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Harlequin Romance nº 8
A lista de desejosA lista de desejos
de Julietde Juliet
((HER WISH-LIST BRIDEGROOM)HER WISH-LIST BRIDEGROOM)
Liz FieldingLiz Fielding
Digitalizado por: RitaDigitalizado por: Rita
Revisado por: Edna F.Revisado por: Edna F.
De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos
Harlequin Romance nº 8
Harlequin
De coração para coração...
Atirar champanhe no namorado vigarista — que também era seu chefe — teve sérias
conseqüências para Juliet. Ela foi despedida! E depois de ter jurado não se aproximar mais
de nenhum homem, Juliet voltou para a casa da mãe com o objetivo de recomeçar a vida —
mas acabou reencontrando paixão de infância: Gregor McLeod.
ISBN 85-7687-299-4
HARLEQUIN
B O O K S ™
O livro de bolsa da mulher moderna. www. harlequinbooks.com. br
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Ela tremeu um pouco.
— Você está com frio?
Ele olhava para ela, mas de repente ela não pôde mais olhá-lo nos olhos.
— Não, é que... bem, talvez eu devesse ter vestido algo menos... — a única palavra que
lhe veio à mente foi revelador.
Aproveitando-se da hesitação dela, McLeod disse:
— Menos? Isso é possível?
— Acho que a palavra que estava procurando é mais ao invés de menos. Algo mais
quente. — E ela conseguiu rir. — É louco não é? Homens saem à noite de terno e gravata e
mulheres aceitam o desafio de vestir o mínimo possível.
— Bem, — ele disse — curvando-se para dar-lhe um beijo no ombro — acho essa regra
ótima!
PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte, através de quaisquer
meios.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Copyright © 2004 by Liz Fielding
Originalmente publicado por Mills & Boon London
Título original: HER WISH-LIST BRIDEGROOM
Impressão: RR DONNEL.LKY MOORE Tel.:(55 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br
Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Tel.: (55 21) 3879-7766
De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380
Correspondências para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera
virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
Prólogo
— Juliet? Hora de ir.
Vislumbrando as figuras que checava, Juliet Howard sorriu para o homem parado na
porta. Paul Graham estava vestido como um típico executivo — terno preto, camisa branca
e uma discreta gravata listrada. Tinha os trejeitos e a boa aparência de um modelo ou de
um ator. Todo escritório deveria ter um, ela pensou enquanto ele fechava a porta e ca-
minhava em sua direção.
Felizmente, este era todo dela — ou ao menos seria até o final do mês quando seu
contrato temporário com o banco acabaria e também sua regra auto-imposta de não se
relacionar no escritório. Algo que Paul sempre respeitara, com ocasional e lisonjeira
impaciência.
— Já disse para não fazer isso no escritório — ela reprovou quando ele se curvou sobre
a mesa e a beijou, consciente de que sua repreensão não adiantava.
Ele jurou solenemente com a mão no coração:
— Nunca mais farei isso de novo.
Essa não foi bem a resposta que ela previa, mas concordou:
— Espero que não.
Em vez de sair, ele se aproximou e esfregou a ponta do dedo pelos lábios dela.
— Borrei seu batom. Melhor consertar antes de ir à sala de reuniões. Nosso novo
digníssimo presidente não aprovaria.
O novo presidente não fazia questão de mascarar o lato de achar que as mulheres eram
úteis apenas para procriar e para se ocupar dos trabalhos demais tediosos para homens
importantes. Ele não gostava dela, e não escondia sua opinião. Felizmente, ela era muito
boa no que fazia para ele se livrar dela. Ela esperava que ele tivesse tido um bom dia, pois
ao entregar seu projeto de transportes na companhia ele a veria com muito mais freqüência.
— Lábios borrados serão as últimas coisas com que ele se preocupará na semana que
vem, mas está certo, não há razão para irritar aquele velho demônio miserável sem
necessidade.
Então ela sorriu.
Ela tem sorrido muito ultimamente. Chegou até a Markham & Ridley agarrada em seu
diploma de administração, sete anos atrás, com uma única ambição: um lugar na diretoria
em uma das indústrias mais conservadoras e machistas do país. Pedras, compostos e todos
os produtos feitos a partir de coisas duras. A companhia prosperou lentamente, contando
com velhas licenças extrativistas que lhe concedia um monopólio virtual em certas áreas.
Ela fizera sua pesquisa antes de se juntar a eles, analisara as possibilidades e estipulou
dez anos para alcançar sua meta.
Três meses antes, John Ridley pediu a ela um projeto para contenção de custos a longo
prazo, melhorando a produtividade. Era um reconhecido anúncio de uma oferta para a
diretoria. Na segunda-feira ela iria entregá-lo.
Estava a um passo de conseguir o que queria. E não apenas a diretoria — que provaria
que ela era igual a qualquer homem na empresa. Ela tinha Paul também, o mais promissor,
3 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
charmoso e atencioso dos homens, provando que ela era igual a qualquer mulher.
Tinha todo o direito de sorrir. Mas esse não era um bom dia para se atrasar.
— Já estou indo, vou apenas retocar minha maquiagem. Pegue uma taça de champanhe
para mim.
— Sim, senhora.
Passou suavemente uma escova em seu penteado bem cuidado e conservador — afinal
era uma empresa conservadora — e retocou o batom. Colocou a jaqueta no lugar. Então, o
sorriso cessou novamente. Foi uma dura jornada, trabalho pesado, mas finalmente foi
recompensado. Ela então chegou.
A sala de reuniões já estava cheia. Quando abriu a porta, não conseguiu ver Paul de
imediato. Pegou uma taça de champanhe enquanto adentrava, aparentemente a última a
chegar, visivelmente atrasada por ficar sonhando com o sucesso iminente. Não tinha tempo
para vislumbrar aquilo quando o diretor bateu em sua taça para conseguir atenção e propôs
um brinde ao presidente. Ela tomou um gole e esperou o inevitável discurso.
Era mais breve do que o esperado. Talvez não tão breve assim.
— Enquanto estou obviamente satisfeito por ter sido reconhecido, meu maior prazer
vem de um anúncio que venho planejando desde quando fui seu padrinho há 30 anos.
Ele esticou a mão e tocou o ombro do homem que estava sentado ao seu lado. Ela deu a
volta para ver de quem se tratava.
Paul.
O silêncio só foi quebrado por um discreto murmúrio de duas ou três pessoas que
olharam para ela.
Paul era afilhado de Markham? Mas por que ele não contara a ela?
— Todos conhecem Paul Granam — ele continuou. — Ele se juntou a nós há alguns
meses e usou bem esse tempo, analisando como fazemos as coisas. Agora vai nos dizer
como faremos melhor. Ele fará parte da diretoria imediatamente e assumirá a responsabi-
lidade na implantação de seu plano para simplificar a organização e cortar gastos com
transporte. Daqui a um ano a Markham & Ridley será mais consistente e sólida.
Deixaremos a concorrência para trás.
A pausa que sucedeu o anúncio demorou um pouco demais. E a essa altura ninguém
olhava para ela. Não que ela percebesse algo. Ela apenas tinha olhos para Paul.
Plano dele! Aquilo era um roubo crasso dos documentos dela...
O que o demônio estava tramando? O que fazia Paul no lugar que deveria ser dela? Isso
era uma piada... Tinha que ser uma piada...
— Por favor, ergam suas taças e juntem-se a mim em um brinde a Paul e a um futuro
promissor para todos nós.
Não era piada. Paul era afilhado de Markham. Assim que ele ergueu sua taça, sua
senhoria olhou para ela. Ele não estava apenas rindo. Estava visivelmente sendo irônico.
Ambos estavam, ela percebeu.
Enquanto andava por um caminho que abrira à sua frente, pela primeira vez em sua
vida, Juliet Howard, a mais cuidadosa garota no mundo, a garota que planejara sua vida
até o último detalhe, fez algo sem pensar nas conseqüências.
Não havia espaço em sua cabeça para pensar. Estava ocupada demais relembrando os
momentos que passara na presença de Paul. Como ele a cortejava, como ele a fazia se sentir
protegida e desejada sem nunca tê-la pressionado. Mas estivera sempre lá desde o primeiro
dia em que foi solicitada a tê-lo com sua sombra. Ele planejou até os últimos detalhes,
Harlequin Romance nº 8 4
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
atrasando-a para a reunião.
Havia apenas uma palavra para descrevê-lo e ela a usou, e então jogou o conteúdo do
copo na cara dele.
Capítulo 1
— Levanta, Ju.
Juliet Howard ouviu a voz da mãe dela, mas não se mexeu. A arrumação das coisas, ou
melhor, observando sua mãe arrumá-las, e a volta para casa até Melchester, desmoronada
no banco de passageiros, drenaram toda a energia que possuía. Levantar da cama estava
fora de cogitação por várias semanas. Até o esforço de abrir os olhos era muito intenso.
O som das cortinas se abrindo anunciava uma implosão de luzes dentro do quarto. Ela
se virou enfiando a cabeça no travesseiro, tentando ignorar o falatório de sua mãe enquanto
pegava algumas roupas para ela e as colocava sobre a cama.
— Fiz uma lista de compras. Não tive tempo para fazer compras este fim de semana.
Não tem nada em casa. Você não deve se importar se come ou não, mas eu me importo.
Anda logo que eu vou deixá-la na cidade enquanto vou para o trabalho. Pode se inscrever
naquela agência de empregos perto da rodoviária após pegar meu livro na livraria. Diga a
Maggie Crawford que a verei no bingo esta noite. Você deveria vir também.
— Ao bingo?
— Aleluia, ela fala...
A mãe dela não estava realmente interessada no bingo. Ela apenas blefou para obter
uma resposta.
— Mãe, não precisa fazer isso.
— Convença-me. Levante-se, tome um banho enquanto faço café.
— Você vai se atrasar para o trabalho.
— Só se você ficar enrolando.
— Não...
Mas sua mãe, que nunca se atrasara para o trabalho, não hesitou em argumentar. Ela
nunca teve tempo para aquilo. Nunca permitiu que qualquer patrão comentasse o fato de
que ela era mãe solteira. Nem nunca sentiu pena de si mesma, pelo menos não quando
tinha alguém por perto. Quantas lágrimas derramou na solidão e no escuro da noite?
Desgostosa consigo mesma, Juliet se virou e deixou que a gravidade apoiasse seus pés
no chão. A mesma técnica que a botara para fora da cama nos dias em que a escola parecia
mais um dia no purgatório.
O sol brilhando pela janela era uma afronta ao seu sofrimento, o cheiro de café a
deixava enjoada, mas sua mãe se entregou por toda a vida, dando tudo de si para ter
certeza de que sua filha tivesse a chance de algo melhor. Até agora era ela quem catava os
cacos. Tirou vários dias de folga para ir a Londres, pôs o apartamento de Juliet para alugar,
para pagar a hipoteca e para que ela tivesse para onde voltar. Foi ela quem arrumou as
malas, trouxe-a para casa e acomodou-a em sua antiga cama.
Mesmo na adolescência, teve força para superar o sofrimento, contando cada dia que
sobreviveu sem despertar a atenção dos valentões da escola como uma vitória.
Não era força agora, mas culpa, que a levou ao chuveiro, que a colocou em suas roupas
e logo a levou até o carro. O sol brilhava, ainda era março, e o vento manso no rosto
5 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
revelava mais um belo e agradável dia.
Sua mãe a deixou na calçada.
— Não esqueça meu livro e compre alguns produtos de limpeza no mercado.
Ela ligou para a agência de empregos primeiro, preencheu o formulário e esperou que
avaliassem suas qualificações.
— Você não respondeu por que deixou seu último emprego.
— Não. — Essa é capciosa. — Desculpe.
Ela puxou o formulário e escreveu "Síndrome de Bridget Jones", e o empurrou de novo.
— Você desrespeitou seu chefe?
— Não, eu era a chefe, mas você sabe como são os homens. Sempre querem estar por
cima.
Não era tudo verdade, mas servia para encurtar as perguntas difíceis. E ela tinha
certeza de que Paul se sacrificaria se ela fosse menos escrupulosa, menos cuidadosa com
sua carreira ou reputação, menos ingênua...
— Certo. Você está um pouco acima do que precisamos, para ser honesta. — Sorriu
com simpatia. — O máximo que temos são executivos juniores. Você realmente precisa de
uma agência de empregos em Londres.
— Eu quero algo temporário, enquanto avalio minhas opções — disse ela. Algo que seu
último agente de empregos havia sugerido. Não foram tão longe a ponto de perguntar a ela
se era verdade que tivera um colapso; trocaram olhares e tiraram suas próprias conclusões.
— O que, diabos, lhe convenceu a comprar esse armazém, Mac?
Gregor McLeod olhou sua última aquisição com satisfação. Lugares pequenos como
este não podiam competir com as superlojas de departamento que dominam o mercado,
mas possuí-la estava em sua lista há muito tempo.
— É apenas sentimentalismo, Neil. Já trabalhei aqui em um passado distante. Não por
muito tempo, mas jamais esqueci da experiência.
— Não sabia disso.
— Bem, você estava na faculdade enquanto eu me matava de trabalhar para Marty
Duke.
— Não são lembranças boas então.
— Não foi tão mal. Tinha uma secretária linda. Cabelos lindos e brilhantes, pernas bem
torneadas e uma voz suave como chocolate suíço. Tinha um sorriso que fazia do trabalho
uma experiência interessante.
Neil balançou a cabeça.
— Você e suas passarinhas de luxo...
Ela não era uma sumidade no trabalho, mas Duke a pagava muito bem, pois os
empreiteiros costumavam babar enquanto ela anotava os serviços.
— Por que antecipo um final triste para essa história?
— Você me conhece — disse Greg. — Quando vi Duke com as mãos onde nenhum
patrão deveria estar, não me importei em deixar claro que aquilo não era comportamento
para o local de serviço. Acertei-o em cheio. Ele me despediu dali mesmo, caído no chão.
— Espero que sua deusa tenha ficado muito agradecida.
— Ela estava muito ocupada interpretando Florence Nightingale para o chefe. Deve ter
feito um ótimo trabalho, pois ele lhe ofereceu uma promoção.
— Como secretária?
Harlequin Romance nº 8 6
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
— Não, como esposa. Evidentemente, interpretei mal os sinais. Ela tinha outras
ambições.
Neil retrucou:
— Erro dela.
— Você acha? Não tinha nada para oferecer a ela. Ela, por outro lado, me fez um
verdadeiro favor: ensinou que, entre dinheiro e músculos, as mulheres sempre ficam com o
dinheiro. Mostrou que eu não tinha capacidade para trabalhar para os outros.
— Então, você comprou um armazém que não precisava, salvou Duke de afundar, tudo
isso por pura gratidão a sua esposa? A mulher à qual você deve sua fortuna?
— Devo minha fortuna ao trabalho duro, olho aguçado para bons negócios e um pouco
de sorte. Comprei o armazém por vários motivos, o mais prazeroso de todos, tenho que
admitir, foi Duke ter que me encarar e me chamar de sr. McLeod.
— E quanto à esposa dele? Estava lá?
— Ainda é sua secretária, dá para acreditar?
— Eu lhe disse que foi uma manobra insensata. O que ela disse?
— Não muito até me conduzir à porta. E então me disse: "Liga para mim."
Juliet deixou a agência com a promessa que se algo mais importante aparecesse alguém
ligaria. Ela fez o melhor. Ou o melhor que era capaz. Pensou que quanto mais cedo
terminasse as compras mais cedo iria para casa.
Pegou a sacola sem perceber que o caderno estava dentro. A maioria das mulheres
usaria envelopes reciclados para fazer a lista, mas não sua mãe. Ela sempre usava o caderno
não apenas para listas de compras, mas para tudo. Ela dizia que assim liberava a memória
para coisas mais importantes. E também se sentia bem quando marcava alguns itens,
especialmente aqueles que começavam com a palavra pagar...
Foi um hábito que passou para a filha, encorajando-a a escrever as coisas do dia-a-dia,
até mesmo seus projetos de longo prazo.
E disse também que não devia apenas escrever os grandes projetos, mas os pequenos
também, pois, como os grandes levavam tempo para acontecer, era deprimente não marcar
nada no caderno. E com os pequenos, do dia-a-dia, ela tinha sempre a noção de estar
realizando as coisas, mesmo que fosse comprar pão.
Pegando o caderno viu que era um dos antigos, da época que tinha 12 ou 13 anos.
Lembrou-se do Natal e das prazerosas lembranças daquela época. Até então, ela tinha
cadernos com gatos, hamsters ou personagens de desenhos animados, mas esse parecia mais
maduro; havia uma etiqueta.
A etiqueta estava um pouco ilegível, pois anos entrando e saindo da mochila havia
borrado as letras da capa.
Ela imaginou a garotinha que era e, então, alguém passou por ela, irritado com pessoas
que "não têm nada melhor a fazer do que bloquear o caminho na calçada", ela se refugiou
em um pub e pediu um café que não queria só para desfrutar de um lugar tranqüilo, um
lugar onde pudesse pensar.
O que aquela criança desejava?
Lembrou dos grandes planos, aqueles que não se alteraram. Uma vaga em uma boa
universidade, o diploma com mérito, para um dia ser uma mulher de sucesso que sempre
ambicionara.
Algumas coisas nunca mudaram.
7 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
Folheando as páginas enquanto tomava o café, viu que começou suas metas tirando A
em matemática, entregando seus projetos no prazo e mantendo seu quarto arrumado. Mas,
depois disso, vieram as metas do coração — o desejo doloroso de cortar o cabelo curtinho
para deixá-lo espetado com gel, como as meninas "da moda" na escola. A lembrança do
impossível e caríssimo tênis que tanto queria. E, depois, tinha o feriado na Disney em Paris.
Ela queria realmente ir ou estava na lista por que as outras crianças de sua idade tinham
ido? Até mesmo as crianças de pais solteiros como ela. Se ela não fosse, seria estigmatizada
como uma perdedora aos olhos das outras crianças.
Enfim, como muitos sonhos, alguns não se realizaram.
Não havia nada que a impedisse de arrumar as malas e partir. Mas, francamente, era
patético ir a Disney sem crianças para dividir a experiência.
Viu que planejara quatro filhos — um reflexo de seu desejo por irmãos e irmãs. Não
especificou quem seria o pai na época.
Esse era o último item na lista. Logo depois do livro ser abandonado. Esse era o
problema de se ter um plano mestre. Era um crescente contínuo. A vida por outro lado, era
um jogo.
Virou a página. A lista de compras não tinha sido escrita no caderno. Mas sim num
papelzinho amarelo. Certamente, o caderno era a maneira de sua mãe se lembrar que sua
vida não acaba quando suas metas passam das plausíveis para as impossíveis de serem
realizadas.
As vezes, temos que começar uma lista nova. Escrever uma nova meta para cinco anos.
E sobre esses sonhos impossíveis...
— Um passo de cada vez, mãe — murmurou consigo jogando o caderno na sacola.
Não tinha nada tão especial na lista. Nada que não pudesse pegar na lojinha da
esquina. Exceto o livro — que poderia facilmente esperar mais um dia. E as flores amarelas.
Em vez disso, comprou narcisos brancos em um pequeno mercado no final da Prior's
Lane e então seguiu até a livraria.
Quanto mais cedo terminasse, mais cedo iria para casa.
E, então, o quê? Enterrar-se entre quatro paredes e sentir pena de si mesma? Sua mãe já
teve tanta pena dela? Por que estava sendo tão gentil? Por que ela não lhe dizia para se
recompor e superar tudo aquilo?
Ela vislumbrou o caderno no fundo da sacola. Tudo bem. Sua mãe tinha razão. Ou, pelo
menos, ao sugerir que era hora de escrever outra lista. O primeiro item era fácil: parar de
sentir pena de si mesma.
Exceto por não ser assim que funcionava. Tinha que ser coisas mais práticas. Muito
bem. Item 1: arranjar emprego.
Assim, estaria ocupada demais para sentir pena de si mesma.
Infelizmente, ninguém em sã consciência contrataria uma gerente sênior que arruinara
o dia do presidente cobrindo-o e a seu protegido com champanhe.
Estresse! Não era estresse. Era mais simples que isso...
Depois disso ficou meio bobo. Enquanto compilar mentalmente a lista de tudo que
queria fazer com o lorde Markham e seu miserável afilhado tinha certo efeito catártico,
tudo era hipoteticamente impossível de se fazer. O ponto era riscar algo para ter a sensação
de ter conquistado alguma coisa.
Juliet terminou a lista, mas estava longe de sentir-se melhor.
Parou, olhou ao redor para checar onde estava. Prior's Lane seguia até a colina e virava
Harlequin Romance nº 8 8
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
no rio até a catedral. Não era apenas uma rua, mas um emaranhado de ruas e becos que
uma vez fora o coração medieval da cidade, um mundo à parte da estéril área de compras
no centro da cidade.
O lugar proporcionou um grande volume de compras com lojas e boutiques pequenas
mas excitantes, onde o ar cheirava a café torrado. Agora o predomínio de lojas de caridade
indicava a decadência do local.
Ela sentiu raiva por tanto desperdício de recursos. O que o Conselho Municipal estava
pensando? Ela já estivera em cidades com áreas como aquela, onde milhares de turistas
impulsionavam a economia, ajudando assim a cidade a prosperar.
Não eram só más notícias. Talvez, por conta do exercício da caminhada, o cheiro de pão
quentinho tenha lhe deixado com uma fome repentina, e então comprou uma bisnaga
recém-saída do forno. Pareceu-lhe perfeitamente natural acrescentar uma porção de queijo
e algumas azeitonas — sua mãe adorava e merecia um agrado de uma conceituada e antiga
panificadora italiana.
Na parte de Londres onde vivia — até atirar sua carreira fora com sua taça de
champanhe —, lojas como essa eram lotadas de fanáticos por comida que brigavam sobre
as massas recém-fabricadas e azeite virgem. Aqui, não havia ninguém por perto.
Um sino soou assim que abriu a porta da livraria. Era exatamente como ela se
lembrava. Sem concessões para o novo estilo de se vender livros, sem café, guloseimas,
cadeiras, sem incentivo a demoras.
Pelo menos, achou os livros que queria — sua mãe preferia novelas policiais com
mulheres fortes como heroínas. Quando não apareceu ninguém para pegar seu dinheiro ela
gritou:
— Olá.
Não houve resposta, então ela deu a volta nas prateleiras que dividiam a frente da loja
e reparou na disposição dos sofás e das cadeiras. O fato de as prateleiras estarem cheias de
livros antigos chamou sua atenção.
Então, aproximando-se do pequeno escritório nos fundos:
— Olá? Sra. Crawford? Tem alguém aí?
Foi quando viu Maggie Crawford estirada no chão. Uma cadeira virada próxima a ela
revelava a história.
Estava tão pálida que por um terrível instante Juliet pensou que ela estivesse morta, e
sua primeira reação foi de medo.
Pânico. O impulso vergonhoso de sair e deixar que outra pessoa a encontrasse passou
por sua cabeça.
— Não posso. Por que eu? — Juliet pensou. Então, jogando tudo no chão, correu para
ajudar.
— Sra. Crawford? Pode me ouvir?
Ela abriu os olhos, vagamente surpresa, e disse:
— Olá querida. É você, Juliet? Sua mãe disse que viria.
Sua voz estava fraca, mas pelo menos estava lúcida. Então disse:
— O que estou fazendo aqui embaixo?
— Não! — Juliet pôs sua mão nos ombros da mulher enquanto ela se sentava.
— Fique onde está. Você sofreu uma queda. — Juliet pegou seu telefone no bolso e
ligou para a emergência. Em seguida, tirou o casaco e desocupou as mãos para aquecer a
senhora. E explicou o que havia acontecido.
9 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
— É a sra. Crawford. Sra. Margaret Crawford. Livraria, Prior's Lane...
— Oh, Deus, que incômodo estou causando.
— Deixa disso, Maggie — Juliet retrucou enquanto sentava ao seu lado e segurava as
mãos dela firmemente.
— Agüenta firme, a ajuda já está a caminho. Há quanto tempo você está deitada aí?
— Não sei. Só queria conserta a janela. Lembro-me de ter começado e então me senti
tonta e...
— Shh.
— Você não entende. Não posso deixar isso assim...
Ela estava começando a ficar irritada e Juliet, olhando para cima, viu que uma das
vidraças estava quebrada. Tinha as marcas de uma tentativa de arrombamento.
Parecia ter sido apenas uma tentativa.
Ela viu um pequeno aquecedor elétrico e o ligou para combater o frio que entrava pela
janela. Então, numa tentativa de confortá-la e mantê-la quieta, disse:
— Não se preocupe. Vou dar um jeito de consertá-la...
Ela ouviu a porta da loja se abrindo.
— Olá! Alguém chamou socorro?
— Aqui.
Foi com alívio que ela entregou a paciente para os paramédicos. Primeiros socorros
nunca foram o seu forte.
A janela, por outro lado, era algo que ela poderia consertar. Ou pelo menos poderia
achar alguém que consertasse. Havia uma loja de serviços gerais do outro lado da rua. O
aviso do lado de fora dizia que se tratava de uma loja à moda antiga com serviços antigos e,
na verdade, parecia mais com um museu do qualquer outra coisa. Pareceu um bom motivo
para testar esse serviço à moda antiga.
— Vai demorar alguns minutos até vocês a levarem não é? — ela perguntou aos
paramédicos. — Vou chamar alguém para consertar a janela.
— Seria melhor se esperasse até que nós saíssemos senhorita, precisamos de algumas
respostas se não se importa.
— Mas... — Não. Obviamente, alguém tinha que ficar até que a janela fosse consertada,
e não havia mais ninguém.
— Claro. — Ela deu a eles seu nome, respondeu às perguntas que pôde, enquanto um
deles ajeitava Maggie.
O sino da porta soou novamente. Quando ela não podia se mover, o que fazia as
perguntas sorriu e disse:
— Muito bem, acho que é tudo que precisamos da senhorita. Pode atender o freguês se
desejar.
Juliet quase disse Não... eu sou a freguesa, mas deixou passar.
Alguém tinha de avisar às pessoas que a loja estava fechada.
— Desculpe — ela disse assim que se aproximou da mulher próxima à caixa
registradora.
— Creio que não há ninguém para atendê-la no momento.
— Não preciso de ninguém. Só vim pegar um livro que encomendei. Já está pago.
Maggie deixa as encomendas atrás da mesa.
— É mesmo? Tudo bem. É esse? — Ela pegou um livro de bolso grosso, um romance
épico. Havia várias outras cópias. — Deve ser um livro muito popular.
Harlequin Romance nº 8 10
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
— É a indicação do grupo de leitura desse mês. Maggie sempre os compra para nós.
— Ah, sim.
Ela colocou o livro em uma sacola e entregou à moça, fazendo uma nota do que havia
feito.
— Há algo errado? — perguntou a mulher sem nenhuma pretensão de sair.
— É Maggie.
Não tendo como negar a ambulância parada na porta da loja, disse:
— Ela sofreu uma queda.
— Que terrível. — Balançou a cabeça. — Ela não é mais jovem, e uma coisa assim mexe
com você. Você perde a confiança. Se ela quebrou alguma coisa, imagino que será o fim de
outra loja nessa área.
— Acha mesmo?
— Quem vai tomar conta da loja? Essas pequenas lojas não têm como competir, não é
mesmo? E mais barato comprar no supermercado, lá os best sellers são mais em conta. —
Ela tocou na bolsa com os livros de bolso. — Não se encontra algo assim nas prateleiras das
lojas pequenas, três pelo preço de dois.
— Acho que não.
— Muito bem, sra. Howard, estamos levando-a. Se ligar para o hospital daqui a
algumas horas, teremos notícias para a senhora.
— Oh, mas... — Ela deixou passar. Suas preocupações não eram tão importantes. —
Maggie tem alguém que você quer que eu avise?
— Você vai consertar a janela? Eles vão continuar a quebrá-las...
Era claro o esforço que fazia para falar, e Juliet não a pressionou. Não seria problema
algum conseguir alguém para consertar a janela.
— Vou cuidar disso, e então fecho a loja e vou vê-la no hospital.
— Pobrezinha.
— Só tem seu filho, mas trabalha em algum lugar no Oriente Médio. — Que ótimo! E
depois de lançar essa bomba, disse: — Bem preciso ir logo. Boa sorte.
— Mas...
Ocorreu a ela que dissera mas mais vezes nessa última meia hora do que nos últimos
sete anos. Sua resposta de praxe frente a um problema era Sem problema.
Brava consigo por ter sido tão patética, virou o aviso para Fechado e saiu.
Não havia problema algum. Tudo que precisava era achar uma vidraçaria, alguém para
tomar conta da loja e então ir ao hospital assegurar a Maggie que tudo estava bem.
Isso era tudo. Moleza para alguém com sua experiência e habilidade. Ela se sentou atrás
do balcão. Janela... Vidraceiro...
Ela se recompôs. A loja de materiais de construção.
Mas ela não podia sair e deixar a loja destrancada, e se trancasse, o vidraceiro não
poderia entrar.
Finalmente achou as chaves da loja, mas, a meio caminho da porta, mudou de idéia e
decidiu telefonar.
Pegando o telefone, percebeu que precisava fazer algo a respeito da gaveta. Guardar o
dinheiro. Com certo tom de ironia, pegou seu caderno e começou a fazer uma lista.
— Então, o que vai fazer com o armazém?
Greg olhou para as janelas imundas do escritório até o pátio deserto, imaginando o que
11 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
acontecera com os homens que trabalhavam lá.
— Não é só este lugar. O acordo inclui uma propriedade na parte antiga da cidade.
— Ótimo. Aluguel barato, manutenção cara. O telefone começou a tocar e Neil disse:
— Pode deixar, a Duke's Yard não funciona mais.
— Duke's Yard — Greg respondeu.
— E, além disso — Neil continuou, sabendo que estava falando sozinho —, é hora do
almoço.
— Graças a Deus. Consegui seu número na loja de materiais de construção na Prior's
Lane, mas não sabia se vocês estavam...
Greg, atento à voz em seu ouvido, ignorava Neil.
— Estavam o quê?
— Funcionando.
Quando ele não confirmou nem negou, ela disse:
— Obviamente, eles estavam enganados. Olha, isso é uma emergência, pode me
ajudar?
— Diga lá.
— Certo. Tenho uma pequena vidraça que preciso repor com urgência. Tem como
mandar alguém aqui para consertar?
— A que horas?
— O mais cedo possível. É em Prior's Lane, na livraria.
— Sei onde é. E seu nome é?
— Howard.
— Sério? Você não soa como Howard. Parece mais com Emma ou Sophie ou...
— Juliet Howard.
— Ou como Juliet.
— Desculpe, você disse algo? Não, olha, você pode fazer, porque, se não puder...
— Qual o seu telefone, Juliet?
— Por que precisa do meu telefone?
— Porque às vezes nos passam trotes.
Ela viu que não tinha escapatória, e depois de uma breve hesitação deu a ele o telefone.
— Estarei aí em dez minutos.
— Sério?
Neil balançou a cabeça, apontando para seu relógio, dizendo:
— Almoço.
Greg retrucou:
— Chocolate suíço.
— Tem algum problema? — perguntou.
— Não, estarei aqui — ela disse.
— Então, ela tem a voz de um chocolate caro.
— Se você estiver certo, terei feito minha boa ação do dia, se estiver errado...
— Se eu estiver errado?
A voz aveludada lembrava o mais fino chocolate.
— Você me conhece, Neil. Acredito na minha sorte.
— Sorte! Primeiro você nos leva a um desperdício de espaço e então decide abandonar
o almoço para ver quem é a dona dessa voz.
— Seu molengão — retrucou. — E é o meu desperdício de espaço, não o seu.
Harlequin Romance nº 8 12
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
Neil fez um gesto curto e obsceno.
— Tudo bem, meu caro desperdício de espaço vai lazer parte da nova área de
construção.
— Você... — Então: — Duke não sabia disso, sabia?
— Certamente, não disse a ele. E como não vai demorar no almoço às minhas custas,
pode ver se descobre o que aconteceu com sua força de trabalho. Se estão desempregados,
vamos ver o que podemos fazer por eles.
— Pelo amor de Deus! — Juliet desligou seu celular e o atirou em cima da mesa. A
última coisa que ela precisava era de um biscateiro se achando um presente de Deus para
as mulheres.
A Duke's Yard era o último número em sua lista e o biscateiro era o único que poderia
fazer o serviço a tempo. A despeito de sua promessa, ele não ligou de novo.
E torcendo para que ele tivesse uma brecha na programação e pudesse resolver o
problema para ela, cruzou os dedos esperançosa. Quão difícil seria trocar uma vidraça?
Ela poderia fazer provavelmente sozinha, se soubesse onde comprar o vidro e se tivesse
as ferramentas certas.
Percebeu que as mãos estavam trêmulas. Havia uma pequena cozinha ao lado do
escritório e ela achou uma chaleira; encheu-a e a colocou sobre o fogo, enquanto procurava
uma garrafa de café. Ela ouviu alguém bater na porta, mais uma vez. Ignorando a placa de
Fechado algumas pessoas do lado de fora ainda tentavam entrar na loja.
Se estavam desesperadas para comprar algum livro ou se era apenas curiosidade pelo
fato de a ambulância ter estado lá, ela não estava interessada cm descobrir.
Então, assim que derramou a água fervendo sobre o café, ocorreu-lhe que poderia ser o
caipira para consertar a janela.
Ela foi checar a porta.
Quando chegou para abrir, quem quer que fosse, já não estava mais lá. Antes de
destrancar a porta para ver se havia alguém do lado de fora, ouviu outra batida. Dessa vez,
na porta de trás. Ao contrário da porta da frente, essa porta era de madeira sólida. Antes de
abrir, ela gritou:
— Quem está aí?
— Cavaleiro Errante Associados. Donzela em perigo é nossa especialidade
— Oh, que maravilha. — Não apenas um biscateiro que se achava irresistível, mas que
também se achava engraçado. Quando abriu a porta, deparou com um sujeito trajando
jeans, uma jaqueta de couro e uma camisa bem colada ao corpo, que parecia ter sido feita
sob medida.
Seus cabelos eram longos e seus olhos tinham um tom azul profundo. O efeito era
agressivo e masculino. Convencido. Arrogante. E atrás dele, uma motocicleta para
completar.
Gregor McLeod, ela percebeu, não mudara nada.
Capítulo 2
A boca de Juliet secou e por um momento ela não podia pensar em nada para falar.
Tudo o que ela queria era que ele não se lembrasse dela.
13 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
— Estou no lugar certo?
Como ela não reconheceu a voz dele? Macia e grave, extremamente sexy.
— A livraria? Você ligou para a Duke's Yard para que consertássemos uma janela.
Foi assim que ela percebeu que ele não sabia seu nome; sempre a chamava de princesa.
Naquele tempo, ela era uma garota magra, de 13 anos, com roupas doadas e óculos
com armação de metal — e com seu longo cabelo em uma trança infantil, calmamente
seguindo seu herói pela escola.
Exceto, claro, que ele nunca fora herói.
Um herói não desapareceria de sua vida sem uma palavra.
— Sim. — Ela se recompôs, ignorando o desapontamento, pois enquanto ele causava o
maior impacto nela, ela nem sequer tocara em sua memória. Juliet se recusou a se
arrepender pelo fato de não ter se esforçado mais no que diz respeito à sua aparência.
Maquiara-se um pouco e arrumara o cabelo, só isso.
— Sim, aqui é a livraria. Mas não preciso de um cavaleiro errante. Preciso de um
vidraceiro. Ou pelo menos alguém que troque o vidro. — Ela se dirigiu à passagem de
acesso ao fundo da loja para indicar onde estava a janela quebrada. Ela se abaixou para
pegar uns cacos de vidro no chão, sem tirar os olhos dele.
— Solte isso. — Ele se abaixou ao seu lado e tomou os vidros da mão dela.
Atônita, ela o fitou.
— Você pode se cortar.
— Certo. Obrigada.
Não, ele não mudara nada. Estava mais pesado, claro, mas eram músculos. Havia rugas
delimitando seu rosto, saindo de seus olhos, dando personalidade a sua aparência. Mas ele
era o mesmo Gregor McLeod e ela teve a mais estranha impressão quando, olhando sua
lista de metas, ambições, enterrara-o no passado.
— Gostaria que ficasse pronto hoje.
— Se está insinuando que eu não cheguei em dez minutos como tinha dito, então a
culpa é sua. Se tivesse aberto a porta da primeira vez que bati, tinha adiantado 30
segundos.
— Oh, era você?
— Você achou que eu estava sendo otimista demais ao dizer dez minutos?
— Bem, sim. — Então, percebendo que não era a coisa mais sábia a dizer: — Não! Você
foi muito rápido. Achei que você fosse um cliente.
— Então você ignorou? Não quero dizer como deve tocar seu negócio, Juliet, mas assim
não vai vender muitos livros.
— Você está certo — ela disse. — Mas não vendo livros.
Ele se encostou na mesa, insinuando-se para ela.
Alguns homens não conseguem evitar, e mesmo sabendo que ela não era o tipo dele —
e ele também não era seu tipo —, tinham que esticar seus músculos. Bem ele estava
perdendo tempo com ela. Há muito trabalhando com homens, ela sabia que para evitar esse
tipo de investida a melhor estratégia era permanecer calma e com uma postura profissional.
Jamais demonstrar qualquer insinuação sexual. O máximo que poderia acontecer era pegar
a fama de fria, mas havia coisas piores. Estupidez, por exemplo. Ainda bem que o tipo dele
tinha uma atenção muito limitada; sabia que se uma mulher não respondesse aos músculos
salientes e ao peitoral bem definido, haveria outra em questão de minutos. Iram os homens
quietos, aqueles com cérebro, que tinham que ser observados.
Harlequin Romance nº 8 14
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
— Esperava que você ligasse e confirmasse que eu era uma adolescente passando trote.
— Nenhuma adolescente soaria como você, princesa.
Com certeza, ele chamava todas de princesa. Mais fácil do que lembrar vários nomes.
— Você consegue arrumar isso? Quero dizer, quanto tempo vai levar?
— Vamos ver. Vou medir a janela, pegar o vidro e limpá-lo, enquanto isso, você podia
me fazer um cafezinho e contar a história da sua vida.
— Quanto tempo? — ela repetiu. Ele devia achar aquilo uma diversão.
— Uma hora deve dar, dependendo de como a sua vida foi interessante até hoje.
Meu Deus, uma hora de flerte e conversa fiada. E quanto custa uma hora do seu
tempo? Por que você não paga o almoço e estamos quites? E ele tinha nervos para criticar o
senso de negócios dela.
— Vou trazer um bife do açougue da esquina, pode ser? Creio que você o coma cru.
Ele pegou uma trena no bolso e mediu a janela.
— Você sabe, tive que adiar meu almoço, estava saindo quando o telefone tocou, ia
almoçar com uma pessoa. Devia ter dito que estava ocupado.
— E por que não disse?
— É que pareceu que você precisava de ajuda.
Ela se recusava a cair na sedução de sua aparente empatia.
— Eu preciso de um vidraceiro não de uma pessoa para conversar, por que não esquece
o café e a história da minha vida? Chame a pessoa que ia almoçar com você. — Ela se
recusou a sucumbir ao ciúme que passou por sua cabeça.
— Tenho certeza de que ela esperará meia hora.
— Você esperaria? Esperaria?
— Em primeiro lugar, não concordaria em almoçar com você, por isso a ocasião nunca
aconteceria.
— Considere hipoteticamente.
Era tudo sua culpa. Ela quebrara a regra capital — nunca se envolver com alguém do
escritório. Seis meses atrás, ela poderia passar por essa conversa sem se aborrecer. Mesmo
com Gregor McLeod.
Mas seu senso de humor foi destruído pela rígida desculpa de Paul e não importava
quanto ela tentasse manter seu astral elevado, a raiva continuaria extravasando como um
vulcão em erupção.
— Hipoteticamente? — ela repetiu.
Fria. Calma. Educada como uma duquesa — não, como uma princesa. Isso ela podia
fazer.
— Foi o que disse.
— Então, hipoteticamente — ela respondeu —, eu diria que se tivesse concordado em
almoçar com você e você me explicasse que estava atrasado porque estava ajudando uma
donzela em perigo... — ela parou, notando a armadilha logo à frente.
— Continue — ele disse, sem esconder o fato de estar se divertindo muito com aquilo.
— Tenho certeza de que você pensaria em algo.
— Você não estaria sugerindo que eu tenho muita prática em dar desculpas, estaria?
— Isso é mais forte do que você — ela disse, decidindo que ficar fria e tranqüila não
adiantaria nada. Era melhor ser natural. — Você é homem. O mecanismo de desculpas vem
junto no pacote com os cromossomos. — Ela ouvia as palavras que saíam de sua própria
boca com certo fascínio. Para uma mulher que até alguns meses nunca se arriscara na vida,
15 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
ela parecia ter perdido os freios.
Felizmente, seu cavaleiro errante estava bastante ocupado anotando as medidas da
janela em seu caderno. Era um caderno idêntico ao seu. A capa preta brilhante, desgastada
pelo uso. Deveria estar quente, pois estava dentro de seu casaco, ela pensou.
— Por favor, fique sabendo que aprecio muito o sacrifício que está fazendo — ela disse.
Aquilo provocou uma reação nele. Nada excessivo. Apenas um movimento suave de
uma sobrancelha, sugerindo que ele não estava totalmente impressionado pela declaração
de apreço, não importava o quão profunda era essa declaração.
— Mas eu ficaria muito grata se você terminasse logo o serviço para que ambos
pudéssemos seguir em frente com nossas vidas — ela concluiu. — Imagino que você tenha
uma vida.
— E você tem?
Ele olhou para cima, e pensou no que ela disse, enquanto ela se dava conta de que era
melhor que ele permanecesse concentrado no trabalho. Comentários de cunho pessoal eram
um convite aberto para ele desenvolver suas técnicas de persuasão.
Ao ver que ela não iria responder, ele disse:
— O fato é que gosto de mostrar interesse pelos meus clientes. Gosto de conhecê-los.
Criar um relacionamento.
— Muito digno. — Assim era melhor. Manter uma distância prática. — Prometo que se
um dia precisar novamente de consertar uma janela, Duke's Yard será o nome em que
pensarei.
— Sarcasmo não é atraente numa mulher, Juliet.
Sarcasmo? Isso não era sarcasmo.
— Bem, obrigada...
Ela se conteve. Ele a chamava pelo nome numa tentativa de fazê-la perguntar pelo seu.
A verdade era que ela chegou muito perto de usá-lo sem pensar. Se ela fizesse isso, ele ia
querer saber como ela sabe e, ao passo que ele não ficaria nem um pouco envergonhado por
não ter lembrado dela, ela ficaria muito envergonhada se ele soubesse que ela nunca o
esquecera. Ela não precisaria da razão em palavras. Ele simplesmente saberia porquê.
— Vou anotar esse conselho — ela disse — e o colarei num lugar onde possa vê-lo
todos os dias.
Agora isso era sarcasmo, ela se congratulou. E, então, no momento de silêncio que se
sucedeu, ela se deu conta de que ele estava certo. Isso não era nada atraente. Não que isso o
impedisse de tentar mais alguma coisa.
— Então, o que aconteceu com Maggie Crawford? — ele perguntou. — Você está no
controle da livraria agora?
— Não.
— Está trabalhando para ela?
— Também não.
— Que pena. Este lugar bem que precisava de alguma coisa para trazer-lhe algum
brilho.
Nisso ela concordava com ele, mas não ia admitir. Mas, no que diz respeito a ela trazer
algum brilho...
— Maggie caiu de uma cadeira hoje de manhã. Estava tentando colocar um pedaço de
papelão na janela para bloquear o frio. Ela foi levada para o hospital.
— Sinto muito em ouvir isso. — Ele foi muito convincente. Ela quase acreditou nele. —
Harlequin Romance nº 8 16
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
Então, qual a sua conexão com ela?
Ele simplesmente não desistia.
— Você não tem que ir atrás de algum vidro? — ela perguntou.
— Quer saber, estou com fome. Talvez você esteja certa. Ainda posso...
— Não!
— Não?
— Olha, sinto muito, mas esta manhã tem sido muito complicada. Só vim aqui para
apanhar um livro para minha mãe. Encontrei Maggie caída no chão.
— E acabou ficando para consertar a janela? — ele perguntou, e ao olhar à sua volta
viu-a olhando para ele. — Para alguém que você não conhece?
— Ela estava preocupada e muito agitada. E eu a conheço, sim. Pelo menos minha mãe
a conhece. Eu vinha muito aqui quando estava na escola. Ela me deixava sentar num
cantinho e ler os livros que eu não podia comprar.
— Entendo. Sinto muito. Creio que você tem que voltar para o trabalho.
— Não, não tenho pressa. Estou desempregada.
— Haverá uma vaga aqui, pelo que parece. Pelo menos uma vaga temporária.
— Sim, bem, perguntarei à sra. Crawford o que ela vai fazer quando estiver bem o
suficiente. Enquanto isso, não posso deixar a loja aberta ao deus-dará. Ou a algum bandido
à procura de uma edição rara daquele livro popular Guia para principiantes de arrombamentos
de sucesso.
Era para ele ter rido disso. No entanto, pareceu pensativo e olhou de volta para a janela.
— Creio que a pessoa que fez isso estava era tentando invadir a farmácia ao lado.
— Um viciado em busca de alguma droga? Que bom. Isso me deixa muito mais
tranqüila.
— Você poderia deixar um bilhete lá fora dizendo: Isto é uma livraria. Favor arrombar a
porta ao lado...
— Tenho certeza que o farmacêutico ia adorar.
— O sistema de segurança dele deve ser muito melhor — ele disse caminhando na
direção da porta. Vou atrás do vidro. Por que você não vai atrás de umas guloseimas para
acompanhar o chá, considerando que o almoço foi cancelado? Faz muito tempo desde o
café da manhã.
— Isto é uma livraria, não um supermercado...
Ele saiu e a deixou falando sozinha, numa atmosfera saturada de feromônios e um
ronco de motocicleta.
Gregor McLeod era uma figura medieval. Não, na verdade um Neanderthal. Como ela
chegou a pensar que ele fosse... bem, não interessa o que ela havia pensado. Pelo menos ele
pareceu saber o que estava fazendo. E também veio, como prometera. Talvez ela não
devesse ser tão dura com ele.
Por outro lado, ele não precisava de nenhum encorajamento. Ela se assegurou de que a
porta estava trancada e sentou-se à mesa com o café morno, procurando pelo endereço do
filho de Maggie.
Ela não encontrou o endereço, muito menos a bolsa de Maggie. Isso teria de esperar até
que ela fosse ao hospital. Talvez ela tenha algum vizinho que possa cuidar de algumas
coisas pessoais dela.
Alguém que se responsabilizasse pela loja.
E, então, quando o estômago dela a lembrou que estava com fome, olhou no relógio e
17 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
se deu conta de quanto tempo havia passado desde que o cavaleiro errante partira. Ótimo.
Talvez ele tenha tido uma oferta melhor. Ou talvez tenha decidido ir almoçar. Ela não o
culpava, afinal tinha sido sarcástica ao extremo.
Ela suspirou. Não deveria tê-lo deixado se aproximar tanto dela. Ele não era
responsável pela admiração infantil que ela tivera por ele. Bem, era sim, mas tudo o que ele
fizera tinha sido ajudá-la quando ela caíra no chão. Colocara-a de pé. Juntara suas coisas, e
através daquele daquela boa ação manteve as crianças que implicavam com ela longe por
meses. Elas só voltaram a perturbá-la quando ele desapareceu...
Ela olhou para a janela. Se ele não voltasse logo, era ela quem subiria naquela cadeira
instável para tentar afixar um pedaço de papelão na janela.
Que alegria...
Ela telefonou para o hospital fingindo ser um parente de Maggie. Não havia nada de
novo além do fato de sua admissão no hospital e estar confortável.
Seu café já estava frio e ela preparou outra xícara. E percebendo que estava com muita
fome, arrancou um pedaço da baguete e preparou um sanduíche de queijo.
Ao dar a primeira mordida, ouviu alguém bater na porta de trás. Sem esquecer que
ainda podia haver um viciado pelas ruas em busca de alívio, ela não abriu a porta antes de
perguntar, com a boca cheia:
— Quem é?
— Juliet?
Ela abriu a porta.
— Perdão — ela disse, gesticulando com o pão.
— Obrigado — ele disse, pegando-o da mão dela, como se ela tivesse lhe oferecido. —
Estou morrendo de fome. Sabe que eu cheguei a pensar que o seu invasor tinha voltado e
amarrado você para evitar que você tagarelasse.
— Não sou tagarela... — ela disse, espirrando farelo de pão por toda parte.
Ele deu uma mordida no sanduíche.
— Oh, que maravilha...
Ela parou, mastigou e engoliu.
— Por que demorou tanto? — ela perguntou.
Ele terminou de comer o sanduíche dela e depois de lamber os dedos disse:
— Como aquela janela é de acesso tão fácil, fiquei procurando algo mais firme do que
vidro para servir de proteção. Segure a porta enquanto trago lodo o material aqui para
dentro. Todo material?
— Que material?
Ele não respondeu, apenas abriu as portas traseiras de uma pequena van com o nome
Duke's Yard e entregou a ela uma caixa que, de acordo com o rótulo, continha um kit de
segurança com alarme.
— Não. Espere... — Ele olhou para ela. — Não posso...
— Não pode o quê?
O que diabos havia de errado com ela? Estava tão indecisa quanto uma menininha no
primeiro dia de trabalho. Mas ela nunca fora assim. E sempre soube muito bem o queria —
estava tudo em sua lista —, e estava sempre determinada a conseguir.
Não, ela tremia como uma menininha que acaba de ser posta de pé pelo menino mais
sexy da escola. O menino por quem qualquer menina queria ser notada. Até mesmo
menininhas magricelas de óculos...
Harlequin Romance nº 8 18
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
— Olha, sinto muito sr... Cavaleiro. — Ah, como isso era bom. — Sr... Errante. Ou seria
sr. Duque? — ela perguntou.
— Agora você está querendo me insultar — ele disse. — O meu nome — já que você
perguntou — é McLeod. Gregor McLeod — ele disse.
— É mesmo? — ela disse, voltando para o presente. — Acho que não ouvi direito da
primeira vez. — E então: — Sinto muito, sr. McLeod, mas não estou na posição de fazer
esse gasto pela sra. Crawford.
— Greg ou Mac — ele disse. — Apenas as pessoas de quem não gosto devem me
chamar de senhor. E quem foi que falou em gasto? Pague um jantar e estamos quites.
Bem, ele tinha suas prioridades definidas. Um pedaço de vidro era equivalente ao
almoço. Um alarme contra invasores era equivalente ao jantar. Ela nem quis saber o que ele
esperava em troca da grade de ferro que ele retirava de dentro da van.
— Por outro lado, estou certa de que Maggie ficaria muito mais tranqüila se soubesse
que sua loja estava mais segura — ela disse.
— O jantar sairia mais barato — ele disse ao entrar.
Não, de acordo com a experiência dela.
— Sinceramente, não estou interessada, sr. McLeod.
— As mulheres geralmente me chamam de Greg ele disse. — Ou de Gregor.
— Só chamo pelo primeiro nome as pessoas de quem gosto — ela respondeu —, mas
não me importo de parar de chamá-lo de senhor, se isso o ofende. E apenas para mostrar-
lhe que não era nada pessoal, ela sorriu e disse: — Vou preparar aquela xícara de chá,
McLeod.
— Você é um doce — ele disse, ao enfiar a mão no bolso da jaqueta —, mas creio que
tenha sido uma boa idéia eu ter trazido alguns bolinhos de chocolate.
Ele entregou o pacote a ela, ainda com o calor do seu corpo.
— Adorável — ela disse, ao segurar o pacote a certa distância, como se ele mordesse.
Ela sabia que o chocolate grudaria em seus dedos e ela não resistiria em lambê-los. Uma
vez que fizesse isso...
Não. Ela apenas deixou o pacote em cima da mesa. Se ele quisesse, teria que abri-lo por
conta própria.
— Gasto muito pouco num encontro — ele disse.
— Vou lembrar disso — ela disse ao dar-se conta de que ele a fitava com certa
expectativa de que seu coração desse pulos em resposta àqueles olhos azuis. Da maneira
como acontecia todos aqueles anos atrás. — Se um dia precisar de um encontro barato, vou
lhe avisar.
Ela o deixou ali e foi até a cozinha encher a chaleira, indicando a ele que, se dependesse
dela, a conversa já tinha acabado e ela agradeceria muito se ele seguisse com o trabalho.
Não que ela esperasse que ele desistiria assim tão fácil. Ela ficou surpresa — e para ser
honesta, um pouco desapontada — quando ele não fez qualquer comentário fora de linha.
Ela olhou para trás.
Ele havia tirado a jaqueta e, por ela ter olhado, ele tirou a camisa, revelando uma
camiseta colada no corpo. Apenas um homem desejando mostrar seus dotes de Tarzan
usaria algo daquele tipo, ainda mais no trabalho, ela pensou. Mas o silêncio dele era
explicado pelo fato dele estar concentrado na remoção dos cacos de vidro da janela.
Ao se esticar, os músculos do ombro se enrijeceram e a camiseta subiu, ameaçando
expor alguns centímetros de carne de sua cintura.
19 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
Ao dar-se conta de que estava prendendo a respiração ao antecipar aquela visão — ela
podia até estar desligada da metade masculina da população, mas não estava morta —, ela
se virou rapidamente e acendeu o fogo sob a chaleira antes de voltar à loja, onde se
manteve ocupada arrumando os livros em cima da mesa. Vasculhou a correspondência
para ver se havia algo urgente e deu a si mesma um tempinho para se recuperar do desejo
irracional que a pegara de surpresa.
Ela nunca agia de maneira irracional, mas tinha que admitir que a proximidade de um
homem de jeans apertados fazia enorme diferença se comparado a homens de ternos caros,
camisas de alfaiataria e cortes caros de cabelos, preferências dos homens que, até
recentemente, faziam parte do seu dia-a-dia.
Para dizer a verdade, apesar de estar um pouco grande, os cabelos de Gregor McLeod
eram cortados por alguém que entendia do assunto.
— Acho que você deveria fazer alguma coisa em relação a essa chaleira — ele gritou,
interrompendo os pensamentos dela.
Por outro lado, no mundo corporativo politicamente correto, ninguém esperaria que ela
fizesse chá. Não que isso fizesse alguma diferença, afinal das contas.
Para chegar ao topo na Markham & Ridley ainda era preciso fazer xixi de pé.
— Você podia comprar uma daquelas chaleiras que desligam sozinhas — ele disse,
enquanto ela retornava àquela pequena cozinha repleta de vapor.
Sem se preocupar em perceber a presença dele, ela desligou o fogo, pôs um sachê de
chá numa caneca e despejou a água quente.
Era para ter desligado sozinha. Certamente, já estava estragada. Assim como o resto da
loja. Como o resto da rua.
— Creio que Maggie tenha outras coisas em mente — ela disse, enquanto adicionava
leite e açúcar antes de deixar a xícara na mesa atrás dele.
— Então, quem vai cuidar das coisas por aqui? — Ele encaixou o vidro na abertura. —
Enquanto ela estiver no hospital.
— Hã? Oh, não faço idéia — ela disse, desviando o olhar dele. — Talvez o filho dela
volte para casa e resolva alguma coisa.
— Jimmy? Eu duvido. Ele é que não aparecerá por aqui mesmo.
— Você o conhece?
— Estudamos na mesma escola. E você?
— Se eu estudei na mesma escola que você e Jimmy Crawford? — ela perguntou,
querendo ganhar tempo.
Ele riu.
— Você só pode estar brincando. Você tem o tipo de voz peculiar às pessoas que
estudaram em escolas privilegiadas como a St. Mary's Ladies College. Ou algum lugar
parecido.
E obviamente, Juliet pensou, se os rumores que rondavam a escola depois que ele
sumiu fossem verdadeiros, ele saberia tudo sobre isso.
— Só quis saber se você conhecia Jimmy Crawford ele insistiu.
— Oh, entendi. Bem, suponho que já o tenha visto na loja, mas nunca conversei com
ele. — Ele não pareceu acreditar no tom da resposta dela. — Não vivo em Melchester desde
que saí para a universidade.
Ele deu de ombros.
— Se é o que você diz. É que ainda estou tentando entender o porquê de você se prestar
Harlequin Romance nº 8 20
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
a todo esse trabalho. Você poderia simplesmente ter trancado a porta e ido embora depois
que ambulância partiu com Maggie.
— Sou uma cidadã considerada e responsável — ela respondeu, tentando não lembrar
do pânico inicial de sua reação. A fração de segundo em que ela quase se mandou dali.
— Oh, certo. Bem, então é isso. E onde você tem vivido? Londres? — Ela não o
encorajou nem um pouco. Ele não precisava disso, e entendia o silêncio dela como
consentimento. — E agora voltou para casa. Por quê? Separação?
Ele não desistia nunca. Mais cinco minutos dessa conversa e ele saberia de tudo nos
mínimos detalhes, inclusive a lamentável história da volta para casa para se afogar nas
mágoas.
Uma batida forte e contínua na porta da frente a salvou.
— Para dizer a verdade, acho que vou atender à porta. Já que estou presa aqui por um
tempo, vou aproveitar para fazer algo útil. Como vender alguns livros. Se me dá licença...
Ela não esperou nem mais um segundo. Talvez ela não tivesse a menor idéia sobre
como vender livros, mas sabia que era bem mais fácil do que lidar com Gregor McLeod.
Greg a fitou enquanto ela saía. Aquela mulher tinha muita classe, e não era apenas na
voz. Mas havia algo estranho, ela parecia estar fugindo de alguma coisa. Sem maquiagem,
cabelos desarrumados, sua primeira impressão foi de desapontamento. Mas quando ela se
abaixou para pegar os cacos de vidro e logo em seguida olhou para ele, era como se já
tivesse vivido aquilo antes.
Algo naqueles olhos acinzentados e naqueles cabelos era muito familiar. E quase
chegou ao ponto de perguntar Não conheço você de algum lugar?
Felizmente, ele conseguiu se frear. Ela não poderia ter deixado mais claro que não
estava interessada, e não era preciso muita imaginação para descobrir a maneira como teria
respondido a uma cantada velha como aquela.
Capítulo 3
— O que você está fazendo?
Juliet deixou de lado a mesa pesada e olhou à sua volta. McLeod estava apoiado contra
a prateleira mais próxima olhando para ela. Ele havia trocado de camisa e parecia ter estado
ali um bom tempo, o que a irritou profundamente, por alguma razão.
— Estou empurrando esta mesa — ela explicou, como se falasse com uma criancinha.
O olhar dele sugeriu que fosse falar mais uma vez sobre sarcasmo. Obviamente, ele
mudou de idéia, pois disse:
— Vou perguntar de novo. O que você está fazendo lutando com essa mesa...
— Ela está no caminho — ela retrucou. Por três vezes ela teve que se espremer para
pegar um livro para um freguês, e nas três vezes bateu com a canela. Isso era o suficiente.
Ela não levou dez minutos para se dar conta de que toda a loja precisava ser reorganizada...
— Não faz sentido ter livros à mostra se ninguém consegue alcançá-los — ela disse.
— ... se tudo o que precisava ter feito era ter me chamado que eu viria ajudar — ele
terminou, ao ir até o outro lado da mesa para movê-la com suas mãos fortes. — Então,
Juliet, onde quer que eu a ponha?
Ele estava de frente para ela, braços abertos, ombros fortes. Meu Deus. Tão... ali na cara
dela. Tão... físico. Pior que isso, ele tinha um olhar que parecia tentá-la a entender aquela
21 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
pergunta da maneira que quisesse. Ela limpou a garganta e saiu do , caminho.
— Em lugar nenhum.
— Mesmo?
Ele inflou aquela palavra de significado. A maior parte era descrença. Ela achou que a
resposta que ele esperava fosse em qualquer lugar. Ela estava errada ao pensar que podia
lidar com o tipo dele. Gregor McLeod não era um tipo. Ele era único.
Há muitos anos ela pensou que ele fosse único e bom...
— Mesmo — ela disse, ignorando o fato que ela estava muito mais quente do que
deveria naquele clima frio de março, além do aquecedor fraquíssimo ali na loja, mas nada
nesse mundo faria com que ela tirasse o suéter.
Agora ela entendia que ele era único e provocante...
— Nesse caso, é melhor tirar os livros daí primeiro. Se as pernas se soltarem, talvez eu
consiga colocá-la na van.
Único e irritante...
— Na van?
— Você quer tirá-la do caminho, não quer? Tem um lugar lá na loja onde posso deixá-
la.
— De jeito nenhum!
— Não me incomodo. — E ele fez algo com a boca, um canto levantou em algo
diferente de um sorriso, mas era, com certeza... alguma coisa. — Eu adiciono esse serviço à
conta.
Uma gota de suor escorreu pela nuca de Juliet. Único e sexy.
— Não! — Oh, meu Deus. — Digo... — Ela não fazia idéia do que estava dizendo. —
Esquece. — E então: — Você já acabou?
— Prontinho para a inspeção, madame.
— Ótimo. Isso quer dizer que já posso ir.
Ela virou de costas para a mesa e foi até a porta da frente, girou a tranca, fechou um
pino próximo no chão e deu um pulo ao se virar e encontrar Greg logo atrás dela.
— Você esqueceu um — ele disse, esticando o braço acima dela para fechar o pino no
topo da porta, dando a ela uma visão privilegiada do seu peitoral e um cheiro masculino —
couro, loção após barba, óleo da junta da janela...
— Tem certeza em relação à mesa? — ele perguntou, ao se afastar e deixá-la escapar.
— O quê? Oh, sim. — Ela tinha quase 30 anos, pelo amor de Deus. Ela não babava mais.
Nem mesmo Paul a deixava desse jeito. Nem ao menos chegou perto disso, mas era como
se, uma vez abaixada a guarda, ela agora se encontrava vulnerável... — Eu me distraí por
um instante. — Ela pegou uma mecha de cabelo que se soltara da presilha e ajeitou-a atrás
da orelha. — Acontece nesse trabalho.
— Você está no ramo de remoção de móveis?
Ela sorriu.
— Não, McLeod. Eu estou, ou pelo menos estava, até recentemente, no ramo de
gerência empresarial. — Embora a razão pela qual uma pessoa tão boa em gerenciamento
fizera um serviço tão medíocre em sua própria vida era difícil de enxergar. Paul, ao
contrário de Gregor McLeod, nem ao menos estivera em sua lista...
— É mesmo? E isso envolve remover móveis?
— Envolve lidar com problemas — ela disse.
— E a mesa é um problema. Diga-me, princesa, se eu lhe dissesse que tenho um
Harlequin Romance nº 8 22
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
problema, você não teria o impulso incontrolável de resolvê-lo para mim?
Ela não podia acreditar que ele acabara de dizer aquilo.
Ela não podia acreditar mesmo que estava ruborizada...
— Sinto lhe informar, mas você vai ter que entrar na fila. Nesse momento, eu é que
estou com problemas demais, e até que encontre um emprego e um lugar para viver... —
ela parou. Isso era bem mais do que ele precisava saber. — O que eu não preciso é de ficar
encarregada de uma livraria à beira da falência. Assim como tudo mais nessa área. O que
há de errado com essas pessoas? Com um pouquinho de imaginação — e uma camada de
tinta fresca — essa área poderia se tornar numa atração de verdade.
— Sua imaginação deve estar um pouco animada demais. Essa área precisa vir abaixo
para que possamos começar do zero.
— Você só pode estar brincando. Prior's Lane é cheia de personalidade. Repleta de
história. A catedral e o castelo atraem muitos visitantes e aqui já foi o lugar onde eles
vinham gastar dinheiro.
— Não depois que o shopping foi construído.
— O novo shopping não passa de uma cópia de vários outros em todo o país. Aqui a
coisa é diferente.
— Sem dúvida nenhuma.
— Tudo o que precisa é de alguns lugares decentes para se comer, algumas reformas e
a publicidade correta para atrair lojistas de volta para esta área. Como a Portobello Road ou
The Lanes em Brighton.
— Esse ramo de antigüidades não está um tanto quanto saturado?
— Esqueça esse ramo. Antigamente, havia lindas lojinhas por aqui. Ainda há algumas,
embora tenha que procurar por elas. Uma boa confeitaria, uma dellicatessen italiana
maravilhosa — você mesmo já experimentou os produtos de lá —, e tem uma loja de
materiais de construção que parece algo tirado dos anos 1950. Uma peça rara. Ainda é
possível se comprar parafusos avulsos por lá. Pregos pelo peso. — Ela pôde ver que ele não
entendia. — O que a Prior's Lane precisa são os tipos de lojas que não se vê mais em
nenhum lugar. Por aqui tinha um aviário, um chapeleiro...
— Um chapeleiro?
— Bem, está certo, mas quando eu era criança, vivia olhando para aquela vitrine e
sonhando... — Ao ver a expressão no rosto dele, ela percebeu que estava meio perdida em
seus pensamentos nostálgicos. Ela deu de ombros e disse: — Isso é comprar com diversão.
— Certamente, isso é uma coisa de menina — ele disse. E, então, com um sorriso que
deveria ser um crime: — Embora eu goste do som de parafusos soltos.
Ela considerou responder com: insinuações não são nada atraentes num homem, mas
decidiu que ignorá-lo seria muito mais sábio, e disse simplesmente:
— Não que isso seja da minha conta, é claro.
— Posso ver que você não considerou isso nem por um segundo.
— Não precisei de um segundo. Um olhar foi tudo o que precisei. — Seria um projeto
interessante, algo que valeria muito a pena. Se ela não tivesse outros problemas mais
imediatos para resolver. — Não tenho tempo para mais nada. Nem para ficar arrastando
móveis por aí. E, além do mais, imagino que Maggie goste daqui exatamente do jeito que
está.
— Talvez. Ou talvez ela só não tenha ninguém para ajudá-la com essas coisas. Talvez
você esteja fazendo um favor a ela.
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LizFielding A lista de desejos de Juliet
— É possível, mas, de qualquer maneira, isso não é da minha conta. Quanto lhe devo?
Ele deu de ombros.
— Como você apontou, não é da sua conta.
— Eu lhe chamei. Eu pago a conta.
— E por que eu não mando direto para o dono?
— Mas eu não sei quem é.
— Eu sei.
— Certo. — E então ela franziu a testa. — Seria ele o responsável por uma janela
quebrada?
— Se ele tentar se safar, telefono para você e então me leva para jantar como você
prometeu.
Ela ignorou o pequeno tremor de ansiedade que cruzou seu corpo. Ela já cometera
erros demais esse uno e não era nem Páscoa ainda.
— Não lhe prometi nada, McLeod. E a grade e o alarme de segurança?
Ele abriu um sorriso maroto.
— Ah, bem, isso é outra história. Mas estou aberto a negociações.
Recusando-se a se deixar levar por mais uma insinuação, ela disse:
— O sr. Duke não vai se incomodar com esse biscate? Usando a van dele, e seus
materiais para fazer serviços por fora?
— Duke nunca ficará sabendo.
— Sei.
— Sabe mesmo, Juliet?
Ela sabia era que ele a estava envolvendo num esquema para subtrair seu empregador.
— Talvez seja melhor eu telefonar para ele e cuidar da conta diretamente com o chefe.
— Você está tentando me encrencar? Depois que desisti do meu almoço por sua causa?
— Não. Não, claro que não — ela disse. — Imagino que você prefira o pagamento em
dinheiro pelo alarme — ela disse, tentando se recompor e se lembrar de onde havia deixado
a bolsa.
— Já disse, não quero o seu dinheiro.
Ela nunca antes tivera tanta dificuldade em se livrar do olhar de um homem.
— Isso é muita generosidade de sua parte — ela disse. — Tenho certeza de que Maggie
ficará muito feliz quando eu lhe contar.
Ele sorriu mais uma vez. Não foi o sorriso completo, foi um sorriso mais pensativo,
deixando-a com um sentimento desconfortável, dando-lhe a entender que ele sabia de algo
que ela não sabia. Mas tudo o que disse foi:
— É melhor eu lhe ensinar como ligar o alarme antes de ir.
Ir? Então era só isso?
Ele se virou e foi na frente, na direção do escritório.
— Quer checar a janela?
É, aparentemente era só isso mesmo. Ela pegou a xícara de café que abandonara e to-
mou um gole, apenas para umedecer os lábios.
— Está ótimo. Muito obrigada. Você fez um ótimo trabalho.
— Quer dizer, então, que me recomendaria para os seus amigos?
Amigos? Ela não tinha nenhum amigo. Ela trabalhava demais para ter amigos. Ela
tinha colegas, conhecidos do mundo dos negócios e um ex-namorado traidor. Nenhum dos
quais queria falar com ela nesse momento. Ou talvez nunca mais.
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Liz Fielding Her wish-list bridegroom
— Claro.
— Você hesitou por uma fração de segundo nessa, Juliet, mas valeu pelo esforço. — Ele
se virou para o interruptor que pregara na parede. — Isso é muito simples. Vire a chave
quando sair. Para baixo, liga; para cima, desliga. Demora dez segundos antes de começar a
berrar a todo vapor acordando até os mortos.
— É só isso? Não existe um código que eu preciso saber?
— Não. Isso não é nada muito sofisticado, é apenas um fio de contato conectado à porta
de trás e à janela — ele disse, enquanto lhe mostrava como fazia —, mas é muito alto, o que
normalmente é suficiente para deter o ladrão. Tem certeza de que não quer que eu lhe ajude
a mover a mesa antes que eu vá embora?
— Tenho.
— Tudo bem. Então já vou. — Ele tirou um cartão do bolso da camisa e entregou a ela.
— Esse é o meu celular, caso você tenha mais algum serviço por aqui.
Ele já estava indo embora? Dessa maneira? Ela esperava que, pelo menos, ele repetisse
a oferta do jantar. Ele falara sobre isso diversas vezes. Mas, não, ele entrou na van, e depois
de um aceno casual, foi embora.
Certo. Bem, tudo bem. Ela queria mesmo que ele fosse.
Ela fechou a porta.
Agora ela também podia ir embora.
Primeiro, ela escreveu um bilhete avisando aos fregueses que a livraria estaria fechada
temporariamente, e colou-o na porta. Em seguida, depois de pagar pelos livros que
comprou, contar o dinheiro na gaveta e escrever uma nota dizendo exatamente quanto era,
ela pôs os livros numa sacola e enfiou-os na bolsa de compras da sua mãe. Em seguida,
pegou as flores, ligou o alarme e saiu pela parte de trás da loja, assegurando-se de que a
porta estava bem fechada.
Juliet pôs as flores na mesinha-de-cabeceira e se inclinou sobre a cama.
— Maggie?
— Olá, querida — ela disse, parecendo bem pequena naquela cama de hospital. Muito
frágil. — São lindas.
— Foi mamãe quem as enviou. Ela pediu para lhe dizer que jogará suas cartelas no
bingo. E dividirá os prêmios.
Maggie riu.
— É assim que fazemos. Ela é muito querida. E você também. Não sei o que teria
acontecido comigo se você não tivesse me encontrado lá.
— Só fiz o que qualquer um teria feito — ela disse. — Como está se sentindo?
— Uma estúpida. Continuo a dizer-lhes que não há nada de errado comigo exceto por
alguns arranhões. Só fiquei um pouco tonta, só isso.
— Bem, não vou lhe incomodar por muito tempo mais. Tenho certeza que descanso é a
melhor coisa para você agora. Mas pensei que poderia estar preocupada com a loja.
— Não, querida, você disse que ia tomar conta dela e eu acreditei.
— Chamei alguém para consertar a janela e tranquei tudo direitinho. — Não pareceu
necessário incomodá-la com os detalhes do alarme rudimentar que McLeod instalara por lá.
— Você foi muito boa.
— Não foi nenhum incômodo. O rapaz que consertou tudo disse que enviaria a conta
para o dono.
— O dono? — Maggie tentou rir, mas era aparentemente muito esforço para ela. —
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LizFielding A lista de desejos de Juliet
Quero ver. Ele não conserta nem as coisas que deveria.
Juliet ofereceu-lhe água, ajeitou-a nos travesseiros e disse:
— Não se preocupe com isso agora. — Ela teria de ir à Dukes's Yard para ver se
encontrava McLeod e acertava tudo. — O que preciso mesmo saber é o que você deseja que
eu faça com o dinheiro da gaveta? Está bem guardado, mas deveria estar no banco. E tem a
chave também. O que você gostaria que eu fizesse com ela?
— Dinheiro? Só havia uns trocados.
— Bem, eu fiquei por lá enquanto o rapaz consertava a janela e os fregueses
continuaram a chegar. E, claro, comprei dois livros. Tem um dinheirinho bom lá...
Ao dar-se conta de que os olhos de Maggie haviam se fechado e que ela estava falando
sozinha, Juliet pegou as flores e foi em busca de algo para colocá-las dentro.
Na volta, ela foi parada por uma enfermeira.
— Você telefonou hoje cedo? Parente da sra. Crawford?
Oh, meu Deus. Ela já havia esquecido daquela mentirinha.
— Sim — ela disse. — E não. Meu nome é Juliet Howard, e liguei sim, mas não sou
exatamente parente dela. Eu sabia que vocês não me dariam notícias dela a não ser que eu
fosse.
— Então, quem é você?
— Ninguém. Bem, obviamente, eu sou alguém... — Ela parou. — Minha mãe a conhece.
Fui eu quem a encontrou e chamou a ambulância. Desculpe.
A enfermeira franziu a testa.
— Então, você é uma vizinha?
— Também não. Apenas uma freguesa na livraria dela. Algum problema?
— Nada que um parente — ou um vizinho — não pudesse ajudar. O fato é que Maggie
precisa de alguns objetos pessoais. Camisola, escova de dentes...
— Ninguém mais veio visitá-la? Ela não lhe pediu para telefonar para ninguém?
— Ela nos disse que o filho está fora do país e se recusou a nos dar um telefone de
contato. Disse que não havia nada que ele pudesse fazer e não fazia sentido preocupá-lo
com isso.
McLeod sugerira, de certo modo, que ele não ia querer ser incomodado. Ela dissera a
verdade quando disse que não conhecia Jimmy Crawford. Era bem possível que ele fosse
mais velho do que McLeod, claro.
— Creio que você não saiba como entrar em condito com ele, sabe?
— Não, não sei. E a sra. Crawford está certa sobre uma coisa: ele não vai poder ajudar
com a escova de dentes. — E, então, como parecia não haver mais nada que ela pudesse
dizer: Para ser sincera, estou com as chaves. Se isso ajudar, posso perguntar se ela quer que
eu vá buscar seus objetos de uso pessoal. — E torcer para encontrar um vizinho que possa
assumir essa situação. — Por quanto tempo ela ficará no hospital?
— É difícil dizer. A sra. Crawford disse que teve uma tonteira súbita. Estamos fazendo
alguns testes, mas é bem provável que ela tenha tido um infarto leve.
— Nesse caso, alguém vai ter que entrar em contato com o filho dela e dizer o que
aconteceu, para que ele possa fazer o que for necessário.
Juliet notou que por mais que estivesse preocupada com a situação de Maggie a
enfermeira viu algo atrás dela que pareceu tirar toda a sua atenção.
Esse algo era nada mais nada menos que McLeod.
Sem a calça jeans. Ele estava vestido com calça social, uma camisa suave e uma jaqueta
Harlequin Romance nº 8 26
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fina de camurça. E ele carregava um buquê de flores que fazia as flores que ela carregava
parecerem completamente inadequadas, embora ela estivesse grata demais por ter se dado
ao trabalho de lavar os cabelos e colocar uma maquiagem no rosto para se preocupar com
isso.
Não que ela esperasse encontrar McLeod mais uma vez, mas havia sempre a chance de
esbarrar em alguém dos tempos da escola. Alguém que pudesse se lembrar dela. Pelo
menos foi isso que disse a si mesma.
Sua mãe não dissera uma só palavra sequer, mas ficou muito feliz em lhe passar as
chaves do velho carro, evitando assim que Juliet pegasse três ônibus para chegar até o
hospital.
— Também gostei de lhe ver novamente, princesa.
— Por favor, não me chame mais disso. Ele deu de ombros.
— Como está Maggie?
— Tão bem quanto o esperado. — E, então, ao ver a expressão de esperança no rosto da
enfermeira: — Desculpe, mas esse não é o filho de Maggie. É apenas um homem de
biscates. — Ela olhou para ele. — Por que está aqui? Oh, não, não venha me dizer. Maggie
disse que o dono do prédio se recusaria a pagar pelo vidro.
Os olhos dele escureceram por um momento e ela sentiu o calor de pura raiva.
— Tenho certeza que quando você parar para pensar vai desejar não ter dito isso.
Ela não precisava de tempo para pensar, já estava arrependida. Mas é que havia algo
sobre toda aquela testosterona indomada que a irritava além da conta. Mas pelo menos ela
sentia algo. Até mesmo irritação era melhor do que a depressão pela qual vinha passando
nas últimas semanas.
— Ela está aqui, McLeod — ela disse, ao se virar e caminhar na direção da enfermaria
onde Maggie estava, com vários outros pacientes. Ela não olhou para trás para ver se ele a
seguia. Não era necessário. Os pescoços virados no caminho lhe asseguravam que ele
estava bem atrás.
— Ela está dormindo — disse McLeod.
— Por favor, não se sinta obrigado a ficar se você tiver algo mais importante agendado
— ela disse, ao colocar o vaso que segurava em cima do armário. — Ficarei feliz em dizer
que você veio, rapidamente, quando ela acordar.
— Não estou com pressa. — Ele sorriu para a jovem enfermeira e lhe entregou as flores
que trouxera. — Você pode encontrar um vaso para colocá-las, meu doce? — A garota ficou
ruborizada e as pegou, sem dizer nada.
— Por que você não pediu uma xícara de chá, com leite e açúcar? — Juliet perguntou.
— Enquanto estava com o sorriso ligado.
— Você se lembrou. — E ele a fitou por um instante com um olhar tão profundo que ela
sentiu um calor subir ao rosto. E, então, satisfeito, ele se virou para Maggie, cujos olhos
agora estavam abertos.
— Olá, Maggie — ele disse, dando-lhe um beijo na testa. — Ouvi dizer que você foi à
guerra.
— Gregor... — ela sorriu. — Que bom ver você. Você veio visitar alguém?
— Você. Fiquei sabendo sobre o ocorrido e vim ver se precisava de algo. Quer que eu
tente entrar em contato com Jimmy? Quer que lhe diga o que aconteceu?
— Ah, não. Não precisa incomodá-lo. Ele está ocupado demais para voltar correndo
para casa a cada cinco minutos — ela disse.
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LizFielding A lista de desejos de Juliet
— Alguém tem que cuidar da loja — ele disse. — Juliet tem feito um ótimo trabalho...
— Maggie — Juliet interrompeu. A última coisa que Maggie precisava agora era ser
incomodada com assuntos da loja. — Você vai precisar de algumas coisas. Ficarei feliz em ir
buscá-las para você.
E em seguida disse:
— Você tem um vizinho ou amigo para quem deseja telefonar?
— Oh, não, isso seria difícil. Não há muitos vizinhos por lá. As pessoas costumavam
morar em cima das lojas, mas ninguém mais faz isso. Hoje em dia indo é escritório.
— Escritórios? — Juliet olhou para McLeod, aguardando uma explicação.
— Maggie mora no andar de cima da livraria — ele disse. — Achei que você soubesse.
Ela o fitou. Então, foi por isso que ele consertou o alarme? Claro que sim. Droga, agora
sim ela se sentia mal.
— Não — ela disse. — Gostaria que você tivesse mencionado. Eu poderia ter trazido
algumas coisas dela comigo. — E mais uma vez ela desejou ter mantido a boca fechada.
Discutir com ele não ajudaria em nada. Nada disso era culpa dele. — Deixa para lá, posso ir
pegá-las agora. Tem alguma coisa em particular que gostaria que eu trouxesse, Maggie?
— Que gentileza, querida, mas não precisa se preocupar comigo. Continuo a dizer a
eles aqui no hospital que não vou ficar. Se eles apenas trouxessem minhas roupas...
— Você ainda não pode ir para casa, Maggie — Juliet disse com cuidado. — Terá que
ficar por mais um tempo, até que eles terminem os testes.
— Oh, não, isso vai ser impossível. Como Gregor disse, não há ninguém para cuidar da
livraria.
Juliet olhou para ele. Que homem estúpido e sem consideração. Preocupando a pobre
mulher.
Ele sorriu de um modo que sugeria que ela se arrependeria profundamente sobre o
comentário sobre o biscate e disse:
— Como estava dizendo, Juliet fez um ótimo trabalho hoje. Na verdade, ela estava
pronta até para mover uns móveis de lugar...
— Já era tempo. Eu estou para chamar alguém para tirar aquela mesa de lá. Estou
sempre batendo com a perna nela.
— Então ela é com sua garota. Trabalha com gerenciamento...
— Não tem nada a ver com gerenciamento de loja de varejo...
— E, olha só que sorte, ela também está atrás de emprego. Por que não pede que ela
assuma a loja até que você esteja bem para trabalhar? — ele prosseguiu, como se ela não
tivesse falado nada.
— Oh, eu não poderia incomodá-la — disse Maggie, economizando a Juliet ter de
explicar porque não podia.
— Não seria incômodo, seria, Juliet? — McLeod persistiu. — Vocês têm muitas coisas
em comum. Ela está bastante interessada em restaurar a área da Prior's Lane para deixá-la
como era no passado.
— Oh, nem me faça começar com esse assunto -disse Maggie.
— Não, de verdade, adoraria ajudar, mas...
— E tem o apartamento do último andar. Ainda está vazio, não está? Juliet está
procurando por um lugar para viver, também.
— É mesmo? Bem, imagino que viver com sua mãe é um tanto quanto restritivo para
vocês duas. O apartamento precisa de uma limpezinha. Todas aquelas escadas são um
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esforço muito grande para mim, hoje em dia.
— McLeod! — Juliet interveio. — Maggie, não liga para ele. A última coisa que você vai
querer é alguém que você praticamente não conhece cuidando da sua loja e vivendo no
andar de cima.
— Ah, eu conheço você desde que nasceu, Juliet. E sua mãe é o tipo de pessoa em quem
confio cegamente. Mas não é só a loja. Preciso ir para casa por causa de Archie.
— Archie?
— Archie? — McLeod ecoou. Quem ou o quê era Archie?
— Ele não pode ficar lá sozinho, pobrezinho — disse Maggie, sem dar conta dos
olhares aterrorizados na direção dela, enquanto ela se esforçava para ficar acordada, com
todos os medicamentos que tomara. — Ele sofre tanto quanto fica só. E, é claro, ele precisa
de alguém que o alimente. — E então: — Você encontrou a comida dele, não encontrou,
querida?
Bem, isso tirou o sorriso do rosto de McLeod. Não que ela tivesse alguma razão para
estar feliz.
— Claro que sim — disse McLeod, antes que ela pudesse confessar. E acrescentou: —
Você ficaria bem sozinha por um tempinho enquanto eu e Juliet vamos até a cidade buscar
algumas coisas para você?
— Eu não preciso de carona. — Ainda mais na garupa daquela moto. — Tenho meu
próprio transporte. Tem alguma coisa em especial que você precisa, Maggie? Ou deixará
por minha conta?
— Não se incomode com isso, querida. Já lhe disse, estou indo para casa. — Ela fez um
esforço para tentar se sentar, para mostrar-lhes que estava falando sério, e logo em seguida
desmoronou sem forças sobre os travesseiros. — Bem, talvez você esteja certa. Devo passar
a noite aqui. Mas só se você prometer que vai ficar com Archie.
— Claro que ela vai ficar — McLeod prometeu por ela. — Não vai ser problema, não é
mesmo, Juliet?
— Sem problemas — ela disse, depois de uma pequena hesitação. — Falaremos sobre
isso quando eu voltar, mas agora preciso ir e pegar as suas coisas. McLeod ficará lhe
fazendo companhia até que eu volte. — Ela olhou para ele. — Isto se você não tiver um
encontro com alguém.
Ele sorriu, nem um pouco incomodado pela visível hostilidade dela.
— Bem, agora, isso só depende de você, Juliet.
Capítulo 4
Greg deixou que ela escapasse. Pelo menos para se deliciar com a visão do traseiro dela
envolto em calças levemente soltas sobre o corpo, enquanto ela caminhava o mais rápido
que podia — quase ao ponto de estar correndo, diga-se de passagem, e agora essa do
Archie! Ele não comera nada, nem ao menos sabia que ele existia.
O que ela estivesse fazendo em Londres, ele decidiu, ela era muito boa em sua
atividade, se é que ele podia julgar esse mérito pelas roupas que ela vestia. Na verdade, isso
trazia à tona a pergunta: o que ela estava fazendo de volta em Melchester? Uma cidade
agradável, certamente, e até mesmo estava crescendo rapidamente, mas Londres era o lugar
para alguém com as qualificações dela.
29 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
— Que menina adorável — disse Maggie quando ele retornou-lhe o olhar.
— Exatamente o que eu pensava.
— Duvido disso, Gregor. — Sua risada se transformou numa tosse, fazendo com que
seus olhos se fechassem. — Por que você não vai com ela? A cidade não é lugar para uma
jovem sozinha à noite.
— Exatamente o que eu pensava — ele repetiu. Mas ela já estava dormindo. Ele parou
na sala das enfermeiras para explicar que voltaria mais tarde e então andou até o
estacionamento.
A primeira coisa que viu foi um carro velho com o capo aberto e a figura inegável de
Juliet debruçada sobre ele. Ele teria reconhecido aquele bumbum em qualquer lugar.
— Sabe que eu imaginei que você possuísse um carro muito mais sensível e moderno
— ele disse.
— É mesmo? — ela se endireitou. — Bem, nem sempre você está certo.
— Verdade. Mas posso sempre ser útil.
— Prove isso fazendo com que esse carro volte a funcionar.
— A única coisa útil que estou preparado para lazer com esse troço patético que você
chama de carro é chamar o ferro-velho para rebocá-lo e acabar logo com o sofrimento dele.
— Você não é tão bom assim com motores, não é mesmo?
— Essa tática não vai funcionar comigo, princesa. Não tenho que lhe provar nada,
especialmente quando o meu fiel garanhão está ali aguardando para sair galopando com
uma donzela em apuros.
— Você está me oferecendo sua moto emprestada?
— De jeito nenhum. O que estou oferecendo é carona até a livraria. No meu carro.
— Sinto muito McLeod, mas minha mãe me disse para jamais pegar carona com
estranhos.
— Não sou estranho.
— Isso é uma questão de...
— Não sou nem um estranho.
Ela começou, como se ele tivesse tocado num nervo, e o sentimento de que ele a
conhecia se intensificara. Será que ela já trabalhara em algum de seus escritórios? Mas, se
fosse o caso, ela também o teria reconhecido. E se tivesse? Por que ela não falava nada?
— McLeod...
Na esperança de evitar mais discussões, ele deixou suas preocupações de lado — e
poderia averiguar isso mais tarde — e disse:
— Antes de você dizer qualquer coisa, devo lhe avisar que terá de esperar uns 20
minutos por um táxi, no mínimo, e embora pense que vai valer a pena, pense no Archie
morrendo de fome.
— Estou tentando não pensar sobre isso — ela declarou, fechando o capo e em seguida
pegando sua bolsa e trancando o carro.
— Eu lhe prometo que nada mais irá me persuadir a pegar uma carona como você.
— Pode acreditar — ele disse -, nada neste mundo irá me persuadir a lhe oferecer uma
carona.
E finalmente ela sorriu para ele.
— Acho que mereci isso.
— Sem dúvida, mas discutiremos sua atitude hostil inexplicada contra mim num outro
momento ele disse, sem retornar o sorriso ou sugerir que uma conversa durante o jantar
Harlequin Romance nº 8 30
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seria o apropriado. Ela estaria esperando por isso e teria sua recusa brusca esperando por
ele. Era hora de implementar esse jogo um pouquinho e parar de ser tão previsível. —
Vamos, meu carro está estacionado bem ali.
Ela parou quando ele se aproximou de seu Jaguar E-type azul-marinho, modelo de
colecionador, e abriu a porta para ela.
— Isto é seu? — ela perguntou. Certamente, não esperava por algo desse tipo.
— Homens como eu ganham boas gorjetas — ele disse.
— Não...
Primeiro o sorriso e agora ela estava meio confusa. Tão confusa quanto no momento em
que ele se virou depois de trancar a porta da loja e se pegou bem ali, tão próxima a ele.
Havia algo de muito atraente sobre uma mulher tão segura de si perdendo o controle. O
toque extra de cor em seu rosto era enfatizado pela claridade de sua pele...
— Só quis dizer... — Seu gesto indicava que ela não sabia ao certo o que estava
dizendo. Mas ele podia tentar adivinhar.
— Quer dizer, se eu o peguei emprestado? E, mais importante, se eu pedi a permissão
do dono antes de pegá-lo?
— Sim... — E então: — Não! Perdão. Nem sei mais o que quis dizer.
É um pedido de desculpas. O pacote completo. Ele estava finalmente chegando a algum
lugar.
— É um belo carro, McLeod — ela disse ao entrar no carro com a facilidade de uma
mulher que sabia como entrar num carro esporte. Nádegas primeiro, em seguida as pernas.
— É um carro clássico.
— É mesmo — ele concordou. — E pode ficar tranqüila que tenho a permissão
incondicional do dono para usá-lo.
Ela olhou para ele.
— É seu, não é mesmo?
— Cada pedacinho dele — ele disse ao fechar a porta para ela e se dirigir paro o lado
do motorista e dar a partida.
Ele nunca se cansava do ronco gutural e suave do motor, da maneira como as pessoas
olhavam para ele quando passava pelas ruas. Ele poderia dirigir qualquer carro que
quisesse, os carros esporte mais velozes, qualquer um desses símbolos de riqueza que
meninos pobres que se tornam bem de vida dirigiam para avisar ao mundo que estavam na
área. Ele tinha uma meia dúzia deles para escolher na garagem subterrânea do seu
apartamento na beira no rio Tâmisa em Londres e numa cabana que comprara num vilarejo
à pouca distância de Melchester. Mas essa belezura de 40 anos era o seu favorito.
Ele nunca falhara em fazer as mulheres — até as mais seguras de si como Juliet Howard
— suspirarem.
— Você o reformou por conta própria, McLeod? — Juliet perguntou, muito educada,
com a respiração sob controle, enquanto ele pegava a estrada, na direção da velha parte da
cidade. — O Jaguar?
Ele podia ser educado também, mas não ia deixar que ela se livrasse dessa tão fácil.
— Certamente, você não acredita que um homem simples e trabalhador como eu
poderia restaurar um carro como esse e deixá-lo nessas condições?
— Não creio que tenha jamais sugerido que você fosse um homem simples. E tenho
consciência de que em busca de suas paixões as pessoas são capazes de coisas
extraordinárias.
31 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
— Restaurar carros não é minha paixão. — Ele parou no sinal e olhou para ela. —
Tenho coisas mais interessantes para fazer deitado, do que coberto de graxa.
Se ele estivesse esperando por uma resposta irritada a tal insinuação, ficaria
desapontado. Ela não disse nada e com o perfil no escuro não foi possível ver sua
expressão. Em vez disso, ela levantou a mão e ajeitou o cabelo com seus dedos finos num
gesto mais nervoso do que espontâneo.
Dessa forma, ele teve a incômoda sensação de que a autoconfiança dela estava apenas
na superfície. Havia fragilidade por baixo de toda aquela pose e a autoconfiança não era
nada além de uma máscara superficial — bem polida, mas muito fina. Isso provocava nele
um sentimento de proteção e ele se pegou desejando oferecer a ela afirmação em vez de
provocação. Ele desejou tocar na mão dela e dizer: Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. Eu
farei com que tudo fique bem.
Loucura.
Neil estava certo. Mulheres como Juliet Howard sempre lhe causaram problemas. Ele
estava muito mais seguro com mulheres que entendia. Mulheres objetivas, que sabiam
exatamente o que ele estava oferecendo, que sabiam que ele lhes proporcionaria diversão,
sexo bom para ambos e absolutamente nenhum compromisso.
Mas desde quando ele preferia as coisas mais seguras?
Ele arrancou devagar com o carro — essa mulher não era do tipo que se impressionava
com pegas de adolescentes — e disse:
— Veja bem, eu não estava tentando manipular você no hospital.
Ela olhou para ele.
— Perdão?
Ele não acreditou que ela não tivesse entendido. Ela foi rápida demais para não saber
sobre o que ele estava falando. Mas ele também estava sendo um tanto quanto econômico
ao dizer a verdade. Não sobre o apartamento. Embora fosse perfeito. Para ele. Se ela se
mudasse para lá, ele teria todo o tempo do mundo para continuar com o joguinho que
ambos começaram. E ele teria a cláusula perfeita para ir embora no minuto exato em que
visse sua independência ameaçada... Mas ele continuou com o jogo.
— Sobre o apartamento — ele disse. — É bem possível que ele precise de alguma
decoração. Acho que me lembro de muitos pretos e vermelhos e não acho que Maggie
tenha mudado nada por lá desde que Jimmy partiu. Mas tem espaço suficiente por lá. Você
disse que procurava um emprego e um lugar para morar. Isso significaria que todos os seus
problemas seriam resolvidos numa só tacada.
— O único problema que tenho é você — ela retrucou.
— E Archie — ele lembrou.
Ela levantou as mãos num gesto incontrolado.
— Tudo bem. E Archie. Mas isso é apenas temporário. Eu não posso me responsabilizar
por Maggie. Ou pela loja. Quem vai saber quanto tempo ela levará para se recuperar? A
enfermeira disse que foi um infarto leve. É bem possível que ela tenha outro.
— E se alguém não tomar a frente de imediato, alguém competente, a loja fechará, você
sabe disso, não sabe?
— Você é a segunda pessoa a me dizer isso hoje.
— Bem, você sabe então que não estou apenas dizendo isso por dizer. E, obviamente,
isso não vai ser algo demorado. Ela está um pouco confusa no momento, mas logo que se
der conta do que está acontecendo Maggie tomará providências para conseguir alguém
Harlequin Romance nº 8 32
Liz Fielding Her wish-list bridegroom
permanente.
— Ela também precisará de ajuda. Não será capaz de viver no apartamento sozinha.
Vai que ela tenha um outro infarto. Demoraria muito até que alguém sentisse falta dela.
— Nesse caso, Jimmy a levaria para um asilo mais rápido do que você pensa.
— Você parece conhecê-lo muito bem.
— Bem o suficiente. Ele puxou o pai. A única pessoa em quem ele está interessado é ele
mesmo. — E quando ela olhou para ele: — Maggie foi muito boa para mim quando eu
estava com problemas e precisava de alguém. Pague-me um jantar e lhe digo toda a
história.
— Tenho uma idéia melhor. Por que você mesmo não muda para o apartamento acima
da loja? Dessa maneira você estará por perto se ela precisar de algo.
— Não sou eu quem precisa de um lugar para morar — ele disse. — E já tenho
emprego.
— Que tipo de emprego? Um vendedor de óleo de cobra?
— Perdão?
— Não se faça de difícil, McLeod.
— Eu? O que eu tenho a ganhar com isso? — ele deu de ombros para controlar o
sorriso. Vendedor de óleo de cobra. Se Neil tivesse ouvido isso não perdoaria nunca... — Só
estou sempre tentando ajudar as pessoas. A decisão é sua, Juliet. Dê uma olhada antes de
decidir. — Ele passava com o carro nas ruas estreitas próximas à catedral e finalmente es-
tacionou na parte de trás da loja. — Mas primeiro precisamos cuidar de Archie. O que você
acha que ele é? — ele perguntou ao destrancar a porta e desligar o alarme.
— O seu amigo Jimmy não tinha gosto por animais de estimação exóticos, tinha? — ela
perguntou.
— Você não vai querer saber a resposta a essa pergunta. — Ela ergueu as sobrancelhas
como se sugerisse que ele precisava crescer. Obviamente, ela pensou que ele estivesse
brincando. — Quanto tempo aranhas venenosas vivem? — ele perguntou. — E cobras?
— Ah, não comece... — ela disse. Mas mesmo assim ela não pôde deixar de tremer ao
pensar naqueles bichos.
— Sim, bem, isso foi há muitos anos. Archie não deve ser nada mais do que um
periquito neurótico.
— Provavelmente. Mesmo assim, estou começando a desejar que tivéssemos
perguntado a Maggie o que ele era antes de sairmos do hospital — ela disse no curvar-se
para olhar debaixo da mesa.
— Nós? Você é a pessoa que ela deixou no comando. Só estou aqui de pura bondade
minha — ele disse. — E não acho que vá encontrar o Archie aí, Juliet, pois se estivesse aí
teríamos visto ele de manhã.
— Eu não — ela respondeu. — Não estava procurando. — E depois de se endireitar —
Mas você está certo, não há nada aqui.
— Hora de desbravar o desconhecido, então.
— Você me conforta muito.
Ele estendeu a mão.
— Pegue na minha mão se estiver com medo.
— Guarde suas mãos para você, McLeod — ela disse, ao abrir a porta que dava para o
andar de cima. Juliet deu um pulo para trás quando algo mole e peludo voou da escuridão.
E de repente ela já não teve tanta repulsa dele. Não agora que ele a segurava tão perto
33 Harlequin Romance nº 8
LizFielding A lista de desejos de Juliet
de si.
Ela tremia muito e ele sabia que devia se sentir mal em gozar dela, mas segurá-la
daquela maneira era bom demais para ele pensar em arrependimento.
Seus cabelos, com um aroma suave de xampu, alisavam o rosto dele, a gola do suéter
dela tinha o toque suave da caxemira, e seu corpo, mesmo debaixo das roupas, era uma
tentação de curvas. Com uma dificuldade imensa, ele manteve as mãos paradas, resistindo
ao fluxo quente de desejo que o impulsionava a puxá-la para mais perto, virá-la em seus
braços e beijá-la. Seu corpo dizia Tudo bem. Ela quer tanto quanto você.
Talvez ela até quisesse. Mas ele não ia arriscar. Quando a beijasse, queria poder ver seu
rosto. Queria saber que ela morreria se tivesse que esperar mais um momento.
— Está tudo bem — ele disse, afastando-se um pouco. Sua voz não foi tão firme quanto
desejara que tivesse sido. Ele limpou a garganta e disse de novo: — Está tudo bem, Juliet. É
só um gato.
— Eu sabia disso...
Juliet deu uma tremida. Ela não acreditara na história da aranha ou da cobra, mas só de
pensar já linha sido suficiente para deixá-la toda arrepiada, e mesmo afastando-se, foi com
certa relutância. Depois do dia que tivera, a tentação de cair nos braços fortes de um
homem, sem se importar o quanto seu dono era irritante, parecia quase insuportável.
Mas ela já caíra nessa uma vez, quando ficou presa num elevador por tempo suficiente
para sentir claustrofobia. Aquilo também foi planejado? Não importava, o erro fora seu, e
por que mesmo ela estava de volta à estaca zero, quando sempre aprendia com seus erros?
E, então, afastando-se dele, ela se abaixou para tocar no gato, falando suavemente com
o bichano para deixá-lo tranqüilo.
— Eu estava torcendo muito para o Archie ser um periquito — ela disse, com um
sorriso fraco ao pegar o gato em seus braços. Ele era grande e carinhoso, seu pêlo, rajado.
Um gatinho de livros de histórias. Ela sempre quis um gato desses quando menina. — Eu
poderia levar um periquito para casa comigo.
— E não poderia levar um gato?
— Minha mãe já me tem em sua casa lhe perturbando. Um gato já seria abusar da boa
vontade dela. Isso, supondo que ela não fosse alérgica a gatos. Venha aqui, Archie — ela
disse. — Vamos atrás de algo para você comer.
Ele se esfregou nela, rosnando.
— Obrigada por fazer isso — ela disse.
— É para isso que serve um biscateiro.
— Ah, olha só, sinto muito ter dito isso. É que...
— Eu sei. Você teve um dia duro.
— Já tive dias piores — ela admitiu. — Na verdade, o dia de hoje poderia ter sido muito
pior sem a sua ajuda.
— Antes de você começar a ficar boazinha comigo acho melhor deixar claro que Archie
não vai para minha casa.
— Você não pode dizer que sua mãe é alérgica — ela respondeu. — Eu já usei essa
desculpa.
— Eu não vejo minha mãe há anos, então isso não vai ser problema.
— Oh... Sinto muito.
— A escolha foi dela. Aprendi a viver com isso. Mas ainda assim não posso levar o
Archie comigo. Vou viajar amanhã à noite.
Harlequin Romance nº 8 34
Juliet's Wish-List Bridegroom
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Juliet's Wish-List Bridegroom

  • 1. Harlequin Romance nº 8 A lista de desejosA lista de desejos de Julietde Juliet ((HER WISH-LIST BRIDEGROOM)HER WISH-LIST BRIDEGROOM) Liz FieldingLiz Fielding Digitalizado por: RitaDigitalizado por: Rita Revisado por: Edna F.Revisado por: Edna F. De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos
  • 2. Harlequin Romance nº 8 Harlequin De coração para coração... Atirar champanhe no namorado vigarista — que também era seu chefe — teve sérias conseqüências para Juliet. Ela foi despedida! E depois de ter jurado não se aproximar mais de nenhum homem, Juliet voltou para a casa da mãe com o objetivo de recomeçar a vida — mas acabou reencontrando paixão de infância: Gregor McLeod. ISBN 85-7687-299-4 HARLEQUIN B O O K S ™ O livro de bolsa da mulher moderna. www. harlequinbooks.com. br 9788576872993 Ela tremeu um pouco. — Você está com frio? Ele olhava para ela, mas de repente ela não pôde mais olhá-lo nos olhos. — Não, é que... bem, talvez eu devesse ter vestido algo menos... — a única palavra que lhe veio à mente foi revelador. Aproveitando-se da hesitação dela, McLeod disse: — Menos? Isso é possível? — Acho que a palavra que estava procurando é mais ao invés de menos. Algo mais quente. — E ela conseguiu rir. — É louco não é? Homens saem à noite de terno e gravata e mulheres aceitam o desafio de vestir o mínimo possível. — Bem, — ele disse — curvando-se para dar-lhe um beijo no ombro — acho essa regra ótima! PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Copyright © 2004 by Liz Fielding Originalmente publicado por Mills & Boon London Título original: HER WISH-LIST BRIDEGROOM Impressão: RR DONNEL.LKY MOORE Tel.:(55 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Tel.: (55 21) 3879-7766 De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos
  • 3. Liz Fielding Her wish-list bridegroom Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondências para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br Prólogo — Juliet? Hora de ir. Vislumbrando as figuras que checava, Juliet Howard sorriu para o homem parado na porta. Paul Graham estava vestido como um típico executivo — terno preto, camisa branca e uma discreta gravata listrada. Tinha os trejeitos e a boa aparência de um modelo ou de um ator. Todo escritório deveria ter um, ela pensou enquanto ele fechava a porta e ca- minhava em sua direção. Felizmente, este era todo dela — ou ao menos seria até o final do mês quando seu contrato temporário com o banco acabaria e também sua regra auto-imposta de não se relacionar no escritório. Algo que Paul sempre respeitara, com ocasional e lisonjeira impaciência. — Já disse para não fazer isso no escritório — ela reprovou quando ele se curvou sobre a mesa e a beijou, consciente de que sua repreensão não adiantava. Ele jurou solenemente com a mão no coração: — Nunca mais farei isso de novo. Essa não foi bem a resposta que ela previa, mas concordou: — Espero que não. Em vez de sair, ele se aproximou e esfregou a ponta do dedo pelos lábios dela. — Borrei seu batom. Melhor consertar antes de ir à sala de reuniões. Nosso novo digníssimo presidente não aprovaria. O novo presidente não fazia questão de mascarar o lato de achar que as mulheres eram úteis apenas para procriar e para se ocupar dos trabalhos demais tediosos para homens importantes. Ele não gostava dela, e não escondia sua opinião. Felizmente, ela era muito boa no que fazia para ele se livrar dela. Ela esperava que ele tivesse tido um bom dia, pois ao entregar seu projeto de transportes na companhia ele a veria com muito mais freqüência. — Lábios borrados serão as últimas coisas com que ele se preocupará na semana que vem, mas está certo, não há razão para irritar aquele velho demônio miserável sem necessidade. Então ela sorriu. Ela tem sorrido muito ultimamente. Chegou até a Markham & Ridley agarrada em seu diploma de administração, sete anos atrás, com uma única ambição: um lugar na diretoria em uma das indústrias mais conservadoras e machistas do país. Pedras, compostos e todos os produtos feitos a partir de coisas duras. A companhia prosperou lentamente, contando com velhas licenças extrativistas que lhe concedia um monopólio virtual em certas áreas. Ela fizera sua pesquisa antes de se juntar a eles, analisara as possibilidades e estipulou dez anos para alcançar sua meta. Três meses antes, John Ridley pediu a ela um projeto para contenção de custos a longo prazo, melhorando a produtividade. Era um reconhecido anúncio de uma oferta para a diretoria. Na segunda-feira ela iria entregá-lo. Estava a um passo de conseguir o que queria. E não apenas a diretoria — que provaria que ela era igual a qualquer homem na empresa. Ela tinha Paul também, o mais promissor, 3 Harlequin Romance nº 8
  • 4. LizFielding A lista de desejos de Juliet charmoso e atencioso dos homens, provando que ela era igual a qualquer mulher. Tinha todo o direito de sorrir. Mas esse não era um bom dia para se atrasar. — Já estou indo, vou apenas retocar minha maquiagem. Pegue uma taça de champanhe para mim. — Sim, senhora. Passou suavemente uma escova em seu penteado bem cuidado e conservador — afinal era uma empresa conservadora — e retocou o batom. Colocou a jaqueta no lugar. Então, o sorriso cessou novamente. Foi uma dura jornada, trabalho pesado, mas finalmente foi recompensado. Ela então chegou. A sala de reuniões já estava cheia. Quando abriu a porta, não conseguiu ver Paul de imediato. Pegou uma taça de champanhe enquanto adentrava, aparentemente a última a chegar, visivelmente atrasada por ficar sonhando com o sucesso iminente. Não tinha tempo para vislumbrar aquilo quando o diretor bateu em sua taça para conseguir atenção e propôs um brinde ao presidente. Ela tomou um gole e esperou o inevitável discurso. Era mais breve do que o esperado. Talvez não tão breve assim. — Enquanto estou obviamente satisfeito por ter sido reconhecido, meu maior prazer vem de um anúncio que venho planejando desde quando fui seu padrinho há 30 anos. Ele esticou a mão e tocou o ombro do homem que estava sentado ao seu lado. Ela deu a volta para ver de quem se tratava. Paul. O silêncio só foi quebrado por um discreto murmúrio de duas ou três pessoas que olharam para ela. Paul era afilhado de Markham? Mas por que ele não contara a ela? — Todos conhecem Paul Granam — ele continuou. — Ele se juntou a nós há alguns meses e usou bem esse tempo, analisando como fazemos as coisas. Agora vai nos dizer como faremos melhor. Ele fará parte da diretoria imediatamente e assumirá a responsabi- lidade na implantação de seu plano para simplificar a organização e cortar gastos com transporte. Daqui a um ano a Markham & Ridley será mais consistente e sólida. Deixaremos a concorrência para trás. A pausa que sucedeu o anúncio demorou um pouco demais. E a essa altura ninguém olhava para ela. Não que ela percebesse algo. Ela apenas tinha olhos para Paul. Plano dele! Aquilo era um roubo crasso dos documentos dela... O que o demônio estava tramando? O que fazia Paul no lugar que deveria ser dela? Isso era uma piada... Tinha que ser uma piada... — Por favor, ergam suas taças e juntem-se a mim em um brinde a Paul e a um futuro promissor para todos nós. Não era piada. Paul era afilhado de Markham. Assim que ele ergueu sua taça, sua senhoria olhou para ela. Ele não estava apenas rindo. Estava visivelmente sendo irônico. Ambos estavam, ela percebeu. Enquanto andava por um caminho que abrira à sua frente, pela primeira vez em sua vida, Juliet Howard, a mais cuidadosa garota no mundo, a garota que planejara sua vida até o último detalhe, fez algo sem pensar nas conseqüências. Não havia espaço em sua cabeça para pensar. Estava ocupada demais relembrando os momentos que passara na presença de Paul. Como ele a cortejava, como ele a fazia se sentir protegida e desejada sem nunca tê-la pressionado. Mas estivera sempre lá desde o primeiro dia em que foi solicitada a tê-lo com sua sombra. Ele planejou até os últimos detalhes, Harlequin Romance nº 8 4
  • 5. Liz Fielding Her wish-list bridegroom atrasando-a para a reunião. Havia apenas uma palavra para descrevê-lo e ela a usou, e então jogou o conteúdo do copo na cara dele. Capítulo 1 — Levanta, Ju. Juliet Howard ouviu a voz da mãe dela, mas não se mexeu. A arrumação das coisas, ou melhor, observando sua mãe arrumá-las, e a volta para casa até Melchester, desmoronada no banco de passageiros, drenaram toda a energia que possuía. Levantar da cama estava fora de cogitação por várias semanas. Até o esforço de abrir os olhos era muito intenso. O som das cortinas se abrindo anunciava uma implosão de luzes dentro do quarto. Ela se virou enfiando a cabeça no travesseiro, tentando ignorar o falatório de sua mãe enquanto pegava algumas roupas para ela e as colocava sobre a cama. — Fiz uma lista de compras. Não tive tempo para fazer compras este fim de semana. Não tem nada em casa. Você não deve se importar se come ou não, mas eu me importo. Anda logo que eu vou deixá-la na cidade enquanto vou para o trabalho. Pode se inscrever naquela agência de empregos perto da rodoviária após pegar meu livro na livraria. Diga a Maggie Crawford que a verei no bingo esta noite. Você deveria vir também. — Ao bingo? — Aleluia, ela fala... A mãe dela não estava realmente interessada no bingo. Ela apenas blefou para obter uma resposta. — Mãe, não precisa fazer isso. — Convença-me. Levante-se, tome um banho enquanto faço café. — Você vai se atrasar para o trabalho. — Só se você ficar enrolando. — Não... Mas sua mãe, que nunca se atrasara para o trabalho, não hesitou em argumentar. Ela nunca teve tempo para aquilo. Nunca permitiu que qualquer patrão comentasse o fato de que ela era mãe solteira. Nem nunca sentiu pena de si mesma, pelo menos não quando tinha alguém por perto. Quantas lágrimas derramou na solidão e no escuro da noite? Desgostosa consigo mesma, Juliet se virou e deixou que a gravidade apoiasse seus pés no chão. A mesma técnica que a botara para fora da cama nos dias em que a escola parecia mais um dia no purgatório. O sol brilhando pela janela era uma afronta ao seu sofrimento, o cheiro de café a deixava enjoada, mas sua mãe se entregou por toda a vida, dando tudo de si para ter certeza de que sua filha tivesse a chance de algo melhor. Até agora era ela quem catava os cacos. Tirou vários dias de folga para ir a Londres, pôs o apartamento de Juliet para alugar, para pagar a hipoteca e para que ela tivesse para onde voltar. Foi ela quem arrumou as malas, trouxe-a para casa e acomodou-a em sua antiga cama. Mesmo na adolescência, teve força para superar o sofrimento, contando cada dia que sobreviveu sem despertar a atenção dos valentões da escola como uma vitória. Não era força agora, mas culpa, que a levou ao chuveiro, que a colocou em suas roupas e logo a levou até o carro. O sol brilhava, ainda era março, e o vento manso no rosto 5 Harlequin Romance nº 8
  • 6. LizFielding A lista de desejos de Juliet revelava mais um belo e agradável dia. Sua mãe a deixou na calçada. — Não esqueça meu livro e compre alguns produtos de limpeza no mercado. Ela ligou para a agência de empregos primeiro, preencheu o formulário e esperou que avaliassem suas qualificações. — Você não respondeu por que deixou seu último emprego. — Não. — Essa é capciosa. — Desculpe. Ela puxou o formulário e escreveu "Síndrome de Bridget Jones", e o empurrou de novo. — Você desrespeitou seu chefe? — Não, eu era a chefe, mas você sabe como são os homens. Sempre querem estar por cima. Não era tudo verdade, mas servia para encurtar as perguntas difíceis. E ela tinha certeza de que Paul se sacrificaria se ela fosse menos escrupulosa, menos cuidadosa com sua carreira ou reputação, menos ingênua... — Certo. Você está um pouco acima do que precisamos, para ser honesta. — Sorriu com simpatia. — O máximo que temos são executivos juniores. Você realmente precisa de uma agência de empregos em Londres. — Eu quero algo temporário, enquanto avalio minhas opções — disse ela. Algo que seu último agente de empregos havia sugerido. Não foram tão longe a ponto de perguntar a ela se era verdade que tivera um colapso; trocaram olhares e tiraram suas próprias conclusões. — O que, diabos, lhe convenceu a comprar esse armazém, Mac? Gregor McLeod olhou sua última aquisição com satisfação. Lugares pequenos como este não podiam competir com as superlojas de departamento que dominam o mercado, mas possuí-la estava em sua lista há muito tempo. — É apenas sentimentalismo, Neil. Já trabalhei aqui em um passado distante. Não por muito tempo, mas jamais esqueci da experiência. — Não sabia disso. — Bem, você estava na faculdade enquanto eu me matava de trabalhar para Marty Duke. — Não são lembranças boas então. — Não foi tão mal. Tinha uma secretária linda. Cabelos lindos e brilhantes, pernas bem torneadas e uma voz suave como chocolate suíço. Tinha um sorriso que fazia do trabalho uma experiência interessante. Neil balançou a cabeça. — Você e suas passarinhas de luxo... Ela não era uma sumidade no trabalho, mas Duke a pagava muito bem, pois os empreiteiros costumavam babar enquanto ela anotava os serviços. — Por que antecipo um final triste para essa história? — Você me conhece — disse Greg. — Quando vi Duke com as mãos onde nenhum patrão deveria estar, não me importei em deixar claro que aquilo não era comportamento para o local de serviço. Acertei-o em cheio. Ele me despediu dali mesmo, caído no chão. — Espero que sua deusa tenha ficado muito agradecida. — Ela estava muito ocupada interpretando Florence Nightingale para o chefe. Deve ter feito um ótimo trabalho, pois ele lhe ofereceu uma promoção. — Como secretária? Harlequin Romance nº 8 6
  • 7. Liz Fielding Her wish-list bridegroom — Não, como esposa. Evidentemente, interpretei mal os sinais. Ela tinha outras ambições. Neil retrucou: — Erro dela. — Você acha? Não tinha nada para oferecer a ela. Ela, por outro lado, me fez um verdadeiro favor: ensinou que, entre dinheiro e músculos, as mulheres sempre ficam com o dinheiro. Mostrou que eu não tinha capacidade para trabalhar para os outros. — Então, você comprou um armazém que não precisava, salvou Duke de afundar, tudo isso por pura gratidão a sua esposa? A mulher à qual você deve sua fortuna? — Devo minha fortuna ao trabalho duro, olho aguçado para bons negócios e um pouco de sorte. Comprei o armazém por vários motivos, o mais prazeroso de todos, tenho que admitir, foi Duke ter que me encarar e me chamar de sr. McLeod. — E quanto à esposa dele? Estava lá? — Ainda é sua secretária, dá para acreditar? — Eu lhe disse que foi uma manobra insensata. O que ela disse? — Não muito até me conduzir à porta. E então me disse: "Liga para mim." Juliet deixou a agência com a promessa que se algo mais importante aparecesse alguém ligaria. Ela fez o melhor. Ou o melhor que era capaz. Pensou que quanto mais cedo terminasse as compras mais cedo iria para casa. Pegou a sacola sem perceber que o caderno estava dentro. A maioria das mulheres usaria envelopes reciclados para fazer a lista, mas não sua mãe. Ela sempre usava o caderno não apenas para listas de compras, mas para tudo. Ela dizia que assim liberava a memória para coisas mais importantes. E também se sentia bem quando marcava alguns itens, especialmente aqueles que começavam com a palavra pagar... Foi um hábito que passou para a filha, encorajando-a a escrever as coisas do dia-a-dia, até mesmo seus projetos de longo prazo. E disse também que não devia apenas escrever os grandes projetos, mas os pequenos também, pois, como os grandes levavam tempo para acontecer, era deprimente não marcar nada no caderno. E com os pequenos, do dia-a-dia, ela tinha sempre a noção de estar realizando as coisas, mesmo que fosse comprar pão. Pegando o caderno viu que era um dos antigos, da época que tinha 12 ou 13 anos. Lembrou-se do Natal e das prazerosas lembranças daquela época. Até então, ela tinha cadernos com gatos, hamsters ou personagens de desenhos animados, mas esse parecia mais maduro; havia uma etiqueta. A etiqueta estava um pouco ilegível, pois anos entrando e saindo da mochila havia borrado as letras da capa. Ela imaginou a garotinha que era e, então, alguém passou por ela, irritado com pessoas que "não têm nada melhor a fazer do que bloquear o caminho na calçada", ela se refugiou em um pub e pediu um café que não queria só para desfrutar de um lugar tranqüilo, um lugar onde pudesse pensar. O que aquela criança desejava? Lembrou dos grandes planos, aqueles que não se alteraram. Uma vaga em uma boa universidade, o diploma com mérito, para um dia ser uma mulher de sucesso que sempre ambicionara. Algumas coisas nunca mudaram. 7 Harlequin Romance nº 8
  • 8. LizFielding A lista de desejos de Juliet Folheando as páginas enquanto tomava o café, viu que começou suas metas tirando A em matemática, entregando seus projetos no prazo e mantendo seu quarto arrumado. Mas, depois disso, vieram as metas do coração — o desejo doloroso de cortar o cabelo curtinho para deixá-lo espetado com gel, como as meninas "da moda" na escola. A lembrança do impossível e caríssimo tênis que tanto queria. E, depois, tinha o feriado na Disney em Paris. Ela queria realmente ir ou estava na lista por que as outras crianças de sua idade tinham ido? Até mesmo as crianças de pais solteiros como ela. Se ela não fosse, seria estigmatizada como uma perdedora aos olhos das outras crianças. Enfim, como muitos sonhos, alguns não se realizaram. Não havia nada que a impedisse de arrumar as malas e partir. Mas, francamente, era patético ir a Disney sem crianças para dividir a experiência. Viu que planejara quatro filhos — um reflexo de seu desejo por irmãos e irmãs. Não especificou quem seria o pai na época. Esse era o último item na lista. Logo depois do livro ser abandonado. Esse era o problema de se ter um plano mestre. Era um crescente contínuo. A vida por outro lado, era um jogo. Virou a página. A lista de compras não tinha sido escrita no caderno. Mas sim num papelzinho amarelo. Certamente, o caderno era a maneira de sua mãe se lembrar que sua vida não acaba quando suas metas passam das plausíveis para as impossíveis de serem realizadas. As vezes, temos que começar uma lista nova. Escrever uma nova meta para cinco anos. E sobre esses sonhos impossíveis... — Um passo de cada vez, mãe — murmurou consigo jogando o caderno na sacola. Não tinha nada tão especial na lista. Nada que não pudesse pegar na lojinha da esquina. Exceto o livro — que poderia facilmente esperar mais um dia. E as flores amarelas. Em vez disso, comprou narcisos brancos em um pequeno mercado no final da Prior's Lane e então seguiu até a livraria. Quanto mais cedo terminasse, mais cedo iria para casa. E, então, o quê? Enterrar-se entre quatro paredes e sentir pena de si mesma? Sua mãe já teve tanta pena dela? Por que estava sendo tão gentil? Por que ela não lhe dizia para se recompor e superar tudo aquilo? Ela vislumbrou o caderno no fundo da sacola. Tudo bem. Sua mãe tinha razão. Ou, pelo menos, ao sugerir que era hora de escrever outra lista. O primeiro item era fácil: parar de sentir pena de si mesma. Exceto por não ser assim que funcionava. Tinha que ser coisas mais práticas. Muito bem. Item 1: arranjar emprego. Assim, estaria ocupada demais para sentir pena de si mesma. Infelizmente, ninguém em sã consciência contrataria uma gerente sênior que arruinara o dia do presidente cobrindo-o e a seu protegido com champanhe. Estresse! Não era estresse. Era mais simples que isso... Depois disso ficou meio bobo. Enquanto compilar mentalmente a lista de tudo que queria fazer com o lorde Markham e seu miserável afilhado tinha certo efeito catártico, tudo era hipoteticamente impossível de se fazer. O ponto era riscar algo para ter a sensação de ter conquistado alguma coisa. Juliet terminou a lista, mas estava longe de sentir-se melhor. Parou, olhou ao redor para checar onde estava. Prior's Lane seguia até a colina e virava Harlequin Romance nº 8 8
  • 9. Liz Fielding Her wish-list bridegroom no rio até a catedral. Não era apenas uma rua, mas um emaranhado de ruas e becos que uma vez fora o coração medieval da cidade, um mundo à parte da estéril área de compras no centro da cidade. O lugar proporcionou um grande volume de compras com lojas e boutiques pequenas mas excitantes, onde o ar cheirava a café torrado. Agora o predomínio de lojas de caridade indicava a decadência do local. Ela sentiu raiva por tanto desperdício de recursos. O que o Conselho Municipal estava pensando? Ela já estivera em cidades com áreas como aquela, onde milhares de turistas impulsionavam a economia, ajudando assim a cidade a prosperar. Não eram só más notícias. Talvez, por conta do exercício da caminhada, o cheiro de pão quentinho tenha lhe deixado com uma fome repentina, e então comprou uma bisnaga recém-saída do forno. Pareceu-lhe perfeitamente natural acrescentar uma porção de queijo e algumas azeitonas — sua mãe adorava e merecia um agrado de uma conceituada e antiga panificadora italiana. Na parte de Londres onde vivia — até atirar sua carreira fora com sua taça de champanhe —, lojas como essa eram lotadas de fanáticos por comida que brigavam sobre as massas recém-fabricadas e azeite virgem. Aqui, não havia ninguém por perto. Um sino soou assim que abriu a porta da livraria. Era exatamente como ela se lembrava. Sem concessões para o novo estilo de se vender livros, sem café, guloseimas, cadeiras, sem incentivo a demoras. Pelo menos, achou os livros que queria — sua mãe preferia novelas policiais com mulheres fortes como heroínas. Quando não apareceu ninguém para pegar seu dinheiro ela gritou: — Olá. Não houve resposta, então ela deu a volta nas prateleiras que dividiam a frente da loja e reparou na disposição dos sofás e das cadeiras. O fato de as prateleiras estarem cheias de livros antigos chamou sua atenção. Então, aproximando-se do pequeno escritório nos fundos: — Olá? Sra. Crawford? Tem alguém aí? Foi quando viu Maggie Crawford estirada no chão. Uma cadeira virada próxima a ela revelava a história. Estava tão pálida que por um terrível instante Juliet pensou que ela estivesse morta, e sua primeira reação foi de medo. Pânico. O impulso vergonhoso de sair e deixar que outra pessoa a encontrasse passou por sua cabeça. — Não posso. Por que eu? — Juliet pensou. Então, jogando tudo no chão, correu para ajudar. — Sra. Crawford? Pode me ouvir? Ela abriu os olhos, vagamente surpresa, e disse: — Olá querida. É você, Juliet? Sua mãe disse que viria. Sua voz estava fraca, mas pelo menos estava lúcida. Então disse: — O que estou fazendo aqui embaixo? — Não! — Juliet pôs sua mão nos ombros da mulher enquanto ela se sentava. — Fique onde está. Você sofreu uma queda. — Juliet pegou seu telefone no bolso e ligou para a emergência. Em seguida, tirou o casaco e desocupou as mãos para aquecer a senhora. E explicou o que havia acontecido. 9 Harlequin Romance nº 8
  • 10. LizFielding A lista de desejos de Juliet — É a sra. Crawford. Sra. Margaret Crawford. Livraria, Prior's Lane... — Oh, Deus, que incômodo estou causando. — Deixa disso, Maggie — Juliet retrucou enquanto sentava ao seu lado e segurava as mãos dela firmemente. — Agüenta firme, a ajuda já está a caminho. Há quanto tempo você está deitada aí? — Não sei. Só queria conserta a janela. Lembro-me de ter começado e então me senti tonta e... — Shh. — Você não entende. Não posso deixar isso assim... Ela estava começando a ficar irritada e Juliet, olhando para cima, viu que uma das vidraças estava quebrada. Tinha as marcas de uma tentativa de arrombamento. Parecia ter sido apenas uma tentativa. Ela viu um pequeno aquecedor elétrico e o ligou para combater o frio que entrava pela janela. Então, numa tentativa de confortá-la e mantê-la quieta, disse: — Não se preocupe. Vou dar um jeito de consertá-la... Ela ouviu a porta da loja se abrindo. — Olá! Alguém chamou socorro? — Aqui. Foi com alívio que ela entregou a paciente para os paramédicos. Primeiros socorros nunca foram o seu forte. A janela, por outro lado, era algo que ela poderia consertar. Ou pelo menos poderia achar alguém que consertasse. Havia uma loja de serviços gerais do outro lado da rua. O aviso do lado de fora dizia que se tratava de uma loja à moda antiga com serviços antigos e, na verdade, parecia mais com um museu do qualquer outra coisa. Pareceu um bom motivo para testar esse serviço à moda antiga. — Vai demorar alguns minutos até vocês a levarem não é? — ela perguntou aos paramédicos. — Vou chamar alguém para consertar a janela. — Seria melhor se esperasse até que nós saíssemos senhorita, precisamos de algumas respostas se não se importa. — Mas... — Não. Obviamente, alguém tinha que ficar até que a janela fosse consertada, e não havia mais ninguém. — Claro. — Ela deu a eles seu nome, respondeu às perguntas que pôde, enquanto um deles ajeitava Maggie. O sino da porta soou novamente. Quando ela não podia se mover, o que fazia as perguntas sorriu e disse: — Muito bem, acho que é tudo que precisamos da senhorita. Pode atender o freguês se desejar. Juliet quase disse Não... eu sou a freguesa, mas deixou passar. Alguém tinha de avisar às pessoas que a loja estava fechada. — Desculpe — ela disse assim que se aproximou da mulher próxima à caixa registradora. — Creio que não há ninguém para atendê-la no momento. — Não preciso de ninguém. Só vim pegar um livro que encomendei. Já está pago. Maggie deixa as encomendas atrás da mesa. — É mesmo? Tudo bem. É esse? — Ela pegou um livro de bolso grosso, um romance épico. Havia várias outras cópias. — Deve ser um livro muito popular. Harlequin Romance nº 8 10
  • 11. Liz Fielding Her wish-list bridegroom — É a indicação do grupo de leitura desse mês. Maggie sempre os compra para nós. — Ah, sim. Ela colocou o livro em uma sacola e entregou à moça, fazendo uma nota do que havia feito. — Há algo errado? — perguntou a mulher sem nenhuma pretensão de sair. — É Maggie. Não tendo como negar a ambulância parada na porta da loja, disse: — Ela sofreu uma queda. — Que terrível. — Balançou a cabeça. — Ela não é mais jovem, e uma coisa assim mexe com você. Você perde a confiança. Se ela quebrou alguma coisa, imagino que será o fim de outra loja nessa área. — Acha mesmo? — Quem vai tomar conta da loja? Essas pequenas lojas não têm como competir, não é mesmo? E mais barato comprar no supermercado, lá os best sellers são mais em conta. — Ela tocou na bolsa com os livros de bolso. — Não se encontra algo assim nas prateleiras das lojas pequenas, três pelo preço de dois. — Acho que não. — Muito bem, sra. Howard, estamos levando-a. Se ligar para o hospital daqui a algumas horas, teremos notícias para a senhora. — Oh, mas... — Ela deixou passar. Suas preocupações não eram tão importantes. — Maggie tem alguém que você quer que eu avise? — Você vai consertar a janela? Eles vão continuar a quebrá-las... Era claro o esforço que fazia para falar, e Juliet não a pressionou. Não seria problema algum conseguir alguém para consertar a janela. — Vou cuidar disso, e então fecho a loja e vou vê-la no hospital. — Pobrezinha. — Só tem seu filho, mas trabalha em algum lugar no Oriente Médio. — Que ótimo! E depois de lançar essa bomba, disse: — Bem preciso ir logo. Boa sorte. — Mas... Ocorreu a ela que dissera mas mais vezes nessa última meia hora do que nos últimos sete anos. Sua resposta de praxe frente a um problema era Sem problema. Brava consigo por ter sido tão patética, virou o aviso para Fechado e saiu. Não havia problema algum. Tudo que precisava era achar uma vidraçaria, alguém para tomar conta da loja e então ir ao hospital assegurar a Maggie que tudo estava bem. Isso era tudo. Moleza para alguém com sua experiência e habilidade. Ela se sentou atrás do balcão. Janela... Vidraceiro... Ela se recompôs. A loja de materiais de construção. Mas ela não podia sair e deixar a loja destrancada, e se trancasse, o vidraceiro não poderia entrar. Finalmente achou as chaves da loja, mas, a meio caminho da porta, mudou de idéia e decidiu telefonar. Pegando o telefone, percebeu que precisava fazer algo a respeito da gaveta. Guardar o dinheiro. Com certo tom de ironia, pegou seu caderno e começou a fazer uma lista. — Então, o que vai fazer com o armazém? Greg olhou para as janelas imundas do escritório até o pátio deserto, imaginando o que 11 Harlequin Romance nº 8
  • 12. LizFielding A lista de desejos de Juliet acontecera com os homens que trabalhavam lá. — Não é só este lugar. O acordo inclui uma propriedade na parte antiga da cidade. — Ótimo. Aluguel barato, manutenção cara. O telefone começou a tocar e Neil disse: — Pode deixar, a Duke's Yard não funciona mais. — Duke's Yard — Greg respondeu. — E, além disso — Neil continuou, sabendo que estava falando sozinho —, é hora do almoço. — Graças a Deus. Consegui seu número na loja de materiais de construção na Prior's Lane, mas não sabia se vocês estavam... Greg, atento à voz em seu ouvido, ignorava Neil. — Estavam o quê? — Funcionando. Quando ele não confirmou nem negou, ela disse: — Obviamente, eles estavam enganados. Olha, isso é uma emergência, pode me ajudar? — Diga lá. — Certo. Tenho uma pequena vidraça que preciso repor com urgência. Tem como mandar alguém aqui para consertar? — A que horas? — O mais cedo possível. É em Prior's Lane, na livraria. — Sei onde é. E seu nome é? — Howard. — Sério? Você não soa como Howard. Parece mais com Emma ou Sophie ou... — Juliet Howard. — Ou como Juliet. — Desculpe, você disse algo? Não, olha, você pode fazer, porque, se não puder... — Qual o seu telefone, Juliet? — Por que precisa do meu telefone? — Porque às vezes nos passam trotes. Ela viu que não tinha escapatória, e depois de uma breve hesitação deu a ele o telefone. — Estarei aí em dez minutos. — Sério? Neil balançou a cabeça, apontando para seu relógio, dizendo: — Almoço. Greg retrucou: — Chocolate suíço. — Tem algum problema? — perguntou. — Não, estarei aqui — ela disse. — Então, ela tem a voz de um chocolate caro. — Se você estiver certo, terei feito minha boa ação do dia, se estiver errado... — Se eu estiver errado? A voz aveludada lembrava o mais fino chocolate. — Você me conhece, Neil. Acredito na minha sorte. — Sorte! Primeiro você nos leva a um desperdício de espaço e então decide abandonar o almoço para ver quem é a dona dessa voz. — Seu molengão — retrucou. — E é o meu desperdício de espaço, não o seu. Harlequin Romance nº 8 12
  • 13. Liz Fielding Her wish-list bridegroom Neil fez um gesto curto e obsceno. — Tudo bem, meu caro desperdício de espaço vai lazer parte da nova área de construção. — Você... — Então: — Duke não sabia disso, sabia? — Certamente, não disse a ele. E como não vai demorar no almoço às minhas custas, pode ver se descobre o que aconteceu com sua força de trabalho. Se estão desempregados, vamos ver o que podemos fazer por eles. — Pelo amor de Deus! — Juliet desligou seu celular e o atirou em cima da mesa. A última coisa que ela precisava era de um biscateiro se achando um presente de Deus para as mulheres. A Duke's Yard era o último número em sua lista e o biscateiro era o único que poderia fazer o serviço a tempo. A despeito de sua promessa, ele não ligou de novo. E torcendo para que ele tivesse uma brecha na programação e pudesse resolver o problema para ela, cruzou os dedos esperançosa. Quão difícil seria trocar uma vidraça? Ela poderia fazer provavelmente sozinha, se soubesse onde comprar o vidro e se tivesse as ferramentas certas. Percebeu que as mãos estavam trêmulas. Havia uma pequena cozinha ao lado do escritório e ela achou uma chaleira; encheu-a e a colocou sobre o fogo, enquanto procurava uma garrafa de café. Ela ouviu alguém bater na porta, mais uma vez. Ignorando a placa de Fechado algumas pessoas do lado de fora ainda tentavam entrar na loja. Se estavam desesperadas para comprar algum livro ou se era apenas curiosidade pelo fato de a ambulância ter estado lá, ela não estava interessada cm descobrir. Então, assim que derramou a água fervendo sobre o café, ocorreu-lhe que poderia ser o caipira para consertar a janela. Ela foi checar a porta. Quando chegou para abrir, quem quer que fosse, já não estava mais lá. Antes de destrancar a porta para ver se havia alguém do lado de fora, ouviu outra batida. Dessa vez, na porta de trás. Ao contrário da porta da frente, essa porta era de madeira sólida. Antes de abrir, ela gritou: — Quem está aí? — Cavaleiro Errante Associados. Donzela em perigo é nossa especialidade — Oh, que maravilha. — Não apenas um biscateiro que se achava irresistível, mas que também se achava engraçado. Quando abriu a porta, deparou com um sujeito trajando jeans, uma jaqueta de couro e uma camisa bem colada ao corpo, que parecia ter sido feita sob medida. Seus cabelos eram longos e seus olhos tinham um tom azul profundo. O efeito era agressivo e masculino. Convencido. Arrogante. E atrás dele, uma motocicleta para completar. Gregor McLeod, ela percebeu, não mudara nada. Capítulo 2 A boca de Juliet secou e por um momento ela não podia pensar em nada para falar. Tudo o que ela queria era que ele não se lembrasse dela. 13 Harlequin Romance nº 8
  • 14. LizFielding A lista de desejos de Juliet — Estou no lugar certo? Como ela não reconheceu a voz dele? Macia e grave, extremamente sexy. — A livraria? Você ligou para a Duke's Yard para que consertássemos uma janela. Foi assim que ela percebeu que ele não sabia seu nome; sempre a chamava de princesa. Naquele tempo, ela era uma garota magra, de 13 anos, com roupas doadas e óculos com armação de metal — e com seu longo cabelo em uma trança infantil, calmamente seguindo seu herói pela escola. Exceto, claro, que ele nunca fora herói. Um herói não desapareceria de sua vida sem uma palavra. — Sim. — Ela se recompôs, ignorando o desapontamento, pois enquanto ele causava o maior impacto nela, ela nem sequer tocara em sua memória. Juliet se recusou a se arrepender pelo fato de não ter se esforçado mais no que diz respeito à sua aparência. Maquiara-se um pouco e arrumara o cabelo, só isso. — Sim, aqui é a livraria. Mas não preciso de um cavaleiro errante. Preciso de um vidraceiro. Ou pelo menos alguém que troque o vidro. — Ela se dirigiu à passagem de acesso ao fundo da loja para indicar onde estava a janela quebrada. Ela se abaixou para pegar uns cacos de vidro no chão, sem tirar os olhos dele. — Solte isso. — Ele se abaixou ao seu lado e tomou os vidros da mão dela. Atônita, ela o fitou. — Você pode se cortar. — Certo. Obrigada. Não, ele não mudara nada. Estava mais pesado, claro, mas eram músculos. Havia rugas delimitando seu rosto, saindo de seus olhos, dando personalidade a sua aparência. Mas ele era o mesmo Gregor McLeod e ela teve a mais estranha impressão quando, olhando sua lista de metas, ambições, enterrara-o no passado. — Gostaria que ficasse pronto hoje. — Se está insinuando que eu não cheguei em dez minutos como tinha dito, então a culpa é sua. Se tivesse aberto a porta da primeira vez que bati, tinha adiantado 30 segundos. — Oh, era você? — Você achou que eu estava sendo otimista demais ao dizer dez minutos? — Bem, sim. — Então, percebendo que não era a coisa mais sábia a dizer: — Não! Você foi muito rápido. Achei que você fosse um cliente. — Então você ignorou? Não quero dizer como deve tocar seu negócio, Juliet, mas assim não vai vender muitos livros. — Você está certo — ela disse. — Mas não vendo livros. Ele se encostou na mesa, insinuando-se para ela. Alguns homens não conseguem evitar, e mesmo sabendo que ela não era o tipo dele — e ele também não era seu tipo —, tinham que esticar seus músculos. Bem ele estava perdendo tempo com ela. Há muito trabalhando com homens, ela sabia que para evitar esse tipo de investida a melhor estratégia era permanecer calma e com uma postura profissional. Jamais demonstrar qualquer insinuação sexual. O máximo que poderia acontecer era pegar a fama de fria, mas havia coisas piores. Estupidez, por exemplo. Ainda bem que o tipo dele tinha uma atenção muito limitada; sabia que se uma mulher não respondesse aos músculos salientes e ao peitoral bem definido, haveria outra em questão de minutos. Iram os homens quietos, aqueles com cérebro, que tinham que ser observados. Harlequin Romance nº 8 14
  • 15. Liz Fielding Her wish-list bridegroom — Esperava que você ligasse e confirmasse que eu era uma adolescente passando trote. — Nenhuma adolescente soaria como você, princesa. Com certeza, ele chamava todas de princesa. Mais fácil do que lembrar vários nomes. — Você consegue arrumar isso? Quero dizer, quanto tempo vai levar? — Vamos ver. Vou medir a janela, pegar o vidro e limpá-lo, enquanto isso, você podia me fazer um cafezinho e contar a história da sua vida. — Quanto tempo? — ela repetiu. Ele devia achar aquilo uma diversão. — Uma hora deve dar, dependendo de como a sua vida foi interessante até hoje. Meu Deus, uma hora de flerte e conversa fiada. E quanto custa uma hora do seu tempo? Por que você não paga o almoço e estamos quites? E ele tinha nervos para criticar o senso de negócios dela. — Vou trazer um bife do açougue da esquina, pode ser? Creio que você o coma cru. Ele pegou uma trena no bolso e mediu a janela. — Você sabe, tive que adiar meu almoço, estava saindo quando o telefone tocou, ia almoçar com uma pessoa. Devia ter dito que estava ocupado. — E por que não disse? — É que pareceu que você precisava de ajuda. Ela se recusava a cair na sedução de sua aparente empatia. — Eu preciso de um vidraceiro não de uma pessoa para conversar, por que não esquece o café e a história da minha vida? Chame a pessoa que ia almoçar com você. — Ela se recusou a sucumbir ao ciúme que passou por sua cabeça. — Tenho certeza de que ela esperará meia hora. — Você esperaria? Esperaria? — Em primeiro lugar, não concordaria em almoçar com você, por isso a ocasião nunca aconteceria. — Considere hipoteticamente. Era tudo sua culpa. Ela quebrara a regra capital — nunca se envolver com alguém do escritório. Seis meses atrás, ela poderia passar por essa conversa sem se aborrecer. Mesmo com Gregor McLeod. Mas seu senso de humor foi destruído pela rígida desculpa de Paul e não importava quanto ela tentasse manter seu astral elevado, a raiva continuaria extravasando como um vulcão em erupção. — Hipoteticamente? — ela repetiu. Fria. Calma. Educada como uma duquesa — não, como uma princesa. Isso ela podia fazer. — Foi o que disse. — Então, hipoteticamente — ela respondeu —, eu diria que se tivesse concordado em almoçar com você e você me explicasse que estava atrasado porque estava ajudando uma donzela em perigo... — ela parou, notando a armadilha logo à frente. — Continue — ele disse, sem esconder o fato de estar se divertindo muito com aquilo. — Tenho certeza de que você pensaria em algo. — Você não estaria sugerindo que eu tenho muita prática em dar desculpas, estaria? — Isso é mais forte do que você — ela disse, decidindo que ficar fria e tranqüila não adiantaria nada. Era melhor ser natural. — Você é homem. O mecanismo de desculpas vem junto no pacote com os cromossomos. — Ela ouvia as palavras que saíam de sua própria boca com certo fascínio. Para uma mulher que até alguns meses nunca se arriscara na vida, 15 Harlequin Romance nº 8
  • 16. LizFielding A lista de desejos de Juliet ela parecia ter perdido os freios. Felizmente, seu cavaleiro errante estava bastante ocupado anotando as medidas da janela em seu caderno. Era um caderno idêntico ao seu. A capa preta brilhante, desgastada pelo uso. Deveria estar quente, pois estava dentro de seu casaco, ela pensou. — Por favor, fique sabendo que aprecio muito o sacrifício que está fazendo — ela disse. Aquilo provocou uma reação nele. Nada excessivo. Apenas um movimento suave de uma sobrancelha, sugerindo que ele não estava totalmente impressionado pela declaração de apreço, não importava o quão profunda era essa declaração. — Mas eu ficaria muito grata se você terminasse logo o serviço para que ambos pudéssemos seguir em frente com nossas vidas — ela concluiu. — Imagino que você tenha uma vida. — E você tem? Ele olhou para cima, e pensou no que ela disse, enquanto ela se dava conta de que era melhor que ele permanecesse concentrado no trabalho. Comentários de cunho pessoal eram um convite aberto para ele desenvolver suas técnicas de persuasão. Ao ver que ela não iria responder, ele disse: — O fato é que gosto de mostrar interesse pelos meus clientes. Gosto de conhecê-los. Criar um relacionamento. — Muito digno. — Assim era melhor. Manter uma distância prática. — Prometo que se um dia precisar novamente de consertar uma janela, Duke's Yard será o nome em que pensarei. — Sarcasmo não é atraente numa mulher, Juliet. Sarcasmo? Isso não era sarcasmo. — Bem, obrigada... Ela se conteve. Ele a chamava pelo nome numa tentativa de fazê-la perguntar pelo seu. A verdade era que ela chegou muito perto de usá-lo sem pensar. Se ela fizesse isso, ele ia querer saber como ela sabe e, ao passo que ele não ficaria nem um pouco envergonhado por não ter lembrado dela, ela ficaria muito envergonhada se ele soubesse que ela nunca o esquecera. Ela não precisaria da razão em palavras. Ele simplesmente saberia porquê. — Vou anotar esse conselho — ela disse — e o colarei num lugar onde possa vê-lo todos os dias. Agora isso era sarcasmo, ela se congratulou. E, então, no momento de silêncio que se sucedeu, ela se deu conta de que ele estava certo. Isso não era nada atraente. Não que isso o impedisse de tentar mais alguma coisa. — Então, o que aconteceu com Maggie Crawford? — ele perguntou. — Você está no controle da livraria agora? — Não. — Está trabalhando para ela? — Também não. — Que pena. Este lugar bem que precisava de alguma coisa para trazer-lhe algum brilho. Nisso ela concordava com ele, mas não ia admitir. Mas, no que diz respeito a ela trazer algum brilho... — Maggie caiu de uma cadeira hoje de manhã. Estava tentando colocar um pedaço de papelão na janela para bloquear o frio. Ela foi levada para o hospital. — Sinto muito em ouvir isso. — Ele foi muito convincente. Ela quase acreditou nele. — Harlequin Romance nº 8 16
  • 17. Liz Fielding Her wish-list bridegroom Então, qual a sua conexão com ela? Ele simplesmente não desistia. — Você não tem que ir atrás de algum vidro? — ela perguntou. — Quer saber, estou com fome. Talvez você esteja certa. Ainda posso... — Não! — Não? — Olha, sinto muito, mas esta manhã tem sido muito complicada. Só vim aqui para apanhar um livro para minha mãe. Encontrei Maggie caída no chão. — E acabou ficando para consertar a janela? — ele perguntou, e ao olhar à sua volta viu-a olhando para ele. — Para alguém que você não conhece? — Ela estava preocupada e muito agitada. E eu a conheço, sim. Pelo menos minha mãe a conhece. Eu vinha muito aqui quando estava na escola. Ela me deixava sentar num cantinho e ler os livros que eu não podia comprar. — Entendo. Sinto muito. Creio que você tem que voltar para o trabalho. — Não, não tenho pressa. Estou desempregada. — Haverá uma vaga aqui, pelo que parece. Pelo menos uma vaga temporária. — Sim, bem, perguntarei à sra. Crawford o que ela vai fazer quando estiver bem o suficiente. Enquanto isso, não posso deixar a loja aberta ao deus-dará. Ou a algum bandido à procura de uma edição rara daquele livro popular Guia para principiantes de arrombamentos de sucesso. Era para ele ter rido disso. No entanto, pareceu pensativo e olhou de volta para a janela. — Creio que a pessoa que fez isso estava era tentando invadir a farmácia ao lado. — Um viciado em busca de alguma droga? Que bom. Isso me deixa muito mais tranqüila. — Você poderia deixar um bilhete lá fora dizendo: Isto é uma livraria. Favor arrombar a porta ao lado... — Tenho certeza que o farmacêutico ia adorar. — O sistema de segurança dele deve ser muito melhor — ele disse caminhando na direção da porta. Vou atrás do vidro. Por que você não vai atrás de umas guloseimas para acompanhar o chá, considerando que o almoço foi cancelado? Faz muito tempo desde o café da manhã. — Isto é uma livraria, não um supermercado... Ele saiu e a deixou falando sozinha, numa atmosfera saturada de feromônios e um ronco de motocicleta. Gregor McLeod era uma figura medieval. Não, na verdade um Neanderthal. Como ela chegou a pensar que ele fosse... bem, não interessa o que ela havia pensado. Pelo menos ele pareceu saber o que estava fazendo. E também veio, como prometera. Talvez ela não devesse ser tão dura com ele. Por outro lado, ele não precisava de nenhum encorajamento. Ela se assegurou de que a porta estava trancada e sentou-se à mesa com o café morno, procurando pelo endereço do filho de Maggie. Ela não encontrou o endereço, muito menos a bolsa de Maggie. Isso teria de esperar até que ela fosse ao hospital. Talvez ela tenha algum vizinho que possa cuidar de algumas coisas pessoais dela. Alguém que se responsabilizasse pela loja. E, então, quando o estômago dela a lembrou que estava com fome, olhou no relógio e 17 Harlequin Romance nº 8
  • 18. LizFielding A lista de desejos de Juliet se deu conta de quanto tempo havia passado desde que o cavaleiro errante partira. Ótimo. Talvez ele tenha tido uma oferta melhor. Ou talvez tenha decidido ir almoçar. Ela não o culpava, afinal tinha sido sarcástica ao extremo. Ela suspirou. Não deveria tê-lo deixado se aproximar tanto dela. Ele não era responsável pela admiração infantil que ela tivera por ele. Bem, era sim, mas tudo o que ele fizera tinha sido ajudá-la quando ela caíra no chão. Colocara-a de pé. Juntara suas coisas, e através daquele daquela boa ação manteve as crianças que implicavam com ela longe por meses. Elas só voltaram a perturbá-la quando ele desapareceu... Ela olhou para a janela. Se ele não voltasse logo, era ela quem subiria naquela cadeira instável para tentar afixar um pedaço de papelão na janela. Que alegria... Ela telefonou para o hospital fingindo ser um parente de Maggie. Não havia nada de novo além do fato de sua admissão no hospital e estar confortável. Seu café já estava frio e ela preparou outra xícara. E percebendo que estava com muita fome, arrancou um pedaço da baguete e preparou um sanduíche de queijo. Ao dar a primeira mordida, ouviu alguém bater na porta de trás. Sem esquecer que ainda podia haver um viciado pelas ruas em busca de alívio, ela não abriu a porta antes de perguntar, com a boca cheia: — Quem é? — Juliet? Ela abriu a porta. — Perdão — ela disse, gesticulando com o pão. — Obrigado — ele disse, pegando-o da mão dela, como se ela tivesse lhe oferecido. — Estou morrendo de fome. Sabe que eu cheguei a pensar que o seu invasor tinha voltado e amarrado você para evitar que você tagarelasse. — Não sou tagarela... — ela disse, espirrando farelo de pão por toda parte. Ele deu uma mordida no sanduíche. — Oh, que maravilha... Ela parou, mastigou e engoliu. — Por que demorou tanto? — ela perguntou. Ele terminou de comer o sanduíche dela e depois de lamber os dedos disse: — Como aquela janela é de acesso tão fácil, fiquei procurando algo mais firme do que vidro para servir de proteção. Segure a porta enquanto trago lodo o material aqui para dentro. Todo material? — Que material? Ele não respondeu, apenas abriu as portas traseiras de uma pequena van com o nome Duke's Yard e entregou a ela uma caixa que, de acordo com o rótulo, continha um kit de segurança com alarme. — Não. Espere... — Ele olhou para ela. — Não posso... — Não pode o quê? O que diabos havia de errado com ela? Estava tão indecisa quanto uma menininha no primeiro dia de trabalho. Mas ela nunca fora assim. E sempre soube muito bem o queria — estava tudo em sua lista —, e estava sempre determinada a conseguir. Não, ela tremia como uma menininha que acaba de ser posta de pé pelo menino mais sexy da escola. O menino por quem qualquer menina queria ser notada. Até mesmo menininhas magricelas de óculos... Harlequin Romance nº 8 18
  • 19. Liz Fielding Her wish-list bridegroom — Olha, sinto muito sr... Cavaleiro. — Ah, como isso era bom. — Sr... Errante. Ou seria sr. Duque? — ela perguntou. — Agora você está querendo me insultar — ele disse. — O meu nome — já que você perguntou — é McLeod. Gregor McLeod — ele disse. — É mesmo? — ela disse, voltando para o presente. — Acho que não ouvi direito da primeira vez. — E então: — Sinto muito, sr. McLeod, mas não estou na posição de fazer esse gasto pela sra. Crawford. — Greg ou Mac — ele disse. — Apenas as pessoas de quem não gosto devem me chamar de senhor. E quem foi que falou em gasto? Pague um jantar e estamos quites. Bem, ele tinha suas prioridades definidas. Um pedaço de vidro era equivalente ao almoço. Um alarme contra invasores era equivalente ao jantar. Ela nem quis saber o que ele esperava em troca da grade de ferro que ele retirava de dentro da van. — Por outro lado, estou certa de que Maggie ficaria muito mais tranqüila se soubesse que sua loja estava mais segura — ela disse. — O jantar sairia mais barato — ele disse ao entrar. Não, de acordo com a experiência dela. — Sinceramente, não estou interessada, sr. McLeod. — As mulheres geralmente me chamam de Greg ele disse. — Ou de Gregor. — Só chamo pelo primeiro nome as pessoas de quem gosto — ela respondeu —, mas não me importo de parar de chamá-lo de senhor, se isso o ofende. E apenas para mostrar- lhe que não era nada pessoal, ela sorriu e disse: — Vou preparar aquela xícara de chá, McLeod. — Você é um doce — ele disse, ao enfiar a mão no bolso da jaqueta —, mas creio que tenha sido uma boa idéia eu ter trazido alguns bolinhos de chocolate. Ele entregou o pacote a ela, ainda com o calor do seu corpo. — Adorável — ela disse, ao segurar o pacote a certa distância, como se ele mordesse. Ela sabia que o chocolate grudaria em seus dedos e ela não resistiria em lambê-los. Uma vez que fizesse isso... Não. Ela apenas deixou o pacote em cima da mesa. Se ele quisesse, teria que abri-lo por conta própria. — Gasto muito pouco num encontro — ele disse. — Vou lembrar disso — ela disse ao dar-se conta de que ele a fitava com certa expectativa de que seu coração desse pulos em resposta àqueles olhos azuis. Da maneira como acontecia todos aqueles anos atrás. — Se um dia precisar de um encontro barato, vou lhe avisar. Ela o deixou ali e foi até a cozinha encher a chaleira, indicando a ele que, se dependesse dela, a conversa já tinha acabado e ela agradeceria muito se ele seguisse com o trabalho. Não que ela esperasse que ele desistiria assim tão fácil. Ela ficou surpresa — e para ser honesta, um pouco desapontada — quando ele não fez qualquer comentário fora de linha. Ela olhou para trás. Ele havia tirado a jaqueta e, por ela ter olhado, ele tirou a camisa, revelando uma camiseta colada no corpo. Apenas um homem desejando mostrar seus dotes de Tarzan usaria algo daquele tipo, ainda mais no trabalho, ela pensou. Mas o silêncio dele era explicado pelo fato dele estar concentrado na remoção dos cacos de vidro da janela. Ao se esticar, os músculos do ombro se enrijeceram e a camiseta subiu, ameaçando expor alguns centímetros de carne de sua cintura. 19 Harlequin Romance nº 8
  • 20. LizFielding A lista de desejos de Juliet Ao dar-se conta de que estava prendendo a respiração ao antecipar aquela visão — ela podia até estar desligada da metade masculina da população, mas não estava morta —, ela se virou rapidamente e acendeu o fogo sob a chaleira antes de voltar à loja, onde se manteve ocupada arrumando os livros em cima da mesa. Vasculhou a correspondência para ver se havia algo urgente e deu a si mesma um tempinho para se recuperar do desejo irracional que a pegara de surpresa. Ela nunca agia de maneira irracional, mas tinha que admitir que a proximidade de um homem de jeans apertados fazia enorme diferença se comparado a homens de ternos caros, camisas de alfaiataria e cortes caros de cabelos, preferências dos homens que, até recentemente, faziam parte do seu dia-a-dia. Para dizer a verdade, apesar de estar um pouco grande, os cabelos de Gregor McLeod eram cortados por alguém que entendia do assunto. — Acho que você deveria fazer alguma coisa em relação a essa chaleira — ele gritou, interrompendo os pensamentos dela. Por outro lado, no mundo corporativo politicamente correto, ninguém esperaria que ela fizesse chá. Não que isso fizesse alguma diferença, afinal das contas. Para chegar ao topo na Markham & Ridley ainda era preciso fazer xixi de pé. — Você podia comprar uma daquelas chaleiras que desligam sozinhas — ele disse, enquanto ela retornava àquela pequena cozinha repleta de vapor. Sem se preocupar em perceber a presença dele, ela desligou o fogo, pôs um sachê de chá numa caneca e despejou a água quente. Era para ter desligado sozinha. Certamente, já estava estragada. Assim como o resto da loja. Como o resto da rua. — Creio que Maggie tenha outras coisas em mente — ela disse, enquanto adicionava leite e açúcar antes de deixar a xícara na mesa atrás dele. — Então, quem vai cuidar das coisas por aqui? — Ele encaixou o vidro na abertura. — Enquanto ela estiver no hospital. — Hã? Oh, não faço idéia — ela disse, desviando o olhar dele. — Talvez o filho dela volte para casa e resolva alguma coisa. — Jimmy? Eu duvido. Ele é que não aparecerá por aqui mesmo. — Você o conhece? — Estudamos na mesma escola. E você? — Se eu estudei na mesma escola que você e Jimmy Crawford? — ela perguntou, querendo ganhar tempo. Ele riu. — Você só pode estar brincando. Você tem o tipo de voz peculiar às pessoas que estudaram em escolas privilegiadas como a St. Mary's Ladies College. Ou algum lugar parecido. E obviamente, Juliet pensou, se os rumores que rondavam a escola depois que ele sumiu fossem verdadeiros, ele saberia tudo sobre isso. — Só quis saber se você conhecia Jimmy Crawford ele insistiu. — Oh, entendi. Bem, suponho que já o tenha visto na loja, mas nunca conversei com ele. — Ele não pareceu acreditar no tom da resposta dela. — Não vivo em Melchester desde que saí para a universidade. Ele deu de ombros. — Se é o que você diz. É que ainda estou tentando entender o porquê de você se prestar Harlequin Romance nº 8 20
  • 21. Liz Fielding Her wish-list bridegroom a todo esse trabalho. Você poderia simplesmente ter trancado a porta e ido embora depois que ambulância partiu com Maggie. — Sou uma cidadã considerada e responsável — ela respondeu, tentando não lembrar do pânico inicial de sua reação. A fração de segundo em que ela quase se mandou dali. — Oh, certo. Bem, então é isso. E onde você tem vivido? Londres? — Ela não o encorajou nem um pouco. Ele não precisava disso, e entendia o silêncio dela como consentimento. — E agora voltou para casa. Por quê? Separação? Ele não desistia nunca. Mais cinco minutos dessa conversa e ele saberia de tudo nos mínimos detalhes, inclusive a lamentável história da volta para casa para se afogar nas mágoas. Uma batida forte e contínua na porta da frente a salvou. — Para dizer a verdade, acho que vou atender à porta. Já que estou presa aqui por um tempo, vou aproveitar para fazer algo útil. Como vender alguns livros. Se me dá licença... Ela não esperou nem mais um segundo. Talvez ela não tivesse a menor idéia sobre como vender livros, mas sabia que era bem mais fácil do que lidar com Gregor McLeod. Greg a fitou enquanto ela saía. Aquela mulher tinha muita classe, e não era apenas na voz. Mas havia algo estranho, ela parecia estar fugindo de alguma coisa. Sem maquiagem, cabelos desarrumados, sua primeira impressão foi de desapontamento. Mas quando ela se abaixou para pegar os cacos de vidro e logo em seguida olhou para ele, era como se já tivesse vivido aquilo antes. Algo naqueles olhos acinzentados e naqueles cabelos era muito familiar. E quase chegou ao ponto de perguntar Não conheço você de algum lugar? Felizmente, ele conseguiu se frear. Ela não poderia ter deixado mais claro que não estava interessada, e não era preciso muita imaginação para descobrir a maneira como teria respondido a uma cantada velha como aquela. Capítulo 3 — O que você está fazendo? Juliet deixou de lado a mesa pesada e olhou à sua volta. McLeod estava apoiado contra a prateleira mais próxima olhando para ela. Ele havia trocado de camisa e parecia ter estado ali um bom tempo, o que a irritou profundamente, por alguma razão. — Estou empurrando esta mesa — ela explicou, como se falasse com uma criancinha. O olhar dele sugeriu que fosse falar mais uma vez sobre sarcasmo. Obviamente, ele mudou de idéia, pois disse: — Vou perguntar de novo. O que você está fazendo lutando com essa mesa... — Ela está no caminho — ela retrucou. Por três vezes ela teve que se espremer para pegar um livro para um freguês, e nas três vezes bateu com a canela. Isso era o suficiente. Ela não levou dez minutos para se dar conta de que toda a loja precisava ser reorganizada... — Não faz sentido ter livros à mostra se ninguém consegue alcançá-los — ela disse. — ... se tudo o que precisava ter feito era ter me chamado que eu viria ajudar — ele terminou, ao ir até o outro lado da mesa para movê-la com suas mãos fortes. — Então, Juliet, onde quer que eu a ponha? Ele estava de frente para ela, braços abertos, ombros fortes. Meu Deus. Tão... ali na cara dela. Tão... físico. Pior que isso, ele tinha um olhar que parecia tentá-la a entender aquela 21 Harlequin Romance nº 8
  • 22. LizFielding A lista de desejos de Juliet pergunta da maneira que quisesse. Ela limpou a garganta e saiu do , caminho. — Em lugar nenhum. — Mesmo? Ele inflou aquela palavra de significado. A maior parte era descrença. Ela achou que a resposta que ele esperava fosse em qualquer lugar. Ela estava errada ao pensar que podia lidar com o tipo dele. Gregor McLeod não era um tipo. Ele era único. Há muitos anos ela pensou que ele fosse único e bom... — Mesmo — ela disse, ignorando o fato que ela estava muito mais quente do que deveria naquele clima frio de março, além do aquecedor fraquíssimo ali na loja, mas nada nesse mundo faria com que ela tirasse o suéter. Agora ela entendia que ele era único e provocante... — Nesse caso, é melhor tirar os livros daí primeiro. Se as pernas se soltarem, talvez eu consiga colocá-la na van. Único e irritante... — Na van? — Você quer tirá-la do caminho, não quer? Tem um lugar lá na loja onde posso deixá- la. — De jeito nenhum! — Não me incomodo. — E ele fez algo com a boca, um canto levantou em algo diferente de um sorriso, mas era, com certeza... alguma coisa. — Eu adiciono esse serviço à conta. Uma gota de suor escorreu pela nuca de Juliet. Único e sexy. — Não! — Oh, meu Deus. — Digo... — Ela não fazia idéia do que estava dizendo. — Esquece. — E então: — Você já acabou? — Prontinho para a inspeção, madame. — Ótimo. Isso quer dizer que já posso ir. Ela virou de costas para a mesa e foi até a porta da frente, girou a tranca, fechou um pino próximo no chão e deu um pulo ao se virar e encontrar Greg logo atrás dela. — Você esqueceu um — ele disse, esticando o braço acima dela para fechar o pino no topo da porta, dando a ela uma visão privilegiada do seu peitoral e um cheiro masculino — couro, loção após barba, óleo da junta da janela... — Tem certeza em relação à mesa? — ele perguntou, ao se afastar e deixá-la escapar. — O quê? Oh, sim. — Ela tinha quase 30 anos, pelo amor de Deus. Ela não babava mais. Nem mesmo Paul a deixava desse jeito. Nem ao menos chegou perto disso, mas era como se, uma vez abaixada a guarda, ela agora se encontrava vulnerável... — Eu me distraí por um instante. — Ela pegou uma mecha de cabelo que se soltara da presilha e ajeitou-a atrás da orelha. — Acontece nesse trabalho. — Você está no ramo de remoção de móveis? Ela sorriu. — Não, McLeod. Eu estou, ou pelo menos estava, até recentemente, no ramo de gerência empresarial. — Embora a razão pela qual uma pessoa tão boa em gerenciamento fizera um serviço tão medíocre em sua própria vida era difícil de enxergar. Paul, ao contrário de Gregor McLeod, nem ao menos estivera em sua lista... — É mesmo? E isso envolve remover móveis? — Envolve lidar com problemas — ela disse. — E a mesa é um problema. Diga-me, princesa, se eu lhe dissesse que tenho um Harlequin Romance nº 8 22
  • 23. Liz Fielding Her wish-list bridegroom problema, você não teria o impulso incontrolável de resolvê-lo para mim? Ela não podia acreditar que ele acabara de dizer aquilo. Ela não podia acreditar mesmo que estava ruborizada... — Sinto lhe informar, mas você vai ter que entrar na fila. Nesse momento, eu é que estou com problemas demais, e até que encontre um emprego e um lugar para viver... — ela parou. Isso era bem mais do que ele precisava saber. — O que eu não preciso é de ficar encarregada de uma livraria à beira da falência. Assim como tudo mais nessa área. O que há de errado com essas pessoas? Com um pouquinho de imaginação — e uma camada de tinta fresca — essa área poderia se tornar numa atração de verdade. — Sua imaginação deve estar um pouco animada demais. Essa área precisa vir abaixo para que possamos começar do zero. — Você só pode estar brincando. Prior's Lane é cheia de personalidade. Repleta de história. A catedral e o castelo atraem muitos visitantes e aqui já foi o lugar onde eles vinham gastar dinheiro. — Não depois que o shopping foi construído. — O novo shopping não passa de uma cópia de vários outros em todo o país. Aqui a coisa é diferente. — Sem dúvida nenhuma. — Tudo o que precisa é de alguns lugares decentes para se comer, algumas reformas e a publicidade correta para atrair lojistas de volta para esta área. Como a Portobello Road ou The Lanes em Brighton. — Esse ramo de antigüidades não está um tanto quanto saturado? — Esqueça esse ramo. Antigamente, havia lindas lojinhas por aqui. Ainda há algumas, embora tenha que procurar por elas. Uma boa confeitaria, uma dellicatessen italiana maravilhosa — você mesmo já experimentou os produtos de lá —, e tem uma loja de materiais de construção que parece algo tirado dos anos 1950. Uma peça rara. Ainda é possível se comprar parafusos avulsos por lá. Pregos pelo peso. — Ela pôde ver que ele não entendia. — O que a Prior's Lane precisa são os tipos de lojas que não se vê mais em nenhum lugar. Por aqui tinha um aviário, um chapeleiro... — Um chapeleiro? — Bem, está certo, mas quando eu era criança, vivia olhando para aquela vitrine e sonhando... — Ao ver a expressão no rosto dele, ela percebeu que estava meio perdida em seus pensamentos nostálgicos. Ela deu de ombros e disse: — Isso é comprar com diversão. — Certamente, isso é uma coisa de menina — ele disse. E, então, com um sorriso que deveria ser um crime: — Embora eu goste do som de parafusos soltos. Ela considerou responder com: insinuações não são nada atraentes num homem, mas decidiu que ignorá-lo seria muito mais sábio, e disse simplesmente: — Não que isso seja da minha conta, é claro. — Posso ver que você não considerou isso nem por um segundo. — Não precisei de um segundo. Um olhar foi tudo o que precisei. — Seria um projeto interessante, algo que valeria muito a pena. Se ela não tivesse outros problemas mais imediatos para resolver. — Não tenho tempo para mais nada. Nem para ficar arrastando móveis por aí. E, além do mais, imagino que Maggie goste daqui exatamente do jeito que está. — Talvez. Ou talvez ela só não tenha ninguém para ajudá-la com essas coisas. Talvez você esteja fazendo um favor a ela. 23 Harlequin Romance nº 8
  • 24. LizFielding A lista de desejos de Juliet — É possível, mas, de qualquer maneira, isso não é da minha conta. Quanto lhe devo? Ele deu de ombros. — Como você apontou, não é da sua conta. — Eu lhe chamei. Eu pago a conta. — E por que eu não mando direto para o dono? — Mas eu não sei quem é. — Eu sei. — Certo. — E então ela franziu a testa. — Seria ele o responsável por uma janela quebrada? — Se ele tentar se safar, telefono para você e então me leva para jantar como você prometeu. Ela ignorou o pequeno tremor de ansiedade que cruzou seu corpo. Ela já cometera erros demais esse uno e não era nem Páscoa ainda. — Não lhe prometi nada, McLeod. E a grade e o alarme de segurança? Ele abriu um sorriso maroto. — Ah, bem, isso é outra história. Mas estou aberto a negociações. Recusando-se a se deixar levar por mais uma insinuação, ela disse: — O sr. Duke não vai se incomodar com esse biscate? Usando a van dele, e seus materiais para fazer serviços por fora? — Duke nunca ficará sabendo. — Sei. — Sabe mesmo, Juliet? Ela sabia era que ele a estava envolvendo num esquema para subtrair seu empregador. — Talvez seja melhor eu telefonar para ele e cuidar da conta diretamente com o chefe. — Você está tentando me encrencar? Depois que desisti do meu almoço por sua causa? — Não. Não, claro que não — ela disse. — Imagino que você prefira o pagamento em dinheiro pelo alarme — ela disse, tentando se recompor e se lembrar de onde havia deixado a bolsa. — Já disse, não quero o seu dinheiro. Ela nunca antes tivera tanta dificuldade em se livrar do olhar de um homem. — Isso é muita generosidade de sua parte — ela disse. — Tenho certeza de que Maggie ficará muito feliz quando eu lhe contar. Ele sorriu mais uma vez. Não foi o sorriso completo, foi um sorriso mais pensativo, deixando-a com um sentimento desconfortável, dando-lhe a entender que ele sabia de algo que ela não sabia. Mas tudo o que disse foi: — É melhor eu lhe ensinar como ligar o alarme antes de ir. Ir? Então era só isso? Ele se virou e foi na frente, na direção do escritório. — Quer checar a janela? É, aparentemente era só isso mesmo. Ela pegou a xícara de café que abandonara e to- mou um gole, apenas para umedecer os lábios. — Está ótimo. Muito obrigada. Você fez um ótimo trabalho. — Quer dizer, então, que me recomendaria para os seus amigos? Amigos? Ela não tinha nenhum amigo. Ela trabalhava demais para ter amigos. Ela tinha colegas, conhecidos do mundo dos negócios e um ex-namorado traidor. Nenhum dos quais queria falar com ela nesse momento. Ou talvez nunca mais. Harlequin Romance nº 8 24
  • 25. Liz Fielding Her wish-list bridegroom — Claro. — Você hesitou por uma fração de segundo nessa, Juliet, mas valeu pelo esforço. — Ele se virou para o interruptor que pregara na parede. — Isso é muito simples. Vire a chave quando sair. Para baixo, liga; para cima, desliga. Demora dez segundos antes de começar a berrar a todo vapor acordando até os mortos. — É só isso? Não existe um código que eu preciso saber? — Não. Isso não é nada muito sofisticado, é apenas um fio de contato conectado à porta de trás e à janela — ele disse, enquanto lhe mostrava como fazia —, mas é muito alto, o que normalmente é suficiente para deter o ladrão. Tem certeza de que não quer que eu lhe ajude a mover a mesa antes que eu vá embora? — Tenho. — Tudo bem. Então já vou. — Ele tirou um cartão do bolso da camisa e entregou a ela. — Esse é o meu celular, caso você tenha mais algum serviço por aqui. Ele já estava indo embora? Dessa maneira? Ela esperava que, pelo menos, ele repetisse a oferta do jantar. Ele falara sobre isso diversas vezes. Mas, não, ele entrou na van, e depois de um aceno casual, foi embora. Certo. Bem, tudo bem. Ela queria mesmo que ele fosse. Ela fechou a porta. Agora ela também podia ir embora. Primeiro, ela escreveu um bilhete avisando aos fregueses que a livraria estaria fechada temporariamente, e colou-o na porta. Em seguida, depois de pagar pelos livros que comprou, contar o dinheiro na gaveta e escrever uma nota dizendo exatamente quanto era, ela pôs os livros numa sacola e enfiou-os na bolsa de compras da sua mãe. Em seguida, pegou as flores, ligou o alarme e saiu pela parte de trás da loja, assegurando-se de que a porta estava bem fechada. Juliet pôs as flores na mesinha-de-cabeceira e se inclinou sobre a cama. — Maggie? — Olá, querida — ela disse, parecendo bem pequena naquela cama de hospital. Muito frágil. — São lindas. — Foi mamãe quem as enviou. Ela pediu para lhe dizer que jogará suas cartelas no bingo. E dividirá os prêmios. Maggie riu. — É assim que fazemos. Ela é muito querida. E você também. Não sei o que teria acontecido comigo se você não tivesse me encontrado lá. — Só fiz o que qualquer um teria feito — ela disse. — Como está se sentindo? — Uma estúpida. Continuo a dizer-lhes que não há nada de errado comigo exceto por alguns arranhões. Só fiquei um pouco tonta, só isso. — Bem, não vou lhe incomodar por muito tempo mais. Tenho certeza que descanso é a melhor coisa para você agora. Mas pensei que poderia estar preocupada com a loja. — Não, querida, você disse que ia tomar conta dela e eu acreditei. — Chamei alguém para consertar a janela e tranquei tudo direitinho. — Não pareceu necessário incomodá-la com os detalhes do alarme rudimentar que McLeod instalara por lá. — Você foi muito boa. — Não foi nenhum incômodo. O rapaz que consertou tudo disse que enviaria a conta para o dono. — O dono? — Maggie tentou rir, mas era aparentemente muito esforço para ela. — 25 Harlequin Romance nº 8
  • 26. LizFielding A lista de desejos de Juliet Quero ver. Ele não conserta nem as coisas que deveria. Juliet ofereceu-lhe água, ajeitou-a nos travesseiros e disse: — Não se preocupe com isso agora. — Ela teria de ir à Dukes's Yard para ver se encontrava McLeod e acertava tudo. — O que preciso mesmo saber é o que você deseja que eu faça com o dinheiro da gaveta? Está bem guardado, mas deveria estar no banco. E tem a chave também. O que você gostaria que eu fizesse com ela? — Dinheiro? Só havia uns trocados. — Bem, eu fiquei por lá enquanto o rapaz consertava a janela e os fregueses continuaram a chegar. E, claro, comprei dois livros. Tem um dinheirinho bom lá... Ao dar-se conta de que os olhos de Maggie haviam se fechado e que ela estava falando sozinha, Juliet pegou as flores e foi em busca de algo para colocá-las dentro. Na volta, ela foi parada por uma enfermeira. — Você telefonou hoje cedo? Parente da sra. Crawford? Oh, meu Deus. Ela já havia esquecido daquela mentirinha. — Sim — ela disse. — E não. Meu nome é Juliet Howard, e liguei sim, mas não sou exatamente parente dela. Eu sabia que vocês não me dariam notícias dela a não ser que eu fosse. — Então, quem é você? — Ninguém. Bem, obviamente, eu sou alguém... — Ela parou. — Minha mãe a conhece. Fui eu quem a encontrou e chamou a ambulância. Desculpe. A enfermeira franziu a testa. — Então, você é uma vizinha? — Também não. Apenas uma freguesa na livraria dela. Algum problema? — Nada que um parente — ou um vizinho — não pudesse ajudar. O fato é que Maggie precisa de alguns objetos pessoais. Camisola, escova de dentes... — Ninguém mais veio visitá-la? Ela não lhe pediu para telefonar para ninguém? — Ela nos disse que o filho está fora do país e se recusou a nos dar um telefone de contato. Disse que não havia nada que ele pudesse fazer e não fazia sentido preocupá-lo com isso. McLeod sugerira, de certo modo, que ele não ia querer ser incomodado. Ela dissera a verdade quando disse que não conhecia Jimmy Crawford. Era bem possível que ele fosse mais velho do que McLeod, claro. — Creio que você não saiba como entrar em condito com ele, sabe? — Não, não sei. E a sra. Crawford está certa sobre uma coisa: ele não vai poder ajudar com a escova de dentes. — E, então, como parecia não haver mais nada que ela pudesse dizer: Para ser sincera, estou com as chaves. Se isso ajudar, posso perguntar se ela quer que eu vá buscar seus objetos de uso pessoal. — E torcer para encontrar um vizinho que possa assumir essa situação. — Por quanto tempo ela ficará no hospital? — É difícil dizer. A sra. Crawford disse que teve uma tonteira súbita. Estamos fazendo alguns testes, mas é bem provável que ela tenha tido um infarto leve. — Nesse caso, alguém vai ter que entrar em contato com o filho dela e dizer o que aconteceu, para que ele possa fazer o que for necessário. Juliet notou que por mais que estivesse preocupada com a situação de Maggie a enfermeira viu algo atrás dela que pareceu tirar toda a sua atenção. Esse algo era nada mais nada menos que McLeod. Sem a calça jeans. Ele estava vestido com calça social, uma camisa suave e uma jaqueta Harlequin Romance nº 8 26
  • 27. Liz Fielding Her wish-list bridegroom fina de camurça. E ele carregava um buquê de flores que fazia as flores que ela carregava parecerem completamente inadequadas, embora ela estivesse grata demais por ter se dado ao trabalho de lavar os cabelos e colocar uma maquiagem no rosto para se preocupar com isso. Não que ela esperasse encontrar McLeod mais uma vez, mas havia sempre a chance de esbarrar em alguém dos tempos da escola. Alguém que pudesse se lembrar dela. Pelo menos foi isso que disse a si mesma. Sua mãe não dissera uma só palavra sequer, mas ficou muito feliz em lhe passar as chaves do velho carro, evitando assim que Juliet pegasse três ônibus para chegar até o hospital. — Também gostei de lhe ver novamente, princesa. — Por favor, não me chame mais disso. Ele deu de ombros. — Como está Maggie? — Tão bem quanto o esperado. — E, então, ao ver a expressão de esperança no rosto da enfermeira: — Desculpe, mas esse não é o filho de Maggie. É apenas um homem de biscates. — Ela olhou para ele. — Por que está aqui? Oh, não, não venha me dizer. Maggie disse que o dono do prédio se recusaria a pagar pelo vidro. Os olhos dele escureceram por um momento e ela sentiu o calor de pura raiva. — Tenho certeza que quando você parar para pensar vai desejar não ter dito isso. Ela não precisava de tempo para pensar, já estava arrependida. Mas é que havia algo sobre toda aquela testosterona indomada que a irritava além da conta. Mas pelo menos ela sentia algo. Até mesmo irritação era melhor do que a depressão pela qual vinha passando nas últimas semanas. — Ela está aqui, McLeod — ela disse, ao se virar e caminhar na direção da enfermaria onde Maggie estava, com vários outros pacientes. Ela não olhou para trás para ver se ele a seguia. Não era necessário. Os pescoços virados no caminho lhe asseguravam que ele estava bem atrás. — Ela está dormindo — disse McLeod. — Por favor, não se sinta obrigado a ficar se você tiver algo mais importante agendado — ela disse, ao colocar o vaso que segurava em cima do armário. — Ficarei feliz em dizer que você veio, rapidamente, quando ela acordar. — Não estou com pressa. — Ele sorriu para a jovem enfermeira e lhe entregou as flores que trouxera. — Você pode encontrar um vaso para colocá-las, meu doce? — A garota ficou ruborizada e as pegou, sem dizer nada. — Por que você não pediu uma xícara de chá, com leite e açúcar? — Juliet perguntou. — Enquanto estava com o sorriso ligado. — Você se lembrou. — E ele a fitou por um instante com um olhar tão profundo que ela sentiu um calor subir ao rosto. E, então, satisfeito, ele se virou para Maggie, cujos olhos agora estavam abertos. — Olá, Maggie — ele disse, dando-lhe um beijo na testa. — Ouvi dizer que você foi à guerra. — Gregor... — ela sorriu. — Que bom ver você. Você veio visitar alguém? — Você. Fiquei sabendo sobre o ocorrido e vim ver se precisava de algo. Quer que eu tente entrar em contato com Jimmy? Quer que lhe diga o que aconteceu? — Ah, não. Não precisa incomodá-lo. Ele está ocupado demais para voltar correndo para casa a cada cinco minutos — ela disse. 27 Harlequin Romance nº 8
  • 28. LizFielding A lista de desejos de Juliet — Alguém tem que cuidar da loja — ele disse. — Juliet tem feito um ótimo trabalho... — Maggie — Juliet interrompeu. A última coisa que Maggie precisava agora era ser incomodada com assuntos da loja. — Você vai precisar de algumas coisas. Ficarei feliz em ir buscá-las para você. E em seguida disse: — Você tem um vizinho ou amigo para quem deseja telefonar? — Oh, não, isso seria difícil. Não há muitos vizinhos por lá. As pessoas costumavam morar em cima das lojas, mas ninguém mais faz isso. Hoje em dia indo é escritório. — Escritórios? — Juliet olhou para McLeod, aguardando uma explicação. — Maggie mora no andar de cima da livraria — ele disse. — Achei que você soubesse. Ela o fitou. Então, foi por isso que ele consertou o alarme? Claro que sim. Droga, agora sim ela se sentia mal. — Não — ela disse. — Gostaria que você tivesse mencionado. Eu poderia ter trazido algumas coisas dela comigo. — E mais uma vez ela desejou ter mantido a boca fechada. Discutir com ele não ajudaria em nada. Nada disso era culpa dele. — Deixa para lá, posso ir pegá-las agora. Tem alguma coisa em particular que gostaria que eu trouxesse, Maggie? — Que gentileza, querida, mas não precisa se preocupar comigo. Continuo a dizer a eles aqui no hospital que não vou ficar. Se eles apenas trouxessem minhas roupas... — Você ainda não pode ir para casa, Maggie — Juliet disse com cuidado. — Terá que ficar por mais um tempo, até que eles terminem os testes. — Oh, não, isso vai ser impossível. Como Gregor disse, não há ninguém para cuidar da livraria. Juliet olhou para ele. Que homem estúpido e sem consideração. Preocupando a pobre mulher. Ele sorriu de um modo que sugeria que ela se arrependeria profundamente sobre o comentário sobre o biscate e disse: — Como estava dizendo, Juliet fez um ótimo trabalho hoje. Na verdade, ela estava pronta até para mover uns móveis de lugar... — Já era tempo. Eu estou para chamar alguém para tirar aquela mesa de lá. Estou sempre batendo com a perna nela. — Então ela é com sua garota. Trabalha com gerenciamento... — Não tem nada a ver com gerenciamento de loja de varejo... — E, olha só que sorte, ela também está atrás de emprego. Por que não pede que ela assuma a loja até que você esteja bem para trabalhar? — ele prosseguiu, como se ela não tivesse falado nada. — Oh, eu não poderia incomodá-la — disse Maggie, economizando a Juliet ter de explicar porque não podia. — Não seria incômodo, seria, Juliet? — McLeod persistiu. — Vocês têm muitas coisas em comum. Ela está bastante interessada em restaurar a área da Prior's Lane para deixá-la como era no passado. — Oh, nem me faça começar com esse assunto -disse Maggie. — Não, de verdade, adoraria ajudar, mas... — E tem o apartamento do último andar. Ainda está vazio, não está? Juliet está procurando por um lugar para viver, também. — É mesmo? Bem, imagino que viver com sua mãe é um tanto quanto restritivo para vocês duas. O apartamento precisa de uma limpezinha. Todas aquelas escadas são um Harlequin Romance nº 8 28
  • 29. Liz Fielding Her wish-list bridegroom esforço muito grande para mim, hoje em dia. — McLeod! — Juliet interveio. — Maggie, não liga para ele. A última coisa que você vai querer é alguém que você praticamente não conhece cuidando da sua loja e vivendo no andar de cima. — Ah, eu conheço você desde que nasceu, Juliet. E sua mãe é o tipo de pessoa em quem confio cegamente. Mas não é só a loja. Preciso ir para casa por causa de Archie. — Archie? — Archie? — McLeod ecoou. Quem ou o quê era Archie? — Ele não pode ficar lá sozinho, pobrezinho — disse Maggie, sem dar conta dos olhares aterrorizados na direção dela, enquanto ela se esforçava para ficar acordada, com todos os medicamentos que tomara. — Ele sofre tanto quanto fica só. E, é claro, ele precisa de alguém que o alimente. — E então: — Você encontrou a comida dele, não encontrou, querida? Bem, isso tirou o sorriso do rosto de McLeod. Não que ela tivesse alguma razão para estar feliz. — Claro que sim — disse McLeod, antes que ela pudesse confessar. E acrescentou: — Você ficaria bem sozinha por um tempinho enquanto eu e Juliet vamos até a cidade buscar algumas coisas para você? — Eu não preciso de carona. — Ainda mais na garupa daquela moto. — Tenho meu próprio transporte. Tem alguma coisa em especial que você precisa, Maggie? Ou deixará por minha conta? — Não se incomode com isso, querida. Já lhe disse, estou indo para casa. — Ela fez um esforço para tentar se sentar, para mostrar-lhes que estava falando sério, e logo em seguida desmoronou sem forças sobre os travesseiros. — Bem, talvez você esteja certa. Devo passar a noite aqui. Mas só se você prometer que vai ficar com Archie. — Claro que ela vai ficar — McLeod prometeu por ela. — Não vai ser problema, não é mesmo, Juliet? — Sem problemas — ela disse, depois de uma pequena hesitação. — Falaremos sobre isso quando eu voltar, mas agora preciso ir e pegar as suas coisas. McLeod ficará lhe fazendo companhia até que eu volte. — Ela olhou para ele. — Isto se você não tiver um encontro com alguém. Ele sorriu, nem um pouco incomodado pela visível hostilidade dela. — Bem, agora, isso só depende de você, Juliet. Capítulo 4 Greg deixou que ela escapasse. Pelo menos para se deliciar com a visão do traseiro dela envolto em calças levemente soltas sobre o corpo, enquanto ela caminhava o mais rápido que podia — quase ao ponto de estar correndo, diga-se de passagem, e agora essa do Archie! Ele não comera nada, nem ao menos sabia que ele existia. O que ela estivesse fazendo em Londres, ele decidiu, ela era muito boa em sua atividade, se é que ele podia julgar esse mérito pelas roupas que ela vestia. Na verdade, isso trazia à tona a pergunta: o que ela estava fazendo de volta em Melchester? Uma cidade agradável, certamente, e até mesmo estava crescendo rapidamente, mas Londres era o lugar para alguém com as qualificações dela. 29 Harlequin Romance nº 8
  • 30. LizFielding A lista de desejos de Juliet — Que menina adorável — disse Maggie quando ele retornou-lhe o olhar. — Exatamente o que eu pensava. — Duvido disso, Gregor. — Sua risada se transformou numa tosse, fazendo com que seus olhos se fechassem. — Por que você não vai com ela? A cidade não é lugar para uma jovem sozinha à noite. — Exatamente o que eu pensava — ele repetiu. Mas ela já estava dormindo. Ele parou na sala das enfermeiras para explicar que voltaria mais tarde e então andou até o estacionamento. A primeira coisa que viu foi um carro velho com o capo aberto e a figura inegável de Juliet debruçada sobre ele. Ele teria reconhecido aquele bumbum em qualquer lugar. — Sabe que eu imaginei que você possuísse um carro muito mais sensível e moderno — ele disse. — É mesmo? — ela se endireitou. — Bem, nem sempre você está certo. — Verdade. Mas posso sempre ser útil. — Prove isso fazendo com que esse carro volte a funcionar. — A única coisa útil que estou preparado para lazer com esse troço patético que você chama de carro é chamar o ferro-velho para rebocá-lo e acabar logo com o sofrimento dele. — Você não é tão bom assim com motores, não é mesmo? — Essa tática não vai funcionar comigo, princesa. Não tenho que lhe provar nada, especialmente quando o meu fiel garanhão está ali aguardando para sair galopando com uma donzela em apuros. — Você está me oferecendo sua moto emprestada? — De jeito nenhum. O que estou oferecendo é carona até a livraria. No meu carro. — Sinto muito McLeod, mas minha mãe me disse para jamais pegar carona com estranhos. — Não sou estranho. — Isso é uma questão de... — Não sou nem um estranho. Ela começou, como se ele tivesse tocado num nervo, e o sentimento de que ele a conhecia se intensificara. Será que ela já trabalhara em algum de seus escritórios? Mas, se fosse o caso, ela também o teria reconhecido. E se tivesse? Por que ela não falava nada? — McLeod... Na esperança de evitar mais discussões, ele deixou suas preocupações de lado — e poderia averiguar isso mais tarde — e disse: — Antes de você dizer qualquer coisa, devo lhe avisar que terá de esperar uns 20 minutos por um táxi, no mínimo, e embora pense que vai valer a pena, pense no Archie morrendo de fome. — Estou tentando não pensar sobre isso — ela declarou, fechando o capo e em seguida pegando sua bolsa e trancando o carro. — Eu lhe prometo que nada mais irá me persuadir a pegar uma carona como você. — Pode acreditar — ele disse -, nada neste mundo irá me persuadir a lhe oferecer uma carona. E finalmente ela sorriu para ele. — Acho que mereci isso. — Sem dúvida, mas discutiremos sua atitude hostil inexplicada contra mim num outro momento ele disse, sem retornar o sorriso ou sugerir que uma conversa durante o jantar Harlequin Romance nº 8 30
  • 31. Liz Fielding Her wish-list bridegroom seria o apropriado. Ela estaria esperando por isso e teria sua recusa brusca esperando por ele. Era hora de implementar esse jogo um pouquinho e parar de ser tão previsível. — Vamos, meu carro está estacionado bem ali. Ela parou quando ele se aproximou de seu Jaguar E-type azul-marinho, modelo de colecionador, e abriu a porta para ela. — Isto é seu? — ela perguntou. Certamente, não esperava por algo desse tipo. — Homens como eu ganham boas gorjetas — ele disse. — Não... Primeiro o sorriso e agora ela estava meio confusa. Tão confusa quanto no momento em que ele se virou depois de trancar a porta da loja e se pegou bem ali, tão próxima a ele. Havia algo de muito atraente sobre uma mulher tão segura de si perdendo o controle. O toque extra de cor em seu rosto era enfatizado pela claridade de sua pele... — Só quis dizer... — Seu gesto indicava que ela não sabia ao certo o que estava dizendo. Mas ele podia tentar adivinhar. — Quer dizer, se eu o peguei emprestado? E, mais importante, se eu pedi a permissão do dono antes de pegá-lo? — Sim... — E então: — Não! Perdão. Nem sei mais o que quis dizer. É um pedido de desculpas. O pacote completo. Ele estava finalmente chegando a algum lugar. — É um belo carro, McLeod — ela disse ao entrar no carro com a facilidade de uma mulher que sabia como entrar num carro esporte. Nádegas primeiro, em seguida as pernas. — É um carro clássico. — É mesmo — ele concordou. — E pode ficar tranqüila que tenho a permissão incondicional do dono para usá-lo. Ela olhou para ele. — É seu, não é mesmo? — Cada pedacinho dele — ele disse ao fechar a porta para ela e se dirigir paro o lado do motorista e dar a partida. Ele nunca se cansava do ronco gutural e suave do motor, da maneira como as pessoas olhavam para ele quando passava pelas ruas. Ele poderia dirigir qualquer carro que quisesse, os carros esporte mais velozes, qualquer um desses símbolos de riqueza que meninos pobres que se tornam bem de vida dirigiam para avisar ao mundo que estavam na área. Ele tinha uma meia dúzia deles para escolher na garagem subterrânea do seu apartamento na beira no rio Tâmisa em Londres e numa cabana que comprara num vilarejo à pouca distância de Melchester. Mas essa belezura de 40 anos era o seu favorito. Ele nunca falhara em fazer as mulheres — até as mais seguras de si como Juliet Howard — suspirarem. — Você o reformou por conta própria, McLeod? — Juliet perguntou, muito educada, com a respiração sob controle, enquanto ele pegava a estrada, na direção da velha parte da cidade. — O Jaguar? Ele podia ser educado também, mas não ia deixar que ela se livrasse dessa tão fácil. — Certamente, você não acredita que um homem simples e trabalhador como eu poderia restaurar um carro como esse e deixá-lo nessas condições? — Não creio que tenha jamais sugerido que você fosse um homem simples. E tenho consciência de que em busca de suas paixões as pessoas são capazes de coisas extraordinárias. 31 Harlequin Romance nº 8
  • 32. LizFielding A lista de desejos de Juliet — Restaurar carros não é minha paixão. — Ele parou no sinal e olhou para ela. — Tenho coisas mais interessantes para fazer deitado, do que coberto de graxa. Se ele estivesse esperando por uma resposta irritada a tal insinuação, ficaria desapontado. Ela não disse nada e com o perfil no escuro não foi possível ver sua expressão. Em vez disso, ela levantou a mão e ajeitou o cabelo com seus dedos finos num gesto mais nervoso do que espontâneo. Dessa forma, ele teve a incômoda sensação de que a autoconfiança dela estava apenas na superfície. Havia fragilidade por baixo de toda aquela pose e a autoconfiança não era nada além de uma máscara superficial — bem polida, mas muito fina. Isso provocava nele um sentimento de proteção e ele se pegou desejando oferecer a ela afirmação em vez de provocação. Ele desejou tocar na mão dela e dizer: Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. Eu farei com que tudo fique bem. Loucura. Neil estava certo. Mulheres como Juliet Howard sempre lhe causaram problemas. Ele estava muito mais seguro com mulheres que entendia. Mulheres objetivas, que sabiam exatamente o que ele estava oferecendo, que sabiam que ele lhes proporcionaria diversão, sexo bom para ambos e absolutamente nenhum compromisso. Mas desde quando ele preferia as coisas mais seguras? Ele arrancou devagar com o carro — essa mulher não era do tipo que se impressionava com pegas de adolescentes — e disse: — Veja bem, eu não estava tentando manipular você no hospital. Ela olhou para ele. — Perdão? Ele não acreditou que ela não tivesse entendido. Ela foi rápida demais para não saber sobre o que ele estava falando. Mas ele também estava sendo um tanto quanto econômico ao dizer a verdade. Não sobre o apartamento. Embora fosse perfeito. Para ele. Se ela se mudasse para lá, ele teria todo o tempo do mundo para continuar com o joguinho que ambos começaram. E ele teria a cláusula perfeita para ir embora no minuto exato em que visse sua independência ameaçada... Mas ele continuou com o jogo. — Sobre o apartamento — ele disse. — É bem possível que ele precise de alguma decoração. Acho que me lembro de muitos pretos e vermelhos e não acho que Maggie tenha mudado nada por lá desde que Jimmy partiu. Mas tem espaço suficiente por lá. Você disse que procurava um emprego e um lugar para morar. Isso significaria que todos os seus problemas seriam resolvidos numa só tacada. — O único problema que tenho é você — ela retrucou. — E Archie — ele lembrou. Ela levantou as mãos num gesto incontrolado. — Tudo bem. E Archie. Mas isso é apenas temporário. Eu não posso me responsabilizar por Maggie. Ou pela loja. Quem vai saber quanto tempo ela levará para se recuperar? A enfermeira disse que foi um infarto leve. É bem possível que ela tenha outro. — E se alguém não tomar a frente de imediato, alguém competente, a loja fechará, você sabe disso, não sabe? — Você é a segunda pessoa a me dizer isso hoje. — Bem, você sabe então que não estou apenas dizendo isso por dizer. E, obviamente, isso não vai ser algo demorado. Ela está um pouco confusa no momento, mas logo que se der conta do que está acontecendo Maggie tomará providências para conseguir alguém Harlequin Romance nº 8 32
  • 33. Liz Fielding Her wish-list bridegroom permanente. — Ela também precisará de ajuda. Não será capaz de viver no apartamento sozinha. Vai que ela tenha um outro infarto. Demoraria muito até que alguém sentisse falta dela. — Nesse caso, Jimmy a levaria para um asilo mais rápido do que você pensa. — Você parece conhecê-lo muito bem. — Bem o suficiente. Ele puxou o pai. A única pessoa em quem ele está interessado é ele mesmo. — E quando ela olhou para ele: — Maggie foi muito boa para mim quando eu estava com problemas e precisava de alguém. Pague-me um jantar e lhe digo toda a história. — Tenho uma idéia melhor. Por que você mesmo não muda para o apartamento acima da loja? Dessa maneira você estará por perto se ela precisar de algo. — Não sou eu quem precisa de um lugar para morar — ele disse. — E já tenho emprego. — Que tipo de emprego? Um vendedor de óleo de cobra? — Perdão? — Não se faça de difícil, McLeod. — Eu? O que eu tenho a ganhar com isso? — ele deu de ombros para controlar o sorriso. Vendedor de óleo de cobra. Se Neil tivesse ouvido isso não perdoaria nunca... — Só estou sempre tentando ajudar as pessoas. A decisão é sua, Juliet. Dê uma olhada antes de decidir. — Ele passava com o carro nas ruas estreitas próximas à catedral e finalmente es- tacionou na parte de trás da loja. — Mas primeiro precisamos cuidar de Archie. O que você acha que ele é? — ele perguntou ao destrancar a porta e desligar o alarme. — O seu amigo Jimmy não tinha gosto por animais de estimação exóticos, tinha? — ela perguntou. — Você não vai querer saber a resposta a essa pergunta. — Ela ergueu as sobrancelhas como se sugerisse que ele precisava crescer. Obviamente, ela pensou que ele estivesse brincando. — Quanto tempo aranhas venenosas vivem? — ele perguntou. — E cobras? — Ah, não comece... — ela disse. Mas mesmo assim ela não pôde deixar de tremer ao pensar naqueles bichos. — Sim, bem, isso foi há muitos anos. Archie não deve ser nada mais do que um periquito neurótico. — Provavelmente. Mesmo assim, estou começando a desejar que tivéssemos perguntado a Maggie o que ele era antes de sairmos do hospital — ela disse no curvar-se para olhar debaixo da mesa. — Nós? Você é a pessoa que ela deixou no comando. Só estou aqui de pura bondade minha — ele disse. — E não acho que vá encontrar o Archie aí, Juliet, pois se estivesse aí teríamos visto ele de manhã. — Eu não — ela respondeu. — Não estava procurando. — E depois de se endireitar — Mas você está certo, não há nada aqui. — Hora de desbravar o desconhecido, então. — Você me conforta muito. Ele estendeu a mão. — Pegue na minha mão se estiver com medo. — Guarde suas mãos para você, McLeod — ela disse, ao abrir a porta que dava para o andar de cima. Juliet deu um pulo para trás quando algo mole e peludo voou da escuridão. E de repente ela já não teve tanta repulsa dele. Não agora que ele a segurava tão perto 33 Harlequin Romance nº 8
  • 34. LizFielding A lista de desejos de Juliet de si. Ela tremia muito e ele sabia que devia se sentir mal em gozar dela, mas segurá-la daquela maneira era bom demais para ele pensar em arrependimento. Seus cabelos, com um aroma suave de xampu, alisavam o rosto dele, a gola do suéter dela tinha o toque suave da caxemira, e seu corpo, mesmo debaixo das roupas, era uma tentação de curvas. Com uma dificuldade imensa, ele manteve as mãos paradas, resistindo ao fluxo quente de desejo que o impulsionava a puxá-la para mais perto, virá-la em seus braços e beijá-la. Seu corpo dizia Tudo bem. Ela quer tanto quanto você. Talvez ela até quisesse. Mas ele não ia arriscar. Quando a beijasse, queria poder ver seu rosto. Queria saber que ela morreria se tivesse que esperar mais um momento. — Está tudo bem — ele disse, afastando-se um pouco. Sua voz não foi tão firme quanto desejara que tivesse sido. Ele limpou a garganta e disse de novo: — Está tudo bem, Juliet. É só um gato. — Eu sabia disso... Juliet deu uma tremida. Ela não acreditara na história da aranha ou da cobra, mas só de pensar já linha sido suficiente para deixá-la toda arrepiada, e mesmo afastando-se, foi com certa relutância. Depois do dia que tivera, a tentação de cair nos braços fortes de um homem, sem se importar o quanto seu dono era irritante, parecia quase insuportável. Mas ela já caíra nessa uma vez, quando ficou presa num elevador por tempo suficiente para sentir claustrofobia. Aquilo também foi planejado? Não importava, o erro fora seu, e por que mesmo ela estava de volta à estaca zero, quando sempre aprendia com seus erros? E, então, afastando-se dele, ela se abaixou para tocar no gato, falando suavemente com o bichano para deixá-lo tranqüilo. — Eu estava torcendo muito para o Archie ser um periquito — ela disse, com um sorriso fraco ao pegar o gato em seus braços. Ele era grande e carinhoso, seu pêlo, rajado. Um gatinho de livros de histórias. Ela sempre quis um gato desses quando menina. — Eu poderia levar um periquito para casa comigo. — E não poderia levar um gato? — Minha mãe já me tem em sua casa lhe perturbando. Um gato já seria abusar da boa vontade dela. Isso, supondo que ela não fosse alérgica a gatos. Venha aqui, Archie — ela disse. — Vamos atrás de algo para você comer. Ele se esfregou nela, rosnando. — Obrigada por fazer isso — ela disse. — É para isso que serve um biscateiro. — Ah, olha só, sinto muito ter dito isso. É que... — Eu sei. Você teve um dia duro. — Já tive dias piores — ela admitiu. — Na verdade, o dia de hoje poderia ter sido muito pior sem a sua ajuda. — Antes de você começar a ficar boazinha comigo acho melhor deixar claro que Archie não vai para minha casa. — Você não pode dizer que sua mãe é alérgica — ela respondeu. — Eu já usei essa desculpa. — Eu não vejo minha mãe há anos, então isso não vai ser problema. — Oh... Sinto muito. — A escolha foi dela. Aprendi a viver com isso. Mas ainda assim não posso levar o Archie comigo. Vou viajar amanhã à noite. Harlequin Romance nº 8 34