Bernardo Soares era um guarda-livros em Lisboa que escrevia fragmentos poéticos durante os intervalos de trabalho. Fernando Pessoa e Bernardo Soares compartilhavam semelhanças biográficas e Pessoa via Soares como um semi-heterônimo. O Livro do Desassossego de Soares descreve reflexões sobre a vida na Baixa de Lisboa através de uma prosa fragmentada.
2. “Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge.”
3. Bernardo Soares foi ajudante de guarda-livros na
cidade de Lisboa.
Escrevia fragmentos de sua prosa poética nos
intervalos de uma e outra tarefa burocrática.
Vivia sozinho, na Baixa, num quarto alugado perto
do escritório onde trabalhava e dos escritórios onde
trabalhava Fernando Pessoa.
Conheceram-se numa pequena casa de pasto
habitualmente freqüentada por ambos. Foi aí que
Bernardo Soares deu a Fernando Pessoa o seu
“Livro do Desassossego”.
4. Fernando Pessoa e Bernardo Soares –
pontos semelhantes
Pode-se entrever uma embaralhada relação de
identidade entre Fernando Pessoa “escritor real” e
Bernardo Soares.
Temperamento
Bernardo Soares não é Fernando Pessoa por adição
de elementos, mas por subtração. Como o próprio
"autor real" esclarece na célebre gênese, Soares é
Pessoa menos a afetividade e o raciocínio.
5. Bernardo Soares não é um heterônimo pleno por
parecer excessivamente com o próprio autor em
muitos aspectos é o que se pode ler em alguns de
seus dados “biográficos”:
- Soares, na sua função de guarda-livros, teria
passado boa parte da vida nos quarteirões da Baixa
Lisboa (assim como Pessoa), escrevendo
fragmentos de sua prosa poética nos intervalos de
uma e outra tarefa burocrática, vivendo solitário em
quartos modestos e alugados.
-Fernando Pessoa, por sua vez, exercia a função de
redator e tradutor de cartas comerciais e transitava,
portanto, numa atmosfera similar a esta
representada e descrita por Bernardo Soares.
6. Por outro lado, na prosa de Bernardo Soares o que se
pode verificar é uma profunda inadaptação do sujeito à
realidade da vida, condição a que Pessoa também
parece sujeito, por tudo que ele mesmo revela em
muitas de suas cartas e páginas íntimas.
Em relação a si mesmo, Pessoa realça as diferenças
entre ele e Soares "no modo de ver e de compreender,
mas não no estilo de expor".
Bernardo Soares Fernando Pessoa
7. Semi-heterônimo
Fernando Pessoa considera, em cartas e anotações
pessoais, Bernardo Soares um tipo particular dentre os
seus heterônimos, ou seja, um semi-heterônimo, porque
como o próprio criador explica "não sendo a
personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas
uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio
e afetividade”.
A classificação de Bernardo Soares como semi-
heterônimo é uma atualização àquela que Pessoa fizera
poucos anos antes, quando situava Soares não como
heterônimo, mas como "uma personalidade literária".
8. Embora, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo
Reis sejam os mais conhecidos, valorizados e admira-
dos pela crítica literária, o humilde Bernardo Soares
traz oculto nas profundezas do seu íntimo uma riqueza
sobrenatural que, embora imperceptível a muitos, reluz
como um embriões de estrelas reluzentes.
Na prosa fragmentária desenvolve a dramaticidade das
reflexões humanas que vêm à tona na insistência de
uma escrita que se reconhece inviável, inútil e imperfeita,
à beira do tédio, do trágico e da indiferença estética. Por
essa razão, diversos fragmentos do livro são investi-
gações íntimas das sensações provocadas pelo
anonimato, pela cotidianidade da vida comum e todo o
"universo" da baixa de Lisboa.
9. Livro do Desassossego
Escrito por Bernardo Soares é um livro que trata de uma
“autobiografia sem fatos, escrito em forma de
fragmentos”.
Na prosa fragmentária desenvolve a dramaticidade das
reflexões humanas que vêm à tona na insistência de
uma escrita que se reconhece inviável, inútil e
imperfeita, à beira do tédio, do trágico e da indiferença
estética. Por essa razão, diversos fragmentos do livro
são investigações íntimas das sensações provocadas
pelo anonimato, pela cotidianidade da vida comum e
todo o "universo" da baixa de Lisboa.
10. É considerado uma das obras fundadoras da ficção
portuguesa no século XX, ao encenar na linguagem
várias categorias que vão desde o enigma da condição
humana até o absurdo da própria literatura.
Dentro da ficção de seu próprio livro, Bernardo é um
simples ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Esse livro tem valor suficiente para que fosse
recomendado para estudo em todas as instituições de
ensino do mundo, pois, se trata de uma arte necessária
na formação e continuidade de equilíbrio do espírito
humano, a arte de pensar.
11. Desde 1914 que Pessoa ia escrevendo fragmentos de
cunho confessional, diarístico e memorialista aos quais, já
a partir dessa data, deu o título de Livro do Desassossego
- obra que o ocupou até ao fim. Podemos então olhar o
Livro do Desassossego como um dos pilares da prosa
moderna portuguesa.
12. Lisboa na visão de Soares
Os itinerários de Bernardo Soares, construídos a partir dos de
Pessoa, são, para o semi-heterônimo, como meditações. Muito
mais do que uma cidade sonhada ou idealizada, a cidade que
surge no texto de Soares é uma cidade construída por dentro.
Em Bernardo Soares prevalece, em Lisboa, a "paisagem estado
de alma", a que se constrói no terreno fluido da intimidade e que
vai do sonho à sensação.
A Lisboa de Bernardo Soares pode ser considerada uma cidade
íntima. Na maior parte das vezes, revela-se uma "cidade
oprimida", feita de névoa e céu carregado, povoada de pessoas
vulgares e barulhentas, que carregam mercadorias, trabalham em
escritórios sombrios e vivem em casas de cômodos.
É desta forma que Bernardo Soares vê, lê e escreve a sua Lisboa:
uma "paisagem estado de alma".