O documento descreve as características e estratégias para alunos com Síndrome de Asperger. Detalha os desafios sociais e de aprendizagem destes alunos, incluindo dificuldades na interação social, linguagem e hipersensibilidade sensorial. Fornece também estratégias para professores apoiarem estes alunos, como ensinar explicitamente regras sociais e usar apoios visuais para facilitar a compreensão.
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Síndrome asperger
1. AGRUPAMENTO DE ESCOLAS ALEXANDRE HERCULANO - SANTARÉM
ESCOLA EB 2,3 ALEXANDRE HERCULANO
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GUIA PRÁTICO
SÍNDROME DE ASPERGER
Novembro de 2013
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CARATERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS E DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS
COM SÍNDROME DE ASPERGER (SA)
«As características essenciais do Transtorno de Asperger são um prejuízo severo e persistente na interação
social e o desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. A
perturbação deve causar prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes
de funcionamento.
Contrastando com o Transtorno Autista, não existem atrasos clinicamente significativos na linguagem (isto é,
palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são usadas aos 3 anos).
Além disso, não existem atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo ou no
desenvolvimento de habilidades de auto-ajuda apropriadas à idade, comportamento adaptativo (outro que não na
interação social) e curiosidade acerca do ambiente na infância».
FONTE: Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais
1 - Os indivíduos com SA podem desejar relacionar-se com os outros, mas não sabem como, pelo que
podem abordar os outros de maneira peculiar (Klin & Volkmar, 1997). Falta-lhes frequentemente a compreensão das
regras sociais pelo que podem ser socialmente inábeis, ter dificuldades em empatizar, e interpretar mal situações de
interação social diária. Os indivíduos com SA não aprendem empiricamente as regras de interação social; essas
competências têm de lhes ser ensinadas explicitamente.
2 - Embora as crianças com SA falem geralmente de forma fluente pelos cincos anos de idade, revelam
alguns problemas com a pragmática (o uso da língua em contextos sociais), a semântica (podendo não reconhecer
significados múltiplos de uma palavra) e a prosódia (o tom, a intensidade e o ritmo do discurso) (Atwood, 1998).
Os alunos com SA podem:
adotar posturas impróprias como assumir uma posição demasiada próxima do interlocutor;
olhar fixamente para um determinado alvo;
não compreender os gestos e as expressões faciais;
ter um vocabulário sofisticado e falar incessantemente, sobre o seu tema favorito. O tópico pode ser muito
restrito e o indivíduo SA ter dificuldades em mudar para um outro assunto de conversa;
ser excessivamente retraídos e calados;
ter dificuldades com as regras de conversação. Podem interromper ou atropelar o discurso do outro, podem
fazer comentários irrelevantes e têm muita dificuldade em iniciar e terminar as conversas;
ter um discurso caraterizado por uma falta de variação no tom, na intensidade e no ritmo, e à medida que o
indivíduo vai atingindo a adolescência, o discurso pode tornar-se excessivamente formal.
3 – Os indivíduos com SA são de inteligência média ou acima da média. Muitos são relativamente,
proficientes no conhecimento dos factos, e podem ter a informação factual extensiva sobre um assunto em que estão
absorvidos. Entretanto, demonstram fraquezas na compreensão e no pensamento abstracto, assim como na
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cognição social. Os estudantes revelam dificuldades académicas, particularmente na compreensão da leitura,
resolução de problemas, capacidades organizacionais, desenvolvimento de conceitos, deduções e julgamentos. Têm
frequentemente dificuldade em adaptar-se à mudança ou à falha pessoal e não aprendem de boa vontade a partir
dos seus erros (Attwood, 1998).
4 – Estima-se que 50% a 90% das pessoas com SA têm problemas com a coordenação motora (Attwood,
1998). As áreas afetadas podem incidir na locomoção, nas atividades com bola, no equilíbrio, na destreza manual, na
escrita, nos movimentos rápidos, no ritmo e na imitação de movimentos.
5 – Indivíduos com SA partilham características comuns com o autismo em termos das respostas aos
estímulos sensoriais. Podem ser hipersensíveis a alguns estímulos e podem adotar comportamentos pouco usuais
para obter um estímulo sensitivo específico.
6 – Os indivíduos com SA estão frequentemente desatentos e distraem-se facilmente.
7 – A ansiedade/depressão é também uma caraterística associada ao SA. Pode ser muito difícil e penoso
para o aluno compreender e adaptar-se às solicitações sociais da escola.
ESTRATÉGIAS PARA OS PROFESSORES
O que se segue identifica a dificuldade específica de aprendizagem e sugere um número de estratégias que
podem ser implementadas em contexto sala de aula. Estas estratégias também podem ser aplicadas aos alunos com
autismo.
Dificuldades de Aprendizagem Estratégias de Sala de Aula
Dificuldades com linguagem
tendência fazer comentários irrelevantes;
tendência para falar em sobreposição ao
discurso de outro;
dificuldade em compreender linguagem
complexa, seguir direções e compreender
a intenção das expressões/palavras com
significados múltiplos;
tendência a interromper.
Conversações em tira de BD podem ser utilizadas para
exemplificar os problemas relacionados com competências
de conversação;
Ensine comentários apropriados no início das conversas e
a procurar auxílio quando confuso;
Forneça instruções como conversar em pequeno grupo;
Incuta regras de conversação: quando responder,
interromper ou mudar de tópico;
Use conversações gravadas em áudio e vídeo;
Explique metáforas e palavras com significado duplo;
Incentive o aluno a pedir que repita uma instrução,
simplificada ou escrita se não compreender;
Faça pausa entre instruções e verifique que o aluno
compreendeu;
Limite as perguntas orais a um número que o discente
possa controlar;
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Insistência na rotina
Interação social
dificuldade em compreender as regras da
interação social;
Pode ser ingénuo;
Interpreta literalmente o que é dito;
Dificuldade em ler as emoções dos outros;
Falta de tacto;
Problemas com a distância social;
Dificuldade em compreender as regras
sociais que «não estão escritas» e, quando
as aprendem, podem aplicá-las de forma
demasiado rígida.
Escala restrita de interesses
Mostre vídeos para identificar expressões não-verbais e os
seus significados.
Sempre que possível prepare o aluno para qualquer
mudança;
Use desenhos e histórias sociais para ajudar às
mudanças.
Apresente expectativas claras e regras para o
comportamento;
Ensine explicitamente regras de conduta social;
Interaja com o aluno utilizando histórias sociais - role
playing;
Consciencialize a turma e/ou pares para as limitações do
aluno com SA na interação social;
Indique outros jovens/alunos como sugestão/modelo para
lhe indicar o que deve fazer;
Incentive jogos de equipa;
Pode necessitar de apoiar o aluno quando este falha;
Use o sistema do «camaradagem» para ajudar o discente
nas atividades não-estruturadas;
Ensine ao aluno como começar, manter e terminar um
jogo;
Promova a flexibilidade, a cooperação e a partilha;
Ensina aos alunos como monitorizar o seu próprio
comportamento;
Pode sugerir técnicas de relaxamento e ter um lugar
sossegado para o aluno relaxar.
Limite discussões e perguntas obsessivas;
Trace expectativas firmes para a sala de aula, mas
forneça também oportunidades para o aluno prosseguir os
seus próprios interesses;
Inclua e expanda os interesses do aluno nas atividades de
sala de aula.
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Concentração
Distraído;
Pode ser desorganizado;
Dificuldade em manter a atenção;
Não executa as tarefas propostas.
Fracas habilidades organizacionais
Fraca coordenação motora
Competências académicas
Pontos Fortes
Inteligência média e frequentemente acima
da média;
Boa evocação da informação factual;
São frequentemente fortes no
reconhecimento de palavras podem
aprender a ler muito cedo, mas com
dificuldade na compreensão;
Excelente memória visual.
Reduzir tarefas;
Estipular sessões de trabalho com o tempo marcado;
Reduzir o trabalho de casa;
Sentar o aluno numa das carteiras da frente;
Investir no feedback da aula;
Use deixas não-verbais para chamar e centrar a atenção.
Utilize planificações e calendários;
Construa listas de tarefas;
Ajude o aluno a utilizar uma checklist.
Envolva-o em atividades de manutenção física;
Forneça tempo extra para os testes;
Pode preferir atividades de aptidão aos desportos de
competição;
Tenha em consideração uma velocidade mais lenta da
escrita ao atribuir-lhe tarefas (a extensão tem
frequentemente de ser reduzida);
Considere o uso do computador para tarefas escritas, pois
alguns alunos podem ser mais hábeis em usar um teclado
do que a escrita manual.
Não parta do princípio que o aluno compreendeu porque
este pode simplesmente repetir a informação;
Seja tão concreto quanto possível ao apresentar conceitos
novos e abstractos;
Use as aprendizagens baseadas na prática, sempre que
possível;
Use estímulos visuais como mapas semânticos;
Divida as tarefas em etapas simples ou apresente formas
alternativas;
Forneça instruções diretas acompanhadas de exemplos;
Ensine técnicas para ajudar o aluno a tirar notas e
organizar e categorizar a informação;
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Pontos Fracos
As áreas de dificuldade incluem na
resolução e compreensão de problemas, e
dificuldades com conceitos abstractos;
Podem ter um bom desempenho no
cálculo matemático, mas têm dificuldades
em resolver problemas.
Vulnerabilidade emocional
Pode ter dificuldade em lidar com as
emoções;
Elevada ansiedade devido à sua
inflexibilidade;
Baixa autoestima;
Dificuldade em tolerar os próprios erros;
Pode ser propenso à depressão;
Pode ter reações bastantes
temperamentais.
Hipersensibilidade sensorial
A maioria da hipersensibilidade envolve a
audição e o tacto, mas podem incluir
também a intensidade da luz, as cores e
os aromas;
Os tipos de ruídos que podem ser
percebidos como extremamente intensos
são:
- ruídos repentinos, inesperados tais como
um telefone que soa, alarme de incêndio,
etc.
- ruído contínuo de alta frequência; sons
confusos, complexos ou múltiplos como
em centros comerciais.
Evite a sobrecarga verbal;
Capitalize os pontos fortes, por exemplo, a memória;
Não suponha que compreenderam o que leram – verifique
para ver se há a compreensão, reforce instruções e use
apoios visuais.
Elogie sempre que faça algo bem;
Ensine o aluno a pedir ajuda;
Forneça técnicas para lidar com situações difíceis e para
lidar com o stress;
Ensaie as situações;
Crie experiências em que o aluno possa fazer escolhas;
Ajude o aluno a compreender os comportamentos e as
reações dos outros;
Promova atividades em grupo.
Esteja consciente que níveis normais de percepção visual
e auditiva podem ser apreendidos pelo aluno como
demasiado baixos ou altos;
Mantenha o nível de estimulação dentro das limitações do
aluno;
Pode ser necessário evitar sons;
A adição de música pode camuflar sons desagradáveis;
Minimize ao máximo o ruído de fundo;
Em casos extremos, permita o uso de auscultadores;
Ensine e exemplifique estratégias de relaxamento e jogos
para reduzir a ansiedade.