SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  12
Télécharger pour lire hors ligne
PROCESSO DE CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE EDIFICAÇÃO
A APRESENTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DIDÁTICO
SILVA, Jonathas Magalhães Pereira da (1)
(1)Arquiteto, Docente da Faculdade de Arquitetura Anhembi-Morumbi, Doutorando da FAUUSP.
Pesquisador Associado a UFRJ. End: Alameda Santos , 778 apt.71, 01418-100, São Paulo,SP.
Tel: (11) 3889 0909 E-mail: jonathas@mpsassociados.com.br
ABSTRACT
We believe the experimentation and the personal discussion of the project results are important
aspects of the learning process. The undestanding and evaluation of the processes involved are valuable
means to achieve this goal.
The present paper intends to present a teaching procedure wich deals with the open spaces design
conceptual process. The method has been applied in the Landscape Architecture Studio, what allowed its
development based on the teaching class practice.
This procedure was not created to be a "receipt" nor an "easy" way for the students conceptual
ability enhancement. Its goals are to bring to focus of discussion the spatial design conceptual process
by making it known and understood.
In this way, the proposed strategy promotes the permanent revision of the development phases, by
implementing the acessible and learning tools needed for the decision-making process.
Kew-words: Landscape architecture project; Landscape architecture teaching; Teaching procedures

1. INTRODUÇÃO
O procedimento didático criado lida com o desenvolvimento do processo de concepção dos
espaços livres de edificação. Vem sendo aplicado na disciplina de paisagismo, desde o ano
2000, o que permitiu o seu desenvolvimento pautado na experiência prática de sala de aula.
Encontramos uma série de entraves na concepção e desenvolvimento dos projetos de paisagismo:
a dificuldade de lidar com as diferentes escalas, a falta de compreensão das dimensões, o baixo
repertório dos alunos, a falta de domínio da representação espacial por meio do desenho.
A experiência nos mostra que a experimentação e o questionamento pessoal dos resultados de
projeto são aspectos fundamentais para a aprendizagem, sendo que o entendimento e a avaliação
dos processos e métodos de trabalho são um importante meio para se atingir esse objetivo.
O conhecimento só pode se desenvolver com a percepção dos nossos próprios preconceitos
(BAKTIN 1997), isto é, com a revisão constante do que acreditamos. É com esse ponto de vista
que os autores sócio-históricos valorizam a interação social no ensino. Acredita-se no processo
criativo onde a descoberta é promovida pelo confronto de diferentes visões. Para que isso
aconteça em sala de aula o processo de criação deve ter visibilidade.
A experiência aqui apresentada não pretende ser uma “receita de bolo” nem um atalho para o
desenvolvimento da capacidade projetual do aluno. Tem como objetivo problematizar e discutir
com os alunos a concepção espacial por meio da visibilidade de seus processos.
Na visão Baktiniana o professor já não é mais o único que detém conhecimento, ele é
responsável pela promoção das inter-relações e de solucionar os impasses que porventura
aparecem. Com esta visão o procedimento criado promove a revisão constante das etapas de
desenvolvimento utilizando ferramentas acessíveis e formativas para as tomadas de decisões.
2. O OBJETO DE ESTUDO
O entendimento da paisagem como um sistema e como forma constituída pelas ações da
sociedade é a base para o desenvolvimento de um projeto pedagógico que incorpore a totalidade
do objeto da paisagem e ambiente. O estudo da paisagem e de nosso ambiente pressupõe
qualificar essa relação entre as ações da sociedade e os sistemas de objetos que constituem a
paisagem, isto é, qualificar a interação do homem com o ambiente.
“Não é ver o homem e suas ações como o vilão da história, não é preservar
estaticamente o que não é estático, o nosso compromisso. O nosso compromisso
está na consciência do papel crescente das atividades humanas na produção de
mudanças globais; está na compreensão das diferenças, da multiplicidade, da
diversidade, com a responsabilidade da complementaridade, da solidariedade.”
(MAGNOLI, In ANAIS II ENEPEA, 1995)”
Na palestra de abertura do II ENEPEA o geógrafo Milton Santos propôs uma forma de abarcar a
totalidade do objeto da disciplina de paisagismo:
“A minha proposta, exatamente, considerando o espaço como o conjunto
indissociável do sistema de objetos e do sistema de ações, é a de atribuir ao
sistema de objetos a definição da paisagem... a realidade territorial teria que ser
examinada segundo essas duas faces: a face da paisagem e a face do
espaço”(SANTOS, 1995)
Essa proposta coloca, de forma sistêmica, a paisagem como resultado dos “objetos de ações” e
eleva o exercício de projeção espacial à interação paisagem e sociedade.
Considerava ainda a proposição de Mark, visto por Kusmin, segundo o qual os objetos têm duas
ordens: uma natural e outra técnica. Observando que o paisagismo, às vezes aparece como se
estivesse se “oferecendo apenas a produção de qualidades naturais, mas na verdade está
oferecendo a condição do exercício da qualidade sistêmica” (SANTOS, 1995).
A paisagem aparece então como um sistema material enquanto o espaço aparecerá como um
sistema de valores como fruto da interação paisagem e sociedade.
3. O PROCESSO CRIATIVO
Conceber é o ato de antever o objeto a ser criado. Por concepção entendem-se todas as tomadas
de decisões que são necessárias e determinantes na criação do novo. O projeto, que por sua vez é
o meio de se materializar a concepção, tem por função integrar conhecimentos técnicos
necessários e especificar a materialização do objeto.
Principalmente nas duas últimas décadas, com as crises econômicas justapostas a um desvairado
processo de imposições de ícones culturais assiste-se a uma perigosa atrofia do processo criativo.
Num dado momento, a concepção passa a ser confundida com o projeto, isto é, ao importarmos
determinadas soluções estéticas — que ao serem concebidas levaram em conta fatores espaciais,
históricos e sociais — estamos reduzindo seu valor.
O arquiteto, que deveria conceber espaços, corre o perigo de apenas projetar soluções espaciais
na medida em que não existe um querer urbano declarado, isto é, concebido. Nesse sentido, por
exemplo, não é possível conceber o espaço de uma praça de centro de bairro sem passar por uma
etapa de conhecimento e questionamento dos fatores socioculturais, estéticos e espaciais do
lugar. Sem essa etapa de concepção, passaremos ao projeto que contará apenas com a adaptação
de arquétipos ou “soluções” colecionadas pelo projetista.
Por sua vez, aprender a conceber espaços depende de uma capacitação de projeto que se faz pelo
domínio de escalas, dos instrumentos de simulação da realidade e de um repertório próprio por
meio do qual é possível reler valores culturais e sociais.
4. VISIBILIZAR OS PRÉ-CONCEITOS
A falta de experimentação aliada ao reduzido repertório do aluno leva a propostas que parecem
estar ligadas a um imaginário coletivo. Ao se propor o desenho de uma praça aos alunos é
recorrente o desenho vindo da leitura de dois fluxos que se cruzam. Aparentemente esse
arquétipo surge do não entendimento do entorno, é um desenho descomprometido com o
contexto e o lugar.

figura 01

Porem, mesmo com uma leitura aprofundada do entorno, onde: entende-se sua localização na
cidade, percebe-se sua hierarquia espacial, observa-se as tipologias das arquiteturas do entorno,
detecta-se os agentes e a dinâmica social presente na área, o desenho conserva características
semelhantes.

figura 02

São comuns desenhos de áreas livres onde os fluxos são aparentemente compreendidos (figura
02), a partir de seu contexto, porem o desenho continua a ser uma composição de caminhos e
canteiros (figura 03) e a vegetação tem a função de “ornar e embelezar” os espaços (figura 04)
figura 03

figura 04

Procurando reconhecer os pré-conceitos e entraves que desencadeiam esse processo chegamos a
algumas hipóteses.
• O percurso é facilmente detectado e constitui um dos únicos elementos de amarração
do projeto quando o repertório é reduzido.
• Existe uma dificuldade em distinguir a ação de percorrer uma área com a figura física
do “caminho”.
• Não se entende a função da área livre nem se consegue estabelecer um programa, o
que leva a uma redução de soluções como por exemplo o entendimento equivocado
de que tudo aquilo que não é caminho, é ocupado por “área verde”.
• Não se conhecem as diferentes arquiteturas da vegetação que é vista como um
elemento cuja função é de “decorar” e “ocupar o desenho” e não de formar e
qualificar espaços.
5. CONCEPÇÃO DA ESTRUTURA DOS ESPAÇOS
A partir dessas hipóteses desenvolve-se o procedimento de projeto apresentado a seguir. A idéia
principal é partir de uma estrutura mais complexa, logo no primeiro instante do processo
criativo, quando o aluno declara os elementos de trabalho:
(1) Fluxos: definidos a partir do entendimento do entorno.
(2) Áreas: define-se os tamanhos e a quantidade de áreas baseado na percepção
dimensional, na configuração das hierarquias de espaços e no programa da área
livre.
(3) Planos Verticais: trabalha-se com planos verticais que configuram e delimitam os
espaços, definindo alturas e transparências.
(4) Coberturas: Definem-se as áreas de sombra. É necessário explicitar que a
projeção da área de sombra não é necessariamente coincidente com as áreas
definida no segundo item.
(5) Pisos: Definem-se as áreas de pisos processados e de pisos permeaveia em função
das atividades e grau de processamento desejado.
(6) Articulações: estabelece-se as relações visuais e de passagem entre as diferentes
áreas.
figura 05
Ao definir: os fluxos, as áreas desejadas e as coberturas (figura 06), cria-se uma hipótese de
projeto. A estrutura espacial desenhada deve ser encarada como um condutor do projeto e não
como um limitador. As diferentes estruturas criadas pelos alunos podem e devem ser revistas e
debatidas pela classe. Desta forma, promovemos a visibilidade das diferentes soluções e
hipóteses de projetos.

figura 06

Para configurar as áreas previamente definidas, trabalha-se com os planos verticais e as
articulações entre os espaços. É necessário nessa fase transmitir aos alunos as diferentes
arquiteturas de vegetação existentes para que com um repertório mínimo o aluno perceba as
possibilidades de criação. Procura-se definir as alturas e transparências desejadas (figura 07).

figura 07
figura 08

É importante ressaltar que até este momento só existe a estrutura dos espaços, a forma ainda não
esta definida. Um dos entraves no desenvolvimento de projeto é que o aluno está acostumado a
pensar na forma antes de entender o contexto e definir uma estrutura adequada. De uma mesma
estrutura pode surgir projetos de diferentes qualidades. A estrutura não garante a qualidade do
projeto, porem ajuda no entendimento das condicionantes e na visibilidade do processo de
concepção espacial do aluno.
Com a definição do desenho e nível de processamento dos pisos a estrutura começa a ser
transformada em forma (figuras 08 e 09). Os planos verticais e o percurso são revistos e
compatibilizados com a forma criada.

figura 09

Os planos verticais e a articulação visual entre os espaços são revistos mais uma vez e
novamente compatibilizados com a forma que a esta altura já possui cota de piso, desníveis e
inclinações.
figura 10

Por fim os planos verticais e horizontais são dotados de forma, textura e cor. Os materiais
construtivos são especificados: o tipo de vegetação, os materiais utilizados nos muros,
marquises, pórticos, pisos. Define-se a locação das árvores e dos elementos verticais como
palmeiras, monumentos e colunatas.

figura 11

Como a cobertura é concebida na estrutura fica claro para o aluno que os espaços embaixo das
árvores tem um desenho e um uso. Para evitar o acobertamento do espaço localizado embaixo
das copas das árvores (figura 11) procura-se trabalhar, durante o desenvolvimento do exercício,
com uma representação simples e transparente da copa, possibilitando o desenho da área de
sombra.
6. EXEMPLO DA APLICAÇÃO DO PROCEDIMENTO
Esse procedimento vem sendo aplicado desde 2000 em exercícios da disciplina de paisagismo
para o 7o semestre. O tema normalmente esta relacionado a espaços livres junto à habitação.
Sente-se uma forte resistência dos alunos no início do processo por não estarem habituados a
declarar, por meio do desenho, o que estão pensando; nem imaginar que o professor está
interessado em entender seu processo de concepção.

figura 12 – Trabalho de aluno desenvolvido na primeira aula. Formato A0.

O rabisco sobre a folha de formato A0 por um lado intimida o aluno por outro o familiariza com
a escala de projeto. Outra razão de resistência por parte dos alunos é que não se acredita que a
primeira fase que será exposta a toda classe, em seminário, será um rabisco desprovido de forma
(figura 12).
É fundamental trabalhar na escala de projeto quando se está concebendo a estrutura. Dessa forma
os alunos vão se habituando com a escala, sendo capazes de tomar decisões de projeto com mais
certeza das dimensões envolvidas.
Outro entrave a ser superado gradativamente com os alunos é a falta do domínio do desenho. O
trabalho com maquetes intermediárias pode ser um procedimento que facilite a visualização e
revisão do projeto e a gradativa aproximação com a representação por meio do desenho (figura
13). É possível representar os planos verticais e as coberturas com materiais simples como:
massa de modelar, palitos e desenho. A representação da copa sobre o papel facilita a
visualização da área projetada.
figura 13 – Trabalho de aluno – maquete intermediária do plano de massa.

O conhecimento do espaço é adquirido pela vivência, o que dificulta o desenvolvimento do
domínio espacial por meio de representações. O uso da maquete é uma simulação 3D - três
dimensões - em uma escala reduzida. Com o uso de maquetes temos a capacidade de aguçar a
visão espacial por meio de uma estimulação dos sentidos. Apreendem-se as sensações causadas
pelos estímulos recebidos nas simulações dos espaços.
A representação do espaço por meio de plantas, cortes e elevações pressupõe o domínio da visão
espacial, porém é comum a presença da visão planar - um único plano - nos desenhos dos alunos.
A maquete leva a um rompimento da visão planar e proporciona uma visão espacial pela
estimulação dos sentidos.
Além de proporcionar um resultado imediato ao projeto que se está desenvolvendo, o uso das
maquetes contribui para a formação do aluno, uma vez que estimula o desenvolvimento de uma
visão tridimensional.
Após o desenvolvimento do plano de massa utilizando as maquetes são feitos os primeiros
desenhos que representam o plano de massa. A figura 14 mostra como alguns elementos da
estrutura inicial permanecem e outros são transformados.

figura 14 – Trabalho de aluno – desenho inicial da estrutura e desenho do plano de massa.

A seguir as figuras 15e 16 mostram o uso de cortes e croquis durante a fase de representação do
plano de massa e a planta final sob a volumetria das arquiteturas propostas. O exercício teve a
duração de 24 horas distribuídas em dois meses (uma vez por semana 3 horas/aulas)
figura 16 – Trabalhos de aluno – croquis e cortes.

figura 15 – Trabalhos de aluno – desenho final sob maquete volumétrica da arquitetura.

7. CONCLUSÃO
O procedimento adotado acaba por promover o debate durante o processo criativo garantindo a
inclusão de toda a classe, o que acaba por enriquecer os trabalhos. A estrutura do projeto é o
meio encontrado para discutir a concepção e promover a sua revisão.
A divulgação de procedimentos e métodos utilizados na disciplina de paisagismo é uma forma de
trocar experiências e é a chave para o desenvolvimento qualitativo da disciplina (WARDE,
2000).
8. BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, Mikhail, Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec. 1997.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. O Pensamento de Vygotsky e Bakhtin no Brasil, São
Paulo, Papirus, 1999.
JONES, Christopher. Métodos de diseño. (3ed) Barcelona: Gustavo Gili, 1982.
MACEDO, Silvio Soares. In:ANAIS DO I ENEPEA - Encontro nacional de professores de
paisagismo de escolas de arquitetura. São Paulo, 1994.
MAGNOLI, Miranda.- Experiência de ensino de paisagem para arquitetos na FAU/USP, São
Paulo, FAU/USP, 1981.
SILVA, Jonathas Magalhães Pereira da. Paisagem/Ensino/Interface Gráfica - Dissertação de
mestrado FAUUSP, 1999.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martin Fontes, 1992.
SANOFF, Henry. Visual research methods in design. New York: Van Nostrand Reinhold,
1991
WARDE, Mirian Jorge e CARVALHO, Marta Maria Chagas de. “Política e cultura na
produção da Hístória da Educação no Brasil” IN: Contemporaneidade e Educação. São Paulo,
Ano V, no 7, 1o semestre 2000.

Contenu connexe

Tendances

Aula03 apreensaopaisagemurbana
Aula03 apreensaopaisagemurbanaAula03 apreensaopaisagemurbana
Aula03 apreensaopaisagemurbanaCaliandra Desenhos
 
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...Ellen Oliveira
 
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidade
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidadeDesign nos espacos publicos - Um presente para a cidade
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidadeLeticia Jorge
 
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeMorfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeARQ210AN
 
Texto Fundamentação Geometria
Texto Fundamentação GeometriaTexto Fundamentação Geometria
Texto Fundamentação Geometriabtizatto1
 
Kevin lynch e a imagem da cidade
Kevin lynch e a imagem da cidadeKevin lynch e a imagem da cidade
Kevin lynch e a imagem da cidadeSafra Brasileira
 
Artigo a luz e as sensacoes
Artigo a luz e as sensacoesArtigo a luz e as sensacoes
Artigo a luz e as sensacoesariana limonta
 
Conceito cidade
Conceito cidadeConceito cidade
Conceito cidadeManoelaR
 
03 paisagem trajetoria do conceito em geografia
03   paisagem trajetoria do conceito em geografia03   paisagem trajetoria do conceito em geografia
03 paisagem trajetoria do conceito em geografiareginaldopedroso7
 

Tendances (10)

Aula03 apreensaopaisagemurbana
Aula03 apreensaopaisagemurbanaAula03 apreensaopaisagemurbana
Aula03 apreensaopaisagemurbana
 
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...
Caderno de resumo do Seminário Iberoamericano sobre o Processo de Criação nas...
 
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidade
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidadeDesign nos espacos publicos - Um presente para a cidade
Design nos espacos publicos - Um presente para a cidade
 
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da CidadeMorfologia Urbana e Desenho da Cidade
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
 
Texto Fundamentação Geometria
Texto Fundamentação GeometriaTexto Fundamentação Geometria
Texto Fundamentação Geometria
 
Kevin lynch e a imagem da cidade
Kevin lynch e a imagem da cidadeKevin lynch e a imagem da cidade
Kevin lynch e a imagem da cidade
 
Aula01 imagemcidade
Aula01 imagemcidadeAula01 imagemcidade
Aula01 imagemcidade
 
Artigo a luz e as sensacoes
Artigo a luz e as sensacoesArtigo a luz e as sensacoes
Artigo a luz e as sensacoes
 
Conceito cidade
Conceito cidadeConceito cidade
Conceito cidade
 
03 paisagem trajetoria do conceito em geografia
03   paisagem trajetoria do conceito em geografia03   paisagem trajetoria do conceito em geografia
03 paisagem trajetoria do conceito em geografia
 

Similaire à Processo de concepção dos espaços livres de edificação

Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...
Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...
Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...Raissa Figueiredo
 
1º slide texto 1 da apostila
1º slide texto 1 da apostila1º slide texto 1 da apostila
1º slide texto 1 da apostilaIus 95
 
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdf
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdfCOIMBRA AOS PEDAÇOS.pdf
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdfladraoalmas11
 
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdf
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdfCHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdf
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdfGernciadeProduodeMat
 
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema Loures
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema LouresPrêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema Loures
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema LouresArto Arquitetura
 
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.Leticia Jorge
 
Far112 capítulo 6-v2
Far112 capítulo 6-v2Far112 capítulo 6-v2
Far112 capítulo 6-v2Victor Rafael
 
artigo saúde e medicina publicado análise interpretação
artigo saúde e medicina publicado análise interpretaçãoartigo saúde e medicina publicado análise interpretação
artigo saúde e medicina publicado análise interpretaçãoSamaraMendes51
 
Projeto de arte e matemática
Projeto de arte e matemáticaProjeto de arte e matemática
Projeto de arte e matemáticaCLEAN LOURENÇO
 
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.Maria Claudia Oliveira
 

Similaire à Processo de concepção dos espaços livres de edificação (20)

Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...
Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...
Arquitetura em Tempo Integral - O Ambiente Escolar e sua Relação com a Aprend...
 
1º slide texto 1 da apostila
1º slide texto 1 da apostila1º slide texto 1 da apostila
1º slide texto 1 da apostila
 
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdf
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdfCOIMBRA AOS PEDAÇOS.pdf
COIMBRA AOS PEDAÇOS.pdf
 
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdf
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdfCHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdf
CHSA 2ª SÉRIE-3º BIM Professor.pdf
 
Arquitetura, projeto e conceito
Arquitetura, projeto e conceitoArquitetura, projeto e conceito
Arquitetura, projeto e conceito
 
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema Loures
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema LouresPrêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema Loures
Prêmio Arquisur 2012 - Tese de Doutorado Moema Loures
 
A modulação de frank lloyd wright
A modulação de frank lloyd wrightA modulação de frank lloyd wright
A modulação de frank lloyd wright
 
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.
Design nos espaços públicos, um presente para a cidade.
 
Far112 capítulo 6-v2
Far112 capítulo 6-v2Far112 capítulo 6-v2
Far112 capítulo 6-v2
 
DN(3d)As
DN(3d)As DN(3d)As
DN(3d)As
 
Projecto
ProjectoProjecto
Projecto
 
Projeto Ressignificarr2
Projeto Ressignificarr2Projeto Ressignificarr2
Projeto Ressignificarr2
 
artigo saúde e medicina publicado análise interpretação
artigo saúde e medicina publicado análise interpretaçãoartigo saúde e medicina publicado análise interpretação
artigo saúde e medicina publicado análise interpretação
 
Projeto de arte e matemática
Projeto de arte e matemáticaProjeto de arte e matemática
Projeto de arte e matemática
 
M1c
M1cM1c
M1c
 
M1b
M1bM1b
M1b
 
Gt16 4441--int
Gt16 4441--intGt16 4441--int
Gt16 4441--int
 
Texto18
Texto18Texto18
Texto18
 
Ensino moda anelise_fonseca
Ensino moda anelise_fonsecaEnsino moda anelise_fonseca
Ensino moda anelise_fonseca
 
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.
Projeto é construção: uma experiência de ensino utilizando modelos físicos.
 

Processo de concepção dos espaços livres de edificação

  • 1. PROCESSO DE CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE EDIFICAÇÃO A APRESENTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DIDÁTICO SILVA, Jonathas Magalhães Pereira da (1) (1)Arquiteto, Docente da Faculdade de Arquitetura Anhembi-Morumbi, Doutorando da FAUUSP. Pesquisador Associado a UFRJ. End: Alameda Santos , 778 apt.71, 01418-100, São Paulo,SP. Tel: (11) 3889 0909 E-mail: jonathas@mpsassociados.com.br ABSTRACT We believe the experimentation and the personal discussion of the project results are important aspects of the learning process. The undestanding and evaluation of the processes involved are valuable means to achieve this goal. The present paper intends to present a teaching procedure wich deals with the open spaces design conceptual process. The method has been applied in the Landscape Architecture Studio, what allowed its development based on the teaching class practice. This procedure was not created to be a "receipt" nor an "easy" way for the students conceptual ability enhancement. Its goals are to bring to focus of discussion the spatial design conceptual process by making it known and understood. In this way, the proposed strategy promotes the permanent revision of the development phases, by implementing the acessible and learning tools needed for the decision-making process. Kew-words: Landscape architecture project; Landscape architecture teaching; Teaching procedures 1. INTRODUÇÃO O procedimento didático criado lida com o desenvolvimento do processo de concepção dos espaços livres de edificação. Vem sendo aplicado na disciplina de paisagismo, desde o ano 2000, o que permitiu o seu desenvolvimento pautado na experiência prática de sala de aula. Encontramos uma série de entraves na concepção e desenvolvimento dos projetos de paisagismo: a dificuldade de lidar com as diferentes escalas, a falta de compreensão das dimensões, o baixo repertório dos alunos, a falta de domínio da representação espacial por meio do desenho. A experiência nos mostra que a experimentação e o questionamento pessoal dos resultados de projeto são aspectos fundamentais para a aprendizagem, sendo que o entendimento e a avaliação dos processos e métodos de trabalho são um importante meio para se atingir esse objetivo. O conhecimento só pode se desenvolver com a percepção dos nossos próprios preconceitos (BAKTIN 1997), isto é, com a revisão constante do que acreditamos. É com esse ponto de vista que os autores sócio-históricos valorizam a interação social no ensino. Acredita-se no processo criativo onde a descoberta é promovida pelo confronto de diferentes visões. Para que isso aconteça em sala de aula o processo de criação deve ter visibilidade. A experiência aqui apresentada não pretende ser uma “receita de bolo” nem um atalho para o desenvolvimento da capacidade projetual do aluno. Tem como objetivo problematizar e discutir com os alunos a concepção espacial por meio da visibilidade de seus processos. Na visão Baktiniana o professor já não é mais o único que detém conhecimento, ele é responsável pela promoção das inter-relações e de solucionar os impasses que porventura
  • 2. aparecem. Com esta visão o procedimento criado promove a revisão constante das etapas de desenvolvimento utilizando ferramentas acessíveis e formativas para as tomadas de decisões. 2. O OBJETO DE ESTUDO O entendimento da paisagem como um sistema e como forma constituída pelas ações da sociedade é a base para o desenvolvimento de um projeto pedagógico que incorpore a totalidade do objeto da paisagem e ambiente. O estudo da paisagem e de nosso ambiente pressupõe qualificar essa relação entre as ações da sociedade e os sistemas de objetos que constituem a paisagem, isto é, qualificar a interação do homem com o ambiente. “Não é ver o homem e suas ações como o vilão da história, não é preservar estaticamente o que não é estático, o nosso compromisso. O nosso compromisso está na consciência do papel crescente das atividades humanas na produção de mudanças globais; está na compreensão das diferenças, da multiplicidade, da diversidade, com a responsabilidade da complementaridade, da solidariedade.” (MAGNOLI, In ANAIS II ENEPEA, 1995)” Na palestra de abertura do II ENEPEA o geógrafo Milton Santos propôs uma forma de abarcar a totalidade do objeto da disciplina de paisagismo: “A minha proposta, exatamente, considerando o espaço como o conjunto indissociável do sistema de objetos e do sistema de ações, é a de atribuir ao sistema de objetos a definição da paisagem... a realidade territorial teria que ser examinada segundo essas duas faces: a face da paisagem e a face do espaço”(SANTOS, 1995) Essa proposta coloca, de forma sistêmica, a paisagem como resultado dos “objetos de ações” e eleva o exercício de projeção espacial à interação paisagem e sociedade. Considerava ainda a proposição de Mark, visto por Kusmin, segundo o qual os objetos têm duas ordens: uma natural e outra técnica. Observando que o paisagismo, às vezes aparece como se estivesse se “oferecendo apenas a produção de qualidades naturais, mas na verdade está oferecendo a condição do exercício da qualidade sistêmica” (SANTOS, 1995). A paisagem aparece então como um sistema material enquanto o espaço aparecerá como um sistema de valores como fruto da interação paisagem e sociedade. 3. O PROCESSO CRIATIVO Conceber é o ato de antever o objeto a ser criado. Por concepção entendem-se todas as tomadas de decisões que são necessárias e determinantes na criação do novo. O projeto, que por sua vez é o meio de se materializar a concepção, tem por função integrar conhecimentos técnicos necessários e especificar a materialização do objeto. Principalmente nas duas últimas décadas, com as crises econômicas justapostas a um desvairado processo de imposições de ícones culturais assiste-se a uma perigosa atrofia do processo criativo. Num dado momento, a concepção passa a ser confundida com o projeto, isto é, ao importarmos determinadas soluções estéticas — que ao serem concebidas levaram em conta fatores espaciais, históricos e sociais — estamos reduzindo seu valor. O arquiteto, que deveria conceber espaços, corre o perigo de apenas projetar soluções espaciais na medida em que não existe um querer urbano declarado, isto é, concebido. Nesse sentido, por exemplo, não é possível conceber o espaço de uma praça de centro de bairro sem passar por uma
  • 3. etapa de conhecimento e questionamento dos fatores socioculturais, estéticos e espaciais do lugar. Sem essa etapa de concepção, passaremos ao projeto que contará apenas com a adaptação de arquétipos ou “soluções” colecionadas pelo projetista. Por sua vez, aprender a conceber espaços depende de uma capacitação de projeto que se faz pelo domínio de escalas, dos instrumentos de simulação da realidade e de um repertório próprio por meio do qual é possível reler valores culturais e sociais. 4. VISIBILIZAR OS PRÉ-CONCEITOS A falta de experimentação aliada ao reduzido repertório do aluno leva a propostas que parecem estar ligadas a um imaginário coletivo. Ao se propor o desenho de uma praça aos alunos é recorrente o desenho vindo da leitura de dois fluxos que se cruzam. Aparentemente esse arquétipo surge do não entendimento do entorno, é um desenho descomprometido com o contexto e o lugar. figura 01 Porem, mesmo com uma leitura aprofundada do entorno, onde: entende-se sua localização na cidade, percebe-se sua hierarquia espacial, observa-se as tipologias das arquiteturas do entorno, detecta-se os agentes e a dinâmica social presente na área, o desenho conserva características semelhantes. figura 02 São comuns desenhos de áreas livres onde os fluxos são aparentemente compreendidos (figura 02), a partir de seu contexto, porem o desenho continua a ser uma composição de caminhos e canteiros (figura 03) e a vegetação tem a função de “ornar e embelezar” os espaços (figura 04)
  • 4. figura 03 figura 04 Procurando reconhecer os pré-conceitos e entraves que desencadeiam esse processo chegamos a algumas hipóteses. • O percurso é facilmente detectado e constitui um dos únicos elementos de amarração do projeto quando o repertório é reduzido. • Existe uma dificuldade em distinguir a ação de percorrer uma área com a figura física do “caminho”. • Não se entende a função da área livre nem se consegue estabelecer um programa, o que leva a uma redução de soluções como por exemplo o entendimento equivocado de que tudo aquilo que não é caminho, é ocupado por “área verde”. • Não se conhecem as diferentes arquiteturas da vegetação que é vista como um elemento cuja função é de “decorar” e “ocupar o desenho” e não de formar e qualificar espaços. 5. CONCEPÇÃO DA ESTRUTURA DOS ESPAÇOS A partir dessas hipóteses desenvolve-se o procedimento de projeto apresentado a seguir. A idéia principal é partir de uma estrutura mais complexa, logo no primeiro instante do processo criativo, quando o aluno declara os elementos de trabalho: (1) Fluxos: definidos a partir do entendimento do entorno. (2) Áreas: define-se os tamanhos e a quantidade de áreas baseado na percepção dimensional, na configuração das hierarquias de espaços e no programa da área livre. (3) Planos Verticais: trabalha-se com planos verticais que configuram e delimitam os espaços, definindo alturas e transparências. (4) Coberturas: Definem-se as áreas de sombra. É necessário explicitar que a projeção da área de sombra não é necessariamente coincidente com as áreas definida no segundo item. (5) Pisos: Definem-se as áreas de pisos processados e de pisos permeaveia em função das atividades e grau de processamento desejado. (6) Articulações: estabelece-se as relações visuais e de passagem entre as diferentes áreas.
  • 6. Ao definir: os fluxos, as áreas desejadas e as coberturas (figura 06), cria-se uma hipótese de projeto. A estrutura espacial desenhada deve ser encarada como um condutor do projeto e não como um limitador. As diferentes estruturas criadas pelos alunos podem e devem ser revistas e debatidas pela classe. Desta forma, promovemos a visibilidade das diferentes soluções e hipóteses de projetos. figura 06 Para configurar as áreas previamente definidas, trabalha-se com os planos verticais e as articulações entre os espaços. É necessário nessa fase transmitir aos alunos as diferentes arquiteturas de vegetação existentes para que com um repertório mínimo o aluno perceba as possibilidades de criação. Procura-se definir as alturas e transparências desejadas (figura 07). figura 07
  • 7. figura 08 É importante ressaltar que até este momento só existe a estrutura dos espaços, a forma ainda não esta definida. Um dos entraves no desenvolvimento de projeto é que o aluno está acostumado a pensar na forma antes de entender o contexto e definir uma estrutura adequada. De uma mesma estrutura pode surgir projetos de diferentes qualidades. A estrutura não garante a qualidade do projeto, porem ajuda no entendimento das condicionantes e na visibilidade do processo de concepção espacial do aluno. Com a definição do desenho e nível de processamento dos pisos a estrutura começa a ser transformada em forma (figuras 08 e 09). Os planos verticais e o percurso são revistos e compatibilizados com a forma criada. figura 09 Os planos verticais e a articulação visual entre os espaços são revistos mais uma vez e novamente compatibilizados com a forma que a esta altura já possui cota de piso, desníveis e inclinações.
  • 8. figura 10 Por fim os planos verticais e horizontais são dotados de forma, textura e cor. Os materiais construtivos são especificados: o tipo de vegetação, os materiais utilizados nos muros, marquises, pórticos, pisos. Define-se a locação das árvores e dos elementos verticais como palmeiras, monumentos e colunatas. figura 11 Como a cobertura é concebida na estrutura fica claro para o aluno que os espaços embaixo das árvores tem um desenho e um uso. Para evitar o acobertamento do espaço localizado embaixo das copas das árvores (figura 11) procura-se trabalhar, durante o desenvolvimento do exercício, com uma representação simples e transparente da copa, possibilitando o desenho da área de sombra.
  • 9. 6. EXEMPLO DA APLICAÇÃO DO PROCEDIMENTO Esse procedimento vem sendo aplicado desde 2000 em exercícios da disciplina de paisagismo para o 7o semestre. O tema normalmente esta relacionado a espaços livres junto à habitação. Sente-se uma forte resistência dos alunos no início do processo por não estarem habituados a declarar, por meio do desenho, o que estão pensando; nem imaginar que o professor está interessado em entender seu processo de concepção. figura 12 – Trabalho de aluno desenvolvido na primeira aula. Formato A0. O rabisco sobre a folha de formato A0 por um lado intimida o aluno por outro o familiariza com a escala de projeto. Outra razão de resistência por parte dos alunos é que não se acredita que a primeira fase que será exposta a toda classe, em seminário, será um rabisco desprovido de forma (figura 12). É fundamental trabalhar na escala de projeto quando se está concebendo a estrutura. Dessa forma os alunos vão se habituando com a escala, sendo capazes de tomar decisões de projeto com mais certeza das dimensões envolvidas. Outro entrave a ser superado gradativamente com os alunos é a falta do domínio do desenho. O trabalho com maquetes intermediárias pode ser um procedimento que facilite a visualização e revisão do projeto e a gradativa aproximação com a representação por meio do desenho (figura 13). É possível representar os planos verticais e as coberturas com materiais simples como: massa de modelar, palitos e desenho. A representação da copa sobre o papel facilita a visualização da área projetada.
  • 10. figura 13 – Trabalho de aluno – maquete intermediária do plano de massa. O conhecimento do espaço é adquirido pela vivência, o que dificulta o desenvolvimento do domínio espacial por meio de representações. O uso da maquete é uma simulação 3D - três dimensões - em uma escala reduzida. Com o uso de maquetes temos a capacidade de aguçar a visão espacial por meio de uma estimulação dos sentidos. Apreendem-se as sensações causadas pelos estímulos recebidos nas simulações dos espaços. A representação do espaço por meio de plantas, cortes e elevações pressupõe o domínio da visão espacial, porém é comum a presença da visão planar - um único plano - nos desenhos dos alunos. A maquete leva a um rompimento da visão planar e proporciona uma visão espacial pela estimulação dos sentidos. Além de proporcionar um resultado imediato ao projeto que se está desenvolvendo, o uso das maquetes contribui para a formação do aluno, uma vez que estimula o desenvolvimento de uma visão tridimensional. Após o desenvolvimento do plano de massa utilizando as maquetes são feitos os primeiros desenhos que representam o plano de massa. A figura 14 mostra como alguns elementos da estrutura inicial permanecem e outros são transformados. figura 14 – Trabalho de aluno – desenho inicial da estrutura e desenho do plano de massa. A seguir as figuras 15e 16 mostram o uso de cortes e croquis durante a fase de representação do plano de massa e a planta final sob a volumetria das arquiteturas propostas. O exercício teve a duração de 24 horas distribuídas em dois meses (uma vez por semana 3 horas/aulas)
  • 11. figura 16 – Trabalhos de aluno – croquis e cortes. figura 15 – Trabalhos de aluno – desenho final sob maquete volumétrica da arquitetura. 7. CONCLUSÃO O procedimento adotado acaba por promover o debate durante o processo criativo garantindo a inclusão de toda a classe, o que acaba por enriquecer os trabalhos. A estrutura do projeto é o meio encontrado para discutir a concepção e promover a sua revisão.
  • 12. A divulgação de procedimentos e métodos utilizados na disciplina de paisagismo é uma forma de trocar experiências e é a chave para o desenvolvimento qualitativo da disciplina (WARDE, 2000). 8. BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, Mikhail, Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec. 1997. FREITAS, Maria Teresa de Assunção. O Pensamento de Vygotsky e Bakhtin no Brasil, São Paulo, Papirus, 1999. JONES, Christopher. Métodos de diseño. (3ed) Barcelona: Gustavo Gili, 1982. MACEDO, Silvio Soares. In:ANAIS DO I ENEPEA - Encontro nacional de professores de paisagismo de escolas de arquitetura. São Paulo, 1994. MAGNOLI, Miranda.- Experiência de ensino de paisagem para arquitetos na FAU/USP, São Paulo, FAU/USP, 1981. SILVA, Jonathas Magalhães Pereira da. Paisagem/Ensino/Interface Gráfica - Dissertação de mestrado FAUUSP, 1999. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martin Fontes, 1992. SANOFF, Henry. Visual research methods in design. New York: Van Nostrand Reinhold, 1991 WARDE, Mirian Jorge e CARVALHO, Marta Maria Chagas de. “Política e cultura na produção da Hístória da Educação no Brasil” IN: Contemporaneidade e Educação. São Paulo, Ano V, no 7, 1o semestre 2000.