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Pink Floyd e a Filosofia?


02/13

Colégio Internato dos Carvalhos

Luís Afonso Brandão
Introdução

Será realmente possível relacionar um tema tão universal como a filosofia com a música dos
Pink Floyd? Apesar desta sugestão parecer um pouco difícil de aceitar, a verdade é que a
filosofia e o pensamento filosófico são algo que nos acompanha toda a vida. Podemos
facilmente ouvir as músicas dos Pink Floyd apreciando-as somente ao nível musical, mas uma
análise mais aprofundada das letras das músicas revela-nos um ideia, uma moral, e muitas
vezes uma crítica à própria sociedade. A fantástica combinação da música existencial,
cinemática e não comercial, e as letras que acompanham a melodia, pode muitas vezes servir
de convite ao diálogo filosófico e a conversas intelectuais. Temas levantados por” Dark Side of
the Moon”, tais como a passagem do tempo, a morte ou mesmo a loucura, tinham já sido
cuidadosamente analisados pelos antigos gregos.

Neste trabalho, proponho-me abordar sucintamente o controverso álbum e filme “ The Wall “,
e o aclamado “The Dark Side Of The Moon” e integrá-los na matéria de Filosofia do 10º ano.
Estou ciente de que não conseguirei abordar todas as possíveis interpretações que possam ser
extraídas destas músicas, mas espero conseguir resumir o ponto de vista filosófico que
consegui assimilar das mesmas. Penso que as letras de Roger Waters dão-nos a liberdade de
encontrar nelas a nossa própria filosofia, e por isso a sua compreensão atende muito à
ambiguidade e à individualidade.




                                                                                             1
Pink Floyd- Breve apresentação


        Os Pink Floyd foram uma banda de rock progressivo, originária de Inglaterra, Londres,
em 1965 e marcada pelo uso de letras filosóficas e espetáculos extremamente elaborados. De
entre os seus maiores sucessos destacam-se The Dark Side Of the Moon (1973), Wish You
Were Here (1975), Animals (1977), The Wall (1979) and The Final Cut (1983). O seu
alinhamento era constituído por Syd Barett, David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters, Richard
Wright, e o grupo esteve ativo de 1965 a 1995. Em 2005 os membros da banda reuniram-se para
tocarem no Live8, para apelar aos líderes mundiais para que perdoassem a dívida financeira aos
países Africanos.


        A sua música marcou a geração dos anos 80 e o seu legado musical é muitas vezes
associado à imagem do foco de luz que atravessa um prisma e que se divide nas cores do arco-íris,
e que serviu de capa para o Álbum The Dark Side of the Moon. Esta imagem pode ser interpretada
como a separação, a desintegração do sistema de valores humanos ou simplesmente o
desconcerto do mundo.




                                                Decomposição da luz solar, capa do album
                                                The Dark Side of The Moon (1973).




                                                                                               2
The Wall

The Wall conta a história de Pink, estrela mundial de rock, que irá entrar numa crise psicótica,
com as suas próprias memórias. Em criança, Pink fora um rapaz normal, sufocado pela atenção
da sua mãe e as suas tentativas de compensar a falta de uma figura paterna que morrera na
segunda guerra mundial. Na escola, a sua criatividade é contida por um professor estúpido e
cruel, mas que na verdade está apenas por sua vez a descarregar a dor que lhe é causada pela
sua mulher psicopata. Em adulto Pink casa-se com uma bela mulher que o irá trair, este sente-
se cada vez mais pressionado pelos agentes dos seus traumas, e vai cada vez mais perdendo o
contacto com a realidade, até que decide isolar-se de tudo e todos e construir um muro.

Perante toda a dor que sofreu ao longo da sua vida através das relações que estabeleceu com
outras pessoas, Pink decide deixar de comunicar com todas as pessoas que lhe são próximas,
para evitar sofrer outra vez. No entanto, é óbvio que ninguém é capaz de viver assim e ao
isolar-se na sua própria cabeça, Pink vai destruindo a sua sanidade mental, é levado a
“tribunal” e julgado pelos agentes da sua instabilidade mental. O juiz declara então que o
muro deve ser derrubado e condena Pink à dor do convívio humano.

The Wall levanta uma questão filosófica extremamente pertinente: será que a não integração
de um indivíduo na sociedade pode ser resolvida através da criação de um universo alternativo
na nossa própria mente? Ao recusarmos o contacto com os nossos semelhantes estamos a
renunciar a uma parte de nós mesmos, a uma constituinte do comportamento humano, que é
a comunicação.Pink luta para ser Deus do seu próprio mundo, e para ultrapassar a dor trazida
pelas suas memórias, de maneira a encontrar paz de espírito ou simplesmente uma saída
rápida da situação em que se encontra. A atenção exagerada da sua mãe, a falta do seu pai, a
opressão escolar foi condicionante da ação de Pink e tornaram-se nos próprios tijolos que este
usou para se alienar. No entanto, a atitude de Pink não irá resolver os seus problemas, e como
vemos no filme, mesmo dentro do seu muro Pink continua a ser perseguido pelas suas
memórias, e recusa-se a lidar com os seus problemas, o que irá criar para ele uma situação
insustentável.

O amor e o afeto são algo que parte da natureza do ser humano, e não existe amor sem
sofrimento. Todos nós somos vítimas do amor, e Pink não é o único sofredor no mundo, mas a
debilidade mental não lhe permite esquecer o passado e olhar em frente. Na verdade, o
sofrimento de Pink é derivado do sofrimento da sua mãe pela perda do seu marido, do
sofrimento do professor causado pela sua mulher, e o sofrimento que a namorada de Pink lhe
causa é talvez resultante da falta de atenção que este lhe dá por estar demasiado isolado
dentro do seu próprio mundo, e trata-se portanto do sofrimento autoinfligido de Pink. Todos
nós nos sujeitamos ao amor e portanto todos nos sujeitamos ao consequente sofrimento.
Todos nós, por exemplo, criamos laços com outras pessoas, mas sabemos que eventualmente
todas essas pessoas irão falecer. E no entanto sujeitamo-nos a essa dor pelos momentos que



                                                                                              3
iremos passar com essa pessoa, e que farão parte do enriquecimento da nossa experiência
enquanto humanos.



De todo o álbum, a música que teve indiscutivelmente maior impacto foi” Another brick in the
Wall pt2”, e o seu famoso refrão “We don’t need no education”. Se extrairmos este verso da
letra e o analisarmos individualmente, é possível afirmar com toda a certeza que se trata de
algo sem sentido, pois o conhecimento e a aprendizagem são atitudes características e
indispensáveis do ser humano. Mas seria mesmo isto que Waters quereria transmitir? O verso
que imediatamente se segue a este é” We don’t need to false control”. Percebemos então que
o alvo da crítica de Roger Waters não é o conceito de escola ou o ideal de educação, mas sim o
sistema de educação contemporâneo, mais precisamente o sistema de educação britânico. O
que o músico talvez quisesse dizer fosse algo como “We don’t need this education”, referindo-
se mais concretamente à opressão da criatividade, à fútil uniformização dos alunos a que ele
próprio esteve sujeito, retratando a escola como uma fábrica de robôs, e tornando-os em
peças para um muro que separa as pessoas.Com este tema, Waters cativou imensos fãs que se
conseguiam rever nessa mensagem.

O muro em The Wall, pode também ser destacado como o distanciamento dos Pink Floyd aos
fãs que assistiam aos concertos, mas que não entendiam o verdadeiro significado da sua
música, e estavam la apenas pela “festa”, e para ficarem “confortably numb”. E esse
comportamento levou a que Roger Waters tivesse a ideia de construir um muro que separava
a banda da audiência, e que lhes permitia manter a distância e a sua identidade, no espetáculo
The Wall ao vivo.




  O símbolo dos martelos cruzados, varias vezes referido em
  The Wall. A cruz formada pelos dois martelos, e as cores
  sugerem uma referência à cruz suástica do regime de
  Hitler. Os martelos são a representação de um objeto
  vicioso, manipulável e determinado para uma função.


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The Dark Side of the Moon

The Dark Side of the Moon foi um álbum extremamente marcante na história da música, e
constitui uma crítica generalizada da sociedade consumista atual, à religião organizada com
algumas referências a Sid Barett, ex-líder da banda e que fora afastado devido ao abuso de
LSD, e à sua loucura. O conjunto de todos estes fatores que incidem sobre a sociedade todos
os dias, conduz à alienação e à dependência dos bens materiais. Os Pink Floyd retratam então
neste álbum a crise de valores e autodestruição do homem.

Os valores são guias de ação, ajudam-nos a tomar decisões e são completamente opcionais,
pessoais e bipolares. Neste retrato de um mundo desconcertado, os Pink Floyd afirmam que a
humanidade trocou valores como a família, a amizade e a paz pelos contravalores tais como o
ódio, a guerra, a manipulação e a ganância e acima de tudo, a humanidade desprezou um valor
de carácter universal, obrigatório e imutável: a dignidade do ser humano.

“Este disco era uma expressão de empatia política, filosófica e humanitária que estava louca
para sair.”-Roger Waters

Para entender melhor este álbum talvez seja pertinente definir primeiramente o que é a
alienação.

Alienamo-nos, quando deixamos de comunicar ou quando nos apartamos de algo com que
devíamos estar eternamente ligados, ou com que nos queremos relacionar. Podemos
alienarmo-nos da nossa família e dos nossos amigos, quando deixamos de conseguir
comunicar com eles, não porque estamos fisicamente longes deles, mas porque não somos
capazes de exprimir empatia para com eles não nos conseguimos relacionar. A música dos Pink
Floyd fala da dor da frustração da incapacidade de comunicar. As tecnologias também nos
levam a alienação pois pode levar-nos a separarmo-nos de tudo o que nos rodeia.

Podemos também referir-nos à alienação na nossa vida profissional, pois somos muitas vezes
forçados pela pressão do dinheiro, a executar tarefas entediantes e repetitivas, e perdemos a
noção do mundo à nossa volta. É simples relacionar o tema da alienação com a música, pois a
arte é necessariamente uma forma de comunicação, e quando um artista sente que os seus fãs
não compreendem a sua mensagem, sente que é incapaz de comunicar com eles.




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“Us and Them”


Este tema fala da descriminação, das diferenças entre os homens e da guerra. Aceitamos
pessoas que são semelhantes a nós, afastamo-nos das que são diferentes e atribuímos-lhes um
rótulo, que irá caracterizar todos os outros como eles, um estereótipo. É também referido
neste tema o assunto da instrumentalização dos soldados, também abordado nas aulas de
filosofia do primeiro período. O primeiro verso afirma que nós e eles somos pessoas normais e
iguais, sem quaisquer conflitos pessoais e que somos manipulados para lutarmos uns contra os
outros. Os soldados não têm a liberdade de escolher lutar por uma causa em que não
acreditam e são tratados com valor venal pelos generais que sentam diante de um mapa,
indiferentes a todo o sofrimento que as suas ações causam.



“Money”


Neste tema, há uma forte crítica à sociedade consumista, e a própria música tem um tom
satírico. Na letra, há a sugestão de que, o objetivo da vida é trabalhar para ganhar muito
dinheiro, e com ele “comprar” a felicidade através de bens materiais. Como diz o primeiro
verso, arranja um bom emprego com um bom salário e tudo estará bem. Mas será que o
dinheiro é capaz de resolver problemas existenciais e metafísicos bem mais complicados? É
óbvio que não, como demonstram vários dos outros temas de este álbum. O apego pelo
dinheiro irá ser, entre outras razões, a causa da destabilização do sistema de valores.



“Time”


O controlo da passagem do tempo é uma das ambições que o homem mais procura alcançar,
mas sem obter qualquer resultado. Este é certamente um tema que pede reflexão e
ponderação, e com o qual todos nos podemos relacionar, pois estamos todos sujeitos à dor da
passagem do tempo. Vivemos metade da nossa vida despreocupados, e ignorantes a ela, mas
quando nos apercebemos dos anos que temos atrás de nós, de que não os podemos
recuperar, percebemos também que perdemos o “tiro da partida”, da corrida contra o tempo.
A questão colocada por esta música é, em que ponto da nossa vida é que devemos começar a
correr contra o tempo? No fundo, o tempo que passamos despreocupados foram de facto os
melhores anos da nossa vida, porque perdemos a noção da sua passagem, e ainda não
percebemos que tempo, não é algo que o dinheiro possa comprar, e que não distingue classes
sociais ou hierarquias, mas apenas puro determinismo biológico. Ninguém sabe quanto tempo
vai viver, quantos anos lhe faltam, de que experiência lhe irá a morte privar. Qual será então a
resposta a esta pergunta? Mais uma vez, esta conclusão está submetida à interpretação
pessoal de cada um, mas pessoalmente, eu penso que a única maneira de viver a vida ao
máximo, é vive-la próximo dos nossos instintos naturais, satisfaze-los e, quando chegar a hora,
receber a morte de braços abertos, como um velho amigo, pois a beleza de todas as coisas
está no facto de todas elas serem temporárias, e a morte seria, por outras palavras, o clímax

                                                                                              6
da vida, o auge antropogénico, conclui as nossas experiências de vida. Não acredito, como
muitas outras pessoas, que o objetivo da nossa existência seja deixar uma marca para as
gerações vindouras, pois no fundo as nossas vivências são pessoais.

Mesmo que a minha vida seja destacada de todas as outras, é impossível alguém viver o que
eu vivi da mesma maneira. Que importam as minhas ações senão o seu valor pessoal? As
minhas intenções apenas me dizem respeito a mim, e portanto seria impossível um terceiro
compreender completamente a minha ação, por mais que se relacione com o seu objetivo.




                                                                                       7
Conclusão

Após ter concretizado este trabalho, perguntei a mim mesmo se era capaz de responder à
pergunta que lancei no início do mesmo: seria mesmo possível relacionar uma banda musical
com a filosofia. Apercebi-me então que apesar da pesquisa que fiz em torno do assunto,
continuei sem ter uma opinião definida sobre o assunto. Descobri imediatamente que a forma
como os Pink Floyd tratavam as temáticas dos valores da sociedade, da corrupção do homem e
da loucura diferiam completamente da abordagem filosófica de, por exemplo, Nietzsche mas,
tal como referi anteriormente, a filosofia não é algo imutável e determinado, e tal como a
filosofia é individual, também os métodos de filosofar são únicos e pessoais, e por isso, penso
que é de facto possível filosofar através da música, e acredito que a presença do pensamento
filosófico em algumas das músicas dos Pink Floyd contribuiu indiscutivelmente para o grande
sucesso desta banda.

Na minha opinião, faria todo o sentido apresentar a longa-metragem “The Wal” aos alunos do
ensino secundário, não só para alargar a sua cultura geral no campo da arte, mas também para
fomentar o dialogo em torno da crítica que Roger Waters faz ao sistema de educação
britânico, principalmente no conhecido tema “Another brick in the Wall”, no sentido de levar
os alunos a refletir sobre a situação que eles próprios vivem na sua escola, e conhecer as ideias
dos mesmos sobre a natureza dos conteúdos lecionados pelos professores, os métodos de
ensino praticados, e como estes podem ser melhorados para que os alunos tirem melhor
proveito destes conhecimentos para as suas próprias vidas. Deixo aqui esta proposta.




                                                                                               8
Bibliografia

  1- REISCH, George - Pink Floyd and Philosophy careful with that axiom, Eugene! Editora
     Open Court. 2008
  2- THOMAS, Nagel. O que quer dizer tudo isto? Editora Gradiva. 1987
  3- WARBURTEN, Nigel - Elementos básicos da Filosofia. Editora Gradiva. 1995




                                                                                           9

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  • 1. Pink Floyd e a Filosofia? 02/13 Colégio Internato dos Carvalhos Luís Afonso Brandão
  • 2. Introdução Será realmente possível relacionar um tema tão universal como a filosofia com a música dos Pink Floyd? Apesar desta sugestão parecer um pouco difícil de aceitar, a verdade é que a filosofia e o pensamento filosófico são algo que nos acompanha toda a vida. Podemos facilmente ouvir as músicas dos Pink Floyd apreciando-as somente ao nível musical, mas uma análise mais aprofundada das letras das músicas revela-nos um ideia, uma moral, e muitas vezes uma crítica à própria sociedade. A fantástica combinação da música existencial, cinemática e não comercial, e as letras que acompanham a melodia, pode muitas vezes servir de convite ao diálogo filosófico e a conversas intelectuais. Temas levantados por” Dark Side of the Moon”, tais como a passagem do tempo, a morte ou mesmo a loucura, tinham já sido cuidadosamente analisados pelos antigos gregos. Neste trabalho, proponho-me abordar sucintamente o controverso álbum e filme “ The Wall “, e o aclamado “The Dark Side Of The Moon” e integrá-los na matéria de Filosofia do 10º ano. Estou ciente de que não conseguirei abordar todas as possíveis interpretações que possam ser extraídas destas músicas, mas espero conseguir resumir o ponto de vista filosófico que consegui assimilar das mesmas. Penso que as letras de Roger Waters dão-nos a liberdade de encontrar nelas a nossa própria filosofia, e por isso a sua compreensão atende muito à ambiguidade e à individualidade. 1
  • 3. Pink Floyd- Breve apresentação Os Pink Floyd foram uma banda de rock progressivo, originária de Inglaterra, Londres, em 1965 e marcada pelo uso de letras filosóficas e espetáculos extremamente elaborados. De entre os seus maiores sucessos destacam-se The Dark Side Of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977), The Wall (1979) and The Final Cut (1983). O seu alinhamento era constituído por Syd Barett, David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters, Richard Wright, e o grupo esteve ativo de 1965 a 1995. Em 2005 os membros da banda reuniram-se para tocarem no Live8, para apelar aos líderes mundiais para que perdoassem a dívida financeira aos países Africanos. A sua música marcou a geração dos anos 80 e o seu legado musical é muitas vezes associado à imagem do foco de luz que atravessa um prisma e que se divide nas cores do arco-íris, e que serviu de capa para o Álbum The Dark Side of the Moon. Esta imagem pode ser interpretada como a separação, a desintegração do sistema de valores humanos ou simplesmente o desconcerto do mundo. Decomposição da luz solar, capa do album The Dark Side of The Moon (1973). 2
  • 4. The Wall The Wall conta a história de Pink, estrela mundial de rock, que irá entrar numa crise psicótica, com as suas próprias memórias. Em criança, Pink fora um rapaz normal, sufocado pela atenção da sua mãe e as suas tentativas de compensar a falta de uma figura paterna que morrera na segunda guerra mundial. Na escola, a sua criatividade é contida por um professor estúpido e cruel, mas que na verdade está apenas por sua vez a descarregar a dor que lhe é causada pela sua mulher psicopata. Em adulto Pink casa-se com uma bela mulher que o irá trair, este sente- se cada vez mais pressionado pelos agentes dos seus traumas, e vai cada vez mais perdendo o contacto com a realidade, até que decide isolar-se de tudo e todos e construir um muro. Perante toda a dor que sofreu ao longo da sua vida através das relações que estabeleceu com outras pessoas, Pink decide deixar de comunicar com todas as pessoas que lhe são próximas, para evitar sofrer outra vez. No entanto, é óbvio que ninguém é capaz de viver assim e ao isolar-se na sua própria cabeça, Pink vai destruindo a sua sanidade mental, é levado a “tribunal” e julgado pelos agentes da sua instabilidade mental. O juiz declara então que o muro deve ser derrubado e condena Pink à dor do convívio humano. The Wall levanta uma questão filosófica extremamente pertinente: será que a não integração de um indivíduo na sociedade pode ser resolvida através da criação de um universo alternativo na nossa própria mente? Ao recusarmos o contacto com os nossos semelhantes estamos a renunciar a uma parte de nós mesmos, a uma constituinte do comportamento humano, que é a comunicação.Pink luta para ser Deus do seu próprio mundo, e para ultrapassar a dor trazida pelas suas memórias, de maneira a encontrar paz de espírito ou simplesmente uma saída rápida da situação em que se encontra. A atenção exagerada da sua mãe, a falta do seu pai, a opressão escolar foi condicionante da ação de Pink e tornaram-se nos próprios tijolos que este usou para se alienar. No entanto, a atitude de Pink não irá resolver os seus problemas, e como vemos no filme, mesmo dentro do seu muro Pink continua a ser perseguido pelas suas memórias, e recusa-se a lidar com os seus problemas, o que irá criar para ele uma situação insustentável. O amor e o afeto são algo que parte da natureza do ser humano, e não existe amor sem sofrimento. Todos nós somos vítimas do amor, e Pink não é o único sofredor no mundo, mas a debilidade mental não lhe permite esquecer o passado e olhar em frente. Na verdade, o sofrimento de Pink é derivado do sofrimento da sua mãe pela perda do seu marido, do sofrimento do professor causado pela sua mulher, e o sofrimento que a namorada de Pink lhe causa é talvez resultante da falta de atenção que este lhe dá por estar demasiado isolado dentro do seu próprio mundo, e trata-se portanto do sofrimento autoinfligido de Pink. Todos nós nos sujeitamos ao amor e portanto todos nos sujeitamos ao consequente sofrimento. Todos nós, por exemplo, criamos laços com outras pessoas, mas sabemos que eventualmente todas essas pessoas irão falecer. E no entanto sujeitamo-nos a essa dor pelos momentos que 3
  • 5. iremos passar com essa pessoa, e que farão parte do enriquecimento da nossa experiência enquanto humanos. De todo o álbum, a música que teve indiscutivelmente maior impacto foi” Another brick in the Wall pt2”, e o seu famoso refrão “We don’t need no education”. Se extrairmos este verso da letra e o analisarmos individualmente, é possível afirmar com toda a certeza que se trata de algo sem sentido, pois o conhecimento e a aprendizagem são atitudes características e indispensáveis do ser humano. Mas seria mesmo isto que Waters quereria transmitir? O verso que imediatamente se segue a este é” We don’t need to false control”. Percebemos então que o alvo da crítica de Roger Waters não é o conceito de escola ou o ideal de educação, mas sim o sistema de educação contemporâneo, mais precisamente o sistema de educação britânico. O que o músico talvez quisesse dizer fosse algo como “We don’t need this education”, referindo- se mais concretamente à opressão da criatividade, à fútil uniformização dos alunos a que ele próprio esteve sujeito, retratando a escola como uma fábrica de robôs, e tornando-os em peças para um muro que separa as pessoas.Com este tema, Waters cativou imensos fãs que se conseguiam rever nessa mensagem. O muro em The Wall, pode também ser destacado como o distanciamento dos Pink Floyd aos fãs que assistiam aos concertos, mas que não entendiam o verdadeiro significado da sua música, e estavam la apenas pela “festa”, e para ficarem “confortably numb”. E esse comportamento levou a que Roger Waters tivesse a ideia de construir um muro que separava a banda da audiência, e que lhes permitia manter a distância e a sua identidade, no espetáculo The Wall ao vivo. O símbolo dos martelos cruzados, varias vezes referido em The Wall. A cruz formada pelos dois martelos, e as cores sugerem uma referência à cruz suástica do regime de Hitler. Os martelos são a representação de um objeto vicioso, manipulável e determinado para uma função. 4
  • 6. The Dark Side of the Moon The Dark Side of the Moon foi um álbum extremamente marcante na história da música, e constitui uma crítica generalizada da sociedade consumista atual, à religião organizada com algumas referências a Sid Barett, ex-líder da banda e que fora afastado devido ao abuso de LSD, e à sua loucura. O conjunto de todos estes fatores que incidem sobre a sociedade todos os dias, conduz à alienação e à dependência dos bens materiais. Os Pink Floyd retratam então neste álbum a crise de valores e autodestruição do homem. Os valores são guias de ação, ajudam-nos a tomar decisões e são completamente opcionais, pessoais e bipolares. Neste retrato de um mundo desconcertado, os Pink Floyd afirmam que a humanidade trocou valores como a família, a amizade e a paz pelos contravalores tais como o ódio, a guerra, a manipulação e a ganância e acima de tudo, a humanidade desprezou um valor de carácter universal, obrigatório e imutável: a dignidade do ser humano. “Este disco era uma expressão de empatia política, filosófica e humanitária que estava louca para sair.”-Roger Waters Para entender melhor este álbum talvez seja pertinente definir primeiramente o que é a alienação. Alienamo-nos, quando deixamos de comunicar ou quando nos apartamos de algo com que devíamos estar eternamente ligados, ou com que nos queremos relacionar. Podemos alienarmo-nos da nossa família e dos nossos amigos, quando deixamos de conseguir comunicar com eles, não porque estamos fisicamente longes deles, mas porque não somos capazes de exprimir empatia para com eles não nos conseguimos relacionar. A música dos Pink Floyd fala da dor da frustração da incapacidade de comunicar. As tecnologias também nos levam a alienação pois pode levar-nos a separarmo-nos de tudo o que nos rodeia. Podemos também referir-nos à alienação na nossa vida profissional, pois somos muitas vezes forçados pela pressão do dinheiro, a executar tarefas entediantes e repetitivas, e perdemos a noção do mundo à nossa volta. É simples relacionar o tema da alienação com a música, pois a arte é necessariamente uma forma de comunicação, e quando um artista sente que os seus fãs não compreendem a sua mensagem, sente que é incapaz de comunicar com eles. 5
  • 7. “Us and Them” Este tema fala da descriminação, das diferenças entre os homens e da guerra. Aceitamos pessoas que são semelhantes a nós, afastamo-nos das que são diferentes e atribuímos-lhes um rótulo, que irá caracterizar todos os outros como eles, um estereótipo. É também referido neste tema o assunto da instrumentalização dos soldados, também abordado nas aulas de filosofia do primeiro período. O primeiro verso afirma que nós e eles somos pessoas normais e iguais, sem quaisquer conflitos pessoais e que somos manipulados para lutarmos uns contra os outros. Os soldados não têm a liberdade de escolher lutar por uma causa em que não acreditam e são tratados com valor venal pelos generais que sentam diante de um mapa, indiferentes a todo o sofrimento que as suas ações causam. “Money” Neste tema, há uma forte crítica à sociedade consumista, e a própria música tem um tom satírico. Na letra, há a sugestão de que, o objetivo da vida é trabalhar para ganhar muito dinheiro, e com ele “comprar” a felicidade através de bens materiais. Como diz o primeiro verso, arranja um bom emprego com um bom salário e tudo estará bem. Mas será que o dinheiro é capaz de resolver problemas existenciais e metafísicos bem mais complicados? É óbvio que não, como demonstram vários dos outros temas de este álbum. O apego pelo dinheiro irá ser, entre outras razões, a causa da destabilização do sistema de valores. “Time” O controlo da passagem do tempo é uma das ambições que o homem mais procura alcançar, mas sem obter qualquer resultado. Este é certamente um tema que pede reflexão e ponderação, e com o qual todos nos podemos relacionar, pois estamos todos sujeitos à dor da passagem do tempo. Vivemos metade da nossa vida despreocupados, e ignorantes a ela, mas quando nos apercebemos dos anos que temos atrás de nós, de que não os podemos recuperar, percebemos também que perdemos o “tiro da partida”, da corrida contra o tempo. A questão colocada por esta música é, em que ponto da nossa vida é que devemos começar a correr contra o tempo? No fundo, o tempo que passamos despreocupados foram de facto os melhores anos da nossa vida, porque perdemos a noção da sua passagem, e ainda não percebemos que tempo, não é algo que o dinheiro possa comprar, e que não distingue classes sociais ou hierarquias, mas apenas puro determinismo biológico. Ninguém sabe quanto tempo vai viver, quantos anos lhe faltam, de que experiência lhe irá a morte privar. Qual será então a resposta a esta pergunta? Mais uma vez, esta conclusão está submetida à interpretação pessoal de cada um, mas pessoalmente, eu penso que a única maneira de viver a vida ao máximo, é vive-la próximo dos nossos instintos naturais, satisfaze-los e, quando chegar a hora, receber a morte de braços abertos, como um velho amigo, pois a beleza de todas as coisas está no facto de todas elas serem temporárias, e a morte seria, por outras palavras, o clímax 6
  • 8. da vida, o auge antropogénico, conclui as nossas experiências de vida. Não acredito, como muitas outras pessoas, que o objetivo da nossa existência seja deixar uma marca para as gerações vindouras, pois no fundo as nossas vivências são pessoais. Mesmo que a minha vida seja destacada de todas as outras, é impossível alguém viver o que eu vivi da mesma maneira. Que importam as minhas ações senão o seu valor pessoal? As minhas intenções apenas me dizem respeito a mim, e portanto seria impossível um terceiro compreender completamente a minha ação, por mais que se relacione com o seu objetivo. 7
  • 9. Conclusão Após ter concretizado este trabalho, perguntei a mim mesmo se era capaz de responder à pergunta que lancei no início do mesmo: seria mesmo possível relacionar uma banda musical com a filosofia. Apercebi-me então que apesar da pesquisa que fiz em torno do assunto, continuei sem ter uma opinião definida sobre o assunto. Descobri imediatamente que a forma como os Pink Floyd tratavam as temáticas dos valores da sociedade, da corrupção do homem e da loucura diferiam completamente da abordagem filosófica de, por exemplo, Nietzsche mas, tal como referi anteriormente, a filosofia não é algo imutável e determinado, e tal como a filosofia é individual, também os métodos de filosofar são únicos e pessoais, e por isso, penso que é de facto possível filosofar através da música, e acredito que a presença do pensamento filosófico em algumas das músicas dos Pink Floyd contribuiu indiscutivelmente para o grande sucesso desta banda. Na minha opinião, faria todo o sentido apresentar a longa-metragem “The Wal” aos alunos do ensino secundário, não só para alargar a sua cultura geral no campo da arte, mas também para fomentar o dialogo em torno da crítica que Roger Waters faz ao sistema de educação britânico, principalmente no conhecido tema “Another brick in the Wall”, no sentido de levar os alunos a refletir sobre a situação que eles próprios vivem na sua escola, e conhecer as ideias dos mesmos sobre a natureza dos conteúdos lecionados pelos professores, os métodos de ensino praticados, e como estes podem ser melhorados para que os alunos tirem melhor proveito destes conhecimentos para as suas próprias vidas. Deixo aqui esta proposta. 8
  • 10. Bibliografia 1- REISCH, George - Pink Floyd and Philosophy careful with that axiom, Eugene! Editora Open Court. 2008 2- THOMAS, Nagel. O que quer dizer tudo isto? Editora Gradiva. 1987 3- WARBURTEN, Nigel - Elementos básicos da Filosofia. Editora Gradiva. 1995 9