O texto descreve o coro de animais noturnos em um brejo. Uma cobra aparece e hipnotiza um sapo com seus olhos luminosos antes de engoli-lo vivo. Os outros animais continuam cantando, aparentemente inconscientes do que aconteceu com um deles.
Textos e atividades com várias possibilidades de leitura
1. Nome:
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Série _____________
O CURURU
Tudo quieto, o primeiro cururu surgiu na margem, molhado, reluzente na semi-escuridão. Engoliu um mosquito; baixou a
cabeçorra; tragou um cascudinho; mergulhou de novo, e bum-bum! Soou uma nota soturna do concerto interrompido. Em poucos
instantes, o barreiro ficou sonoro, como um convento de frades. Vozes roucas, foi-não-foi, tãs-tãs, buns, buns, , choros,
esgoelamentos, finos de rãs, acompanhamentos profundos de sapos, respondiam-se.
Os bichos apareciam, mergulhavam, arrastava-se nas margens, abriam grandes círculos na flor d’água. (...) Daí a pouco,
da bruta escuridão, surgiram dois olhos luminosos, fosforescentes, como dois vagalumes. Um apo cururu grelou-os e ficou
deslumbrado, com os olhos esbugalhados, presos naquela boniteza luminosa. Os dois olhos fosforescentes se aproximavam mais e
mais, como os dois pequenos holofotes na cabeça triangular da serpente. O sapo ao se movia, fascinado. Sem dúvida queria fugir;
previa o perigo, porque emudecera; mas já não podia andar, imobilizado; os olhos feiíssimos, agarrados aos olhos luminosos e
bonitos como um pecado. Num bote a cabeça triangular abocanhou a boca imunda do batráquio. Ele não podia fugir àquele beijo. A
boca fina do réptil arreganhou-se desmesuradamente; envolveu o sapo até os olhos. Ele se baixava dócil entregando-se à morte
tentadora, apenas agitando docemente as patas sem provocar nenhuma reação ao sacrifício. A barriga disforme e negra desapareceu
na goela dilatada da cobra. E, num minuto, as perninhas do cururu lá se foram, ainda vivas, para as entranhas famélicas. O coro
imenso continuava sem dar fé do que acontecia a um dos seus cantores.
Questão 01 – Numa primeira leitura percebemos que o texto trata de animais; o cururu (certo tipo de sapo), o cascudinho,
o mosquito e a serpente. Mas, num segundo momento, sabe-se que tais animais são representações de seres humanos.
Quais são os indicadores que, no texto, nos permitem interpretar esses bichos como seres humanos?
Questão 2 – Entre os personagens do texto, há relações de dominação.
a)
Quem é o dominador? Quem é o dominado?
b)
Cite passagens do texto em que ocorram figuras concretas que simbolizam o tema da dominação?
Questão 3 – O texto fala de diferentes formas de dominação: um tipo de dominação exercida unilateralmente, isto é, o
dominador não conta com o consentimento do dominado; há outro tipo, bilateral, isto é, o dominador exerce o seu domínio com a
aceitação do dominado.
a)
Qual é a forma de dominação unilateral?
b)
Qual é a forma de dominação bilateral?
c)
Qual é a estratégia usada pelo dominador para incutir no outro o desejo de ser dominado?
De acordo com as explicações implícitas nas questões, como se pode interpretar, dentro do contexto, o significado da passagem; “O
coro imenso continuava sem dar fé do que acontecia a um de seus cantores.”
Natã acusa Davi, que se arrepende
Por isso o Senhor mandou o profeta Natã a Davi. Natã foi ter com Davi e lhe disse:
“Numa cidade havia dois homens, um rico e outro pobre. O rico tinha ovelhas e bois em quantidade. O pobre só possuía
mesmo uma ovelhinha pequena que tinha comprado e criado. Ela cresceu com ele e junto com os seus filhos, comendo do seu
bocado e bebendo de sua taça. Dormindo no seu regaço, em uma palavra: tinha-a na conta de filha.
Chegou ao homem rico uma visia. Ele teve pena de tomar umas rês das suas ovelhas ou bois, a fim de preparar para a
visita. Tomou a ovelhinha do homem pobre e a preparou para o visitante.”
Davi ficou furioso com este homem e disse a Natã:”Pela vida do Senhor! O homem que fez isto merece a morte. Ele
pagará quatro vezes a ovelha por ter feito uma coisa destas, sem ter pena”.
2. Então Natã replicou a Davi: “Este homem és tu...!”
Questão 1 – Numa primeira leitura, a narração do profeta Natã nos fala de dois homens, um rico e um pobre, como o
narrador caracteriza:
a)
A pobreza de um?
b)
A riqueza do outro?
Questão 2 – ainda numa primeira leitura, as ovelhas e bois de que fala o narrador podem ser interpretados no seu sentido literal, isto
é, como animais propriamente ditos, como bens materiais de seus donos. Pelo relato do narrador depreende-se, no entanto, que há
uma diferença entre o significado que a ovelhinha tem para o homem pobre e o que as ovelhas e os bois têm para o homem rico.
a)
Tente definir o que a ovelhinha tem de especial para o homem pobre.
b)
As ovelhas eram tão especiais para o homem rico quanto para a ovelha para o home pobre?
Questão 3 – o homem rico é definido inicialmente como uma pessoa desconhecida do interlocutor: o narrador o trata por ele e a
outra única indicação é que morava nesta cidade.
a)
Qual foi o julgamento que Davi faz desse homem?
b)
Qual a penalidade que o soberano decretou para o crime hediondo?
Questão 4 – Tendo arrancado de Davi a condenação do procedimento do homem rico e provocado sua ira contra a perversidade
cometida, Natã, num lance surpreendente e fulminante, diz que o homem rico é Davi: deixa de ser designado por ele e passa a ser
designado por tu. A troca de ele por tu no final da narração remete o texto a outro plano de significado, provocando outra versão
para os acontecimentos.
Levando em conta que o fato levou Natã a procurar Davi para censurá-lo, que sentido passa a adquirir no texto?
a)
O homem pobre?
b)
a ovelhinha do home pobre?
c)
O ato de tomar a ovelhinha do homem pobre?
d)
A condenação do homem rico?
Questão 5 - Não se constrói um texto com duplo sentido se um propósito, mas com intenção de obter um determinado resultado.
3. a)
Qual a intenção de Natã ao construir essa narração?
b)
Esse propósito de Natã foi atingido?
c)
Se o profeta não adotasse essa estratégia do duplo sentido para o texto, teria conseguido o mesmo efeito?
Questão 6 – os textos de humor fazem largo uso da dupla possibilidade de leitura.
Duas turistas em Paris trocam idéias sobre generalidades da viagem:
- Você acredita que estou há três dias em Paris e ainda não consegui ir a Louvre?
- Pois eu também. Deve ser a comida.
a)
Como a segunda interlocutora entendeu a fala da primeira?
b)
Qual a palavra que permitiu essa interpretação?