SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Télécharger pour lire hors ligne
A Sociedade da 2.a metade do século XIX sociedade, economia e cultura
O século da burguesia
O século XIX foi o século de ouro da burguesia. A nobreza, que perdera privilégios, viu-se
substituída pelos ricos burgueses que construíam casas apalaçadas, imitando as casas dos
nobres.
Alguns burgueses, com o dinheiro ganho na indústria, na banca, ou mesmo no Brasil, tentavam
alcançar prestígio, comprando títulos e enfeitando os dedos com anéis de brasão.
Outros afirmavam-se na nova sociedade, apenas pelas suas funções: membros do Governo,
diplomatas, advogados, solicitadores, farmacêuticos, médicos, professores, funcionários...
No final do século XIX, a burguesia tinha conseguido afirmar-se, dominando a vida política e
económica. Alguns burgueses chegaram mesmo a recusar títulos de nobreza, orgulhando-se
das suas origens modestas e do facto de terem conseguido vencer apenas com esforço
pessoal.
O conde de Burnay, de origem belga, dominava a alta finança e tinha uma influência política
muito grande. Participou em empresas ligadas ao tabaco, vidro, papel, indústria química e
transportes ferroviários.

A nova classe trabalhadora.
Os pequenos agricultores, os pequenos comerciantes e os artesãos formavam as novas classes
do trabalho. A partir de Inglaterra, um pouco por toda a Europa, e mais tarde em Portugal,
começavam a surgir fábricas. Os artesãos das antigas oficinas davam lugar aos operários.
Assim, ao longo do século XIX, começou a falar-se da «classe operária» e das suas difíceis
condições de vida. Ao operariado* ligou-se o conceito de «proletário» (com prole - família
muito numerosa - e sem bens próprios).
As condições de vida destes trabalhadores não melhoraram durante o século XIX; o dia de
trabalho continuou a ser de mais de dez horas. A partir de 1852, assistiu-se ao
desenvolvimento das associações de socorros mútuos, que se preocupavam com as
dificuldades económicas dos operários e prestavam ajuda aos familiares, em situações de
doença, desemprego, invalidez ou morte.
Mais tarde, os sindicatos (associações de trabalhadores de um determinado ramo) recorriam à
greve (paralisação da actividade nos locais de trabalho), para verem satisfeitas as suas
reclamações (salários mais altos, horário mais reduzido e melhores condições de trabalho). O
movimento operário procurava aumentar a sua influência, fazendo propaganda, através de
conferências, jornais, revistas, panfletos* e livros; no entanto, a classe burguesa, em Portugal,
nunca se sentiu realmente ameaçada.
Devido à dificuldade dos transportes públicos, muitos bairros operários foram construídos
junto às fábricas, prática que continuou durante o século XX. Os trabalhadores recebiam um
baixo salário que gastavam, quase na totalidade, na alimentação. Ainda hoje alguns destes
bairros continuam a ser habitados.
As novas ideias
As ideias liberais defendiam, como sabes, a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre todos
os homens. Muitos se empenharam, no século XIX, na defesa destes novos ideais. Uma das
medidas humanistas que mais honrou Portugal, por ter sido o primeiro país a fazê-lo, foi o fim
da pena de morte, no ano de 1867 (reinado de D. Luís).
Era também cada vez maior o número dos que lutavam para que acabasse, por completo, o
tráfico de escravos.
Como te deves lembrar, no século XVIII acabou a escravatura no reino; no entanto, só em 1869
surgiu a lei que suprimiu a escravatura em todo o império português.
O ensino e as letras
Para os defensores das novas ideias, a instrução devia ser para todos os cidadãos. Isto era
muito difícil de atingir num país de analfabetos (muito perto de 90% da população não sabia
ler nem escrever). Apesar disso foram tomadas, logo nos primeiros anos do regime liberal,
algumas medidas:
- o ensino primário passou a ser livre e um direito de cada cidadão; eram três anos de
frequência obrigatória e mais um ano para os que assim o desejassem. Construíram-se muitas
escolas e aumentou o ordenado dos professores;
- um forte apoio ao ensino técnico foi dado por Fontes Pereira de Melo, com a abertura de
escolas industriais, comerciais e agrícolas; - em 1861, foi criado, em Lisboa, o Curso Superior
de Letras; no entanto, a reforma da Universidade não foi tão profunda como a dos outros
níveis de ensino.
Houve uma profunda reforma no ensino liceal (secundário), inspirada no sistema francês.
Passou a incluir o estudo das ciências e das línguas vivas e, nos finais do século, o número de
disciplinas aumentou. No entanto, os liceus só existiam nas principais capitais de distrito. As
meninas só tinham acesso ao ensino secundário através de colégios ou de professores
particulares.

Novos gostos literários
A liberdade de imprensa permitiu um grande aumento do número de publicações, sobretudo
jornais. Todos estes jornais e revistas eram um estímulo à produção literária. Grandes
escritores estrearam-se com artigos, novelas e romances nos folhetins dos jornais diários.
Também se tornou moda a realização de conferências e a fundação de clubes culturais. Havia
o culto pela arte de bem escrever e bem falar.

Romantismo
O Movimento Romântico inspirou-se nas lendas e tradições mais antigas da nossa história e
esteve sempre ligado ao sentimento e ao sonho. Destacaram-se: - no teatro - Almeida Garrett
foi o seu melhor representante; - no romance - os escritores mais conhecidos foram Camilo
Castelo Branco e Júlio Dinis; - no romance histórico - o principal representante foi Alexandre
Herculano.

Realismo
Com o Realismo, os artistas procuravam reproduzir o mundo tal como o viam, de uma maneira
mais natural, sem o aspecto sentimental e poético do Romantismo. Destacaram-se:
- na literatura - Eça de Queirós, um dos maiores escritores portugueses de sempre, e ainda
Ramalho Ortigão e Antero de Quental; - na pintura - Columbano Bordalo Pinheiro, José
Malhoa, Silva Porto e Aurélia de Sousa; - na escultura - mestre Soares dos Reis.

A vida nos campos e nas grandes cidades
O mundo do trabalho rural
A vida no campo era dura e o trabalho do camponês estava sujeito a uma rotina muito ligada
às estações do ano e às alterações do estado do tempo. A maior parte das propriedades eram
pequenas e eram os membros da mesma família que as trabalhavam para retirar da terra o seu
sustento - agricultura de subsistência.

Contenu connexe

Tendances

37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.
37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.
37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.Carla Freitas
 
A sociedade industrial e urbana parte 2
A sociedade industrial e urbana   parte 2A sociedade industrial e urbana   parte 2
A sociedade industrial e urbana parte 2cattonia
 
MutaçõEs Na Estrutura Social E Nos Costumes
MutaçõEs Na Estrutura Social  E Nos CostumesMutaçõEs Na Estrutura Social  E Nos Costumes
MutaçõEs Na Estrutura Social E Nos CostumesSílvia Mendonça
 
O mundo industrializado s. xix
O mundo industrializado   s. xixO mundo industrializado   s. xix
O mundo industrializado s. xixIURAMADO
 
Recenseamentos, Ensino E Direitos Humanos
Recenseamentos, Ensino E Direitos HumanosRecenseamentos, Ensino E Direitos Humanos
Recenseamentos, Ensino E Direitos Humanosjdlimaaear
 
44 os loucos anos 20
44   os loucos anos 2044   os loucos anos 20
44 os loucos anos 20Carla Freitas
 
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismo
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismoNacionalismo, neocolonialismo e imperialismo
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismoMunis Pedro
 
As cidades se c xix final
As cidades se c xix finalAs cidades se c xix final
As cidades se c xix finalJosé Palma
 
Imperialismo
ImperialismoImperialismo
ImperialismoAlan
 
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.Daniel Alves Bronstrup
 
A comunicação no brasil colônia
A comunicação no brasil colôniaA comunicação no brasil colônia
A comunicação no brasil colôniaManinho Walker
 
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIXDaniel Alves Bronstrup
 
7º ano-históri afeudalismo
7º ano-históri afeudalismo7º ano-históri afeudalismo
7º ano-históri afeudalismoNivea Neves
 
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIXDaniel Alves Bronstrup
 
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.História Pensante
 
Revolução francesa
Revolução francesaRevolução francesa
Revolução francesaDenis Gasco
 
1ª república
1ª república1ª república
1ª repúblicaeb23ja
 

Tendances (20)

37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.
37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.
37 B - Revolução demográfica e contrastes sociais.
 
A sociedade industrial e urbana parte 2
A sociedade industrial e urbana   parte 2A sociedade industrial e urbana   parte 2
A sociedade industrial e urbana parte 2
 
História contemporânea
História contemporâneaHistória contemporânea
História contemporânea
 
MutaçõEs Na Estrutura Social E Nos Costumes
MutaçõEs Na Estrutura Social  E Nos CostumesMutaçõEs Na Estrutura Social  E Nos Costumes
MutaçõEs Na Estrutura Social E Nos Costumes
 
O mundo industrializado s. xix
O mundo industrializado   s. xixO mundo industrializado   s. xix
O mundo industrializado s. xix
 
Recenseamentos, Ensino E Direitos Humanos
Recenseamentos, Ensino E Direitos HumanosRecenseamentos, Ensino E Direitos Humanos
Recenseamentos, Ensino E Direitos Humanos
 
44 os loucos anos 20
44   os loucos anos 2044   os loucos anos 20
44 os loucos anos 20
 
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismo
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismoNacionalismo, neocolonialismo e imperialismo
Nacionalismo, neocolonialismo e imperialismo
 
As cidades se c xix final
As cidades se c xix finalAs cidades se c xix final
As cidades se c xix final
 
Imperialismo
ImperialismoImperialismo
Imperialismo
 
Nacionalismo
NacionalismoNacionalismo
Nacionalismo
 
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.
3º ano Revolução Francesa e outros movimentos franceses.
 
A comunicação no brasil colônia
A comunicação no brasil colôniaA comunicação no brasil colônia
A comunicação no brasil colônia
 
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3ºano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
 
O Antigo Regime Francês
O Antigo Regime FrancêsO Antigo Regime Francês
O Antigo Regime Francês
 
7º ano-históri afeudalismo
7º ano-históri afeudalismo7º ano-históri afeudalismo
7º ano-históri afeudalismo
 
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
3º ano - Revolução Industrial e Ideologias do Séc. XIX
 
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.
Resumo - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) - História Pensante.
 
Revolução francesa
Revolução francesaRevolução francesa
Revolução francesa
 
1ª república
1ª república1ª república
1ª república
 

Similaire à A sociedade portuguesa no século xix

A Vida no Século XIX
A Vida no Século XIXA Vida no Século XIX
A Vida no Século XIXAna Tapadas
 
A vida no séc. 19
A vida no séc. 19A vida no séc. 19
A vida no séc. 19Alex Faria
 
Mudanças no feudalismo
Mudanças no feudalismoMudanças no feudalismo
Mudanças no feudalismoCarla Cristina
 
A comunicação no brasil império
A comunicação no brasil impérioA comunicação no brasil império
A comunicação no brasil impérioManinho Walker
 
Cap. 16 iluminismo
Cap. 16 iluminismoCap. 16 iluminismo
Cap. 16 iluminismoGustavo Cuin
 
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024SandraDias655909
 
Crescimento e limitação da sociedade burguesa
Crescimento e limitação da sociedade burguesaCrescimento e limitação da sociedade burguesa
Crescimento e limitação da sociedade burguesamaria40
 
Apostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilApostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilDireito2012sl08
 
Apostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilApostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilDireito2012sl08
 
Historia do brasil pg188
Historia do brasil pg188Historia do brasil pg188
Historia do brasil pg188kisb1337
 
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.HizqeelMajoka
 

Similaire à A sociedade portuguesa no século xix (20)

A Vida no Século XIX
A Vida no Século XIXA Vida no Século XIX
A Vida no Século XIX
 
A vida no séc. 19
A vida no séc. 19A vida no séc. 19
A vida no séc. 19
 
Crisedofeudalismo 120308153223-phpapp01
Crisedofeudalismo 120308153223-phpapp01Crisedofeudalismo 120308153223-phpapp01
Crisedofeudalismo 120308153223-phpapp01
 
Mudanças no feudalismo
Mudanças no feudalismoMudanças no feudalismo
Mudanças no feudalismo
 
Aula 1 módulo 8
Aula 1 módulo 8Aula 1 módulo 8
Aula 1 módulo 8
 
O renascimento com. e urbano
O renascimento com. e urbanoO renascimento com. e urbano
O renascimento com. e urbano
 
A comunicação no brasil império
A comunicação no brasil impérioA comunicação no brasil império
A comunicação no brasil império
 
Cap. 16 iluminismo
Cap. 16 iluminismoCap. 16 iluminismo
Cap. 16 iluminismo
 
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024
Mudanças no Feudalismo: 2º Bimestre - 2024
 
Brasil Colonial
Brasil ColonialBrasil Colonial
Brasil Colonial
 
A burguesia xix
A burguesia xixA burguesia xix
A burguesia xix
 
Crescimento e limitação da sociedade burguesa
Crescimento e limitação da sociedade burguesaCrescimento e limitação da sociedade burguesa
Crescimento e limitação da sociedade burguesa
 
UFSC 2010 objetiva
UFSC 2010 objetivaUFSC 2010 objetiva
UFSC 2010 objetiva
 
Apostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilApostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasil
 
Apostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasilApostila de historia direito do brasil
Apostila de historia direito do brasil
 
3ão - Brasil Segundo Reinado
3ão - Brasil Segundo Reinado3ão - Brasil Segundo Reinado
3ão - Brasil Segundo Reinado
 
Historia do brasil pg188
Historia do brasil pg188Historia do brasil pg188
Historia do brasil pg188
 
René remond história moderna ii
René remond história moderna iiRené remond história moderna ii
René remond história moderna ii
 
Historia vol3
Historia vol3Historia vol3
Historia vol3
 
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.
Resumo sobre a a matéria (O iluminismo e as reformas pombalinas) de 8ºano.
 

A sociedade portuguesa no século xix

  • 1. A Sociedade da 2.a metade do século XIX sociedade, economia e cultura O século da burguesia O século XIX foi o século de ouro da burguesia. A nobreza, que perdera privilégios, viu-se substituída pelos ricos burgueses que construíam casas apalaçadas, imitando as casas dos nobres. Alguns burgueses, com o dinheiro ganho na indústria, na banca, ou mesmo no Brasil, tentavam alcançar prestígio, comprando títulos e enfeitando os dedos com anéis de brasão. Outros afirmavam-se na nova sociedade, apenas pelas suas funções: membros do Governo, diplomatas, advogados, solicitadores, farmacêuticos, médicos, professores, funcionários... No final do século XIX, a burguesia tinha conseguido afirmar-se, dominando a vida política e económica. Alguns burgueses chegaram mesmo a recusar títulos de nobreza, orgulhando-se das suas origens modestas e do facto de terem conseguido vencer apenas com esforço pessoal. O conde de Burnay, de origem belga, dominava a alta finança e tinha uma influência política muito grande. Participou em empresas ligadas ao tabaco, vidro, papel, indústria química e transportes ferroviários. A nova classe trabalhadora. Os pequenos agricultores, os pequenos comerciantes e os artesãos formavam as novas classes do trabalho. A partir de Inglaterra, um pouco por toda a Europa, e mais tarde em Portugal, começavam a surgir fábricas. Os artesãos das antigas oficinas davam lugar aos operários. Assim, ao longo do século XIX, começou a falar-se da «classe operária» e das suas difíceis condições de vida. Ao operariado* ligou-se o conceito de «proletário» (com prole - família muito numerosa - e sem bens próprios). As condições de vida destes trabalhadores não melhoraram durante o século XIX; o dia de trabalho continuou a ser de mais de dez horas. A partir de 1852, assistiu-se ao desenvolvimento das associações de socorros mútuos, que se preocupavam com as dificuldades económicas dos operários e prestavam ajuda aos familiares, em situações de doença, desemprego, invalidez ou morte. Mais tarde, os sindicatos (associações de trabalhadores de um determinado ramo) recorriam à greve (paralisação da actividade nos locais de trabalho), para verem satisfeitas as suas reclamações (salários mais altos, horário mais reduzido e melhores condições de trabalho). O movimento operário procurava aumentar a sua influência, fazendo propaganda, através de
  • 2. conferências, jornais, revistas, panfletos* e livros; no entanto, a classe burguesa, em Portugal, nunca se sentiu realmente ameaçada. Devido à dificuldade dos transportes públicos, muitos bairros operários foram construídos junto às fábricas, prática que continuou durante o século XX. Os trabalhadores recebiam um baixo salário que gastavam, quase na totalidade, na alimentação. Ainda hoje alguns destes bairros continuam a ser habitados. As novas ideias As ideias liberais defendiam, como sabes, a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre todos os homens. Muitos se empenharam, no século XIX, na defesa destes novos ideais. Uma das medidas humanistas que mais honrou Portugal, por ter sido o primeiro país a fazê-lo, foi o fim da pena de morte, no ano de 1867 (reinado de D. Luís). Era também cada vez maior o número dos que lutavam para que acabasse, por completo, o tráfico de escravos. Como te deves lembrar, no século XVIII acabou a escravatura no reino; no entanto, só em 1869 surgiu a lei que suprimiu a escravatura em todo o império português. O ensino e as letras Para os defensores das novas ideias, a instrução devia ser para todos os cidadãos. Isto era muito difícil de atingir num país de analfabetos (muito perto de 90% da população não sabia ler nem escrever). Apesar disso foram tomadas, logo nos primeiros anos do regime liberal, algumas medidas: - o ensino primário passou a ser livre e um direito de cada cidadão; eram três anos de frequência obrigatória e mais um ano para os que assim o desejassem. Construíram-se muitas escolas e aumentou o ordenado dos professores; - um forte apoio ao ensino técnico foi dado por Fontes Pereira de Melo, com a abertura de escolas industriais, comerciais e agrícolas; - em 1861, foi criado, em Lisboa, o Curso Superior de Letras; no entanto, a reforma da Universidade não foi tão profunda como a dos outros níveis de ensino.
  • 3. Houve uma profunda reforma no ensino liceal (secundário), inspirada no sistema francês. Passou a incluir o estudo das ciências e das línguas vivas e, nos finais do século, o número de disciplinas aumentou. No entanto, os liceus só existiam nas principais capitais de distrito. As meninas só tinham acesso ao ensino secundário através de colégios ou de professores particulares. Novos gostos literários A liberdade de imprensa permitiu um grande aumento do número de publicações, sobretudo jornais. Todos estes jornais e revistas eram um estímulo à produção literária. Grandes escritores estrearam-se com artigos, novelas e romances nos folhetins dos jornais diários. Também se tornou moda a realização de conferências e a fundação de clubes culturais. Havia o culto pela arte de bem escrever e bem falar. Romantismo O Movimento Romântico inspirou-se nas lendas e tradições mais antigas da nossa história e esteve sempre ligado ao sentimento e ao sonho. Destacaram-se: - no teatro - Almeida Garrett foi o seu melhor representante; - no romance - os escritores mais conhecidos foram Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis; - no romance histórico - o principal representante foi Alexandre Herculano. Realismo Com o Realismo, os artistas procuravam reproduzir o mundo tal como o viam, de uma maneira mais natural, sem o aspecto sentimental e poético do Romantismo. Destacaram-se: - na literatura - Eça de Queirós, um dos maiores escritores portugueses de sempre, e ainda Ramalho Ortigão e Antero de Quental; - na pintura - Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Silva Porto e Aurélia de Sousa; - na escultura - mestre Soares dos Reis. A vida nos campos e nas grandes cidades O mundo do trabalho rural A vida no campo era dura e o trabalho do camponês estava sujeito a uma rotina muito ligada às estações do ano e às alterações do estado do tempo. A maior parte das propriedades eram pequenas e eram os membros da mesma família que as trabalhavam para retirar da terra o seu sustento - agricultura de subsistência.