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JOGOS COOPERATIVOS
APLICADOS
Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.
JOGOS COOPERATIVOS
APLICADOS A EDUCAÇÃO
Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.
1
JOGOS COOPERATIVOS
A EDUCAÇÃO
Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.
2
SUMÁRIO
1 PLANO DE ENSINO........................................................................................................... 3
1.1 EMENTA ............................................................................................................. 3
1.2 OBJETIVOS DA DISCIPLINA ............................................................................ 3
1.3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ......................................................................... 4
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO.............................................................. 5
1.5 AVALIAÇÃO ....................................................................................................... 5
1.6 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 5
AULA 1 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ............ 5
TEXTO 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ........... 5
AULAS 2 e 3 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.... 9
TEXTO2 - ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS....................... 9
AULA 4 - O EDUCADOR.......................................................................................... 25
TEXTO 3 - EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE ! ....................................................... 25
AULA 5– OS CONTATOS ........................................................................................ 27
TEXTO 4 - OS PRIMEIROS CONTATOS ................................................................. 27
AULAS5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS ................................... 29
TEXTO 5- ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS....................... 29
AULA7 –TIPOS DE JOGOS..................................................................................... 39
TEXTO 6–TIPOS DE JOGOS ................................................................................... 39
AULA8 –APLICAÇÃO DOS JOGOS........................................................................ 44
TEXTO 7- JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL........................ 44
TEXTO 8- JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES................................. 51
TEXTO 9- JOGANDO COM TODOS......................................................................... 55
TEXTO 10- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 57
ANEXOS –JOGOS ................................................................................................... 58
3
1 PLANO DE ENSINO
DISCIPLINA CARGA NÚMERO
TURMA
HORÁRIA DE AULAS
JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS A
EDUCAÇÃO
40 horas 08
1.1 Ementa
Os jogos e brincadeiras na cultura brasileira. A origem dos jogos. O brincar como
ludicidade e produção de conhecimento na instituição de ensino. Estudo dos jogos e
brincadeiras: sentidos, significados, apropriações, influências e a importância para a
Educação.
1.2 Objetivos da disciplina Geral
É promover aos Pós-Graduados do Curso de Docênciaa reflexão, a discussão e a
fundamentação teórica, a fim da ressignificação das concepções sobre os jogos
cooperativose a brincadeira visando a construção de conhecimento sobre a
importância do lúdico no contexto educativo.
Específicos
a) Relacionar as diversas fases do desenvolvimento do jogo cooperativo;
b) Conhecer a história e o espaço ocupado pela ludicidade no contexto histórico
e atual da educação;
c) Reconhecer a importância do lúdico como um meio para o desenvolvimento
físico, cognitivo, afetivo e social;
d) Reconhecer a importância dosjogos cooperativos no processo educativo;
e) Compreender a dinâmica de criação, montagem e dinamização de espaços
ludopedagógicos.
1.3 Conteúdo Programático
UNIDADE I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.
Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.
Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS.
UNIDADE II– O EDUCADOR
4
Texto 3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE!
UNIDADE III – OS CONTATOS
Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS.
UNIDADE IV– O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS
Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS.
UNIDADE V– TIPOS DE JOGOS
Texto 6: TIPOS DE JOGOS.
UNIDADE VI– APLICAÇÃO DOS JOGOS
Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL.
Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES
Texto 9: JOGANDO COM TODOS
1.4 Procedimentos Metodológico
As aulas se darão a partir de exposições orais e dialogadas, leituras e análises de
textos, elaboração de sínteses e apresentação de trabalhos. Será privilegiado a
leitura, á reflexão, o diálogo, a criatividade, o compromisso e o envolvimento de
todos, articulando-os com a formação e a experiência de cada participante. Serão
utilizados recursos variados, de acordo com os conteúdos trabalhados e as
possibilidades existentes.
1.5 Avaliação
Avaliações são previstas será realizada no decorrer do módulo, combinando
momentos de expressão individual e grupal. Serão realizadas três avalições: a
primeira referente a leitura do primeiro e segundo texto, a segunda referente aos
terceiros e quartos textos, a terceira exposição de trabalhos que serão realizados no
final do módulo. O peso de cada avaliação será de 10 pontos, que dividido por 3, ter-
se-á a média da disciplina.
1.6 Bibliografia
AMARAL, J. D. Jogos cooperativos.São Paulo: Phorte, 2004.
______.Jogos cooperativos.3.ed..São Paulo: Phorte, 2008.
5
BERTHARAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões:antiginástica e
conscientcia de si. 4.ed. São Apulo: Martins Fontes, 1977.
BRIKMAN, L. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989.
BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como em exercício de
convivência. Santos: Projeto cooperação, 2001.
BROWN, G. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal,1994.
FREIRE,P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
ORLICK, T. Libres para cooperar libres para crear.3.ed. Barcelona. Editorial
Paidotribo, 1999.
SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Sprint, 2006.
______. 100 jogos competitivos de apresentação: jogando e recreando um novo
mundo. São Paulo: Sprint, 2009.
______. Jogos com para-quedas: mantendo nossos sonhos no ar. São Paulo:
Sprint, 2009.
STOKOE, P. HARF, R. Expressão corporal na pré-escola. São Paulo: Summus,
1987.
5
AULA 1 e 2 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS
Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.
JanderDenicol Amaral1
Reinaldo Soler2
“Concordo que o estudo, tanto quantoo trabalho, são coisas sérias. Coisa séria, não sisuda”.
(JOÃO BATISTA FREIRE)
Para viver em uma época como a que vivemos, lidando com tantas crises,
mudanças, problemas e expectativas, faz-se necessário estar bem preparado para
as exigências da vida moderna. Uma vida que exige do ser humano uma adaptação
contínua às novas circunstâncias e que ele aprenda e reaprenda permanetemente.
Uma pessoa que conhece muita gente, uma pessoa que tem que gostar de gente,
de todas as idades, raças, ideologias e manias. Ser humano, uma pessoa que se
dedica ao crescimento do outro, que compartilha sentimentos, desejos efrustrações.
Uma pessoa que deve estar preparada a cada instante, porque as mudanças são
muitas e muito rápidas. Uma pessoa que se relacione bem com o outro e que seja
competente na sua ação, para, então, tentar ajudar essa gente a pensar, sentir, agir
e viver como gente.
Conviver é facilitar um processo que busca o desenvolvimento pessoal, social
e profissional durante toda a vida do indivíduo, com a finalidade de melhorar sua
qualidade de vida e da coletividade.
Para isso, temos, mais do que nunca, o dever de resgatar o humano. O
humano caracterizado pela paz, pelo amor e pelasolidariedade, pois somos uma
comunidade depessoas. Eesse resgate encontra uma pessoa que,
independentemente de sua idade cronológica, é sempre colocada à prova, e,
quando isso acontece, passa por crises, transformações e modificações que
envolvem muitos aspectos que às vezes não nos damos conta e que tem uma
importância fundamental, como, por exemplo, as mudanças de papéis frente as
diferentes situações que a vida nos coloca. E nos é cobrado diante desses papéis
1
AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.
2
SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
6
uma grande maturidade. Somos pessoas que sempre estão começando suas vidas
e relações interpessoais.
Temos que aprender a trabalhar o erro, o desequilíbrio. O conflito e a crise
são momentos fundamentais para o crescimento como pessoa e especialmente para
o crescimento em grupo. Sejamos tolerantes e pacienciosos.
Um outro aspecto importante é a auto realização. Temos que criar condições
para que as pessoas desenvolvam a capacidade de auto realização, que
pressupomos, chegar a ser algo realmente importante para nós mesmos e quando
fazemos isso colaboramos para o crescimento das outras pessoas.
Enfim, uma pessoa que saiba viver em comunidade, pois somos comunicação
essencial. E nessa comunicação devemos criar pontes de acesso ao outro por meio
do que temos em comum e deixar de lado as diferenças que criam os muros, o
preconceito. Devemos estimular mais o sorriso, recriar os ambientes de
aprendizagem fomentando a dinâmica integrativa.
Não devemos esquecer de fazer sempre essas perguntas: Que tipo de
pessoas eu quero para amanhã? Que tipo de sociedade eu quero ajudar a construir?
É uma missão difícil, cheia de desafios e muito enriquecedora. A construção
do humano é uma questão impreterível, porque significa a reconstrução dos valores,
para o desenvolvimento da existência humana alicerçada no amor através da
criação, recriação, inovação e principalmente da ousadia de mudar.
Estamos diante de um contexto que nos exige soluções coletivas, criativas e
cooperativas. Necessitamos recriar a forma de vermos o mundo e as nossas
dinâmicas de interação social para que resultem numa dimensão ampliada da
convivência humana, resgatando nosso potencial para vivermos juntos e
compartilharmos o nosso espaço social, político e de lazer.
Nesse sentido, elegemos o jogo cooperativo como um instrumento de
articulação e promoção do processo educativo, no qual se destacam algumas de
suas principais características, como a alegria e a inclusão. Todos participam, todos
ganham e todos se divertem. É um jogo que tem como fundamento levar em
consideração as condições, as qualidades e as características individuais de cada
pessoa. O importante é a soma de esforços para, com eficiência, realizarmos e
solucionarmos as tarefas propostas através da cooperação.
Ao trabalharmos com esse tipo de estrutura cooperativa, temos a difícil
missão de compartilhar as alegrias, perdas e realizações não somente com parte do
7
grupo, como acontece nas estruturas competitivas, mas com todos os integrantes.
Os Jogos Cooperativos são um forte instrumento para promover a integração,
socialização e manifestação dos valores e emoções que levam à realização e ao
bem-estar de todos.
Além de potencializar a criatividade e a espontaneidade, os Jogos
Cooperativos auxiliam na criação de uma consciência humanitária, que, ao valorizar
a participação e o esforço do outro, constitui-se em um trabalho de crescimento
mútuo, contribuindo através dos valores positivos com a sociedade para uma melhor
qualidade de vida e a construção de um mundo melhor.
Os jogos cooperativos nasceram da necessidade que temos se tem em viver
juntos, pois desde cedo foi ensinado que jogo é sinônimo de competição, e que
competição é sinônimo de jogo. Hoje, sabe-se que isso é mito, pois um jogo, para
ser interessante e desafiador, não precisa ser jogado como se estivesse numa
guerra. Enfim, existem alternativas, e uma delas é o jogo cooperativo.
Quando se joga cooperativamente, cada pessoa é responsável por contribuir
com o resultado bem-sucedido do jogo e assim cada um se sente co-participante. O
medo da rejeição é eliminado e aumenta o desejo de se envolver, de fazer parte do
grupo.
Nesse sentido a ideia da disciplina é sensibilizar para uma mudança real,
desejando que dessa mudança surja uma nova visão a respeito do jogo, e que com
isso se possa criar uma ética cooperativa.
Na escola se tem mais contato com os jogos competitivos do que com os
jogos cooperativos, e a própria escola valoriza só os vencedores, pois não ensina o
estudante a amar o aprendizado e sim a tirar notas cada vez mais altas. A educação
física por sua vez não ensina as pessoas a amarem o jogo, e sim a vencer.
Brotto (1999, apud SOLER, 2006) deixa uma lição quanto a isso, pois ele
entende que aprender é sempre uma aprendizagem compartilhada, que ocorre
numa situação dinâmica de coeducação e cooperação, em que todos são,
simultaneamente, professores e alunos.
Acredita-se que o jogo cooperativo nos ajuda a ensinar-e-aprender a viver uns
com os outros ao invés de uns contra os outros.
É certo que desde pequeno se condicionado a competir, e a todo o momento
se tem a impressão de que se está em uma batalha brutal e feroz, em que só um
pode ser o grande vencedor, e ocupar o mais alto grau do pódio.
8
Hoje, com o crescimento da violência e o desenvolvimento das cidades, a
pessoa já não tem espaço para jogar, e uma das últimas alternativas para se jogar é
o espaço escolar, mas é necessário estar atento a para qual jogo se necessita. Será
que os jogos que as pessoas estão jogando ajudam a transformar nossa difícil
realidade?
Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006),quando participamos de um
determinado jogo, fazemos parte de uma minissociedade, que pode nos formar em
direções variadas.
E qual direção que se quer?
Investir no jogo cooperativo como forma de mudança, transformador da
cultura, que atualmente é altamente competitiva. Deve-se para isso tentar
ritualizar a cooperação e desmistificar a competição.
9
CONTINUAÇÃO DA AULA 2 e AULA 3
Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS.
Reinaldo Soler3
"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então,com os homens?"
(GUIMARÃES ROSA)
O JOGO
Através da história da humanidade foram inúmeros osautores que se
interessaram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do brincar e do
brinquedo. Aqui seguem algumas informações importantes sobre esse tema
tãoantigo mas ao mesmo tempo tão desconhecido. Confira!
Idade Média – o jogo é considerado não sério (associado ao jogo de azar).
Servetambém para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos de disciplinas
escolares.
Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto como conduta livre que
favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo: foi adotado como
instrumento de aprendizagem de conteúdos escolares (Quintiliano, Erasmo,
Rabelais, Basedow)
O jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário. É
do escritor, o poeta, sua prioridade, segundo Montaigne (1612).
“O jogo é um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da
criança, como recriação, momento adequado para observar a criança, que expressa
através dele sua natureza psicológica e inclinações, de acordo com Vives (1612).
O jogo tem valor educativo, na medida em que alia oprazer à condição de
uma livre aprovação e de uma submissão autônoma às regras. O valor do jogo tem
implicações políticas e morais, indo bem além da simples distração. O jogo passa a
ser associado à formação do ser humano em sua plenitude. (ROUSSEAU, 1761).
Para Kant (1787), os jogos da criança são o insubstituível lugar de uma auto-
aprendizagem por si mesma, em que vemos que se trata de uma cultura livre. Por
3
SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
10
meio do jogo, a criança aprende a coagir a si mesma, a se investir de uma atividade
duradoura, a conhecer e a desenvolver as forças do seu corpo.
Já para Tomás de Aquino (1856), o jogo é necessário na vida humana.
Segundo Stanley Hall (1882), a brincadeira reflete o decurso da evolução do
homem, desde a pré-história até o momento presente. É como se a historia da raça
humana fosse recapitulada por cada criança, cada vez que ela brinca.
“... A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e,
ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo.... Ela dá alegria,
liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo ... O
brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda
significação”– Froebel, 1912
“O jogo é uma atividade livre, conscientemente tomada como não-sériae
exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorvero jogador de
maneira intensa e total. É uma atividade desligadade todo e qualquer interesse
material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites
espaciais e temporais, próprios, segundo uma certa ordem e certas regras”–
Huizinga, 1938
“Os jogos são geradores e expressão da personalidade e da cultura” –
Roberts e Sutton-Smith, 1960-1970
“Os jogos tem um papel expressivo no desenvolvimento decertas habilidades
cognitivas” – Bateson (1956), Vygotsky (1967), Sutton-Smith (1967), Sylva, Bruner e
Genova (1976)
“O jogo é uma atividade espontânea oposta à atividade do trabalho” “É uma
atividade que dá prazer ...” “Caracteriza-se por um comportamento livre de conflito”
Piaget, 1964
“Importância da exploração no jogo: a ausência de pressão do ambiente cria
um clima propício para investigações necessárias à solução de problemas” – Bruner,
1976-1983
“O jogo é uma forma de infração do cotidiano e suasnormas” – Wallon, 1981
“O Brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o ser
humano se mostra na sua essência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O
brincante troca, socializa, coopera e compete, ganha e perde. Emociona-se, grita,
chora, ri, perde a paciência, fica ansioso, aliviado. Erra, acerta. Põe em jogo seu
corpo inteiro: suas habilidades motoras e de movimento vêm-se desafiadas. No
11
brincar, o ser humano imita, medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos
transformam-se, naquele segundo, em realidade. O brincar descortina um mundo
possível e imaginário para os brincantes. O brincarconvida a ser eu mesmo”
“O brincar, assim como a arte, o movimento, a expressão plástica, verbal e
musical, é uma das linguagens expressivas do ser humano” – “O jogo designa tanto
a atitude quanto o objeto que envolve regras externas” - Friedmann, 1998
JOGO COOPERATIVO
Você sabe o que é jogo cooperativo? E cooperação?
JOGO: brincadeira, divertimento, folguedo, passatempo, exercício de crianças
em que elas fazem prova da sua habilidade, destreza ou astúcia.
COOPERATIVO: aquele que coopera, que age ou trabalha junto com o outro
para um fim comum, que colabora, contribui ou age conjuntamente para produzir um
efeito.
JOGOS COOPERATIVOS possuem no seu âmago de desenvolvimento a
COOPERAÇÃO.
São atividades de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para
assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos.
Os jogos cooperativos reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, propiciando
uma participação autêntica, fazendo com que o ganhar e o perder sejam, apenas,
referências para o crescimento pessoal e coletivo.
Através dos jogos cooperativos, crianças e adolescentes “descobrem” outras
possibilidades: regras, aprendizagem e educação, a ajuda, a solidariedade, a
compreensão, o lúdico. A disputa e a competição podem ser confrontadas, abrindo-
se uma possibilidade de inserção da COOPERAÇÃO – ONDE TODOS GANHAM.
A UNESCO coloca como alguns dos valores essenciais para a paz e a
convivência ecológica entre as pessoas: respeitar a vida, rejeitar a violência, ser
generoso, escutar para compreender, preservar o planeta, redescobrir a
solidariedade. Esses e outros valores como: união, amor, colaboração, bondade,
paz, responsabilidade, organização, inclusão ética, são trabalhados através das
VIVÊNCIAS COOPERATIVAS.
Os JOGOS COOPERATIVOS (VIVÊNCIAS COOPERATIVAS) permitem o
desenvolvimento do viver e do conviver em grupo, do aprender para cooperar e do
12
cooperar para aprender, exercitando o compartilhar como instrumento de
crescimento pessoal.
O jogo cooperativo não é algo novo, pois, segundo Orlick(1982, apud SOLER,
2006), começou há milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se
uniam para celebrar a vida.
Com toda certeza, os jogos cooperativos sempre existiram, mas começaram a
ser sistematizados na década de 1950 nos Estados Unidos, através do trabalho de
Ted Lentz.
Um dos maiores estudiosos do tema jogos cooperativos é, sem dúvida
nenhuma, Terry Orlick, da Universidade de Ottawa, no Canadá, que pesquisou a
relação entre jogo e sociedade. Em 1978, publicou o livro Vencendo a competição,
que serve de referência para qualquer trabalho sobre cooperação.
De acordo com Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006), nós não ensinamos
nossos estudantesa terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos a
se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não os ensinamos a
gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos.
No Brasil, o grande pioneiro é o professor Fábio OtuziBrotto, que vem
silenciosamente desencadeando uma nova geração de pessoas mais felizes e
cooperativas.
Atualmente, o jogo cooperativo já é encarado com naturalidade. Muito
diferente de alguns anos atrás, quando ninguém acreditavaem seu potencial, hoje
existe um grande interesse em pesquisar e produzir academicamente sobre o
assunto.
Qual será o motivo que nos tem levado a competir em momentos que não
precisamos?
Hoje, já sabemos que tanto cooperação quanto competição são
comportamentos ensinados-aprendidos através das diversas formas de
relacionamento humano.
O que falta é uma nova postura do educador, ou seja, das pessoas
significativas nesse processo educativo, pois sabemos que só haverá uma mudança
se as pessoas que são significativas na vida do estudante a mudarem a forma como
oferecem os jogos. Pois parece que, se falo de jogo, tenho que falar de competição,
criando erroneamente uma relação de sinonímia entre as palavras.
13
Muitas pessoas inclusive acreditam que a graça do jogo está na competição,
quando sabemos que para uma criança tanto faz competir ou cooperar; o que ela
quer é se divertir.
Reproduzo a seguir um resumo das hipóteses de Deutsch (1949, apud
SOLER, 2006), que foram comprovadas através de provas experimentais em seu
trabalho:
a) Os indivíduos em situações cooperativas consideram que a realização de
seus objetivos é, em parte, consequência das ações dos outros
participantes, enquanto os indivíduos em situações competitivas
consideram que a realização de seus objetivos é incompatível com a
realização dos objetivos dos demais membros;
b) Os membros de grupos cooperadores terão mais facilidade do que os
membros de grupos competitivos para valorizar as ações de seus
companheiros propensos a atingir os objetivos comuns e para não reagir
negativamente diante das ações capazes dedificultar ou impedir a
obtenção de tais objetivos;
c) Os indivíduos em situações cooperativas são mais sensíveis às
solicitações dos companheiros do que indivíduos em situações
competitivas;
d) Os membros de grupos cooperadores ajudam-se mutuamente com maior
frequência do que os membros de grupos competidores;
e) Após certo tempo, registra-se uma frequência maior na coordenação de
esforços em situações cooperativas do que em situações competitivas;
f) A homogeneidade quanto à quantidade de contribuições ou participações
é maior nas situações cooperativas do que nas situações competitivas;
g) A especialização numa atividade é maior nos grupos cooperativos do que
em grupos competitivos;
h) Existe maior pressão para o agir nos grupos cooperativos do que em
grupos competitivos;
i) A atenta observação da produção de sinais emitidos pelos membros de
uma situação competitiva é menor do que a revelada numa situação
cooperativa;
j) Existe maior aceitação da intercomunicação nos grupos cooperativos do
que nos competitivos;
14
k) A produtividade, em termos qualitativos, é maior nos grupos cooperativos
do que nos grupos competitivos;
l) Existe uma maior manifestação de amizade entre os membros dos grupos
cooperativos do que entre os dos grupos competitivos;
m) Dentro dos grupos, os membros cooperativos avaliam a sua produção
mais favoravelmente do que os membros competitivos;
n) Registra-se um percentual maior de funções coletivas nos grupos
cooperativos do que nos competitivos;
o) Os membros de grupos cooperativos consideram que são mais capazes
de produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo do que os
membros competitivos. A esse respeito, Brown (1994) nos esclarece mais
um pouco, ao afirmar que como observação final, poderíamos comentar
que a intercomunicação de ideias, a coordenação de esforços, a amizade
e o orgulho em permanecer ao grupo parecem desaparecer quando seus
membro se veem na situação de competir pela obtenção de objetivos
mutuamente excludentes.
Como vimos, apesar da distinção, nossa ideia não ‘’e colocar um em
contraposição ao outro, acreditamos, isso sim, que os dois (cooperação/competição)
devem fazer parte da vida. Só devemos nos preocupar como passamos esse jogo,
pois, se colocamos que vencer é a única coisa que importa, que não interessam os
meios que se usem, então estaremos reforçando a cultura competitiva que nos
cerca.
Se, ao contrário, mostramos que a pessoa é mais importante, num movimento
de transformação real, tentando tornar o mundo um lugar melhor.
Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos dá uma preciosa dica: é hora de
começar a perguntar: por quê?
Sim, é hora de, despertando as consciências, modificarmos a atual estrutura
competitiva, e um grande elemento para isso é o jogo cooperativo, pois nele:
a) A gente joga com e não contra os outros;
b) Joga para superar desafios ou obstáculos e não para vencer os outros;
c) Busca a participação de todos;
d) Dá importância a metas coletivas e não a metas individuais;
e) Busca a criação e a contribuição de todos;
f) Busca eliminar a agressão física contra os outros;
15
g) Desenvolve atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação.
Acreditamos que asdefinições que mais se aproximam da realidade sãoas
descritas por Brotto(1999, apud SOLER, 2006):
a) Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são
comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos
para todos.
b) Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são
mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às
outras, e os benefícios são concentrados somente para alguns.
Acreditamos que utilizando o jogo cooperativo, diminuiremos os problemas. E
com uma total harmonia, realizaremos o objetivo deste trabalho, que é utilizar os
jogos cooperativos como um exercício de convivência.
Como nos diz Brotto (1997, apud SOLER, 2006), nós estamos nesse jogo
com-muitos-outros-jogadores. Portanto, o COMO jogamos é o fator que poderá
definir o placar final.
Os estudos de MortonDeusth (1999, apud SOLER, 2006), no campo da
psicologia social, nos mostram quando uma situação é cooperativa e quando é
competitiva, conforme a figura 1 a seguir.
FIGURA 1 – Situação cooperativa e competitiva.
SITUAÇÃO COOPERATIVA SITUAÇÃO COMPETITIVA
Percebem que o atingimento de seus objetivos é,
em parte, consequência da ação dos outros
membros
Percebem que o atingimento de seus objetivos é
incompatível com a obtenção dos objetivos dos
demais
São mais sensíveis as solicitações dos outros. São menos sensíveis às solicitações dos outros.
Ajudam-se mutuamente com frequência Ajudam-se mutuamente com menor freqüência
Há maior homogeneidade na quantidade de
contribuições e participações
Há menor homogeneidade na quantidade de
contribuições e participações
A produtividade em termos qualitativos é maior. A produtividade em termos qualitativos é menor
A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor
Fonte: adaptado de Soler, 2006, p.23.
Competir e cooperar são possibilidades de agir e ser no mundo. Cabe
escolhermos, e acabar com o mito de que é a competição que nos faz evoluir.
Os jogos competitivos são rígidos, o que impede que suas regras sejam
modificadas. Sobre esse tema Spencer Kagan, in Brotto (1999, apud SOLER, 2006),
afirma que as crianças não jogam jogos competitivos, elas lhes obedecem.
16
A orientação é sempre não mexer nas regras, ou seja, aceitar o que está
pronto e acabado. Nos jogos cooperativos acontece exatamente o contrário, isto é,
quanto mais houver contribuições do grupo, melhor.
O nosso objetivo principal de trabalhar a auto-estima através de jogos
cooperativos é completamente alcançado, pois os jogos cooperativos foram criados
com o objetivo de promover a auto-estima e a convivência, sendo dirigidos para a
prevenção de problemas sociais, antes de se tornarem problemas reais.
Brown (1995, apud SOLER, 2006), afirma que a interação cooperativa com os
outros é necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da
identidade pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico. Se
o jogo tem presentes os valores de solidariedade e cooperação, começamos a
descobrir a capacidade que cada um de nós tem para sugerir ideias.
SOMOS COMPETITIVOS POR NATUREZA?
Mas afinal, somos competitivos por natureza?
Na grande maioria de vezes em que falamos em jogos cooperativos,
escuramos como resposta: "Mas o Ser Humano e competitivo por natureza. O
mundo é dos mais fortes."
Com muita frequência também ouvimos falar da teoria de seleção natural de
Darwin, para justificar a competição.
O conceito de sobrevivência do mais apto tem sido usado com abuso para
justificar o princípio de que "a força estácerta".
Entretanto "o mais apto" não significa ser o mais forte ou o mais bruto. Darwin
ficou amargurado por suas teorias terem sido distorcidas para justificar negociatas,
crueldade e guerras contra os mais fracos. Charles Darwin afirmou, claramente, que,
para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no
senso moral e na cooperação social, e não na competição.
Entretanto, o homem moderno está se afastando cada vez mais da
coexistência harmoniosa, que foi fundamental para o seu desenvolvimento e
sobrevivência. A direção em que o homem está indo na sociedade ocidental pode
ser comparada ao desenvolvimento do câncer. O aspecto mais característico do
câncer dentro de um corpo humano, ou dentro de uma sociedade, é que as células
cancerosas cuidam somente de si próprias. Elas se alimentam das outras partes do
17
seu hospedeiro, até efetivamente matá-lo. Consequentemente, elas cometem
suicídio biológico, uma vez que a célula cancerosanão sobrevive fora do corpo em
que ela iniciou seu desenvolvimento descuidado e egocêntrico.
A competição em suas formas extremas nos torna a todos perdedores.
A longo prazo, não haverá vencedores, somente perdedores, a não ser que
comecemos a nos voltar para uma direção mais cooperativa e harmoniosa.
Afinal, o ser humano é competitivo ou cooperativo?
Através de novas alternativas para se jogar, podemos estimular o encontro,
como nos orienta Brotto (1997, apud SOLER, 2006), quando afirma que jogar-e-viver
é uma oportunidade criativa para encontrar: com a gente mesmo, com os outros e
com o todo.
Devemos permitir que através do jogo diminuamos a distância que nos
separadas outras pessoas. Para isso parece claro que não devemos nos deixar
levar pelo mito de que o ser humano é competitivo por natureza, pois, como já
vimos, é a estrutura social que nos leva a competir ou cooperar, então depende de
cada um de nós, ou melhor, de todos nós.
Orlick (1989, apud SOLER 2006) indica um caminho: se nossa qualidade de
vida futura, e talvez até nossasobrevivência, depender da cooperação, todos
pereceremosse não estivermos aptos a cooperar, a ajudar uns aos outros, a sermos
abertos e honestos, a nos preocuparmos com os outros, com as nossas gerações
futuras.
Concordamos com essa opinião, e vamos mais fundo: só conseguiremos
superar o que vem pela frente com muita cooperação e ajuda mútua.
COMO ENSINAR A JOGAR?
Para iniciar, temos aquilo que Brotto (1999, apud SOLER, 2006) chamou de
ciclo de ensinagem, que se divide em:
a) Vivência;
b) Reflexão;
c) Transformação.
A pedagogia dos jogos cooperativos é apoiada nessas três dimensões de
ensino-aprendizagem.
18
a) Vivência: Incentivando e valorizando a inclusão de todos, respeitando as
diferentes possibilidades de participação;
b) Reflexão: Criando um clima de cumplicidade entre os praticantes,
incentivando-os a refletirem sobre as possibilidades de modificar o jogo,
na perspectiva de melhorara participação, o prazer e a aprendizagem de
todos;
c) Transformação: Ajudando a sustentar a disposição para dialogar, decidir
em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo, as
transformações desejadas.
Resumindo, a cooperação é um exercício, e, sendo um exercício, carece de
ser praticado, então podemos, ajudados pelo ciclo de ensinagem, dizer que o
processo do jogo cooperativo é assim dividido:
Então teremos que viver um jogo, depois fazer uma reflexão do que jogamos,
para recomeçar, mas de forma sempre nova/melhorada, lembrando que a principal
característicado jogo cooperativo é não ter fim. E um dos seus objetivos é fazer com
que as pessoas que jogam sintam prazer em sempre continuar jogando/vivendo.
Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006) dividiu os jogos cooperativos em
diferentes categorias, pois sempre é necessário adequar os jogos ao grupo que se
propõe a jogar:
a) Jogos cooperativos sem perdedores: Todos os participantes formam um
único grande time. São jogos plenamente cooperativos.
b) Jogos de resultado coletivo: Permitem a existência de duas ou mais
equipes, havendo um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e
entre as equipes, também. O principal objetivo é realizar metas comuns.
c) Jogos de inversão: Enfatizam a noção de interdependência, por meio da
aproximação e troca de jogadores, que começam em times diferentes. Os
jogos de inversão se dividem em quatro tipos:
AÇAO REFLEXÃO
AÇÃO
MELHORADA
19
- Rodízio: Os jogadores mudam de lado de acordo com situações
preestabelecidas, como, por exemplo: depois de sacar (voleibol); após a
cobrança de escanteio (futebol); assim que arremessar um lance livre
(basquete).
- Inversão do goleador: O jogador que marca o ponto possa para o outro
time;
- Inversão do placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time.
- Inversão total: Tanto o jogador que fez o ponto como o ponto conseguido
passam para o outro time.
d) Jogos semi-cooperativos: Indicados para um início de trabalho com jogos
cooperativos, especialmente com adolescentes, num contexto de
aprendizagem.
Oferecem oportunidade de os participantes jogarem em diferentes posições:
- Todos jogam: Todos os que querem jogar recebem o mesmo tempo de
jogo;
- Todos tocam/todos passam: A bola deve ser passada por entre todos os
jogadores do time para que o ponto seja validado;
- Todos marcam ponto: Para que um time vença é preciso que todos os
jogadores tenham feito pelo menos 01 ponto durante o jogo. (Podem-se
utilizar também outros critérios, tais come bola na trave, no aro ou tabela,
um saque correto etc.);
- Todas as posições: Todos passam pelas diferentes posições no jogo
(goleiro, técnico, torcedor, dirigente, etc);
- Passe misto: a bola deve ser passada, alternadamente, entre homens e
mulheres.
- Resultado misto: Os pontos são convertidos, ora por um homem, ora por
uma mulher.
Podemos através dessas categoriasadequaro tipo de jogo que usaremos,
pões é muito importante fazer com que as pessoas que jogam se sintam seguras e
felizes, daí a importância de se iniciar gradativamente de se iniciar gradativamente o
trabalho, pois cada grupo tem suas próprias características, condições e ritmos, que
devem sempre ser levados em consideração.
20
CRIANDO NOVOS GRUPOS
Um dos momentos mais esperados quando se vai jogar é a formação dos
times ou grupos, e é justamente nesse instante que podemos mudar nossa forma de
separar/formar grupos. Devemos criar alternativas criativas e divertidas, e para isso
podemos levar em consideração o que diz Brotto(1999, apud SOLER, 2006), formar,
desfazere transformar grupos em times é um exercício que pode nos preparar para
circular com maior leveza, flexibilidade e prazer por entre os vários contextos que
vivemos no dia-a-dia.
O que acontece na maioria das vezes é que as pessoas preferem ficar ao
lado de quem já conhecem, e com quem têm mais intimidade. Então, o nosso papel
é fazer com que elas deem a oportunidade a si mesmas de conhecer novas pessoas
e formar novas e interessantes parcerias. Não significa que haja algo de ruim estar
com quem se gosta, é só uma chance de novas participações com a inclusão de
novos amigos.
Existem alguns critérios que podem ser utilizados quando queremos "mexer"
com o grupo, misturando de modo saudável as diferenças:
a) Dia do nascimento: Grupo 1a
quinzena; grupo 2a
quinzena;
b) Cores das roupas: clara e escura;
c) Tipo de calçado: tênis, sapato, sandália, tamanco etc;
d) Cor dos cabelos: claros e escuros;
e) Mês do nascimento: 1o
trimestre; 2o
trimestre; 3o
trimestre e 4o
trimestre;
Dividimos o grupo em dois, também utilizando a seguinte divisão: Os
nascidos no 1o
semestre em um time; e os nascidos no 2o
semestre em
outro.
As formas são variadas e tudo dependerá da criatividade do facilitador, e
também do grupo que joga, pois as ideias de divisão devem partir também de quem
joga.
Aproposta dos jogos cooperativos deve estar acompanhada de atitudes que
favoreçam o respeito, a valorização e a integração de todos.
Enquanto educadores conscientes, devemos sempre eliminar as diferenças,
sem, contudo, deixar de reconhecer que cada ser é um indivíduo com possibilidades
e limitações. Neste sentido, devemos oferecer oportunidades iguais a todos sem
21
discriminação, para que ele possa se sentir como peça fundamental dentro do
grupo.
Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), quando todos podem ganhar com
a contribuição de todos, algo estranho acontece. As pessoascomeçam a ajudar
umas às outras.
Dando chance para que as pessoas joguem juntas, tentando superar um
desafio comum, contribuímos para que se tornem mais cooperativas e solidárias.
TRANSFORMANDO JOGOS CONHECIDOS
Uma alternativa muito interessante é a transformação de jogos antigos e
competitivos em jogos totalmente cooperativos.
A primeira coisa a fazer é eliminar a ênfase na competição e focar o objetivo
em metas coletivas, não se destacando o vencedor.
As características principais do jogo, como o desafio e a ludicidade, devem
ser mantidas, pois é o que faz com que quem joga seja seduzido por ele.
Devemos, sempre que possível, pedir para os participantes darem opiniões
sobre como transformar o jogo.
Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos ensina como modificar um jogo
competitivo transformando-o em cooperativo: Exemplo de adaptação de um jogo
competitivo está na ponte de cadeiras. Na versão competitiva, preveem-se duas
equipes que formam filas para ver quem pode chegar primeiro a um determinado
lugar. Todos estão parados sobre as cadeiras.O objetivo é deslocar-se sempre em
cima das cadeiras, passando-as para frente, estabelecendo uma espécie de ponte.
Agora, como adaptar esse jogo para que seja cooperativo? Em vez de duas equipes,
formamos somente uma e planejamos que o objetivo é que todos se desloquem
antes que termine uma canção. Fica mais interessante quando a forma de
deslocamento não é explicada; apenas se pede a todos que parem sobre as
cadeiras(pode ser em círculo), Explica-se que o objetivo é que todo o grupo chegue
a um lugar marcado, sem descer das cadeiras. O grupo deve consegui-lo antes que
termine uma canção.
Ficaevidente que o mais importante é que o grupo perceba como fazer para
alcançar o objetivo final, e que essa lição fique para ser utilizada depois, na própria
vida.
22
CRIANDO UM JOGO NOVO
Outra alternativaé criar um jogo cooperativo totalmente novo, em que,
segundo Brown (1994, apud SOLER, 2006), devemos levar alguns fatores em conta:
a) Estabelecer o uso possível do jogo: para relaxar, um jogo quebra gelo etc.
b) Estabelecer o destinatário do jogo: crianças, jovens, adultos, grupos
maiores ou grupos com necessidades especiais;
c) Determinar se o jogo é para grupos pequenos, grandes e onde se pode
jogá-lo (dentro de um salão, na rua, numa quadra etc).
Quando se está satisfeito com a ideia, podem-se anotar os passos do jogo e
experimentar para sentir se dão os resultados esperados.
Continuamos com Brown (1994, apud SOLER, 2006), que diz quais são as
perguntas que podem ser feitas para se ver se o novo jogo corresponde ao objetivo:
a) O jogo reflete bom humor? Permite que os participantes riam todosjuntos?
Reflete a ideia de que, às vezes, faz sentido fazer coisas que não têm
sentido?
b) O jogo é cooperativo? Os participantes podem jogar com os outros e não
contra os outros? Pode-se ter prazerno jogo e não no resultado?
c) O jogo é positivo? Anima os participantes a apoiarem-se? Há ausência de
comentários críticos? Os participantes se sentem bem durante e depois do
jogo?
d ) O jogo é participativo? Anima todos a jogarem em vez de observarem? Os
participantes se sentem mais unidos depois do jogo?
e ) O jogo permite que os participantes sejam criativos e espontâneos?
Permite a recreação, a possibilidade de mudá-lo?
f ) Há igualdade de participantes no jogo? E um jogo em que o facilitador é
também mais um jogador?
g ) Cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo? O jogo evita
projeções pessoais e facilita a participação coletiva?
h ) O jogo oferece um desafio? Tem espírito de aventura?
i ) O jogo leva em conta os participantes? Coloca ênfase no desenvolvimento
ou resultado?
j ) O jogo é divertido?
23
Se o novo jogo atende a todas as perguntas, então já podemos dizer, sem
medo de errar, que estamos diante de um jogo cooperativo, o qual tem o poder
transformador de ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoas que realmente
gostaríamos de ser.
E segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), muitas dasbasesaonosso
comportamento podem estar nas brincadeiras e jogos infantis.
A nossa missão maior é fazer com esses jogos modifiquem o comportamento,
tornando as pessoas mais honestas e atenciosas. E para isso temos o que Brotto (1999,
apud SOLER 2006) chama de habilidades de relacionamento cooperativo, em que
se destacam:
a) Focalizar uma visão e propósito como-um, identificando um centro de
interesse comum a partir de interesses pessoais compartilhados;
b) Descobrir, valorizar e praticar o estilo pessoal de ser, despertando
talentos, qualidades e virtudes em nós mesmos e uns nos outros;
c) Harmonizar crises, solucionar conflitos e superar obstáculos e dificuldades
através da recreação coletiva;
d) Sustentar a auto-mútua confiança, oferecendo e pedindo ajuda.
e) Preservar um ambiente de alegria e descontração, favorecendo a tomada
de decisão e iniciativa;
f) Alcançar objetivos, aparentemente impossíveis, acreditando que tudo é
possível, desde que seja (im) possível para todos, sem exceção;
g) E celebrar os sucessos e insucessos em comum-unidade, desfrutando de
todo o processo do jogo como um instante de encontro e realização
humana.
Quando temos o interesse, ou melhor, a necessidade de transformar uma
prática, podemos citar Diem (1981, apud SOLER, 2006) que afirma que afim de
permitir a cada um dos estudantes as mesmas oportunidades de aprendizagem, é
necessário haver ofertas variadas.
Importante que quando falamos em criarum novo jogo, seja levado em conta
que todas as pessoas são diferentes no início do processo, e com certeza serão
diferentes ao final.
Num mesmo grupo podemos encontrar pessoas bem treinadas, seguras,
autoconfiantes, extrovertidas, ao lado de outras, amedrontadas, gordas,
desengonçadas ou deficientes.
24
Então, podemos fazer como nos sugere Joseph (1998, apud SOLER, 2006),
na terapia do divertimento: Divirta-se com os outros. O desafio das brincadeiras em
grupo amplia sua visão e estimula seu talento.
Através dos jogos cooperativos, Brotto (1999, apud SOLER, 2006), sugere
que dois aspectos fundamentais são desenvolvidos:
a) Autoestima: despertando e desenvolvendo os talentos, vocações, dons e
tons pessoais, como peças singulares, importantes e fundamentais ao
grande jogo de coexistência.
b) Relacionamento interpessoal: como um princípio vital para a aproximação,
entrelaçamento e arranjo harmonioso, de cada uma das diferentes peças
para a recreação do todo.
E ele (Brotto, 1999) continua, afirmando que é através do jogo cooperativo a
sinergia entre autoestima e relacionamento interpessoal é sintetizada e ganha
proporções extraordinariamente educativas e transformadoras.
25
AULA 4 – O EDUCADOR
Texto3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE!
Estamos passando por uma mudança de paradigmas, poruma fase em que os
saberes não são mais exclusividade de quem ensina, tanto quanto seres humanos
quanto como educadores. O papel do educador é muito mais o de um facilitador e
orientador do processo de desenvolvimento do(s) outro(s). O objetivo do educador é
o de oferecer instrumentos ao educando para que ele possa procurar dentro de si
eno mundo externo, as informações necessárias para o seu crescimento. O
educador/facilitador é um alavancador de novos rumos, motivador para a mudança,
auto-conhecimento,auto-transformação e reformulação de valores. O papel do
educador é o de levantar questionamentos que “provoquem” e “desequilibrem”
seu(s) interlocutor(es), em prol damudança.
Porque e quando isto acontece?
Não é um acontecimento instantâneo e sim um processo, onde para cada
indivíduo ocorre a partir de eventos ou fatos muito particulares. A partir de um
desconforto, de um sentimento de que as coisas não estão certas do jeito que estão
Para mudar precisamos nos desvencilhar de ideias preconcebidas, formas viciadas
de relacionamento, para reconstruir, tijolo por tijolo, nossa nova forma e, aos poucos,
ir experimentando qual é o clima que darei a cada encontro, a cada oficina, a cada
aula. Quais as bases de pensamento sobre as quais irei “sentar”, me alimentar e
dormir; ou seja, os novos paradigmasque irão servir de norte para o meu novo
comportamento, minha nova postura; que estilo irei adotar.
Se refletirmos a respeito de :
a) que estilo quero adotar(filosofia);
b) o que é essencial para mim (meus valores) e o que é superficial
(justificativa);
c) o que quero nesta nova fase (meus objetivos);
d) como vou apresentar essas questões (metodologia);
e) que materiais vou utilizar.
Avaliar o que está confortável, o que está prático,ir fazendo os pequenos
ajustes para ir adequando o meu espaço ao meu jeito. A minha filosofia de trabalho
às necessidades de todos aqueles que moram comigo ou vem me visitar.
26
Vamos refletir à respeito da postura do educador até os dias de hoje:
a) autoritária, centrada em um único indivíduo, considerado “detentor dos
saberes”, dono da verdade;
b) unilateral, no sentido de não ter flexibilidade, utilizando e repetindo
velhas fórmulas ou receitas sem atentar para as necessidades
daqueles a quem nos dirigimos;
c) o seu maior objetivo é ensinar, informar, transmitir conhecimentos;
d) considera o outro como uma tábua rasa que deveria incorporar, adotar
os seus saberes incontestáveis;
e) abomina o conflito;
f) condena e rejeita o erro;
g) avalia, taxa e classifica o bom e o ruim, o melhor e o pior.
Vamos fazer agora, uma reflexão a respeito da postura do novo educador,
facilitador do processo do outro:
a) ele ouve, observa e reconsidera o processo de desenvolvimento do
seu aluno/educando/aprendiz;
b) reflete a respeito da sua própria prática, recriando-a em função das
necessidades do(s) seu(s) interlocutor(es): avalia o seu processo e
postura;
c) reconstrói junto com o(s) outro(s) os saberes;
d) é flexível e aberto para a mudança;
e) trabalha a partir dos conflitos, procurando caminhos para resolvê-los;
f) utiliza o erro como alavanca e desafio para novas aprendizagens;
g) o seu maior objetivo é formar, propiciar a abertura de canais no outro e
oferecer ferramentas para que o outro possa ser ele mesmo, se
descobrir, expressar-se.
Baseado No texto de Adriana Friedmann
27
AULA 5 – OS CONTATOS
Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS.
JanderDenicol Amaral4
"Nunca duvide da força de um pequeno grupo de pessoas para transformar a realidade.Na verdade
eles são a única esperança de que isso possa acontecer".
(MARGARET MEAD)
Nossa intenção é mostrar, por meio de uma proposta cooperativa, outras
possibilidades, outros caminhos de promover um desenvolvimento humano mais
enriquecedor e eficaz.
ACESSANDO O GRUPO
Quando entramos em contato com um grupo para desenvolvermos um
trabalho, é muito importante levarmos em consideração algumas orientações que
irão facilitar o desenvolvimento e a continuidade da proposta:
a) conhecer as necessidades e limitações dos membros do grupo;
b) encontrar o melhor caminho para entender o grupo e cada indivíduo;
c) entender que alguns integrantes apresentam dificuldades de se
relacionar com outras pessoas;
d) idade cronológica.
SELECIONANDO UMA ATIVIDADE
Escolher uma atividade não é uma tarefa muito fácil. Devemos ter atenção
aos objetivos e à estrutura da proposta:
a) adequação das atividades às necessidades do grupo;
b) adequação das ati idades ao ambiente;
c) atividades com nível de dificuldade gradativo;
d) atividades que proporcionem um incremento no nível de motivação
ecooperação do grupo.
4
AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.
28
CONDUZINDO A ATIVIDADE
Devemos permitir que ogrupo explore todas as possibilidades que surgirem
durante a atividade. É aconselhável ficar atento àspercepções dos participantes,
pois isso enriquecea nossaforma de contribuir com o grupo.
Para isso é necessário:
a) Proporcionar uma discussão durante a atividade em que o grupo
perceba o seu próprio desenvolvimento;
b) Permitir que a atividade se desenvolva naturalmente no ritmo do grupo;
c) Preparar o grupo para o tipo de atividade a ser realizada.
CONDUZINDO A DISCUSSÃO
Temos várias possibilidades de intervenção que podem favorecer o bom
andamento de uma discussão. Partindo de uma crítica de nossos estudantes e de
uma reflexão de nossa prática, estaremos contribuindo para um melhor
entendimento das vivências realizadas. E sugerimos que:
a) O grupo seja organizado em círculo;
b) Sejamos flexíveis, tentando entender os diferentes sentimentos em
relação à atividade;
c) Sempre dê retorno de cada observação realizada;
d) Encerre a discussão com aspectos positivos.
29
AULA 5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS
Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS.
JanderDenicol Amaral5
“Podemos chorar, implorar desesperadamente para que o tempo se congele, mas ele é surdo a
qualquer apelo e, com muita pressa, segue em frente. Sobre os ossos petrificados e os restos
amontoados de inúmeras civilizações estão as palavras patéticas:’Tarde de mais!’.”
(MARTIN LUTHER KING JR.)
Os jogos cooperativos são atividades que requerem um trabalho em equipe
com o objetivo de alcançar metas mutuamente aceitáveis. Não é necessário que os
indivíduos que cooperam tenham os mesmos objetivos, porém seu alcance deve
proporcionar satisfação para todos os integrantes do grupo.
O jogo cooperativo busca aproveitar as condições, capacidades, qualidades
ou habilidades de cada indivíduo, aplicá-las em um grupo e tentar atingir um objetivo
comum. O mais importante é a colaboração de cada um, é o que cada um tem para
oferecer naquele momento, para que o grupo possa agir com mais eficiência nas
tarefas estabelecidas. Esse tipo de jogo traz uma alternativa ao jogo de competição,
no qual, algumas vezes, o outro passa a ser um obstáculo que se tem que passar a
qualquer custo para atingir um objetivo.
O jogo é um espaço riquíssimo em que se produzem infinitas situações que
exigem a participação na solução de problemas. Essa busca para solucionar
problemas, característica fundamental da estrutura COOPERATIVA, implica em um
processo de exploração, escolha e, finalmente, tentativa de responder a algumas
questões (O que fazer? Como fazer? Quando fazer? Onde atuar?) para definir a
ação.
Assim, o processo de participação no jogo pode resultar em um
enriquecimento e crescimento, tanto pessoal como do grupo e das próprias
atividades propostas.
Os jogos cooperativos propõem a busca de novas formas de jogar, com o
intuito de diminuir as manifestações de agressividade nos jogos, promovendo
atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade.
5
AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.
30
A esperança, a confiança e a comunicação são as principais características
dos jogos cooperativos. O jogo cooperativo busca a integração de todos, a alegria e
a valorização do indivíduo na construção do processo de participação. Os jogos
cooperativos buscam incluir e não excluir, como diz Brown (1994).
Cabe recordar que entendemos os jogos cooperativos como componentes
essenciais de um projeto educativo baseado na cooperação e resolução pacífica dos
conflitos, onde os meios empregados não sejam antiéticos.
Para Broto,(2001), a convivência, a consciência e a transcendência são os
principais eixos da pedagoga cooperativa.
a) Convivência: a vivência compartilhada como contexto principal para a
aprendizagem no processo de reconhecimento de si mesmo e dos
outros;
b) Consciência: a reflexão sobre a vivência e as possibilidades de
modificar atitudes, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer
e a aprendizagem;
c) -Transcendência: ajudando a sustentar a disposição para dialogar,
decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar,
no jogo e na vida, as transformações desejadas.
Todos os participantes, em lugar de competir, aspiram uma finalidade comum,
trabalhando juntos, combinando suas diferentes habilidades e unindo seus esforços
para conseguir atingir um determinado objetivo.
A pessoa jogará pelo prazer de jogar. Não por uma vitória, e sim pelo
divertimento, sem a ameaça de não atingir o objetivo. Nos jogos cooperativos, os
companheiros se vêem como companheiros de jogo com relações de igualdade,
onde todos são protagonistas.
São valores educativos dos jogos cooperativos:
a) Construção de uma relação social positiva: os jogos cooperativos
mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas,
favorecendo a criação de um ambiente de apreço;
b) Empatia: capacidade para situar-se na posição do outro e
compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas
expectativas, suas necessidades e sua realidade;
c) Cooperação: valor e destreza necessários para resolver juntos tarefas
e problemas, através de relações baseadas na reciprocidade e não no
31
poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira
de aprender a compartir, a socializar-se e a preocupar-se pelos
demais;
d) Comunicação: desenvolvimento da capacidade para expressar,
deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas
percepções, nossos conhecimentos, nossas emoções e nossas
perspectivas;
e) Participação: gera um clima de confiança e de implicação comum;
f) Apreço e autoconceito positivos: desenvolver uma opinião positiva de
si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. A auto-
estima, confiança e segurança em si mesmo são alguns elementos de
identidade vital que desempenham um importante papel na
determinação de nossa conduta comunicativa. O jogo cooperativo ofe-
rece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se
respeitado em sua totalidade. Pouco importam as suas aptidões
físicas, é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o
respeito aos outros. Respeitar-se traz a aceitação e o melhor de si.
Quando alguém se ama, transforma-se e melhora;
g) Alegria: uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação
de pessoas felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do
rechaço.
Um dos grandes pesquisadores no campo da educação para a cooperação,
Orlick (1999), valoriza quatro características essenciais do jogo cooperativo: a coo-
peração, a aceitação, a participação e a diversão. Vincula, também, esse jogo à
liberdade em cinco esferas importantes, que são:
a) Liberdade da competição: uma das principais características que
distinguem as atividades de cooperação das outras atividades é a sua
estrutura interna. O objetivo é comum para todos os envolvidos. Dessa
forma, a atividade está centrada em superar o desafio proposto e não
em superar os integrantes do grupo.
b) Liberdade para criar: uma importante característica do jogo cooperativo
é que ele não é um jogo pronto, acabado, isto é, apresenta distintos
caminhos para sua solução e realização.
32
c) Liberdade da exclusão: excluir alguém de uma atividade significa não
dar oportunidades para essa pessoa continuar jogando, corrigir seus
erros, crescer e continuar aprendendo.
d) Liberdade para eleger: um dos grandes incentivos dos jogos
cooperativos é estimular a iniciativa e o respeito às ideias do grupo.
e) Liberdade da agressão: os participantes estão livres do enfrentamento
e da batalha de vencer o outro. A atenção do grupo está voltada para
união de esforços, valorizando o que cada um tem, na busca de
alternativas para solucionar os problemas.
O jogo propicia oportunidades atraentes e ricas em diversas situações, o que
possibilita uma grande dinamicidade de vivências: confrontamento de pontos de
vista, defesa de interesses, participação em discussões, vivência da crise e do
conflito. O jogo evidencia-se, portanto, como um potencializador de fatores sócio-
emocionais, como a cooperação e a descontração. O jogo contribui para a
construção do conhecimento, das habilidades motoras, do movimento tecnificado, do
desenvolvimento da moralidade, da sociabilidade, da emocionalidade, do desejo e
da solidariedade.
Conhecer as características e necessidades individuais das pessoas, nos
seus diferentes momentos de vida, suas vontades e desejos, associados a uma
leitura crítica do nosso cotidiano, é uma tarefa básica para criarmos um ambiente
favorável no processo de humanização do homem.
Figura 2 – Jogo com o para quedas.
Fonte: Amaral, 2004.
33
ALEGRIA
Parece tão fácil falar de alegria. Mas será que sabemos realmente qual o seu
valor? A alegria é um dos fatores que mais fomenta nosso gosto pela vida. E a
busca incansável por este tesouro que nos fortalece e nos encoraja a ponto de
superar todas as dificuldades e sofrimentos que enfrentamos em nosso dia-a-dia. O
cotidiano apresentado hoje está longe de ser considerado alegre. E as pessoas
também têm se apresentado cada vez mais tristes.
No mundo em que vivemos, todos se dedicam às preocupações com o
trabalho, dinheiro, a família etc. Além disso, o cotidiano é repleto de tristes notícias
que chegam até nós pelos meios de comunicação. Com a carga negativa que entra
todo dia na vida das pessoas, não é estranha a falta do sorriso.
As pessoas, tomadas pela realidade, esqueceram de alegrar-se com a
simplicidade da vida. Um mar cristalino, um banho de cachoeira, o canto de um pás-
saro, o pôr-do-sol e nem mesmo a própria vida é capaz de "arrancar" um sorriso das
pessoas. É preciso fazê-las redescobrir a alegria de viver.
Se pensarmos e agirmos sempre de forma positiva, veremos que este
fenômeno encontra-se presente nas pequenas coisas e atitudes que compõem a
nossa vida. Se tivermos nossos referenciais de beleza em um jardim florido e
colorido, saberemos extrair toda a alegria de poder enxergar.
O sorriso é a maior demonstração de alegria. Um sorriso transforma as
pessoas, pois exterioriza e oferece ao outro todas as nossas mais puras emoções
de carinho, afeto e felicidade. É a mais clara demonstração de que o nosso coração
está em perfeita harmonia com o meio externo. O sorriso é contagiante e depende
de cada um de nós espalhar esse vírus (idéia), a fim de que tenhamos um mundo
onde as alegrias prevaleçam sobre toda e qualquer tristeza. O riso é a linguagem da
alma. Que tal deixá-la se expressar?
Uma pessoa feliz e sorridente transforma um ambiente, criando um clima de
alegria e contagiando todos ao seu redor. Este clima é motivante e estimula a
aprendizagem e a boa convivência. As pessoas alegres se interessam pelos outros
e pensam mais nas outras pessoas. A capacidade de ajuda é mútua onde existe
alegria.
Um dia perguntei a uma criança o que era alegria. No mesmo instante,
respondeu-me sem pensar duas vezes: "o meu time ganhar". Essa vitória dita é
34
conseqüência de uma reprodução de esquemas competitivos. Esta é uma proposta
ilusória, quando do seu início, pois cria uma perspectiva da realização e alcance do
defeito em todos os participantes. Porém, à medida que o jogo acontece, as
diferenças vão se acentuando, e, ao término da disputa, encontramos as duas
emoções extremas divididas. De um lado, a alegria proveniente da vitória e, de
outro, o fracasso e a tristeza decorrentes da derrota, mesmo com todo o esforço e
dedicação de todos os participantes.
A proposta cooperativa se diferencia, pois a união dos participantes para
solucionar o desafio valoriza as competências do grupo. Todos se tornam
insubstituíveis, aumentando a auto-estima dos mesmos. Ao sentirem-se valorizados,
os jogadores estão à vontade para curtir o jogo e ter a liberdade de alegrar-se com a
atividade proposta.
O Jogo Cooperativo possui também uma característica diferenciada. Ele tem
uma dose de humor. Estimula a imaginação, além de ser engraçado. Trabalhar com
a fantasia das pessoas é extraordinário, pois exterioriza nossa criança interior.
A alegria não é algo passivo e por isso requer ATITUDE. Agir para conquistar
a tão sonhada felicidade. E como já dizia Tom Jobim: "É impossível ser feliz
sozinho".
CRIANDO E TRANSFORMANDO JOGOS
Tendo em vista o paradigma cultural em que vivemos, desde a fase pré-natal
já se iniciam as perspectivas dos pais e demais membros próximos à família para as
orientações e determinações a serem transmitidas à criança, com o objetivo de
montar um perfil o mais adaptável possível aos costumes sociais.
Este modelo extremamente competitivo é inserido sutilmente, quando que
para nossos pais somos a criança mais bela do planeta, nossas roupas são as mais
lindas, nossa pele é a mais macia. Assim vamos aprendendo a construir nossos
valores, não em um processo somatório com outras pessoas, mas individualmente,
utilizando sempre parâmetros de comparação.
Na medida em que o referencial de superação é representado pelo
adversário, torna-se insustentável a orientação de valores como ajuda, compreensão
e respeito, a partir do momento em que nossa realização depende do fracasso do
outro indivíduo.
35
Culturalmente, a sociedade apresenta valores invertidos. Devido a isso, as
pessoas não se sentem motivadas a mudanças. Assim, os jogos perdem uma de
suas principais características: a fantasia. A falta de imaginação toma conta,
apresentando uma sociedade sem criatividade.
"Se alguém pode imaginar, pode criar. Pode-se criar, pode fazer do mundo
um lugar melhor. A imaginação é a primeira faísca que acende a chama da
realização"
Aqui está um grande desafio para o professor! Estimular a criatividade, não
apenas na execução dos jogos, mas também na sua criação. Além de criar novos
jogos, existe a possibilidade de transformá-los: trans (mudança)-forma-açâo. Ou
seja, mudar a forma da ação no jogo.
Porém, transformar jogos competitivos em cooperativos não é uma tarefa
muito simples. Modificar o início ou o fim da atividade não irá caracterizá-la como
cooperativa. Para isso, será necessária uma atenção especial na estrutura do jogo.
Na estrutura competitiva, cada pessoa ou equipe procura atingir um objetivo
melhor do que o outro. Já na estrutura cooperativa existe um problema a ser
resolvido pelos participantes: em conjunto, superam desafios ou tentam alcançar
metas, porém essa meta é comum a todos. Portanto, ao adaptar uma atividade, o
confronto entre os participantes deve ser eliminado.
Ao modificar a estrutura de um jogo, consequentemente as regras serão
alteradas. Essas se apresentam mais flexíveis e adaptáveis ao grupo e ao momento
nos Jogos Cooperativos. A liberdade para criar também pode partir dos
participantes, que, juntos, podem encontrar maneiras diferentes de jogar.
Ao transformar um jogo, alguns cuidados devem ser tomados. O primeiro é o
referente à inclusão. Como existe uma meta comum, todos os participantes deverão
alcançá-la, permanecendo na atividade do início ao fim.
Quando se transforma o tradicional, algo novo e diferente surge. E tudo aquilo
que se aproxima do nunca visto é mais divertido. E assim ocorre também com os
jogos. Além das novas regras e adaptações, transforma-se o jogo em algo mais
divertido. Dar boas risadas e compartilhar sorrisos não é uma ótima jogada?
36
A criatividade e a comunicação são estimuladas não apenas pelo processo de
busca da melhor estratégia para se chegar ao proposto, mas também pelo processo
de criação e transformação dos jogos.
COOPERAÇÃO E COMPETIÇÃO
A Educação é hoje uma preocupação em nível mundial. Muitos países,
conforme suas características, propõem reformas em seus sistemas educacionais.
As Universidades não cessam suas longas buscas por caminhos que apontem para
modelos de ensino mais efetivos, para a construção do cidadão melhor, preparado
para enfrentar esta revolução em todos os processos da nossa vida. A Educação
deve preparar o indivíduo, em todas as suas fases existenciais, para este novo perfil
de qualificação dos serviços, para o exercício da cidadania e para esta nova
dimensão de mundo.
Sabemos que o conhecimento, a criatividade e a iniciativa constituem-se em
elementos fundamentais no desenvolvimento do indivíduo, e partimos do
pressuposto que o ser humano está em um processo contínuo de crescimento, em
permanente evolução.
É iminente criarmos espaços de aprendizagem em que a Educação formal
não atua. Habilitarmos as pessoas nas suas comunidades, como gerentes do seu
processo de desenvolvimento, em suas múltiplas funções, como um ser feliz, social
e político.
Preocupados com o bem-estar dos indivíduos, devemos oportunizar a essas
pessoas um espaço de crescimento, descoberta e lazer. Entendemos que a auto-
imagem e auto-estima positiva são de fundamental importância para o
desenvolvimento saudável do indivíduo e que devemos fomentar mais a
cooperação.
Brown (1994) registra que: a interação cooperativa com os outros é
necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da identidade
pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico.
A cooperação e a competição fazem parte do nosso cotidiano. Incentivar os
jogos cooperativos significa oferecer às pessoas opções de participação. Desde que
nascemos, parece que só nos oferecem uma opção. Competir, vencer alguém ou
ganhar alguma coisa. Vivemos no mundo do primeiro lugar, na ilusão da vitória,
37
onde quem se beneficia dos sorrisos, dos aplausos, dos olhares satisfeitos, das
caras de aprovação, dos gritos de exaltação e dos louvores é apenas uma pessoa.
Como aponta MortonDeutsch (apud BROWN, 1994), os membros de grupos
cooperativos consideram que são mais capazes de produzir efeitos positivos sobre
seus companheiros de grupo do que os membros competitivos.
A antropóloga Margaret Mead (apud ORLICK, 1999), nos diz que a estrutura
social é que determina se os membros de determinada sociedade irão competir ou
cooperar entre si, isto é, o comportamento do indivíduo, competitivo ou cooperativo,
é condicionado pela ênfase das estruturas dentro de uma dada sociedade.
Como aponta muito bem Brown (1994) acreditamos que nossa busca para
criar alternativas de educação, organização e comunicação devem partir
fundamentalmente da cooperação.
O autor enfatiza também que, se o jogo apresenta valores positivos como a
solidariedade e a cooperação, os indivíduos têm uma maior oportunidade de sugerir
suas idéias, de descobrir e expressar suas capacidades. Para Brown (1994) o
processo de desenvolver um ambiente afirmativo está diretamente vinculado às
possibilidades de criatividade do grupo.
Além disso, quando uma pessoa se sente motivada para atingir uma
finalidade, seja no jogo ou no trabalho, ela se sente mais sujeito de sua história.
Os indivíduos que se sentem aceitos pelo grupo podem explorar com mais
segurança e liberdade os problemas que aparecem, assim como assumir riscos,
analisar suas capacidades, aceitarem e aprenderem com seus erros.
Por meio do jogo o homem constrói pontes de comunicação. A partir disso,
devemos estar vigilantes para as mensagens que transmitimos através dele, para
não reproduzirmos os valores individualistas e agressivos da sociedade em que
vivemos.
Observa-se que os indivíduos de grupos cooperativos ajudam-se mutuamente
com mais frequência, são mais sensíveis às solicitações dos companheiros e
valorizam a ação do outro. Existe também uma maior manifestação de amizade,
maior coordenação de esforços para atingir um objetivo e uma maior produtividade
em termos qualitativos.
Jogar e viver cooperativamente vai muito além do simplesmente vencer ou
ganhar. Significa resgatar e valorizar o verdadeiro sentido do humano. Não somos
contra a competição. Podemos educar as pessoas através da cooperação e da
38
competição. Devemos dar mais atenção e um tratamento sério à competição, e não
simplesmente "virar de costas" e deixar as coisas como estão. Estamos trabalhando
e colocando em jogo os sentimentos das pessoas. Como eu vejo o outro? Como eu
vejo o jogo? Como poderia me sentir melhor durante o jogo? Como posso oferecer
para o outro um caminho de crescimento e desenvolvimento de valores positivos no
jogo?
39
AULA 7 – TIPOS DE JOGOS
Texto 6: TIPOS DE JOGOS.
Guilhermo Brown6
Regina Fourneuat Monteiro7
“As diferenças podem nos transformar em iguais”
(Autor desconhecido)
TIPOS DE JOGOS
Monteiro (2012) classifica os jogos em: jogos de apresentação,Jogos de
relaxamento e sensibilização, Jogos para favorecer a integração grupal, Jogos de
confiança, Jogos para estimular a observação e a percepção, Jogos de papéis,
Jogos para encerramento e Jogos para início de trabalho com grandes grupos.
Jogos de apresentação
Às vezes, quando entramos em contato com um grupo, observamos que nem
sempre as pessoas se conhecem. Será este, então, um grupo ou um agrupamento?
São pessoas de diferentes lugares, reunidas com um objetivo comum - o interesse
pelo trabalho a ser realizado -, mas que não mantêm, entre si, nenhum outro tipo de
relação?
Torna-se, portanto, necessário oferecer-lhes condições para maior
aproximação, para a criação de uma coesão interna que venha a facilitar o bom
desenvolvimento da atividade a ser realizada. Um "clima" propício para conduzir ao
que, em psicodrama, inspirados em Bion (foi psiquiatra e psicanalista, foi defensor
da psicoterapia em grupo e escreveu obras referentes ao assunto),chamamos de um
continente receptivo e favorável aos conteúdos que poderão emergir no decorrer da
ação.
Uma apresentação formal em que cada um dos participantes diz seu nome,
sua profissão, ou fornece alguma outra informação, nem sempre é suficiente.
Quando em situação social, por exemplo, somos apresentados a várias pessoas,
6
BROWN, Guilhermo. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal, 1994.
7
MONTEIRO, Regina, Fourneaut. O lúdico nos grupos: terapeuticos, pedagógicos e organizionais. São Paulo:
Agora, 2012.
40
geralmente esquecemos seus nomes; guardamos na memória apenas os nomes de
alguns - os demais, quem são mesmo?
Acreditamos ser o jogo a forma mais eficiente para iniciar um contato, pois
facilitará uma aproximação, certa intimidade ou maior afinidade entre os
participantes. Uma atividade descontraída e lúdica favorece a criação de laços
amigos e a coesão necessária. Assim, a estória (ficção, criação do imaginário) e a
história (fato verdadeiro, real, fato ocorrido) daquelas pessoas começam a ser
criadas. É o primeiro passo para constituir realmente o grupo.
Jogos de relaxamento e sensibilização
Relaxar é descontrair, desengessar, soltar-se à liberdade, atingir um estado
de alívio das tensões, sejam elas mentais ou corporais. Só assim podemos estar
sensibilizados para nos perceber e perceber o outro. A tão apregoada tele, no
psicodrama e descrita por Moreno (autor argentino de psicodrama citado por
Monteiro, 2012), é exatamente poder olhar-se, direcionar o olhar para o outro e
percebê-lo, e o outro, igualmente, poder nos olhar e nos perceber. Trata-se de um
processo interpessoal. Entrar em sintonia com o parceiro para que, juntos, possam
encontrar uma direção, um caminho comum.
Esses procedimentos induzem à improvisação e à livre interpretação -
estímulos à criação. Deixando de lado as preocupações do dia a dia, as tarefas e
obrigações, com a mente livre e aberta e o corpo distensionado, disponho-me a
receber o novo, criar, imaginar, fantasiar, e a expressar corporalmente minhas
sensações, emoções e sentimentos.
Jogos para favorecer a integração grupal
Falamos antes, ao introduzir os jogos de apresentação, sobre a necessidade
de criar uma relação mais próxima entre os participantes de um grupo. Mas esse é
apenas o primeiro passo. Torna-se necessária a criação de vínculos entre as
pessoas. Provavelmente nem todas chegarão a estreitar relações; a intensidade
destas será variável. Um novo perfil grupal, entretanto, é criado; o grupo adquire
uma identidade.
Para que isso ocorra, deve ser feito um cuidadoso trabalho de integração. Em
um campo relaxado, solto, sem tensões ou estresse, as pessoas se colocam mais
disponíveis para as relações. É fundamental criar condições para que isso ocorra.
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Quantas vezes uma criança chega a um lugar qualquer, seja no parque, na
escola, na festinha de aniversário, e, em pouco tempo, começa a se relacionar com
as outras crianças? Sua linguagem é o lúdico, a brincadeira, o jogo. Que tal resgatar
no adulto essa capacidade que, com o tempo, foi relegada a segundo plano?
Jogos de confiança
Jogos que dependem de uma relação pré-estabelecida e como o próprio
nome já diz, confiança! A Questão do toque é sempre muito delicada e deve ser
abordada e introduzida com cautela para não afastar, esfriar ou até mesmo estragar
o clima entre os participantes.
Estes jogos ajudam os participantes a observar comolidam com a confiança
em suas vidas. Devem ser utilizados com bastante cuidado, o focalizador deve estar
atento ao momento do grupo e às reações de cada participante, assegurando-se de
que o momento é este, pois eles podem disparar processos psicológicos internos.
São Muito úteis também quando um grupo que já trabalha junto demonstra sinais de
desgaste, desequilíbrio e intrigas começam a aparecer.
Confiar em nosso semelhante é fácil? Sentir segurança no acolhimento do
outro, poder entregar-se sem medo? Quantas vezes pensamos em falar algo, agir
"assim ou assado", contar para alguém um fato que se passa conosco e ficamos
com receio? Vem a pergunta: como isso será recebido?
O grupo, por menor que seja, possuem em miniatura todas as características
de um grupo humano maior. As regras, os valores, os preconceitos, as conservas
culturais estão nele vivos e presentes. Como, então, confiar e poder entregar-se sem
receio de ser julgado ou rejeitado? Existe a certeza de ser aceito, recebido,
acolhido?
Em alguns momentos no decorrer do trabalho, torna-se necessária uma
avaliação, uma verificação de como anda a confiança de cada qual no grupo. Como
fazer isso? Falando sobre um assunto, escolhemos palavras, garimpo e me censuro.
Com a ação, o corpo fala por mim e "entrega", muitas vezes de modo ingênuo e
simples, sem barreiras, aquilo que sinto. Cá pra nós, ele nos trai! Que tal arriscar por
aí?
42
Jogos para estimular a observação e a percepção
Olhar e não enxergar! Como exercitar o olhar atento e nãoapenas perceber
as coisas de modo superficial, automaticamente, mas concentrar-se no que vê? É
possível desenvolver nossa capacidade de olhar de modo cuidadoso. Perceber deta-
lhes muitas vezes transforma o conjunto, que então se iluminae adquire novo
colorido.
Além da desatenção, outro fator que interfere e cega é quando estamos em
campo tenso. Você já deve ter passado por isso quando, por exemplo, está com
muita pressa, na correria, com os minutos contados, e não encontra a chave do
carro que está na mesa em sua frente!
Aprender a relaxar nesses momentos é como tomar distância, afastar-se.
Com isso, a atenção melhora e, consequentemente, a percepção torna-se mais
aguçada. O jogo demonstra ser um excelente auxiliar ao qual podemos recorrer
nesses casos. A brincadeira e a linguagem lúdica aliviam as tensões e criam uma
atmosfera permissiva e não angustiante.
Jogos de papéis
A noção de papel é fundamental. Por meio dele ocorre a interrelaçâo. Para
que qualquer trabalho psicodramático aconteça, cenas são descritas e realizam-se
no "como se", por meio da representação de papéis. Nesse contexto dá-se a
vivência de situações reais ou fantasiosas. Jogos que permitam a criação livre e
espontânea de papéis vão, com certeza, ampliar esse universo. Aqui, entendemos
papel como a unidade cultural de conduta. Na vida, desempenhamos papéis todo o
tempo -por exemplo: neste momento, desempenho o papel de escritora e você, que
agora lê este texto, o papel de leitor!
Jogos para início de trabalho com grandes grupos
Consideramoso número de participantes da seguinte forma:
Bipessoal: compõe-se de duas pessoas.
Nota: o grupo de três é de dinâmica edípica.
Grupo pequeno: de 4 a 15 pessoas.
Grupo médio: de 15 a 30 pessoas.
Grupo grande: de 31 a 60 pessoas.
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Grupo sem limites: acima de 60 pessoas (sociodramas, psico-dramas
públicos).
Quando deparamos com um grupo com mais de 31 pessoas, precisamos, para
início do trabalho a ser realizado, "aquecer" os participantes, aproximá-los, criar um
ambiente favorável ao bom desempenho. Esse é um procedimento comum e
necessário a qualquer encontro, independentemente do tamanho do grupo. Entretanto,
quando se trata de um grupo mais numeroso, temos de recorrer a alguns jogos mais
específicos que facilitem o alcance desse objetivo. Uma atmosfera ágil, leve,
descontraída e facilitadora da ação. Como conseguir isso? Descrevemos, a seguir,
alguns procedimentos que julgamos adequados a esses momentos.
Jogos de Quebra-Gelo, Ativadores e de Integração
Jogos normalmente utilizados com grupos que ainda não se conhecem bem.
Abertura de eventos, seminários, formação de novos grupos. Independente de
permanecerem ou não juntos por muito tempo. Jogos de abertura, nomes, ação,
folia. São jogos curtos e com altas doses de ação e gasto de energia. Servem para
unir o grupo desde o início da sessão, ajudando os participantes a memorizar o
nome de cada um, começar um contato e se descontraírem. Os jogadores se
soltam, aquecem, descarregam as tensões físicas e superam reservas pessoais.
Servem também para momentos após refeições e/ou quando o grupo se apresenta
cansado da jornada.
Jogos Criatividade e Reflexão
Jogos que podem ser usados com grupos que precisam amadurecer alguma
idéia, ou pensar em novas soluções para determinadas coisas /assuntos / situações.
estimulam a expressão da imaginação, intuição e criatividade. Também podem ser
jogos de descontração, utilizados em momentos em que o grupo apresenta cansaço
ou desgaste no pensamento específico de algum assunto. Nestes jogos os
participantes podem se perceber e mostrar aos outros o que descobriram acerca de
si mesmos e do grupo. Os participantes também fazem contato com seu próprio
interior e com o grupo.
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Jogos para encerramento
O objetivo dos jogos de encerramento é compartilhar o vi-venciado. Depois de
realizada uma tarefa, é importante, também, fazer a avaliação dos resultados
obtidos. Relembrar e reviver o ocorrido requer atitude reflexiva, a ser alcançada com
a criação do clima propício. Por meio do uso de jogos, esse clima surge e permite
um encerramento proveitoso, rico em observações e depoimentos e profundo em
sentimentos.
São Jogos mais profundos e exigem alguma capacidadedo focalizador, para
lidar com demandas que surgem no decorrer das atividades. Sãonormalmente
usados em encerramentos de atividades com grupos que já se conhecem e
trabalharam juntos por algum tempo (seja ele de quanto for) Servem também para
dar às pessoas a chance de se posicionarem em relação ao grupo e a si mesmas,
transferindo o que fizeram no treinamento ou vivência para o seu dia-a-dia.
OBS: Normalmente, dentro de um processo grupal, todos os tipos de jogos são
utilizado.
CONDIÇÃO DOS JOGOS
Em nossas vidas, aprendemos que tudo o que é bom, sempre acaba. Mas
dentro do jogo cooperativo, só acaba quando o grupo achar que chegou o momento,
ou então,quando os desafios forem todos vencidos, e não quando um perde e o
outro ganha.
No Jogo cooperativo, podemos ficar jogando o mesmo jogo de diversas
formas, desde que isso seja divertido para todos.
Existem dois tipos de jogos. Um pode ser chamado definito, o outro de infinito.
FINITO INFINITO
As regras não podem mudar
Jogadores jogam dentro de limites
Jogos são sérios
Jogador joga para ser poderoso
Jogador consome tempo
Jogador busca a vida eterna
As regras devem mudar de acordo com as
demandas
Jogadores jogam com os limites
Jogos são divertidos
Jogador joga com o poder
Jogador gera tempo
Jogador busca o nascimento eterno
Fonte: Carse, 1986.
45
AULA 8 – APLICAÇÃO DOS JOGOS
Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL.
JanderDenicol Amaral8
"Só a descoberta desperta. Só a invenção prova que se pensa de verdade a coisa que se pensa, seja
qual for essa coisa... Só o sopro criativo dá vida, pois a vida inventa".
(MICHEL SERRES)
Trabalhando corpo e mente por meio da educação pelo movimento, a
Expressão Corporal entra como uma atividade que visa o desenvolvimento pessoal,
o domínio do próprio corpo e das coisas que nos cercam, como se situar no tempo e
no espaço; bem como o desenvolvimento da cooperação, da solidariedade, da
comunicação, da criatividade; o estímulo à alegria, ao trabalho em grupo, ao prazer
pelo movimento; o controle da ansiedade e da agressividade.
A importância deste trabalho com o corpo se justifica porque nosso corpo
somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência,
sentimentos ou alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso, tomar consciência do
próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois corpo e espírito, psíquico e físico e até
força e fraqueza representam não a dualidade do ser, mas sua unidade, segundo
Bertherat e Bernstein (1977).
A Expressão Corporal foi a primeira forma de comunicação do homem, sua
primeira linguagem, pois bastava se utilizar do objeto mais acessível: seu próprio
corpo.
O homem, segundo Brikman (1989) é constituído por uma mente que pensa,
uma alma que sente e um corpo que expressa esse todo.
A Expressão Corporal engloba a sensibilização de nós mesmos, tanto para
nossas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas, como para nossas
necessidades de exprimir-comunicar-criar-compartilhar e interagir na sociedade em
quevivemos; porque sem o corpo o homem não existe, como dizem Stokoe e Harf
(1987)
Como já dizia Paulo Freire (1999) formar é muito mais do que puramente
treinar o educando no desempenho de destrezas.
8
AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.
46
A Expressão Corporal na Educação, entra para promover a aprendizagem, o
bem-estar, a educação pelo movimento e a modificação do comportamento, fazendo
que o estudante perceba, sinta, conheça e manifeste seu próprio estilo, ou seja, uma
manifestação pessoal.
Para Stokoe e Harf (1999) é um aprendizado em si mesmo: o que o indivíduo
sente, o que quer dizer e como dizê-lo.
Paulo Freire (1999) diz que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua produção ou construção. Não apenas ensinar conteúdos,
mas também ensinar a pensar certo.
A Expressão Corporal busca o pensar com o corpo e pelo corpo, aprendendo
a conhecer, a fazer, a viver com os outros, a SER.
Auxiliando na busca e construção destas aprendizagens, a Expressão
Corporal procura desenvolver na criança vários meios de expressão, o prazer pelo
movimento, a segurança, a confiança nos gestos. Assim, maior será sua riqueza
existencial.
No trabalho de Expressão Corporal na escola, projetar a criança do futuro
exige um pensar responsável sobre a criança do nosso tempo, pois a criança é um
agente ativo em sua própria construção e na construção do mundo. É um agente
cuja ação desenvolve-se no contexto de uma prática sócio-histórica.
O tratamento da infância tem evoluído, porém ainda existem dificuldades em
nossa sociedade em perceber na criança a capacidade de pensar, querer, sentir. A
tendência é vê-la apenas como um ser dependente, que precisa ser protegido.
Pensando em uma educação pelo movimento, evitando a escolarização
precoce e a inevitável comparação ao adulto, entra a Expressão Corporal na
formação da criança, valorizando seu corpo, pois é com ele que se movimenta,
conhece e se relaciona com o mundo.
A Expressão Corporal procura a vinculação do movimento com intenções,
raciocínios e planos de ação elaborados, atividades com significado, despertando o
interesse daquele que é o mais importante no processo: a criança.
A experiência da própria identidade, ou o processo de tornar-se uma pessoa,
é, ao mesmo tempo, a experiência mais simples e mais profunda da vida.
A Expressão Corporal na criança visa à sensibilização e conscientização do
corpo como um todo, em favordo desenvolvimento da personalidade como unidade
47
corpo-mente, tornando possível o mundo imaginário através da estimulação da
criatividade, da fantasia.
João Batista Freire (1999), também concorda quando diz que a marca
característica da criança é a intensidade da atividade motora e a fantasia.
Nesta época massificada, em que a tecnologia supera o homem, a
imaginação se limita e se torna apenas reprodutora. Sendo assim, como poderão as
crianças de hoje criar suas próprias imagens?
Atualmente, o mundo do adulto está inserido na rotina, na competição, na
falta de tempo, no estresse e, talvez, no vazio, na solidão. Onde quero chegar com
essa colocação é que a ansiedade presente no mundo dos adultos se reflete no
mundo das crianças. A resposta das crianças a isto depende do estado emocional e
das características pessoais, psicológicas, de cada um.
Da mesma forma que a ansiedade e o estresse, a agressividade que se
manifesta nas crianças também é um reflexo do mundo adulto no qual está inserida.
Ele está presente na imprensa, na TV, no esporte, nas ruas, na família, na escola.
Junto com a ansiedade, a agressividade, a solidão e o movimento
estereotipado existe mais um fator que dificulta a verdadeira afirmação do SER: a
competição.
Atualmente nossa sociedade transformou-se numa seqüência sem fim de
competições. Estamos tão envolvidos nelas que, às vezes, nem estamos
conscientes da competição em si, como afirma Brown (1994).
Na criança, a competição já está presente na mídia, nos desenhos animados,
na maioria das histórias infantis, nos jogos, no esporte, em casa, na escola é a
competição de quem é mais alto, quem tem o pé maior, o cabelo mais bonito, é o
mais querido pelos pais ou pela professora, perde o primeiro dente, aprende a ler
antes dos outros, joga a bola mais longe, salta mais alto, consegue se equilibrar
melhor. Os exemplos são intermináveis. O pior: competimos com nós mesmos!
É muito fácil observar nas crianças como a competição comanda seus atos,
gestos e decisões. Ela não pensa: faz, compete.
Na Expressão Corporal, o trabalho através dos jogos cooperativos busca
proporcionar às crianças possibilidades de verem, a si mesmos e aos outros, como
pessoas de igual valor, que buscam um objetivo comum, que se ajudam, se tocam,
se desinibem, se comunicam, brincam, riem e se divertem.
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Brotto (2001) diz que a cooperação é uma aprendizagem, um processo
permanente de revisão de valores e transformação de atitudes pessoais e grupais.
Os jogos cooperativos são um enorme aliado para o trabalho de integração
do grupo no início de um período letivo, na formação de um novo grupo, na entrada
de um novo membro. Desde o início, as crianças vivenciam e aprendem a superar a
competição, a respeitar os outros e o grupo, a discutir os valores, a fazer amizades,
e assim estarem confiantes e suficientemente felizes consigo mesmas para se
expressarem livremente com todo o seu SER.
Piaget (1994) acrescenta que a criança passa pelo processo do egocentrismo
para o processo de socialização, e nesse caminho adquire uma consciência social
aberta à representação do outro e capaz de relações de reciprocidade.
Este processo de aprendizagem social se estende por toda a vida à medida
que as outras pessoas e as diferentes situações influenciam os indivíduos.
Quando atividades tipicamente competitivas são transformadas em
cooperativas, e apresentadas ao grupo, sempre tem aquele que diz:
_Ah, mas assim não tem graça!
_Eu não quero jogar, não vou ganhar mesmoi
_Por que eu deveria ajudar o fulano? Eu não! Estas crianças optam por ficar
temporariamente fora da atividade.
Conforme observam a alegria de quem está jogando, a cumplicidade, a
satisfação, a comunicação, a empatia que existe no grupo, entram e participam.
Proporcionando as atividades neste ambiente sócio-moral, utilizando como
estímulo alguns recursos como a música, objetos, imagens, desafios e a natureza,
faz-se com que a criança pare, pense, sinta, atue se pergunte "quem sou? O que
devo fazer? E como devo agir?". Assim, ela parte para o interrelacionamento, para o
ambiente social.
Ao surgir um conflito, uma manifestação de agressividade, o professor
aproveita para questionar os envolvidos e, da mesma forma, todo o grupo. Ouve
suas opiniões e deixa que decidam a melhor solução para o conflito, construam um
senso moral, tratem os outros como gostariam de ser tratados, criem um ambiente
de cumplicidade, empatia e amizade. Enfim, molda construtivamente
comportamentos e intenções morais.
Em situações que geram ansiedade e insegurança, cabe à sensibilidade do
professor conduzir a criança para uma centralização no EU, perceber-se, estimular
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um outro aluno a se aproximar do primeiro, estimular o toque, a dupla, o trio, o
grupo. Assim o aluno inseguro parte do EU para o NÓS, percebe que integra aquele
grupo, sentindo-se mais confiante para expressar seus sentimentos e pensamentos
por meio do movimento, em resposta ao estímulo inicial.
Por meio do ambiente sócio moral, as crianças constróemidéias e
sentimentos sobre si mesmas, sobre o mundo dos outros e o mundo dos objetos;
usando a pesquisa, a exploração, a convivência, a descoberta, a experimentação, a
expressão autêntica do EU.
A cooperação, no início do trabalho, é apresentada através de jogos
específicos. Ao longo do tempo, conforme o grupo adota a filosofia, o
comportamento, o pensamento, a atitude e a expressão cooperativa, ela passa a
fazer parte e se insere no trabalho como um todo, como uma parte fundamental da
expressão corporal e do grupo. Na solução de conflitos, na integração e ligação do
EU e do OUTRO, na construção do NÓS, na capacidade de solucionar desafios e
problemas com confiança, segurança, personalidade e caráter.
Todos estes aspectos se manifestam e se concretizam no trabalho da
Expressão Corporal, passam a fazer parte da personalidade da criança, da sua
maneira de ver o ambiente e interagir com ele, solucionar desafios, relacionar-se
com os outros, e, principalmente, expressar-se de uma forma autêntica e segura,
livre de estereótipos.
Com isso, queremos mostrar e confirmar que a vida é um processo de
conquistas graduais, cada uma com o seu valor; e valor como base para todos os
passos seguintes.
Nossa intenção, através da Expressão Corporal, é mostrar a importância em
valorizar este pequeno SER em formação, mas grande SER em sentimentos, emo-
ções, angústias, alegrias, expressões. Torná-lo consciente da sua grandeza, da sua
fundamental importância na vida atual e futura, pois tudo o que ele construir
agora,servirá de base para continuar a construir. É fazer que conheça
profundamente a si mesmo, atingindo sua alma, seu espírito, para que cresça em
liberdade, porque liberdade é a capacidade de se tornar o que realmente É.
Torná-lo consciente para a vida, conservando promovendo e valorizando a
vida, pois nossa vocação tundamental é viver. E por que não vivê-la plenamente?
Orientar, pois, a ação e a atividade no sentido de reverenciar a vida.
50
Buscar, através da Expressão Corporal, o estímulo, o início da consciência do
corpo, do EU, do grupo; o prazer de movimentar-se. a confiança e a algreia que
sentimos ao fazê-lo; e assim, levar esta vivência e este prazer por toda a vida, para
todas atividades, ações e atitudes.
Tornar-se um adulto seguro, autêntico, criativo, expressivo, cooperativo; seja
no trabalho, no esporte, na universidade, na família, na sociedade, no mundo.
“Mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo,
com o mundo e com os outros.
Presença que se sabe presença, que intervémque transforma, que fala do que faz.
mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe.
E no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção que se instaura a
necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.”
(FREIRA,1999)
51
Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES
JanderDenicol Amaral9
"Na verdade só conhecemos bem quando nutrimos afeto e
nos sentimos envolvidos com aquilo que queremos conhecer".
(LEONARDO BOJF)
JOGOS COOPERATIVOS E GINÁSTICA LABORAL
A primeira notícia que se tem sobre ginástica laboral (GL) é de 1925 na
Polônia. Também chamada de "ginástica de pausa", era destinada a operários.
No início dos anos 60, a GL surgiu na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica.
Nesta mesma época, ocorreu no Japão a consolidação e a obrigatoriedade da
ginástica laboral compensatória (GLC). No Brasil, esta proposta foi baseada em
análises biomecânicas estabelecidas pela escola de educação da FEEVALE, em
1973, quando se elaborou o projeto de educação física compensatória e recreação.
A ginástica laboral surgiu com o objetivo de prevenir os trabalhadores contra
doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho e motivá-los à prática de UTI estilo
de vida mais saudável.
De acordo com o INSS, o crescimento de trabalhadores com doenças
ocupacionais é cada vez maior. Na maioria dos casos, o trabalho excessivo,
posturas inadequadas, repetições constantes e instalações precárias desencadeiam
tensões que tornar-se-ão as responsáveis pelo afastamento do trabalhador por
invalidez permanente. A lesão por esforço repetitivo (LER) abrange mais de 100
tipos de doenças, as quais causam danos aos nervos, músculos, tendões e
ligamentos.
A LER e a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT)
ambas - as siglas representam a mesma patologia - causam as despesas médico-
ocupacionais nas empresas e tratam dos problemas causados no trabalho. Uma
atividade repetitiva por muito tempo cessa o estímulo que chega ao cérebro, devido
ao cansaço das vias respiratórias. A conseqüência é a falta de atenção, levando
assim o trabalhador ao acidente de trabalho e à baixa produtividade.
9
AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.
52
A ginástica laboral pode ocorrer no início, meio e fim do expediente de
trabalho. Cada fase possui uma proposta definida. Que são:
a) Preparatória - dura geralmente de 5 a 10 minutos, antes do início da
jornada de trabalho. Tem como objetivo principal preparar o funcionário
para sua tarefa, aquecendo os grupos musculares que serão
solicitados. Aumenta a circulação sangüínea no nível muscular,
melhorando a oxigenação dos músculos.
b) Compensatória - ocorre durante a jornada de trabalho, interrompendo a
monotonia operacional; dura cerca de 10 minutos. São executados
exercícios de compensação aos esforços repetitivos e às posturas
inadequadas.
c) Relaxamento - ginástica com duração de aproximadamente 1 0
minutos. Baseia-se em exercícios de alongamento, realizados após o
expediente com o objetivo de oxigenar as estruturas musculares,
evitando o acúmulo de ácido láctico e prevenindo lesões.
Pesquisas revelam que empresas que promovem a realização de exercícios
físicos observam aumento de produtividade, trabalhadores menos cansados após a
jornada de trabalho, diminuição do estresse, ansiedade e depressão, fortalecimento
do relacionamento social e trabalho em equipe, redução de afastamento por LER e
DORT.
A compensação das estruturas menos utilizadas, o aumento da flexibilidade,
agilidade, força, coordenação, ritmo e resistência também são significativos.
Os jogos cooperativos podem fazer parte de qualquer fase da ginástica
laboral. Até porque brincar faz com que os trabalhadores saiam da rotina da
empresa e voltem no tempo, tornando-se crianças. Esse momento de pausa do
trabalho deve proporcionar benefícios pessoais e globais. A ginástica laborai
trabalha o "eu" como prevenção da LER/DORT, visando melhorar o dia-a-dia do
funcionário; já os jogos cooperativos auxiliarão o "todo", a integração da equipe,
fazendo que todos trabalhem como um time, jogando uns com os outros e não uns
contra os outros. A relação interpessoal dentro do local de trabalho será altamente
beneficiada e a mão de obra tornar-se-á mais qualificada.
Sabe-se que as capacidades físicas e emocionais de qualquer pessoa devem
estar equilibradas para que ela possa desenvolver-se em todos os sentidos com
atenção, agilidade, qualidade, motivação e trabalho em equipe. Contudo, o trabalho
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  • 1. JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc. JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS A EDUCAÇÃO Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc. 1 JOGOS COOPERATIVOS A EDUCAÇÃO Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.
  • 2. 2 SUMÁRIO 1 PLANO DE ENSINO........................................................................................................... 3 1.1 EMENTA ............................................................................................................. 3 1.2 OBJETIVOS DA DISCIPLINA ............................................................................ 3 1.3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ......................................................................... 4 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO.............................................................. 5 1.5 AVALIAÇÃO ....................................................................................................... 5 1.6 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 5 AULA 1 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ............ 5 TEXTO 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ........... 5 AULAS 2 e 3 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.... 9 TEXTO2 - ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS....................... 9 AULA 4 - O EDUCADOR.......................................................................................... 25 TEXTO 3 - EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE ! ....................................................... 25 AULA 5– OS CONTATOS ........................................................................................ 27 TEXTO 4 - OS PRIMEIROS CONTATOS ................................................................. 27 AULAS5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS ................................... 29 TEXTO 5- ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS....................... 29 AULA7 –TIPOS DE JOGOS..................................................................................... 39 TEXTO 6–TIPOS DE JOGOS ................................................................................... 39 AULA8 –APLICAÇÃO DOS JOGOS........................................................................ 44 TEXTO 7- JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL........................ 44 TEXTO 8- JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES................................. 51 TEXTO 9- JOGANDO COM TODOS......................................................................... 55 TEXTO 10- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 57 ANEXOS –JOGOS ................................................................................................... 58
  • 3. 3 1 PLANO DE ENSINO DISCIPLINA CARGA NÚMERO TURMA HORÁRIA DE AULAS JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS A EDUCAÇÃO 40 horas 08 1.1 Ementa Os jogos e brincadeiras na cultura brasileira. A origem dos jogos. O brincar como ludicidade e produção de conhecimento na instituição de ensino. Estudo dos jogos e brincadeiras: sentidos, significados, apropriações, influências e a importância para a Educação. 1.2 Objetivos da disciplina Geral É promover aos Pós-Graduados do Curso de Docênciaa reflexão, a discussão e a fundamentação teórica, a fim da ressignificação das concepções sobre os jogos cooperativose a brincadeira visando a construção de conhecimento sobre a importância do lúdico no contexto educativo. Específicos a) Relacionar as diversas fases do desenvolvimento do jogo cooperativo; b) Conhecer a história e o espaço ocupado pela ludicidade no contexto histórico e atual da educação; c) Reconhecer a importância do lúdico como um meio para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social; d) Reconhecer a importância dosjogos cooperativos no processo educativo; e) Compreender a dinâmica de criação, montagem e dinamização de espaços ludopedagógicos. 1.3 Conteúdo Programático UNIDADE I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS. Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS. Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS. UNIDADE II– O EDUCADOR
  • 4. 4 Texto 3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE! UNIDADE III – OS CONTATOS Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS. UNIDADE IV– O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS. UNIDADE V– TIPOS DE JOGOS Texto 6: TIPOS DE JOGOS. UNIDADE VI– APLICAÇÃO DOS JOGOS Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL. Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES Texto 9: JOGANDO COM TODOS 1.4 Procedimentos Metodológico As aulas se darão a partir de exposições orais e dialogadas, leituras e análises de textos, elaboração de sínteses e apresentação de trabalhos. Será privilegiado a leitura, á reflexão, o diálogo, a criatividade, o compromisso e o envolvimento de todos, articulando-os com a formação e a experiência de cada participante. Serão utilizados recursos variados, de acordo com os conteúdos trabalhados e as possibilidades existentes. 1.5 Avaliação Avaliações são previstas será realizada no decorrer do módulo, combinando momentos de expressão individual e grupal. Serão realizadas três avalições: a primeira referente a leitura do primeiro e segundo texto, a segunda referente aos terceiros e quartos textos, a terceira exposição de trabalhos que serão realizados no final do módulo. O peso de cada avaliação será de 10 pontos, que dividido por 3, ter- se-á a média da disciplina. 1.6 Bibliografia AMARAL, J. D. Jogos cooperativos.São Paulo: Phorte, 2004. ______.Jogos cooperativos.3.ed..São Paulo: Phorte, 2008.
  • 5. 5 BERTHARAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões:antiginástica e conscientcia de si. 4.ed. São Apulo: Martins Fontes, 1977. BRIKMAN, L. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como em exercício de convivência. Santos: Projeto cooperação, 2001. BROWN, G. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal,1994. FREIRE,P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. ORLICK, T. Libres para cooperar libres para crear.3.ed. Barcelona. Editorial Paidotribo, 1999. SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Sprint, 2006. ______. 100 jogos competitivos de apresentação: jogando e recreando um novo mundo. São Paulo: Sprint, 2009. ______. Jogos com para-quedas: mantendo nossos sonhos no ar. São Paulo: Sprint, 2009. STOKOE, P. HARF, R. Expressão corporal na pré-escola. São Paulo: Summus, 1987.
  • 6. 5 AULA 1 e 2 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS. JanderDenicol Amaral1 Reinaldo Soler2 “Concordo que o estudo, tanto quantoo trabalho, são coisas sérias. Coisa séria, não sisuda”. (JOÃO BATISTA FREIRE) Para viver em uma época como a que vivemos, lidando com tantas crises, mudanças, problemas e expectativas, faz-se necessário estar bem preparado para as exigências da vida moderna. Uma vida que exige do ser humano uma adaptação contínua às novas circunstâncias e que ele aprenda e reaprenda permanetemente. Uma pessoa que conhece muita gente, uma pessoa que tem que gostar de gente, de todas as idades, raças, ideologias e manias. Ser humano, uma pessoa que se dedica ao crescimento do outro, que compartilha sentimentos, desejos efrustrações. Uma pessoa que deve estar preparada a cada instante, porque as mudanças são muitas e muito rápidas. Uma pessoa que se relacione bem com o outro e que seja competente na sua ação, para, então, tentar ajudar essa gente a pensar, sentir, agir e viver como gente. Conviver é facilitar um processo que busca o desenvolvimento pessoal, social e profissional durante toda a vida do indivíduo, com a finalidade de melhorar sua qualidade de vida e da coletividade. Para isso, temos, mais do que nunca, o dever de resgatar o humano. O humano caracterizado pela paz, pelo amor e pelasolidariedade, pois somos uma comunidade depessoas. Eesse resgate encontra uma pessoa que, independentemente de sua idade cronológica, é sempre colocada à prova, e, quando isso acontece, passa por crises, transformações e modificações que envolvem muitos aspectos que às vezes não nos damos conta e que tem uma importância fundamental, como, por exemplo, as mudanças de papéis frente as diferentes situações que a vida nos coloca. E nos é cobrado diante desses papéis 1 AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004. 2 SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
  • 7. 6 uma grande maturidade. Somos pessoas que sempre estão começando suas vidas e relações interpessoais. Temos que aprender a trabalhar o erro, o desequilíbrio. O conflito e a crise são momentos fundamentais para o crescimento como pessoa e especialmente para o crescimento em grupo. Sejamos tolerantes e pacienciosos. Um outro aspecto importante é a auto realização. Temos que criar condições para que as pessoas desenvolvam a capacidade de auto realização, que pressupomos, chegar a ser algo realmente importante para nós mesmos e quando fazemos isso colaboramos para o crescimento das outras pessoas. Enfim, uma pessoa que saiba viver em comunidade, pois somos comunicação essencial. E nessa comunicação devemos criar pontes de acesso ao outro por meio do que temos em comum e deixar de lado as diferenças que criam os muros, o preconceito. Devemos estimular mais o sorriso, recriar os ambientes de aprendizagem fomentando a dinâmica integrativa. Não devemos esquecer de fazer sempre essas perguntas: Que tipo de pessoas eu quero para amanhã? Que tipo de sociedade eu quero ajudar a construir? É uma missão difícil, cheia de desafios e muito enriquecedora. A construção do humano é uma questão impreterível, porque significa a reconstrução dos valores, para o desenvolvimento da existência humana alicerçada no amor através da criação, recriação, inovação e principalmente da ousadia de mudar. Estamos diante de um contexto que nos exige soluções coletivas, criativas e cooperativas. Necessitamos recriar a forma de vermos o mundo e as nossas dinâmicas de interação social para que resultem numa dimensão ampliada da convivência humana, resgatando nosso potencial para vivermos juntos e compartilharmos o nosso espaço social, político e de lazer. Nesse sentido, elegemos o jogo cooperativo como um instrumento de articulação e promoção do processo educativo, no qual se destacam algumas de suas principais características, como a alegria e a inclusão. Todos participam, todos ganham e todos se divertem. É um jogo que tem como fundamento levar em consideração as condições, as qualidades e as características individuais de cada pessoa. O importante é a soma de esforços para, com eficiência, realizarmos e solucionarmos as tarefas propostas através da cooperação. Ao trabalharmos com esse tipo de estrutura cooperativa, temos a difícil missão de compartilhar as alegrias, perdas e realizações não somente com parte do
  • 8. 7 grupo, como acontece nas estruturas competitivas, mas com todos os integrantes. Os Jogos Cooperativos são um forte instrumento para promover a integração, socialização e manifestação dos valores e emoções que levam à realização e ao bem-estar de todos. Além de potencializar a criatividade e a espontaneidade, os Jogos Cooperativos auxiliam na criação de uma consciência humanitária, que, ao valorizar a participação e o esforço do outro, constitui-se em um trabalho de crescimento mútuo, contribuindo através dos valores positivos com a sociedade para uma melhor qualidade de vida e a construção de um mundo melhor. Os jogos cooperativos nasceram da necessidade que temos se tem em viver juntos, pois desde cedo foi ensinado que jogo é sinônimo de competição, e que competição é sinônimo de jogo. Hoje, sabe-se que isso é mito, pois um jogo, para ser interessante e desafiador, não precisa ser jogado como se estivesse numa guerra. Enfim, existem alternativas, e uma delas é o jogo cooperativo. Quando se joga cooperativamente, cada pessoa é responsável por contribuir com o resultado bem-sucedido do jogo e assim cada um se sente co-participante. O medo da rejeição é eliminado e aumenta o desejo de se envolver, de fazer parte do grupo. Nesse sentido a ideia da disciplina é sensibilizar para uma mudança real, desejando que dessa mudança surja uma nova visão a respeito do jogo, e que com isso se possa criar uma ética cooperativa. Na escola se tem mais contato com os jogos competitivos do que com os jogos cooperativos, e a própria escola valoriza só os vencedores, pois não ensina o estudante a amar o aprendizado e sim a tirar notas cada vez mais altas. A educação física por sua vez não ensina as pessoas a amarem o jogo, e sim a vencer. Brotto (1999, apud SOLER, 2006) deixa uma lição quanto a isso, pois ele entende que aprender é sempre uma aprendizagem compartilhada, que ocorre numa situação dinâmica de coeducação e cooperação, em que todos são, simultaneamente, professores e alunos. Acredita-se que o jogo cooperativo nos ajuda a ensinar-e-aprender a viver uns com os outros ao invés de uns contra os outros. É certo que desde pequeno se condicionado a competir, e a todo o momento se tem a impressão de que se está em uma batalha brutal e feroz, em que só um pode ser o grande vencedor, e ocupar o mais alto grau do pódio.
  • 9. 8 Hoje, com o crescimento da violência e o desenvolvimento das cidades, a pessoa já não tem espaço para jogar, e uma das últimas alternativas para se jogar é o espaço escolar, mas é necessário estar atento a para qual jogo se necessita. Será que os jogos que as pessoas estão jogando ajudam a transformar nossa difícil realidade? Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006),quando participamos de um determinado jogo, fazemos parte de uma minissociedade, que pode nos formar em direções variadas. E qual direção que se quer? Investir no jogo cooperativo como forma de mudança, transformador da cultura, que atualmente é altamente competitiva. Deve-se para isso tentar ritualizar a cooperação e desmistificar a competição.
  • 10. 9 CONTINUAÇÃO DA AULA 2 e AULA 3 Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS. Reinaldo Soler3 "Se todo animal inspira ternura, o que houve, então,com os homens?" (GUIMARÃES ROSA) O JOGO Através da história da humanidade foram inúmeros osautores que se interessaram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do brincar e do brinquedo. Aqui seguem algumas informações importantes sobre esse tema tãoantigo mas ao mesmo tempo tão desconhecido. Confira! Idade Média – o jogo é considerado não sério (associado ao jogo de azar). Servetambém para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos de disciplinas escolares. Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo: foi adotado como instrumento de aprendizagem de conteúdos escolares (Quintiliano, Erasmo, Rabelais, Basedow) O jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário. É do escritor, o poeta, sua prioridade, segundo Montaigne (1612). “O jogo é um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança, como recriação, momento adequado para observar a criança, que expressa através dele sua natureza psicológica e inclinações, de acordo com Vives (1612). O jogo tem valor educativo, na medida em que alia oprazer à condição de uma livre aprovação e de uma submissão autônoma às regras. O valor do jogo tem implicações políticas e morais, indo bem além da simples distração. O jogo passa a ser associado à formação do ser humano em sua plenitude. (ROUSSEAU, 1761). Para Kant (1787), os jogos da criança são o insubstituível lugar de uma auto- aprendizagem por si mesma, em que vemos que se trata de uma cultura livre. Por 3 SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
  • 11. 10 meio do jogo, a criança aprende a coagir a si mesma, a se investir de uma atividade duradoura, a conhecer e a desenvolver as forças do seu corpo. Já para Tomás de Aquino (1856), o jogo é necessário na vida humana. Segundo Stanley Hall (1882), a brincadeira reflete o decurso da evolução do homem, desde a pré-história até o momento presente. É como se a historia da raça humana fosse recapitulada por cada criança, cada vez que ela brinca. “... A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo.... Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo ... O brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação”– Froebel, 1912 “O jogo é uma atividade livre, conscientemente tomada como não-sériae exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorvero jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligadade todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais, próprios, segundo uma certa ordem e certas regras”– Huizinga, 1938 “Os jogos são geradores e expressão da personalidade e da cultura” – Roberts e Sutton-Smith, 1960-1970 “Os jogos tem um papel expressivo no desenvolvimento decertas habilidades cognitivas” – Bateson (1956), Vygotsky (1967), Sutton-Smith (1967), Sylva, Bruner e Genova (1976) “O jogo é uma atividade espontânea oposta à atividade do trabalho” “É uma atividade que dá prazer ...” “Caracteriza-se por um comportamento livre de conflito” Piaget, 1964 “Importância da exploração no jogo: a ausência de pressão do ambiente cria um clima propício para investigações necessárias à solução de problemas” – Bruner, 1976-1983 “O jogo é uma forma de infração do cotidiano e suasnormas” – Wallon, 1981 “O Brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o ser humano se mostra na sua essência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O brincante troca, socializa, coopera e compete, ganha e perde. Emociona-se, grita, chora, ri, perde a paciência, fica ansioso, aliviado. Erra, acerta. Põe em jogo seu corpo inteiro: suas habilidades motoras e de movimento vêm-se desafiadas. No
  • 12. 11 brincar, o ser humano imita, medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos transformam-se, naquele segundo, em realidade. O brincar descortina um mundo possível e imaginário para os brincantes. O brincarconvida a ser eu mesmo” “O brincar, assim como a arte, o movimento, a expressão plástica, verbal e musical, é uma das linguagens expressivas do ser humano” – “O jogo designa tanto a atitude quanto o objeto que envolve regras externas” - Friedmann, 1998 JOGO COOPERATIVO Você sabe o que é jogo cooperativo? E cooperação? JOGO: brincadeira, divertimento, folguedo, passatempo, exercício de crianças em que elas fazem prova da sua habilidade, destreza ou astúcia. COOPERATIVO: aquele que coopera, que age ou trabalha junto com o outro para um fim comum, que colabora, contribui ou age conjuntamente para produzir um efeito. JOGOS COOPERATIVOS possuem no seu âmago de desenvolvimento a COOPERAÇÃO. São atividades de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos. Os jogos cooperativos reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, propiciando uma participação autêntica, fazendo com que o ganhar e o perder sejam, apenas, referências para o crescimento pessoal e coletivo. Através dos jogos cooperativos, crianças e adolescentes “descobrem” outras possibilidades: regras, aprendizagem e educação, a ajuda, a solidariedade, a compreensão, o lúdico. A disputa e a competição podem ser confrontadas, abrindo- se uma possibilidade de inserção da COOPERAÇÃO – ONDE TODOS GANHAM. A UNESCO coloca como alguns dos valores essenciais para a paz e a convivência ecológica entre as pessoas: respeitar a vida, rejeitar a violência, ser generoso, escutar para compreender, preservar o planeta, redescobrir a solidariedade. Esses e outros valores como: união, amor, colaboração, bondade, paz, responsabilidade, organização, inclusão ética, são trabalhados através das VIVÊNCIAS COOPERATIVAS. Os JOGOS COOPERATIVOS (VIVÊNCIAS COOPERATIVAS) permitem o desenvolvimento do viver e do conviver em grupo, do aprender para cooperar e do
  • 13. 12 cooperar para aprender, exercitando o compartilhar como instrumento de crescimento pessoal. O jogo cooperativo não é algo novo, pois, segundo Orlick(1982, apud SOLER, 2006), começou há milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar a vida. Com toda certeza, os jogos cooperativos sempre existiram, mas começaram a ser sistematizados na década de 1950 nos Estados Unidos, através do trabalho de Ted Lentz. Um dos maiores estudiosos do tema jogos cooperativos é, sem dúvida nenhuma, Terry Orlick, da Universidade de Ottawa, no Canadá, que pesquisou a relação entre jogo e sociedade. Em 1978, publicou o livro Vencendo a competição, que serve de referência para qualquer trabalho sobre cooperação. De acordo com Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006), nós não ensinamos nossos estudantesa terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não os ensinamos a gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos. No Brasil, o grande pioneiro é o professor Fábio OtuziBrotto, que vem silenciosamente desencadeando uma nova geração de pessoas mais felizes e cooperativas. Atualmente, o jogo cooperativo já é encarado com naturalidade. Muito diferente de alguns anos atrás, quando ninguém acreditavaem seu potencial, hoje existe um grande interesse em pesquisar e produzir academicamente sobre o assunto. Qual será o motivo que nos tem levado a competir em momentos que não precisamos? Hoje, já sabemos que tanto cooperação quanto competição são comportamentos ensinados-aprendidos através das diversas formas de relacionamento humano. O que falta é uma nova postura do educador, ou seja, das pessoas significativas nesse processo educativo, pois sabemos que só haverá uma mudança se as pessoas que são significativas na vida do estudante a mudarem a forma como oferecem os jogos. Pois parece que, se falo de jogo, tenho que falar de competição, criando erroneamente uma relação de sinonímia entre as palavras.
  • 14. 13 Muitas pessoas inclusive acreditam que a graça do jogo está na competição, quando sabemos que para uma criança tanto faz competir ou cooperar; o que ela quer é se divertir. Reproduzo a seguir um resumo das hipóteses de Deutsch (1949, apud SOLER, 2006), que foram comprovadas através de provas experimentais em seu trabalho: a) Os indivíduos em situações cooperativas consideram que a realização de seus objetivos é, em parte, consequência das ações dos outros participantes, enquanto os indivíduos em situações competitivas consideram que a realização de seus objetivos é incompatível com a realização dos objetivos dos demais membros; b) Os membros de grupos cooperadores terão mais facilidade do que os membros de grupos competitivos para valorizar as ações de seus companheiros propensos a atingir os objetivos comuns e para não reagir negativamente diante das ações capazes dedificultar ou impedir a obtenção de tais objetivos; c) Os indivíduos em situações cooperativas são mais sensíveis às solicitações dos companheiros do que indivíduos em situações competitivas; d) Os membros de grupos cooperadores ajudam-se mutuamente com maior frequência do que os membros de grupos competidores; e) Após certo tempo, registra-se uma frequência maior na coordenação de esforços em situações cooperativas do que em situações competitivas; f) A homogeneidade quanto à quantidade de contribuições ou participações é maior nas situações cooperativas do que nas situações competitivas; g) A especialização numa atividade é maior nos grupos cooperativos do que em grupos competitivos; h) Existe maior pressão para o agir nos grupos cooperativos do que em grupos competitivos; i) A atenta observação da produção de sinais emitidos pelos membros de uma situação competitiva é menor do que a revelada numa situação cooperativa; j) Existe maior aceitação da intercomunicação nos grupos cooperativos do que nos competitivos;
  • 15. 14 k) A produtividade, em termos qualitativos, é maior nos grupos cooperativos do que nos grupos competitivos; l) Existe uma maior manifestação de amizade entre os membros dos grupos cooperativos do que entre os dos grupos competitivos; m) Dentro dos grupos, os membros cooperativos avaliam a sua produção mais favoravelmente do que os membros competitivos; n) Registra-se um percentual maior de funções coletivas nos grupos cooperativos do que nos competitivos; o) Os membros de grupos cooperativos consideram que são mais capazes de produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo do que os membros competitivos. A esse respeito, Brown (1994) nos esclarece mais um pouco, ao afirmar que como observação final, poderíamos comentar que a intercomunicação de ideias, a coordenação de esforços, a amizade e o orgulho em permanecer ao grupo parecem desaparecer quando seus membro se veem na situação de competir pela obtenção de objetivos mutuamente excludentes. Como vimos, apesar da distinção, nossa ideia não ‘’e colocar um em contraposição ao outro, acreditamos, isso sim, que os dois (cooperação/competição) devem fazer parte da vida. Só devemos nos preocupar como passamos esse jogo, pois, se colocamos que vencer é a única coisa que importa, que não interessam os meios que se usem, então estaremos reforçando a cultura competitiva que nos cerca. Se, ao contrário, mostramos que a pessoa é mais importante, num movimento de transformação real, tentando tornar o mundo um lugar melhor. Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos dá uma preciosa dica: é hora de começar a perguntar: por quê? Sim, é hora de, despertando as consciências, modificarmos a atual estrutura competitiva, e um grande elemento para isso é o jogo cooperativo, pois nele: a) A gente joga com e não contra os outros; b) Joga para superar desafios ou obstáculos e não para vencer os outros; c) Busca a participação de todos; d) Dá importância a metas coletivas e não a metas individuais; e) Busca a criação e a contribuição de todos; f) Busca eliminar a agressão física contra os outros;
  • 16. 15 g) Desenvolve atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação. Acreditamos que asdefinições que mais se aproximam da realidade sãoas descritas por Brotto(1999, apud SOLER, 2006): a) Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos. b) Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às outras, e os benefícios são concentrados somente para alguns. Acreditamos que utilizando o jogo cooperativo, diminuiremos os problemas. E com uma total harmonia, realizaremos o objetivo deste trabalho, que é utilizar os jogos cooperativos como um exercício de convivência. Como nos diz Brotto (1997, apud SOLER, 2006), nós estamos nesse jogo com-muitos-outros-jogadores. Portanto, o COMO jogamos é o fator que poderá definir o placar final. Os estudos de MortonDeusth (1999, apud SOLER, 2006), no campo da psicologia social, nos mostram quando uma situação é cooperativa e quando é competitiva, conforme a figura 1 a seguir. FIGURA 1 – Situação cooperativa e competitiva. SITUAÇÃO COOPERATIVA SITUAÇÃO COMPETITIVA Percebem que o atingimento de seus objetivos é, em parte, consequência da ação dos outros membros Percebem que o atingimento de seus objetivos é incompatível com a obtenção dos objetivos dos demais São mais sensíveis as solicitações dos outros. São menos sensíveis às solicitações dos outros. Ajudam-se mutuamente com frequência Ajudam-se mutuamente com menor freqüência Há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações Há menor homogeneidade na quantidade de contribuições e participações A produtividade em termos qualitativos é maior. A produtividade em termos qualitativos é menor A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor Fonte: adaptado de Soler, 2006, p.23. Competir e cooperar são possibilidades de agir e ser no mundo. Cabe escolhermos, e acabar com o mito de que é a competição que nos faz evoluir. Os jogos competitivos são rígidos, o que impede que suas regras sejam modificadas. Sobre esse tema Spencer Kagan, in Brotto (1999, apud SOLER, 2006), afirma que as crianças não jogam jogos competitivos, elas lhes obedecem.
  • 17. 16 A orientação é sempre não mexer nas regras, ou seja, aceitar o que está pronto e acabado. Nos jogos cooperativos acontece exatamente o contrário, isto é, quanto mais houver contribuições do grupo, melhor. O nosso objetivo principal de trabalhar a auto-estima através de jogos cooperativos é completamente alcançado, pois os jogos cooperativos foram criados com o objetivo de promover a auto-estima e a convivência, sendo dirigidos para a prevenção de problemas sociais, antes de se tornarem problemas reais. Brown (1995, apud SOLER, 2006), afirma que a interação cooperativa com os outros é necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da identidade pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico. Se o jogo tem presentes os valores de solidariedade e cooperação, começamos a descobrir a capacidade que cada um de nós tem para sugerir ideias. SOMOS COMPETITIVOS POR NATUREZA? Mas afinal, somos competitivos por natureza? Na grande maioria de vezes em que falamos em jogos cooperativos, escuramos como resposta: "Mas o Ser Humano e competitivo por natureza. O mundo é dos mais fortes." Com muita frequência também ouvimos falar da teoria de seleção natural de Darwin, para justificar a competição. O conceito de sobrevivência do mais apto tem sido usado com abuso para justificar o princípio de que "a força estácerta". Entretanto "o mais apto" não significa ser o mais forte ou o mais bruto. Darwin ficou amargurado por suas teorias terem sido distorcidas para justificar negociatas, crueldade e guerras contra os mais fracos. Charles Darwin afirmou, claramente, que, para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no senso moral e na cooperação social, e não na competição. Entretanto, o homem moderno está se afastando cada vez mais da coexistência harmoniosa, que foi fundamental para o seu desenvolvimento e sobrevivência. A direção em que o homem está indo na sociedade ocidental pode ser comparada ao desenvolvimento do câncer. O aspecto mais característico do câncer dentro de um corpo humano, ou dentro de uma sociedade, é que as células cancerosas cuidam somente de si próprias. Elas se alimentam das outras partes do
  • 18. 17 seu hospedeiro, até efetivamente matá-lo. Consequentemente, elas cometem suicídio biológico, uma vez que a célula cancerosanão sobrevive fora do corpo em que ela iniciou seu desenvolvimento descuidado e egocêntrico. A competição em suas formas extremas nos torna a todos perdedores. A longo prazo, não haverá vencedores, somente perdedores, a não ser que comecemos a nos voltar para uma direção mais cooperativa e harmoniosa. Afinal, o ser humano é competitivo ou cooperativo? Através de novas alternativas para se jogar, podemos estimular o encontro, como nos orienta Brotto (1997, apud SOLER, 2006), quando afirma que jogar-e-viver é uma oportunidade criativa para encontrar: com a gente mesmo, com os outros e com o todo. Devemos permitir que através do jogo diminuamos a distância que nos separadas outras pessoas. Para isso parece claro que não devemos nos deixar levar pelo mito de que o ser humano é competitivo por natureza, pois, como já vimos, é a estrutura social que nos leva a competir ou cooperar, então depende de cada um de nós, ou melhor, de todos nós. Orlick (1989, apud SOLER 2006) indica um caminho: se nossa qualidade de vida futura, e talvez até nossasobrevivência, depender da cooperação, todos pereceremosse não estivermos aptos a cooperar, a ajudar uns aos outros, a sermos abertos e honestos, a nos preocuparmos com os outros, com as nossas gerações futuras. Concordamos com essa opinião, e vamos mais fundo: só conseguiremos superar o que vem pela frente com muita cooperação e ajuda mútua. COMO ENSINAR A JOGAR? Para iniciar, temos aquilo que Brotto (1999, apud SOLER, 2006) chamou de ciclo de ensinagem, que se divide em: a) Vivência; b) Reflexão; c) Transformação. A pedagogia dos jogos cooperativos é apoiada nessas três dimensões de ensino-aprendizagem.
  • 19. 18 a) Vivência: Incentivando e valorizando a inclusão de todos, respeitando as diferentes possibilidades de participação; b) Reflexão: Criando um clima de cumplicidade entre os praticantes, incentivando-os a refletirem sobre as possibilidades de modificar o jogo, na perspectiva de melhorara participação, o prazer e a aprendizagem de todos; c) Transformação: Ajudando a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo, as transformações desejadas. Resumindo, a cooperação é um exercício, e, sendo um exercício, carece de ser praticado, então podemos, ajudados pelo ciclo de ensinagem, dizer que o processo do jogo cooperativo é assim dividido: Então teremos que viver um jogo, depois fazer uma reflexão do que jogamos, para recomeçar, mas de forma sempre nova/melhorada, lembrando que a principal característicado jogo cooperativo é não ter fim. E um dos seus objetivos é fazer com que as pessoas que jogam sintam prazer em sempre continuar jogando/vivendo. Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006) dividiu os jogos cooperativos em diferentes categorias, pois sempre é necessário adequar os jogos ao grupo que se propõe a jogar: a) Jogos cooperativos sem perdedores: Todos os participantes formam um único grande time. São jogos plenamente cooperativos. b) Jogos de resultado coletivo: Permitem a existência de duas ou mais equipes, havendo um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e entre as equipes, também. O principal objetivo é realizar metas comuns. c) Jogos de inversão: Enfatizam a noção de interdependência, por meio da aproximação e troca de jogadores, que começam em times diferentes. Os jogos de inversão se dividem em quatro tipos: AÇAO REFLEXÃO AÇÃO MELHORADA
  • 20. 19 - Rodízio: Os jogadores mudam de lado de acordo com situações preestabelecidas, como, por exemplo: depois de sacar (voleibol); após a cobrança de escanteio (futebol); assim que arremessar um lance livre (basquete). - Inversão do goleador: O jogador que marca o ponto possa para o outro time; - Inversão do placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time. - Inversão total: Tanto o jogador que fez o ponto como o ponto conseguido passam para o outro time. d) Jogos semi-cooperativos: Indicados para um início de trabalho com jogos cooperativos, especialmente com adolescentes, num contexto de aprendizagem. Oferecem oportunidade de os participantes jogarem em diferentes posições: - Todos jogam: Todos os que querem jogar recebem o mesmo tempo de jogo; - Todos tocam/todos passam: A bola deve ser passada por entre todos os jogadores do time para que o ponto seja validado; - Todos marcam ponto: Para que um time vença é preciso que todos os jogadores tenham feito pelo menos 01 ponto durante o jogo. (Podem-se utilizar também outros critérios, tais come bola na trave, no aro ou tabela, um saque correto etc.); - Todas as posições: Todos passam pelas diferentes posições no jogo (goleiro, técnico, torcedor, dirigente, etc); - Passe misto: a bola deve ser passada, alternadamente, entre homens e mulheres. - Resultado misto: Os pontos são convertidos, ora por um homem, ora por uma mulher. Podemos através dessas categoriasadequaro tipo de jogo que usaremos, pões é muito importante fazer com que as pessoas que jogam se sintam seguras e felizes, daí a importância de se iniciar gradativamente de se iniciar gradativamente o trabalho, pois cada grupo tem suas próprias características, condições e ritmos, que devem sempre ser levados em consideração.
  • 21. 20 CRIANDO NOVOS GRUPOS Um dos momentos mais esperados quando se vai jogar é a formação dos times ou grupos, e é justamente nesse instante que podemos mudar nossa forma de separar/formar grupos. Devemos criar alternativas criativas e divertidas, e para isso podemos levar em consideração o que diz Brotto(1999, apud SOLER, 2006), formar, desfazere transformar grupos em times é um exercício que pode nos preparar para circular com maior leveza, flexibilidade e prazer por entre os vários contextos que vivemos no dia-a-dia. O que acontece na maioria das vezes é que as pessoas preferem ficar ao lado de quem já conhecem, e com quem têm mais intimidade. Então, o nosso papel é fazer com que elas deem a oportunidade a si mesmas de conhecer novas pessoas e formar novas e interessantes parcerias. Não significa que haja algo de ruim estar com quem se gosta, é só uma chance de novas participações com a inclusão de novos amigos. Existem alguns critérios que podem ser utilizados quando queremos "mexer" com o grupo, misturando de modo saudável as diferenças: a) Dia do nascimento: Grupo 1a quinzena; grupo 2a quinzena; b) Cores das roupas: clara e escura; c) Tipo de calçado: tênis, sapato, sandália, tamanco etc; d) Cor dos cabelos: claros e escuros; e) Mês do nascimento: 1o trimestre; 2o trimestre; 3o trimestre e 4o trimestre; Dividimos o grupo em dois, também utilizando a seguinte divisão: Os nascidos no 1o semestre em um time; e os nascidos no 2o semestre em outro. As formas são variadas e tudo dependerá da criatividade do facilitador, e também do grupo que joga, pois as ideias de divisão devem partir também de quem joga. Aproposta dos jogos cooperativos deve estar acompanhada de atitudes que favoreçam o respeito, a valorização e a integração de todos. Enquanto educadores conscientes, devemos sempre eliminar as diferenças, sem, contudo, deixar de reconhecer que cada ser é um indivíduo com possibilidades e limitações. Neste sentido, devemos oferecer oportunidades iguais a todos sem
  • 22. 21 discriminação, para que ele possa se sentir como peça fundamental dentro do grupo. Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), quando todos podem ganhar com a contribuição de todos, algo estranho acontece. As pessoascomeçam a ajudar umas às outras. Dando chance para que as pessoas joguem juntas, tentando superar um desafio comum, contribuímos para que se tornem mais cooperativas e solidárias. TRANSFORMANDO JOGOS CONHECIDOS Uma alternativa muito interessante é a transformação de jogos antigos e competitivos em jogos totalmente cooperativos. A primeira coisa a fazer é eliminar a ênfase na competição e focar o objetivo em metas coletivas, não se destacando o vencedor. As características principais do jogo, como o desafio e a ludicidade, devem ser mantidas, pois é o que faz com que quem joga seja seduzido por ele. Devemos, sempre que possível, pedir para os participantes darem opiniões sobre como transformar o jogo. Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos ensina como modificar um jogo competitivo transformando-o em cooperativo: Exemplo de adaptação de um jogo competitivo está na ponte de cadeiras. Na versão competitiva, preveem-se duas equipes que formam filas para ver quem pode chegar primeiro a um determinado lugar. Todos estão parados sobre as cadeiras.O objetivo é deslocar-se sempre em cima das cadeiras, passando-as para frente, estabelecendo uma espécie de ponte. Agora, como adaptar esse jogo para que seja cooperativo? Em vez de duas equipes, formamos somente uma e planejamos que o objetivo é que todos se desloquem antes que termine uma canção. Fica mais interessante quando a forma de deslocamento não é explicada; apenas se pede a todos que parem sobre as cadeiras(pode ser em círculo), Explica-se que o objetivo é que todo o grupo chegue a um lugar marcado, sem descer das cadeiras. O grupo deve consegui-lo antes que termine uma canção. Ficaevidente que o mais importante é que o grupo perceba como fazer para alcançar o objetivo final, e que essa lição fique para ser utilizada depois, na própria vida.
  • 23. 22 CRIANDO UM JOGO NOVO Outra alternativaé criar um jogo cooperativo totalmente novo, em que, segundo Brown (1994, apud SOLER, 2006), devemos levar alguns fatores em conta: a) Estabelecer o uso possível do jogo: para relaxar, um jogo quebra gelo etc. b) Estabelecer o destinatário do jogo: crianças, jovens, adultos, grupos maiores ou grupos com necessidades especiais; c) Determinar se o jogo é para grupos pequenos, grandes e onde se pode jogá-lo (dentro de um salão, na rua, numa quadra etc). Quando se está satisfeito com a ideia, podem-se anotar os passos do jogo e experimentar para sentir se dão os resultados esperados. Continuamos com Brown (1994, apud SOLER, 2006), que diz quais são as perguntas que podem ser feitas para se ver se o novo jogo corresponde ao objetivo: a) O jogo reflete bom humor? Permite que os participantes riam todosjuntos? Reflete a ideia de que, às vezes, faz sentido fazer coisas que não têm sentido? b) O jogo é cooperativo? Os participantes podem jogar com os outros e não contra os outros? Pode-se ter prazerno jogo e não no resultado? c) O jogo é positivo? Anima os participantes a apoiarem-se? Há ausência de comentários críticos? Os participantes se sentem bem durante e depois do jogo? d ) O jogo é participativo? Anima todos a jogarem em vez de observarem? Os participantes se sentem mais unidos depois do jogo? e ) O jogo permite que os participantes sejam criativos e espontâneos? Permite a recreação, a possibilidade de mudá-lo? f ) Há igualdade de participantes no jogo? E um jogo em que o facilitador é também mais um jogador? g ) Cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo? O jogo evita projeções pessoais e facilita a participação coletiva? h ) O jogo oferece um desafio? Tem espírito de aventura? i ) O jogo leva em conta os participantes? Coloca ênfase no desenvolvimento ou resultado? j ) O jogo é divertido?
  • 24. 23 Se o novo jogo atende a todas as perguntas, então já podemos dizer, sem medo de errar, que estamos diante de um jogo cooperativo, o qual tem o poder transformador de ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoas que realmente gostaríamos de ser. E segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), muitas dasbasesaonosso comportamento podem estar nas brincadeiras e jogos infantis. A nossa missão maior é fazer com esses jogos modifiquem o comportamento, tornando as pessoas mais honestas e atenciosas. E para isso temos o que Brotto (1999, apud SOLER 2006) chama de habilidades de relacionamento cooperativo, em que se destacam: a) Focalizar uma visão e propósito como-um, identificando um centro de interesse comum a partir de interesses pessoais compartilhados; b) Descobrir, valorizar e praticar o estilo pessoal de ser, despertando talentos, qualidades e virtudes em nós mesmos e uns nos outros; c) Harmonizar crises, solucionar conflitos e superar obstáculos e dificuldades através da recreação coletiva; d) Sustentar a auto-mútua confiança, oferecendo e pedindo ajuda. e) Preservar um ambiente de alegria e descontração, favorecendo a tomada de decisão e iniciativa; f) Alcançar objetivos, aparentemente impossíveis, acreditando que tudo é possível, desde que seja (im) possível para todos, sem exceção; g) E celebrar os sucessos e insucessos em comum-unidade, desfrutando de todo o processo do jogo como um instante de encontro e realização humana. Quando temos o interesse, ou melhor, a necessidade de transformar uma prática, podemos citar Diem (1981, apud SOLER, 2006) que afirma que afim de permitir a cada um dos estudantes as mesmas oportunidades de aprendizagem, é necessário haver ofertas variadas. Importante que quando falamos em criarum novo jogo, seja levado em conta que todas as pessoas são diferentes no início do processo, e com certeza serão diferentes ao final. Num mesmo grupo podemos encontrar pessoas bem treinadas, seguras, autoconfiantes, extrovertidas, ao lado de outras, amedrontadas, gordas, desengonçadas ou deficientes.
  • 25. 24 Então, podemos fazer como nos sugere Joseph (1998, apud SOLER, 2006), na terapia do divertimento: Divirta-se com os outros. O desafio das brincadeiras em grupo amplia sua visão e estimula seu talento. Através dos jogos cooperativos, Brotto (1999, apud SOLER, 2006), sugere que dois aspectos fundamentais são desenvolvidos: a) Autoestima: despertando e desenvolvendo os talentos, vocações, dons e tons pessoais, como peças singulares, importantes e fundamentais ao grande jogo de coexistência. b) Relacionamento interpessoal: como um princípio vital para a aproximação, entrelaçamento e arranjo harmonioso, de cada uma das diferentes peças para a recreação do todo. E ele (Brotto, 1999) continua, afirmando que é através do jogo cooperativo a sinergia entre autoestima e relacionamento interpessoal é sintetizada e ganha proporções extraordinariamente educativas e transformadoras.
  • 26. 25 AULA 4 – O EDUCADOR Texto3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE! Estamos passando por uma mudança de paradigmas, poruma fase em que os saberes não são mais exclusividade de quem ensina, tanto quanto seres humanos quanto como educadores. O papel do educador é muito mais o de um facilitador e orientador do processo de desenvolvimento do(s) outro(s). O objetivo do educador é o de oferecer instrumentos ao educando para que ele possa procurar dentro de si eno mundo externo, as informações necessárias para o seu crescimento. O educador/facilitador é um alavancador de novos rumos, motivador para a mudança, auto-conhecimento,auto-transformação e reformulação de valores. O papel do educador é o de levantar questionamentos que “provoquem” e “desequilibrem” seu(s) interlocutor(es), em prol damudança. Porque e quando isto acontece? Não é um acontecimento instantâneo e sim um processo, onde para cada indivíduo ocorre a partir de eventos ou fatos muito particulares. A partir de um desconforto, de um sentimento de que as coisas não estão certas do jeito que estão Para mudar precisamos nos desvencilhar de ideias preconcebidas, formas viciadas de relacionamento, para reconstruir, tijolo por tijolo, nossa nova forma e, aos poucos, ir experimentando qual é o clima que darei a cada encontro, a cada oficina, a cada aula. Quais as bases de pensamento sobre as quais irei “sentar”, me alimentar e dormir; ou seja, os novos paradigmasque irão servir de norte para o meu novo comportamento, minha nova postura; que estilo irei adotar. Se refletirmos a respeito de : a) que estilo quero adotar(filosofia); b) o que é essencial para mim (meus valores) e o que é superficial (justificativa); c) o que quero nesta nova fase (meus objetivos); d) como vou apresentar essas questões (metodologia); e) que materiais vou utilizar. Avaliar o que está confortável, o que está prático,ir fazendo os pequenos ajustes para ir adequando o meu espaço ao meu jeito. A minha filosofia de trabalho às necessidades de todos aqueles que moram comigo ou vem me visitar.
  • 27. 26 Vamos refletir à respeito da postura do educador até os dias de hoje: a) autoritária, centrada em um único indivíduo, considerado “detentor dos saberes”, dono da verdade; b) unilateral, no sentido de não ter flexibilidade, utilizando e repetindo velhas fórmulas ou receitas sem atentar para as necessidades daqueles a quem nos dirigimos; c) o seu maior objetivo é ensinar, informar, transmitir conhecimentos; d) considera o outro como uma tábua rasa que deveria incorporar, adotar os seus saberes incontestáveis; e) abomina o conflito; f) condena e rejeita o erro; g) avalia, taxa e classifica o bom e o ruim, o melhor e o pior. Vamos fazer agora, uma reflexão a respeito da postura do novo educador, facilitador do processo do outro: a) ele ouve, observa e reconsidera o processo de desenvolvimento do seu aluno/educando/aprendiz; b) reflete a respeito da sua própria prática, recriando-a em função das necessidades do(s) seu(s) interlocutor(es): avalia o seu processo e postura; c) reconstrói junto com o(s) outro(s) os saberes; d) é flexível e aberto para a mudança; e) trabalha a partir dos conflitos, procurando caminhos para resolvê-los; f) utiliza o erro como alavanca e desafio para novas aprendizagens; g) o seu maior objetivo é formar, propiciar a abertura de canais no outro e oferecer ferramentas para que o outro possa ser ele mesmo, se descobrir, expressar-se. Baseado No texto de Adriana Friedmann
  • 28. 27 AULA 5 – OS CONTATOS Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS. JanderDenicol Amaral4 "Nunca duvide da força de um pequeno grupo de pessoas para transformar a realidade.Na verdade eles são a única esperança de que isso possa acontecer". (MARGARET MEAD) Nossa intenção é mostrar, por meio de uma proposta cooperativa, outras possibilidades, outros caminhos de promover um desenvolvimento humano mais enriquecedor e eficaz. ACESSANDO O GRUPO Quando entramos em contato com um grupo para desenvolvermos um trabalho, é muito importante levarmos em consideração algumas orientações que irão facilitar o desenvolvimento e a continuidade da proposta: a) conhecer as necessidades e limitações dos membros do grupo; b) encontrar o melhor caminho para entender o grupo e cada indivíduo; c) entender que alguns integrantes apresentam dificuldades de se relacionar com outras pessoas; d) idade cronológica. SELECIONANDO UMA ATIVIDADE Escolher uma atividade não é uma tarefa muito fácil. Devemos ter atenção aos objetivos e à estrutura da proposta: a) adequação das atividades às necessidades do grupo; b) adequação das ati idades ao ambiente; c) atividades com nível de dificuldade gradativo; d) atividades que proporcionem um incremento no nível de motivação ecooperação do grupo. 4 AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.
  • 29. 28 CONDUZINDO A ATIVIDADE Devemos permitir que ogrupo explore todas as possibilidades que surgirem durante a atividade. É aconselhável ficar atento àspercepções dos participantes, pois isso enriquecea nossaforma de contribuir com o grupo. Para isso é necessário: a) Proporcionar uma discussão durante a atividade em que o grupo perceba o seu próprio desenvolvimento; b) Permitir que a atividade se desenvolva naturalmente no ritmo do grupo; c) Preparar o grupo para o tipo de atividade a ser realizada. CONDUZINDO A DISCUSSÃO Temos várias possibilidades de intervenção que podem favorecer o bom andamento de uma discussão. Partindo de uma crítica de nossos estudantes e de uma reflexão de nossa prática, estaremos contribuindo para um melhor entendimento das vivências realizadas. E sugerimos que: a) O grupo seja organizado em círculo; b) Sejamos flexíveis, tentando entender os diferentes sentimentos em relação à atividade; c) Sempre dê retorno de cada observação realizada; d) Encerre a discussão com aspectos positivos.
  • 30. 29 AULA 5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS. JanderDenicol Amaral5 “Podemos chorar, implorar desesperadamente para que o tempo se congele, mas ele é surdo a qualquer apelo e, com muita pressa, segue em frente. Sobre os ossos petrificados e os restos amontoados de inúmeras civilizações estão as palavras patéticas:’Tarde de mais!’.” (MARTIN LUTHER KING JR.) Os jogos cooperativos são atividades que requerem um trabalho em equipe com o objetivo de alcançar metas mutuamente aceitáveis. Não é necessário que os indivíduos que cooperam tenham os mesmos objetivos, porém seu alcance deve proporcionar satisfação para todos os integrantes do grupo. O jogo cooperativo busca aproveitar as condições, capacidades, qualidades ou habilidades de cada indivíduo, aplicá-las em um grupo e tentar atingir um objetivo comum. O mais importante é a colaboração de cada um, é o que cada um tem para oferecer naquele momento, para que o grupo possa agir com mais eficiência nas tarefas estabelecidas. Esse tipo de jogo traz uma alternativa ao jogo de competição, no qual, algumas vezes, o outro passa a ser um obstáculo que se tem que passar a qualquer custo para atingir um objetivo. O jogo é um espaço riquíssimo em que se produzem infinitas situações que exigem a participação na solução de problemas. Essa busca para solucionar problemas, característica fundamental da estrutura COOPERATIVA, implica em um processo de exploração, escolha e, finalmente, tentativa de responder a algumas questões (O que fazer? Como fazer? Quando fazer? Onde atuar?) para definir a ação. Assim, o processo de participação no jogo pode resultar em um enriquecimento e crescimento, tanto pessoal como do grupo e das próprias atividades propostas. Os jogos cooperativos propõem a busca de novas formas de jogar, com o intuito de diminuir as manifestações de agressividade nos jogos, promovendo atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade. 5 AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.
  • 31. 30 A esperança, a confiança e a comunicação são as principais características dos jogos cooperativos. O jogo cooperativo busca a integração de todos, a alegria e a valorização do indivíduo na construção do processo de participação. Os jogos cooperativos buscam incluir e não excluir, como diz Brown (1994). Cabe recordar que entendemos os jogos cooperativos como componentes essenciais de um projeto educativo baseado na cooperação e resolução pacífica dos conflitos, onde os meios empregados não sejam antiéticos. Para Broto,(2001), a convivência, a consciência e a transcendência são os principais eixos da pedagoga cooperativa. a) Convivência: a vivência compartilhada como contexto principal para a aprendizagem no processo de reconhecimento de si mesmo e dos outros; b) Consciência: a reflexão sobre a vivência e as possibilidades de modificar atitudes, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem; c) -Transcendência: ajudando a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo e na vida, as transformações desejadas. Todos os participantes, em lugar de competir, aspiram uma finalidade comum, trabalhando juntos, combinando suas diferentes habilidades e unindo seus esforços para conseguir atingir um determinado objetivo. A pessoa jogará pelo prazer de jogar. Não por uma vitória, e sim pelo divertimento, sem a ameaça de não atingir o objetivo. Nos jogos cooperativos, os companheiros se vêem como companheiros de jogo com relações de igualdade, onde todos são protagonistas. São valores educativos dos jogos cooperativos: a) Construção de uma relação social positiva: os jogos cooperativos mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas, favorecendo a criação de um ambiente de apreço; b) Empatia: capacidade para situar-se na posição do outro e compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas expectativas, suas necessidades e sua realidade; c) Cooperação: valor e destreza necessários para resolver juntos tarefas e problemas, através de relações baseadas na reciprocidade e não no
  • 32. 31 poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira de aprender a compartir, a socializar-se e a preocupar-se pelos demais; d) Comunicação: desenvolvimento da capacidade para expressar, deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas percepções, nossos conhecimentos, nossas emoções e nossas perspectivas; e) Participação: gera um clima de confiança e de implicação comum; f) Apreço e autoconceito positivos: desenvolver uma opinião positiva de si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. A auto- estima, confiança e segurança em si mesmo são alguns elementos de identidade vital que desempenham um importante papel na determinação de nossa conduta comunicativa. O jogo cooperativo ofe- rece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se respeitado em sua totalidade. Pouco importam as suas aptidões físicas, é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o respeito aos outros. Respeitar-se traz a aceitação e o melhor de si. Quando alguém se ama, transforma-se e melhora; g) Alegria: uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação de pessoas felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do rechaço. Um dos grandes pesquisadores no campo da educação para a cooperação, Orlick (1999), valoriza quatro características essenciais do jogo cooperativo: a coo- peração, a aceitação, a participação e a diversão. Vincula, também, esse jogo à liberdade em cinco esferas importantes, que são: a) Liberdade da competição: uma das principais características que distinguem as atividades de cooperação das outras atividades é a sua estrutura interna. O objetivo é comum para todos os envolvidos. Dessa forma, a atividade está centrada em superar o desafio proposto e não em superar os integrantes do grupo. b) Liberdade para criar: uma importante característica do jogo cooperativo é que ele não é um jogo pronto, acabado, isto é, apresenta distintos caminhos para sua solução e realização.
  • 33. 32 c) Liberdade da exclusão: excluir alguém de uma atividade significa não dar oportunidades para essa pessoa continuar jogando, corrigir seus erros, crescer e continuar aprendendo. d) Liberdade para eleger: um dos grandes incentivos dos jogos cooperativos é estimular a iniciativa e o respeito às ideias do grupo. e) Liberdade da agressão: os participantes estão livres do enfrentamento e da batalha de vencer o outro. A atenção do grupo está voltada para união de esforços, valorizando o que cada um tem, na busca de alternativas para solucionar os problemas. O jogo propicia oportunidades atraentes e ricas em diversas situações, o que possibilita uma grande dinamicidade de vivências: confrontamento de pontos de vista, defesa de interesses, participação em discussões, vivência da crise e do conflito. O jogo evidencia-se, portanto, como um potencializador de fatores sócio- emocionais, como a cooperação e a descontração. O jogo contribui para a construção do conhecimento, das habilidades motoras, do movimento tecnificado, do desenvolvimento da moralidade, da sociabilidade, da emocionalidade, do desejo e da solidariedade. Conhecer as características e necessidades individuais das pessoas, nos seus diferentes momentos de vida, suas vontades e desejos, associados a uma leitura crítica do nosso cotidiano, é uma tarefa básica para criarmos um ambiente favorável no processo de humanização do homem. Figura 2 – Jogo com o para quedas. Fonte: Amaral, 2004.
  • 34. 33 ALEGRIA Parece tão fácil falar de alegria. Mas será que sabemos realmente qual o seu valor? A alegria é um dos fatores que mais fomenta nosso gosto pela vida. E a busca incansável por este tesouro que nos fortalece e nos encoraja a ponto de superar todas as dificuldades e sofrimentos que enfrentamos em nosso dia-a-dia. O cotidiano apresentado hoje está longe de ser considerado alegre. E as pessoas também têm se apresentado cada vez mais tristes. No mundo em que vivemos, todos se dedicam às preocupações com o trabalho, dinheiro, a família etc. Além disso, o cotidiano é repleto de tristes notícias que chegam até nós pelos meios de comunicação. Com a carga negativa que entra todo dia na vida das pessoas, não é estranha a falta do sorriso. As pessoas, tomadas pela realidade, esqueceram de alegrar-se com a simplicidade da vida. Um mar cristalino, um banho de cachoeira, o canto de um pás- saro, o pôr-do-sol e nem mesmo a própria vida é capaz de "arrancar" um sorriso das pessoas. É preciso fazê-las redescobrir a alegria de viver. Se pensarmos e agirmos sempre de forma positiva, veremos que este fenômeno encontra-se presente nas pequenas coisas e atitudes que compõem a nossa vida. Se tivermos nossos referenciais de beleza em um jardim florido e colorido, saberemos extrair toda a alegria de poder enxergar. O sorriso é a maior demonstração de alegria. Um sorriso transforma as pessoas, pois exterioriza e oferece ao outro todas as nossas mais puras emoções de carinho, afeto e felicidade. É a mais clara demonstração de que o nosso coração está em perfeita harmonia com o meio externo. O sorriso é contagiante e depende de cada um de nós espalhar esse vírus (idéia), a fim de que tenhamos um mundo onde as alegrias prevaleçam sobre toda e qualquer tristeza. O riso é a linguagem da alma. Que tal deixá-la se expressar? Uma pessoa feliz e sorridente transforma um ambiente, criando um clima de alegria e contagiando todos ao seu redor. Este clima é motivante e estimula a aprendizagem e a boa convivência. As pessoas alegres se interessam pelos outros e pensam mais nas outras pessoas. A capacidade de ajuda é mútua onde existe alegria. Um dia perguntei a uma criança o que era alegria. No mesmo instante, respondeu-me sem pensar duas vezes: "o meu time ganhar". Essa vitória dita é
  • 35. 34 conseqüência de uma reprodução de esquemas competitivos. Esta é uma proposta ilusória, quando do seu início, pois cria uma perspectiva da realização e alcance do defeito em todos os participantes. Porém, à medida que o jogo acontece, as diferenças vão se acentuando, e, ao término da disputa, encontramos as duas emoções extremas divididas. De um lado, a alegria proveniente da vitória e, de outro, o fracasso e a tristeza decorrentes da derrota, mesmo com todo o esforço e dedicação de todos os participantes. A proposta cooperativa se diferencia, pois a união dos participantes para solucionar o desafio valoriza as competências do grupo. Todos se tornam insubstituíveis, aumentando a auto-estima dos mesmos. Ao sentirem-se valorizados, os jogadores estão à vontade para curtir o jogo e ter a liberdade de alegrar-se com a atividade proposta. O Jogo Cooperativo possui também uma característica diferenciada. Ele tem uma dose de humor. Estimula a imaginação, além de ser engraçado. Trabalhar com a fantasia das pessoas é extraordinário, pois exterioriza nossa criança interior. A alegria não é algo passivo e por isso requer ATITUDE. Agir para conquistar a tão sonhada felicidade. E como já dizia Tom Jobim: "É impossível ser feliz sozinho". CRIANDO E TRANSFORMANDO JOGOS Tendo em vista o paradigma cultural em que vivemos, desde a fase pré-natal já se iniciam as perspectivas dos pais e demais membros próximos à família para as orientações e determinações a serem transmitidas à criança, com o objetivo de montar um perfil o mais adaptável possível aos costumes sociais. Este modelo extremamente competitivo é inserido sutilmente, quando que para nossos pais somos a criança mais bela do planeta, nossas roupas são as mais lindas, nossa pele é a mais macia. Assim vamos aprendendo a construir nossos valores, não em um processo somatório com outras pessoas, mas individualmente, utilizando sempre parâmetros de comparação. Na medida em que o referencial de superação é representado pelo adversário, torna-se insustentável a orientação de valores como ajuda, compreensão e respeito, a partir do momento em que nossa realização depende do fracasso do outro indivíduo.
  • 36. 35 Culturalmente, a sociedade apresenta valores invertidos. Devido a isso, as pessoas não se sentem motivadas a mudanças. Assim, os jogos perdem uma de suas principais características: a fantasia. A falta de imaginação toma conta, apresentando uma sociedade sem criatividade. "Se alguém pode imaginar, pode criar. Pode-se criar, pode fazer do mundo um lugar melhor. A imaginação é a primeira faísca que acende a chama da realização" Aqui está um grande desafio para o professor! Estimular a criatividade, não apenas na execução dos jogos, mas também na sua criação. Além de criar novos jogos, existe a possibilidade de transformá-los: trans (mudança)-forma-açâo. Ou seja, mudar a forma da ação no jogo. Porém, transformar jogos competitivos em cooperativos não é uma tarefa muito simples. Modificar o início ou o fim da atividade não irá caracterizá-la como cooperativa. Para isso, será necessária uma atenção especial na estrutura do jogo. Na estrutura competitiva, cada pessoa ou equipe procura atingir um objetivo melhor do que o outro. Já na estrutura cooperativa existe um problema a ser resolvido pelos participantes: em conjunto, superam desafios ou tentam alcançar metas, porém essa meta é comum a todos. Portanto, ao adaptar uma atividade, o confronto entre os participantes deve ser eliminado. Ao modificar a estrutura de um jogo, consequentemente as regras serão alteradas. Essas se apresentam mais flexíveis e adaptáveis ao grupo e ao momento nos Jogos Cooperativos. A liberdade para criar também pode partir dos participantes, que, juntos, podem encontrar maneiras diferentes de jogar. Ao transformar um jogo, alguns cuidados devem ser tomados. O primeiro é o referente à inclusão. Como existe uma meta comum, todos os participantes deverão alcançá-la, permanecendo na atividade do início ao fim. Quando se transforma o tradicional, algo novo e diferente surge. E tudo aquilo que se aproxima do nunca visto é mais divertido. E assim ocorre também com os jogos. Além das novas regras e adaptações, transforma-se o jogo em algo mais divertido. Dar boas risadas e compartilhar sorrisos não é uma ótima jogada?
  • 37. 36 A criatividade e a comunicação são estimuladas não apenas pelo processo de busca da melhor estratégia para se chegar ao proposto, mas também pelo processo de criação e transformação dos jogos. COOPERAÇÃO E COMPETIÇÃO A Educação é hoje uma preocupação em nível mundial. Muitos países, conforme suas características, propõem reformas em seus sistemas educacionais. As Universidades não cessam suas longas buscas por caminhos que apontem para modelos de ensino mais efetivos, para a construção do cidadão melhor, preparado para enfrentar esta revolução em todos os processos da nossa vida. A Educação deve preparar o indivíduo, em todas as suas fases existenciais, para este novo perfil de qualificação dos serviços, para o exercício da cidadania e para esta nova dimensão de mundo. Sabemos que o conhecimento, a criatividade e a iniciativa constituem-se em elementos fundamentais no desenvolvimento do indivíduo, e partimos do pressuposto que o ser humano está em um processo contínuo de crescimento, em permanente evolução. É iminente criarmos espaços de aprendizagem em que a Educação formal não atua. Habilitarmos as pessoas nas suas comunidades, como gerentes do seu processo de desenvolvimento, em suas múltiplas funções, como um ser feliz, social e político. Preocupados com o bem-estar dos indivíduos, devemos oportunizar a essas pessoas um espaço de crescimento, descoberta e lazer. Entendemos que a auto- imagem e auto-estima positiva são de fundamental importância para o desenvolvimento saudável do indivíduo e que devemos fomentar mais a cooperação. Brown (1994) registra que: a interação cooperativa com os outros é necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da identidade pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico. A cooperação e a competição fazem parte do nosso cotidiano. Incentivar os jogos cooperativos significa oferecer às pessoas opções de participação. Desde que nascemos, parece que só nos oferecem uma opção. Competir, vencer alguém ou ganhar alguma coisa. Vivemos no mundo do primeiro lugar, na ilusão da vitória,
  • 38. 37 onde quem se beneficia dos sorrisos, dos aplausos, dos olhares satisfeitos, das caras de aprovação, dos gritos de exaltação e dos louvores é apenas uma pessoa. Como aponta MortonDeutsch (apud BROWN, 1994), os membros de grupos cooperativos consideram que são mais capazes de produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo do que os membros competitivos. A antropóloga Margaret Mead (apud ORLICK, 1999), nos diz que a estrutura social é que determina se os membros de determinada sociedade irão competir ou cooperar entre si, isto é, o comportamento do indivíduo, competitivo ou cooperativo, é condicionado pela ênfase das estruturas dentro de uma dada sociedade. Como aponta muito bem Brown (1994) acreditamos que nossa busca para criar alternativas de educação, organização e comunicação devem partir fundamentalmente da cooperação. O autor enfatiza também que, se o jogo apresenta valores positivos como a solidariedade e a cooperação, os indivíduos têm uma maior oportunidade de sugerir suas idéias, de descobrir e expressar suas capacidades. Para Brown (1994) o processo de desenvolver um ambiente afirmativo está diretamente vinculado às possibilidades de criatividade do grupo. Além disso, quando uma pessoa se sente motivada para atingir uma finalidade, seja no jogo ou no trabalho, ela se sente mais sujeito de sua história. Os indivíduos que se sentem aceitos pelo grupo podem explorar com mais segurança e liberdade os problemas que aparecem, assim como assumir riscos, analisar suas capacidades, aceitarem e aprenderem com seus erros. Por meio do jogo o homem constrói pontes de comunicação. A partir disso, devemos estar vigilantes para as mensagens que transmitimos através dele, para não reproduzirmos os valores individualistas e agressivos da sociedade em que vivemos. Observa-se que os indivíduos de grupos cooperativos ajudam-se mutuamente com mais frequência, são mais sensíveis às solicitações dos companheiros e valorizam a ação do outro. Existe também uma maior manifestação de amizade, maior coordenação de esforços para atingir um objetivo e uma maior produtividade em termos qualitativos. Jogar e viver cooperativamente vai muito além do simplesmente vencer ou ganhar. Significa resgatar e valorizar o verdadeiro sentido do humano. Não somos contra a competição. Podemos educar as pessoas através da cooperação e da
  • 39. 38 competição. Devemos dar mais atenção e um tratamento sério à competição, e não simplesmente "virar de costas" e deixar as coisas como estão. Estamos trabalhando e colocando em jogo os sentimentos das pessoas. Como eu vejo o outro? Como eu vejo o jogo? Como poderia me sentir melhor durante o jogo? Como posso oferecer para o outro um caminho de crescimento e desenvolvimento de valores positivos no jogo?
  • 40. 39 AULA 7 – TIPOS DE JOGOS Texto 6: TIPOS DE JOGOS. Guilhermo Brown6 Regina Fourneuat Monteiro7 “As diferenças podem nos transformar em iguais” (Autor desconhecido) TIPOS DE JOGOS Monteiro (2012) classifica os jogos em: jogos de apresentação,Jogos de relaxamento e sensibilização, Jogos para favorecer a integração grupal, Jogos de confiança, Jogos para estimular a observação e a percepção, Jogos de papéis, Jogos para encerramento e Jogos para início de trabalho com grandes grupos. Jogos de apresentação Às vezes, quando entramos em contato com um grupo, observamos que nem sempre as pessoas se conhecem. Será este, então, um grupo ou um agrupamento? São pessoas de diferentes lugares, reunidas com um objetivo comum - o interesse pelo trabalho a ser realizado -, mas que não mantêm, entre si, nenhum outro tipo de relação? Torna-se, portanto, necessário oferecer-lhes condições para maior aproximação, para a criação de uma coesão interna que venha a facilitar o bom desenvolvimento da atividade a ser realizada. Um "clima" propício para conduzir ao que, em psicodrama, inspirados em Bion (foi psiquiatra e psicanalista, foi defensor da psicoterapia em grupo e escreveu obras referentes ao assunto),chamamos de um continente receptivo e favorável aos conteúdos que poderão emergir no decorrer da ação. Uma apresentação formal em que cada um dos participantes diz seu nome, sua profissão, ou fornece alguma outra informação, nem sempre é suficiente. Quando em situação social, por exemplo, somos apresentados a várias pessoas, 6 BROWN, Guilhermo. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal, 1994. 7 MONTEIRO, Regina, Fourneaut. O lúdico nos grupos: terapeuticos, pedagógicos e organizionais. São Paulo: Agora, 2012.
  • 41. 40 geralmente esquecemos seus nomes; guardamos na memória apenas os nomes de alguns - os demais, quem são mesmo? Acreditamos ser o jogo a forma mais eficiente para iniciar um contato, pois facilitará uma aproximação, certa intimidade ou maior afinidade entre os participantes. Uma atividade descontraída e lúdica favorece a criação de laços amigos e a coesão necessária. Assim, a estória (ficção, criação do imaginário) e a história (fato verdadeiro, real, fato ocorrido) daquelas pessoas começam a ser criadas. É o primeiro passo para constituir realmente o grupo. Jogos de relaxamento e sensibilização Relaxar é descontrair, desengessar, soltar-se à liberdade, atingir um estado de alívio das tensões, sejam elas mentais ou corporais. Só assim podemos estar sensibilizados para nos perceber e perceber o outro. A tão apregoada tele, no psicodrama e descrita por Moreno (autor argentino de psicodrama citado por Monteiro, 2012), é exatamente poder olhar-se, direcionar o olhar para o outro e percebê-lo, e o outro, igualmente, poder nos olhar e nos perceber. Trata-se de um processo interpessoal. Entrar em sintonia com o parceiro para que, juntos, possam encontrar uma direção, um caminho comum. Esses procedimentos induzem à improvisação e à livre interpretação - estímulos à criação. Deixando de lado as preocupações do dia a dia, as tarefas e obrigações, com a mente livre e aberta e o corpo distensionado, disponho-me a receber o novo, criar, imaginar, fantasiar, e a expressar corporalmente minhas sensações, emoções e sentimentos. Jogos para favorecer a integração grupal Falamos antes, ao introduzir os jogos de apresentação, sobre a necessidade de criar uma relação mais próxima entre os participantes de um grupo. Mas esse é apenas o primeiro passo. Torna-se necessária a criação de vínculos entre as pessoas. Provavelmente nem todas chegarão a estreitar relações; a intensidade destas será variável. Um novo perfil grupal, entretanto, é criado; o grupo adquire uma identidade. Para que isso ocorra, deve ser feito um cuidadoso trabalho de integração. Em um campo relaxado, solto, sem tensões ou estresse, as pessoas se colocam mais disponíveis para as relações. É fundamental criar condições para que isso ocorra.
  • 42. 41 Quantas vezes uma criança chega a um lugar qualquer, seja no parque, na escola, na festinha de aniversário, e, em pouco tempo, começa a se relacionar com as outras crianças? Sua linguagem é o lúdico, a brincadeira, o jogo. Que tal resgatar no adulto essa capacidade que, com o tempo, foi relegada a segundo plano? Jogos de confiança Jogos que dependem de uma relação pré-estabelecida e como o próprio nome já diz, confiança! A Questão do toque é sempre muito delicada e deve ser abordada e introduzida com cautela para não afastar, esfriar ou até mesmo estragar o clima entre os participantes. Estes jogos ajudam os participantes a observar comolidam com a confiança em suas vidas. Devem ser utilizados com bastante cuidado, o focalizador deve estar atento ao momento do grupo e às reações de cada participante, assegurando-se de que o momento é este, pois eles podem disparar processos psicológicos internos. São Muito úteis também quando um grupo que já trabalha junto demonstra sinais de desgaste, desequilíbrio e intrigas começam a aparecer. Confiar em nosso semelhante é fácil? Sentir segurança no acolhimento do outro, poder entregar-se sem medo? Quantas vezes pensamos em falar algo, agir "assim ou assado", contar para alguém um fato que se passa conosco e ficamos com receio? Vem a pergunta: como isso será recebido? O grupo, por menor que seja, possuem em miniatura todas as características de um grupo humano maior. As regras, os valores, os preconceitos, as conservas culturais estão nele vivos e presentes. Como, então, confiar e poder entregar-se sem receio de ser julgado ou rejeitado? Existe a certeza de ser aceito, recebido, acolhido? Em alguns momentos no decorrer do trabalho, torna-se necessária uma avaliação, uma verificação de como anda a confiança de cada qual no grupo. Como fazer isso? Falando sobre um assunto, escolhemos palavras, garimpo e me censuro. Com a ação, o corpo fala por mim e "entrega", muitas vezes de modo ingênuo e simples, sem barreiras, aquilo que sinto. Cá pra nós, ele nos trai! Que tal arriscar por aí?
  • 43. 42 Jogos para estimular a observação e a percepção Olhar e não enxergar! Como exercitar o olhar atento e nãoapenas perceber as coisas de modo superficial, automaticamente, mas concentrar-se no que vê? É possível desenvolver nossa capacidade de olhar de modo cuidadoso. Perceber deta- lhes muitas vezes transforma o conjunto, que então se iluminae adquire novo colorido. Além da desatenção, outro fator que interfere e cega é quando estamos em campo tenso. Você já deve ter passado por isso quando, por exemplo, está com muita pressa, na correria, com os minutos contados, e não encontra a chave do carro que está na mesa em sua frente! Aprender a relaxar nesses momentos é como tomar distância, afastar-se. Com isso, a atenção melhora e, consequentemente, a percepção torna-se mais aguçada. O jogo demonstra ser um excelente auxiliar ao qual podemos recorrer nesses casos. A brincadeira e a linguagem lúdica aliviam as tensões e criam uma atmosfera permissiva e não angustiante. Jogos de papéis A noção de papel é fundamental. Por meio dele ocorre a interrelaçâo. Para que qualquer trabalho psicodramático aconteça, cenas são descritas e realizam-se no "como se", por meio da representação de papéis. Nesse contexto dá-se a vivência de situações reais ou fantasiosas. Jogos que permitam a criação livre e espontânea de papéis vão, com certeza, ampliar esse universo. Aqui, entendemos papel como a unidade cultural de conduta. Na vida, desempenhamos papéis todo o tempo -por exemplo: neste momento, desempenho o papel de escritora e você, que agora lê este texto, o papel de leitor! Jogos para início de trabalho com grandes grupos Consideramoso número de participantes da seguinte forma: Bipessoal: compõe-se de duas pessoas. Nota: o grupo de três é de dinâmica edípica. Grupo pequeno: de 4 a 15 pessoas. Grupo médio: de 15 a 30 pessoas. Grupo grande: de 31 a 60 pessoas.
  • 44. 43 Grupo sem limites: acima de 60 pessoas (sociodramas, psico-dramas públicos). Quando deparamos com um grupo com mais de 31 pessoas, precisamos, para início do trabalho a ser realizado, "aquecer" os participantes, aproximá-los, criar um ambiente favorável ao bom desempenho. Esse é um procedimento comum e necessário a qualquer encontro, independentemente do tamanho do grupo. Entretanto, quando se trata de um grupo mais numeroso, temos de recorrer a alguns jogos mais específicos que facilitem o alcance desse objetivo. Uma atmosfera ágil, leve, descontraída e facilitadora da ação. Como conseguir isso? Descrevemos, a seguir, alguns procedimentos que julgamos adequados a esses momentos. Jogos de Quebra-Gelo, Ativadores e de Integração Jogos normalmente utilizados com grupos que ainda não se conhecem bem. Abertura de eventos, seminários, formação de novos grupos. Independente de permanecerem ou não juntos por muito tempo. Jogos de abertura, nomes, ação, folia. São jogos curtos e com altas doses de ação e gasto de energia. Servem para unir o grupo desde o início da sessão, ajudando os participantes a memorizar o nome de cada um, começar um contato e se descontraírem. Os jogadores se soltam, aquecem, descarregam as tensões físicas e superam reservas pessoais. Servem também para momentos após refeições e/ou quando o grupo se apresenta cansado da jornada. Jogos Criatividade e Reflexão Jogos que podem ser usados com grupos que precisam amadurecer alguma idéia, ou pensar em novas soluções para determinadas coisas /assuntos / situações. estimulam a expressão da imaginação, intuição e criatividade. Também podem ser jogos de descontração, utilizados em momentos em que o grupo apresenta cansaço ou desgaste no pensamento específico de algum assunto. Nestes jogos os participantes podem se perceber e mostrar aos outros o que descobriram acerca de si mesmos e do grupo. Os participantes também fazem contato com seu próprio interior e com o grupo.
  • 45. 44 Jogos para encerramento O objetivo dos jogos de encerramento é compartilhar o vi-venciado. Depois de realizada uma tarefa, é importante, também, fazer a avaliação dos resultados obtidos. Relembrar e reviver o ocorrido requer atitude reflexiva, a ser alcançada com a criação do clima propício. Por meio do uso de jogos, esse clima surge e permite um encerramento proveitoso, rico em observações e depoimentos e profundo em sentimentos. São Jogos mais profundos e exigem alguma capacidadedo focalizador, para lidar com demandas que surgem no decorrer das atividades. Sãonormalmente usados em encerramentos de atividades com grupos que já se conhecem e trabalharam juntos por algum tempo (seja ele de quanto for) Servem também para dar às pessoas a chance de se posicionarem em relação ao grupo e a si mesmas, transferindo o que fizeram no treinamento ou vivência para o seu dia-a-dia. OBS: Normalmente, dentro de um processo grupal, todos os tipos de jogos são utilizado. CONDIÇÃO DOS JOGOS Em nossas vidas, aprendemos que tudo o que é bom, sempre acaba. Mas dentro do jogo cooperativo, só acaba quando o grupo achar que chegou o momento, ou então,quando os desafios forem todos vencidos, e não quando um perde e o outro ganha. No Jogo cooperativo, podemos ficar jogando o mesmo jogo de diversas formas, desde que isso seja divertido para todos. Existem dois tipos de jogos. Um pode ser chamado definito, o outro de infinito. FINITO INFINITO As regras não podem mudar Jogadores jogam dentro de limites Jogos são sérios Jogador joga para ser poderoso Jogador consome tempo Jogador busca a vida eterna As regras devem mudar de acordo com as demandas Jogadores jogam com os limites Jogos são divertidos Jogador joga com o poder Jogador gera tempo Jogador busca o nascimento eterno Fonte: Carse, 1986.
  • 46. 45 AULA 8 – APLICAÇÃO DOS JOGOS Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL. JanderDenicol Amaral8 "Só a descoberta desperta. Só a invenção prova que se pensa de verdade a coisa que se pensa, seja qual for essa coisa... Só o sopro criativo dá vida, pois a vida inventa". (MICHEL SERRES) Trabalhando corpo e mente por meio da educação pelo movimento, a Expressão Corporal entra como uma atividade que visa o desenvolvimento pessoal, o domínio do próprio corpo e das coisas que nos cercam, como se situar no tempo e no espaço; bem como o desenvolvimento da cooperação, da solidariedade, da comunicação, da criatividade; o estímulo à alegria, ao trabalho em grupo, ao prazer pelo movimento; o controle da ansiedade e da agressividade. A importância deste trabalho com o corpo se justifica porque nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos ou alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso, tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois corpo e espírito, psíquico e físico e até força e fraqueza representam não a dualidade do ser, mas sua unidade, segundo Bertherat e Bernstein (1977). A Expressão Corporal foi a primeira forma de comunicação do homem, sua primeira linguagem, pois bastava se utilizar do objeto mais acessível: seu próprio corpo. O homem, segundo Brikman (1989) é constituído por uma mente que pensa, uma alma que sente e um corpo que expressa esse todo. A Expressão Corporal engloba a sensibilização de nós mesmos, tanto para nossas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas, como para nossas necessidades de exprimir-comunicar-criar-compartilhar e interagir na sociedade em quevivemos; porque sem o corpo o homem não existe, como dizem Stokoe e Harf (1987) Como já dizia Paulo Freire (1999) formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas. 8 AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.
  • 47. 46 A Expressão Corporal na Educação, entra para promover a aprendizagem, o bem-estar, a educação pelo movimento e a modificação do comportamento, fazendo que o estudante perceba, sinta, conheça e manifeste seu próprio estilo, ou seja, uma manifestação pessoal. Para Stokoe e Harf (1999) é um aprendizado em si mesmo: o que o indivíduo sente, o que quer dizer e como dizê-lo. Paulo Freire (1999) diz que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou construção. Não apenas ensinar conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. A Expressão Corporal busca o pensar com o corpo e pelo corpo, aprendendo a conhecer, a fazer, a viver com os outros, a SER. Auxiliando na busca e construção destas aprendizagens, a Expressão Corporal procura desenvolver na criança vários meios de expressão, o prazer pelo movimento, a segurança, a confiança nos gestos. Assim, maior será sua riqueza existencial. No trabalho de Expressão Corporal na escola, projetar a criança do futuro exige um pensar responsável sobre a criança do nosso tempo, pois a criança é um agente ativo em sua própria construção e na construção do mundo. É um agente cuja ação desenvolve-se no contexto de uma prática sócio-histórica. O tratamento da infância tem evoluído, porém ainda existem dificuldades em nossa sociedade em perceber na criança a capacidade de pensar, querer, sentir. A tendência é vê-la apenas como um ser dependente, que precisa ser protegido. Pensando em uma educação pelo movimento, evitando a escolarização precoce e a inevitável comparação ao adulto, entra a Expressão Corporal na formação da criança, valorizando seu corpo, pois é com ele que se movimenta, conhece e se relaciona com o mundo. A Expressão Corporal procura a vinculação do movimento com intenções, raciocínios e planos de ação elaborados, atividades com significado, despertando o interesse daquele que é o mais importante no processo: a criança. A experiência da própria identidade, ou o processo de tornar-se uma pessoa, é, ao mesmo tempo, a experiência mais simples e mais profunda da vida. A Expressão Corporal na criança visa à sensibilização e conscientização do corpo como um todo, em favordo desenvolvimento da personalidade como unidade
  • 48. 47 corpo-mente, tornando possível o mundo imaginário através da estimulação da criatividade, da fantasia. João Batista Freire (1999), também concorda quando diz que a marca característica da criança é a intensidade da atividade motora e a fantasia. Nesta época massificada, em que a tecnologia supera o homem, a imaginação se limita e se torna apenas reprodutora. Sendo assim, como poderão as crianças de hoje criar suas próprias imagens? Atualmente, o mundo do adulto está inserido na rotina, na competição, na falta de tempo, no estresse e, talvez, no vazio, na solidão. Onde quero chegar com essa colocação é que a ansiedade presente no mundo dos adultos se reflete no mundo das crianças. A resposta das crianças a isto depende do estado emocional e das características pessoais, psicológicas, de cada um. Da mesma forma que a ansiedade e o estresse, a agressividade que se manifesta nas crianças também é um reflexo do mundo adulto no qual está inserida. Ele está presente na imprensa, na TV, no esporte, nas ruas, na família, na escola. Junto com a ansiedade, a agressividade, a solidão e o movimento estereotipado existe mais um fator que dificulta a verdadeira afirmação do SER: a competição. Atualmente nossa sociedade transformou-se numa seqüência sem fim de competições. Estamos tão envolvidos nelas que, às vezes, nem estamos conscientes da competição em si, como afirma Brown (1994). Na criança, a competição já está presente na mídia, nos desenhos animados, na maioria das histórias infantis, nos jogos, no esporte, em casa, na escola é a competição de quem é mais alto, quem tem o pé maior, o cabelo mais bonito, é o mais querido pelos pais ou pela professora, perde o primeiro dente, aprende a ler antes dos outros, joga a bola mais longe, salta mais alto, consegue se equilibrar melhor. Os exemplos são intermináveis. O pior: competimos com nós mesmos! É muito fácil observar nas crianças como a competição comanda seus atos, gestos e decisões. Ela não pensa: faz, compete. Na Expressão Corporal, o trabalho através dos jogos cooperativos busca proporcionar às crianças possibilidades de verem, a si mesmos e aos outros, como pessoas de igual valor, que buscam um objetivo comum, que se ajudam, se tocam, se desinibem, se comunicam, brincam, riem e se divertem.
  • 49. 48 Brotto (2001) diz que a cooperação é uma aprendizagem, um processo permanente de revisão de valores e transformação de atitudes pessoais e grupais. Os jogos cooperativos são um enorme aliado para o trabalho de integração do grupo no início de um período letivo, na formação de um novo grupo, na entrada de um novo membro. Desde o início, as crianças vivenciam e aprendem a superar a competição, a respeitar os outros e o grupo, a discutir os valores, a fazer amizades, e assim estarem confiantes e suficientemente felizes consigo mesmas para se expressarem livremente com todo o seu SER. Piaget (1994) acrescenta que a criança passa pelo processo do egocentrismo para o processo de socialização, e nesse caminho adquire uma consciência social aberta à representação do outro e capaz de relações de reciprocidade. Este processo de aprendizagem social se estende por toda a vida à medida que as outras pessoas e as diferentes situações influenciam os indivíduos. Quando atividades tipicamente competitivas são transformadas em cooperativas, e apresentadas ao grupo, sempre tem aquele que diz: _Ah, mas assim não tem graça! _Eu não quero jogar, não vou ganhar mesmoi _Por que eu deveria ajudar o fulano? Eu não! Estas crianças optam por ficar temporariamente fora da atividade. Conforme observam a alegria de quem está jogando, a cumplicidade, a satisfação, a comunicação, a empatia que existe no grupo, entram e participam. Proporcionando as atividades neste ambiente sócio-moral, utilizando como estímulo alguns recursos como a música, objetos, imagens, desafios e a natureza, faz-se com que a criança pare, pense, sinta, atue se pergunte "quem sou? O que devo fazer? E como devo agir?". Assim, ela parte para o interrelacionamento, para o ambiente social. Ao surgir um conflito, uma manifestação de agressividade, o professor aproveita para questionar os envolvidos e, da mesma forma, todo o grupo. Ouve suas opiniões e deixa que decidam a melhor solução para o conflito, construam um senso moral, tratem os outros como gostariam de ser tratados, criem um ambiente de cumplicidade, empatia e amizade. Enfim, molda construtivamente comportamentos e intenções morais. Em situações que geram ansiedade e insegurança, cabe à sensibilidade do professor conduzir a criança para uma centralização no EU, perceber-se, estimular
  • 50. 49 um outro aluno a se aproximar do primeiro, estimular o toque, a dupla, o trio, o grupo. Assim o aluno inseguro parte do EU para o NÓS, percebe que integra aquele grupo, sentindo-se mais confiante para expressar seus sentimentos e pensamentos por meio do movimento, em resposta ao estímulo inicial. Por meio do ambiente sócio moral, as crianças constróemidéias e sentimentos sobre si mesmas, sobre o mundo dos outros e o mundo dos objetos; usando a pesquisa, a exploração, a convivência, a descoberta, a experimentação, a expressão autêntica do EU. A cooperação, no início do trabalho, é apresentada através de jogos específicos. Ao longo do tempo, conforme o grupo adota a filosofia, o comportamento, o pensamento, a atitude e a expressão cooperativa, ela passa a fazer parte e se insere no trabalho como um todo, como uma parte fundamental da expressão corporal e do grupo. Na solução de conflitos, na integração e ligação do EU e do OUTRO, na construção do NÓS, na capacidade de solucionar desafios e problemas com confiança, segurança, personalidade e caráter. Todos estes aspectos se manifestam e se concretizam no trabalho da Expressão Corporal, passam a fazer parte da personalidade da criança, da sua maneira de ver o ambiente e interagir com ele, solucionar desafios, relacionar-se com os outros, e, principalmente, expressar-se de uma forma autêntica e segura, livre de estereótipos. Com isso, queremos mostrar e confirmar que a vida é um processo de conquistas graduais, cada uma com o seu valor; e valor como base para todos os passos seguintes. Nossa intenção, através da Expressão Corporal, é mostrar a importância em valorizar este pequeno SER em formação, mas grande SER em sentimentos, emo- ções, angústias, alegrias, expressões. Torná-lo consciente da sua grandeza, da sua fundamental importância na vida atual e futura, pois tudo o que ele construir agora,servirá de base para continuar a construir. É fazer que conheça profundamente a si mesmo, atingindo sua alma, seu espírito, para que cresça em liberdade, porque liberdade é a capacidade de se tornar o que realmente É. Torná-lo consciente para a vida, conservando promovendo e valorizando a vida, pois nossa vocação tundamental é viver. E por que não vivê-la plenamente? Orientar, pois, a ação e a atividade no sentido de reverenciar a vida.
  • 51. 50 Buscar, através da Expressão Corporal, o estímulo, o início da consciência do corpo, do EU, do grupo; o prazer de movimentar-se. a confiança e a algreia que sentimos ao fazê-lo; e assim, levar esta vivência e este prazer por toda a vida, para todas atividades, ações e atitudes. Tornar-se um adulto seguro, autêntico, criativo, expressivo, cooperativo; seja no trabalho, no esporte, na universidade, na família, na sociedade, no mundo. “Mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que se sabe presença, que intervémque transforma, que fala do que faz. mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe. E no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.” (FREIRA,1999)
  • 52. 51 Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES JanderDenicol Amaral9 "Na verdade só conhecemos bem quando nutrimos afeto e nos sentimos envolvidos com aquilo que queremos conhecer". (LEONARDO BOJF) JOGOS COOPERATIVOS E GINÁSTICA LABORAL A primeira notícia que se tem sobre ginástica laboral (GL) é de 1925 na Polônia. Também chamada de "ginástica de pausa", era destinada a operários. No início dos anos 60, a GL surgiu na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica. Nesta mesma época, ocorreu no Japão a consolidação e a obrigatoriedade da ginástica laboral compensatória (GLC). No Brasil, esta proposta foi baseada em análises biomecânicas estabelecidas pela escola de educação da FEEVALE, em 1973, quando se elaborou o projeto de educação física compensatória e recreação. A ginástica laboral surgiu com o objetivo de prevenir os trabalhadores contra doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho e motivá-los à prática de UTI estilo de vida mais saudável. De acordo com o INSS, o crescimento de trabalhadores com doenças ocupacionais é cada vez maior. Na maioria dos casos, o trabalho excessivo, posturas inadequadas, repetições constantes e instalações precárias desencadeiam tensões que tornar-se-ão as responsáveis pelo afastamento do trabalhador por invalidez permanente. A lesão por esforço repetitivo (LER) abrange mais de 100 tipos de doenças, as quais causam danos aos nervos, músculos, tendões e ligamentos. A LER e a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT) ambas - as siglas representam a mesma patologia - causam as despesas médico- ocupacionais nas empresas e tratam dos problemas causados no trabalho. Uma atividade repetitiva por muito tempo cessa o estímulo que chega ao cérebro, devido ao cansaço das vias respiratórias. A conseqüência é a falta de atenção, levando assim o trabalhador ao acidente de trabalho e à baixa produtividade. 9 AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.
  • 53. 52 A ginástica laboral pode ocorrer no início, meio e fim do expediente de trabalho. Cada fase possui uma proposta definida. Que são: a) Preparatória - dura geralmente de 5 a 10 minutos, antes do início da jornada de trabalho. Tem como objetivo principal preparar o funcionário para sua tarefa, aquecendo os grupos musculares que serão solicitados. Aumenta a circulação sangüínea no nível muscular, melhorando a oxigenação dos músculos. b) Compensatória - ocorre durante a jornada de trabalho, interrompendo a monotonia operacional; dura cerca de 10 minutos. São executados exercícios de compensação aos esforços repetitivos e às posturas inadequadas. c) Relaxamento - ginástica com duração de aproximadamente 1 0 minutos. Baseia-se em exercícios de alongamento, realizados após o expediente com o objetivo de oxigenar as estruturas musculares, evitando o acúmulo de ácido láctico e prevenindo lesões. Pesquisas revelam que empresas que promovem a realização de exercícios físicos observam aumento de produtividade, trabalhadores menos cansados após a jornada de trabalho, diminuição do estresse, ansiedade e depressão, fortalecimento do relacionamento social e trabalho em equipe, redução de afastamento por LER e DORT. A compensação das estruturas menos utilizadas, o aumento da flexibilidade, agilidade, força, coordenação, ritmo e resistência também são significativos. Os jogos cooperativos podem fazer parte de qualquer fase da ginástica laboral. Até porque brincar faz com que os trabalhadores saiam da rotina da empresa e voltem no tempo, tornando-se crianças. Esse momento de pausa do trabalho deve proporcionar benefícios pessoais e globais. A ginástica laborai trabalha o "eu" como prevenção da LER/DORT, visando melhorar o dia-a-dia do funcionário; já os jogos cooperativos auxiliarão o "todo", a integração da equipe, fazendo que todos trabalhem como um time, jogando uns com os outros e não uns contra os outros. A relação interpessoal dentro do local de trabalho será altamente beneficiada e a mão de obra tornar-se-á mais qualificada. Sabe-se que as capacidades físicas e emocionais de qualquer pessoa devem estar equilibradas para que ela possa desenvolver-se em todos os sentidos com atenção, agilidade, qualidade, motivação e trabalho em equipe. Contudo, o trabalho