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2021
João Miguel Pereira
Das origens da Teologia Pastoral ao Vaticano II
Síntese a partir de:
Luís F. Rodrigues, Teologia Prática Fundamental, E a Palavra continua a encarnar (Braga: 2020)
Anexos: Diversos autores.
A memória histórica da teologia prática
______________________________________________________________________
Resumo:
A Teologia Pastoral tem as suas origens, se quisermos, desde a época apostólica e patrística. Nota-se, no
entanto, o seu desenvolvimento, quando se procurou estabelecer o seu estatuto universitário, justificando
tanto o seu carácter teológico como científico.
Em 3 de outubro de 1774 a imperatriz Maria Teresa de Áustria aprova a reforma dos estudos teológicos,
realizada pelo canonista e abade beneditino Stephan Rautenstrauch, inspirados na Sagrada Escritura, na
Patrística e na História da Igreja. Os temas práticos constituem um apêndice dos estudos teológicos e com
um intuito meramente aplicativo daqueles. Objeto de estudo: A TP surge focada apenas na cura
animarum, votado portanto para ministrar um ensino daqueles que são os deveres do ofício pastoral dos
pastores ordenados (influência da visão hierárquica de Igreja pós-tridentina). Consegue-se no entanto
colocar a teologia em contacto com a sociedade, ainda que ela seja vista como serva do Estado (o
josefinismo do império austríaco que, ao ser absolutista, quis colocar a Igreja ao seu serviço, como meio
de manter o poder).
A reforma das ideias eclesiológicas da escola de Tübingen teve uma forte influência no âmbito da TP com
o surgimento de uma eclesiologia que percebe a vida concreta como conceito fundamental para Igreja,
vida essa que depende do Espírito Santo em relação com o Verbo incarnado. Aparece a noção do Reino
de Deus. A TP posiciona-se agora no âmbito das disciplinas estritamente teológicas, com o objetivo de
refletir sobre a conservação, desenvolvimento e realização da Igreja no tempo, a sua autoedificação. Deste
modo, a TP deixa de ser uma disciplina que se estuda na fase final do curriculum, apenas para aplicar
aquilo que se aprendeu previamente, e passa a ser a disciplina teológica que estuda a práxis eclesial.
Segue-se a época dos manuais de teologia pastoral, muito marcados pelas ideias eclesiológicas do
Vaticano I, que seguem uma abordagem sobretudo jurídica e de descrição de técnicas pastorais. A TP é
entendida como uma ciência meramente aplicativa que assume as reflexões da dogmática a partir das
quais retira conclusões para aplicar à vida pessoal e à ação da Igreja. Há um ahistoricismo, pelo que se
desenvolvem doutrinas sobre o ser e o agir da Igreja sem ter em conta a sociedade com a qual deveriam
dialogar e sem que a história possa fazer à Igreja as suas próprias perguntas. A TP está centrada na figura
do pastor, claramente hierarquizado, a quem cabe a tarefa de continuar na Igreja a pastoral de Jesus
Cristo.
Segue-se depois a época em que se percebe que estes manuais não dão resposta às necessidades da Igreja.
A sua linguagem, as problemáticas tratadas, a centralização na figura do pároco, e o não responder às
questões emergentes dos âmbitos urbanos e industriais, acabou por ditar o afastamento do uso destes
manuais. Surge uma reflexão que acolhe o contacto com a realidade social das comunidades cristãs,
inspirada no surgir de movimentos e experiências inovadores como é a Ação Católica (ver, julgar e agir),
preocupada em pensar novos caminhos que, quando resultam, são divulgados nas revistas de divulgação
pastoral.
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Dá-se o surgimento dos fundamentos do Vaticano II: Contantin Noppel situa a reflexão da teologia
prática em dois campos muito específicos: a eclesiologia do Corpo místico e o apostolado dos leigos na
vida da Igreja. Constrói uma ação pastoral de tipo comunitário, abandonando-se uma reflexão centrada
apenas no pastor como cura animarum, guia da comunidade. Pio XII, e na Encíclica Mystici Corporis
(1943), dá um importante contributo para a assunção daquelas opções teológicas dizendo que o conceito
de “corpo místico de Jesus Cristo” resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres
frequentemente se ensina. O objeto da TP é agora a edificação do Corpo místico, o que valoriza o
apostolado dos fiéis leigos e um debruçar-se sobre as reais questões das comunidades. A Igreja, todo o
Povo de Deus, percebe-se chamada à missão, o que a leva a perceber a necessidade de romper com
esquemas antigos, fechada sobre si mesma, e dialogar com o mundo, para que mundo e Igreja não
caminhem separadamente, mas que encontrem pontos de encontro. Para conhecer bem a realidade a TP
tem de lançar mão das ciências sociais e humanas, sobretudo a sociologia, antropologia e a psicologia.
Foram surgindo os conceitos eclesiológicos de Povo de Deus, de eclesiologia de comunhão e de Igreja
como sacramento universal de salvação. Estas ideias acabariam por ter a sua plena consagração no
Concílio Ecuménico Vaticano II. A Teologia Pastoral tem agora como objeto de reflexão toda a ação
evangelizadora da Igreja (não só os pastores ordenados mas todos os batizados) no contacto com a época
histórica e o contexto cultural em que está inserida.
JMP
______________________________________________________________________
- Far-se-á um percurso histórico da disciplina procurando, forma sintética, conhecer as
diferentes conceções de pastoral e de prática que foram surgindo, na relação direta com
a reflexão teológica.
- O nascimento da TP, em 1215, quando o Concílio de Latrão manda que haja um perito
que ensine o clero como fazer o trabalho pastoral e a confessar.
- Distinção que importa fazer entre teologia pastoral e ação pastoral. A primeira é a
reflexão teológica sobre a ação da comunidade eclesial, em vista de um projeto
orgânico, composto por princípios teológicos e opções metodológicas, orientando a
práxis da e a mudança na comunidade eclesial. A ação pastoral, por seu turno, é a
operacionalização concreta e direta da comunidade eclesial, nas diversas situações de
vida.
2.1. Primeiros passos
- O nascimento da TP não foi propriamente o melhor. Nasce num contexto que podemos
dizer de “cristianismo de estado”, que procura dar à ação da Igreja um valor de utilidade
pública, para cumprir aquilo que eram os objetivos do Estado.
- Em pleno contexto do Iluminismo, a ciência pastoral vai-se desenvolvendo como
disciplina autónoma em diversos locais, a começar pela Europa central.
- Concílio de Trento (1545-1563), que não aborda expressamente o tema da Igreja,
emanada uma dogmática que determinada um desenvolvimento posterior da
eclesiologia católica e da consciência dos fiéis que afetará a compreensão da TP.
- Julio Ramos, que analisa esta época a partir das diversas ideias eclesiológicas que
estavam subjacentes e que acabaram por influenciar a TP nos primeiros tempos: a
unilateralidade visível e hierárquica da Igreja pós-tridentina que, na polémica
antiprotestante, se focou apenas em alguns aspetos parciais da doutrina eclesial; o
josefinismo do império austríaco que, ao ser absolutista, que colocar a Igreja ao seu
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serviço, como meio de manter o poder; e, por fim, a decadência dos estudos teológicos
que, devido às polémicas de onde tinha vindo, apenas se ia preocupando com os temas
jurídicos e canónicos, com finalidades estritamente apologéticas.
2.1.1. Franz Stephan Rautenstrauch (1734-1785)
- Surge a urgência de estabelecer o estatuto universitário da TP, justificando tanto o seu
carácter teológico como científico.
- Maria Teresa de Áustria, já em 1752, insistia que os estudos de teologia estivessem
mais inspirados na Sagrada Escritura.
- Em 3 de outubro de 1774 a imperatriz aprova a reforma dos estudos teológicos
realizada pelo canonista e abade beneditino Stephan Rautenstrauch.
- Os temas práticos constituem, aqui, um apêndice dos estudos teológicos.
- Acabou por se considerar apenas alguns aspetos parciais da TP, cuja tarefa principal
era ministrar um ensino daqueles que são os deveres do ofício pastoral.
- Esta reforma dá-se num contexto muito específico, que podemos sintetiza em três
aspetos: a unilateralidade visível da hierarquia da teologia pós-tridentina, que se centrou
apenas em alguns aspetos da doutrina tradicional; o josefinismo do império austríaco; e,
por fim, a decadência das ciências teológicas.
- O estudo da teologia está sob a alçada do Estado, para que o estudo da teologia
seguisse orientação que desembocasse em opções úteis ao estado.
- Embora surja no final dos outros estudos teológicos e com um intuito meramente
aplicativo e focado apenas na cura animarum, colocou a teologia em contacto com a
sociedade.
- Este elemento é de suma importância, já que a partir daqui foi fundado o campo no
qual a TP se desenvolveu até os nossos dias: a articulação da teologia com a realidade
sociopolítica, cultural e eclesial.
2.1.2. Friedrich Schleiermacher (1768-1834)
- Reflete sobre o estatuto da teologia, a sua organização interna e a sua função. Coloca
as bases para uma compreensão moderna da teologia, articulando-a com a dimensão
histórica que há que interpretar e regular ou regulamentar.
- Compreende a teologia como uma “ciência positiva”, constituída pela sua relação a
algo determinado e preexistente, que mais não é do que práticas preexistentes que
postulam uma elaboração científica.
- Conjunto das tarefas a que poderemos denominar “direção da Igreja”: compreende o
governo da comunidade eclesial, a pregação, a liturgia e o ensino.
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- Embora todas as disciplinas teológicas sejam estudadas em referência à “direção da
Igreja”, este é o tema mais específico da teologia prática. A sua missão é colocar em
relevo as consequências das secções anteriores, sobretudo a histórica, na sua vertente
dogmática ou sistemática.
- O que importa é clarificar os métodos da ação corretos que permitam uma direção da
Igreja que se oriente bem par ao governo das almas.
- No seu nascimento, a TP foca-se muito a partir da figura do pastor, naqueles que são
os seus deveres de ensinar, santificar e governar, e que é visto e percebido como um
funcionário estatal, cuja função é fazer “bons cristãos” que seriam, então, bons
cidadãos.
- O método de estudo é meramente dedutivo, com forte acento pragmático, o que fez
que em muitos casos, mais do que uma ciência, se abordasse esta questão como uma
arte, dando bons conselhos e ajudando a desenvolver o jeito que cada um tinha para a
pastoral.
2.1.3. Escola de Tübingen
- A reforma das ideias eclesiológicas da escola de Tübingen teve uma forte influência
no âmbito da TP.
- Surge uma eclesiologia que percebe a vida concreta como conceito fundamental para
Igreja, vida essa que depende do Espírito Santo em relação com o Verbo incarnado.
- A ideia central é a noção do Reino de Deus.
2.1.3.1. Johann-Michael Sailer (1751-1832)
- Representa a transição de uma teologia do iluminismo, baseada num
antropocentrismo, para uma teologia do romantismo, baseada em uma ideia teocêntrica
e numa colaboração na salvação do homem, que aceita uma visão comunitária e
dinâmica da Igreja em harmonia com a Bíblia e os escritos patrísticos.
- Orientação bíblico-teológica da TP.
- Propõe o estudo prático das Escrituras como a principal tarefa da teologia pastoral,
descrevendo-a como a preparação mais elevada e mais necessária para quem deve
ensinar religião e guiar o povo. O estudo prático das Escrituras não permanece apenas
na letra e nos ensinamentos particulares, mas abrange toda a vida do homem e entra em
contato com a realidade do mundo e da história, visto que a Sagrada Escritura é, antes
de mais, a história da salvação.
- Só interessa a atividade do “pastor” e só esta realidade é considerada na teologia
pastoral.
- A Sagrada Escritura é a base do estudo da TP.
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- Não é necessário utilizar um cristianismo de conceitos, mas colocar diante dos
ouvintes um Cristo vivo, atuante e histórico, e tornar os conceitos claros e evidentes ao
longo da história.
- A teologia prática tende a privilegiar claramente a pregação e a catequese, por cima
das restantes ações pastorais.
- A ação da Igreja deixa de designar apenas o conjunto das medidas destinadas a
instruir, educar e edificar os fregueses, para passar a ser entendida como uma instância
ao serviço do evento de salvação que se realiza entre Deus e a humanidade, isto é, como
uma mediação salvífica.
- O pastor é o colaborador ativo de Deus em favor da salvação dos homens.
- Sailer passa de uma conceção subjetiva, baseada na teologia da experiência, para uma
conceção objetiva centrada na história da salvação.
2.1.3.2. Anton Graf (1811-1867)
- Foi influenciado pelas ideias de Johan Sebastian Drey e por Schleiermacher.
- Anton Graf começa por se demarcar de duas conceções de TP, comuns no seu tempo:
o empirismo que valoriza apenas a experiência e a prática; e a pura especulação. Para
ele que não é possível elaborar uma teologia pastoral a priori, isto é, meramente a partir
das práticas eclesiais. É imprescindível partir da essência da Igreja, unida à Cabeça que
é Cristo.
- Há a TP, não porque a teologia tenha um interesse sobretudo prático, mas existe a TP,
que assume interesse pela prática, porque a Igreja tem por missão edificar-se a si
mesma, ser prática.
- A teologia prática não pode ser construída a partir da mera experiência, ou apenas dos
princípios, mas no relacionamento equilibrado de ambos. Aqui dá-se uma síntese entre
o específico do pensamento da Escola de Tübingen e o de Schleiermacher.
- A TP posiciona-se agora no âmbito das disciplinas estritamente teológicas, com o
objetivo de refletir sobre a conservação, desenvolvimento e realização da Igreja no
tempo, a sua autoedificação. Deste modo, a TP deixa de ser uma disciplina que se
estuda na fase final do curriculum, apenas para aplicar aquilo que se aprendeu
previamente. Passa a ser a disciplina teológica que estuda a práxis eclesial.
- A práxis eclesial e a reflexão eclesiológica estão profundamente unidas, influenciando-
se reciprocamente. A novos conceitos de Igreja sucedem-se novos conceitos pastorais.
2.2. Primeiros intentos de sistematização
- Finais do século XIX e primeiros anos do século passado surgiram uns manuais de
teologia pastoral, muito marcados pelas ideias eclesiológicas do Vaticano I.
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- Uma das ideias que está muito presente é a de que a missão pastoral de Jesus Cristo, a
sua obra salvífica, é continuada na Igreja através dos seus órgãos visíveis, estabelecidos
pelo mesmo Cristo como sujeitos do governo pastoral.
- Aplicada diretamente aos pastores ordenados da Igreja.
- A abordagem que faziam das questões era sobretudo jurídica e de descrição de
técnicas pastorais.
- A TP é entendida como uma ciência meramente aplicativa. Assume as reflexões da
dogmática, a partir das quais retira conclusões para aplicar à vida pessoal e à ação da
Igreja.
- É considerada como o desenvolvimento prático dos conteúdos estudados nas diversas
disciplinas.
- O Vaticano I (1869-1870) produziu duas constituições dogmática: a Dei Filius, sobre a
fé católica; e a Pastor Aeternus, sobre o primado e infalibilidade papal, quando fala ex-
cathedra, em assuntos de fé e de moral.
- Depois dele, durante quase cinquenta anos, repetiram-se aquelas posições dogmáticas
que originam uma estagnação da criatividade, dado que se limitavam a repetir as ideias
do Vaticano I.
- As tendências teológicas caracterizam-se por uma forte unilateralidade da hierarquia e
autoridade na Igreja. O tema da hierarquia ocupa o estudo da eclesiologia, ao passo que
a TP se centra na figura do pastor, claramente hierarquizado, a quem cabe a tarefa de
continuar na Igreja a pastoral de Jesus Cristo.
- A totalidade do povo de Deus e os leigos estão totalmente ausentes nos estudos de
teologia. Se aparecem, é como sujeitos passivos e recetores da ação pastoral da Igreja.
- Grassa o ahistoricismo, pelo que se desenvolvem doutrinas sobre o ser e o agir da
Igreja sem ter em conta a sociedade com a qual deveriam dialogar e sem que a história
possa fazer à Igreja as suas próprias perguntas.
- Há uma excessiva preocupação com a salvaguarda da instituição eclesial,
compreendida de modo muito unilateral.
- A santidade das almas parece ser o resultado exato do colocar em prática de umas
normas concretas sobre o funcionamento das instituições.
- O povo de Deus, com o seu sensus fidei, foi tendo teólogos que continuaram a tentar
caminhos diferentes, a ensaiar caminhos novos, que acabariam por ver a sua espera
terminar com o Concílio Ecumenico Vaticano II:
- Heinrich Swoboda (1861-1923) que, em 1909, edita um manual de teologia pastoral,
pensado a partir da experiência das cidades e que tem como ponto de partida as
situações concretas das paróquias citadinas.
- No período que se seguiu ao fim da Primeira Grande Guerra (1914-1918), emergiu um
novo furor na reflexão teológica e pastoral, o que acabou por evidenciar a insuficiência
dos manuais. A sua linguagem, as problemáticas tratadas, a centralização na figura do
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pároco, e o não responder às questões emergentes dos âmbitos urbanos e industriais
acabou por ditar o afastamento do uso destes manuais.
- Há outros fatores que facilitaram impulsionaram esta renovação: o contacto com os
textos das origens, fruto da renovação dos estudos bíblicos e patrísticos; o movimento
litúrgico, o movimento catequético, o movimento ecuménico e os movimentos laicais,
com destaque para a Ação Católica.
- A Igreja entra em contacto com as diversas realidades sociais, fazendo a sua missão
mais efetiva e real. Urge pensar novos caminhos e, quando resultam, partilhar estas
descobertas: nascem as revistas de divulgação pastoral.
- Do desabrochar da reflexão pastoral e das novas ideias eclesiológicas, graças ao maior
contacto com a realidade social das comunidades cristãs, bem como do surgir de
movimentos e experiências inovadores, emerge o ambiente favorável que há-de preparar
o terreno que torna necessário o Concílio Ecuménico Vaticano II.
2.3. A eclesiologia a influenciar a pastoral
- Centrar-se no conceito de Corpo Místico de Cristo. O recurso ao binómio
esposo/esposa serve para manifestar o carácter pessoal da relação cabeça/corpo, Cristo-
Igreja.
- Contantin Noppel situa a reflexão da teologia prática em dois campos muito
específicos: a eclesiologia do Corpo místico e o apostolado dos leigos na vida da Igreja.
- Rompimento com as opões editoriais anteriores, muito focadas no guiar as
comunidades, por parte do pastor (hodegética).
- Constrói uma ação pastoral de tipo comunitário. Abandona-se uma reflexão centrada
apenas no pastor como cura animarum, guia da comunidade.
- Pio XII, e na Encíclica Mystici Corporis (1943), dá um importante contributo para a
assunção daquelas opções teológicas dizendo que o conceito de “corpo místico de Jesus
Cristo” resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres frequentemente se
ensina.
- Á expressão paulina (corpo de Cristo) acrescenta a tradição da Igreja o adjetivo
“místico”. Este adjetivo procura acautelar todo o desvio que tenda a compreender o
corpo de Cristo apenas pela razão humana. Englobando aspetos humanos e divinos, a
definição de Igreja deve mantê-los em tensão.
- A Igreja, porque corpórea, vê realizar-se nela a finalidade da criação e redenção
humanas: o encontro de Deus com cada ser humano, nas realidades significativas deste
mundo.
- A Igreja, enquanto realidade visível, tem uma existência própria a seu modo: por ter
uma realidade divina, não perde a existência humana.
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- Ao ser assumido que o objeto da TP é a edificação do Corpo místico, desloca o centro
da sua atenção das tarefas dos pastores, para o apostolado dos fiéis leigos, com especial
destaque para aquilo que era a importância da Ação Católica, como “apostolado secular
organizado”.
- A tensão entre o elemento divino e humano, dá azo a que se perceba de forma clara
que a ação divina tem primazia e a humana está ao serviço daquela. Consegue, ainda,
evitar dois erros comuns na pastoral: o naturalismo e o quietismo. No primeiro, há o
erro de colocar todas as esperanças no esforço da instituição eclesial e dos seus
membros, como se ela tivesse a capacidade de dar a fé a alguém, só por si, e de lhe
permitir experimentar o amor de Deus, sem que Ele tenha a prioridade no agir. Claro
que existe também o erro do quietismo, que consiste em esperar tudo de Deus, sem que
haja um esforço humano que pretenda colaborar com a ação divina.
- Com esta nova compreensão da TP ela recupera o seu estatuto de ciência teológica
que, ao debruçar-se sobre as reais questões das comunidades ganha uma renovada
criatividade.
- A dimensão mistérica da ação eclesial ganha espaço à dimensão meramente
exteriorística e juridicista.
- Ao ser entendida como corpo, composta por diversos membros, faz com que se vá
dando progressiva atenção a todos os batizados e não apenas aos clérigos.
- O sujeito da pastoral é a totalidade do Povo de Deus, rompendo de vez com um
clericalismo que vinha desde as origens da TP.
2.4. Repercussões pastorais e práticas
- Foram surgindo, então, os conceitos eclesiológicos de Povo de Deus, de eclesiologia
de comunhão e de Igreja como sacramento universal de salvação. Estas ideias
acabariam por ter a sua plena consagração no Concílio Ecuménico Vaticano II.
- O conceito de comunhão usa-se para exprimir a natureza humano-divina da Igreja.
Comunhão não é alternativa à instituição, mas constitui o seu fundamento
- Como sacramento a Igreja percebe-se como sinal que alude à graça da salvação e
como instrumento de Deus na realização do Seu plano, articulando a ação divina –
invisível – com a ação humana, que tende a dar visibilidade àquela.
- A pastoral de conjunto, que teve a sua origem nas profundas transformações que a
França sofre no pós-Segunda Guerra Mundial, mas facilmente de alargou a outras
latitudes. Trata-se de uma reflexão teológica que procura compreender a ação da Igreja.
Nela, mais do que em nenhum momento da história até hoje, encontramos uma
profunda união entre teoria e prática, aspiração suprema da teologia pastoral. É preciso
uma eficaz coordenação dos diversos agentes de pastoral, para que realizem ações com
objetivos comuns. A Igreja percebe-se chamada à missão, o que a leva a perceber a
necessidade de romper com esquemas antigos, fechada sobre si mesma, e dialogar com
o mundo, para que mundo e Igreja não caminhem separadamente, mas que encontrem
pontos de encontro.
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- Começa a ficar claro algo que marcará a TP, a necessidade de conhecer bem a
realidade, a situação concreta, para se poder refletir pastoralmente. Para conhecer bem a
realidade a TP tem de lançar mão das ciências sociais e humanas, sobretudo a
sociologia, antropologia e a psicologia.
- A eficácia exige, então, um efetivo conhecimento da realidade, para a qual se recorrem
às ciências sociais, uma efetiva coordenação entre todas as ações e os seus agentes e,
por fim, funções de liderança devidamente identificadas. Surge também a figura do
leigo militante, aquele que num ambiente ou numa estrutura lidera a sua parcela da ação
pastoral.
Anexos
O surgimento da Teologia Pastoral/Prática no dia 3 de outubro de 1774 com a reforma
universitária de Maria Teresa da Áustria, foi marcado por alguns fatores como a unilateralidade visível
e hierárquica da teologia pós-tridentina; o josefismo do império austríaco que quer colocar a Igreja
ao serviço do seu poder e a decadência das ciências teológicas que giram à volta de temas jurídicos e
canónicos, o que levou, de algum modo, por causa destes fatores a “afunilar” o pensamento desta
teologia na pessoa do pastor(presbítero) como objeto de estudo. Com o josefismo o sacerdote era
entendido como funcionário estatal (Aspeto pragmático-utilitário), os seus deveres estavam
agrupados em torno das tarefas de ensinar, santificar e dirigir o povo utilizando um método de estudo
rigorosamente dedutivo - dogma que deve ser aplicado à realidade – que acabou por levar a repensar
a teologia pastoral.
A Escola de Tubinga – séc. XIX - trouxe duas novas orientações, a orientação bíblico-teológica,
pois a Igreja passa a ser entendida como instituição onde o Espírito Santo atua (Mohler) e na qual o
pastor tem de saber pregar bem, para que o Espírito Santo surja na comunidade. Esta concessão
valoriza a pregação e a catequese sobre todas as outras tarefas pastorais, situando a missão do pastor
ao serviço da revelação. A orientação eclesiológica de Graf onde a Igreja é um organismo vivente que
se edifica a si mesmo. A teologia prática é uma parte da teologia que se ocupa da conservação,
desenvolvimento e realização da Igreja no futuro, da sua autoedificação. A teologia pastoral/prática –
pois ainda não existe distinção - vai ganhando novas tonalidades consoante as mudanças
conceptológicas de Igreja.
A “época dos manuais” tem esta designação precisamente pelo surgimento dos manuais de
pastoral, a teologia era considerada uma ciência aplicada e o seu campo de estudo era a tarefa
pastoral de Jesus Cristo e a cura animarum, que se tornou na missão concreta do pároco, curar as
almas.
Esta época levantou uma questão pertinente acerca da possibilidade de se colocar tudo o que
se estuda na teologia pastoral num manual. A teologia pastoral é considerada assim como uma ciência
aplicada. Tomando por base as ideias teológicas desenvolvidas pela dogmática, ela encarregava-se de
retirar as conclusões válidas para a vida e ação da Igreja. A pastoral funciona como um apêndice da
dogmática. É o desenvolvimento prático de alguns elementos estudados nos diversos tratados.
Swoboda modifica o método teológico da teologia pastoral da época dos manuais e inicia uma forma
de atuar que depois será adotada como pastoral de conjunto. Ele cria uma metodologia díspar à
utilizada nos manuais: Uma pastoral feita de acordo com os problemas da sociedade e que entre em
diálogo com eles. Parte de situações concretas das paróquias das cidades às quais os manuais não
respondem.
O Vaticano I: Passa a valorizar-se o papel da Hierarquia, a Igreja é vista como sociedade
perfeita e detentora dos meios necessários para a alcançar o fim a que se propõe. A totalidade do
Povo de Deus e dos leigos estão totalmente ausentes dos tratados teológicos. O tratamento de ideias
eclesiológicas e de ideias pastorais segue um método escolástico, com uma estruturação rígida e com
abundância de divisões e subdivisões. A eclesiologia e a pastoral tendem a defender a hierarquia e a
instituição, pecam por ahistoricísmo (descontextualização histórica) desenrolando a doutrina do ser e
do atuar eclesial sem ter em conta a sociedade com que estão em diálogo e sem que a história faça à
Igreja as suas próprias perguntas. A santidade das almas parece o resultado exato da posta em prática
de umas normas concretas sobre o funcionamento das instituições.
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Dada a insuficiência dos manuais (com sua centralização das tarefas do pastor no pároco) em
responder às interrogações surgidas nas paróquias nascidas da revolução industrial e ao fenómeno de
descristianização, surgem as revistas pastorais acerca de realidades concretas que necessitam de
resposta, ainda que não existam soluções pastorais que se repitam de um lado para o outro, sabe-se
que o caminho pode ser repetido.
Para Noppel, a doutrina do corpo místico é a base de uma pastoral mais eclesial e menos
individualista, assim a tarefa do pastor deixou de ser centrada na cura das almas para se centrar em
ser guia da comunidade. O seu objetivo é a edificação do Corpo de Cristo, tarefa que rompe com o
individualismo anterior para construir uma ação pastoral de tipo comunitário. Esta eclesiologia
dinâmica da edificação de Igreja enquanto corpo místico de Cristo favorece a inclusão na Teologia
Pastoral do apostolado dos leigos (desenvolvimento da Ação Católica), entendendo-o na época de
Noppel como uma participação dos leigos no apostolado hierárquico.
Fran Xaver Arnold, também influenciado pela teologia do Corpo Místico, tenta encontrar um
lugar da ação pastoral na obra de salvação. Vê a ação pastoral como mediação da salvação. Esta
salvação está na comunidade e há-de entender-se desde a ação de Cristo, único e verdadeiro
mediador. O dogma calcedónio do princípio teândrico (união da natureza divina e humana) é que
ilumina em profundidade a razão de ser da ação pastoral e o seu modo concreto de atuação. Na
Igreja há uma atuação divina e uma atuação humana que confluem na pastoral. A ação da Igreja
continua a ação de Cristo no mundo; como tal a ação pastoral só é autêntica quando respeita tanto a
parte divina como humana. Como consequência dá-se uma valorização de todos os membros da Igreja.
A teologia pastoral começa a ver como sujeito da ação pastoral da Igreja todos os batizados,
rompendo assim com um clericalismo presente desde o nascimento da teologia pastoral.
A Pastoral de Conjunto tem a sua origem no movimento pastoral surgido em França entre a
segunda guerra mundial e chegou até ao Concílio Vaticano II, que consagrou muitas das suas
inspirações. Ela nasce como uma profunda reflexão teológica, pedida pela situação da Igreja e deriva
de uma união profunda entre teoria e prática. Com esta reflexão nascem estrutura e técnicas novas
para dar resposta evangelizadora à ação da Igreja: Ação católica, Padres Operários, Renovação
Paroquial – Movimento por um Mundo Melhor. Se a Igreja está constituída pela missão, tem que
romper uma tradição que baseia a ação eclesial somente no culto, tem que fazer abordagens de
diálogo, tem que compreender la importância que sobre os indivíduos exercem os grupos sociais, tem
que abrir as suas fronteiras e reavivar as suas forças missionárias. Numa palavra, a relação e o diálogo
da Igreja com o mundo devem estar na fonte da ação pastoral.
Desde o conceito de corpo místico de Cristo tem de se evitar as conceções redutoras tanto
eclesiológicas, que levam ao misticismo ou ao naturalismo, como pastorais.
A Renovação eclesiológica e suas repercussões pastorais práticas desembocaram na pastoral
de conjunto, que tende a promover a unidade da Igreja. A igreja tem de conhecer a realidade, a
pastoral não pode ser dedutiva, tem de conhecer a realidade, tem de deixar-se ajudar pelas pessoas
e também pelas outras ciências. No fundo a teologia prática deve ser o veículo do Espírito Santo que
mantém a Igreja em movimento, deve promover o diálogo entre a hierarquia e as bases da Igreja,
entre a Igreja e o mundo entre a teologia e as ciências sociais[1].
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[1]Cf. HOSCH, Lothar Carlos – O lugar da teologia prática como disciplina teológica. In Estudos
Teológicos.v. 32:2 (1992) 109-110.
(outra forma de ver a questão)
A 3 de Outubro de 1774, de forma mais ou menos precisa, nasce a Teologia Pastoral na
reforma universitária empreendida por María Teresa de Austria, (com frutos para os interesses de
Estado e da universidade), muito por causa da unilateralidade visível - pela hierarquia da teologia pós-
tridentina - ; por a Igreja estar ao serviço do poder e como meio para a sua manutenção na Áustria, e
devido à decadência exponencial das ciências teológicas. Assim, até ao sec. XIX a pastoral rege-se por
coordenadas pouco teológicas.
No sec. XIX, assistem-se a algumas orientações renovadoras. Nesta linha, surge a reforma das
ideias eclesiológicas, em Tubinga, com um enorme eco no campo da Teologia Pastoral. Já com Mohler,
a Igreja-vida passou a ser conceito preponderante na sua interdependência ao Espírito e na sua
relação com o Verbo Encarnado. Por outro lado, com a reforma da concepção pastoral, a Sagrada
Escritura passa a ser a base da Teologia Pastoral, sendo a continuação da palavra de Jesus Cristo,
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revelador de Deus- Amor, e situa a missão do pastor numa concepção eclesiológica ao serviço da
Revelação.
Em boa verdade, Eclesiologia e Teologia Pastoral têm o seu nascimento marcado por ideias
eclesiológicas do seu tempo. De facto, os conceitos pastorais desenrolaram-se, atendendo à tarefa dos
pastores, como missão da Igreja (prevalência dos aspectos visíveis e hierárquicos no conceito de Igreja).
Concomitantemente, é ainda neste período que a Pastoral se detém nos meios em que se assegura a
sociedade. No entanto, crescem novos conceitos na Teologia que abarcam, por sua vez, novos
conceitos em Teologia Pastoral. É neste período, que os campos de estudo dos manuais são
considerados o receptáculo de conselhos pastorais, com base na dogmática e que ilucidam os pastores
nas situações do exercício dos seus ministérios. Concluindo, de forma lapidar – a tarefa da Pastoral de
Jesus Cristo socorre-se das missões de ensinar, santificar e reger, sempre aliadas à concretização
ministerial dos padres. Resumindo, a Teologia Pastoral é, então, considerada uma ciência aplicada, com
premissa nas ideias teológicas desenvolvidas pela dogmática, evidenciando as conclusões válidas para a
vida e acção da Igreja.
Para além do esquema dos manuais já abordados, e não se conformando com os próprios, dá-se uma
mudança que se prende com os problemas da sociedade e no diálogo pela resolução com a Igreja. É
aqui que se altera a base do método teológico da Teologia Pastoral, iniciando-se, em certa medida, a
Pastoral de Conjunto, partindo-se da situação concreta das cidades. Claramente, esta renovação
posterior deu-se pela escuta da situação histórica e pelo diálogo renovador com a Igreja. Inicialmente
os tratados da Pastoral estavam destinados ao cuidado das almas e centravam-se nos carateres visíveis
da Igreja. Apesar destas novas ideias não serem propriamente reconhecidas, no campo da eclesiologia
e no campo da pastoral, não se pode dizer que não renovaram, em parte, o panorama existente.
O período entre as duas guerras impôs uma profunda reflexão pastoral. Salienta- se, ainda,
que foi graças à Teologia Pastoral que se deu uma renovação na Eclesiologia. De facto, entre as duas
guerras mundias, deu-se uma grande criatividade eclesiológica com a lembrança do conceito de Igreja
como corpo místico de Cristo, sublinhando-se uma pastoral mais eclesial e menos individualista,
construindo uma acção pastoral do tipo comunitário. Assim, a Igreja como corpo de Cristo continua a
mediação da salvação e a sua acção pastoral só é autêntica quando se respeita tanto a parte de Deus
como a parte do homem. Tanto a concepção eclesial como a pastoral encontram em Cristo o
paradigma das suas estruturas, porque só no encontro do divino com o humano (ontologia de Cristo) é
que a Igreja encontra a raíz de uma teologia pastoral na sua totalidade, e não redutora, conferindo
sempre um caráter dinâmico, e não estático a este estudo.
Neste tempo, revalorizou-se muito a tarefa de todo o povo de Deus e a Teologia Pastoral
começou a ser vista como sujeito de toda a acção pastoral da Igreja, englobando todos os baptizados,
rompendo com o clericalismo presente desde o nascimento da Teologia Pastoral. Contudo, apesar da
renovação eclesiológica não ter durado muito tempo, foi neste excerto temporal que se distinguiu o
conceito de Pastoral de Conjunto no âmbito da acção eclesial.
Na verdade, a Pastoral de Conjunto surgiu em ambiente francês. Teve por base o desenvolvimento de
uma teologia de missão, que nestes anos foi a fonte de uma renovada acção pastoral e que usufruiu da
renovação eclesiológica acontecida nos anos anteriores. Assim, surge a Pastoral de Conjunto fruto de
um processo gradual e, em 1961 em Friburgo deu-se o primeiro Congresso Internacional de Pastoral.
Com isto deu-se importância à coordenação dos agentes da pastoral e à formação de novos agentes
em novas estruturas, e à direcção da acção sobre conjuntos humanos concretos, no âmbito
sociológico e, até, geográfico.
Finalmente, a eclesiologia da Igreja, enquanto sacramento universal de salvação, e a Teologia Pastoral,
da Pastoral de Conjunto, dependem-se mutuamente. Com efeito, é possível dizer que nesta época
surgiram uma série de paralelismos entre a doutrina eclesiológica e a doutrina pastoral, ou seja, ambas
são resultado da mesma altura e de uma autocrítica profunda que a Igreja se fez tanto na sua doutrina
como na sua acção, até em domínio sacramental, evidenciando, na acção da Igreja, uma concepção
mais integral e menos parcial- territorial (porque a acção da Igreja estava radicada nas paróquias e
dentro delas o culto ocupava o lugar central).
Concluindo, o tema doutrinal da sacramentalidade da Igreja como a Pastoral da acção conjunta evadiu-
se do seu tempo para começar a ser uma doutrina assumida pela comunhão e de prática partilhada.
(Outra forma de ver a questão)
A Teologia Pastoral nasce e desenvolve-se num ambiente de forte clericalismo, e por meio de
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uma reforma universitária levada a cabo por Maria Teresa de Áustria, logo, estaria ao serviço dos
interesses do Estado. Tal nascimento, no século XVIII, foi motivado por três fatores históricos: uma
conceção teológica pós-tridentina fortemente hierárquica; o josefismo – por meio do qual o império
austríaco pretendia subjugar a Igreja ao seu serviço – e a decadência das ciências teológicas.
Da Reforma dos estudos levada a cabo por Rautenstraucht, da Faculdade Teológica de Praga,
surge a pastoral com uma entidade própria, e essencialmente dirigida aos alunos do quinto ano de
Teologia. Tinha como objetivo o uso dos conceitos teológicos para a cura animarum, e portanto, uma
razão de ser pragmática. Este aspeto acabaria posteriormente por colocar a Teologia ao serviço de um
Estado absolutista onde o sacerdote era entendido como um funcionário estatal.
No século XIX sobressaem orientações renovadoras de uma nova eclesiologia pensada por J. A.
Möhler. Assiste-se à reforma da conceção pastoral em torno de dois eixos. Uma orientação bíblico-
teológica que vê na Sagrada Escritura a base da teologia pastoral. E uma orientação eclesiológica
proposta por A. Graf, da escola de Tubinga. Este tentou fundamentar cientificamente uma teologia
pastoral católica, e entendeu a Teologia prática como a parte da teologia que se ocupa da
conservação da Igreja.
Nesta época, assinalada por uma unidade entre eclesiologia e pastoral, o conceito de Igreja era
essencialmente marcado por um cariz hierárquico e por reações de tipo apologético. A pastoral
acreditava possuir os meios para o funcionamento da sociedade.
Por sua vez, os manuais de pastoral, contendo visão eclesiológica que derivara do
desenvolvimento do I Concílio do Vaticano, tinham na sua base duas ideias: a tarefa pastoral de Jesus,
continuava por meio da Igreja e dos seus pastores; e a cura animarum era entendida como
concretização dessa tarefa pastoral de Cristo, bom pastor. Tais manuais, procurando responder a
factos concretos, reduziam-se apenas a conselhos pastorais.
Na eclesiologia de então, a hierarquia e a figura do pastor era o tema de destaque. Como
consequência surgiram, como tendências pós conciliares uma preocupação excessiva com o tema da
instituição, o uso de um método escolástico no tratamento das ideias eclesiológicas e pastorais e o
desenvolvimento do atuar eclesial sem se ter em conta a sociedade.
A nova reflexão teológica e pastoral do período entre guerras trouxe repercussões tanto pastorais
como teóricas. Destacaremos apenas três: A insuficiência dos manuais para a ação da Igreja, uma vez
que esta entra em contacto com a realidade, procede à criação de institutos de pastoral, e passa a
publicar revistas de pastoral. A repercussão da pastoral na teologia do Corpo Místico – com
influências de Noppel e Arnold – por meio da qual se assiste a um despertar eclesiológico em torno
do conceito de Igreja como Corpo místico de Cristo, e portanto, com base numa pastoral mais eclesial
e menos individualista. E, por último, a relação entre eclesiologia e pastoral na teologia do Corpo
místico, em torno da qual se desenvolveram ideias eclesiológicas e pastorais. Tal renovação leva a
Teologia pastoral a ver a Igreja como o sujeito de toda a ação eclesial.
A renovação teológica e suas repercussões pastorais práticas, devem-se sobretudo à Encílcica
Mystici Corporis, que marca o ponto auge do desenvolvimento da eclesiológico e pastoral. Nasce em
França o movimento pastoral, que vem permitir a união profunda entre teoria e prática. Para além da
reflexão pastoral, surgem também estruturas e técnicas pastorais para responder à ação
evangelizadora da Igreja: tais como o Movimento dos Padres Operários e o Movimento da Renovação
Paroquial. Por sua vez, a Pastoral de conjunto passou a basear-se no estudo da sociedade e na
descoberta da Igreja diocesana como unidade pastoral. No que diz respeito às relações da pastoral
com a eclesiologia sacramental, a ação da Igreja começou a ser entendida numa conceção mais integral
e menos territorial, o que se deveu à ação dos movimentos apostólicos especializados, por meio dos
quais a eclesiologia sacramental se uniu ao povo de Deus.
De entre os problemas que se levantam hoje, no âmbito de uma Teologia prática, salienta-se o da
evangelização no meio da nossa sociedade. Em jeito de reflexão pessoal questiono-me acerca da
eficiência do nosso anúncio e testemunho cristão, será que através de tantos esforços a Igreja e
sociedade reúnem condições para chegarem a ter um encontro efetivo? Recordemos a importância
vital de fazer uma Teologia em em sintonia com a sociedade, visto que é ela quem harmoniza não só a
ação da Igreja mas também a realidade da vida.
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REFERÊCNCIAS GUERREIRA, Júlio A. Ramos – Teología Pastoral. Madrid: BAC, 1995.
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O Concílio Ecuménico Vaticano II
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Resumo:
O Concílio Vaticano II é marcado, todo ele, por uma índole pastoral. Tal fica notório, desde logo, na
intenção de João XXIII de convocar um concílio pastoral bem espelhada no discurso de abertura do
Concílio “Gaudet mater Ecclesia”: não é convocado para mudar a doutrina, tem a preocupação de
apresentar a doutrina ao “mundo moderno”, tem um carácter predominantemente pastoral, onde a
«doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a
responder às exigências do nosso tempo», há uma opção por propor ao mundo a doutrina e não por
condená-lo…
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes espelha bem também essa índole pastoral do Vaticano II,
debruçada sobre a ação da Igreja que deve estar ordenada a fecundar todas as culturas com a força do
evangelho, fazendo-se não uma abordagem mais “leve” da doutrina, mas uma abordagem mais situada e
encarnada, por isso mais “verdadeira”. «É chamada “pastoral”, porque, apoiando-se em princípios
doutrinais, pretende expor as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. […] a matéria, tratada
à luz dos princípios doutrinais, não compreende apenas elementos imutáveis, mas também transitórios».
O atributo “Pastoral” não significa que se refira aos deveres dos pastores (só os ordenados). É antes a
compreensão basilar a partir da qual se entende a relação entre doutrina, os princípios e as referências, e
ao modo de assumir a realidade histórica. Elemento divino, Revelação e Graça, e elemento natural, a
humanidade com sua história e cultura, devem andar de mãos dadas. Os membros da Igreja coincidem
com os indivíduos do seu tempo, e com eles partilham a mesma experiência humana: «As alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que
sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não
há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (GS1). A identidade
cristã implica também uma postura missionária, de abertura ao mundo para, aí, lhes oferecer a experiência
salvífica de Deus. Os dados da Revelação são tratados não como um dado pressuposto, mas como um
tesouro que a Igreja possui e que oferece a todas as “pessoas de boa vontade”. Estabelece, por isso, um
diálogo, entre crentes e outras pessoas, sobre a situação concreta da sua história. O método caracteriza-se
por partir de situações fenomenológicas concretas, para chegar indutivamente aos dados da Revelação e
ao seu centro, que é Jesus Cristo. A metodologia não é estritamente indutiva nem dedutiva. Parte de cada
situação humana concreta, que coloca questões, à qual oferece uma leitura crente da realidade. A oferta
desta leitura à humanidade é, por si, também um exercício de dedução do acontecimento supremo da
Revelação.
JMP
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3.1. Contextualização
- A sair de duas guerras mundiais;
- Influência dos regimes totalitários, do anticlericalismo e da divisão política e
económica europeia em dois blocos;
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╚► Diante disto, a Igreja (sociedade perfeita, hierarquizada, clericalizada,
institucionalizada, juridicista ) sentia-se afetada e na urgência de se renovar.
Primeiros passos do Concílio foram:
- Retorno às fontes da Tradição;
- Recuperação dos fundamentos teológicos da Igreja, enquanto Corpo Místico de Cristo
(Escola de Tübinga) e Povo de Deus;
- Olhando a realidade social num horizonte de comunhão corresponsável da Igreja com
as realidades terrestres, em diálogo com a cultura envolvente e com a globalidade da
realidade; numa atenção particular aos «sinais dos tempos» (GS 4. 11);
- Reconhecimento da dignidade e do acesso à salvação das Igrejas separadas, bem como
de todos os filhos de Deus, mesmo os não batizados e independentemente do serviço
ministerial que cada um é chamado;
- Diálogo com outros saberes, nomeadamente com as ciências humanas e sociais
(antropologia, psicologia e sociologia).
3.1.1. Recordar João XXIII
- A intenção de João XXIII foi convocar um concílio pastoral;
- Discurso de abertura do Concílio “Gaudet mater Ecclesia”:
a) Não há a menor intenção de mudança doutrinária, mas sim de que «o depósito
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz». O Concílio
não é convocado para mudar a doutrina, mas para a procurar compreender melhor, para
que se possa comunica-la com o novo contexto social que se vive;
b) A preocupação de apresentar a doutrina ao “mundo moderno”, olhando «para o
presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno,
que abriram novos caminhos ao apostolado católico»;
c) Carácter predominantemente pastoral, onde a «doutrina certa e imutável, que deve ser
fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do
nosso tempo». Embora não haja mudanças doutrinais, há uma releitura e reformulação,
que não uma mera repetição das doutrinas;
d) Há uma opção por propor ao mundo a doutrina e não por condená-lo: «a esposa de
Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga
satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que
renovando condenações».
e) O aggionarmento: «com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da
colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem
realmente a alma para as coisas celestiais».
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- A partir da publicação da encíclica Pacem in Terris, depois da primeira sessão
conciliar, apresenta um método de reflexão (sobre a convivência humana, as relações
entre os poderes públicos e os indivíduos, as relações entre os Estados e, por fim, o
estabelecimento de uma comunidade mundial) feita não a partir do dogma, mas a partir
da consciência da natureza humana. A reflecção não deriva da Revelação, mas tem nela
uma clara explicitação. Reflete ainda sobre a presença dos cristãos nas instituições civis
e o dever que têm de participar na vida pública colaborando com a sociedade,
pressupondo o necessário diálogo. Sugere que é através da participação dos cristãos que
a sociedade é cristianizada.
3.1.2. Paulo VI
- Com a encíclica Ecclesiam Suam, influenciou o Concílio:
► Um concílio pastoral. O que significa?
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes:
- Pastoral: Ação da Igreja deve ser fecundar todas as culturas com a força do evangelho;
- Doutrinário: Não é uma abordagem mais “leve” da doutrina, é antes uma abordagem
mais situada e encarnada, por isso mais “verdadeira”;
«É chamada “pastoral”, porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expor as
relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. […] Na primeira parte, a Igreja
expõe a sua própria doutrina acerca do homem, do mundo no qual o homem está
integrado e da sua relação para com eles. Na segunda, considera mais expressamente
vários aspetos da vida e da sociedade contemporâneas, e sobretudo as questões e os
problemas que, nesses domínios, padecem hoje de maior urgência. Daqui resulta que,
nesta segunda parte, a matéria, tratada à luz dos princípios doutrinais, não compreende
apenas elementos imutáveis, mas também transitórios».
- “Pastoral” não se refere aos deveres dos pastores (só os ordenados). É antes a
compreensão basilar a partir da qual se entende a relação entre doutrina, os princípios e
as referências, e ao modo de assumir a realidade histórica.
╚► No Concílio emergiram duas correntes opostas:
- Uma com postura doutrinal, conservadora, normativa e defensiva.
Preocupação de fidelidade à doutrina cristã, que se diz em fórmulas precisas e
definitivas, que se defende o mais possível das contingências das vicissitudes da vida
humana, para se tornar uma referência segura
- Outra com carácter mais querigmático, propositivo e dialogal.
Preocupação pelo anúncio da mensagem evangélica, que para chegar a todos deve ser
expressa em fórmulas entendíveis por todos e usando linguagens contemporâneas.
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╚► Necessidade de manter unidos estes dois aspetos, distintos e inseparáveis, o
doutrinal e o pastoral:
- Para os unir, Paulo VI no início da 2ª sessão do Concílio:
«a doutrina cristã deve ser não só uma verdade, objeto do estudo teórico, mas palavra
geradora de vida e ação; nem a disciplina da fé deve limitar-se apenas a condenar os
erros que a ofendem, mas tem de chegar a proclamar os ensinamentos positivos e vitais
em que ela é fecunda. […] não nos compete defender só este precioso tesouro da
doutrina católica, como se nos interessássemos apenas pela antiguidade; mas, com
alegria e sem temor, empenhemo-nos no trabalho que a nossa época exige».
3.1.3. Critérios teológicos:
- A Igreja como mistério (“Corpo Místico de Cristo”)
Inserida no mistério trinitário e na história da salvação (cf. LG 4; AG 2-5), sendo fruto e
gérmen do Reino de Deus (cf. LG 9; DV 17), templo do Espírito Santo (cf. LG 6), corpo
de Cristo (cf. LG 7-8), povo de Deus (cf. LG 9-13) e Sacramento universal de unidade
salvífica (cf. LG 9. 48).
- A Igreja como Povo de Deus
Inserido na história humana, investida numa missão universal e cósmica, que continua a
tríplice dimensão da missão de Cristo sacerdote, profeta e rei. Constitui-se em Igrejas
locais, destinadas ao serviço de todos os povos (cf. LG 9-14.17. 48B; AG 5-9.35-36).
Estabelece relações com as Igrejas comunidades não católicas (cf. LG 15; UR), com os
não cristãos e os não crentes (cf. LG 16; GS 19-21) e, de modo mais amplo, com o
mundo contemporâneo (cf. LG 16; GS).
- A Igreja está alicerçada nos diversos carismas e ministérios
Quer hierárquicos (cf. LG 18-29; CD 12-18; PO 4-6), quer laicais (cf. LG 30- 37; AA 2-
8). Todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum.
- Todos os membros da Igreja são vocacionados à santidade (cf. LG 39-42)
Que depois se concretiza em diferentes formas de vida, consoante a vocação e os
carismas de cada pessoa e conjunto de fiéis (cf. LG 43-47).
- A Igreja é escatológica
A sua unidade com a comunhão dos Santos (cf. LG 48-51), de modo especial com
Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja (cf. LG 52- 69).
- A Igreja e o seu Magistério são servos da Palavra e da Tradição
Estão sob, e não acima, da palavra de Deus, além de que a tradição eclesial que nos
chega dos Apóstolos não é uma realidade estanque, antes dinâmica e progressiva. A
«tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito,
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progride a perceção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da
contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da
íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da
pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da
verdade» (DV8).
- A Igreja é fruto e sinal do Reino de Deus, que é maior do que ela.
«A Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus
preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e
instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o
princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela
consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória» (LG 5).
- O ministério da Igreja (o dever de propagar a fé e a salvação de Cristo) é mais importante
que a sua estrutura jurídica/institucional.
É atribuída a prioridade ao mistério da Igreja, sacramento universal e salvação, que
peregrina no mundo rumo à perfeição escatológica, diante da sua realidade institucional,
que se manifesta nas estruturas societárias. O aspeto humano e visível da Igreja tem o
valor de sinal e instrumento, sempre imperfeito e perfectível, em face da misteriosa
realidade divina.
- A hierarquia da Igreja está ao serviço da santidade do Povo de Deus (fiéis e pastores).
«Ainda que, por vontade de Cristo, alguns são constituídos doutores, dispensadores dos
mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à
dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo
de Cristo. […] os pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço
uns aos outros e aos fiéis: e estes deem alegremente a sua colaboração aos pastores e
doutores. […] aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado ministério, apascentam a
família de Deus ensinando, santificando e governando com a autoridade de Cristo, de
modo que o mandamento da caridade seja por todos observado» (LG32).
- A Igreja transcende a história humana ao mesmo tempo que faz parte dela.
«Destinada a estender- se a todas as regiões, ela entra na história dos homens, ao mesmo
tempo que transcende os tempos e as fronteiras dos povos» (LG9).
3.2. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes
- Quem evangeliza é a comunidade e não os sujeitos individuais;
- Os membros da Igreja coincidem com os indivíduos do seu tempo, e com eles
partilham a mesma experiência humana: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo;
e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu
coração» (GS1).
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- Pertencer à Igreja não afasta o crente do mundo, antes o consciencializa e
compromete.
- A identidade cristã implica também uma postura missionária, de abertura ao mundo
para, aí, lhes oferecer a experiência salvífica de Deus.
- Não parte de uma fé que se vai explicando e da qual se deduzem ideias teológicas e
consequências práticas (ao contrário do habitual). O Concílio se quer dirigir-se não
apenas aos crentes mas a todas as pessoas “de boa vontade”, daí que aquele método não
é eficaz pois contém pressupostos que não são aceites por todos.
- Os dados da Revelação são tratados não como um dado pressuposto, mas como um
tesouro que a Igreja possui e que oferece a todas as “pessoas de boa vontade”.
- Vê no ateísmo, muitas vezes, uma consequência da vida dos crentes. «Os crentes
podem ter tido parte não pequena na génese do ateísmo, na medida em que, pela
negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da doutrina, ou ainda
pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes
esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião» (GS 19).
- Estabelece um diálogo, entre crentes e outras pessoas, sobre a situação concreta da sua
história. O método caracteriza-se por partir de situações fenomenológicas concretas,
para chegar indutivamente aos dados da Revelação e ao seu centro, que é Jesus Cristo.
- A metodologia não é estritamente indutiva nem dedutiva. Parte de cada situação
humana concreta, que coloca questões, à qual oferece uma leitura crente da realidade. A
oferta desta leitura à humanidade é, por si, também um exercício de dedução do
acontecimento supremo da Revelação.
- Alguns antecedentes que importa conhecer são a “pastoral de conjunto” e os
movimentos da Ação Católica que, com o famoso “ver, julgar e agir”, desenvolveram
metodologias de análise da realidade e de compromisso eclesial, com a sua revisão de
vida.
3.3. Sinais dos Tempos
- Nasce teologicamente da atenção constante que o Evangelho tem para com a história
(Mt 16, 1-4; Mc 8, 11-13; Lc 12, 54-56).
- Lembra a necessidade que o crente tem de perscrutar constantemente o mundo
envolvente, para o compreender e aí ver a incisão da força renovadora do Evangelho.
- Capacidade de olhar a realidade em profundidade e ver nela o essencial.
- Objetivo de provocar os cristãos a saberem olhar para as mudanças do mundo
contemporâneo, para poderem anunciar de novo o Evangelho de Jesus Cristo, de modo
que este possa ser compreendido.
- João XXIII propõe o otimismo evangélico para saber corresponder aos momentos de
crise da Igreja e da sociedade, com uma renovada força espiritual que fosse capaz de
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reconhecer as potencialidades presentes nos “homens de boa vontade” e a constante
ação do Espírito Santo (cf. Humanae Salutis 4).
- Paulo VI fala de «tudo provar e de tomar para si o que é bom».
- Na Gaudium et Spes: «é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos
tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo a
compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu
carácter tantas vezes dramático» (GS 4).
- Reconhecimento dos sinais externos, que provocam a Igreja em duas vertentes: a
primeira no âmbito da liberdade religiosa; e a segunda, no reconhecimento dos diversos
saberes, para poder anunciar o Evangelho de modo compreensível.
- Procurar no mundo sinais da vontade e presença de Deus: «O Povo de Deus, movido
pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito do Senhor, o qual enche o
universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e aspirações, em
que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os verdadeiros sinais da
presença ou da vontade de Deus» (GS11).
- É um dever de todo o Povo de Deus, sobretudo dos teólogos e pastores: «É dever de
todo o Povo de Deus e sobretudo dos pastores e teólogos, com a ajuda do Espírito
Santo, saber ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, e julgá-
las à luz da palavra de Deus, de modo que a verdade revelada possa ser cada vez mais
intimamente percebida, melhor compreendida e apresentada de um modo conveniente»
(GS 44).
- Surge um novo modo de a Igreja se relacionar com a história humana:
a) A Igreja dispõe-se a acompanhar todos aqueles que querem conhecer a vontade de
Deus, para bem da humanidade. A Igreja oferece-se o seu específico, a experiência da
fé, consciente de que a ação do Espírito Santo, que a guia, age também fora dos seus
limites institucionais (cf. LG 8).
b) Ela deixa-se ajudar pelos homens e mulheres de boa vontade para ser capaz de ler
atentamente os fenômenos humanos e as tensões que se vêm a criar na história, bem
como para encontrar formas de linguagem apropriadas a formular a mensagem de Cristo
(cf GS44).
c) A Igreja exercita, assim, a sua função profética, pois empenha-se na leitura dos sinais
dos tempos e a emitir o seu juízo de fé. O julgamento/juízo será sempre na perspetiva da
salvação, nunca de condenação.
- Eles capacitam também o não-crente para um compromisso coerente, para que a única
verdade sobre o homem e sobre a criação possa finalmente ser observada plenamente. O
não-crente, ao agir em conjunto com o crente, poderá ser provocado a uma pergunta
ulterior que poderá desaguar na questão sobre Deus e sobre a opção de fé cristã.
- Alguns exemplos: santidade; respeito pela liberdade religiosa; respeito pela dignidade
humana; o martírio; as tensões culturais, para uma maior humanização; e, por fim, a
paz.
João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira
João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira
- Critérios gerais para identificar os anti-sinais: o da dignidade humana, que o favorece
o reconhecimento de todas as formas que comportam a liberdade e a promoção de cada
pessoa: o da justiça, que deve ser considerado como o ponto mínimo e indispensável da
fraternidade, pois cada pessoa é colocada em condições de viver com a dignidade
própria dos humanos.
- Critérios específicos, que derivam da leitura cristológica e eclesial dos crentes:
glorificar a Cristo; edificar a Igreja e recapitular tudo em Cristo.
3.4. Acontecimento em rede
- As organizações em rede caracterizam-se por serem organizações bem-sucedidas,
capazes de gerar conhecimentos e processar informações com eficiência.
- Não assenta num sujeito, individual ou coletivo, mas sim numa cultura de rede,
composta por muitas culturas, muitos valores e muitos projetos.
- As novas tecnologias da informação e da comunicação ao mesmo tempo que
possibilitam o surgimento da empresa em rede, obrigam, de certa maneira, a aderir a
esta nova cultura que acaba por se impor.
- Manuel Castells descreve a sociedade contemporânea como uma sociedade
globalizada, centrada no uso e aplicação de informação e conhecimento, cuja base
material está a ser aceleradamente alterada por uma revolução tecnológica concentrada
nas tecnologias da informação, com uma consequente mudança nas relações sociais, nos
sistemas políticos e nos sistemas de valores.
- A informatização das relações entre os indivíduos, e destes com o mundo à sua volta, é
a característica que mais qualifica a cultura contemporânea.
- A rede, percebe-se, está definida a partir do programa que determina os seus objetivos
e regras de funcionamento. O programa, por sua vez, é composto por códigos que dizem
o modo de funcionar e os critérios para determinar o funcionamento, quer o sucesso
quer o fracasso. Para se estar incluído, ter sucesso, importa observar os códigos do
programa que configuram a rede.
- A cooperação acontece quando os códigos utilizados são compatíveis entre si,
possibilitando a comunicação, que pede também a conexão com os seus nós. A
cooperação acontece quando há comunicação. Dá-se a competição quando uma rede
supera outra, por ser mais eficaz na prossecução dos seus fins ou por cooperar melhor
com outras redes. A competição assume uma configuração destrutiva quando consegue
alterar a outra rede.
- As redes são formas organizacionais mais eficazes, na medida em que assumem três
desafios: flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de auto-reconfiguração. As
sociedades sempre se organizaram em rede, mas as capacidades técnicas não permitiam
que essa circularidade fosse suficientemente rápida para que o “funcionamento em
rede” fosse eficaz, tornando necessária uma organização hierárquica, vertical.
João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira
João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira
- Aos estarmos num tempo diferente, pode surgir a tentação, por medo ou excesso de
zelo, de voltar a uma posição pré-conciliar, dado que os nossos tempos já não são os do
Concílio. Nada mais errado! Importa, isso sim, ver as dinâmicas de alegria e de
esperança que surgiram naquela Primavera e, procurando as forças que geraram aquele
acontecimento, redescobrir o seu estilo para o viver em tempos diferentes.
- Seguindo Marcelo Gonzales, importa reconhecer, potenciar e, se for caso disso, recriar
diferentes “nós” desta grande rede, entendendo por rede a articulação em diferentes
espaços de troca. Aqui, há a cooperação, porque assumem o mesmo código, de: a)
Existências pessoais com a sua especificidade, biografias, representatividade,
experiência, sabedoria, formação profissional; b) Experiências espirituais, pastorais e
institucionais realizadas em várias áreas do encontro entre o Evangelho e a cultura; c)
Grupos e instituições eclesiais, académicas, culturais e políticas; d) Figuras de partilha;
e) Capitais intelectuais de tradições reflexivas, escolas teológicas, conceitos, abordagens
e metodologias de pesquisa.

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Das origens da Teologia Prática/Pastoral ao Vaticano II

  • 1. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira 2021 João Miguel Pereira Das origens da Teologia Pastoral ao Vaticano II Síntese a partir de: Luís F. Rodrigues, Teologia Prática Fundamental, E a Palavra continua a encarnar (Braga: 2020) Anexos: Diversos autores. A memória histórica da teologia prática ______________________________________________________________________ Resumo: A Teologia Pastoral tem as suas origens, se quisermos, desde a época apostólica e patrística. Nota-se, no entanto, o seu desenvolvimento, quando se procurou estabelecer o seu estatuto universitário, justificando tanto o seu carácter teológico como científico. Em 3 de outubro de 1774 a imperatriz Maria Teresa de Áustria aprova a reforma dos estudos teológicos, realizada pelo canonista e abade beneditino Stephan Rautenstrauch, inspirados na Sagrada Escritura, na Patrística e na História da Igreja. Os temas práticos constituem um apêndice dos estudos teológicos e com um intuito meramente aplicativo daqueles. Objeto de estudo: A TP surge focada apenas na cura animarum, votado portanto para ministrar um ensino daqueles que são os deveres do ofício pastoral dos pastores ordenados (influência da visão hierárquica de Igreja pós-tridentina). Consegue-se no entanto colocar a teologia em contacto com a sociedade, ainda que ela seja vista como serva do Estado (o josefinismo do império austríaco que, ao ser absolutista, quis colocar a Igreja ao seu serviço, como meio de manter o poder). A reforma das ideias eclesiológicas da escola de Tübingen teve uma forte influência no âmbito da TP com o surgimento de uma eclesiologia que percebe a vida concreta como conceito fundamental para Igreja, vida essa que depende do Espírito Santo em relação com o Verbo incarnado. Aparece a noção do Reino de Deus. A TP posiciona-se agora no âmbito das disciplinas estritamente teológicas, com o objetivo de refletir sobre a conservação, desenvolvimento e realização da Igreja no tempo, a sua autoedificação. Deste modo, a TP deixa de ser uma disciplina que se estuda na fase final do curriculum, apenas para aplicar aquilo que se aprendeu previamente, e passa a ser a disciplina teológica que estuda a práxis eclesial. Segue-se a época dos manuais de teologia pastoral, muito marcados pelas ideias eclesiológicas do Vaticano I, que seguem uma abordagem sobretudo jurídica e de descrição de técnicas pastorais. A TP é entendida como uma ciência meramente aplicativa que assume as reflexões da dogmática a partir das quais retira conclusões para aplicar à vida pessoal e à ação da Igreja. Há um ahistoricismo, pelo que se desenvolvem doutrinas sobre o ser e o agir da Igreja sem ter em conta a sociedade com a qual deveriam dialogar e sem que a história possa fazer à Igreja as suas próprias perguntas. A TP está centrada na figura do pastor, claramente hierarquizado, a quem cabe a tarefa de continuar na Igreja a pastoral de Jesus Cristo. Segue-se depois a época em que se percebe que estes manuais não dão resposta às necessidades da Igreja. A sua linguagem, as problemáticas tratadas, a centralização na figura do pároco, e o não responder às questões emergentes dos âmbitos urbanos e industriais, acabou por ditar o afastamento do uso destes manuais. Surge uma reflexão que acolhe o contacto com a realidade social das comunidades cristãs, inspirada no surgir de movimentos e experiências inovadores como é a Ação Católica (ver, julgar e agir), preocupada em pensar novos caminhos que, quando resultam, são divulgados nas revistas de divulgação pastoral.
  • 2. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira Dá-se o surgimento dos fundamentos do Vaticano II: Contantin Noppel situa a reflexão da teologia prática em dois campos muito específicos: a eclesiologia do Corpo místico e o apostolado dos leigos na vida da Igreja. Constrói uma ação pastoral de tipo comunitário, abandonando-se uma reflexão centrada apenas no pastor como cura animarum, guia da comunidade. Pio XII, e na Encíclica Mystici Corporis (1943), dá um importante contributo para a assunção daquelas opções teológicas dizendo que o conceito de “corpo místico de Jesus Cristo” resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres frequentemente se ensina. O objeto da TP é agora a edificação do Corpo místico, o que valoriza o apostolado dos fiéis leigos e um debruçar-se sobre as reais questões das comunidades. A Igreja, todo o Povo de Deus, percebe-se chamada à missão, o que a leva a perceber a necessidade de romper com esquemas antigos, fechada sobre si mesma, e dialogar com o mundo, para que mundo e Igreja não caminhem separadamente, mas que encontrem pontos de encontro. Para conhecer bem a realidade a TP tem de lançar mão das ciências sociais e humanas, sobretudo a sociologia, antropologia e a psicologia. Foram surgindo os conceitos eclesiológicos de Povo de Deus, de eclesiologia de comunhão e de Igreja como sacramento universal de salvação. Estas ideias acabariam por ter a sua plena consagração no Concílio Ecuménico Vaticano II. A Teologia Pastoral tem agora como objeto de reflexão toda a ação evangelizadora da Igreja (não só os pastores ordenados mas todos os batizados) no contacto com a época histórica e o contexto cultural em que está inserida. JMP ______________________________________________________________________ - Far-se-á um percurso histórico da disciplina procurando, forma sintética, conhecer as diferentes conceções de pastoral e de prática que foram surgindo, na relação direta com a reflexão teológica. - O nascimento da TP, em 1215, quando o Concílio de Latrão manda que haja um perito que ensine o clero como fazer o trabalho pastoral e a confessar. - Distinção que importa fazer entre teologia pastoral e ação pastoral. A primeira é a reflexão teológica sobre a ação da comunidade eclesial, em vista de um projeto orgânico, composto por princípios teológicos e opções metodológicas, orientando a práxis da e a mudança na comunidade eclesial. A ação pastoral, por seu turno, é a operacionalização concreta e direta da comunidade eclesial, nas diversas situações de vida. 2.1. Primeiros passos - O nascimento da TP não foi propriamente o melhor. Nasce num contexto que podemos dizer de “cristianismo de estado”, que procura dar à ação da Igreja um valor de utilidade pública, para cumprir aquilo que eram os objetivos do Estado. - Em pleno contexto do Iluminismo, a ciência pastoral vai-se desenvolvendo como disciplina autónoma em diversos locais, a começar pela Europa central. - Concílio de Trento (1545-1563), que não aborda expressamente o tema da Igreja, emanada uma dogmática que determinada um desenvolvimento posterior da eclesiologia católica e da consciência dos fiéis que afetará a compreensão da TP. - Julio Ramos, que analisa esta época a partir das diversas ideias eclesiológicas que estavam subjacentes e que acabaram por influenciar a TP nos primeiros tempos: a unilateralidade visível e hierárquica da Igreja pós-tridentina que, na polémica antiprotestante, se focou apenas em alguns aspetos parciais da doutrina eclesial; o josefinismo do império austríaco que, ao ser absolutista, que colocar a Igreja ao seu
  • 3. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira serviço, como meio de manter o poder; e, por fim, a decadência dos estudos teológicos que, devido às polémicas de onde tinha vindo, apenas se ia preocupando com os temas jurídicos e canónicos, com finalidades estritamente apologéticas. 2.1.1. Franz Stephan Rautenstrauch (1734-1785) - Surge a urgência de estabelecer o estatuto universitário da TP, justificando tanto o seu carácter teológico como científico. - Maria Teresa de Áustria, já em 1752, insistia que os estudos de teologia estivessem mais inspirados na Sagrada Escritura. - Em 3 de outubro de 1774 a imperatriz aprova a reforma dos estudos teológicos realizada pelo canonista e abade beneditino Stephan Rautenstrauch. - Os temas práticos constituem, aqui, um apêndice dos estudos teológicos. - Acabou por se considerar apenas alguns aspetos parciais da TP, cuja tarefa principal era ministrar um ensino daqueles que são os deveres do ofício pastoral. - Esta reforma dá-se num contexto muito específico, que podemos sintetiza em três aspetos: a unilateralidade visível da hierarquia da teologia pós-tridentina, que se centrou apenas em alguns aspetos da doutrina tradicional; o josefinismo do império austríaco; e, por fim, a decadência das ciências teológicas. - O estudo da teologia está sob a alçada do Estado, para que o estudo da teologia seguisse orientação que desembocasse em opções úteis ao estado. - Embora surja no final dos outros estudos teológicos e com um intuito meramente aplicativo e focado apenas na cura animarum, colocou a teologia em contacto com a sociedade. - Este elemento é de suma importância, já que a partir daqui foi fundado o campo no qual a TP se desenvolveu até os nossos dias: a articulação da teologia com a realidade sociopolítica, cultural e eclesial. 2.1.2. Friedrich Schleiermacher (1768-1834) - Reflete sobre o estatuto da teologia, a sua organização interna e a sua função. Coloca as bases para uma compreensão moderna da teologia, articulando-a com a dimensão histórica que há que interpretar e regular ou regulamentar. - Compreende a teologia como uma “ciência positiva”, constituída pela sua relação a algo determinado e preexistente, que mais não é do que práticas preexistentes que postulam uma elaboração científica. - Conjunto das tarefas a que poderemos denominar “direção da Igreja”: compreende o governo da comunidade eclesial, a pregação, a liturgia e o ensino.
  • 4. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Embora todas as disciplinas teológicas sejam estudadas em referência à “direção da Igreja”, este é o tema mais específico da teologia prática. A sua missão é colocar em relevo as consequências das secções anteriores, sobretudo a histórica, na sua vertente dogmática ou sistemática. - O que importa é clarificar os métodos da ação corretos que permitam uma direção da Igreja que se oriente bem par ao governo das almas. - No seu nascimento, a TP foca-se muito a partir da figura do pastor, naqueles que são os seus deveres de ensinar, santificar e governar, e que é visto e percebido como um funcionário estatal, cuja função é fazer “bons cristãos” que seriam, então, bons cidadãos. - O método de estudo é meramente dedutivo, com forte acento pragmático, o que fez que em muitos casos, mais do que uma ciência, se abordasse esta questão como uma arte, dando bons conselhos e ajudando a desenvolver o jeito que cada um tinha para a pastoral. 2.1.3. Escola de Tübingen - A reforma das ideias eclesiológicas da escola de Tübingen teve uma forte influência no âmbito da TP. - Surge uma eclesiologia que percebe a vida concreta como conceito fundamental para Igreja, vida essa que depende do Espírito Santo em relação com o Verbo incarnado. - A ideia central é a noção do Reino de Deus. 2.1.3.1. Johann-Michael Sailer (1751-1832) - Representa a transição de uma teologia do iluminismo, baseada num antropocentrismo, para uma teologia do romantismo, baseada em uma ideia teocêntrica e numa colaboração na salvação do homem, que aceita uma visão comunitária e dinâmica da Igreja em harmonia com a Bíblia e os escritos patrísticos. - Orientação bíblico-teológica da TP. - Propõe o estudo prático das Escrituras como a principal tarefa da teologia pastoral, descrevendo-a como a preparação mais elevada e mais necessária para quem deve ensinar religião e guiar o povo. O estudo prático das Escrituras não permanece apenas na letra e nos ensinamentos particulares, mas abrange toda a vida do homem e entra em contato com a realidade do mundo e da história, visto que a Sagrada Escritura é, antes de mais, a história da salvação. - Só interessa a atividade do “pastor” e só esta realidade é considerada na teologia pastoral. - A Sagrada Escritura é a base do estudo da TP.
  • 5. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Não é necessário utilizar um cristianismo de conceitos, mas colocar diante dos ouvintes um Cristo vivo, atuante e histórico, e tornar os conceitos claros e evidentes ao longo da história. - A teologia prática tende a privilegiar claramente a pregação e a catequese, por cima das restantes ações pastorais. - A ação da Igreja deixa de designar apenas o conjunto das medidas destinadas a instruir, educar e edificar os fregueses, para passar a ser entendida como uma instância ao serviço do evento de salvação que se realiza entre Deus e a humanidade, isto é, como uma mediação salvífica. - O pastor é o colaborador ativo de Deus em favor da salvação dos homens. - Sailer passa de uma conceção subjetiva, baseada na teologia da experiência, para uma conceção objetiva centrada na história da salvação. 2.1.3.2. Anton Graf (1811-1867) - Foi influenciado pelas ideias de Johan Sebastian Drey e por Schleiermacher. - Anton Graf começa por se demarcar de duas conceções de TP, comuns no seu tempo: o empirismo que valoriza apenas a experiência e a prática; e a pura especulação. Para ele que não é possível elaborar uma teologia pastoral a priori, isto é, meramente a partir das práticas eclesiais. É imprescindível partir da essência da Igreja, unida à Cabeça que é Cristo. - Há a TP, não porque a teologia tenha um interesse sobretudo prático, mas existe a TP, que assume interesse pela prática, porque a Igreja tem por missão edificar-se a si mesma, ser prática. - A teologia prática não pode ser construída a partir da mera experiência, ou apenas dos princípios, mas no relacionamento equilibrado de ambos. Aqui dá-se uma síntese entre o específico do pensamento da Escola de Tübingen e o de Schleiermacher. - A TP posiciona-se agora no âmbito das disciplinas estritamente teológicas, com o objetivo de refletir sobre a conservação, desenvolvimento e realização da Igreja no tempo, a sua autoedificação. Deste modo, a TP deixa de ser uma disciplina que se estuda na fase final do curriculum, apenas para aplicar aquilo que se aprendeu previamente. Passa a ser a disciplina teológica que estuda a práxis eclesial. - A práxis eclesial e a reflexão eclesiológica estão profundamente unidas, influenciando- se reciprocamente. A novos conceitos de Igreja sucedem-se novos conceitos pastorais. 2.2. Primeiros intentos de sistematização - Finais do século XIX e primeiros anos do século passado surgiram uns manuais de teologia pastoral, muito marcados pelas ideias eclesiológicas do Vaticano I.
  • 6. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Uma das ideias que está muito presente é a de que a missão pastoral de Jesus Cristo, a sua obra salvífica, é continuada na Igreja através dos seus órgãos visíveis, estabelecidos pelo mesmo Cristo como sujeitos do governo pastoral. - Aplicada diretamente aos pastores ordenados da Igreja. - A abordagem que faziam das questões era sobretudo jurídica e de descrição de técnicas pastorais. - A TP é entendida como uma ciência meramente aplicativa. Assume as reflexões da dogmática, a partir das quais retira conclusões para aplicar à vida pessoal e à ação da Igreja. - É considerada como o desenvolvimento prático dos conteúdos estudados nas diversas disciplinas. - O Vaticano I (1869-1870) produziu duas constituições dogmática: a Dei Filius, sobre a fé católica; e a Pastor Aeternus, sobre o primado e infalibilidade papal, quando fala ex- cathedra, em assuntos de fé e de moral. - Depois dele, durante quase cinquenta anos, repetiram-se aquelas posições dogmáticas que originam uma estagnação da criatividade, dado que se limitavam a repetir as ideias do Vaticano I. - As tendências teológicas caracterizam-se por uma forte unilateralidade da hierarquia e autoridade na Igreja. O tema da hierarquia ocupa o estudo da eclesiologia, ao passo que a TP se centra na figura do pastor, claramente hierarquizado, a quem cabe a tarefa de continuar na Igreja a pastoral de Jesus Cristo. - A totalidade do povo de Deus e os leigos estão totalmente ausentes nos estudos de teologia. Se aparecem, é como sujeitos passivos e recetores da ação pastoral da Igreja. - Grassa o ahistoricismo, pelo que se desenvolvem doutrinas sobre o ser e o agir da Igreja sem ter em conta a sociedade com a qual deveriam dialogar e sem que a história possa fazer à Igreja as suas próprias perguntas. - Há uma excessiva preocupação com a salvaguarda da instituição eclesial, compreendida de modo muito unilateral. - A santidade das almas parece ser o resultado exato do colocar em prática de umas normas concretas sobre o funcionamento das instituições. - O povo de Deus, com o seu sensus fidei, foi tendo teólogos que continuaram a tentar caminhos diferentes, a ensaiar caminhos novos, que acabariam por ver a sua espera terminar com o Concílio Ecumenico Vaticano II: - Heinrich Swoboda (1861-1923) que, em 1909, edita um manual de teologia pastoral, pensado a partir da experiência das cidades e que tem como ponto de partida as situações concretas das paróquias citadinas. - No período que se seguiu ao fim da Primeira Grande Guerra (1914-1918), emergiu um novo furor na reflexão teológica e pastoral, o que acabou por evidenciar a insuficiência dos manuais. A sua linguagem, as problemáticas tratadas, a centralização na figura do
  • 7. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira pároco, e o não responder às questões emergentes dos âmbitos urbanos e industriais acabou por ditar o afastamento do uso destes manuais. - Há outros fatores que facilitaram impulsionaram esta renovação: o contacto com os textos das origens, fruto da renovação dos estudos bíblicos e patrísticos; o movimento litúrgico, o movimento catequético, o movimento ecuménico e os movimentos laicais, com destaque para a Ação Católica. - A Igreja entra em contacto com as diversas realidades sociais, fazendo a sua missão mais efetiva e real. Urge pensar novos caminhos e, quando resultam, partilhar estas descobertas: nascem as revistas de divulgação pastoral. - Do desabrochar da reflexão pastoral e das novas ideias eclesiológicas, graças ao maior contacto com a realidade social das comunidades cristãs, bem como do surgir de movimentos e experiências inovadores, emerge o ambiente favorável que há-de preparar o terreno que torna necessário o Concílio Ecuménico Vaticano II. 2.3. A eclesiologia a influenciar a pastoral - Centrar-se no conceito de Corpo Místico de Cristo. O recurso ao binómio esposo/esposa serve para manifestar o carácter pessoal da relação cabeça/corpo, Cristo- Igreja. - Contantin Noppel situa a reflexão da teologia prática em dois campos muito específicos: a eclesiologia do Corpo místico e o apostolado dos leigos na vida da Igreja. - Rompimento com as opões editoriais anteriores, muito focadas no guiar as comunidades, por parte do pastor (hodegética). - Constrói uma ação pastoral de tipo comunitário. Abandona-se uma reflexão centrada apenas no pastor como cura animarum, guia da comunidade. - Pio XII, e na Encíclica Mystici Corporis (1943), dá um importante contributo para a assunção daquelas opções teológicas dizendo que o conceito de “corpo místico de Jesus Cristo” resulta de quanto nas Sagradas Escrituras e dos santos Padres frequentemente se ensina. - Á expressão paulina (corpo de Cristo) acrescenta a tradição da Igreja o adjetivo “místico”. Este adjetivo procura acautelar todo o desvio que tenda a compreender o corpo de Cristo apenas pela razão humana. Englobando aspetos humanos e divinos, a definição de Igreja deve mantê-los em tensão. - A Igreja, porque corpórea, vê realizar-se nela a finalidade da criação e redenção humanas: o encontro de Deus com cada ser humano, nas realidades significativas deste mundo. - A Igreja, enquanto realidade visível, tem uma existência própria a seu modo: por ter uma realidade divina, não perde a existência humana.
  • 8. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Ao ser assumido que o objeto da TP é a edificação do Corpo místico, desloca o centro da sua atenção das tarefas dos pastores, para o apostolado dos fiéis leigos, com especial destaque para aquilo que era a importância da Ação Católica, como “apostolado secular organizado”. - A tensão entre o elemento divino e humano, dá azo a que se perceba de forma clara que a ação divina tem primazia e a humana está ao serviço daquela. Consegue, ainda, evitar dois erros comuns na pastoral: o naturalismo e o quietismo. No primeiro, há o erro de colocar todas as esperanças no esforço da instituição eclesial e dos seus membros, como se ela tivesse a capacidade de dar a fé a alguém, só por si, e de lhe permitir experimentar o amor de Deus, sem que Ele tenha a prioridade no agir. Claro que existe também o erro do quietismo, que consiste em esperar tudo de Deus, sem que haja um esforço humano que pretenda colaborar com a ação divina. - Com esta nova compreensão da TP ela recupera o seu estatuto de ciência teológica que, ao debruçar-se sobre as reais questões das comunidades ganha uma renovada criatividade. - A dimensão mistérica da ação eclesial ganha espaço à dimensão meramente exteriorística e juridicista. - Ao ser entendida como corpo, composta por diversos membros, faz com que se vá dando progressiva atenção a todos os batizados e não apenas aos clérigos. - O sujeito da pastoral é a totalidade do Povo de Deus, rompendo de vez com um clericalismo que vinha desde as origens da TP. 2.4. Repercussões pastorais e práticas - Foram surgindo, então, os conceitos eclesiológicos de Povo de Deus, de eclesiologia de comunhão e de Igreja como sacramento universal de salvação. Estas ideias acabariam por ter a sua plena consagração no Concílio Ecuménico Vaticano II. - O conceito de comunhão usa-se para exprimir a natureza humano-divina da Igreja. Comunhão não é alternativa à instituição, mas constitui o seu fundamento - Como sacramento a Igreja percebe-se como sinal que alude à graça da salvação e como instrumento de Deus na realização do Seu plano, articulando a ação divina – invisível – com a ação humana, que tende a dar visibilidade àquela. - A pastoral de conjunto, que teve a sua origem nas profundas transformações que a França sofre no pós-Segunda Guerra Mundial, mas facilmente de alargou a outras latitudes. Trata-se de uma reflexão teológica que procura compreender a ação da Igreja. Nela, mais do que em nenhum momento da história até hoje, encontramos uma profunda união entre teoria e prática, aspiração suprema da teologia pastoral. É preciso uma eficaz coordenação dos diversos agentes de pastoral, para que realizem ações com objetivos comuns. A Igreja percebe-se chamada à missão, o que a leva a perceber a necessidade de romper com esquemas antigos, fechada sobre si mesma, e dialogar com o mundo, para que mundo e Igreja não caminhem separadamente, mas que encontrem pontos de encontro.
  • 9. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Começa a ficar claro algo que marcará a TP, a necessidade de conhecer bem a realidade, a situação concreta, para se poder refletir pastoralmente. Para conhecer bem a realidade a TP tem de lançar mão das ciências sociais e humanas, sobretudo a sociologia, antropologia e a psicologia. - A eficácia exige, então, um efetivo conhecimento da realidade, para a qual se recorrem às ciências sociais, uma efetiva coordenação entre todas as ações e os seus agentes e, por fim, funções de liderança devidamente identificadas. Surge também a figura do leigo militante, aquele que num ambiente ou numa estrutura lidera a sua parcela da ação pastoral. Anexos O surgimento da Teologia Pastoral/Prática no dia 3 de outubro de 1774 com a reforma universitária de Maria Teresa da Áustria, foi marcado por alguns fatores como a unilateralidade visível e hierárquica da teologia pós-tridentina; o josefismo do império austríaco que quer colocar a Igreja ao serviço do seu poder e a decadência das ciências teológicas que giram à volta de temas jurídicos e canónicos, o que levou, de algum modo, por causa destes fatores a “afunilar” o pensamento desta teologia na pessoa do pastor(presbítero) como objeto de estudo. Com o josefismo o sacerdote era entendido como funcionário estatal (Aspeto pragmático-utilitário), os seus deveres estavam agrupados em torno das tarefas de ensinar, santificar e dirigir o povo utilizando um método de estudo rigorosamente dedutivo - dogma que deve ser aplicado à realidade – que acabou por levar a repensar a teologia pastoral. A Escola de Tubinga – séc. XIX - trouxe duas novas orientações, a orientação bíblico-teológica, pois a Igreja passa a ser entendida como instituição onde o Espírito Santo atua (Mohler) e na qual o pastor tem de saber pregar bem, para que o Espírito Santo surja na comunidade. Esta concessão valoriza a pregação e a catequese sobre todas as outras tarefas pastorais, situando a missão do pastor ao serviço da revelação. A orientação eclesiológica de Graf onde a Igreja é um organismo vivente que se edifica a si mesmo. A teologia prática é uma parte da teologia que se ocupa da conservação, desenvolvimento e realização da Igreja no futuro, da sua autoedificação. A teologia pastoral/prática – pois ainda não existe distinção - vai ganhando novas tonalidades consoante as mudanças conceptológicas de Igreja. A “época dos manuais” tem esta designação precisamente pelo surgimento dos manuais de pastoral, a teologia era considerada uma ciência aplicada e o seu campo de estudo era a tarefa pastoral de Jesus Cristo e a cura animarum, que se tornou na missão concreta do pároco, curar as almas. Esta época levantou uma questão pertinente acerca da possibilidade de se colocar tudo o que se estuda na teologia pastoral num manual. A teologia pastoral é considerada assim como uma ciência aplicada. Tomando por base as ideias teológicas desenvolvidas pela dogmática, ela encarregava-se de retirar as conclusões válidas para a vida e ação da Igreja. A pastoral funciona como um apêndice da dogmática. É o desenvolvimento prático de alguns elementos estudados nos diversos tratados. Swoboda modifica o método teológico da teologia pastoral da época dos manuais e inicia uma forma de atuar que depois será adotada como pastoral de conjunto. Ele cria uma metodologia díspar à utilizada nos manuais: Uma pastoral feita de acordo com os problemas da sociedade e que entre em diálogo com eles. Parte de situações concretas das paróquias das cidades às quais os manuais não respondem. O Vaticano I: Passa a valorizar-se o papel da Hierarquia, a Igreja é vista como sociedade perfeita e detentora dos meios necessários para a alcançar o fim a que se propõe. A totalidade do Povo de Deus e dos leigos estão totalmente ausentes dos tratados teológicos. O tratamento de ideias eclesiológicas e de ideias pastorais segue um método escolástico, com uma estruturação rígida e com abundância de divisões e subdivisões. A eclesiologia e a pastoral tendem a defender a hierarquia e a instituição, pecam por ahistoricísmo (descontextualização histórica) desenrolando a doutrina do ser e do atuar eclesial sem ter em conta a sociedade com que estão em diálogo e sem que a história faça à Igreja as suas próprias perguntas. A santidade das almas parece o resultado exato da posta em prática de umas normas concretas sobre o funcionamento das instituições.
  • 10. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira Dada a insuficiência dos manuais (com sua centralização das tarefas do pastor no pároco) em responder às interrogações surgidas nas paróquias nascidas da revolução industrial e ao fenómeno de descristianização, surgem as revistas pastorais acerca de realidades concretas que necessitam de resposta, ainda que não existam soluções pastorais que se repitam de um lado para o outro, sabe-se que o caminho pode ser repetido. Para Noppel, a doutrina do corpo místico é a base de uma pastoral mais eclesial e menos individualista, assim a tarefa do pastor deixou de ser centrada na cura das almas para se centrar em ser guia da comunidade. O seu objetivo é a edificação do Corpo de Cristo, tarefa que rompe com o individualismo anterior para construir uma ação pastoral de tipo comunitário. Esta eclesiologia dinâmica da edificação de Igreja enquanto corpo místico de Cristo favorece a inclusão na Teologia Pastoral do apostolado dos leigos (desenvolvimento da Ação Católica), entendendo-o na época de Noppel como uma participação dos leigos no apostolado hierárquico. Fran Xaver Arnold, também influenciado pela teologia do Corpo Místico, tenta encontrar um lugar da ação pastoral na obra de salvação. Vê a ação pastoral como mediação da salvação. Esta salvação está na comunidade e há-de entender-se desde a ação de Cristo, único e verdadeiro mediador. O dogma calcedónio do princípio teândrico (união da natureza divina e humana) é que ilumina em profundidade a razão de ser da ação pastoral e o seu modo concreto de atuação. Na Igreja há uma atuação divina e uma atuação humana que confluem na pastoral. A ação da Igreja continua a ação de Cristo no mundo; como tal a ação pastoral só é autêntica quando respeita tanto a parte divina como humana. Como consequência dá-se uma valorização de todos os membros da Igreja. A teologia pastoral começa a ver como sujeito da ação pastoral da Igreja todos os batizados, rompendo assim com um clericalismo presente desde o nascimento da teologia pastoral. A Pastoral de Conjunto tem a sua origem no movimento pastoral surgido em França entre a segunda guerra mundial e chegou até ao Concílio Vaticano II, que consagrou muitas das suas inspirações. Ela nasce como uma profunda reflexão teológica, pedida pela situação da Igreja e deriva de uma união profunda entre teoria e prática. Com esta reflexão nascem estrutura e técnicas novas para dar resposta evangelizadora à ação da Igreja: Ação católica, Padres Operários, Renovação Paroquial – Movimento por um Mundo Melhor. Se a Igreja está constituída pela missão, tem que romper uma tradição que baseia a ação eclesial somente no culto, tem que fazer abordagens de diálogo, tem que compreender la importância que sobre os indivíduos exercem os grupos sociais, tem que abrir as suas fronteiras e reavivar as suas forças missionárias. Numa palavra, a relação e o diálogo da Igreja com o mundo devem estar na fonte da ação pastoral. Desde o conceito de corpo místico de Cristo tem de se evitar as conceções redutoras tanto eclesiológicas, que levam ao misticismo ou ao naturalismo, como pastorais. A Renovação eclesiológica e suas repercussões pastorais práticas desembocaram na pastoral de conjunto, que tende a promover a unidade da Igreja. A igreja tem de conhecer a realidade, a pastoral não pode ser dedutiva, tem de conhecer a realidade, tem de deixar-se ajudar pelas pessoas e também pelas outras ciências. No fundo a teologia prática deve ser o veículo do Espírito Santo que mantém a Igreja em movimento, deve promover o diálogo entre a hierarquia e as bases da Igreja, entre a Igreja e o mundo entre a teologia e as ciências sociais[1]. ________________________________________ [1]Cf. HOSCH, Lothar Carlos – O lugar da teologia prática como disciplina teológica. In Estudos Teológicos.v. 32:2 (1992) 109-110. (outra forma de ver a questão) A 3 de Outubro de 1774, de forma mais ou menos precisa, nasce a Teologia Pastoral na reforma universitária empreendida por María Teresa de Austria, (com frutos para os interesses de Estado e da universidade), muito por causa da unilateralidade visível - pela hierarquia da teologia pós- tridentina - ; por a Igreja estar ao serviço do poder e como meio para a sua manutenção na Áustria, e devido à decadência exponencial das ciências teológicas. Assim, até ao sec. XIX a pastoral rege-se por coordenadas pouco teológicas. No sec. XIX, assistem-se a algumas orientações renovadoras. Nesta linha, surge a reforma das ideias eclesiológicas, em Tubinga, com um enorme eco no campo da Teologia Pastoral. Já com Mohler, a Igreja-vida passou a ser conceito preponderante na sua interdependência ao Espírito e na sua relação com o Verbo Encarnado. Por outro lado, com a reforma da concepção pastoral, a Sagrada Escritura passa a ser a base da Teologia Pastoral, sendo a continuação da palavra de Jesus Cristo,
  • 11. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira revelador de Deus- Amor, e situa a missão do pastor numa concepção eclesiológica ao serviço da Revelação. Em boa verdade, Eclesiologia e Teologia Pastoral têm o seu nascimento marcado por ideias eclesiológicas do seu tempo. De facto, os conceitos pastorais desenrolaram-se, atendendo à tarefa dos pastores, como missão da Igreja (prevalência dos aspectos visíveis e hierárquicos no conceito de Igreja). Concomitantemente, é ainda neste período que a Pastoral se detém nos meios em que se assegura a sociedade. No entanto, crescem novos conceitos na Teologia que abarcam, por sua vez, novos conceitos em Teologia Pastoral. É neste período, que os campos de estudo dos manuais são considerados o receptáculo de conselhos pastorais, com base na dogmática e que ilucidam os pastores nas situações do exercício dos seus ministérios. Concluindo, de forma lapidar – a tarefa da Pastoral de Jesus Cristo socorre-se das missões de ensinar, santificar e reger, sempre aliadas à concretização ministerial dos padres. Resumindo, a Teologia Pastoral é, então, considerada uma ciência aplicada, com premissa nas ideias teológicas desenvolvidas pela dogmática, evidenciando as conclusões válidas para a vida e acção da Igreja. Para além do esquema dos manuais já abordados, e não se conformando com os próprios, dá-se uma mudança que se prende com os problemas da sociedade e no diálogo pela resolução com a Igreja. É aqui que se altera a base do método teológico da Teologia Pastoral, iniciando-se, em certa medida, a Pastoral de Conjunto, partindo-se da situação concreta das cidades. Claramente, esta renovação posterior deu-se pela escuta da situação histórica e pelo diálogo renovador com a Igreja. Inicialmente os tratados da Pastoral estavam destinados ao cuidado das almas e centravam-se nos carateres visíveis da Igreja. Apesar destas novas ideias não serem propriamente reconhecidas, no campo da eclesiologia e no campo da pastoral, não se pode dizer que não renovaram, em parte, o panorama existente. O período entre as duas guerras impôs uma profunda reflexão pastoral. Salienta- se, ainda, que foi graças à Teologia Pastoral que se deu uma renovação na Eclesiologia. De facto, entre as duas guerras mundias, deu-se uma grande criatividade eclesiológica com a lembrança do conceito de Igreja como corpo místico de Cristo, sublinhando-se uma pastoral mais eclesial e menos individualista, construindo uma acção pastoral do tipo comunitário. Assim, a Igreja como corpo de Cristo continua a mediação da salvação e a sua acção pastoral só é autêntica quando se respeita tanto a parte de Deus como a parte do homem. Tanto a concepção eclesial como a pastoral encontram em Cristo o paradigma das suas estruturas, porque só no encontro do divino com o humano (ontologia de Cristo) é que a Igreja encontra a raíz de uma teologia pastoral na sua totalidade, e não redutora, conferindo sempre um caráter dinâmico, e não estático a este estudo. Neste tempo, revalorizou-se muito a tarefa de todo o povo de Deus e a Teologia Pastoral começou a ser vista como sujeito de toda a acção pastoral da Igreja, englobando todos os baptizados, rompendo com o clericalismo presente desde o nascimento da Teologia Pastoral. Contudo, apesar da renovação eclesiológica não ter durado muito tempo, foi neste excerto temporal que se distinguiu o conceito de Pastoral de Conjunto no âmbito da acção eclesial. Na verdade, a Pastoral de Conjunto surgiu em ambiente francês. Teve por base o desenvolvimento de uma teologia de missão, que nestes anos foi a fonte de uma renovada acção pastoral e que usufruiu da renovação eclesiológica acontecida nos anos anteriores. Assim, surge a Pastoral de Conjunto fruto de um processo gradual e, em 1961 em Friburgo deu-se o primeiro Congresso Internacional de Pastoral. Com isto deu-se importância à coordenação dos agentes da pastoral e à formação de novos agentes em novas estruturas, e à direcção da acção sobre conjuntos humanos concretos, no âmbito sociológico e, até, geográfico. Finalmente, a eclesiologia da Igreja, enquanto sacramento universal de salvação, e a Teologia Pastoral, da Pastoral de Conjunto, dependem-se mutuamente. Com efeito, é possível dizer que nesta época surgiram uma série de paralelismos entre a doutrina eclesiológica e a doutrina pastoral, ou seja, ambas são resultado da mesma altura e de uma autocrítica profunda que a Igreja se fez tanto na sua doutrina como na sua acção, até em domínio sacramental, evidenciando, na acção da Igreja, uma concepção mais integral e menos parcial- territorial (porque a acção da Igreja estava radicada nas paróquias e dentro delas o culto ocupava o lugar central). Concluindo, o tema doutrinal da sacramentalidade da Igreja como a Pastoral da acção conjunta evadiu- se do seu tempo para começar a ser uma doutrina assumida pela comunhão e de prática partilhada. (Outra forma de ver a questão) A Teologia Pastoral nasce e desenvolve-se num ambiente de forte clericalismo, e por meio de
  • 12. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira uma reforma universitária levada a cabo por Maria Teresa de Áustria, logo, estaria ao serviço dos interesses do Estado. Tal nascimento, no século XVIII, foi motivado por três fatores históricos: uma conceção teológica pós-tridentina fortemente hierárquica; o josefismo – por meio do qual o império austríaco pretendia subjugar a Igreja ao seu serviço – e a decadência das ciências teológicas. Da Reforma dos estudos levada a cabo por Rautenstraucht, da Faculdade Teológica de Praga, surge a pastoral com uma entidade própria, e essencialmente dirigida aos alunos do quinto ano de Teologia. Tinha como objetivo o uso dos conceitos teológicos para a cura animarum, e portanto, uma razão de ser pragmática. Este aspeto acabaria posteriormente por colocar a Teologia ao serviço de um Estado absolutista onde o sacerdote era entendido como um funcionário estatal. No século XIX sobressaem orientações renovadoras de uma nova eclesiologia pensada por J. A. Möhler. Assiste-se à reforma da conceção pastoral em torno de dois eixos. Uma orientação bíblico- teológica que vê na Sagrada Escritura a base da teologia pastoral. E uma orientação eclesiológica proposta por A. Graf, da escola de Tubinga. Este tentou fundamentar cientificamente uma teologia pastoral católica, e entendeu a Teologia prática como a parte da teologia que se ocupa da conservação da Igreja. Nesta época, assinalada por uma unidade entre eclesiologia e pastoral, o conceito de Igreja era essencialmente marcado por um cariz hierárquico e por reações de tipo apologético. A pastoral acreditava possuir os meios para o funcionamento da sociedade. Por sua vez, os manuais de pastoral, contendo visão eclesiológica que derivara do desenvolvimento do I Concílio do Vaticano, tinham na sua base duas ideias: a tarefa pastoral de Jesus, continuava por meio da Igreja e dos seus pastores; e a cura animarum era entendida como concretização dessa tarefa pastoral de Cristo, bom pastor. Tais manuais, procurando responder a factos concretos, reduziam-se apenas a conselhos pastorais. Na eclesiologia de então, a hierarquia e a figura do pastor era o tema de destaque. Como consequência surgiram, como tendências pós conciliares uma preocupação excessiva com o tema da instituição, o uso de um método escolástico no tratamento das ideias eclesiológicas e pastorais e o desenvolvimento do atuar eclesial sem se ter em conta a sociedade. A nova reflexão teológica e pastoral do período entre guerras trouxe repercussões tanto pastorais como teóricas. Destacaremos apenas três: A insuficiência dos manuais para a ação da Igreja, uma vez que esta entra em contacto com a realidade, procede à criação de institutos de pastoral, e passa a publicar revistas de pastoral. A repercussão da pastoral na teologia do Corpo Místico – com influências de Noppel e Arnold – por meio da qual se assiste a um despertar eclesiológico em torno do conceito de Igreja como Corpo místico de Cristo, e portanto, com base numa pastoral mais eclesial e menos individualista. E, por último, a relação entre eclesiologia e pastoral na teologia do Corpo místico, em torno da qual se desenvolveram ideias eclesiológicas e pastorais. Tal renovação leva a Teologia pastoral a ver a Igreja como o sujeito de toda a ação eclesial. A renovação teológica e suas repercussões pastorais práticas, devem-se sobretudo à Encílcica Mystici Corporis, que marca o ponto auge do desenvolvimento da eclesiológico e pastoral. Nasce em França o movimento pastoral, que vem permitir a união profunda entre teoria e prática. Para além da reflexão pastoral, surgem também estruturas e técnicas pastorais para responder à ação evangelizadora da Igreja: tais como o Movimento dos Padres Operários e o Movimento da Renovação Paroquial. Por sua vez, a Pastoral de conjunto passou a basear-se no estudo da sociedade e na descoberta da Igreja diocesana como unidade pastoral. No que diz respeito às relações da pastoral com a eclesiologia sacramental, a ação da Igreja começou a ser entendida numa conceção mais integral e menos territorial, o que se deveu à ação dos movimentos apostólicos especializados, por meio dos quais a eclesiologia sacramental se uniu ao povo de Deus. De entre os problemas que se levantam hoje, no âmbito de uma Teologia prática, salienta-se o da evangelização no meio da nossa sociedade. Em jeito de reflexão pessoal questiono-me acerca da eficiência do nosso anúncio e testemunho cristão, será que através de tantos esforços a Igreja e sociedade reúnem condições para chegarem a ter um encontro efetivo? Recordemos a importância vital de fazer uma Teologia em em sintonia com a sociedade, visto que é ela quem harmoniza não só a ação da Igreja mas também a realidade da vida. ________________ REFERÊCNCIAS GUERREIRA, Júlio A. Ramos – Teología Pastoral. Madrid: BAC, 1995.
  • 13. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira O Concílio Ecuménico Vaticano II ______________________________________________________________________ Resumo: O Concílio Vaticano II é marcado, todo ele, por uma índole pastoral. Tal fica notório, desde logo, na intenção de João XXIII de convocar um concílio pastoral bem espelhada no discurso de abertura do Concílio “Gaudet mater Ecclesia”: não é convocado para mudar a doutrina, tem a preocupação de apresentar a doutrina ao “mundo moderno”, tem um carácter predominantemente pastoral, onde a «doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo», há uma opção por propor ao mundo a doutrina e não por condená-lo… A Constituição Pastoral Gaudium et Spes espelha bem também essa índole pastoral do Vaticano II, debruçada sobre a ação da Igreja que deve estar ordenada a fecundar todas as culturas com a força do evangelho, fazendo-se não uma abordagem mais “leve” da doutrina, mas uma abordagem mais situada e encarnada, por isso mais “verdadeira”. «É chamada “pastoral”, porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expor as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. […] a matéria, tratada à luz dos princípios doutrinais, não compreende apenas elementos imutáveis, mas também transitórios». O atributo “Pastoral” não significa que se refira aos deveres dos pastores (só os ordenados). É antes a compreensão basilar a partir da qual se entende a relação entre doutrina, os princípios e as referências, e ao modo de assumir a realidade histórica. Elemento divino, Revelação e Graça, e elemento natural, a humanidade com sua história e cultura, devem andar de mãos dadas. Os membros da Igreja coincidem com os indivíduos do seu tempo, e com eles partilham a mesma experiência humana: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (GS1). A identidade cristã implica também uma postura missionária, de abertura ao mundo para, aí, lhes oferecer a experiência salvífica de Deus. Os dados da Revelação são tratados não como um dado pressuposto, mas como um tesouro que a Igreja possui e que oferece a todas as “pessoas de boa vontade”. Estabelece, por isso, um diálogo, entre crentes e outras pessoas, sobre a situação concreta da sua história. O método caracteriza-se por partir de situações fenomenológicas concretas, para chegar indutivamente aos dados da Revelação e ao seu centro, que é Jesus Cristo. A metodologia não é estritamente indutiva nem dedutiva. Parte de cada situação humana concreta, que coloca questões, à qual oferece uma leitura crente da realidade. A oferta desta leitura à humanidade é, por si, também um exercício de dedução do acontecimento supremo da Revelação. JMP ______________________________________________________________________ 3.1. Contextualização - A sair de duas guerras mundiais; - Influência dos regimes totalitários, do anticlericalismo e da divisão política e económica europeia em dois blocos;
  • 14. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira ╚► Diante disto, a Igreja (sociedade perfeita, hierarquizada, clericalizada, institucionalizada, juridicista ) sentia-se afetada e na urgência de se renovar. Primeiros passos do Concílio foram: - Retorno às fontes da Tradição; - Recuperação dos fundamentos teológicos da Igreja, enquanto Corpo Místico de Cristo (Escola de Tübinga) e Povo de Deus; - Olhando a realidade social num horizonte de comunhão corresponsável da Igreja com as realidades terrestres, em diálogo com a cultura envolvente e com a globalidade da realidade; numa atenção particular aos «sinais dos tempos» (GS 4. 11); - Reconhecimento da dignidade e do acesso à salvação das Igrejas separadas, bem como de todos os filhos de Deus, mesmo os não batizados e independentemente do serviço ministerial que cada um é chamado; - Diálogo com outros saberes, nomeadamente com as ciências humanas e sociais (antropologia, psicologia e sociologia). 3.1.1. Recordar João XXIII - A intenção de João XXIII foi convocar um concílio pastoral; - Discurso de abertura do Concílio “Gaudet mater Ecclesia”: a) Não há a menor intenção de mudança doutrinária, mas sim de que «o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz». O Concílio não é convocado para mudar a doutrina, mas para a procurar compreender melhor, para que se possa comunica-la com o novo contexto social que se vive; b) A preocupação de apresentar a doutrina ao “mundo moderno”, olhando «para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno, que abriram novos caminhos ao apostolado católico»; c) Carácter predominantemente pastoral, onde a «doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo». Embora não haja mudanças doutrinais, há uma releitura e reformulação, que não uma mera repetição das doutrinas; d) Há uma opção por propor ao mundo a doutrina e não por condená-lo: «a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações». e) O aggionarmento: «com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celestiais».
  • 15. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - A partir da publicação da encíclica Pacem in Terris, depois da primeira sessão conciliar, apresenta um método de reflexão (sobre a convivência humana, as relações entre os poderes públicos e os indivíduos, as relações entre os Estados e, por fim, o estabelecimento de uma comunidade mundial) feita não a partir do dogma, mas a partir da consciência da natureza humana. A reflecção não deriva da Revelação, mas tem nela uma clara explicitação. Reflete ainda sobre a presença dos cristãos nas instituições civis e o dever que têm de participar na vida pública colaborando com a sociedade, pressupondo o necessário diálogo. Sugere que é através da participação dos cristãos que a sociedade é cristianizada. 3.1.2. Paulo VI - Com a encíclica Ecclesiam Suam, influenciou o Concílio: ► Um concílio pastoral. O que significa? A Constituição Pastoral Gaudium et Spes: - Pastoral: Ação da Igreja deve ser fecundar todas as culturas com a força do evangelho; - Doutrinário: Não é uma abordagem mais “leve” da doutrina, é antes uma abordagem mais situada e encarnada, por isso mais “verdadeira”; «É chamada “pastoral”, porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expor as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. […] Na primeira parte, a Igreja expõe a sua própria doutrina acerca do homem, do mundo no qual o homem está integrado e da sua relação para com eles. Na segunda, considera mais expressamente vários aspetos da vida e da sociedade contemporâneas, e sobretudo as questões e os problemas que, nesses domínios, padecem hoje de maior urgência. Daqui resulta que, nesta segunda parte, a matéria, tratada à luz dos princípios doutrinais, não compreende apenas elementos imutáveis, mas também transitórios». - “Pastoral” não se refere aos deveres dos pastores (só os ordenados). É antes a compreensão basilar a partir da qual se entende a relação entre doutrina, os princípios e as referências, e ao modo de assumir a realidade histórica. ╚► No Concílio emergiram duas correntes opostas: - Uma com postura doutrinal, conservadora, normativa e defensiva. Preocupação de fidelidade à doutrina cristã, que se diz em fórmulas precisas e definitivas, que se defende o mais possível das contingências das vicissitudes da vida humana, para se tornar uma referência segura - Outra com carácter mais querigmático, propositivo e dialogal. Preocupação pelo anúncio da mensagem evangélica, que para chegar a todos deve ser expressa em fórmulas entendíveis por todos e usando linguagens contemporâneas.
  • 16. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira ╚► Necessidade de manter unidos estes dois aspetos, distintos e inseparáveis, o doutrinal e o pastoral: - Para os unir, Paulo VI no início da 2ª sessão do Concílio: «a doutrina cristã deve ser não só uma verdade, objeto do estudo teórico, mas palavra geradora de vida e ação; nem a disciplina da fé deve limitar-se apenas a condenar os erros que a ofendem, mas tem de chegar a proclamar os ensinamentos positivos e vitais em que ela é fecunda. […] não nos compete defender só este precioso tesouro da doutrina católica, como se nos interessássemos apenas pela antiguidade; mas, com alegria e sem temor, empenhemo-nos no trabalho que a nossa época exige». 3.1.3. Critérios teológicos: - A Igreja como mistério (“Corpo Místico de Cristo”) Inserida no mistério trinitário e na história da salvação (cf. LG 4; AG 2-5), sendo fruto e gérmen do Reino de Deus (cf. LG 9; DV 17), templo do Espírito Santo (cf. LG 6), corpo de Cristo (cf. LG 7-8), povo de Deus (cf. LG 9-13) e Sacramento universal de unidade salvífica (cf. LG 9. 48). - A Igreja como Povo de Deus Inserido na história humana, investida numa missão universal e cósmica, que continua a tríplice dimensão da missão de Cristo sacerdote, profeta e rei. Constitui-se em Igrejas locais, destinadas ao serviço de todos os povos (cf. LG 9-14.17. 48B; AG 5-9.35-36). Estabelece relações com as Igrejas comunidades não católicas (cf. LG 15; UR), com os não cristãos e os não crentes (cf. LG 16; GS 19-21) e, de modo mais amplo, com o mundo contemporâneo (cf. LG 16; GS). - A Igreja está alicerçada nos diversos carismas e ministérios Quer hierárquicos (cf. LG 18-29; CD 12-18; PO 4-6), quer laicais (cf. LG 30- 37; AA 2- 8). Todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum. - Todos os membros da Igreja são vocacionados à santidade (cf. LG 39-42) Que depois se concretiza em diferentes formas de vida, consoante a vocação e os carismas de cada pessoa e conjunto de fiéis (cf. LG 43-47). - A Igreja é escatológica A sua unidade com a comunhão dos Santos (cf. LG 48-51), de modo especial com Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja (cf. LG 52- 69). - A Igreja e o seu Magistério são servos da Palavra e da Tradição Estão sob, e não acima, da palavra de Deus, além de que a tradição eclesial que nos chega dos Apóstolos não é uma realidade estanque, antes dinâmica e progressiva. A «tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito,
  • 17. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira progride a perceção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade» (DV8). - A Igreja é fruto e sinal do Reino de Deus, que é maior do que ela. «A Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória» (LG 5). - O ministério da Igreja (o dever de propagar a fé e a salvação de Cristo) é mais importante que a sua estrutura jurídica/institucional. É atribuída a prioridade ao mistério da Igreja, sacramento universal e salvação, que peregrina no mundo rumo à perfeição escatológica, diante da sua realidade institucional, que se manifesta nas estruturas societárias. O aspeto humano e visível da Igreja tem o valor de sinal e instrumento, sempre imperfeito e perfectível, em face da misteriosa realidade divina. - A hierarquia da Igreja está ao serviço da santidade do Povo de Deus (fiéis e pastores). «Ainda que, por vontade de Cristo, alguns são constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo. […] os pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos outros e aos fiéis: e estes deem alegremente a sua colaboração aos pastores e doutores. […] aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado ministério, apascentam a família de Deus ensinando, santificando e governando com a autoridade de Cristo, de modo que o mandamento da caridade seja por todos observado» (LG32). - A Igreja transcende a história humana ao mesmo tempo que faz parte dela. «Destinada a estender- se a todas as regiões, ela entra na história dos homens, ao mesmo tempo que transcende os tempos e as fronteiras dos povos» (LG9). 3.2. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes - Quem evangeliza é a comunidade e não os sujeitos individuais; - Os membros da Igreja coincidem com os indivíduos do seu tempo, e com eles partilham a mesma experiência humana: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (GS1).
  • 18. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Pertencer à Igreja não afasta o crente do mundo, antes o consciencializa e compromete. - A identidade cristã implica também uma postura missionária, de abertura ao mundo para, aí, lhes oferecer a experiência salvífica de Deus. - Não parte de uma fé que se vai explicando e da qual se deduzem ideias teológicas e consequências práticas (ao contrário do habitual). O Concílio se quer dirigir-se não apenas aos crentes mas a todas as pessoas “de boa vontade”, daí que aquele método não é eficaz pois contém pressupostos que não são aceites por todos. - Os dados da Revelação são tratados não como um dado pressuposto, mas como um tesouro que a Igreja possui e que oferece a todas as “pessoas de boa vontade”. - Vê no ateísmo, muitas vezes, uma consequência da vida dos crentes. «Os crentes podem ter tido parte não pequena na génese do ateísmo, na medida em que, pela negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da doutrina, ou ainda pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião» (GS 19). - Estabelece um diálogo, entre crentes e outras pessoas, sobre a situação concreta da sua história. O método caracteriza-se por partir de situações fenomenológicas concretas, para chegar indutivamente aos dados da Revelação e ao seu centro, que é Jesus Cristo. - A metodologia não é estritamente indutiva nem dedutiva. Parte de cada situação humana concreta, que coloca questões, à qual oferece uma leitura crente da realidade. A oferta desta leitura à humanidade é, por si, também um exercício de dedução do acontecimento supremo da Revelação. - Alguns antecedentes que importa conhecer são a “pastoral de conjunto” e os movimentos da Ação Católica que, com o famoso “ver, julgar e agir”, desenvolveram metodologias de análise da realidade e de compromisso eclesial, com a sua revisão de vida. 3.3. Sinais dos Tempos - Nasce teologicamente da atenção constante que o Evangelho tem para com a história (Mt 16, 1-4; Mc 8, 11-13; Lc 12, 54-56). - Lembra a necessidade que o crente tem de perscrutar constantemente o mundo envolvente, para o compreender e aí ver a incisão da força renovadora do Evangelho. - Capacidade de olhar a realidade em profundidade e ver nela o essencial. - Objetivo de provocar os cristãos a saberem olhar para as mudanças do mundo contemporâneo, para poderem anunciar de novo o Evangelho de Jesus Cristo, de modo que este possa ser compreendido. - João XXIII propõe o otimismo evangélico para saber corresponder aos momentos de crise da Igreja e da sociedade, com uma renovada força espiritual que fosse capaz de
  • 19. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira reconhecer as potencialidades presentes nos “homens de boa vontade” e a constante ação do Espírito Santo (cf. Humanae Salutis 4). - Paulo VI fala de «tudo provar e de tomar para si o que é bom». - Na Gaudium et Spes: «é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo a compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático» (GS 4). - Reconhecimento dos sinais externos, que provocam a Igreja em duas vertentes: a primeira no âmbito da liberdade religiosa; e a segunda, no reconhecimento dos diversos saberes, para poder anunciar o Evangelho de modo compreensível. - Procurar no mundo sinais da vontade e presença de Deus: «O Povo de Deus, movido pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito do Senhor, o qual enche o universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e aspirações, em que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus» (GS11). - É um dever de todo o Povo de Deus, sobretudo dos teólogos e pastores: «É dever de todo o Povo de Deus e sobretudo dos pastores e teólogos, com a ajuda do Espírito Santo, saber ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, e julgá- las à luz da palavra de Deus, de modo que a verdade revelada possa ser cada vez mais intimamente percebida, melhor compreendida e apresentada de um modo conveniente» (GS 44). - Surge um novo modo de a Igreja se relacionar com a história humana: a) A Igreja dispõe-se a acompanhar todos aqueles que querem conhecer a vontade de Deus, para bem da humanidade. A Igreja oferece-se o seu específico, a experiência da fé, consciente de que a ação do Espírito Santo, que a guia, age também fora dos seus limites institucionais (cf. LG 8). b) Ela deixa-se ajudar pelos homens e mulheres de boa vontade para ser capaz de ler atentamente os fenômenos humanos e as tensões que se vêm a criar na história, bem como para encontrar formas de linguagem apropriadas a formular a mensagem de Cristo (cf GS44). c) A Igreja exercita, assim, a sua função profética, pois empenha-se na leitura dos sinais dos tempos e a emitir o seu juízo de fé. O julgamento/juízo será sempre na perspetiva da salvação, nunca de condenação. - Eles capacitam também o não-crente para um compromisso coerente, para que a única verdade sobre o homem e sobre a criação possa finalmente ser observada plenamente. O não-crente, ao agir em conjunto com o crente, poderá ser provocado a uma pergunta ulterior que poderá desaguar na questão sobre Deus e sobre a opção de fé cristã. - Alguns exemplos: santidade; respeito pela liberdade religiosa; respeito pela dignidade humana; o martírio; as tensões culturais, para uma maior humanização; e, por fim, a paz.
  • 20. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Critérios gerais para identificar os anti-sinais: o da dignidade humana, que o favorece o reconhecimento de todas as formas que comportam a liberdade e a promoção de cada pessoa: o da justiça, que deve ser considerado como o ponto mínimo e indispensável da fraternidade, pois cada pessoa é colocada em condições de viver com a dignidade própria dos humanos. - Critérios específicos, que derivam da leitura cristológica e eclesial dos crentes: glorificar a Cristo; edificar a Igreja e recapitular tudo em Cristo. 3.4. Acontecimento em rede - As organizações em rede caracterizam-se por serem organizações bem-sucedidas, capazes de gerar conhecimentos e processar informações com eficiência. - Não assenta num sujeito, individual ou coletivo, mas sim numa cultura de rede, composta por muitas culturas, muitos valores e muitos projetos. - As novas tecnologias da informação e da comunicação ao mesmo tempo que possibilitam o surgimento da empresa em rede, obrigam, de certa maneira, a aderir a esta nova cultura que acaba por se impor. - Manuel Castells descreve a sociedade contemporânea como uma sociedade globalizada, centrada no uso e aplicação de informação e conhecimento, cuja base material está a ser aceleradamente alterada por uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação, com uma consequente mudança nas relações sociais, nos sistemas políticos e nos sistemas de valores. - A informatização das relações entre os indivíduos, e destes com o mundo à sua volta, é a característica que mais qualifica a cultura contemporânea. - A rede, percebe-se, está definida a partir do programa que determina os seus objetivos e regras de funcionamento. O programa, por sua vez, é composto por códigos que dizem o modo de funcionar e os critérios para determinar o funcionamento, quer o sucesso quer o fracasso. Para se estar incluído, ter sucesso, importa observar os códigos do programa que configuram a rede. - A cooperação acontece quando os códigos utilizados são compatíveis entre si, possibilitando a comunicação, que pede também a conexão com os seus nós. A cooperação acontece quando há comunicação. Dá-se a competição quando uma rede supera outra, por ser mais eficaz na prossecução dos seus fins ou por cooperar melhor com outras redes. A competição assume uma configuração destrutiva quando consegue alterar a outra rede. - As redes são formas organizacionais mais eficazes, na medida em que assumem três desafios: flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de auto-reconfiguração. As sociedades sempre se organizaram em rede, mas as capacidades técnicas não permitiam que essa circularidade fosse suficientemente rápida para que o “funcionamento em rede” fosse eficaz, tornando necessária uma organização hierárquica, vertical.
  • 21. João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - João Miguel Pereira - Aos estarmos num tempo diferente, pode surgir a tentação, por medo ou excesso de zelo, de voltar a uma posição pré-conciliar, dado que os nossos tempos já não são os do Concílio. Nada mais errado! Importa, isso sim, ver as dinâmicas de alegria e de esperança que surgiram naquela Primavera e, procurando as forças que geraram aquele acontecimento, redescobrir o seu estilo para o viver em tempos diferentes. - Seguindo Marcelo Gonzales, importa reconhecer, potenciar e, se for caso disso, recriar diferentes “nós” desta grande rede, entendendo por rede a articulação em diferentes espaços de troca. Aqui, há a cooperação, porque assumem o mesmo código, de: a) Existências pessoais com a sua especificidade, biografias, representatividade, experiência, sabedoria, formação profissional; b) Experiências espirituais, pastorais e institucionais realizadas em várias áreas do encontro entre o Evangelho e a cultura; c) Grupos e instituições eclesiais, académicas, culturais e políticas; d) Figuras de partilha; e) Capitais intelectuais de tradições reflexivas, escolas teológicas, conceitos, abordagens e metodologias de pesquisa.