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OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRA NA LIBRAS


Tanya Amara Felipe


RESUMO
 Este artigo apresenta uma pesquisa sobre os processos de formação de palavra na LIBRAS. Os
parâmetros (configuração de mão, direcionalidade, ponto de articulação movimento, localização,
expressões faciais e corporais), que também podem ser morfemas, compõem sistemas complexos de
desinências que estabelecem tipos de flexão verbais: concordância para gênero, para pessoa do
discurso e para locativo, ou são afixos que se justapõem à raiz verbal ou nominal. Portanto, em relação
aos seus processos de formação de palavra, a Libras é uma língua flexional, embora tenha também
características de língua aglutinante, que podem ser percebidas a partir da formação de sinais pelos
processos de composição e incorporação.


PALAVRAS-CHAVE
Lingüística; Línguas de sinais; Libras; Formação de palavras


THE PROCESS OF WORD CONSTRUCTION IN BRAZILIAN SIGN
LANGUAGE

ABSTRACT
This paper presents a research on the word formation processes in Brazilian Sign Language - Libras.
The parameters (hand configuration, location, hand arrangement contact and non-manual features) that
also can be morphemes, compose a complex inflection systems. These systems involve verbal
agreement for the category of person, gender and locative and modal cases, or affix patterns that added
to the verbal or nominal stems to produce new words or meanings. So, on the basis of research on
word formation processes, it will be described the Brazilian Sign Language as an inflectional
language.


KEY WORDS
Linguistics; Sign languages; Brazilian Sign Language; Word formation processes




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OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVBRA NA LIBRAS

                            “First of all, let’s be careful about deaf people. If deaf people have developed
                            sign language, then there are no intellectual defects at all. Many people who
                            are not deaf think that deaf people have deficits because we just don’t
                            understand their language”.
                            (Chomsky,1987:196)

INTRODUÇÃO

    Esse trabalho, partindo da concepção de que o sinal, nas línguas gestual-visuais,
corresponderia ao que vem sendo chamado, nas línguas oral-auditivas, de palavra, ou seja,
item lexical, mostrará como ocorrem os processos de formação de sinais na Libras.
    Todas as línguas podem ser agrupadas em relação à maior produtividade de seus
processos de formação de palavras, devido ao grande número de palavras em que podem ser
verificados ou porque, em certas novas palavras criadas pela língua, eles podem reaparecer.
    Nos estudos sobre os processos de formação de palavras (composição, aglutinação,
justaposição e derivação), as línguas são sempre apresentadas em relação aos seus morfemas
lexicais (raízes/radicais) que se prendem a morfemas gramaticais formantes (desinências e
vogais temáticas) e/ou a derivacionais (afixos e clíticos)1.
    Assim, as classificações para as línguas deram um enfoque aos resultados (outputs),
destacando à estrutura formal das palavras, e não à natureza da relação, porque o interesse
destas classificações era uma proposta mais genérica.
    Com relação às línguas de sinais, Liddell e Johnson (1986) trabalharam também com essa
temática com relação à American Sign Language e, a partir desse estudo, Quadros e Karnopp
(2004) fizeram também um estudo com relação à Libras.
    Entretanto, as regras de formação de palavras de uma língua específica, independente de
sua modalidade, apresentam uma diversidade nas classes e relações estruturais sintático-
semânticas que devem ser também mostradas. Por isso, ao se considerar os processos de
formação de palavras, deve-se destacar os inputs, que são as diferenças básicas entre as
regras de modificação de raiz - alterações sistemáticas de uma base através da adição ou


1
 A diferenciação entre palavras e afixos, segundo Taylor (1991), é complexa:
        “by the existence of another unit of linguistic structure, the clitic. In some respects, clitics are rather like
        words, in other respects they are like affixes. In addition, certain characteristics suggest the clitics form
        a category of their own (1991:179)... It is largely because of their freedom to attach to practically any
        part of speech that clitics are recognized as a special linguistic unit... Affixes change the semantic
        content and/or the syntactic function of a word. Clitics, on the other hand, do not affect word meaning
        or word function, but generally have to do with text structure or speaker attitude.” (1991:180-181).
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supressão de afixos ou modificações internas, e as regras de composição - conjunto de duas
ou mais bases, que se combinam em uma outra forma, a partir de outro elemento ou
modificações concomitantes.
         Analisando esses inputs nas línguas de sinais, essas línguas, como as línguas oral-
auditivas, também possuem estruturas fonológicas, que se constituem a partir da configuração
de unidades discretas, feixes de traços distintivos, que são os quatro parâmetros: configuração
de mão (CM), movimento (M), direcionalidade (Dir) e ponto de articulação (PA) (STOKOE,
1960)2. A partir de pesquisas sobre os traços não-manuais (EKMAN, 1978; AARONS ET
AL, 1992), pode-se falar de um quinto parâmetro: as expressões faciais e corporais (FELIPE,
1997).
         Na Libras, por exemplo, há sinais realizados somente através de expressões faciais
como LADRÃO, RELAÇÃO-SEXUAL, bem como a utilização de expressões faciais para marcar
tipo de frase (FELIPE, 1988) e de expressão corporal para marcar os turnos no discurso
(FELIPE, 1991).
         Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas configurações
de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas alterações na freqüência do
movimento, de alguns pontos de articulação na estrutura morfológica e de alguma expressão
facial ou movimento de cabeça concomitante ao sinal, que, através de alterações em suas
combinações, formam os itens lexicais das línguas de sinais. São, portanto, segundo Felipe
(1998a), morfemas lexicais ou gramaticais que podem ser, diferentemente, uma raiz/radical
(M), um afixo (alterações em M e CM) e uma desinência, ou seja, uma marca de
concordância número pessoal (DIR) ou de gênero (CM).
         Assim, na Libras, tomando o verbo como objeto de estudo, segundo Felipe (1993 e
1997), os processos de formação de palavras podem ser realizados através da modificação da
raiz, da derivação zero, de processos miméticos e de regras de composição.

PROCESSOS DE MODIFICAÇÃO DE RAIZ

         O processo de modificação de raiz pode se dar a partir da adição de afixos ou de
modificação interna.



2
  Ferreira Brito (1990), a partir das pesquisas de Stokoe (1960), e Klima e Bellugi em Klima, Bellugi et al.
(1979), descreveu estes parâmetros na LIBRAS e Karnopp (1994 e 1999) vem estudando esse parâmetro no
processo de aquisição fonológica da Libras.
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        O conceito de raiz, nesta pesquisa, será o mesmo atribuído à língua portuguesa, ou
seja, àquela parte da palavra que permanece ao serem retirados os afixos, as desinências e
vogal temática. Esta raiz, na maioria das vezes, não é um morfema livre. (BLOOMFIELD,
1933). Esses processos produtivos aparecem na Libras como:

1 MODIFICAÇÕES POR ADIÇÃO À RAIZ

       O processo de modificação por adição à raiz pode ser realizado através da
incorporação da negação porque:

    •   como sufixo, ela se incorpora à raiz de alguns verbos que, possuindo uma raiz com um
        movimento em um primeiro momento, finalizam-se com um movimento oposto, que
        caracteriza a negação incorporada, como nos verbos QUERER / QUERER-NÃO; SABER /
                                                         3
        SABER-NÃO (VPS); GOSTAR / GOSTAR-NÃO . Esse movimento contrário não é um item

        lexical para negação, seria como, em português, o prefixo {anti-}, mas que, na Libras,
        vem posposto à raiz, daí, a análise dele como um sufixo de negação;
    •   como infixo, ela se incorpora simultaneamente à raiz verbal através de uma
        alternância no movimento ou através de expressão corporal (movimento da cabeça)
        concomitantemente ao sinal, como nos verbos: TER / TER-NÃO; ENTENDER /
        ENTENDER-NÃO (VRJ); PODER / PODER-NÃO. A negação, além de poder ser expressa

        por esses processos morfológicos de adição de um afixo à raiz, pode também ser uma
        construção sintática, porque através dos sinais ‘NÃO’ e ‘NADA’ pode-se fazer a
        negativa, como nos verbos: SABER NÃO (VRJ); ENTENDER NÃO (VSP); ENTENDER
                     4
        NADA (VRJ) ;


2 MODIFICAÇÃO INTERNA DA RAIZ

        Uma raizM pode ser modificada através de cinco mecanismos de modificação interna,
que são:
        a) a flexão para pessoa do discurso que, marcando as pessoas do discurso, através
            da direcionalidade - movimentos retilíneos ou semicirculares, faz com que a raiz
            M se inverta ou até adquira uma forma em arco para flexionar em relação às
            pessoas do discurso. (Ver exemplos em anexo);

3
  As abreviaturas (VSP) e (VRJ) correspondem às variantes de São Paulo e do Rio de Janeiro respectivamente.
Ver Sistema de Transcrição em Felipe (1988, 1997)
4
  Todos esses processos estão exemplificados no anexo, após à referência bibliografia.
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        b) a flexão para aspecto verbal que, marcando os casos modais, através de
            mudanças na freqüência ou na velocidade do movimento da raizM, acrescenta
            essas informações sintático-discursivas (FINAU, 2004);
        c) a flexão para gênero que, marcando a concordância de gênero (animado – pessoa,
            animal e inanimado – coisa e veículo), através de configurações de mão
            específicas, funciona como classificadores. Por exemplo, o verbo ‘CAIR’ modifica
            sua raiz a partir de configurações de mão (classificadores), que obrigatoriamente
            concordam com o sujeito da frase (FELIPE, 2002) (Ver exemplos em anexo);
        d) a incorporação do numeral que, representando os numerais de um até quatro,

            através de configurações de mão, acrescenta à raiz um quantificador. Na Libras,
            esse tipo de modificação interna da raiz é muito produtivo e, segundo Felipe
            (1998b), está presente no seu sistema pronominal para representar as pessoas do
            discurso (dual, trial, quatrial e plural), como também no seu sistema de
            classificadores e em alguns advérbios: ANTEONTEM, UMA-VEZ, DUAS-VEZES,
            TRÊS-VEZES, PRIMEIRO-ANDAR, SEGUNDO-ANDAR, DOIS-DIAS, TRÊS-DIAS, etc;
        e) a incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais que alteram
            também a freqüência do movimento da raizM, como pôde ser verificado a partir da
            coleta de dados com exemplos de verbos da LIBRAS com incorporação do
            advérbio “rapidamente” (movimento repetido e acelerado) e do intensificador
            “muito” (movimento lento e alongado para a frente do emissor:
            TRABALHARmuito                     TRABALHARrapidamente,
            ANDARmuito                         ANDARrapidamente,
            ESCREVERmuito                      ESCREVERrapidamente;



PROCESSO DE DERIVAÇÃO ZERO

        Este processo de derivação zero pode ser encontrado em línguas oral-auditivas como,
por exemplo, na língua inglesa, cujos itens lexicais brush; comb, shelve, cloth, dependem do
contexto lingüístico para identificar sua classe gramatical. Esses itens lexicais, quando verbos,
incorporam semanticamente, enquanto caso instrumental, sua significação nominal.
        A Libras também possui muitos verbos denominais ou substantivos verbais que
possuem a mesma forma para os pares verbo/substantivo.



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        Supalla e Newport (1978) fizeram uma pesquisa com cem pares de substantivo-verbo
da ASL e constataram que havia uma modificação em relação ao parâmetro movimento que
diferenciava o substantivo do verbo: AVIÃO / IR-DE-AVIÃO; CADEIRA / SENTAR, FERRO /
PASSAR-COM-FERRO, PORTA / ABRIR-PORTA.

        Não se pode afirmar que esta diferenciação ocorre também nos pares existentes na
Libras porque os informantes para esta pesquisa não conseguiram identificá-la mas, partir dos
dados coletados para esta pesquisa, pôde-se verificar as diferenças equivalentes em alguns
pares também trabalhados por Supalla e Newport (1978).
        Por     exemplo,      os   pares     AVIÃO/IR-DE-AVIÃO          e   FERRO/PASSAR-COM-FERRO

apresentaram uma diferença em relação ao parâmetro movimento. O verbo IR-DE-AVIÃO, que
apresenta um movimento mais alongado, em relação ao substantivo AVIÃO, e o verbo
PASSAR-COM-FERRO apresenta um movimento mais repetido e alongado, em oposição ao

movimento repetido e retido para o substantivo FERRO.
        Nessa pesquisa também foi verificado que pode haver uma marca de concordância
para locativo do Objeto, apresentando uma estrutura OiVi, quando o sinal está na função de
verbo. Como, por exemplo, o verbo CORTAR-COM-TESOURA no par de sentenças abaixo onde
há tesouraN e tesouraV e suas distintas representações:
(1) ONTEM Ind1s COMPRAR TESOURA “Ontem eu comprei uma tesoura” (2) CORTINAi Ind1s
CORTAR-COM-TESOURAi “ A cortina, eu corto com a tesoura”.

        Devido ao fato dessas diferenças não poderem ser aplicadas a todos os pares na
Libras, este tipo de formação de palavra continuará sendo tratado como derivação zero: itens
lexicais com formas que são diferenciadas somente a partir da sua função no contexto
lingüístico onde está inserida e, quando estão na função de verbo possuem o caso instrumento
implícito: BRINCADEIRA / BRINCAR; CADEIRA / SENTAR; TESOURA / CORTAR-COM-TESOURA;
BICICLETA / ANDAR-DE-BICICLETA; CARRO / DIRIGIR-CARRO; VIDA / VIVER. (Ver exemplos

em anexo )
        Como, na Libras, não há o verbo copular SER em contexto com um atributo
predicativo, pode-se falar também de derivação zero para o par verbo/adjetivo, como nos
verbos de mudança de estado: EMAGRECER / MAGR@, AMARELAR / AMAREL@ que possuem a
mesma forma5.


5
 O símbolo @ está sendo utilizado para representar sinais que, diferentemente do português, não possuem
marca para gênero (masculino/feminino).
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         Este processo de derivação zero é diferente do processo de incorporação de
classificadores à raiz porque, neste segundo caso, há uma modificação interna na raiz verbal,
o que não acontece no primeiro caso, onde a mesma forma é diferenciada somente a partir do
contexto lingüístico que mostra a função do item lexical. Com relação ao verbo denomina, ele
terá a sua significação nominal implícita semanticamente na raiz como caso instrumento ou
terá, quando adjetivo, o atributo como estado ou processo.
         Esta incorporação semântica do instrumento também ocorre na língua portuguesa,
como, por exemplo, os verbos: aparafusar, martelar, capinar, etc.

PROCESSOS MIMÉTICOS OU ICÔNICOS

         A Libras, como outras línguas de sinais, devido à sua característica gestual-visual,
pode introduzir, no contexto discursivo, a mímica e por isso um objeto, uma qualidade de um
objeto, um estado, um processo ou uma ação pode mimeticamente ser representada
juntamente com a estrutura frasal.
         Este processo de formação de palavra, altamente produtivo, permite uma economia, já
que expressões faciais e corporais podem complementar os itens lexicais estabelecendo
contextos discursivos uma vez que essas se estruturam a partir das convenções da língua.
         O processo mimético transforma a mímica em uma forma lingüística que representa
iconicamente o referente a partir dos parâmetros de configuração sígnica e da sintaxe da
língua. Na verdade, não se faz a mímica simplesmente, esta é incorporada pela língua e se
estrutura a partir dos parâmetros de cada língua de sinais, como as onomatopéias nas línguas
oral-auditivas.
         Assim, a mímica é a substância do plano de expressão6 que, a partir das regras fono-
morfo-sintáticas, gera a forma do plano de expressão.
         Por exemplo, para se dizer que, em um contexto determinado, havia um homem em pé
com um jornal embaixo do braço direito e com um saco de pipoca na mão esquerda, basta
utilizar os sinais HOMEM JORNAL PIPOCA e representar a situação, ficando a frase:
HOMEM JORNAL coisa –arredondadaCOLOCAR-EM-BAIXO-DO-BRAÇO-ESQUERDO

PIPOCA    coisa-arredondadaSEGURAR-COM-A-MÃO-DIREITA.




6
  O conceito de “substância” aqui está sendo o mesmo de Saussure (1972) e Hjelmslev (1971, 1991): “A língua
é forma e não substância”. Assim como o som é a substância do plano de expressão nas línguas orais-auditivas,
a mímica é a substância do plano de expressão das línguas de sinais.
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        Da mesma forma, muitos verbos podem ser derivados de outro, através de uma
mimese da ação tal qual é realizada, acrescentando, à raiz-movimento, alternância de
expressões facial e corporal. Exemplos desse tipo de derivação podem ser verificados nos
verbos: SALTITAR, DESFILAR, CAMBALEAR, que derivam do verbo ANDAR. Esse verbo pode
também, através da imitação do modo como a ação está sendo de fato realizada, acrescentar, à
sua rede semântica, um caso modal: ANDARligeiramente, ANDARdevagar.
        Estes processos também não podem ser confundidos com o sistema de classificadores
da LIBRAS, já que se trata de um processo mimético e não um acréscimo de morfema
obrigatório à raiz.



PROCESSOS DE COMPOSIÇÃO

        Nesse tipo de processo de formação de palavras, utilizam-se itens lexicais que são
morfemas livres que se justapõem ou se aglutinam para formarem um novo item lexical.
        Na Libras esses processos podem se realizar através da:
     a) Justaposição de dois itens lexicais, ou seja, dois sinais que formam uma terceira
         forma livre como, por exemplo, nos itens lexicais CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO
         (CAVALO + LISTRA-PELO-CORPO = “zebra”); MULHER^BEIJO-NA-MÃO (MULHER +

         BEIJO-NA     MÃO      = “mãe”); CASA^ESTUDAR (CASA + ESTUDAR                             “escola”).
         ASSINAR^SEPARAR (ASSINAR + SEPARAR = “divórcio”); COMER^MEIO-DIA (COMER +
                                    7
         MEIO-DIA = “almoço”)

     b) Justaposição de um classificador com um item lexical. Esse processo foi encontrado
         quando da realização da pesquisa para o Dicionário da Libras (2005). Nesse processo
         o classificador não é uma marca de gênero e funciona como um clítico. São exemplos
         desse processo os sinais:
        coisa-pequena^PERFURAR          “alfinete”;      coisa-pequena^APLICAR-NO-BRAÇO           “agulha”;
        DORMIR^pessoa+         “alojamento”8.
     c) Justaposição da datilologia da palavra, em português, com o sinal que representa a
         ação realizada pelo substantivo que, na sede semântica da ação verbal, seria seu caso
         instrumental. Exemplo: COSTURAR-COM-AGULHA^ A-G-U-L-H-A “agulha”.

7
  O símbolo ^ (circunflexo) está sendo usado para especificar palavras compostas em LIBRAS. Ver Sistema de
Transcrição (Felipe, 1988).
8
  O símbolo + está sendo usado para representar a marca de plural, que na Libras pode acontecer através da
repetição do item lexical ou do classificador.
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        (Ver, em anexo, a pasta com esses exemplos - sinais filmados)
CONCLUSÃO

        Na LIBRAS, através do estudo dos seus processos de formação de palavras, pode-se
constatar que há várias configurações de mãos que, constituindo seu sistema de flexão verbal
para gênero animado/inanimado, sempre estão presas a uma raiz verbal, não ocupando uma
posição sintagmática independente. Portanto, essas configurações de mãos são desinências
que, enquanto classificadores, vêm sempre afixadas às raízes verbais e, anaforicamente,
estabelecem concordância de gênero com o referente que é argumento do verbo9.
        Além desse parâmetro configuração de mão, os parâmetros direcionalidade, ponto de
articulação e movimento também podem ser morfemas que compõem sistemas complexos de
desinências que estabelecem outros tipos de flexão verbais, como as marcas de concordância
para pessoa do discurso e para locativo, ou são afixos que se justapõem à raiz verbal ou
nominal.
        Assim, em relação às categorias gramaticais e aos seus processos de formação de
palavra, a Libras é uma língua flexional, embora tenha também características de língua
aglutinante, que podem ser percebidas a partir da formação de sinais pelos processos de
composição e incorporação.
        Ela também apresenta característica de língua classificadora, uma vez que existe uma
regularidade em relação à utilização dos classificadores já que o processo de classificar,
através deles, ocorre como acréscimo a um radical nominal ou como uma modificação interna
da raiz verbal, ou ainda como marcadores discursivos, como nas línguas classificadoras
coordenantes.
        Embora este trabalho não tenha um caráter conclusivo, os resultados obtidos neste
estudo trouxeram uma contribuição que ultrapassa o entendimento das línguas de sinais, uma
vez que ofereceu subsídios à teoria geral da linguagem, demonstrando a aplicação àquelas de
princípios que vêm sendo propostos para a análise de línguas oral-auditivas.




9
 Em Felipe, 2006, a sair, há uma pesquisa dos classificadores como morfemas dependentes que, enquanto
meronímia, estão com função anafórica no discurso.
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ARTIGO
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                                                            Grupo de Estudos e Subjetividade

REFERÊNCIAS

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37- 58

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                                                            Grupo de Estudos e Subjetividade


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Desenhos e Fotos retirados de Felipe, T.A (1998a)
Filmes retirados de Felipe, T.A. (2004)




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                                                                                      TANYA AMARA FELIPE
                                      Profa. Titular da Universidade de Pernambuco – UPE; Coordenadora do
                                     Programa Nacional Interiorizando a Libras (MEC-SEESP-FNDE/FENEIS).
                                                                     . Fones: (21) 8612 0037 e (21) 2567 4800
                                                                                    E-mail: tafelipe@uol.com.br




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                                             ANEXOS
1. Verbos com flexão para pessoa do discurso:




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Formaodepalavrasemlibras 091010160408-phpapp02

  • 1. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRA NA LIBRAS Tanya Amara Felipe RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa sobre os processos de formação de palavra na LIBRAS. Os parâmetros (configuração de mão, direcionalidade, ponto de articulação movimento, localização, expressões faciais e corporais), que também podem ser morfemas, compõem sistemas complexos de desinências que estabelecem tipos de flexão verbais: concordância para gênero, para pessoa do discurso e para locativo, ou são afixos que se justapõem à raiz verbal ou nominal. Portanto, em relação aos seus processos de formação de palavra, a Libras é uma língua flexional, embora tenha também características de língua aglutinante, que podem ser percebidas a partir da formação de sinais pelos processos de composição e incorporação. PALAVRAS-CHAVE Lingüística; Línguas de sinais; Libras; Formação de palavras THE PROCESS OF WORD CONSTRUCTION IN BRAZILIAN SIGN LANGUAGE ABSTRACT This paper presents a research on the word formation processes in Brazilian Sign Language - Libras. The parameters (hand configuration, location, hand arrangement contact and non-manual features) that also can be morphemes, compose a complex inflection systems. These systems involve verbal agreement for the category of person, gender and locative and modal cases, or affix patterns that added to the verbal or nominal stems to produce new words or meanings. So, on the basis of research on word formation processes, it will be described the Brazilian Sign Language as an inflectional language. KEY WORDS Linguistics; Sign languages; Brazilian Sign Language; Word formation processes © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 200
  • 2. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVBRA NA LIBRAS “First of all, let’s be careful about deaf people. If deaf people have developed sign language, then there are no intellectual defects at all. Many people who are not deaf think that deaf people have deficits because we just don’t understand their language”. (Chomsky,1987:196) INTRODUÇÃO Esse trabalho, partindo da concepção de que o sinal, nas línguas gestual-visuais, corresponderia ao que vem sendo chamado, nas línguas oral-auditivas, de palavra, ou seja, item lexical, mostrará como ocorrem os processos de formação de sinais na Libras. Todas as línguas podem ser agrupadas em relação à maior produtividade de seus processos de formação de palavras, devido ao grande número de palavras em que podem ser verificados ou porque, em certas novas palavras criadas pela língua, eles podem reaparecer. Nos estudos sobre os processos de formação de palavras (composição, aglutinação, justaposição e derivação), as línguas são sempre apresentadas em relação aos seus morfemas lexicais (raízes/radicais) que se prendem a morfemas gramaticais formantes (desinências e vogais temáticas) e/ou a derivacionais (afixos e clíticos)1. Assim, as classificações para as línguas deram um enfoque aos resultados (outputs), destacando à estrutura formal das palavras, e não à natureza da relação, porque o interesse destas classificações era uma proposta mais genérica. Com relação às línguas de sinais, Liddell e Johnson (1986) trabalharam também com essa temática com relação à American Sign Language e, a partir desse estudo, Quadros e Karnopp (2004) fizeram também um estudo com relação à Libras. Entretanto, as regras de formação de palavras de uma língua específica, independente de sua modalidade, apresentam uma diversidade nas classes e relações estruturais sintático- semânticas que devem ser também mostradas. Por isso, ao se considerar os processos de formação de palavras, deve-se destacar os inputs, que são as diferenças básicas entre as regras de modificação de raiz - alterações sistemáticas de uma base através da adição ou 1 A diferenciação entre palavras e afixos, segundo Taylor (1991), é complexa: “by the existence of another unit of linguistic structure, the clitic. In some respects, clitics are rather like words, in other respects they are like affixes. In addition, certain characteristics suggest the clitics form a category of their own (1991:179)... It is largely because of their freedom to attach to practically any part of speech that clitics are recognized as a special linguistic unit... Affixes change the semantic content and/or the syntactic function of a word. Clitics, on the other hand, do not affect word meaning or word function, but generally have to do with text structure or speaker attitude.” (1991:180-181). © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 201
  • 3. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade supressão de afixos ou modificações internas, e as regras de composição - conjunto de duas ou mais bases, que se combinam em uma outra forma, a partir de outro elemento ou modificações concomitantes. Analisando esses inputs nas línguas de sinais, essas línguas, como as línguas oral- auditivas, também possuem estruturas fonológicas, que se constituem a partir da configuração de unidades discretas, feixes de traços distintivos, que são os quatro parâmetros: configuração de mão (CM), movimento (M), direcionalidade (Dir) e ponto de articulação (PA) (STOKOE, 1960)2. A partir de pesquisas sobre os traços não-manuais (EKMAN, 1978; AARONS ET AL, 1992), pode-se falar de um quinto parâmetro: as expressões faciais e corporais (FELIPE, 1997). Na Libras, por exemplo, há sinais realizados somente através de expressões faciais como LADRÃO, RELAÇÃO-SEXUAL, bem como a utilização de expressões faciais para marcar tipo de frase (FELIPE, 1988) e de expressão corporal para marcar os turnos no discurso (FELIPE, 1991). Estes cinco parâmetros podem expressar morfemas através de algumas configurações de mão, de alguns movimentos direcionados, de algumas alterações na freqüência do movimento, de alguns pontos de articulação na estrutura morfológica e de alguma expressão facial ou movimento de cabeça concomitante ao sinal, que, através de alterações em suas combinações, formam os itens lexicais das línguas de sinais. São, portanto, segundo Felipe (1998a), morfemas lexicais ou gramaticais que podem ser, diferentemente, uma raiz/radical (M), um afixo (alterações em M e CM) e uma desinência, ou seja, uma marca de concordância número pessoal (DIR) ou de gênero (CM). Assim, na Libras, tomando o verbo como objeto de estudo, segundo Felipe (1993 e 1997), os processos de formação de palavras podem ser realizados através da modificação da raiz, da derivação zero, de processos miméticos e de regras de composição. PROCESSOS DE MODIFICAÇÃO DE RAIZ O processo de modificação de raiz pode se dar a partir da adição de afixos ou de modificação interna. 2 Ferreira Brito (1990), a partir das pesquisas de Stokoe (1960), e Klima e Bellugi em Klima, Bellugi et al. (1979), descreveu estes parâmetros na LIBRAS e Karnopp (1994 e 1999) vem estudando esse parâmetro no processo de aquisição fonológica da Libras. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 202
  • 4. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade O conceito de raiz, nesta pesquisa, será o mesmo atribuído à língua portuguesa, ou seja, àquela parte da palavra que permanece ao serem retirados os afixos, as desinências e vogal temática. Esta raiz, na maioria das vezes, não é um morfema livre. (BLOOMFIELD, 1933). Esses processos produtivos aparecem na Libras como: 1 MODIFICAÇÕES POR ADIÇÃO À RAIZ O processo de modificação por adição à raiz pode ser realizado através da incorporação da negação porque: • como sufixo, ela se incorpora à raiz de alguns verbos que, possuindo uma raiz com um movimento em um primeiro momento, finalizam-se com um movimento oposto, que caracteriza a negação incorporada, como nos verbos QUERER / QUERER-NÃO; SABER / 3 SABER-NÃO (VPS); GOSTAR / GOSTAR-NÃO . Esse movimento contrário não é um item lexical para negação, seria como, em português, o prefixo {anti-}, mas que, na Libras, vem posposto à raiz, daí, a análise dele como um sufixo de negação; • como infixo, ela se incorpora simultaneamente à raiz verbal através de uma alternância no movimento ou através de expressão corporal (movimento da cabeça) concomitantemente ao sinal, como nos verbos: TER / TER-NÃO; ENTENDER / ENTENDER-NÃO (VRJ); PODER / PODER-NÃO. A negação, além de poder ser expressa por esses processos morfológicos de adição de um afixo à raiz, pode também ser uma construção sintática, porque através dos sinais ‘NÃO’ e ‘NADA’ pode-se fazer a negativa, como nos verbos: SABER NÃO (VRJ); ENTENDER NÃO (VSP); ENTENDER 4 NADA (VRJ) ; 2 MODIFICAÇÃO INTERNA DA RAIZ Uma raizM pode ser modificada através de cinco mecanismos de modificação interna, que são: a) a flexão para pessoa do discurso que, marcando as pessoas do discurso, através da direcionalidade - movimentos retilíneos ou semicirculares, faz com que a raiz M se inverta ou até adquira uma forma em arco para flexionar em relação às pessoas do discurso. (Ver exemplos em anexo); 3 As abreviaturas (VSP) e (VRJ) correspondem às variantes de São Paulo e do Rio de Janeiro respectivamente. Ver Sistema de Transcrição em Felipe (1988, 1997) 4 Todos esses processos estão exemplificados no anexo, após à referência bibliografia. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 203
  • 5. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade b) a flexão para aspecto verbal que, marcando os casos modais, através de mudanças na freqüência ou na velocidade do movimento da raizM, acrescenta essas informações sintático-discursivas (FINAU, 2004); c) a flexão para gênero que, marcando a concordância de gênero (animado – pessoa, animal e inanimado – coisa e veículo), através de configurações de mão específicas, funciona como classificadores. Por exemplo, o verbo ‘CAIR’ modifica sua raiz a partir de configurações de mão (classificadores), que obrigatoriamente concordam com o sujeito da frase (FELIPE, 2002) (Ver exemplos em anexo); d) a incorporação do numeral que, representando os numerais de um até quatro, através de configurações de mão, acrescenta à raiz um quantificador. Na Libras, esse tipo de modificação interna da raiz é muito produtivo e, segundo Felipe (1998b), está presente no seu sistema pronominal para representar as pessoas do discurso (dual, trial, quatrial e plural), como também no seu sistema de classificadores e em alguns advérbios: ANTEONTEM, UMA-VEZ, DUAS-VEZES, TRÊS-VEZES, PRIMEIRO-ANDAR, SEGUNDO-ANDAR, DOIS-DIAS, TRÊS-DIAS, etc; e) a incorporação do intensificador MUITO ou de casos modais que alteram também a freqüência do movimento da raizM, como pôde ser verificado a partir da coleta de dados com exemplos de verbos da LIBRAS com incorporação do advérbio “rapidamente” (movimento repetido e acelerado) e do intensificador “muito” (movimento lento e alongado para a frente do emissor: TRABALHARmuito TRABALHARrapidamente, ANDARmuito ANDARrapidamente, ESCREVERmuito ESCREVERrapidamente; PROCESSO DE DERIVAÇÃO ZERO Este processo de derivação zero pode ser encontrado em línguas oral-auditivas como, por exemplo, na língua inglesa, cujos itens lexicais brush; comb, shelve, cloth, dependem do contexto lingüístico para identificar sua classe gramatical. Esses itens lexicais, quando verbos, incorporam semanticamente, enquanto caso instrumental, sua significação nominal. A Libras também possui muitos verbos denominais ou substantivos verbais que possuem a mesma forma para os pares verbo/substantivo. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 204
  • 6. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade Supalla e Newport (1978) fizeram uma pesquisa com cem pares de substantivo-verbo da ASL e constataram que havia uma modificação em relação ao parâmetro movimento que diferenciava o substantivo do verbo: AVIÃO / IR-DE-AVIÃO; CADEIRA / SENTAR, FERRO / PASSAR-COM-FERRO, PORTA / ABRIR-PORTA. Não se pode afirmar que esta diferenciação ocorre também nos pares existentes na Libras porque os informantes para esta pesquisa não conseguiram identificá-la mas, partir dos dados coletados para esta pesquisa, pôde-se verificar as diferenças equivalentes em alguns pares também trabalhados por Supalla e Newport (1978). Por exemplo, os pares AVIÃO/IR-DE-AVIÃO e FERRO/PASSAR-COM-FERRO apresentaram uma diferença em relação ao parâmetro movimento. O verbo IR-DE-AVIÃO, que apresenta um movimento mais alongado, em relação ao substantivo AVIÃO, e o verbo PASSAR-COM-FERRO apresenta um movimento mais repetido e alongado, em oposição ao movimento repetido e retido para o substantivo FERRO. Nessa pesquisa também foi verificado que pode haver uma marca de concordância para locativo do Objeto, apresentando uma estrutura OiVi, quando o sinal está na função de verbo. Como, por exemplo, o verbo CORTAR-COM-TESOURA no par de sentenças abaixo onde há tesouraN e tesouraV e suas distintas representações: (1) ONTEM Ind1s COMPRAR TESOURA “Ontem eu comprei uma tesoura” (2) CORTINAi Ind1s CORTAR-COM-TESOURAi “ A cortina, eu corto com a tesoura”. Devido ao fato dessas diferenças não poderem ser aplicadas a todos os pares na Libras, este tipo de formação de palavra continuará sendo tratado como derivação zero: itens lexicais com formas que são diferenciadas somente a partir da sua função no contexto lingüístico onde está inserida e, quando estão na função de verbo possuem o caso instrumento implícito: BRINCADEIRA / BRINCAR; CADEIRA / SENTAR; TESOURA / CORTAR-COM-TESOURA; BICICLETA / ANDAR-DE-BICICLETA; CARRO / DIRIGIR-CARRO; VIDA / VIVER. (Ver exemplos em anexo ) Como, na Libras, não há o verbo copular SER em contexto com um atributo predicativo, pode-se falar também de derivação zero para o par verbo/adjetivo, como nos verbos de mudança de estado: EMAGRECER / MAGR@, AMARELAR / AMAREL@ que possuem a mesma forma5. 5 O símbolo @ está sendo utilizado para representar sinais que, diferentemente do português, não possuem marca para gênero (masculino/feminino). © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 205
  • 7. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade Este processo de derivação zero é diferente do processo de incorporação de classificadores à raiz porque, neste segundo caso, há uma modificação interna na raiz verbal, o que não acontece no primeiro caso, onde a mesma forma é diferenciada somente a partir do contexto lingüístico que mostra a função do item lexical. Com relação ao verbo denomina, ele terá a sua significação nominal implícita semanticamente na raiz como caso instrumento ou terá, quando adjetivo, o atributo como estado ou processo. Esta incorporação semântica do instrumento também ocorre na língua portuguesa, como, por exemplo, os verbos: aparafusar, martelar, capinar, etc. PROCESSOS MIMÉTICOS OU ICÔNICOS A Libras, como outras línguas de sinais, devido à sua característica gestual-visual, pode introduzir, no contexto discursivo, a mímica e por isso um objeto, uma qualidade de um objeto, um estado, um processo ou uma ação pode mimeticamente ser representada juntamente com a estrutura frasal. Este processo de formação de palavra, altamente produtivo, permite uma economia, já que expressões faciais e corporais podem complementar os itens lexicais estabelecendo contextos discursivos uma vez que essas se estruturam a partir das convenções da língua. O processo mimético transforma a mímica em uma forma lingüística que representa iconicamente o referente a partir dos parâmetros de configuração sígnica e da sintaxe da língua. Na verdade, não se faz a mímica simplesmente, esta é incorporada pela língua e se estrutura a partir dos parâmetros de cada língua de sinais, como as onomatopéias nas línguas oral-auditivas. Assim, a mímica é a substância do plano de expressão6 que, a partir das regras fono- morfo-sintáticas, gera a forma do plano de expressão. Por exemplo, para se dizer que, em um contexto determinado, havia um homem em pé com um jornal embaixo do braço direito e com um saco de pipoca na mão esquerda, basta utilizar os sinais HOMEM JORNAL PIPOCA e representar a situação, ficando a frase: HOMEM JORNAL coisa –arredondadaCOLOCAR-EM-BAIXO-DO-BRAÇO-ESQUERDO PIPOCA coisa-arredondadaSEGURAR-COM-A-MÃO-DIREITA. 6 O conceito de “substância” aqui está sendo o mesmo de Saussure (1972) e Hjelmslev (1971, 1991): “A língua é forma e não substância”. Assim como o som é a substância do plano de expressão nas línguas orais-auditivas, a mímica é a substância do plano de expressão das línguas de sinais. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 206
  • 8. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade Da mesma forma, muitos verbos podem ser derivados de outro, através de uma mimese da ação tal qual é realizada, acrescentando, à raiz-movimento, alternância de expressões facial e corporal. Exemplos desse tipo de derivação podem ser verificados nos verbos: SALTITAR, DESFILAR, CAMBALEAR, que derivam do verbo ANDAR. Esse verbo pode também, através da imitação do modo como a ação está sendo de fato realizada, acrescentar, à sua rede semântica, um caso modal: ANDARligeiramente, ANDARdevagar. Estes processos também não podem ser confundidos com o sistema de classificadores da LIBRAS, já que se trata de um processo mimético e não um acréscimo de morfema obrigatório à raiz. PROCESSOS DE COMPOSIÇÃO Nesse tipo de processo de formação de palavras, utilizam-se itens lexicais que são morfemas livres que se justapõem ou se aglutinam para formarem um novo item lexical. Na Libras esses processos podem se realizar através da: a) Justaposição de dois itens lexicais, ou seja, dois sinais que formam uma terceira forma livre como, por exemplo, nos itens lexicais CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO (CAVALO + LISTRA-PELO-CORPO = “zebra”); MULHER^BEIJO-NA-MÃO (MULHER + BEIJO-NA MÃO = “mãe”); CASA^ESTUDAR (CASA + ESTUDAR “escola”). ASSINAR^SEPARAR (ASSINAR + SEPARAR = “divórcio”); COMER^MEIO-DIA (COMER + 7 MEIO-DIA = “almoço”) b) Justaposição de um classificador com um item lexical. Esse processo foi encontrado quando da realização da pesquisa para o Dicionário da Libras (2005). Nesse processo o classificador não é uma marca de gênero e funciona como um clítico. São exemplos desse processo os sinais: coisa-pequena^PERFURAR “alfinete”; coisa-pequena^APLICAR-NO-BRAÇO “agulha”; DORMIR^pessoa+ “alojamento”8. c) Justaposição da datilologia da palavra, em português, com o sinal que representa a ação realizada pelo substantivo que, na sede semântica da ação verbal, seria seu caso instrumental. Exemplo: COSTURAR-COM-AGULHA^ A-G-U-L-H-A “agulha”. 7 O símbolo ^ (circunflexo) está sendo usado para especificar palavras compostas em LIBRAS. Ver Sistema de Transcrição (Felipe, 1988). 8 O símbolo + está sendo usado para representar a marca de plural, que na Libras pode acontecer através da repetição do item lexical ou do classificador. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 207
  • 9. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade (Ver, em anexo, a pasta com esses exemplos - sinais filmados) CONCLUSÃO Na LIBRAS, através do estudo dos seus processos de formação de palavras, pode-se constatar que há várias configurações de mãos que, constituindo seu sistema de flexão verbal para gênero animado/inanimado, sempre estão presas a uma raiz verbal, não ocupando uma posição sintagmática independente. Portanto, essas configurações de mãos são desinências que, enquanto classificadores, vêm sempre afixadas às raízes verbais e, anaforicamente, estabelecem concordância de gênero com o referente que é argumento do verbo9. Além desse parâmetro configuração de mão, os parâmetros direcionalidade, ponto de articulação e movimento também podem ser morfemas que compõem sistemas complexos de desinências que estabelecem outros tipos de flexão verbais, como as marcas de concordância para pessoa do discurso e para locativo, ou são afixos que se justapõem à raiz verbal ou nominal. Assim, em relação às categorias gramaticais e aos seus processos de formação de palavra, a Libras é uma língua flexional, embora tenha também características de língua aglutinante, que podem ser percebidas a partir da formação de sinais pelos processos de composição e incorporação. Ela também apresenta característica de língua classificadora, uma vez que existe uma regularidade em relação à utilização dos classificadores já que o processo de classificar, através deles, ocorre como acréscimo a um radical nominal ou como uma modificação interna da raiz verbal, ou ainda como marcadores discursivos, como nas línguas classificadoras coordenantes. Embora este trabalho não tenha um caráter conclusivo, os resultados obtidos neste estudo trouxeram uma contribuição que ultrapassa o entendimento das línguas de sinais, uma vez que ofereceu subsídios à teoria geral da linguagem, demonstrando a aplicação àquelas de princípios que vêm sendo propostos para a análise de línguas oral-auditivas. 9 Em Felipe, 2006, a sair, há uma pesquisa dos classificadores como morfemas dependentes que, enquanto meronímia, estão com função anafórica no discurso. © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 208
  • 10. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade REFERÊNCIAS AARONS, D., BAHAN, B., KEGL, J. NEIDLE, C. Lexical Tense markers in American Sign Language. Sign, Gesture and Space. Emmorey and Reily (eds.). Hillside, New Jerse: Lawrence Erbaum Association, 1992 BLOOMFIELD.Language. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1933 CHOMSKY, N. Language and Problems of knowlwdge. Mass: The Managua Lectures. MIT Press, 1987 EKMAN, P. Facial Signs: Facts, Fantasies and Possibilities. SEBEOK, T. (ed.). Sight, Sound and Sense. Bloomingto, Ind.: Indiana University Press, 1978. FELIPE, T.A. O Signo Gestual-Visual e sua Estrutura Frasal na Língua dos Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1988. ______. Coesão Textual em Narrativas Pessoais na LSCB. Monografia de conclusão da disciplina História da Análise do Discurso, (Doutorado em Lingüística) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991 ______. Por uma tipologia dos verbos da LSCB. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPOLL, 7, 1993 Goiânia, Anais... Goiânia: Lingüística, 1993. p. 724-744. ______. Introdução à Gramática da LIBRAS. Educação Especial – Língua Brasileira de Sinais. Brasília, MEC/SEESP: Série Atualidades Pedagógicas 4, 1997: p. 81-123 ______. < http://www.ines.org.br/ines_livros/37/37_PRINCIPAL.HTM> ______. A relação sintático-semântica dos verbos na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1998a Volumes: I e II, ______. Libras em Contexto – Livro e fita do Estudante. Rio de janeiro: MEC-SEESP- FENEIS, 1998b ______. Sistema de Flexão Verbal na LIBRAS: Os classificadores enquanto Marcadores de Flexão de Gênero. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO INES, 2002, Rio de Janeiro, Anais... Rio de Janeiro, 2002, p. 37- 58 FELIPE, T.A; LIRA, G.A. Dicionário da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Rio de Janeiro, Acessibilidade Brasil - CORDE. Versão 2.0, 2005 FERREIRA BRITO, L. Uma abordagem fonológica dos Sinais da LSCB. Revista Espaço: INES, ano 1 , no 1.Rio de Janeiro. 1990: 20-43 © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 209
  • 11. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade FINAU, R.A. Os sinais de tempo e aspecto na Libras. 2004. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba: 2004. HJELMSLEV, L. Prolegómenos a uma teoria del language. Madri: Gredes. 1971 ______. Animado e Inanimado, Pessoal e Não-pessoal. L. Hjelmslev. Ensaios Lingüísticos. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Debates - Ed. Perspectiva, 1991. KARNOPP, L.B. Aquisição do parâmetro configuração de mão na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): estudo sobre quatro crianças surdas, filhas de pais surdos. 1994. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 1994. ______. Aquisição fonológica da língua brasileira de sinais: estudo longitudinal de uma criança surda. 1999. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999 KLIMA, E., BELLUGI, U. et al. The Signs of Language. Cambridge MA: Harvard University Press. 1979 LIDDELL, S.K; JOHNSON, R.E. American sign language compound formations processes, lexicalization and phonological remnants. Natural Langue and Linguistic Theory, v4, p. 445-513, 1986 QUADROS, R.M. E KARNOPP, L.B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004 SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix. 1972 STOKOE, W. Sign Language Structure: An autline of the visual communication system of the American deaf. Studies in Linguistics, Occasional Papers No 8. 1960 SUPALLA, T.; NEWPORT, E. How many seats ina Chair? The derivation of nouns and verbs in American Sign Language. In P. Siple (ed.) Understanding Language Through Sign Language Reaserch. New York: Academic Press. 1978. TAYLOR, J.R. Linguistic Categorization - Prototypes in Linguistic Theory. New York: Clarendon Press. Oxford. 1991 Desenhos e Fotos retirados de Felipe, T.A (1998a) Filmes retirados de Felipe, T.A. (2004) © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 210
  • 12. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade TANYA AMARA FELIPE Profa. Titular da Universidade de Pernambuco – UPE; Coordenadora do Programa Nacional Interiorizando a Libras (MEC-SEESP-FNDE/FENEIS). . Fones: (21) 8612 0037 e (21) 2567 4800 E-mail: tafelipe@uol.com.br © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 211
  • 13. ARTIGO Estudos Linguísticos Grupo de Estudos e Subjetividade ANEXOS 1. Verbos com flexão para pessoa do discurso: © ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.200-217, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 212