3. INTRODUÇÃO
“E o verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do
Pai” (Jo 1.14).
4. • O objetivo desta palestra é afirmar o
valor do corpo na educação cristã e
apresentar seu fundamento bíblico
teológico, assim como pedagógico.
Também analisar algumas ideias
equivocadas sobre o corpo, e propor
caminhos de sua valorização na
educação cristã.
5. 1 CORPOREIDADE E
APRENDIZAGEM
As igrejas cristãs têm dificuldade para
integrar o corpo em sua expressão de fé.
Fé torna-se algo da cabeça, ou algo
sentimental. Em qualquer uma das
alternativas parece que se tem
dificuldade com o corpo que pensa e se
emociona.
Também, às vezes o corpo é entendido
como fonte do mal e pecado.
6. l
“No caso da educação, sabe-se que os
maus-tratos ao corpo estiveram presentes
desde longa data. Na tradição judaica,
vemos que o autoritarismo e abuso do
corpo pode ser ilustrado com o termo
usado para designar a educação no povo
de Israel: o verbo hebraico para educar
(“yasar”) tem dois sentidos: de instruir e
também de castigar e chicotear”
(STRECK, 2005).
7. • Manacorda mediante seus estudos sobre
a história da educação confirma esta
tendência. Denomina-a de “sadismo
pedagógico”. Manacorda destaca que
eram os professores que batiam nos
alunos.
8. • No âmbito cristão, apesar de uma visão
mais positiva da criança, tendo como
modelo a atitude de Jesus de abençoá-la
(cf. Mc 10.14-15), não se eliminou o
“sadismo pedagógico”. Na realidade esse
desrespeito para com o corpo vem desde
os primórdios do cristianismo.
9. Espiritual X Corporal
• Chega-se a cultivar unicamente as
alegrias espirituais, de modo que, o
“corpo ingressa em processo de
espiritualização crescente por meio da
supressão ou, pelo menos, do domínio
de seus desejos, a fim de aproximar-se
cada vez mais do mundo espiritual e
divino, pátria da perfeição”.
10. Salvação do corpo
• Na Bíblia, o corpo tem um sentido
positivo, afinal é criação divina (Gn 2.7).
O próprio Deus se torna carne para
salvar (Jo 1.14). Diante disso, cabe a
educação cristã resgatar o valor do
corpo.
11. 2 DUALISMO CORPO/ALMA
• Há na teologia pentecostal um dualismo
moderado de natureza axiológica.
Bergstén afirma: “(...) o real valor do
corpo está na sua alta finalidade de ser
a morada, o tabernáculo em que habita
a alma e o espírito do homem (...)”. .
12. • Silva afirma: “... vosso espírito, e alma e
corpo” (1 Ts 5.23). Não é “... alma e
espírito e corpo”, nem tampouco “... corpo
e alma e espírito”. O espírito é a parte
proeminente, daí ser mencionada
primeiro; o corpo é a mais inferior, e por
isso é mencionada por último; a alma fica
no meio e por isso é mencionada entre os
outros dois”.
13. • Segundo a doutrina pentecostal o ser
humano em sua constituição é formado
de espírito, alma e corpo. Sua
antropologia é tricotômica, ou seja, o ser
humano possui três partes distintas que
juntas formam o ser humano.
14. • O valor do corpo consiste em ser meio de
expressão da alma e espírito. Deste
modo percebe-se certa “hierarquização”
da constituição humana, atribuindo-se
maior valor à parte “espiritual” do que a
material do ser humano. De modo
implícito se percebe uma herança
dualista, de separação e desvalorização
do corpo.
15. 3 O CORPO NO CULTO
PENTECOSTAL
Esse dualismo moderado que desvaloriza o
corpo é contraditório, pois no culto
pentecostal a mobilização e entusiasmo
dos corpos pentecostais são evidentes. O
culto pentecostal é uma festa. Há palmas,
choros, danças, coreografias, “levantar e
abaixar de mãos” entre outras.
16. Afirmação do corpo
• Na doutrina oficial o corpo está de certo
modo desvalorizado, e limitado, enquanto
que na prática litúrgica o corpo é
afirmado.
17. • Essa aparente contradição possivelmente
pode ser compreendida do seguinte
modo: na perspectiva pentecostal, boa
parte das expressões corporais mais
entusiasmadas dos crentes, não são
atitudes meramente voluntárias por parte
do sujeito, antes se entende como
manifestações do Espírito Santo sobre os
seus corpos.
18. 4 O CORPO COMO AMEAÇA
• Também pode se observar no meio
cristão, frequentes jejuns para mortificar a
carne, entendida como o corpo com suas
paixões que se opõem ao espírito. Desse
modo, essa compreensão assemelha-se
muito à concepção platônica que
considera o corpo como sendo
inerentemente mal.
19. • Wagner Gaby corrobora: “Muitos crentes
em Jesus preocupam-se somente com o
bem-estar da alma, esquecendo-se de
que também precisam zelar pelo corpo
(...).
20. • Esse descaso para com o corpo sugere
uma má compreensão teológica a
respeito da sua natureza. Observa-se que
o corpo é concebido muitas vezes como
algo perigoso, que precisa ser controlado,
para não se incorrer em mundanismo e
perda da identidade pentecostal.
21. 5 PEDAGOGIA DO CORPO
• A educação cristã pode promover um
olhar positivo da pessoa sobre o seu
próprio corpo, suas necessidades e
desejos. Isso vale tanto para alunos como
para os professores. Deve haver um basta
à “demonização” do corpo e seus
sentidos.
22. • As pessoas não são máquinas, nem
apenas cabeças, mas corpos que sentem
e que pensam. Não se pode pensar em
ser humano sem sua dimensão corpórea.
23. Fundamento bíblico
• O Antigo Testamento compreende o ser
humano “holisticamente” e não faz
divisões, entre corpo mortal e alma
imortal, ou entre corpo e espírito. Schmidt
afirma que conceitos antropológicos,
como “carne” ou “corpo”, “coração” ou
“alma”, significam menos uma parte do
ser humano do que uma dimensão do ser
humano.
24. • Os autores do Novo Testamento na sua
maioria são judeus, de modo que, a visão
de ser humano está estreitamente
relacionada à concepção
veterotestamentária. Os principais termos
antropológicos gregos yuch, (psyché),
pneu<ma (pneuma), sarx (sarx), sw<ma
(soma) e kardia (kardia) podem significar
tanto um aspecto da pessoa quanto a
pessoa inteira.
25. Valorização do corpo
• Nos Evangelhos observam-se os milagres
de Jesus relacionados às necessidades
corporais (Lc 4.17-21; 13.16; Jo 8.44).
Jesus tem compaixão das pessoas
doentes e liberta-as de suas dores e
enfermidades. Diferentemente do
pensamento platônico, as necessidades
corporais são tratadas seriamente.
26. Educação cristã
• Diante disso, a educação nas igrejas,
principalmente pentecostais daria mais
importância às formas concretas e
artísticas de aprender. Por que não
valorizar mais a linguagem do teatro, da
poesia, da pintura, da música e de outras
artes? Estes são importantes meios de
facilitar o processo ensino
aprendizagem. .
27. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• O desafio que a corporeidade desperta
para a educação cristã é justamente seu
reconhecimento: é ser levado em conta
seriamente, como um fator fundamental e
constitutivo do ser humano integral.
28. No atual contexto da educação cristã, uma
abordagem mais equilibrada e integral do
ser humano, pode contribuir para a
superação do dualismo antropológico que
desvaloriza o corpo. Afinal, o cristianismo
tem como fundamentos básicos a fé no
Deus que se tornou carne e que promete
a ressurreição do corpo.
29. • A afirmação de que o mal tem sua
origem na liberdade de decisão e
ação da criatura não é capaz de
isentar o Criador da responsabilidade
para essa sua criação: Seja qual for o
modo como a criatura é livre, ela é
criatura de Deus justamente nessa
sua liberdade.
30. • Entendemos que o esforço no sentido de
isentar o Criador foi um engano da
apologética cristã.
• Este não poderia corresponder ao
testemunho do N. T., segundo o qual o
próprio Deus assumiu e carregou, pela
morte de cruz de seu Filho, a
responsabilidade pelo mundo por ele
criado (PANNENBERG, p. 246).
31. A importância da liberdade
• Se o Criador quis criaturas
autônomas e livres em relação a ele,
que o reconhecem espontaneamente
em sua divindade, então também
existe na decisão para a realização
da criação o risco de abuso dessa
liberdade criatural.
32. • Como disse Tillich: “Não permitir o
pecado significaria não permitir a
liberdade, e isto equivaleria a negar a
verdadeira natureza do ser humano,
sua liberdade finita”.
33. • O mal e as desgraças não são desejados
por Deus como tais, isto é, não podem ser
para si objeto de seu bem querer e,
portanto, o fim de sua vontade. Mas são
aceitos como efeitos colaterais e, deste
modo, como condições de realização por
parte das criaturas da intenção de Deus.
34. • E, isso sob o ponto de vista do
governo divino do mundo, o qual é
capaz de ainda transformar o mal em
bem, ao ser dirigido para a
reconciliação e redenção do mundo
por Jesus Cristo.
35. • A responsabilidade pelo surgimento
do mal na criação recai
inevitavelmente sobre o Deus
presciente e permissivo, embora o
agir das criaturas constitua a causa
direta.
36. A responsabilidade de Deus
• Deus também não se subtraiu a essa
responsabilidade, antes a assumiu
pelo envio e entrega de seu Filho à
cruz. Assim Deus confirma sua
responsabilidade como Criador pelo
mundo por ele criado.
37. • E nisso o mal é real e
suficientemente oneroso não
somente para as criaturas, mas
também para o próprio Deus. Isso o
mostra a morte de seu Filho na cruz.
38. • “Deus é nosso companheiro de
sofrimentos nos males deste mundo,
e, por conseguinte, é capaz de nos
livrar do mal” (ERICKSON, p. 190).
39. A pergunta...
• Com tudo isso, porém, ainda não
está respondida a pergunta pela
razão da admissão do mal e da
desgraça por Deus.
40. • Entretanto, pode ser considerado
esclarecido que ambos, o mal e a
desgraça, não podem ser objeto positivo
da vontade criadora divina.
• Apesar disso, Deus é co-responsável por
seu surgimento por meio de sua admissão
“previdente”, respondendo por isso com a
morte do Filho na cruz.
41. No, entanto, por que o admitiu?
• A autonomia para a qual a criatura foi
criada constitui a razão da
possibilidade do mal.
• A autonomia da criatura contém a
sedução de tomar-se a si mesma por
absoluto na auto-afirmação da
própria existência.
42. • Assim, estamos diante de Gn 3.
• A rebeldia da criatura ante seu
criador. A autonomização da criatura
acontece. Se deixa dominar pela
hibris (orgulho espiritual).
43. • Uma resposta somente é possível em
face da unidade da criação com a
obra divina da reconciliação. Só
assim, podemos entender que a
criação como disse Deus é “boa”.