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SUICÍDIO: UM DESAFIO
PARA A SAÚDE MENTAL
Luciana França Cescon
Psicóloga – CRP 98.202
Especialista em Saúde Pública (Atualize)
Mestre Profissional em Ensino em
Ciências da Saúde (UNIFESP)
Saúde Mental
Saúde Mental : campo de conhecimento e de
atuação técnica no âmbito das políticas públicas de
saúde.
Conceito de saúde de acordo com a OMS:
“Estado de
completo bem-
estar físico,
mental e social”.
O autor faz uma reflexão sobre o
percurso que vai das bases da
psiquiatria – e do manicômio – aos
projetos atuais, que buscam construir
um „novo lugar‟ para as pessoas em
sofrimento mental.
Séc. IV: Hospital (de hospitalidade, hospedagem) :
instituição de caridade que oferecia abrigo, alimentação e
assistência religiosa aos pobres, mendigos, desabrigados
e doentes.
Aos poucos, o hospital transforma-se em instituição
médica.
Loucura com muitos
significados: demônios,
místicos, comédia e
tragédia, erro e verdade.
Séc. XVII: Hospital Geral – função de ordem social.
“O Grande Enclausuramento”: isolamento e segregação.
Internações determinadas por autoridades reais ou
judiciárias.
Revolução Francesa – hospital medicalizado.
A intervenção médica passa de eventual para
constante, o que permite agrupar as doenças e
observá-las.
Modelo biomédico da medicina ocidental:
relação com a doença como objeto abstrato e natural,
e não com o sujeito da experiência da doença.
Philippe Pinel: “pai da Psiquiatria”
Hospital Geral em Paris (1793)
Alienado: alguém de fora, estrangeiro.
Fora de si, fora da realidade ...
Alienare: tornar-se outro.
“Se as causas da alienação mental
estão presentes no meio social, é o
isolamento que permite afastá-las” ...
Alienismo: pioneiro no estudo do que
hoje conhecemos por “transtornos
mentais”.
“Alienação mental era conceituada como
um distúrbio no âmbito das paixões,
capaz de produzir desarmonia na mente e
na possibilidade objetiva do indivíduo
perceber a realidade”.
(Amarante, 2007, p. 30)
Instituição disciplinar, com regras,
horários e o trabalho terapêutico.
Ideia de loucura como perda da capacidade de
discernimento entre o erro e a realidade: periculosidade
do louco = atitude social de medo e discriminação.
“Todo alienado
constitui de algum
modo um perigo para
seus próximos, porém
em especial para si
mesmo”.
Kraepelin em 1901, em sua “Primeira
lição da Introdução à Clínica
Psiquiátrica”.
BRASIL: “O Alienista”, de Machado de Assis - crítica.
"Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido”
Os primeiros asilos ficaram
rapidamente superlotados.
Funções sociais de segregação
de segmentos marginalizados da
população ...
Denúncias de violência contra os
internados ...
Dificuldade de estabelecer os
limites entre a loucura e a
sanidade ...
Proposta : “Colônias de Alienados”
Séc. VI na Irlanda.
Princesa Dymfna – misto de lenda e
história.
Santa Protetora dos Insanos.
Romarias de familiares e seus loucos,
em busca de uma cura milagrosa.
Famílias pagavam aos aldeãos
para que cuidassem de seus
parentes até a festa do ano
seguinte. Alienados começaram
a trabalhar e a se recuperarem
pelo trabalho.
Alienistas brasileiros (Início do século XX)
Primeiras colônias brasileiras logo após a Proclamação da
República.
O trabalho seria o “meio terapêutico mais precioso, que
estimulava a vontade e a energia e consolidava a
resistência cerebral fazendo desaparecer os vestígios do
delírio.”
Colônia de Juquery: chegou a ter 16.000 internos.
Logo, as colônias mostram-se iguais aos asilos
tradicionais.
Depois das Duas Guerras Mundiais: percebe-se que as
condições de vida oferecidas aos pacientes psiquiátricos
não eram diferentes daquelas dos campos de
concentração - absoluta falta de dignidade humana.
Experiências de reforma:
Comunidade Terapêutica
(Inglaterra – Década de 50)
Proposta de qualificar o hospital
psiquiátrico.
A função terapêutica deveria ser
assumida por todos, fossem
técnicos, pacientes, familiares ...
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Psicoterapia Institucional ou Coletivo Terapêutico
(França)
 Ampliação de referenciais teóricos
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construção de suporte e referência para os internos no
hospital.
 Resgate da noção de “trabalho terapêutico”: oficinas de
trabalho ou arte - possibilidades de participação e de
responsabilidade.
 Clube Terapêutico: organização autônoma gerida por
pacientes e técnicos, que promovia encontros, festas,
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Psiquiatria de Setor
Final dos anos 50 e início dos anos 60.
Necessidade de trabalho externo, de apoio após
alta hospitalar; para evitar reinternações ou novas
internações.
Centros de Saúde Mental (CSM): regionalização.
Vantagens: possibilidade de contatos entre os
internos; contatos entre familiares de pacientes; o
acompanhamento terapêutico poderia ser
realizado pela mesma equipe multiprofissional,
dentro e fora do hospital.
Marco: ideia do trabalho em equipe; o tratamento
deixa de ser visto como exclusividade do
psiquiatra.
Psiquiatria Preventiva (Saúde Mental Comunitária)
(EUA)
Censo em 1955: precárias condições de assistência,
violência e maus tratos nos hospitais psiquiátricos.
1963: decreto do Presidente Kennedy, para mudanças
na saúde mental.
Objetivo: reduzir as doenças mentais nas comunidades
e promover o estado de saúde mental.
Todas as doenças mentais
poderiam ser prevenidas,
desde que detectadas
precocemente.
Uma pessoa suspeita de ter
um distúrbio mental deveria
ser encaminhada a um
psiquiatra para investigação
diagnóstica, por iniciativa
própria, de sua família ou
amigos, de um profissional,
juiz ou superior no trabalho
...
Saúde Mental Comunitária: equipes de saúde mental
passam a exercer um papel de consultores comunitários,
identificando e intervindo em crises individuais, familiares
e sociais.
„Desinstitucionalização‟: redução do ingresso de pacientes
em hospitais psiquiátricos; redução do tempo médio de
permanência hospitalar; promoção de altas hospitalares.
Centros de saúde
mental, oficinas
protegidas, lares
abrigados, hospitais-
dia, hospitais-noite,
enfermarias e leitos
em hospitais gerais,
etc.
Movimentos Antipsiquiatria
Final dos anos 50 na Inglaterra
Ronald Laing e David Cooper: as pessoas ditas loucas
eram oprimidas e violentadas, não apenas nas instituições
psiquiátricas, onde deveriam estar para receber
tratamento, mas também na família e na sociedade.
Antipsiquiatria: termo que
propunha compreender que a
experiência dita patológica
ocorre não no indivíduo na
condição de corpo ou mente
doente, mas nas relações
estabelecidas entre ele e a
sociedade.
Psiquiatria Democrática
(Franco Basaglia – Itália, década de 60)
Serviços substitutivos ao modelo manicomial
Centros de Saúde Mental (CSM) regionalizados: assumiam
a integralidade dos cuidados em saúde mental.
Possibilidades de inclusão social:
cooperativas de trabalho e
construção de residências para
ex-internos.
Produção social: grupos musicais,
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Basaglia considerava que a psiquiatria passou a se
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“Os tratados de psiquiatria classificam as doenças mentais
como sendo objetos da natureza. Analisam os tipos, suas
semelhanças e distinções: „as esquizofrenias dividem-se em
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Ocuparam-se das doenças e esqueceram-se dos sujeitos
que ficaram apenas como pano de fundo das mesmas.”
(Amarante, 2007, p. 66).
Reforma Psiquiátrica no Brasil
Início no final da década de 1970, com a mobilização
dos profissionais da saúde mental e dos
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Declaração de Caracas – 1990
Direitos – Lei 10.216 (1991)
Santos tem destaque neste processo –
Intervenção da Casa de Saúde Anchieta (1989)
Serviços de Atenção Psicossocial
Dia Nacional da Luta Antimanicomial – 18 de Maio
RAPS
Serviços de Saúde Mental: desinstitucionalização de
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“Uma grande parte do sofrimento psíquico menos grave
continua sendo objeto do trabalho de ambulatório e da
Atenção Básica” (Neves, 2012, p. 113).
Apoio matricial :
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compartilhada.
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pacientes com transtornos mentais, estimular
sua integração social e familiar, apoiá-los em
suas iniciativas de busca da autonomia,
oferecer-lhes atendimento médico e
psicológico. Busca integrá-los a um ambiente
social e cultural concreto (seu território).
Principal estratégia do processo de reforma
psiquiátrica.
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Projeto terapêutico; atendimento intensivo;
tratamento medicamentoso; atendimentos em
grupos (usuários e familiares); visitas
domiciliares; assembleias, oficinas ...
Espaços para acolher o sofrimento ...
“Os serviços de saúde devem ter como foco o
sofrimento das pessoas, e não a doença ... Se pudermos
acolher todas as coisas que cada pessoa traz, em uma
escuta atenta, para avaliar o que faz cada pessoa sofrer,
mapear esse sofrimento, isso nos ajudará a criar um Projeto
Terapêutico Singular ... Projeto para projetar o sujeito para o
futuro, uma intervenção que permita limitar o sofrimento e
aumentar a normatividade do sujeito, ou seja, seu campo de
possibilidades”.
- Tykanori, em 2013: Seminário sobre
formação e cuidado em rede, Unifesp.
Ampliar o campo de possibilidades
para quem atua na Saúde Mental.
Suicídio ...
Pesquisa “Cuidado, Frágil: aproximações e
distanciamentos de trabalhadores de um CAPS na atenção
ao suicídio”
Serviço de Saúde Mental
Entre outros casos, pessoas que traziam a ideação suicida
ou uma tentativa de suicídio.
Procedimento padrão para
todos os casos: entrevista
de triagem e agendar uma
consulta com o psiquiatra
para a data mais próxima
disponível na agenda (que
poderia ser dali a um ou
três meses depois).
De maio a dezembro de 2012: 304 casos novos,
50 usuários trazem na triagem a queixa de ideação
suicida ou tentativa de suicídio.
2013 (de janeiro a dezembro) : 524 casos novos,
sendo que destes 65 traziam a queixa de ideação
suicida ou tentativa de suicídio.
115 casos, com 47 destes com tentativa de suicídio..
Triagem em fevereiro de 2013: Mulher de 52
anos. Diz que tem depressão desde os 20
anos. Queixa-se de insatisfação e muita
tristeza. Refere tentativa de suicídio (não
especificado quando). Fazia tratamento
particular. Avaliação psiquiátrica agendada
para 75 dias depois. Orientada a procurar o
psiquiatra do PS e a participar de Grupo de
Acolhimento no próprio serviço. Não
retornou.
Triagem em dezembro de 2013: Homem de 33
anos. Vem após 30 dias de internação, devido
tentativa de suicídio por ingestão de
medicamentos e enforcamento. Queixa:
sente-se inquieto, insone, crises de pânico.
Tem avaliação psiquiátrica agendada para
116 dias depois. Encaminhado para
psicoterapia fora do serviço. Não retornou.
Suicídio (OMS): “ato deliberado, intencional, de causar
morte a si mesmo [...]”.
Ideação suicida (considerações sobre a morte e o
morrer), que pode evoluir para um plano suicida e
culminar em um ato suicida, que pode ser fatal (suicídio)
ou não (tentativa de suicídio).
OMS (2000): a cada 40 segundos uma pessoa comete
suicídio no mundo.
O suicídio atinge todas as faixas etárias
e encontra-se, em muitos países, entre
as três principais causas de morte entre
indivíduos de 15 a 44 anos, sendo a
segunda principal causa de morte entre
indivíduos de 10 a 24 anos.
Brasil: 67a. posição na classificação mundial de
ocorrências
Em números absolutos, encontra-se entre os dez
países com mais suicídios.
Estima-se que no Brasil cerca de vinte e cinco
pessoas tirem a própria vida por dia (CVV, 2013).
Números subestimados, pois alguns suicídios são
considerados e/ou registrados como acidentes e
outros como morte com causa indeterminada.
Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas
(familiares, amigos) são fortemente afetadas
social, emocional e economicamente.
Fatores habitualmente encontrados em pessoas com risco
de comportamentos suicidas (Bertolote, “O suicídio e sua
prevenção”):
Fatores predisponentes
- Tentativa (s) prévia (s) de suicídio
- Transtornos psiquiátricos (principalmente depressão,
alcoolismo, esquizofrenia e certos transtornos de
personalidade
- Doenças físicas (terminais, dolorosas, debilitantes,
incapacitantes, desaprovadas socialmente - como a AIDS)
- História familiar de suicídio, alcoolismo ou outros
transtornos psiquiátricos
- Estado civil divorciado, viúvo ou solteiro
- Isolamento social
- Desempregado ou aposentado
- Luto ou abuso sexual na infância
- Alta recente de internação psiquiátrica
Fatores ambientais
- Fácil acesso a métodos de suicídio
Estressores recentes
- Separação conjugal
- Luto
- Conflitos familiares
- Mudança de situação empregatícia ou financeira
- Rejeição por parte de pessoa significativa
- Vergonha e temor de ser considerado culpado
Três características comuns na maioria pessoas sob risco
de suicídio:
1. Ambivalência: Quase sempre querem ao mesmo tempo
alcançar a morte, mas também viver.
2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um
ato impulsivo, desencadeado por eventos negativos do dia a
dia.
3. Rigidez/constrição: Pensam de forma
rígida e drástica: “O único caminho é a
morte”; “Não há mais nada o que fazer”;
“A única coisa que poderia fazer era me
matar”.
(Bertolote in “O suicídio e sua
prevenção”)
- Mito: Quem fala sobre suicídio nunca comete suicídio.
-Realidade: Os pacientes que cometeram suicídio em geral
deram avisos ou sinais de sua intenção. Qualquer ameaça
deve ser levada a sério.
- Mito: Falar sobre suicídio com um paciente pode provocar
um comportamento suicida.
-Realidade: Falar sobre suicídio em geral reduz a ansiedade
ligada a esse tema, o que pode fazer que o paciente se sinta
compreendido e aliviado.
- Mito: A ideia comum de que a ameaça de suicídio é feita
apenas para manipular as pessoas ou chamar a atenção.
-Realidade: Entende-se que uma ameaça de suicídio sempre
deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica
que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda.
É importante estar atento às frases de alerta como: “Eu
preferia estar morto”; “Eu não posso fazer nada”; “Eu não
aguento mais”; “Eu sou um perdedor e um peso pros
outros”; “Os outros vão ser mais felizes sem mim”. Por trás
delas podem estar sentimentos de pessoas que podem estar
pensando em suicídio.
São quatro os sentimentos principais de quem pensa em
se matar: depressão, desesperança, desamparo e desespero
(regra dos 4D).
Solomon (2014), jornalista, a partir de sua própria experiência com
a depressão, propõe no livro “O demônio do meio-dia” uma
classificação que divide os principais perfis suicidas em quatro
grupos: 1) aqueles que cometem suicídio sem pensar, pessoas
impulsivas e mais propensas ao suicídio por um evento externo
específico;
2) aqueles que cometem suicídio como vingança, desejando não o
fim da existência, mas o desaparecimento;
3) Aqueles que cometem suicídio
considerando a morte como única
fuga possível para problemas
insuportáveis; estes costumam
considerar também que sua morte
vai tirar o peso de sua condição para
as pessoas que a amam;
4) Pessoas que cometem o suicídio com um tipo de lógica
racional, devido a doenças físicas ou mudanças de
circunstâncias de vida; “acreditam que a dor de viver não
compensa”.
Em dez anos, suicídio de crianças e pré-
adolescentes cresceu 40% no Brasil
http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-
dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes-
cresceu-40-no-brasil.html
“Dados do Mapa da Violência, do
Ministério da Saúde. De 2002 a 2012 houve
um crescimento de 40% da taxa de
suicídio entre crianças e pré-adolescentes
com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa
etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de
33,5%.
„Ao contrário do adulto, que normalmente
planeja a ação, o adolescente age no
impulso. São comportamentos suicidas
para fugir de determinada situação que
vez ou outra acabam mesmo em morte‟,
afirma a psiquiatra Maria Fernanda
Fávaro. ”
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: Manual para Professores e Educadores
"Quando possível, a melhor abordagem para a prevenção do suicídio na escola
é a elaboração de um trabalho em grupo que inclui professores,
médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais da própria escola,
trabalhando em conjunto com agentes da comunidade.
Não é porque os casos de tentativa de suicídio e ideação
suicida são encaminhados para a Saúde Mental que podemos
dizer que todos se relacionam à transtornos psiquiátricos.
Hillman ( in “Suicídio e Alma”, 2011, p. 24): “Como qualquer
golpe do destino – amor, tragédia, glória – somente quando é
distorcido, quando forma parte de uma síndrome psicótica é que
o suicídio torna-se um caso para o psiquiatra. Em si mesmo, o
suicídio não é nem síndrome, nem sintoma. [...] o suicídio [...]
poderia aparecer, e de fato aparece, dentro do curso normal de
qualquer vida”.
Eliane Brum (2013), no texto “O doping dos pobres:
As pessoas estão sendo viciadas em ansiolíticos nos postos
de saúde, afirma uma psicóloga. „São levadas a acreditar que
o remédio pode acabar com a sua dor, uma dor que tem
causas muito concretas. Não resolve, claro. Um exemplo. Uma
mulher tinha dois empregos, um de dia, outro de noite. O que
ganhava não dava para pagar as contas. Os ônibus que
pegava para chegar até esses empregos eram lotados. Ela
vivia num barraco. Aí procurou o posto de saúde e lhe
trataram com antidepressivos. Não adiantou. Deram-lhe outro
medicamento. Nada. Um dia, sem nenhuma esperança ou
recurso, ela tentou suicídio‟, conta. A questão é que não há
promoção de saúde, porque isso implicaria se preocupar com
projeto de vida, com perspectiva de vida, com melhoria das
condições de vida. O que há é medicalização da vida‟.
“Eu tive uma experiência [...] que marcou assim, a certeza do
desejo do suicídio. Não era uma pessoa psicótica, não tinha
nenhum quadro psicótico, e foi um desespero social, de não ter
mais emprego, de não ter mais como levar comida pra casa, e
essa pessoa tentou suicídio esfaqueando o abdômen, e foi pra
UTI e assim que ele recobrou a consciência, ele com as próprias
mãos arrebentou os pontos ... Pra „retentar‟ o suicídio. Então eu
digo que são vários suicídios. Que alguns que eu já vi nessa
história de Saúde Mental, algumas tentativas, a pessoa referindo
um arrependimento posterior, e esse não tinha o
arrependimento, tinha o desejo marcante dele, por ele tentar com
as próprias mãos dentro de uma UTI. [Era] um homem, um pai de
família com desemprego há muito tempo. É, tem muito a ver eu
acho com o homem como provedor, esse papel que ele tem na
sociedade, de prover a família, então perde o sentido, né, ele não
deve se achar mais ninguém, e tenta ser ninguém dessa forma
brusca. [...] Depois ele seguiu no NAPS e o pessoal da
Assistência Social conseguiu lá uma colocação pra ele e aí ele
foi saindo desse quadro pela questão social, não era uma
questão psiquiátrica em si, né. Acabou sendo.” – Entrevistada
Nem tudo é apenas psicopatologia!
Dr. Edwin Schneidman, responsável pela abertura do primeiro centro de
prevenção ao suicídio nos Estados Unidos em 1958, diz:
'Atualmente, o suicídio é identificado como um tipo de depressão, o que
intelectualmente vem da Psiquiatria do século XIX. [...] Eu acredito que existe
uma enorme quantidade de dor psicológica no mundo sem suicídio, mas não
há suicídio sem uma enorme dor psicológica.
O nome dessa dor é dor psíquica, ou seja, localizada na mente do indivíduo. É
a dor da emoção negativa como vergonha e solidão. O suicídio é um estado
de perturbação aguda, a pessoa está infeliz sobre o status quo e quer
modificá-lo, portanto, o ato é um esforço no sentido de parar o fluxo da dor.
Minha abordagem clínica não é estabelecer um diagnóstico psiquiátrico, nem
mesmo saber seu histórico familiar. Ambos são importantes, mas não são
centrais. O foco é responder a duas perguntas: 'onde dói?' e 'como posso
ajudá-lo?'. A maneira de prevenir o suicídio é identificar a fonte da dor, depois
endereçá-la corretamente. O suicídio não é uma doença do cérebro, é uma
perturbação da mente, uma tempestade psicológica".
In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula
Fontenelle.
As intervenções em
saúde mental deveriam
considerar a
especificidade dessa
demanda e promover
possibilidades de
modificar e qualificar as
condições e modos de
vida desses sujeitos,
tendo como foco a
qualidade de vida e de
saúde e não se
restringindo à cura de
doenças.
90% dos casos de
suicídio poderiam ser
evitados se houvesse
uma rede de atendimento
adequado essas pessoas
(CVV, 2013).
"Em síntese, podemos dizer que os elementos básicos do
atendimento de uma pessoa em crise suicida são:
• ouvir. Em geral, precisa-se ouvir muito, pois o paciente necessita
falar sobre seus pensamentos e sentimentos.
• aceitação dos próprios sentimentos, incluindo-se tolerância à
ambivalência (coexistência de sentimentos opostos). O
profissional deve se aliar à parte do paciente que deseja
sobreviver;
• um ponto de apoio, como uma boia a qual a dupla terapeuta/
paciente possa tomar fôlego e começar a organizar o caos
emocional. Um ponto de esperança, poderíamos também dizer."
Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica
- José Manoel Bertolote, Carolina de Mello-Santos e Neury José Botega.
SÍNTESE:
VÍDEO
SOBREVIVÊNCIAS
– O SUICÍDIO SEM TABU
https://www.youtube.com/wa
tch?v=r-nMzrlAZKA
Conteúdo do curso Pós em Saúde Mental
PPSSM - Políticas Públicas Sociais de Saúde Mental
PDH - Psicologia do Desenvolvimento Humano
FHPS - Fundamentos Históricos do Processo Saúde - Doença
Mental e Sociedade
EB - Ética e Bioética
MPC - Metodologia de Pesquisa Científica
LSM - Legislação em Saúde Mental
DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental
BCRP - Bases Conceituais da Reforma Psiquiatrica
DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental
APUAD - Atenção Psicossocial de Uso de Álcool e Drogas
SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência
EIT - Emergências e Intervenções Terapêuticas
SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência
ART - Assistência e Recursos Terapêuticos
EASM - Epidemiologia Aplicada a Saúde Mental
RP - Reabilitação Psicossocial
Saúde Mental também é uma busca incessante ...
Por vários caminhos ...
Onde sempre se deve procurar
“ampliar seu campo de possibilidades”.
Blog Cuidado, frágil: falando sobre suicídio
http://falandosobresuicidio.blogspot.com.br
Email: lucianacescon@yahoo.com.br
“Conheça todas as teorias,
domine todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana,
seja apenas outra alma humana.”
- Carl G. Jung

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Suicídio e saúde mental

  • 1. SUICÍDIO: UM DESAFIO PARA A SAÚDE MENTAL Luciana França Cescon Psicóloga – CRP 98.202 Especialista em Saúde Pública (Atualize) Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde (UNIFESP)
  • 3. Saúde Mental : campo de conhecimento e de atuação técnica no âmbito das políticas públicas de saúde. Conceito de saúde de acordo com a OMS: “Estado de completo bem- estar físico, mental e social”.
  • 4. O autor faz uma reflexão sobre o percurso que vai das bases da psiquiatria – e do manicômio – aos projetos atuais, que buscam construir um „novo lugar‟ para as pessoas em sofrimento mental.
  • 5. Séc. IV: Hospital (de hospitalidade, hospedagem) : instituição de caridade que oferecia abrigo, alimentação e assistência religiosa aos pobres, mendigos, desabrigados e doentes. Aos poucos, o hospital transforma-se em instituição médica. Loucura com muitos significados: demônios, místicos, comédia e tragédia, erro e verdade.
  • 6. Séc. XVII: Hospital Geral – função de ordem social. “O Grande Enclausuramento”: isolamento e segregação. Internações determinadas por autoridades reais ou judiciárias.
  • 7. Revolução Francesa – hospital medicalizado. A intervenção médica passa de eventual para constante, o que permite agrupar as doenças e observá-las. Modelo biomédico da medicina ocidental: relação com a doença como objeto abstrato e natural, e não com o sujeito da experiência da doença.
  • 8. Philippe Pinel: “pai da Psiquiatria” Hospital Geral em Paris (1793) Alienado: alguém de fora, estrangeiro. Fora de si, fora da realidade ... Alienare: tornar-se outro. “Se as causas da alienação mental estão presentes no meio social, é o isolamento que permite afastá-las” ...
  • 9. Alienismo: pioneiro no estudo do que hoje conhecemos por “transtornos mentais”. “Alienação mental era conceituada como um distúrbio no âmbito das paixões, capaz de produzir desarmonia na mente e na possibilidade objetiva do indivíduo perceber a realidade”. (Amarante, 2007, p. 30) Instituição disciplinar, com regras, horários e o trabalho terapêutico.
  • 10. Ideia de loucura como perda da capacidade de discernimento entre o erro e a realidade: periculosidade do louco = atitude social de medo e discriminação. “Todo alienado constitui de algum modo um perigo para seus próximos, porém em especial para si mesmo”. Kraepelin em 1901, em sua “Primeira lição da Introdução à Clínica Psiquiátrica”.
  • 11. BRASIL: “O Alienista”, de Machado de Assis - crítica. "Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido” Os primeiros asilos ficaram rapidamente superlotados. Funções sociais de segregação de segmentos marginalizados da população ... Denúncias de violência contra os internados ... Dificuldade de estabelecer os limites entre a loucura e a sanidade ...
  • 12.
  • 13. Proposta : “Colônias de Alienados” Séc. VI na Irlanda. Princesa Dymfna – misto de lenda e história. Santa Protetora dos Insanos. Romarias de familiares e seus loucos, em busca de uma cura milagrosa. Famílias pagavam aos aldeãos para que cuidassem de seus parentes até a festa do ano seguinte. Alienados começaram a trabalhar e a se recuperarem pelo trabalho.
  • 14. Alienistas brasileiros (Início do século XX) Primeiras colônias brasileiras logo após a Proclamação da República. O trabalho seria o “meio terapêutico mais precioso, que estimulava a vontade e a energia e consolidava a resistência cerebral fazendo desaparecer os vestígios do delírio.” Colônia de Juquery: chegou a ter 16.000 internos. Logo, as colônias mostram-se iguais aos asilos tradicionais.
  • 15. Depois das Duas Guerras Mundiais: percebe-se que as condições de vida oferecidas aos pacientes psiquiátricos não eram diferentes daquelas dos campos de concentração - absoluta falta de dignidade humana.
  • 16. Experiências de reforma: Comunidade Terapêutica (Inglaterra – Década de 50) Proposta de qualificar o hospital psiquiátrico. A função terapêutica deveria ser assumida por todos, fossem técnicos, pacientes, familiares ... Democratização das relações.
  • 17. Psicoterapia Institucional ou Coletivo Terapêutico (França)  Ampliação de referenciais teóricos  Acolhimento: importância da equipe e da instituição na construção de suporte e referência para os internos no hospital.  Resgate da noção de “trabalho terapêutico”: oficinas de trabalho ou arte - possibilidades de participação e de responsabilidade.  Clube Terapêutico: organização autônoma gerida por pacientes e técnicos, que promovia encontros, festas, passeios ...
  • 18. Psiquiatria de Setor Final dos anos 50 e início dos anos 60. Necessidade de trabalho externo, de apoio após alta hospitalar; para evitar reinternações ou novas internações. Centros de Saúde Mental (CSM): regionalização. Vantagens: possibilidade de contatos entre os internos; contatos entre familiares de pacientes; o acompanhamento terapêutico poderia ser realizado pela mesma equipe multiprofissional, dentro e fora do hospital. Marco: ideia do trabalho em equipe; o tratamento deixa de ser visto como exclusividade do psiquiatra.
  • 19. Psiquiatria Preventiva (Saúde Mental Comunitária) (EUA) Censo em 1955: precárias condições de assistência, violência e maus tratos nos hospitais psiquiátricos. 1963: decreto do Presidente Kennedy, para mudanças na saúde mental. Objetivo: reduzir as doenças mentais nas comunidades e promover o estado de saúde mental.
  • 20. Todas as doenças mentais poderiam ser prevenidas, desde que detectadas precocemente. Uma pessoa suspeita de ter um distúrbio mental deveria ser encaminhada a um psiquiatra para investigação diagnóstica, por iniciativa própria, de sua família ou amigos, de um profissional, juiz ou superior no trabalho ...
  • 21. Saúde Mental Comunitária: equipes de saúde mental passam a exercer um papel de consultores comunitários, identificando e intervindo em crises individuais, familiares e sociais. „Desinstitucionalização‟: redução do ingresso de pacientes em hospitais psiquiátricos; redução do tempo médio de permanência hospitalar; promoção de altas hospitalares. Centros de saúde mental, oficinas protegidas, lares abrigados, hospitais- dia, hospitais-noite, enfermarias e leitos em hospitais gerais, etc.
  • 22. Movimentos Antipsiquiatria Final dos anos 50 na Inglaterra Ronald Laing e David Cooper: as pessoas ditas loucas eram oprimidas e violentadas, não apenas nas instituições psiquiátricas, onde deveriam estar para receber tratamento, mas também na família e na sociedade. Antipsiquiatria: termo que propunha compreender que a experiência dita patológica ocorre não no indivíduo na condição de corpo ou mente doente, mas nas relações estabelecidas entre ele e a sociedade.
  • 23. Psiquiatria Democrática (Franco Basaglia – Itália, década de 60) Serviços substitutivos ao modelo manicomial Centros de Saúde Mental (CSM) regionalizados: assumiam a integralidade dos cuidados em saúde mental. Possibilidades de inclusão social: cooperativas de trabalho e construção de residências para ex-internos. Produção social: grupos musicais, de teatro, oficinas de trabalho ...
  • 24. Basaglia considerava que a psiquiatria passou a se ocupar da doença e não do sujeito que a vivencia ... “Os tratados de psiquiatria classificam as doenças mentais como sendo objetos da natureza. Analisam os tipos, suas semelhanças e distinções: „as esquizofrenias dividem-se em ...‟; „são de tantos tipos as neuroses ...‟ Ocuparam-se das doenças e esqueceram-se dos sujeitos que ficaram apenas como pano de fundo das mesmas.” (Amarante, 2007, p. 66).
  • 25. Reforma Psiquiátrica no Brasil Início no final da década de 1970, com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes. Declaração de Caracas – 1990 Direitos – Lei 10.216 (1991) Santos tem destaque neste processo – Intervenção da Casa de Saúde Anchieta (1989) Serviços de Atenção Psicossocial Dia Nacional da Luta Antimanicomial – 18 de Maio
  • 26. RAPS
  • 27. Serviços de Saúde Mental: desinstitucionalização de pacientes crônicos internados, tratamento de casos graves, crises ... “Uma grande parte do sofrimento psíquico menos grave continua sendo objeto do trabalho de ambulatório e da Atenção Básica” (Neves, 2012, p. 113). Apoio matricial : responsabilização compartilhada.
  • 28. CAPS: Serviços destinados a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Busca integrá-los a um ambiente social e cultural concreto (seu território). Principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica. Intervenções terapêuticas: Projeto terapêutico; atendimento intensivo; tratamento medicamentoso; atendimentos em grupos (usuários e familiares); visitas domiciliares; assembleias, oficinas ...
  • 29.
  • 30. Espaços para acolher o sofrimento ... “Os serviços de saúde devem ter como foco o sofrimento das pessoas, e não a doença ... Se pudermos acolher todas as coisas que cada pessoa traz, em uma escuta atenta, para avaliar o que faz cada pessoa sofrer, mapear esse sofrimento, isso nos ajudará a criar um Projeto Terapêutico Singular ... Projeto para projetar o sujeito para o futuro, uma intervenção que permita limitar o sofrimento e aumentar a normatividade do sujeito, ou seja, seu campo de possibilidades”. - Tykanori, em 2013: Seminário sobre formação e cuidado em rede, Unifesp. Ampliar o campo de possibilidades para quem atua na Saúde Mental.
  • 32. Pesquisa “Cuidado, Frágil: aproximações e distanciamentos de trabalhadores de um CAPS na atenção ao suicídio” Serviço de Saúde Mental Entre outros casos, pessoas que traziam a ideação suicida ou uma tentativa de suicídio. Procedimento padrão para todos os casos: entrevista de triagem e agendar uma consulta com o psiquiatra para a data mais próxima disponível na agenda (que poderia ser dali a um ou três meses depois).
  • 33. De maio a dezembro de 2012: 304 casos novos, 50 usuários trazem na triagem a queixa de ideação suicida ou tentativa de suicídio. 2013 (de janeiro a dezembro) : 524 casos novos, sendo que destes 65 traziam a queixa de ideação suicida ou tentativa de suicídio. 115 casos, com 47 destes com tentativa de suicídio..
  • 34. Triagem em fevereiro de 2013: Mulher de 52 anos. Diz que tem depressão desde os 20 anos. Queixa-se de insatisfação e muita tristeza. Refere tentativa de suicídio (não especificado quando). Fazia tratamento particular. Avaliação psiquiátrica agendada para 75 dias depois. Orientada a procurar o psiquiatra do PS e a participar de Grupo de Acolhimento no próprio serviço. Não retornou. Triagem em dezembro de 2013: Homem de 33 anos. Vem após 30 dias de internação, devido tentativa de suicídio por ingestão de medicamentos e enforcamento. Queixa: sente-se inquieto, insone, crises de pânico. Tem avaliação psiquiátrica agendada para 116 dias depois. Encaminhado para psicoterapia fora do serviço. Não retornou.
  • 35. Suicídio (OMS): “ato deliberado, intencional, de causar morte a si mesmo [...]”. Ideação suicida (considerações sobre a morte e o morrer), que pode evoluir para um plano suicida e culminar em um ato suicida, que pode ser fatal (suicídio) ou não (tentativa de suicídio). OMS (2000): a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. O suicídio atinge todas as faixas etárias e encontra-se, em muitos países, entre as três principais causas de morte entre indivíduos de 15 a 44 anos, sendo a segunda principal causa de morte entre indivíduos de 10 a 24 anos.
  • 36. Brasil: 67a. posição na classificação mundial de ocorrências Em números absolutos, encontra-se entre os dez países com mais suicídios. Estima-se que no Brasil cerca de vinte e cinco pessoas tirem a própria vida por dia (CVV, 2013). Números subestimados, pois alguns suicídios são considerados e/ou registrados como acidentes e outros como morte com causa indeterminada. Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas (familiares, amigos) são fortemente afetadas social, emocional e economicamente.
  • 37. Fatores habitualmente encontrados em pessoas com risco de comportamentos suicidas (Bertolote, “O suicídio e sua prevenção”): Fatores predisponentes - Tentativa (s) prévia (s) de suicídio - Transtornos psiquiátricos (principalmente depressão, alcoolismo, esquizofrenia e certos transtornos de personalidade - Doenças físicas (terminais, dolorosas, debilitantes, incapacitantes, desaprovadas socialmente - como a AIDS) - História familiar de suicídio, alcoolismo ou outros transtornos psiquiátricos - Estado civil divorciado, viúvo ou solteiro - Isolamento social - Desempregado ou aposentado - Luto ou abuso sexual na infância - Alta recente de internação psiquiátrica
  • 38. Fatores ambientais - Fácil acesso a métodos de suicídio Estressores recentes - Separação conjugal - Luto - Conflitos familiares - Mudança de situação empregatícia ou financeira - Rejeição por parte de pessoa significativa - Vergonha e temor de ser considerado culpado
  • 39. Três características comuns na maioria pessoas sob risco de suicídio: 1. Ambivalência: Quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver. 2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um ato impulsivo, desencadeado por eventos negativos do dia a dia. 3. Rigidez/constrição: Pensam de forma rígida e drástica: “O único caminho é a morte”; “Não há mais nada o que fazer”; “A única coisa que poderia fazer era me matar”. (Bertolote in “O suicídio e sua prevenção”)
  • 40. - Mito: Quem fala sobre suicídio nunca comete suicídio. -Realidade: Os pacientes que cometeram suicídio em geral deram avisos ou sinais de sua intenção. Qualquer ameaça deve ser levada a sério. - Mito: Falar sobre suicídio com um paciente pode provocar um comportamento suicida. -Realidade: Falar sobre suicídio em geral reduz a ansiedade ligada a esse tema, o que pode fazer que o paciente se sinta compreendido e aliviado. - Mito: A ideia comum de que a ameaça de suicídio é feita apenas para manipular as pessoas ou chamar a atenção. -Realidade: Entende-se que uma ameaça de suicídio sempre deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda.
  • 41. É importante estar atento às frases de alerta como: “Eu preferia estar morto”; “Eu não posso fazer nada”; “Eu não aguento mais”; “Eu sou um perdedor e um peso pros outros”; “Os outros vão ser mais felizes sem mim”. Por trás delas podem estar sentimentos de pessoas que podem estar pensando em suicídio. São quatro os sentimentos principais de quem pensa em se matar: depressão, desesperança, desamparo e desespero (regra dos 4D).
  • 42. Solomon (2014), jornalista, a partir de sua própria experiência com a depressão, propõe no livro “O demônio do meio-dia” uma classificação que divide os principais perfis suicidas em quatro grupos: 1) aqueles que cometem suicídio sem pensar, pessoas impulsivas e mais propensas ao suicídio por um evento externo específico; 2) aqueles que cometem suicídio como vingança, desejando não o fim da existência, mas o desaparecimento; 3) Aqueles que cometem suicídio considerando a morte como única fuga possível para problemas insuportáveis; estes costumam considerar também que sua morte vai tirar o peso de sua condição para as pessoas que a amam; 4) Pessoas que cometem o suicídio com um tipo de lógica racional, devido a doenças físicas ou mudanças de circunstâncias de vida; “acreditam que a dor de viver não compensa”.
  • 43. Em dez anos, suicídio de crianças e pré- adolescentes cresceu 40% no Brasil http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em- dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes- cresceu-40-no-brasil.html “Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde. De 2002 a 2012 houve um crescimento de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%. „Ao contrário do adulto, que normalmente planeja a ação, o adolescente age no impulso. São comportamentos suicidas para fugir de determinada situação que vez ou outra acabam mesmo em morte‟, afirma a psiquiatra Maria Fernanda Fávaro. ”
  • 44. PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: Manual para Professores e Educadores "Quando possível, a melhor abordagem para a prevenção do suicídio na escola é a elaboração de um trabalho em grupo que inclui professores, médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais da própria escola, trabalhando em conjunto com agentes da comunidade.
  • 45. Não é porque os casos de tentativa de suicídio e ideação suicida são encaminhados para a Saúde Mental que podemos dizer que todos se relacionam à transtornos psiquiátricos. Hillman ( in “Suicídio e Alma”, 2011, p. 24): “Como qualquer golpe do destino – amor, tragédia, glória – somente quando é distorcido, quando forma parte de uma síndrome psicótica é que o suicídio torna-se um caso para o psiquiatra. Em si mesmo, o suicídio não é nem síndrome, nem sintoma. [...] o suicídio [...] poderia aparecer, e de fato aparece, dentro do curso normal de qualquer vida”.
  • 46. Eliane Brum (2013), no texto “O doping dos pobres: As pessoas estão sendo viciadas em ansiolíticos nos postos de saúde, afirma uma psicóloga. „São levadas a acreditar que o remédio pode acabar com a sua dor, uma dor que tem causas muito concretas. Não resolve, claro. Um exemplo. Uma mulher tinha dois empregos, um de dia, outro de noite. O que ganhava não dava para pagar as contas. Os ônibus que pegava para chegar até esses empregos eram lotados. Ela vivia num barraco. Aí procurou o posto de saúde e lhe trataram com antidepressivos. Não adiantou. Deram-lhe outro medicamento. Nada. Um dia, sem nenhuma esperança ou recurso, ela tentou suicídio‟, conta. A questão é que não há promoção de saúde, porque isso implicaria se preocupar com projeto de vida, com perspectiva de vida, com melhoria das condições de vida. O que há é medicalização da vida‟.
  • 47. “Eu tive uma experiência [...] que marcou assim, a certeza do desejo do suicídio. Não era uma pessoa psicótica, não tinha nenhum quadro psicótico, e foi um desespero social, de não ter mais emprego, de não ter mais como levar comida pra casa, e essa pessoa tentou suicídio esfaqueando o abdômen, e foi pra UTI e assim que ele recobrou a consciência, ele com as próprias mãos arrebentou os pontos ... Pra „retentar‟ o suicídio. Então eu digo que são vários suicídios. Que alguns que eu já vi nessa história de Saúde Mental, algumas tentativas, a pessoa referindo um arrependimento posterior, e esse não tinha o arrependimento, tinha o desejo marcante dele, por ele tentar com as próprias mãos dentro de uma UTI. [Era] um homem, um pai de família com desemprego há muito tempo. É, tem muito a ver eu acho com o homem como provedor, esse papel que ele tem na sociedade, de prover a família, então perde o sentido, né, ele não deve se achar mais ninguém, e tenta ser ninguém dessa forma brusca. [...] Depois ele seguiu no NAPS e o pessoal da Assistência Social conseguiu lá uma colocação pra ele e aí ele foi saindo desse quadro pela questão social, não era uma questão psiquiátrica em si, né. Acabou sendo.” – Entrevistada Nem tudo é apenas psicopatologia!
  • 48. Dr. Edwin Schneidman, responsável pela abertura do primeiro centro de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos em 1958, diz: 'Atualmente, o suicídio é identificado como um tipo de depressão, o que intelectualmente vem da Psiquiatria do século XIX. [...] Eu acredito que existe uma enorme quantidade de dor psicológica no mundo sem suicídio, mas não há suicídio sem uma enorme dor psicológica. O nome dessa dor é dor psíquica, ou seja, localizada na mente do indivíduo. É a dor da emoção negativa como vergonha e solidão. O suicídio é um estado de perturbação aguda, a pessoa está infeliz sobre o status quo e quer modificá-lo, portanto, o ato é um esforço no sentido de parar o fluxo da dor. Minha abordagem clínica não é estabelecer um diagnóstico psiquiátrico, nem mesmo saber seu histórico familiar. Ambos são importantes, mas não são centrais. O foco é responder a duas perguntas: 'onde dói?' e 'como posso ajudá-lo?'. A maneira de prevenir o suicídio é identificar a fonte da dor, depois endereçá-la corretamente. O suicídio não é uma doença do cérebro, é uma perturbação da mente, uma tempestade psicológica". In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula Fontenelle.
  • 49. As intervenções em saúde mental deveriam considerar a especificidade dessa demanda e promover possibilidades de modificar e qualificar as condições e modos de vida desses sujeitos, tendo como foco a qualidade de vida e de saúde e não se restringindo à cura de doenças. 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados se houvesse uma rede de atendimento adequado essas pessoas (CVV, 2013).
  • 50. "Em síntese, podemos dizer que os elementos básicos do atendimento de uma pessoa em crise suicida são: • ouvir. Em geral, precisa-se ouvir muito, pois o paciente necessita falar sobre seus pensamentos e sentimentos. • aceitação dos próprios sentimentos, incluindo-se tolerância à ambivalência (coexistência de sentimentos opostos). O profissional deve se aliar à parte do paciente que deseja sobreviver; • um ponto de apoio, como uma boia a qual a dupla terapeuta/ paciente possa tomar fôlego e começar a organizar o caos emocional. Um ponto de esperança, poderíamos também dizer." Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica - José Manoel Bertolote, Carolina de Mello-Santos e Neury José Botega.
  • 51. SÍNTESE: VÍDEO SOBREVIVÊNCIAS – O SUICÍDIO SEM TABU https://www.youtube.com/wa tch?v=r-nMzrlAZKA
  • 52.
  • 53. Conteúdo do curso Pós em Saúde Mental PPSSM - Políticas Públicas Sociais de Saúde Mental PDH - Psicologia do Desenvolvimento Humano FHPS - Fundamentos Históricos do Processo Saúde - Doença Mental e Sociedade EB - Ética e Bioética MPC - Metodologia de Pesquisa Científica LSM - Legislação em Saúde Mental DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental BCRP - Bases Conceituais da Reforma Psiquiatrica DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental APUAD - Atenção Psicossocial de Uso de Álcool e Drogas SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência EIT - Emergências e Intervenções Terapêuticas SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência ART - Assistência e Recursos Terapêuticos EASM - Epidemiologia Aplicada a Saúde Mental RP - Reabilitação Psicossocial
  • 54. Saúde Mental também é uma busca incessante ... Por vários caminhos ... Onde sempre se deve procurar “ampliar seu campo de possibilidades”.
  • 55. Blog Cuidado, frágil: falando sobre suicídio http://falandosobresuicidio.blogspot.com.br Email: lucianacescon@yahoo.com.br
  • 56. “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” - Carl G. Jung