O documento discute o fenômeno do "burnout", ou esgotamento profissional, que resulta de stress ocupacional prolongado. A Editora CódigoPro organizou uma ação de formação sobre higiene e segurança no trabalho para alertar os funcionários sobre os perigos do trabalho em excesso. A formação destaca a importância de cuidar da saúde dos funcionários e da organização do trabalho para prevenir problemas psicossociais.
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E
mbora o termo “burnout” possa ser des-
conhecido para a maior parte das pesso-
as, o seu significado com certeza não é
estranho para ninguém. Esta expressão, que
traduzida significa queimar por completo, é
utilizada para definir situações em que o traba-
lho põe em causa o bem-estar do trabalhador.
Sendo um fenómeno comum às mais diversas
profissões, o “burnout” resulta de uma crescen-
te pressão profissional, aliada a um clima de
insegurança e competitividade elevada. A psicó-
loga social norte-americana Christina Maslach
descreve-o como “uma síndrome patológica
que resulta de um stress ocupacional prolonga-
do.
Esta síndrome do esgotamento profissional
Higiene e Segurança no Trabalho
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decorre de uma excessiva dedicação à ativi-
dade profissional combinada com uma ele-
vada obstinação para o sucesso e realização
nesta área. Profissionais de saúde diversos,
médicos, enfermeiros, polícias, bancários e
professores são alguns dos profissionais mais
afetados por este problema, por serem aque-
les que mantêm uma interação constante
com outras pessoas e que, muitas vezes, têm
como função ajudar o próximo.
Segurança e saúde no trabalho
“Normalmente, estamos muito focados na-
quilo que é urgente e esquecemo-nos daquilo
que é importante”, explica a formadora Ma-
nuela Domingues, alertando para a facilidade
com que, no dia-a-dia, descuramos da saúde.
Embora as matérias de segurança e saúde no
trabalho sejam áreas de conhecimento gené-
rico, é bastante frequente serem deixadas
para segundo plano na organização quoti-
diana.
No entanto, a formadora da ??? alerta: “Se um
colaborador não estiver bem, não pode reali-
zar um bom trabalho”, pelo que “as matérias
de segurança e saúde no trabalho são extre-
mamente importante porque vão relem-
brando estes pormenores que fazem a dife-
rença em termos organizacionais”, sendo
essencial haver essa perceção e proceder-se a
essa reciclagem contínua.
Foi com essa necessidade em mente que a
Editora CódigoPro procurou alertar os seus
trabalhadores para estas questões. Mas, é in-
contornável colocar a questão: terão todas as
empresas e mesmo os próprios colaboradores
noção da importância de uma postura proac-
tiva relativamente a esta temática?
Ausência de prevenção
Manuela Domingues nota que são muito pou-
cas as ações de formação levadas a cabo sobre
estes potenciais problemas. Embora durante
das formações levadas a cabo nas empresas
nacionais se refiram os acidentes de trabalho,
as avaliações dos riscos, etc., geralmente não
Sempre empenhada em manter a elevada
qualidade dos seus serviços e zelar pelo
bem-estar de todos os seus funcionários,
a Editora CódigoPro organizou uma ação
de formação em Higiene e Segurança
no Trabalho, no sentido de alertar os
seus trabalhadores para os perigos do
trabalho em excesso e suas possíveis
consequências.
“Se um cola-
borador não
estiver bem,
não pode
realizar um
bom traba-
lho”
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é feita qualquer abordagem aos problemas
psicossociais.
“É sempre abordado tudo o que provoca aci-
dente imediato e esquece-se aquilo que mata
aos bocadinhos”, alerta a formadora. E são os
problemas mais silenciosos, que atacam gra-
dualmente, os mais difíceis de solucionar e os
que deixam marcas mais profundas e frequen-
temente irreversíveis. “Há depressões em que
as pessoas caem de forma tão complicada,
que depois não é fácil recuperarem e retoma-
rem o seu trabalho”, explica. E as organizações
também sofrem, porque depois “estes traba-
lhadores não têm o desempenho e a produti-
vidade que deveriam ter”.
Consequências
Manuela Domingues acredita que as empresas
não têm noção dos efeitos causados pelo ex-
cesso de trabalho e pressão porque “não con-
seguem medir de forma fácil estes efeitos a
nível económico”. Os responsáveis “não têm
noção de que se um trabalhador teve um aci-
dente de trabalho porque estava com stress
ou não reagiu atempadamente porque estava
esgotado, isso é culpa da organização porque
não planeou e não fez uma boa gestão de
todas as atividades”. É essencial, acrescenta,
que haja essa perceção da responsabilidade
face à saúde dos funcionários.
Os próprios colaboradores normalmente só
tomam consciência das consequências de tra-
balharem até ao limite quando alguém pró-
ximo é afetado. E todos perdem quando um
elemento sofre com o excesso de trabalho e
pressão. “Se não estivermos bem não conse-
guimos desenvolver o nosso trabalho e a em-
presa vai ter de funcionar com menos um
trabalhador, ora porque este está de baixa ou
porque teve um acidente de trabalho”, explica
Manuela Domingues. Esta situação acarreta
“custos elevados para as organizações, porque
a formação de um bom trabalhador demora,
em algumas situações, anos e a falta dele
acaba por ter custos muitas vezes difíceis de
medir”.
Incidência na medicina dentária
Em todos os estudos publicados sobre esta
matéria, a classe médica é incontornavel-
mente referida como uma das mais afetadas
pelo “burnout”. Embora os pacientes muitas
vezes encarem os seus médicos como infalí-
veis, Manuela Domingues recorda que estes
“sofrem todas as tensões ou mais que nós”,
restantes profissionais.
Hoje em dia, alguns fatores levam a que, den-
tro desse grupo, haja cada vez mais médicos
dentistas acometidos por estes sintomas. A
formadora recorda a elevada concorrência
entre as clínicas dentárias que, sendo cada vez
mais, concorrem economicamente entre si, o
que é mais um fator de stress para os médicos
que exercem em clínicas privadas.
Importa ainda lembrar, recorda, que as atuais
reduções de custos no Sistema Nacional de
Saúde implicam menos rendimentos por parte
dos profissionais médicos, que assim procu-
ram aumentar as suas receitas exercendo no
privado. “Isso vai fazer com que haja uma
competitividade elevadíssima que exija este
esforço desmesurado dos profissionais da
área”, conclui.
Medidas preventivas
Antes de mais, explica Manuela Domingues, é
essencial “começar por cuidar o ambiente de
trabalho e a organização do trabalho: são as
duas questões essenciais”. O importante é que
cada organização planeie as atividades e todas
as tarefas sejam corretamente distribuídas
pelos colaboradores. Adicionando uma boa
cultura de comunicação, tudo o resto acaba
por funcionar de forma mais harmoniosa.
“Assim, os trabalhadores sentem-se motiva-
dos, trabalham em equipa e as coisas resol-
vem-se de forma muito mais fácil”, conclui a
formadora. ●