente no impresso.
Ao mesmo tempo, a Web caracteriza-se pela presença
do hipertexto, que potencia uma leitura menos
sequencial e mais radial. Privilegia-se a navegação rápida
e a identificação imediata do conteúdo; tais
aspectos, documentam estudos na área das
neurociências, se beneficiam o multitasking, podem
conduzir à distracção e à falta de concentração. Estes
efeitos têm sido amplamente criticados por um
Nicholas Carr, por exemplo. 12
13. O e-book típico, nesse sentido, assemelha-se ao que
um livro impresso oferece. O design é similar ao de
um códice, incluindo a paginação e a tipografia.
Certos ebooks – mesmo aqueles que são produzidos
de raiz em ambiente digital – são como que fac-
símiles de livros impressos (e-cunábulos).
Conclui-se que o ebook não é tão revolucionário, na
experiência de leitura, quanto o enhanced ebook ou a
Web.
Na verdade, cruzam-se duas filosofias:
Uma, a de que o ebook deve mimetizar o
impresso, sendo uma das razões o hábito dos
leitores, que transitarão mais facilmente para o digital
caso este imite aquilo a que estão acostumados;
Outra, a de que o ebook se deve afastar do impresso
e tirar partido das capacidades do digital: integrando
links internos e externos, multimédia e
interactividade, facultando uma experiência nova.
13
14. Entre tablets e e-readers…
São dois dispositivos (aos quais poderíamos juntar
PCs, notebooks, telemóveis…) com propósitos distintos. Um e-
reader é um aparelho desenhado essencialmente para ler e-books.
Um tablet é um aparelho multifunções; entre elas, a leitura de
textos (através de aplicações dedicadas à função).
A experiência de leitura que se tem em ambos os aparelhos é
distinta – porque, reforce-se, os propósitos de cada um são
também distintos.
E-readers trabalham com a tecnologia e-ink (RGB ou p/b que
preenche micro-esferas). Tablets (assim como PCs) valem-se de
pixéis com brilho. Isto influencia a legibilidade e o cansaço da vista.
Ademais, a duração da bateria é bastante superior num e-reader.
O conforto é então diferente quando se comparam os dois
aparelhos. E-readers são mais eficazes quando o que se pretende é
uma leitura prolongada e imersiva (deep reading); os tablets são
mais eficazes para o zapping, leituras “activas” onde é necessário
comparar passagens de fontes diversas. 14
15. Refira-se que os consumidores estão a preferir os tablets aos e-
readers. Estes últimos sofrem um decréscimo acentuado das
vendas em 2012, prevendo-se a continuação dessa queda (números
relativos aos EUA)
Fonte: YAROW – Chart of the day: the death of
the e-book reader, Dec. 13 2012. [Em linha].
A recolha executada pelo PEW sustenta esta tendência. A nov. de
2012, 19% dos adultos norte-americanos possuía e-reader, 25%
tablet. 15
16. O Crescimento do mercado digital
(oferta e procura)
Não há ainda muitas estatísticas, e nem todas são fiáveis, quer
porque os critérios nem sempre são explicitados, quer porque a
pirataria constitui um obstáculo sério, quer porque as grandes
empresas nem sempre apresentam valores, mas os poucos
números disponíveis apontam para um sólido crescimento, pelo
menos em alguns países.
Em 2011, o mercado ebook registou vendas próximas dos 2.4 mil
milhões de euros e foi dominado pela América do Norte, com os
EUA a deterem 98% e o Canadá 2% de aproximadamente 2 mil
milhões de euros, seguindo-se a Ásia (cerca de 250 milhões de
euros), com a Coreia do Sul, o Japão e a China como principais
mercados (45%, 25% e 25%, respectivamente) e a União
Europeia, terceira região a nível mundial, com vendas próximas dos
180 milhões de euros. Reino Unido (52%), Alemanha (28%) e
França (7%) são os países com maior volume de vendas.
Fontes: BONFANTI, BOTTAI, FERRARIO – Do readers dream of electronic books?
Presentation for the IfBookThen Conference,February 2012. [Em linha]. 16
17. A taxa de penetração do ebook no mercado editorial
era assim estimada:
América do Norte = 17-18%
Ásia = 2.2-2.4%
Europa = 1-1.1%
América do Sul = inferior a 0.1%
Por países, estimava-se:
EUA = 20% (21% segundo o PEW)
Coreia do Sul = 14-15%
Reino Unido = 7% (segundo a Publishers Association, no
seu relatório sobre 2011, as vendas representaram 92
milhões de libras,uma subida de 366% em comparação
com 2010. O impresso registou uma queda de 7%, com
vendas de 1.579 milhões de libras).
Fontes: COLPISA/AFP – Los expertos consideram que el e-book no matará
el libro, 2012. [Em linha]
FLOOD – Huge rise in ebook sales offsets…, 2012 [Em linha]. 17
18. Recentemente, foi publicado um estudo fiável com dados relativos
a Espanha. A conclusão a que chegou foi a de uma ascensão da
edição electrónica no país vizinho.
2008 2009 2010 2011 2012*
Nº 2.519 5.077 12.948 18.538 20.079
% do 2.4% 4.6% 11.3% 15.9% 22%
total
Contudo, a facturação não acompanha os valores da oferta. Em
2011, representava apenas 2,6% do total (equivalente a 72,58
milhões de Euros). Os indicadores mais recentes mostram, no
entanto, que os valores para os produtos digitais estão a subir, ao
passo que a facturação do impresso cai (números da Federación de
Gremios de Editores de España relativos ao 1º sem. 2012 indicam
uma queda de 10% face ao mesmo período de 2011).
Fontes: OBSERVATORIO DE LA LECTURA Y DEL LIBRO – El sector del libro
en España, 2010-2012, Septiembre 2012. [Em linha].
EUROPA PRESS – La venta de livros en España cae un 10%, 2012. [Em linha].
VAINAIMOINEN – Aumentan las ventas de ereaders…, 2012. [Em linha].
*FGEE – El sector editorial español publicó…, 2013. [Em linha]. 18
19. Números para os Estados Unidos confirmam a tendência, com a
agravante de o mercado digital, aqui, estar mais avançado. O
projecto Pew Internet & American Life fez um levantamento a
norte-americanos acima dos 16 anos, e confirmou:
- 78% dos indivíduos declarava ter lido um livro
(independentemente do suporte) em 2011.
- Essa percentagem baixou para 75% em 2012 (até nov.).
- Em 2011, 16% dos norte-americanos liam e-books.
- Esse número passou a 23% em 2012.
- A % de pessoas que lia livros impressos em 2011 era de 72%.
- Esse valor caiu para 67% em 2012.
- A % de pessoas que tinham pelo menos um tablet ou um e-
reader era, até dez. de 2011, de 18%. A novembro de 2012, cifrava-
se nos 33%.
- Do universo de indívidos leitores (75% da população maior de 16
anos, recorde-se), a percentagem que declarou ler ebooks é de
30% (números até nov. 2012), com destaque para o segmento da
população entre os 30 e os 49 anos (41% declara ler livros digitais).
Fonte: PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-book reading jumps;
print book reading declines, December 2012. [Em linha]. 19
20. Os números disponíveis relativamente a 2012:
Espanha: 3%.
EUA: 23% (total pop.), 30% (pop. leitora)
Reino Unido: sabe-se que, durante o primeiro
semestre, as vendas de ebooks cresceram face a 2011:
188% na ficção, 128% na não-ficção, 171% nos livros
infantis.
E em Portugal? Escasseiam as informações. Dados não
oficiais apontam que a penetração do ebook, em
2011, era de 1-2%. A preferência pelo livro impresso e o
preço dos e-readers são apontadas como as razões
mais significativas da resistência aos ebooks, isto
segundo um estudo divulgado pela Renascença.
Fontes: COSTA (editado por) – Estudo desvenda hábitos de leitura em livros
electrónicos, 2012. [Em linha]
CELLAN-JONES – Digital fiction book sales roar…, 2012. [Em linha].
20
21. No Brasil, o mercado da oferta está a avançar a passos
lentos, mas consistentes (o gráfico não mostra o total).
Quanto à procura, os resultados são contraditórios. Em
2011, as vendas de ebooks corresponderam a apenas 862 mil
reais, quando foram lançados 5235 títulos. Claro que estes
números não reflectem os que leram gratuitamente nem os
que lêem sobretudo em língua inglesa.
Fontes: MELO – Em 6 meses, catálogo de ebooks…, 2012. [Em linha]
MELO – Faturamento com ebooks em 2011…, 2012 [Em linha]. 21
22. Parece ser essa discrepância entre ebooks comprados na
língua nativa (relativamente poucos) e entre ebooks
comprados em língua inglesa (aparentemente muitos) que
tem deixado editores e livreiros brasileiros espantados. Um
estudo da Bowker divulgado a mar. 2012 aponta mesmo o
Brasil como o terceiro mercado mundial do livro
digital, indicando que 7% dos brasileiros já havia adquirido
ebooks. Estes números não convencem os especialistas.
Fontes: GREENFIELD – E-book adoption in the US…, 2012. [Em linha]
22
23. Algumas especificidades do
ecossistema digital
Embora o mercado do livro impresso e o
mercado do livro digital sejam ambos
mercados editoriais, existem diferenças
marcantes.
Teoria da cauda longa
Os modelos de negócio de big players
como a Apple e a Amazon
O problema do lock in
Auto-publicação
23
24. A teoria da Cauda Longa
O mercado tradicional e a regra de Pareto: 20% dos produtos
geram 80% das receitas (mercado de massa). Deste modo, a grande
maioria dos comerciantes – por exemplo, livreiros –, como não
pode (por razões de armazenamento) oferecer todos os títulos
disponíveis, aposta mais nos livros que garantem retorno.
A Cauda Longa (Long Tail) fundamenta-se nas capacidades
permitidas pela Internet, que torna rentável um mercado de nicho:
este mercado caracteriza-se por disponibilizar uma oferta
praticamente ilimitada, em lugar de privilegiar apenas o que é mais
vendável, e baseia-se na regra dos 98%: 98% dos produtos
oferecidos vendem pelo menos um exemplar, consistindo numa
procura de cauda longa – aposta-se num grande número de
produtos que vendem pouco, produtos de nicho, aposta
economicamente atractiva visto os custos de manutenção serem
iguais para um produto que vende muito e para um que vende
pouco. Os grandes retalhistas, como a Amazon, têm aqui o grosso
das suas receitas, sendo a principal razão para o seu vasto catálogo..
24
26. Os modelos de negócio dos
big players
Apple e Amazon são os dois grandes revendedores
do mercado norte-americano e mundial. Cada uma
destas empresas tem apresentado um modelo de
sucesso.
A Amazon compra ebooks a editoras e coloca-os à
venda na sua loja (revenda), ao preço que bem
entende – muitas das vezes, abaixo do preço de
custo, quando não gratuitamente. Isto porque o
grande propósito da Amazon é criar mercado para o
Kindle.
Já a Apple desenvolve um revenue sharing. É feito um
acordo com as editoras, a quem cabe definir o preço
de venda ao público. Os lucros são partilhados, tendo
a Apple uma margem de 30%.
Fonte: FAVA – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011, p. 142.
26
27. O Problema do lock in
Embora esteja a ser sucessivamente mitigado, graças à
proliferação e crescente adopção de formatos
abertos, o lock in constitui ainda uma barreira a uma
maior penetração do livro electrónico.
Em que consiste o lock in? Na vinculação, provocada
pelos fabricantes, entre e-readers e textos, de tal forma
que um mesmo texto não possa ser lido por dois e-
readers diferentes.
Actualmente, há uma cada vez maior aposta em
formatos abertos, que possam ser lidos pela maior
parte dos aparelhos (PDF, e-PUB…), mas os formatos
proprietários continuam a aparecer, obrigando, no
melhor dos casos, a constantes actualizações de
software e, no pior, a não se poder ler. Exemplos: Sony
Reader = BBeB; Kindle = AZW.
27
28. Auto-publicação
A auto-publicação, “a decisão de um autor publicar uma
obra por si escrita, em nome próprio, assumindo o grosso
das responsabilidades inerentes à sua opção:
financia, produz, cormercializa e vende o seu próprio livro”
(in FURTADO – Chegámos ao mundo…, 2011. [Em
linha]), não sendo um fenómeno exclusivo do
digital, tem encontrado neste suporte um terreno fértil.
Plataformas como iBooks Author (Apple), Kindle Direct
Publishing (Amazon), Simplíssimo (Brasil), Bubok
(Espanha e Portugal) e a recém-criada Escrytos (LeYa)
permitem a qualquer pessoa publicar um ebook, sem
passar pelos aspectos formais da edição tradicional.
Porém, é uma via não isenta de problemas, como
plágios, ausência de qualidade, falta de registo de ISBN.
28
29. Há livros e “livros”…
Falou-se, no início, da tendência para
esquecer o livro digital.
O ebook continua a padecer de uma
subalternidade de estatuto relativamente
ao impresso. O paradigma dessa
menoridade encontra-se estabelecida na
muito criticada taxa de IVA, que trata o
ebook como se fosse um produto
informático e não como um livro.
29
30. IVA praticado no livro e no ebook
NO LIVRO
DE ES FR IT UK EUA BR PT
7% 4%/21% 5,5%/19,6% 4%/21% 0% 0% 0% 6%
NO EBOOK
DE ES FR IT UK EUA BR PT
19% 21% 7% 21% 20% 0% 0% 23%
Nota: à excepção da França (19,6%), estes são os valores taxados aos Cds e
Cd-Roms na União Europeia (o que, de resto, valeu protestos da UE).
Fonte:
EUROPEAN COMISSION – VAT rates applied in the member states of the
European Union. Situation at 14th January 2013. [Em linha].
30
31. Em resposta às críticas (não só de indivíduos, mas
inclusivamente de alguns Estados-membros) que visam estas
discrepâncias, bem reveladoras da diferença de estatuto
entre o livro impresso e o livro electrónico, e ao
crescimento do mercado do ebook na Europa, a União
Europeia fez sair, a 26 de Junho de 2012, uma Declaration on
ebooks, na qual se compromete a rever a questão do
IVA, revisão essa assente em duas premissas:
a) o novo regime deve ser neutral relativamente aos ebooks
b) não deve prejudicar as vendas dos livros impressos.
Contudo, estima-se que uma proposta legislativa só venha a
conhecer a luz do dia em finais de 2013.
Em Portugal, a proposta de OE para 2013 reconhecia ser
“urgente preparar a indústria do livro para o fim da discriminação
fiscal do livro electrónico”, mas tal requer precisamente a União
Europeia: tentativas de Estados-membros em aplicar, por
iniciativa própria, taxas reduzidas de IVA aos ebooks
(França, Luxemburgo, Espanha) sofreram oposição da
UE, argumentando distorção da concorrência.
31
32. O “Papel” do editor
A validade do editor tem sido questionada no domínio da
publicação digital, seja porque o mercado é dinamizado por
big players como a Amazon ou a Apple (que não são editores
no sentido estrito do termo), seja porque as plataformas de
auto-publicação aparentam dispensar a função de filtro que
tradicionalmente o editor tem desempenhado.
Não oferece discussão que o digital vem introduzir uma
fractura e obrigar as profissões ligadas à edição a lidar com a
mudança. Mas os rumores sobre o fim do editor são
manifestamente exagerados. Há mesmo vozes (Fava, Mollet)
que indicam o editor poder tornar-se mais importante à
medida que o mercado digital evolui, mantendo as suas
competências core – mediação, escolha, gestão e promoção
de autores, marketing e distribuição – e adquirindo outras
novas.
Exige-se, sobretudo, que o editor esteja tecnologicamente
actualizado.
32
33. ANÁLISE SWOT
STRENGTHS WEAKNESSES OPPORTUNITIES THREATS
Contínua Lock in Mercado mais Resistência dos
inovação disponível luditas
Leitura social Obsolescência (de Novos modelos de Pirataria
formatos e de negócio (cauda longa)
dispositivos)
Multimédia Dificuldades de Nativos digitais Transparência
interoperabilidade invasiva
Elevada Menor legibilidade Crescimento IVA diferenciado
capacidade de sucessivo da oferta e
armazenamento da procura
/portabilidade
DRM restritivo Efeito rede Direitos de autor
pouco adequados
Mediação Iliteracia digital
tecnológica 33
34. Incógnita final
Crescendo o mercado digital (embora só nos EUA e em
alguns países asiáticos se atinjam números relevantes), é
provável, mas não definitivo, haver uma redefinição do
mercado do impresso para uma situação de
nicho, valorizando o livro-objecto, evitando canibalizar as
vendas. Menos provável? A “morte do livro”. E muito menos
a morte da leitura.
Não se deve esquecer que o digital pode apoiar o livro
impresso. Basta citar o desktop publishing ou a divulgação pela
Web, e há casos de lançamentos de ebooks feitos com o
propósito de publicitar as versões impressas.
O livro e a leitura tradicionais, feitas sobre documentos
impressos, não parecem estar em risco, pelo menos a curto-
médio prazo. Pacífico é perderem o monopólio que detinham
antes da chegada do digital. 34
35. Uma sondagem levada a cabo pela Random House dentro do
universo composto pelos leitores adultos de ebooks nos EUA
permite tecer comparações com os leitores de livros impressos.
ebook impresso l. ebook l. impresso
Importância da 73% 60%
leitura
homens 37% 41% Falar de livros 51% 37%
c/amigos
mulheres 63% 59%
A par das 34% 23%
<45 anos 60% 53% novidades
Esta e outras sondagens revelam que os leitores de ebooks são
mais activos e mais entusiastas, quer com textos digitais, quer com
textos impressos. E também que o leitor normal de ebooks lê e
compra mais livros impressos do que os restantes. Há uma maior
probabilidade de os leitores de ebooks serem grandes leitores, isto
é, de lerem mais de x (os valores variam de país para país: mais de
11 em Portugal, pelo menos 20 na Alemanha, mais de 25 em
França…) livros por ano. (In SIGNORINI, Les images…, 2003).
Fonte: PARK – Who reads ebooks?, 2013 [Em linha]
DAUER – Infográfico – a tendência do e-reading, 2012 [Em linha]. 35
36. Alguma bibliografia aconselhada
CHARTIER, Roger – A ordem dos livros, 1997.
FARIA, Maria Isabel e PERICÃO, Maria Graça –
Dicionário do livro: da escrita ao livro electrónico, 2008.
FAVA,Andrea – Ebook, qualcosa è cambiato, 2011.
FURTADO, José Afonso – O papel e o pixel, 2007.
PEW INTERNET & AMERICAN LIFE PROJECT – E-
book reading jumps; print book reading declines, December
2012.
PINHEIRO, Carlos – Dicionário do e-book, 2011.
E o programa exibido na RTP2, Nativos Digitais:
http://www.rtp.pt/play/p682/e101096/nativos-digitais
36