SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  28
Télécharger pour lire hors ligne
1
Vovô e seus netos merecem ver a uva




    Nem método fônico, Nem construtivismo
                                             Introdução
                     Exclusivamente método fônico, NÃO
         Incompletudes do Construtivismo em Didática
                   A interação social nas aprendizagens
      Fase discursiva e fase dialética das aprendizagens
             Interação social pelas atividades culturais
              Alfabetizando um milhão de colombianos
                           Profissionalizando professores



2
3
F   az o MEC muito bem em rever os sistemas de alfa
        betização utilizados nas escolas brasileiras. O que está
    em uso, hoje, alfabetiza menos de 50% dos brasileiros, a
    cada ano letivo. Impõe-se, entretanto, fazer uma revisão sé-
    ria e abalizada cientificamente. Em primeiro lugar, é neces-
    sário localizar qual é o alunado que não se alfabetiza, pois
    há os que logram este objetivo. Quem, minimamente, está
    envolvido com educação, não sabe que, em escolas particula-
    res ou em escolas públicas freqüentadas por alunos oriundos
    de classes médias com alguma trajetória intelectual, o índice
    de alfabetização é praticamente 100%? Para ter-se, portan-
    to, média nacional de menos de 50% de alfabetização é
    porque em muitas escolas este índice beira os 30%. E onde
    ocorre isto? Nas escolas públicas freqüentadas por crianças
    de famílias de classes populares. Mais especificamente, de
    famílias cujos pais estão dentre os 50 milhões de analfabe-
    tos adultos deste nosso querido, mas triste país, quando se
    pensa em aprendizagens escolares.
       Para que alguém se alfabetize é preciso que ele se formu-
    le problemas sobre o que é a escrita. Que ele se pergunte
    sobre o que é ler e escrever. Ora, se no seu ambiente de vida



4
não há livros, não há jornais, não há revistas, não há cartas
que chegam e que saem, mas sobretudo não há leitores e
escritores, isto é pessoas lendo e escrevendo quotidianamente,
ele tem muito menos ocasião do que as crianças em cujas
casas, o ler e o escrever são atos de rotina, de ser provocado
a se formular tais problemas.
   O que ocorre quando uma criança, desde pequenina, con-
vive com pessoas que lêem e escrevem, e com materiais
escritos? Ela percorre uma bela trajetória de hipóteses para
se responder à instigante pergunta: o que vem a ser um con-
junto de risquinhos que enchem os jornais, os anúncios, a
tela da TV, as revistas, os livros, as listas de palavras, mas,
principalmente, o que vem a ser uma seqüência de traços
que dizem ser o seu nome?
   Nesta trilha, ela conjectura explicações inteligentes, mas
bizarras e incompletas. A primeira delas é que escrita é o
mesmo que desenho. Escrever seria desenhar e ler seria in-
terpretar desenhos com traços figurativos do que aquela es-
crita se refere. A segunda, é que se escreve com sinais gráfi-
cos já sem relação figurativa com o que está sendo represen-
tado, mas sem nenhuma vinculação com a pronúncia da pa-



                                                                  5
lavra que se quer escrever. A terceira, é que o que se escreve
    tem a ver com a pronúncia, porém no seguinte sentido –
    cada sílaba oral da palavra é escrita com uma só letra. Assim,
    casa seria escrita com apenas duas letras, bicicleta com
    quatro. Somente num quarto momento é que o caminhante
    que está aprendendo a respeito da magia das letras se dá
    conta de que não basta uma letra para cada vez que se abre a
    boca ao pronunciar uma palavra, quando se quer escrevê-la.
    Somente então é que ele descobre que cada som pronuncia-
    do tem uma letra correspondendo na escrita. Para passar
    por estas hipótese não é preciso estar na escola. Basta que
    se esteja perto de muitos escritos e de pessoas que realizem
    atos de ler e de escrever. Ora, este é o caso somente de crian-
    ças cujas famílias possibilitem este ambiente alfabetizador.
    Para estas crianças, ao ingressarem numa classe de alfabeti-
    zação o método fônico pode ser útil. Elas já estabeleceram
    uma vinculação fina entre a pronúncia dos sons e sua repre-
    sentação escrita. Para as que ainda transitam suposições mais
    primitivas o método fônico não lhes fará nenhum sentido. E
    estas são a imensa maioria dos alfabetizandos brasileiros,
    especialmente nas escolas públicas.



6
Não se trata de defender este ou aquele método. Impõe-
se, isto sim, ir ao encontro do processo de aprendizagem de
todos e de cada aluno para que eles aprendam. Privilegiar o
método fônico em escolas públicas para alunos que ainda
não atingiram a compreensão do que a pronúncia tem a ver
com a escrita é uma flagrante inadequação pedagógica por
razões bem óbvias.
   A afirmação tupiniquim de que países desenvolvidos ado-
tam um certo método não é argumento suficiente para que
ele seja bom em qualquer circunstância e nem mesmo para
toda a população dos ditos países desenvolvidos. A não apren-
dizagem da leitura e da escrita por uma parte da população é
fenômeno, infelizmente, de âmbito internacional. Em todos
os países, há alunos que não logram se alfabetizar. São aque-
les que não foram respeitados em seu processo de aprendi-
zagem. Urge que superemos lucidamente questões de méto-
do e que oportunizemos a entrada no mundo letrado a todo
filhote de um homem e de uma mulher que está convivendo
conosco neste milênio em sociedades para as quais uma de
suas marcas definidoras é o uso desta construção estupenda
que é a escrita.



                                                                7
Nem Método Fônico,
             nem Construtivismo




8
9
Introdução


     O      Ministério da Educação anuncia que vai rever o
           processo de alfabetização, discutindo a volta do “vovô
     viu a uva”. Rever o que está sendo feito em matéria de alfa-
     betização é muito oportuno face à ineficácia da escola brasi-
     leira em ensinar a ler e a escrever. Ela produziu nos últimos
     anos 50 milhões de analfabetos acima de 15 anos e a cada
     ano, consegue menos de 50% de aprendizagem da leitura e
     da escrita em classes iniciais do ensino fundamental. Esta
     incompetência certamente contribuiu para gerar ainda mais
     analfabetos adultos a cada ano que passa.
        Rever o que vem sendo feito será ou não oportuno se for
     para dar um passo em frente e não para retroceder, confron-
     tando método fônico com construtivismo. Nem um nem ou-
     tro trazem solução a este desafio. E pior ainda é o que grassa
     no país, isto é, a mistura de modelos teóricos embasando as
     práticas alfabetizadoras nas escolas.
        Atrás de toda prática há um conjunto articulado de idéi-
     as, quer dizer, uma teoria. Se esta for consistente a prática
     apresentará bons resultados.Se ela não o for , os resultados



10
serão pífios. Esta é uma das razões pelas quais somos tão
exímios e competentes na produção de analfabetos, come-
tendo o crime de fechar as portas da cidadania a tantos com-
patriotas.
   Uma vez que está sendo colocada a questão da alfabeti-
zação em torno ou do método fônico ou do construtivismo,
impõe-se analisar um e outro, do ponto de vista científico,
mesmo que a mistura de modelos seja ainda mais corrente
que ambos e produza também efeitos muito deletérios.



                 Exclusivamente método fônico, NÃO
   O método fônico parte do principio que os alfabetizandos
que chegam à escola já estão todos alfabéticos, dentro da
terminologia de Emilia Ferreiro. Isto é, eles já compreende-
ram a vinculação entre escrita e som das letras. Porém, para
chegar lá é necessário ter tido tantas experiências com escri-
tos e com pessoas que lêem e escrevem que os tenham aju-
dado a superar idéias tais como a de que desenho e escrita
são o mesmo, de que se escreve com sinais gráficos, mas sem
articulação com a pronúncia e que tenham superado que a



                                                                 11
relação entre pronúncia e escrita é de cada sílaba oral com
     uma letra.Cerca de 90% dos alunos de escolas públicas, vin-
     dos de famílias que tem entre seus membros, representantes
     dos 50 milhões de analfabetos adultos, chegam à escola an-
     tes de estabelecerem correlação entre som e letra. Por esta
     razão, exclusivamente método fônico para eles é inútil, uma
     vez que lhes é inacessível lógica e psicologicamente associa-
     ção alfabética entre pronúncia e escrita.



            Incompletudes do Construtivismo em Didática
        Outrossim a aplicação didática do construtivismo a partir
     de Emilia Fer reiro no Programa de for mação de
     Alfabetizadores do Mec (Ministério da Educação) no gover-
     no FHC - Profa - foi e é insuficiente e incapaz de ensinar a
     tais alunos. Emilia Ferreiro, por sua estrita filiação a Jean
     Piaget, para quem o ser humano se desenvolve construindo
     conhecimentos diretamente através de seu contato com o
     real, não incorpora nem a dimensão social nem a antropoló-
     gica que consideraram Vigotsky, Henri Wallon, Sara Pain
     ou Gérard Vergnaud. A base cultural que alimenta a com-


12
preensão do mundo pelas pessoas humanas e a base social
que a dinamiza não são contempladas na perspectiva
construtivista. Esta base cultural é definidora de qualquer
didática. para alunos que vem de situações de vida com
pouco ou pouquíssimo contato com a escrita.
   Para os construtivistas a didática da alfabetização é
centrada no trato com textos escritos, o que bastaria para
encaminhar os alunos para o domínio da leitura e da escri-
ta. Para alunos de escolas públicas somente atividades em
torno de textos são insuficientes para levá-los à alfabetiza-
ção, embora o texto seja central nesta trajetória. A organi-
zação sistemática de provocações que incluem estudo de
palavras e de letras,   ao lado da abordagem de textos é
parte integrante de uma didática para alfabetizar, sobretu-
do o alunado vindo de camadas populares.



                    A interação social nas aprendizagens
   Porem, mais do que isto: a perspectiva grupal das apren-
dizagens que não tem lugar de destaque na visão
construtivista é essencialíssima. Esta perspectiva grupal in-


                                                                13
clui desde a oportunização intencional de trocas entre os
     alunos, entre os professores e os alunos, entre a classe esco-
     lar e as riquezas culturais do seu meio e entre professores.
        As trocas entre alunos implicam rigorosamente uma
     nova estética na sala de aula, onde as filas são substituídas
     por pequenos grupos na maior parte do tempo escolar .Es-
     tes pequenos grupos denominados no pós-construtivismo
     como grupos áulicos devem ser cuidadosamente
     constituídos.Duas modalidades de constituição são úteis: a
     primeira, de conformação heterogênea quanto aos esque-
     mas de pensamento dos alunos relativamente à alfabetiza-
     ção, fruto da explicitação de escolhas de colegas para estu-
     dar mais proximamente, tanto na votação para determina-
     ção de líderes como no convite para integrar o pequeno
     grupo em aula; a segunda, em alguns momentos, a cada
     semana, de conformação homogênea quanto aos esquemas
     operatórios de pensamento dos alunos a respeito da escri-
     ta. A exigência de consideração explicita e estratégica de fo-
     mento à interlocução entre os alunos é uma decorrência de
     dois tipos de intercambio que presidem as aprendizagens.



14
Um deles, um intercambio vertical entre dois protagonis-
tas da cena do aprender que se distinguem por sua compe-
tência no pensar o objeto de aprendizagem, perfeitamente
identificada na troca entre professor e aluno.Um outro
intercambio que pode ser considerado como horizontal acon-
tece entre parceiros,em igualdade de condições quanto às
competências cognitivas, face ao objeto de aprendizagem,
num dado momento .São as trocas entre colegas, os quais
são pares quanto ao patamar de competências.. Estes dois
tipos de intercâmbio presidem, por sua vez, dois momentos
distintos do aprender, a saber, as fases discursivas e as fa-
ses dialéticas dos processos inteligentes.A explicitação de
ambas tem a ver com a segunda natureza de troca didática
que são as que ocorrem entre professor e aluno.Estas trocas
podem ser nitidamente enriquecedoras com o que no Geempa
– Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesqui-
sa e Ação – tomam a forma de uma aula-entrevista.A aula
entrevista são alguns ,momentos, ao longo do período leti-
vo, em que o professor realiza um encontro particular com
cada um dos seus alunos para detectar seus esquemas opera-
tórios depensamento, relativamente ao campo conceitual que



                                                                15
é o objetivo pedagógico perseguido no contrato escolar do
     período em curso..Esquemas operatórios de pensamento é
     uma das noções-chave do pós-construtivismo, nascida com
     Piaget mas amplamente aprofundada por Gérard Vergnaud.
     Ele abriga de certo modo, as idéias de zona proximal de
     desenvolvimento de Vigotsky a fecunda idéia de rede de
     Henri Wallon, a noção de níveis de Emilia Ferreiro e a fun-
     ção da ignorância de Sara Pain, na trilha de sua basilar
     afirmação de que “todo o conhecimento é conhecimento do
     Outro”.Ao abrigar tais idéias não só se amplia de muito o
     construtivismo como a comunidade científica foi forçada a
     reformulá-lo, a dar-lhe novas bases e a brindar-lhe um novo
     arcabouço estrutural, o qual leva o nome de pós-
     construtivismo.”Outro”, por exemplo leva às idéias psicana-
     líticas de inconsciente e de desejo.Na consideração do “Ou-
     tro” se é levado à substituição dos instintos por aprendiza-
     gens, da natureza pelo cultural. Leva também à eliminação
     da idéia de desenvolvimento quando se explica como cresce
     um ser humano. Leva-nos ao conceito de sujeito de cultura,
     ao mesmo tempo determinado e determinante do curso da
     história de suas próprias aprendizagens.E isto conduz a uma



16
mudança radical no rumo das atividades docentes. O profes-
sor deixa de ser um explicador para ser um organizador de
provocações.Aprender passa a ser formulação de problemas
para além de ser sua resolução e para muitíssimo além de
ser memorização de informações ou de elaborações prontas.
    A aprendizagem é com efeito, uma construção seqüencial
complexa que se assenta em esquemas operatórios de pensa-
mento os quais funcionam por sistemas fechados, como as
escadas a seguir:




                                                    Alfabético




                                         Silábico




                        Pré-silábico 2




           Pré-silábico 1
                                                                 17
...que caracterizam núcleos comuns de conhecimentos
     e cujo tamanho do passo para ascender, em cada uma delas,
     exige uma competência apropriada. O professor passa a ser
     um organizador das provocações para que cada um de seus
     alunos suba degraus de uma mesma escada e para que ao
     final de um período letivo ele tenha condições intelectuais
     para galgar os degraus da escada seguinte. Esta ascensão é
     pessoal e intransferível , porém o conceito de pessoal embu-
     te intrinsecamente a dimensão social, uma vez que não so-
     mos seres singulares- somos seres plurais.Somos genetica-
     mente sociais. Para tal não só o professor precisa identificar
     as competências de cada aluno, como necessita formalizar a
     intimidade do seu compromisso com cada um deles, o que se
     concretiza nas aulas-entrevistas. Elas produzem também ou-
     tros efeitos secundários interessantíssimos. Dentre deles a
     possibilidade de o número adequado, para bem ensinar, numa
     turma de alunos, pode ser bem maior do que o convencio-
     nalmente considerado. O trabalho em grupos áulicos tam-
     bém corrobora com este efeito, por conta das aprendizagens
     favorecidas pelas trocas entre iguais isto é, entre colegas,
     sem a necessidade de intervenção direta do professor.



18
Fase discursiva e fase dialética das aprendizagens
   As fases discursivas e dialéticas da aprendizagem acon-
tecem , respectivamente quando um aluno permanece no
mesmo degrau ou quando passa de um para outro. A pas-
sagem de um degrau para outro é um momento mais delica-
do na caminhada aprendente, porque vivido como uma ex-
periência de conflito. O aluno tem que ser dar conta da
incompletude das idéias que até então, julgava válidas. É’
o que Sara Pain denomina de ignorâncias. Nestes momen-
tos as trocas entre pares são mais úteis e eficazes do que
uma intervenção do professor. Por isso é tão importante
que o professor identifique na aula-entrevista onde se en-
contra cada um de seus alunos no processo de aprendiza-
gem. Trata-se, com efeito de uma forma muito mais refina-
da de ser professor , porque muito mais científica do que a
convencional. Por isso mesmo, muito mais exigente do pon-
to de vista do preparo dos docentes.


                                                              19
Interação social pelas atividades culturais
        A incorporação da dimensão dramática ou cultural na prá-
     tica docente é mais uma variante da interlocução para as
     aprendizagens ou seja da interação social em sala de aula.Esta
     incorporação tem pelo menos três vetores, a saber:

            1. A oportunização da participação em atividades
            culturais socialmente desejáveis

            2. A contextualização das dramáticas vividas pela classe.

            3. A estética das merendas pedagógicas e do ambiente
            da sala de aula.

        1. A oportunização da participação em atividades culturais
     socialmente desejáveis representa uma inserção na vida mais
     ampla do grupo humano onde está inscrita a escola. Se ir a
     escola significa uma deserção da vida coletiva que pulsa nas
     vizinhanças, a través da midia e das produções artísticas,
     esta escola empobrece ao invés de ampliar e abrir horizon-
     tes. Uma professora que isole seus alunos enquanto grupo
     aprendente, dos eventos significativos em sua comunidade
     está estereotipando     e artificializando a construção de
     conhecimento.O sentido da lógica é a sua dramática, porque


20
esta empresta emoção à objetividade do pensamento . Uma
lógica sem emoção é oca e por isso, triste.O que está ocor-
rendo no mundo das artes, incluindo a música, a literatura, o
teatro, a dança, os esportes, o cinema, os patrimônios
arquitetônicos e as artes plásticas e porque não a moda e a
culinária precisam embasar o que se aprende na escola.Nesta
linha , pode-se afirmar tranqüilamente que sem cultura não
se faz educação. Para além das aulas na sala, aulas literal-
mente culturais precisam intercalar-se naquelas.

   2) É um pré-requisito cultural embeber as provocações didá-
ticas em contextos semânticos escolhidos a partir do que
está sendo vivido como significante pela turma. Isto implica
vividos internos e externos ao grupo .Entende-se por vivi-
dos internos o que emana da própria dinâmica didática. Por
exemplo a ausência de um aluno à escola, o impacto do co-
nhecimento dos lugares na escada dos níveis psicogenéticos
após uma aula-entrevista com todos os alunos, a escolha de
líderes e a constituição de grupos áulicos, a realização de um
passeio, uma comemoração na escola, etc.. .Por vividos exter-
nos ao grupo de aula entenda-se o nascimento do irmão de
um aluno, a morte de um familiar deles ou mesmo de um


                                                                 21
animalzinho de estimação, um acontecimento político, uma
     vitória ou derrota desportiva,....
        Dentro desta perspectiva, textos,palavras ou letras traba-
     lhadas em aula serão tanto mais ensinantes quanto mais
     contextualizadas semanticamente nestes universos
     dramáticos.Empresta-se magnificamente vincular um texto
     literário, prosa ou poesia, com estes dramas existências que
     vivem os alunos.Toda arte explica a vida com a força da
     emoção que arrasta consigo.

        3) A estética das merendas pedagógicas, do ambiente e dos
     movimentos em sala de aula.
          Comer juntos é um dos atos mais culturais no mundo,
     tanto que todas as religiões tem no centro de seus cultos
     uma refeição. Não aproveitar a merenda na escola como ati-
     vidade pedagógica é o maior desperdício ensinante.
          O que significa este aproveitamento? A merenda peda-
     gógica tem também dois vetores – o que servir e como
     servir.Pode se servir o já conhecido ou o novo.Pode-se repe-
     tir rotineiramente sempre as mesmas coisas ou ter a preocu-
     pação de alternar variando regularmente o que é servido.
     Pode-se servir pequena ou grande quantidade.


22
O “como” servir é ainda mais rico pedagogicamente.
Todos estes aspectos socializantes e culturalizantes não são
essenciais ao construtivismo, como conseqüência de sua pers-
pectiva epistemológica. Entretanto, eles são fundantes de uma
didática que consegue ensinar a ler e escrever ao tipo de
aluno que a escola pública recebe em qualquer país do mun-
do e muito particularmente no Brasil. Esclareça-se bem o
que queremos dizer com este tipo de aluno das escolas pú-
blicas. Não se trata, absolutamente, de alunos com menor
condição de aprender do que alunos de classes medias ou
altas.Trata-se isto sim, de alunos com diferença no conjunto
de experiências relativamente a coisas escritas e a atos de
leitura e de escrita, porque vem de ambientes ainda com
muitos analfabetos adultos.Eles chegam portanto, na escola
com esquemas operatórios de pensamento para aquém da
visão alfabética e precisam de uma didática que leve isto em
conta,isto é, que considere sua bagagem social e cultural como
parte do modo de ensinar-lhes.




                                                                 23
Alfabetizando um milhão de colombianos
        Felizmente, há uma resposta validada, uma forma de
     proposta didática para servir a esta população, a qual é reco-
     nhecida inclusive pelo Ministério da Educação de Colômbia,
     que firmou convênio com o Geempa para formar
     alfabetizadores que ensinem a ler e a escrever a um milhão
     de colombianos.


                                   Profissionalizando professores
        Neste momento o foco central de pesquisa do Geempa é
     a formação de professores dentro desta nova formulação pós-
     construtivista. A sua eficácia para alfabetizar analfabetos está
     fortemente comprovada no mais amplo universo situacional
     -crianças ou adultos, em redes públicas ou em iniciativas
     privadas, em mais de treze estados brasileiros,nas cidades e
     nos campo, em grandes e pequenas cidades.
        A formação de professores é o que se impõe agora com
     urgência máxima, pois o grau de desprofessionalização des-
     ta categoria de trabalhadores é muito elevado. Salários bai-
     xos, ausência de um sistema nacional de ensino no país,



24
predomínio da idéia de que ser professor é exercer um oficio
ou cumprir uma missão para o qual se nasce ou não
vocacionado e não professar um conjunto de conhecimentos
inerentes às responsabilidades de garantir um produto soci-
al da maior importância qual seja a construção de conheci-
mentos indispensáveis para um cidadão do terceiro milênio.
   É abominável o convívio com 50 milhões de analfabetos
adultos, assim condenados a partir da generalizada freqüên-
cia durante em média três anos à escola.
    Urge revisar posição entre quem se diz ou se dizia de
esquerda, extremamente reacionária de que “as classes po-
pulares tem um saber próprio equivalente ao científico e que,
portanto, não lhes faz falta aprender a ler e a escrever se
eles conhecerem seus direitos de cidadão”. Ela condena mi-
lhões à marginalização de uma fonte estupenda de poder
que é a competência de se comunicar via letra escrita.Quem
exerce uma atividade de pesquisa na produção de conheci-
mento experimenta na pele o valor da escrita para forjar um
pensamento construtor de soluções demandadas pelas con-
tingências da vida do mundo. Quem não usufrui desta habi-
lidade é dependente de quem dela desfruta, tendo que ser
conduzido pela mão de outros.


                                                                25
Por outro lado, aprender, exige canalização de agressividade,
     pois só quem tem raiva da sua ignorância investe na sua supe-
     ração e só pode fazê-lo com a força desta energia que é a
     agressividade.Portanto, um ensino eficiente é um direcionador
     de agressividade que impede a sua utilização para finalidades
     anti-sociais, na esfera da violência .Uma boa escola é um vali-
     oso antídoto à violência.
        Entretanto as sociedades tendem a se reproduzir, manten-
     do os privilégios de quem já os tem. Apostar e investir em
     ensino não se coaduna com esta manutenção de privilégios.
     Já em 1919 Gramsci acusava tanto esquerda como direita de
     não terem propostas para a educação. Educação pra valer só
     pode ser assumida pelos que não pautam suas vidas pelas van-
     tagens dos lucros econômicos ou por ânsias de poder social e
     político.Vale o fato de que ainda existem estes e são muitos,
     mormente dentre o professorado. Cabe-nos inteligentemente
     organizar saída para quadro tão desolador, na certeza de que
     é isso que vale a pena fazer como escolha que honre nosso
     desejo de ser gente é não mero vulto que nem sombra deixa
     como rastro.




26
27
28

Contenu connexe

Tendances

Aprender a ler e escrever indo alem dos metodos
Aprender a ler e escrever   indo alem dos metodosAprender a ler e escrever   indo alem dos metodos
Aprender a ler e escrever indo alem dos metodosDarlyane Barros
 
Ideias mec caderno de textos
Ideias mec caderno de textosIdeias mec caderno de textos
Ideias mec caderno de textosValeria Friedmann
 
Adolescentes versus obsolescentes
Adolescentes versus obsolescentesAdolescentes versus obsolescentes
Adolescentes versus obsolescentesLuiz Algarra
 
Aprocesso alfab ferreiro
Aprocesso alfab ferreiroAprocesso alfab ferreiro
Aprocesso alfab ferreiroCarlos Bachtold
 
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38Valter Gomes
 
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235ivaniltonbritosantos
 
A09v1235 (1)
A09v1235 (1)A09v1235 (1)
A09v1235 (1)smedany
 
Escrita em reforma_fsp_17_05
Escrita em reforma_fsp_17_05Escrita em reforma_fsp_17_05
Escrita em reforma_fsp_17_05Nelson Silva
 
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidade
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidadeMc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidade
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidadeLulubell Chan
 
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípe
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípeO ensino público em biritinga e riachão do jacuípe
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípeUNEB
 
A reinvenção da alfabetização
A reinvenção da alfabetizaçãoA reinvenção da alfabetização
A reinvenção da alfabetizaçãoRUANE BRUM
 
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T..."A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...Jurjo Torres Santomé
 
Pág.miúdos acordo110911
Pág.miúdos acordo110911Pág.miúdos acordo110911
Pág.miúdos acordo110911mrvpimenta
 
Literacia e prom da leitura
Literacia e prom da leituraLiteracia e prom da leitura
Literacia e prom da leituraMia Ferreri
 
Rev crian 38
Rev crian 38Rev crian 38
Rev crian 38FSBA
 

Tendances (19)

Aprender a ler e escrever indo alem dos metodos
Aprender a ler e escrever   indo alem dos metodosAprender a ler e escrever   indo alem dos metodos
Aprender a ler e escrever indo alem dos metodos
 
Ideias mec caderno de textos
Ideias mec caderno de textosIdeias mec caderno de textos
Ideias mec caderno de textos
 
Zine da Duca
Zine da DucaZine da Duca
Zine da Duca
 
Adolescentes versus obsolescentes
Adolescentes versus obsolescentesAdolescentes versus obsolescentes
Adolescentes versus obsolescentes
 
LP-TIC1
LP-TIC1LP-TIC1
LP-TIC1
 
Aprocesso alfab ferreiro
Aprocesso alfab ferreiroAprocesso alfab ferreiro
Aprocesso alfab ferreiro
 
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38
Folhetim do Estudante - Ano IV - Núm. 38
 
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235
Alfabetizaaao de jovens_e_adultos_1360074235
 
Os Riscos da Linguagem da Internet
Os Riscos da Linguagem da InternetOs Riscos da Linguagem da Internet
Os Riscos da Linguagem da Internet
 
A09v1235 (1)
A09v1235 (1)A09v1235 (1)
A09v1235 (1)
 
Escrita em reforma_fsp_17_05
Escrita em reforma_fsp_17_05Escrita em reforma_fsp_17_05
Escrita em reforma_fsp_17_05
 
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidade
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidadeMc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidade
Mc cleary2009 o-ensino_de_lngua_estrangeira_e_a_questo_da_diversidade
 
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípe
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípeO ensino público em biritinga e riachão do jacuípe
O ensino público em biritinga e riachão do jacuípe
 
A reinvenção da alfabetização
A reinvenção da alfabetizaçãoA reinvenção da alfabetização
A reinvenção da alfabetização
 
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T..."A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...
"A rigidez do modelo educativo é uma rigidez militar". Entrevista com Jurjo T...
 
Redação - Trabalho
Redação - TrabalhoRedação - Trabalho
Redação - Trabalho
 
Pág.miúdos acordo110911
Pág.miúdos acordo110911Pág.miúdos acordo110911
Pág.miúdos acordo110911
 
Literacia e prom da leitura
Literacia e prom da leituraLiteracia e prom da leitura
Literacia e prom da leitura
 
Rev crian 38
Rev crian 38Rev crian 38
Rev crian 38
 

En vedette

Relatório reflexão crítica final
Relatório reflexão crítica  finalRelatório reflexão crítica  final
Relatório reflexão crítica finalhelena1957
 
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...guest2b3e6e0
 
Projeto Alfabetização Crianças com Seis Anos
Projeto Alfabetização Crianças com Seis AnosProjeto Alfabetização Crianças com Seis Anos
Projeto Alfabetização Crianças com Seis Anossetorpedagogicoquartacre
 
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃOHISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃOEdlauva Santos
 
Método das boquinhas 2
Método das boquinhas 2Método das boquinhas 2
Método das boquinhas 2escangelina
 
Método fônico excelente
Método fônico excelenteMétodo fônico excelente
Método fônico excelenteInez Kwiecinski
 
Avaliação educacional
Avaliação educacionalAvaliação educacional
Avaliação educacionaluanjo
 
Estratégias Diferenciadas no Ensino
Estratégias Diferenciadas no EnsinoEstratégias Diferenciadas no Ensino
Estratégias Diferenciadas no EnsinoVera Zacharias
 
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão Escolar
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão EscolarU8 - PNAIC - Avaliação e Progressão Escolar
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão EscolarElaine Cruz
 
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...Marcy Gomes
 
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...Natália Lima
 
Métodos de alfabetização
Métodos de alfabetizaçãoMétodos de alfabetização
Métodos de alfabetizaçãoDayane Hofmann
 
A dislexia e as dificuldades de disléxicos
A dislexia e as dificuldades de disléxicosA dislexia e as dificuldades de disléxicos
A dislexia e as dificuldades de disléxicosSimoneHelenDrumond
 
Avaliação da aprendizagem
Avaliação da aprendizagemAvaliação da aprendizagem
Avaliação da aprendizagemGerdian Teixeira
 

En vedette (20)

3ciclo. (1)
3ciclo. (1)3ciclo. (1)
3ciclo. (1)
 
Relatório reflexão crítica final
Relatório reflexão crítica  finalRelatório reflexão crítica  final
Relatório reflexão crítica final
 
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...
As ações da reflexão crítica na atividade Sessão Reflexiva. Dissertação de Me...
 
Que é a disgrafia
Que é a disgrafiaQue é a disgrafia
Que é a disgrafia
 
Bia
BiaBia
Bia
 
Projeto Alfabetização Crianças com Seis Anos
Projeto Alfabetização Crianças com Seis AnosProjeto Alfabetização Crianças com Seis Anos
Projeto Alfabetização Crianças com Seis Anos
 
Disgrafia
DisgrafiaDisgrafia
Disgrafia
 
metodo fônico
metodo fônicometodo fônico
metodo fônico
 
Cagliari
CagliariCagliari
Cagliari
 
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃOHISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
 
Método das boquinhas 2
Método das boquinhas 2Método das boquinhas 2
Método das boquinhas 2
 
Método fônico excelente
Método fônico excelenteMétodo fônico excelente
Método fônico excelente
 
Avaliação educacional
Avaliação educacionalAvaliação educacional
Avaliação educacional
 
Estratégias Diferenciadas no Ensino
Estratégias Diferenciadas no EnsinoEstratégias Diferenciadas no Ensino
Estratégias Diferenciadas no Ensino
 
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão Escolar
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão EscolarU8 - PNAIC - Avaliação e Progressão Escolar
U8 - PNAIC - Avaliação e Progressão Escolar
 
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...
ALFABETIZAÇÃO - Apostila método fônico - II pdf - Escola em Casa Online Marcy...
 
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...
Transtornos Psicologicos_ Dislexia; discalculia; hiperatividade; impulsividad...
 
Métodos de alfabetização
Métodos de alfabetizaçãoMétodos de alfabetização
Métodos de alfabetização
 
A dislexia e as dificuldades de disléxicos
A dislexia e as dificuldades de disléxicosA dislexia e as dificuldades de disléxicos
A dislexia e as dificuldades de disléxicos
 
Avaliação da aprendizagem
Avaliação da aprendizagemAvaliação da aprendizagem
Avaliação da aprendizagem
 

Similaire à Aprender é formular hipóteses, ensinar é organizar provocações

Emilia ferreira nega o letramento
Emilia ferreira nega o letramentoEmilia ferreira nega o letramento
Emilia ferreira nega o letramentoVaz Neto
 
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaisMetodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaiscefaprodematupa
 
texto do Percival Brito
texto do Percival Britotexto do Percival Brito
texto do Percival BritoMiriam Camargo
 
A Leitura no Percurso Escolar
A Leitura no Percurso Escolar A Leitura no Percurso Escolar
A Leitura no Percurso Escolar Sofia Pinto
 
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ilda
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ildaReflexão individual descobrir o princípio alfabético ilda
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ildaascotas
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramentoSimone Everton
 
Atps educação de jovens e adultos - (eja)
Atps   educação de jovens e adultos - (eja)Atps   educação de jovens e adultos - (eja)
Atps educação de jovens e adultos - (eja)leticiamenezesmota
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTOALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTOValdeciCorreia2
 
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos Nilda de Oliveira Campos
 
Portifolio digital TASSIA
Portifolio digital TASSIAPortifolio digital TASSIA
Portifolio digital TASSIATassia Turcatto
 
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02Leno Soares
 

Similaire à Aprender é formular hipóteses, ensinar é organizar provocações (20)

Emilia ferreira nega o letramento
Emilia ferreira nega o letramentoEmilia ferreira nega o letramento
Emilia ferreira nega o letramento
 
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciaisMetodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
Metodologia e processo da alfabetizacão das séries iniciais
 
Alfabetização
AlfabetizaçãoAlfabetização
Alfabetização
 
texto do Percival Brito
texto do Percival Britotexto do Percival Brito
texto do Percival Brito
 
Fono educacional
Fono educacionalFono educacional
Fono educacional
 
Jogos tcc pós
Jogos tcc pósJogos tcc pós
Jogos tcc pós
 
A Leitura no Percurso Escolar
A Leitura no Percurso Escolar A Leitura no Percurso Escolar
A Leitura no Percurso Escolar
 
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ilda
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ildaReflexão individual descobrir o princípio alfabético ilda
Reflexão individual descobrir o princípio alfabético ilda
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramento
 
Atps educação de jovens e adultos - (eja)
Atps   educação de jovens e adultos - (eja)Atps   educação de jovens e adultos - (eja)
Atps educação de jovens e adultos - (eja)
 
Alfabetizaçao e letramento
Alfabetizaçao e letramentoAlfabetizaçao e letramento
Alfabetizaçao e letramento
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTOALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
 
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos
Avaliação em língua portuguesa para alunos surdos
 
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
 
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
 
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
A+língua+portuguesa+no+ensino+fundamental(2)
 
Tcc cristiane
Tcc cristianeTcc cristiane
Tcc cristiane
 
Portifolio digital TASSIA
Portifolio digital TASSIAPortifolio digital TASSIA
Portifolio digital TASSIA
 
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02
A escola e o desenvolvimento na segunda infância 02
 
Alusai artigo3 copia
Alusai artigo3   copiaAlusai artigo3   copia
Alusai artigo3 copia
 

Dernier

Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemplo
Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemploPadrões de Projeto: Proxy e Command com exemplo
Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemploDanilo Pinotti
 
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx2m Assessoria
 
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx2m Assessoria
 
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdf
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdfLuís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdf
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdfLuisKitota
 
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx2m Assessoria
 
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docxATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx2m Assessoria
 
Boas práticas de programação com Object Calisthenics
Boas práticas de programação com Object CalisthenicsBoas práticas de programação com Object Calisthenics
Boas práticas de programação com Object CalisthenicsDanilo Pinotti
 
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdf
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdfProgramação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdf
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdfSamaraLunas
 

Dernier (8)

Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemplo
Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemploPadrões de Projeto: Proxy e Command com exemplo
Padrões de Projeto: Proxy e Command com exemplo
 
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - LOGÍSTICA EMPRESARIAL - 52_2024.docx
 
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - CUSTOS DE PRODUÇÃO - 52_2024.docx
 
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdf
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdfLuís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdf
Luís Kitota AWS Discovery Day Ka Solution.pdf
 
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docxATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx
ATIVIDADE 1 - ESTRUTURA DE DADOS II - 52_2024.docx
 
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docxATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx
ATIVIDADE 1 - GCOM - GESTÃO DA INFORMAÇÃO - 54_2024.docx
 
Boas práticas de programação com Object Calisthenics
Boas práticas de programação com Object CalisthenicsBoas práticas de programação com Object Calisthenics
Boas práticas de programação com Object Calisthenics
 
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdf
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdfProgramação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdf
Programação Orientada a Objetos - 4 Pilares.pdf
 

Aprender é formular hipóteses, ensinar é organizar provocações

  • 1. 1
  • 2. Vovô e seus netos merecem ver a uva Nem método fônico, Nem construtivismo Introdução Exclusivamente método fônico, NÃO Incompletudes do Construtivismo em Didática A interação social nas aprendizagens Fase discursiva e fase dialética das aprendizagens Interação social pelas atividades culturais Alfabetizando um milhão de colombianos Profissionalizando professores 2
  • 3. 3
  • 4. F az o MEC muito bem em rever os sistemas de alfa betização utilizados nas escolas brasileiras. O que está em uso, hoje, alfabetiza menos de 50% dos brasileiros, a cada ano letivo. Impõe-se, entretanto, fazer uma revisão sé- ria e abalizada cientificamente. Em primeiro lugar, é neces- sário localizar qual é o alunado que não se alfabetiza, pois há os que logram este objetivo. Quem, minimamente, está envolvido com educação, não sabe que, em escolas particula- res ou em escolas públicas freqüentadas por alunos oriundos de classes médias com alguma trajetória intelectual, o índice de alfabetização é praticamente 100%? Para ter-se, portan- to, média nacional de menos de 50% de alfabetização é porque em muitas escolas este índice beira os 30%. E onde ocorre isto? Nas escolas públicas freqüentadas por crianças de famílias de classes populares. Mais especificamente, de famílias cujos pais estão dentre os 50 milhões de analfabe- tos adultos deste nosso querido, mas triste país, quando se pensa em aprendizagens escolares. Para que alguém se alfabetize é preciso que ele se formu- le problemas sobre o que é a escrita. Que ele se pergunte sobre o que é ler e escrever. Ora, se no seu ambiente de vida 4
  • 5. não há livros, não há jornais, não há revistas, não há cartas que chegam e que saem, mas sobretudo não há leitores e escritores, isto é pessoas lendo e escrevendo quotidianamente, ele tem muito menos ocasião do que as crianças em cujas casas, o ler e o escrever são atos de rotina, de ser provocado a se formular tais problemas. O que ocorre quando uma criança, desde pequenina, con- vive com pessoas que lêem e escrevem, e com materiais escritos? Ela percorre uma bela trajetória de hipóteses para se responder à instigante pergunta: o que vem a ser um con- junto de risquinhos que enchem os jornais, os anúncios, a tela da TV, as revistas, os livros, as listas de palavras, mas, principalmente, o que vem a ser uma seqüência de traços que dizem ser o seu nome? Nesta trilha, ela conjectura explicações inteligentes, mas bizarras e incompletas. A primeira delas é que escrita é o mesmo que desenho. Escrever seria desenhar e ler seria in- terpretar desenhos com traços figurativos do que aquela es- crita se refere. A segunda, é que se escreve com sinais gráfi- cos já sem relação figurativa com o que está sendo represen- tado, mas sem nenhuma vinculação com a pronúncia da pa- 5
  • 6. lavra que se quer escrever. A terceira, é que o que se escreve tem a ver com a pronúncia, porém no seguinte sentido – cada sílaba oral da palavra é escrita com uma só letra. Assim, casa seria escrita com apenas duas letras, bicicleta com quatro. Somente num quarto momento é que o caminhante que está aprendendo a respeito da magia das letras se dá conta de que não basta uma letra para cada vez que se abre a boca ao pronunciar uma palavra, quando se quer escrevê-la. Somente então é que ele descobre que cada som pronuncia- do tem uma letra correspondendo na escrita. Para passar por estas hipótese não é preciso estar na escola. Basta que se esteja perto de muitos escritos e de pessoas que realizem atos de ler e de escrever. Ora, este é o caso somente de crian- ças cujas famílias possibilitem este ambiente alfabetizador. Para estas crianças, ao ingressarem numa classe de alfabeti- zação o método fônico pode ser útil. Elas já estabeleceram uma vinculação fina entre a pronúncia dos sons e sua repre- sentação escrita. Para as que ainda transitam suposições mais primitivas o método fônico não lhes fará nenhum sentido. E estas são a imensa maioria dos alfabetizandos brasileiros, especialmente nas escolas públicas. 6
  • 7. Não se trata de defender este ou aquele método. Impõe- se, isto sim, ir ao encontro do processo de aprendizagem de todos e de cada aluno para que eles aprendam. Privilegiar o método fônico em escolas públicas para alunos que ainda não atingiram a compreensão do que a pronúncia tem a ver com a escrita é uma flagrante inadequação pedagógica por razões bem óbvias. A afirmação tupiniquim de que países desenvolvidos ado- tam um certo método não é argumento suficiente para que ele seja bom em qualquer circunstância e nem mesmo para toda a população dos ditos países desenvolvidos. A não apren- dizagem da leitura e da escrita por uma parte da população é fenômeno, infelizmente, de âmbito internacional. Em todos os países, há alunos que não logram se alfabetizar. São aque- les que não foram respeitados em seu processo de aprendi- zagem. Urge que superemos lucidamente questões de méto- do e que oportunizemos a entrada no mundo letrado a todo filhote de um homem e de uma mulher que está convivendo conosco neste milênio em sociedades para as quais uma de suas marcas definidoras é o uso desta construção estupenda que é a escrita. 7
  • 8. Nem Método Fônico, nem Construtivismo 8
  • 9. 9
  • 10. Introdução O Ministério da Educação anuncia que vai rever o processo de alfabetização, discutindo a volta do “vovô viu a uva”. Rever o que está sendo feito em matéria de alfa- betização é muito oportuno face à ineficácia da escola brasi- leira em ensinar a ler e a escrever. Ela produziu nos últimos anos 50 milhões de analfabetos acima de 15 anos e a cada ano, consegue menos de 50% de aprendizagem da leitura e da escrita em classes iniciais do ensino fundamental. Esta incompetência certamente contribuiu para gerar ainda mais analfabetos adultos a cada ano que passa. Rever o que vem sendo feito será ou não oportuno se for para dar um passo em frente e não para retroceder, confron- tando método fônico com construtivismo. Nem um nem ou- tro trazem solução a este desafio. E pior ainda é o que grassa no país, isto é, a mistura de modelos teóricos embasando as práticas alfabetizadoras nas escolas. Atrás de toda prática há um conjunto articulado de idéi- as, quer dizer, uma teoria. Se esta for consistente a prática apresentará bons resultados.Se ela não o for , os resultados 10
  • 11. serão pífios. Esta é uma das razões pelas quais somos tão exímios e competentes na produção de analfabetos, come- tendo o crime de fechar as portas da cidadania a tantos com- patriotas. Uma vez que está sendo colocada a questão da alfabeti- zação em torno ou do método fônico ou do construtivismo, impõe-se analisar um e outro, do ponto de vista científico, mesmo que a mistura de modelos seja ainda mais corrente que ambos e produza também efeitos muito deletérios. Exclusivamente método fônico, NÃO O método fônico parte do principio que os alfabetizandos que chegam à escola já estão todos alfabéticos, dentro da terminologia de Emilia Ferreiro. Isto é, eles já compreende- ram a vinculação entre escrita e som das letras. Porém, para chegar lá é necessário ter tido tantas experiências com escri- tos e com pessoas que lêem e escrevem que os tenham aju- dado a superar idéias tais como a de que desenho e escrita são o mesmo, de que se escreve com sinais gráficos, mas sem articulação com a pronúncia e que tenham superado que a 11
  • 12. relação entre pronúncia e escrita é de cada sílaba oral com uma letra.Cerca de 90% dos alunos de escolas públicas, vin- dos de famílias que tem entre seus membros, representantes dos 50 milhões de analfabetos adultos, chegam à escola an- tes de estabelecerem correlação entre som e letra. Por esta razão, exclusivamente método fônico para eles é inútil, uma vez que lhes é inacessível lógica e psicologicamente associa- ção alfabética entre pronúncia e escrita. Incompletudes do Construtivismo em Didática Outrossim a aplicação didática do construtivismo a partir de Emilia Fer reiro no Programa de for mação de Alfabetizadores do Mec (Ministério da Educação) no gover- no FHC - Profa - foi e é insuficiente e incapaz de ensinar a tais alunos. Emilia Ferreiro, por sua estrita filiação a Jean Piaget, para quem o ser humano se desenvolve construindo conhecimentos diretamente através de seu contato com o real, não incorpora nem a dimensão social nem a antropoló- gica que consideraram Vigotsky, Henri Wallon, Sara Pain ou Gérard Vergnaud. A base cultural que alimenta a com- 12
  • 13. preensão do mundo pelas pessoas humanas e a base social que a dinamiza não são contempladas na perspectiva construtivista. Esta base cultural é definidora de qualquer didática. para alunos que vem de situações de vida com pouco ou pouquíssimo contato com a escrita. Para os construtivistas a didática da alfabetização é centrada no trato com textos escritos, o que bastaria para encaminhar os alunos para o domínio da leitura e da escri- ta. Para alunos de escolas públicas somente atividades em torno de textos são insuficientes para levá-los à alfabetiza- ção, embora o texto seja central nesta trajetória. A organi- zação sistemática de provocações que incluem estudo de palavras e de letras, ao lado da abordagem de textos é parte integrante de uma didática para alfabetizar, sobretu- do o alunado vindo de camadas populares. A interação social nas aprendizagens Porem, mais do que isto: a perspectiva grupal das apren- dizagens que não tem lugar de destaque na visão construtivista é essencialíssima. Esta perspectiva grupal in- 13
  • 14. clui desde a oportunização intencional de trocas entre os alunos, entre os professores e os alunos, entre a classe esco- lar e as riquezas culturais do seu meio e entre professores. As trocas entre alunos implicam rigorosamente uma nova estética na sala de aula, onde as filas são substituídas por pequenos grupos na maior parte do tempo escolar .Es- tes pequenos grupos denominados no pós-construtivismo como grupos áulicos devem ser cuidadosamente constituídos.Duas modalidades de constituição são úteis: a primeira, de conformação heterogênea quanto aos esque- mas de pensamento dos alunos relativamente à alfabetiza- ção, fruto da explicitação de escolhas de colegas para estu- dar mais proximamente, tanto na votação para determina- ção de líderes como no convite para integrar o pequeno grupo em aula; a segunda, em alguns momentos, a cada semana, de conformação homogênea quanto aos esquemas operatórios de pensamento dos alunos a respeito da escri- ta. A exigência de consideração explicita e estratégica de fo- mento à interlocução entre os alunos é uma decorrência de dois tipos de intercambio que presidem as aprendizagens. 14
  • 15. Um deles, um intercambio vertical entre dois protagonis- tas da cena do aprender que se distinguem por sua compe- tência no pensar o objeto de aprendizagem, perfeitamente identificada na troca entre professor e aluno.Um outro intercambio que pode ser considerado como horizontal acon- tece entre parceiros,em igualdade de condições quanto às competências cognitivas, face ao objeto de aprendizagem, num dado momento .São as trocas entre colegas, os quais são pares quanto ao patamar de competências.. Estes dois tipos de intercâmbio presidem, por sua vez, dois momentos distintos do aprender, a saber, as fases discursivas e as fa- ses dialéticas dos processos inteligentes.A explicitação de ambas tem a ver com a segunda natureza de troca didática que são as que ocorrem entre professor e aluno.Estas trocas podem ser nitidamente enriquecedoras com o que no Geempa – Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesqui- sa e Ação – tomam a forma de uma aula-entrevista.A aula entrevista são alguns ,momentos, ao longo do período leti- vo, em que o professor realiza um encontro particular com cada um dos seus alunos para detectar seus esquemas opera- tórios depensamento, relativamente ao campo conceitual que 15
  • 16. é o objetivo pedagógico perseguido no contrato escolar do período em curso..Esquemas operatórios de pensamento é uma das noções-chave do pós-construtivismo, nascida com Piaget mas amplamente aprofundada por Gérard Vergnaud. Ele abriga de certo modo, as idéias de zona proximal de desenvolvimento de Vigotsky a fecunda idéia de rede de Henri Wallon, a noção de níveis de Emilia Ferreiro e a fun- ção da ignorância de Sara Pain, na trilha de sua basilar afirmação de que “todo o conhecimento é conhecimento do Outro”.Ao abrigar tais idéias não só se amplia de muito o construtivismo como a comunidade científica foi forçada a reformulá-lo, a dar-lhe novas bases e a brindar-lhe um novo arcabouço estrutural, o qual leva o nome de pós- construtivismo.”Outro”, por exemplo leva às idéias psicana- líticas de inconsciente e de desejo.Na consideração do “Ou- tro” se é levado à substituição dos instintos por aprendiza- gens, da natureza pelo cultural. Leva também à eliminação da idéia de desenvolvimento quando se explica como cresce um ser humano. Leva-nos ao conceito de sujeito de cultura, ao mesmo tempo determinado e determinante do curso da história de suas próprias aprendizagens.E isto conduz a uma 16
  • 17. mudança radical no rumo das atividades docentes. O profes- sor deixa de ser um explicador para ser um organizador de provocações.Aprender passa a ser formulação de problemas para além de ser sua resolução e para muitíssimo além de ser memorização de informações ou de elaborações prontas. A aprendizagem é com efeito, uma construção seqüencial complexa que se assenta em esquemas operatórios de pensa- mento os quais funcionam por sistemas fechados, como as escadas a seguir: Alfabético Silábico Pré-silábico 2 Pré-silábico 1 17
  • 18. ...que caracterizam núcleos comuns de conhecimentos e cujo tamanho do passo para ascender, em cada uma delas, exige uma competência apropriada. O professor passa a ser um organizador das provocações para que cada um de seus alunos suba degraus de uma mesma escada e para que ao final de um período letivo ele tenha condições intelectuais para galgar os degraus da escada seguinte. Esta ascensão é pessoal e intransferível , porém o conceito de pessoal embu- te intrinsecamente a dimensão social, uma vez que não so- mos seres singulares- somos seres plurais.Somos genetica- mente sociais. Para tal não só o professor precisa identificar as competências de cada aluno, como necessita formalizar a intimidade do seu compromisso com cada um deles, o que se concretiza nas aulas-entrevistas. Elas produzem também ou- tros efeitos secundários interessantíssimos. Dentre deles a possibilidade de o número adequado, para bem ensinar, numa turma de alunos, pode ser bem maior do que o convencio- nalmente considerado. O trabalho em grupos áulicos tam- bém corrobora com este efeito, por conta das aprendizagens favorecidas pelas trocas entre iguais isto é, entre colegas, sem a necessidade de intervenção direta do professor. 18
  • 19. Fase discursiva e fase dialética das aprendizagens As fases discursivas e dialéticas da aprendizagem acon- tecem , respectivamente quando um aluno permanece no mesmo degrau ou quando passa de um para outro. A pas- sagem de um degrau para outro é um momento mais delica- do na caminhada aprendente, porque vivido como uma ex- periência de conflito. O aluno tem que ser dar conta da incompletude das idéias que até então, julgava válidas. É’ o que Sara Pain denomina de ignorâncias. Nestes momen- tos as trocas entre pares são mais úteis e eficazes do que uma intervenção do professor. Por isso é tão importante que o professor identifique na aula-entrevista onde se en- contra cada um de seus alunos no processo de aprendiza- gem. Trata-se, com efeito de uma forma muito mais refina- da de ser professor , porque muito mais científica do que a convencional. Por isso mesmo, muito mais exigente do pon- to de vista do preparo dos docentes. 19
  • 20. Interação social pelas atividades culturais A incorporação da dimensão dramática ou cultural na prá- tica docente é mais uma variante da interlocução para as aprendizagens ou seja da interação social em sala de aula.Esta incorporação tem pelo menos três vetores, a saber: 1. A oportunização da participação em atividades culturais socialmente desejáveis 2. A contextualização das dramáticas vividas pela classe. 3. A estética das merendas pedagógicas e do ambiente da sala de aula. 1. A oportunização da participação em atividades culturais socialmente desejáveis representa uma inserção na vida mais ampla do grupo humano onde está inscrita a escola. Se ir a escola significa uma deserção da vida coletiva que pulsa nas vizinhanças, a través da midia e das produções artísticas, esta escola empobrece ao invés de ampliar e abrir horizon- tes. Uma professora que isole seus alunos enquanto grupo aprendente, dos eventos significativos em sua comunidade está estereotipando e artificializando a construção de conhecimento.O sentido da lógica é a sua dramática, porque 20
  • 21. esta empresta emoção à objetividade do pensamento . Uma lógica sem emoção é oca e por isso, triste.O que está ocor- rendo no mundo das artes, incluindo a música, a literatura, o teatro, a dança, os esportes, o cinema, os patrimônios arquitetônicos e as artes plásticas e porque não a moda e a culinária precisam embasar o que se aprende na escola.Nesta linha , pode-se afirmar tranqüilamente que sem cultura não se faz educação. Para além das aulas na sala, aulas literal- mente culturais precisam intercalar-se naquelas. 2) É um pré-requisito cultural embeber as provocações didá- ticas em contextos semânticos escolhidos a partir do que está sendo vivido como significante pela turma. Isto implica vividos internos e externos ao grupo .Entende-se por vivi- dos internos o que emana da própria dinâmica didática. Por exemplo a ausência de um aluno à escola, o impacto do co- nhecimento dos lugares na escada dos níveis psicogenéticos após uma aula-entrevista com todos os alunos, a escolha de líderes e a constituição de grupos áulicos, a realização de um passeio, uma comemoração na escola, etc.. .Por vividos exter- nos ao grupo de aula entenda-se o nascimento do irmão de um aluno, a morte de um familiar deles ou mesmo de um 21
  • 22. animalzinho de estimação, um acontecimento político, uma vitória ou derrota desportiva,.... Dentro desta perspectiva, textos,palavras ou letras traba- lhadas em aula serão tanto mais ensinantes quanto mais contextualizadas semanticamente nestes universos dramáticos.Empresta-se magnificamente vincular um texto literário, prosa ou poesia, com estes dramas existências que vivem os alunos.Toda arte explica a vida com a força da emoção que arrasta consigo. 3) A estética das merendas pedagógicas, do ambiente e dos movimentos em sala de aula. Comer juntos é um dos atos mais culturais no mundo, tanto que todas as religiões tem no centro de seus cultos uma refeição. Não aproveitar a merenda na escola como ati- vidade pedagógica é o maior desperdício ensinante. O que significa este aproveitamento? A merenda peda- gógica tem também dois vetores – o que servir e como servir.Pode se servir o já conhecido ou o novo.Pode-se repe- tir rotineiramente sempre as mesmas coisas ou ter a preocu- pação de alternar variando regularmente o que é servido. Pode-se servir pequena ou grande quantidade. 22
  • 23. O “como” servir é ainda mais rico pedagogicamente. Todos estes aspectos socializantes e culturalizantes não são essenciais ao construtivismo, como conseqüência de sua pers- pectiva epistemológica. Entretanto, eles são fundantes de uma didática que consegue ensinar a ler e escrever ao tipo de aluno que a escola pública recebe em qualquer país do mun- do e muito particularmente no Brasil. Esclareça-se bem o que queremos dizer com este tipo de aluno das escolas pú- blicas. Não se trata, absolutamente, de alunos com menor condição de aprender do que alunos de classes medias ou altas.Trata-se isto sim, de alunos com diferença no conjunto de experiências relativamente a coisas escritas e a atos de leitura e de escrita, porque vem de ambientes ainda com muitos analfabetos adultos.Eles chegam portanto, na escola com esquemas operatórios de pensamento para aquém da visão alfabética e precisam de uma didática que leve isto em conta,isto é, que considere sua bagagem social e cultural como parte do modo de ensinar-lhes. 23
  • 24. Alfabetizando um milhão de colombianos Felizmente, há uma resposta validada, uma forma de proposta didática para servir a esta população, a qual é reco- nhecida inclusive pelo Ministério da Educação de Colômbia, que firmou convênio com o Geempa para formar alfabetizadores que ensinem a ler e a escrever a um milhão de colombianos. Profissionalizando professores Neste momento o foco central de pesquisa do Geempa é a formação de professores dentro desta nova formulação pós- construtivista. A sua eficácia para alfabetizar analfabetos está fortemente comprovada no mais amplo universo situacional -crianças ou adultos, em redes públicas ou em iniciativas privadas, em mais de treze estados brasileiros,nas cidades e nos campo, em grandes e pequenas cidades. A formação de professores é o que se impõe agora com urgência máxima, pois o grau de desprofessionalização des- ta categoria de trabalhadores é muito elevado. Salários bai- xos, ausência de um sistema nacional de ensino no país, 24
  • 25. predomínio da idéia de que ser professor é exercer um oficio ou cumprir uma missão para o qual se nasce ou não vocacionado e não professar um conjunto de conhecimentos inerentes às responsabilidades de garantir um produto soci- al da maior importância qual seja a construção de conheci- mentos indispensáveis para um cidadão do terceiro milênio. É abominável o convívio com 50 milhões de analfabetos adultos, assim condenados a partir da generalizada freqüên- cia durante em média três anos à escola. Urge revisar posição entre quem se diz ou se dizia de esquerda, extremamente reacionária de que “as classes po- pulares tem um saber próprio equivalente ao científico e que, portanto, não lhes faz falta aprender a ler e a escrever se eles conhecerem seus direitos de cidadão”. Ela condena mi- lhões à marginalização de uma fonte estupenda de poder que é a competência de se comunicar via letra escrita.Quem exerce uma atividade de pesquisa na produção de conheci- mento experimenta na pele o valor da escrita para forjar um pensamento construtor de soluções demandadas pelas con- tingências da vida do mundo. Quem não usufrui desta habi- lidade é dependente de quem dela desfruta, tendo que ser conduzido pela mão de outros. 25
  • 26. Por outro lado, aprender, exige canalização de agressividade, pois só quem tem raiva da sua ignorância investe na sua supe- ração e só pode fazê-lo com a força desta energia que é a agressividade.Portanto, um ensino eficiente é um direcionador de agressividade que impede a sua utilização para finalidades anti-sociais, na esfera da violência .Uma boa escola é um vali- oso antídoto à violência. Entretanto as sociedades tendem a se reproduzir, manten- do os privilégios de quem já os tem. Apostar e investir em ensino não se coaduna com esta manutenção de privilégios. Já em 1919 Gramsci acusava tanto esquerda como direita de não terem propostas para a educação. Educação pra valer só pode ser assumida pelos que não pautam suas vidas pelas van- tagens dos lucros econômicos ou por ânsias de poder social e político.Vale o fato de que ainda existem estes e são muitos, mormente dentre o professorado. Cabe-nos inteligentemente organizar saída para quadro tão desolador, na certeza de que é isso que vale a pena fazer como escolha que honre nosso desejo de ser gente é não mero vulto que nem sombra deixa como rastro. 26
  • 27. 27
  • 28. 28