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Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 1
	 competitividade industrial, investimentos produtivos
e retomada do crescimento econômico
A economia brasileira vive hoje uma situação que não encontra paralelo em sua história recente. Considerando-se o período pós-real, o
país viveu vários ciclos de stop and go em que as fases de interrupção do crescimento eram deflagradas por dois tipos de choques: crises
externas, a exemplo da crise asiática de 1997 ou da crise financeira de 2008; ou apertos monetários que visavam à redução da inflação e/ou
estancar fugas de capitais. Passados os efeitos dos choques, o relaxamento monetário e a recuperação da economia mundial induziam uma
rápida retomada da atividade econômica doméstica.
Desde o segundo semestre do ano passado, contudo, a economia enveredou em um novo ciclo de desaquecimento da atividade, mesmo
na ausência de choques de grande magnitude. É verdade que a situação econômica internacional deteriorou-se de forma significativa,
especialmente na Europa, mas seus efeitos sobre as contas externas brasileiras não foram, nem de longe, semelhantes aos observados em
eventos anteriores. Não houve interrupção nos fluxos de financiamento externo, muito menos dos investimentos diretos, e a situação da
balança comercial não apresentou deterioração significativa, a menos de uma redução dos preços de exportação.
No front interno, o Banco Central do Brasil (BCB) tem reduzido continuamente a taxa básica de juros do Sistema Especial de Liquidação
e de Custódia (SELIC), para os níveis reais mais baixos de sua história recente, e a política fiscal persegue um perfil expansionista. Isso em
meio a um quadro econômico com inflação declinante (rumo ao centro da meta de 4,5% ao ano (a.a.) estabelecida para o BCB), déficit e
dívida pública sob controle, déficit em transações correntes em nível administrável – pouco acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB)
– e reservas internacionais crescentes. O consumo das famílias continua sendo impulsionado pelas condições favoráveis do mercado de
trabalho e pelo crescimento da renda. A taxa de desemprego reduziu-se para 5,8% em maio último e o rendimento real dos trabalhadores
teve crescimento de 4,7% nos primeiros quatro meses de 2012, taxa superior à registrada na média do período 2006-2011.
A despeito desse quadro positivo, o ritmo de crescimento da economia vem sendo decepcionante. Os resultados das Contas Nacionais
(CN) referentes aos primeiros três meses de 2012 mostram que o PIB avançou apenas 0,2% na comparação com o período imediatamente
anterior, na série livre de influências sazonais. Embora a indústria de transformação tenha tido alta de 1,9%, o resultado não chega a ser
muito animador. Primeiro, porque contrasta com o desempenho do setor medido pela Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-
PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que havia indicado estagnação nos primeiros três meses de 2012. Segundo,
porque quando se analisa a tendência dos componentes da oferta desde 2010, fica claro que é a indústria de transformação o elemento que
vem prejudicando a expansão do PIB.
O gráfico 1 evidencia o desempenho recente da
indústria de transformação, cujo PIB encontra-
se em nível inferior ao observado antes da crise
financeira internacional. Na agropecuária, na
indústria extrativa mineral e nos serviços, ao
contrário, houve uma retomada firme do cres-
cimento, voltando à trajetória pré-crise. Não
por acaso, o nível de utilização de capacidade
da indústria sofreu queda, encontrando-se hoje
em nível inferior à média dos últimos oito anos
e bem abaixo dos níveis pré-crise (gráfico 2).
Entender o que acontece hoje com o setor indus-
trial e identificar os motivos que estão por trás
desse estado de ânimo negativo é questão-chave
no debate atual de política econômica, especial-
mente no sentido de informar as decisões de política econômica. Um ponto que parece consensual diz respeito à competitividade. Com
efeito, o desempenho da indústria de transformação continua sendo negativamente influenciado por uma série de fatores que, associados
Análise Temática
Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas | Diretora: Vanessa Petrelli Corrêa
Uma publicação do gap – grupo de análise e previsões
número 19 · ano 4 · junho de 2012
GRÁFICO 1
Componentes do PIB pelo lado da oferta: média móvel de quatro trimestres
(1º trimestre de 2004 = 100)
Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
90,0
100,0
110,0
120,0
130,0
140,0
150,0
2004.I
2004.III
2005.I
2005.III
2006.I
2006.III
2007.I
2007.III
2008.I
2008.III
2009.I
2009.III
2010.I
2010.III
2011.I
2011.III
2012.I
Agropecuária Extrativa mineral
Transformação Serviços
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 2
a uma conjuntura internacional desfavorável, tem
contribuído para a redução da sua capacidade
de competir em condições de igualdade com a
produção externa. Esse fato é bem ilustrado pelos
dados apresentados no gráfico 3, que mostram
um firme crescimento da participação de bens
importados no consumo doméstico (o coeficiente
de penetração de importações), alcançando quase
21,0% no primeiro trimestre de 2012, e pela
estagnação da participação das exportações no fa-
turamento industrial (coeficiente de exportação),
que se situa na casa de 15,0%, após ter atingido
quase 19% em 2005.
Até algum tempo atrás, os problemas de com-
petitividade eram atribuídos, primordialmente,
à valorização real da taxa de câmbio, como
elemento responsável por elevar o custo em
dólares da produção industrial doméstica. Mais
recentemente, entretanto, outro elemento fun-
damental na determinação desse custo passou a
chamar atenção: a produtividade.
Após se recuperar da forte queda causada pela
crise financeira internacional de 2008, os ní-
veis de produtividade do trabalho na indústria
passaram a apresentar uma trajetória declinante
(gráfico 4).1
Na verdade, a crise internacional
parece ter representado um ponto de inflexão na
tendência da trajetória da produtividade. Embora
esta última tenha apresentado crescimento até o
primeiro trimestre de 2010 − em resposta à re-
cuperação cíclica da produção após a forte queda
motivada pela crise internacional −, tornou-se
cadente a partir do segundo semestre daquele
ano. Em abril de 2012, a produtividade do
trabalho já estava 4,7% abaixo do nível de pico
alcançado em abril de 2010. Grande parte deste
comportamento pode ser atribuída à resiliência
apresentada pelo emprego industrial nos últimos
dois anos, período em que a produção física
sofreu forte desaceleração. De fato, nos últimos
doze meses encerrados em abril, a produção
industrial registrou queda de 1,2% ratificando
um período de estagnação iniciado no fim do
primeiro trimestre de 2010. No entanto, de
acordo com os dados da Pesquisa Industrial
Mensal de Emprego e Salário (Pimes), mantendo-se esta mesma base de comparação, o pessoal ocupado na indústria de transformação
ficou praticamente estável (–0,2%).
Três hipóteses podem ser aventadas para explicar este descolamento entre produção física e emprego na indústria. Uma delas é o crescimento
da formalização no mercado de trabalho nos últimos anos, o que, ao elevar os custos associados a possíveis demissões, confere uma maior
inércia aos movimentos da população ocupada. A segunda hipótese considera a expectativa dos empresários industriais quanto a uma breve
recuperação do crescimento da produção, levando à manutenção de empregados que serão necessários no momento da recuperação. Uma
terceira hipótese está ligada à escassez de mão de obra qualificada em vários setores da indústria, o que tem levado as empresas a investir
mais no treinamento dos novos funcionários, aumentando, assim, a sua eficiência e, consequentemente, seu custo de reposição ao longo
dos ciclos do processo produtivo. Na verdade, as três hipóteses se reforçam mutuamente, mas deixam claro que a manutenção dos empregos
está condicionada a uma efetiva recuperação da produção nos próximos meses.
GRÁFICO 2
Utilização de capacidade instalada: indústria de transformação
(Em %)
Fonte: Confederação Nacional da Indústria (CNI). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
-6
-4
-2
0
2
4
6
74,0
76,0
78,0
80,0
82,0
84,0
Apr-04
Aug-04
Dec-04
Apr-05
Aug-05
Dec-05
Apr-06
Aug-06
Dec-06
Apr-07
Aug-07
Dec-07
Apr-08
Aug-08
Dec-08
Apr-09
Aug-09
Dec-09
Apr-10
Aug-10
Dec-10
Apr-11
Aug-11
Dec-11
Apr-12
Variação (p.p.) contra igual mês do ano anterior
Índice dessazonalizado
Média histórica
1. O índice de produtividade foi calculado com base na produção física (PIM-PF, IBGE) e no número de horas trabalhadas (Indicadores Industriais, CNI).
Fonte: CNI/Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
GRÁFICO 3
Coeficientes de exportação e de penetração de importações da indústria de
transformação: a preços constantes de 2007
(Em %)
9,0
10,0
11,0
12,0
13,0
14,0
15,0
16,0
17,0
18,0
19,0
20,0
21,0
22,0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 I.10 II.10 III.10 IV.10 I.11 II.11 III.11 IV.11 I.12
Coeficiente de penetração de importações
Coeficiente de exportação
GRÁFICO 4
Evolução da produtividade: indústria de transformação
(Índice dessazonalizado, julho de 2003 = 100)
Fontes: IBGE e CNI. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
98
100
102
104
106
108
110
112
114
116
118
Jan-03
May-03
Sep-03
Jan-04
May-04
Sep-04
Jan-05
May-05
Sep-05
Jan-06
May-06
Sep-06
Jan-07
May-07
Sep-07
Jan-08
May-08
Sep-08
Jan-09
May-09
Sep-09
Jan-10
May-10
Sep-10
Jan-11
May-11
Sep-11
Jan-12
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 3
Os efeitos negativos da queda na produtividade
sobre o setor manufatureiro são magnificados
pelo crescimento dos rendimentos auferidos
pelos trabalhadores. Este quadro tem sido pro-
vocado, sobretudo, pelo dinamismo dos setores
de construção civil e de serviços, cujos níveis de
ocupação continuam respondendo aos estímulos
combinados dos custos de demissão frente às
expectativas de comportamento da demanda.
A ausência de competição externa, visto que,
comercializam bens non-tradables, permite que
possíveis aumentos de custos sejam mais facil-
mente repassados para os preços finais. Sendo
assim, num ambiente caracterizado por taxas
relativamente baixas de desemprego, a pressão
proveniente dos aumentos salariais nestes setores
tem se espalhado para os demais ramos da econo-
mia. Uma vez que os repasses no setor industrial
manufatureiro encontram-se limitados, seja pela
taxa de câmbio seja pela competição dos produtos
importados, a combinação entre produtividade
em queda e aumento dos salários tem elevado o
custo unitário do trabalho (gráfico 5).2
É possível que grande parte da queda verificada
na produtividade da indústria de transformação
seja explicada pela estagnação da produção física.
Portanto, na medida em que o nível de atividade
passe a responder de forma mais efetiva a medidas
discricionárias implementadas pelo governo e ao
investimento público, este processo tende a se
reverter, ou seja, a recuperação da produção tenderá a elevar os níveis de produtividade do trabalho, reduzindo, consequentemente, seu
custo unitário.
No curto prazo, contudo, a possibilidade de melhora no desempenho do setor manufatureiro, assumindo a hipótese de que o cenário externo
não caminhe para uma situação de ruptura, está associada à reversão de dois fatores: a redução do nível de estoques, que, segundo pesquisa
da Fundação Getulio Vargas (FGV) referente ao último mês de maio, ainda permanecem próximos dos níveis considerados normais no
setor industrial; e a reaceleração do crescimento do crédito.
A flexibilização da política monetária iniciada no segundo semestre do ano passado ainda não teve o efeito esperado sobre as vendas a prazo.
Os elevados níveis de inadimplência e de comprometimento da renda com serviços da dívida são questões que podem estar atrapalhando
a recuperação das vendas. Na verdade, nesse ponto o país também parece viver uma situação diferente da que se observava em outros
momentos de recuperação econômica, relacionada à limitação da capacidade de endividamento das famílias.
A razão entre endividamento das famílias e a renda acumulada nos últimos meses apresenta uma clara tendência de crescimento desde o início
da série do BCB, passando de 18,4% no início de 2005 para 43,3% em abril de 2012 – como mostra o gráfico 6. Ainda, de acordo com este
último, o percentual de comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas (com ajuste sazonal) também apresenta
tendência de alta no período. Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da renda mensal e passou para mais de 22,1%
da renda mensal em abril de 2012.
O maior comprometimento da renda com juros e amortizações, juntamente com a alta da inadimplência, tem efeitos diretos sobre a
capacidade de obtenção de novos créditos, uma vez que os bancos passam a restringir novas concessões para pessoas que já estão com um
percentual de comprometimento muito elevado, e sobre a renda disponível para consumo.
A reversão nas trajetórias destes fatores, eventualmente associada ao movimento recente de depreciação da taxa de câmbio, à redução
das taxas de juros, à manutenção dos ganhos reais de renda, à baixa taxa de desemprego e à existência de capacidade ociosa na economia
compõe um cenário que se mostra benéfico a uma rápida e vigorosa recuperação da atividade da indústria de transformação. E o cenário
mais provável continua sendo o de que tal recuperação ocorrerá durante o segundo semestre deste ano, e se estenderá ao longo de 2013.
No entanto, a conjuntura atual evidencia que estamos vivendo um momento diferente e mais complexo na economia. Longe de ser um fato
negativo, a situação atual reflete o fato de que a economia brasileira atingiu um novo patamar, com melhoria do nível de vida da população,
GRÁFICO 5
Evolução do custo unitário do trabalho: indústria de transformação
(Índice dessazonalizado, janeiro de 2006 = 100)
Fontes: IBGE e CNI. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Obs.:A curva escura presente no gráfico é denominada linha de tendência (filtro HP).
GRÁFICO 6
Endividamento das famílias e comprometimento da renda das famílias com o serviço
das dívidas: dados dessazonalizados
(Em %)
Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
2. O índice de custo unitário foi calculado com base na produtividade e no rendimento médio real (Indicadores Industriais, CNI).
98,0
100,0
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abr/11
jul/11
out/11
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(Renda mensal)
Endividamento/renda acumulada em doze meses
Serviço das dívidas/renda mensal
(Renda acumulada em doze meses)
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 4
redução das desigualdades e inclusão de importante parcela da população no mercado consumidor. Esse novo contexto, porém, traz novos
desafios ao crescimento econômico que exigem esforços inovadores, com novas iniciativas que vão além daquelas que tradicionalmente
ajudaram a impulsionar a produção no passado.
Não há respostas prontas para enfrentar esses desafios. Este texto destacou um elemento característico da conjuntura econômica atual,
que deve ser estudado com maior profundidade: a queda da produtividade e seu descolamento em relação à evolução dos salários reais,
com implicações negativas sobre o custo unitário do trabalho. Há que se entender melhor o que está por trás desses indicadores e suas
implicações sobre o desempenho futuro da economia e da indústria de transformação em especial, sob pena de nos defrontarmos com
dificuldades para concretizar uma recuperação sólida do crescimento.
Nesse sentido, um fator reveste-se de vital importância: o crescimento mais vigoroso e sustentado dos investimentos, não somente
em virtude de seu peso como um dos componentes da demanda agregada, mas porque os investimentos têm efeitos decisivos sobre
a produtividade e, por consequência, sobre a competitividade do país e sobre sua capacidade de crescimento. No caso específico do
Brasil, há uma clara necessidade de se ampliar os investimentos em infraestrutura para superar deficiências relevantes nos setores de
transportes (portos, aeroportos, rodovias, hidrovias e ferrovias), de saneamento básico e de geração de energia. Esses investimentos
devem ser ampliados de diversas maneiras: diretamente pelo setor público; por meio de parcerias público-privadas; pela via de conces-
sões ao setor privado; e, principalmente, através da estruturação de um ambiente atrativo que ofereça previsibilidade e rentabilidade
aos investimentos privados.
Nível de Atividade
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o PIB registrou avanço de 0,2% na passagem entre o quarto trimestre do ano
passado e o primeiro trimestre de 2012, na série livre de influências sazonais. Este resultado, que correspondeu a uma expansão
anualizada de 0,8%, manteve o PIB numa zona de estagnação, refletida num crescimento de apenas 0,2% no acumulado dos últimos
três trimestres. Com isso, o carregamento estatístico para 2012 permaneceu reduzido, passando de 0,2% para 0,4%, ou seja, caso o
PIB permaneça estagnado durante os próximos
três trimestres, na série com ajuste sazonal,
cresceria a esta taxa ao final do ano. Na com-
paração em relação ao mesmo período do ano
anterior, a taxa de crescimento do PIB sofreu
redução pelo oitavo trimestre consecutivo, pas-
sando de 1,4% para 0,8% (gráfico 7). O fraco
desempenho da economia brasileira também
pode ser visto na evolução da taxa de expansão
acumulada em quatro trimestres, que recuou
pelo sexto período consecutivo, passando de
2,7% para 1,9%. Por trás disso, a demanda
interna3
manteve certo dinamismo e voltou
a crescer acima do PIB, registrando alta de
0,6%4
na margem.
Na análise do PIB pela ótica da demanda, o destaque negativo ficou por conta da FBCF, que apresentou variação negativa pelo terceiro
trimestre consecutivo na comparação com ajuste sazonal, recuando 1,8% em relação ao período imediatamente anterior. Embora os
fatores associados à deterioração da conjuntura internacional tenham aumentado os níveis de incerteza, impactando negativamente
nas decisões de investimento, o resultado do primeiro trimestre deve ser relativizado, uma vez que refletiu, em grande medida, a forte
queda da produção de bens de capital ocorrida em janeiro (–16,0%), provocada pela paralisação do setor automotivo. Na comparação
interanual, a FBCF recuou 2,1% contra o mesmo período de 2011, sendo este o primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre
de 2009. Com isso, a taxa de investimento líquido a preços correntes sofreu pequena redução, passando de 18,8% para 18,7%. Os de-
mais componentes pelo lado da demanda registraram variação positiva na série dessazonalizada. Enquanto o consumo privado repetiu
o resultado verificado no trimestre anterior, avançando 1,0% na margem, o vazamento externo se elevou, refletindo o comportamento
das exportações e importações, que registraram altas de 0,2% e 1,1%, respectivamente.
Na análise pelo lado da oferta, o setor da Agropecuária se destacou pela forte contração na margem, tendo recuado 7,3% ante o trimestre
anterior, na série ajustada. Pior resultado desde o terceiro trimestre de 2005, a produção do setor foi negativamente influenciada por fatores
climáticos, que provocaram forte queda nas safras de lavouras com peso relevante no período, como foi o caso da produção de soja. Na mes-
ma base de comparação, enquanto o setor Serviços acelerou de 0,4% para 0,6%, a Indústria avançou 1,7% ante o quarto trimestre de 2011,
interrompendo uma sequência de três variações negativas, período no qual a produção encolheu 1,6%. Ainda em relação à indústria, com
3. Demanda interna (ou doméstica) = consumo das famílias + consumo do governo + formação bruta de capital fixo (FBCF).
4. Dessazonalização própria.
Alguns números da conjuntura
GRÁFICO 7
PIB: evolução das taxas de crescimento trimestral e dessazonalizado
(Em %)
Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
1,8
1,5 1,6
-3,9
-1,5
1,5
2,6 2,7 2,1
1,2 0,9
1,0
0,9
0,5
–0,1
0,2 0,2
6,3 6,5
7,1
1,0
-2,7 -2,4
-1,5
5,3
9,3
8,8
6,9
5,3
4,2
3,3
2,1
1,4
0,8
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
-5,0
-4,0
-3,0
-2,0
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
Trimestre contra timestre anterior Trimestre contra mesmo trimestre do ano anterior
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 5
exceçãodaatividadeExtrativamineral,querecuou0,5%,todasasdemaisavançaramnamargem,comdestaqueparaadeTransformação,que
registrou alta de 1,9%. Este resultado contrastou com o desempenho do setor medido pela PIM-PF, também do IBGE, que havia indicado
estagnação nos primeiros três meses de 2012. Grande parte deste descolamento pontual, no entanto, pode ser explicada pelas diferenças no
que diz respeito ao tamanho e à periodicidade entre as duas séries, condicionando os resultados do processo de dessazonalização. Ainda em
relação aos dados da PIM-PF, a produção industrial iniciou o segundo trimestre com nova queda na margem, recuando 0,2% na passagem
entre março e abril. Na comparação interanual, os resultados entre os setores da oferta no PIB foram heterogêneos. O destaque positivo ficou
por conta do setor Serviços, que avançou 1,6% ante o primeiro trimestre de 2011. Por outro lado, enquanto a Indústria ficou estagnada, a
Agropecuária retraiu 8,5%, sendo este o pior resultado da série histórica.
CAGED Mostra Desaceleração em Maio. PME Mantém Bom Dinamismo
De acordo com as duas principais fontes de
dados de emprego no país, o mercado de
trabalho apresentou, em maio, algumas dife-
renças na trajetória da ocupação. Embora, nas
duas pesquisas, a população ocupada tenha se
expandido, esta expansão se deu a taxas decres-
centes no caso do Cadastro Geral de Emprego
e Desemprego (CAGED), do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) e a taxas crescen-
tes, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego
(PME), divulgada pelo IBGE.
A partir das informações coletadas pelo
CAGED, verifica-se que, em maio, o saldo
líquido de emprego (admissões menos demis-
sões) foi de 139,7 mil. Com este resultado, nos
últimos doze meses, foram criados 1,25 milhão
de novos postos de trabalho formal na econo-
mia, o que corresponde a uma queda de quase
35% em relação ao observado no acumulado
em maio de 2011 (gráfico 8). Mantendo-se
esta mesma base de comparação (maio de 2012
contra maio de 2011), verifica-se que os setores
que mais apresentaram retração no saldo líqui-
do em doze meses foram: Indústria de trans-
formação (–84%); Utilidade pública (–59%);
Comércio (–33%); e Serviços (–21%).
Noentanto,oquadroretratadopelaPMEapon-
ta um cenário mais otimista, mostrando que em
maio, na comparação interanual, a população
ocupada com carteira apresentou um incremen-
to de 3,9%, ante taxa de 2,3% observada em
abril. Este aumento da população ocupada com carteira, aliada à contínua expansão da ocupação informal, fez a desocupação recuar pra
5,8%, em maio, o que representa uma queda de 0,06 p.p. em relação ao apontado no mesmo mês de 2011. Em termos dessazonalizados,
a desocupação também retrocedeu, passando de 5,7% em abril para 5,5% em maio,5
mantendo-se em patamar historicamente baixo
(gráfico 9). Como vem ocorrendo nos últimos anos, esta melhora do cenário é pautada não somente pela queda da desocupação, mas
também pelo crescimento dos salários reais. Em maio, os rendimentos reais habitualmente recebidos pelos trabalhadores aumentaram
4,9% ante o verificado no mesmo mês de 2011, repetindo o resultado do ano, que acumula incremento de 4,8%.
De fato, não é de hoje que os dados do CAGED e da PME vêm fornecendo informações um pouco distintas. A distorção entre estas
estatísticas pode estar nas diferenças metodológicas das duas pesquisas. No caso da PME, a abrangência se restringe a seis regiões metro-
politanas (RMs) do país, além de levar em conta dados relacionados ao setor informal da economia. No caso do CAGED, as informações
coletadas cobrem todo o território nacional, no entanto, só abarcam os empregos formais. Dentro deste contexto, pode-se inferir, ainda,
indícios de um maior aquecimento do mercado de trabalho nas regiões mais dinâmicas do país e de um crescimento maior do emprego
nos setores informais da economia, o que explicaria uma queda da desocupação mesmo com a retração do emprego formal.
GRÁFICO 8
CAGED: saldos acumulados em doze meses
(Em unidades)
Fonte: CAGED/MTE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
2.000.000
2.200.000
2.400.000
jan./2010
mar./2010
mai./2010
jul./2010
set./2010
nov./2010
jan./2011
mar./2011
mai./2011
jul./2011
set./2011
nov./2011
jan./2012
mar./2012
mai./2012
GRÁFICO 9
Taxa de desocupação dessazonalizada
(Em %)
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
7,5
jan./2010
mar./2010
mai./2010
jul./2010
set./2010
nov./2010
jan./2011
mar./2011
mai./2011
jul./2011
set./2011
nov./2011
jan./2012
mar./2012
mai./2012
Fonte: Ipea/Dimac/GAP.
Obs.: Dessazonalização feita a partir dos dados primários da PME/IBGE.
5. Dados dessazonalizados pelo GAP.
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 6
Inflação – Desvalorização cambial não inflacionária
No primeiro semestre de 2012 a inflação ao consumidor apresentou trajetória de queda, recuando, dos 6,50% no acumulado dos doze
meses terminados em dezembro de 2011, para 4,99% no acumulado dos doze meses terminados em maio de 2012, segundo o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A prévia para a inflação de junho (segundo o IPCA-15) apontou variação de 0,18%,
contra maio, abaixo da expectativa do mercado,6
indicando a possibilidade de continuidade desse movimento de queda do IPCA.
Junho é tipicamente um mês de inflação baixa, por razões sazonais. Porém, segundo o IPCA-15, enquanto em 2011 a inflação de
junho foi baixa devido à deflação dos alimentos no domicílio (–0,18%), em 2012 esse grupo pressionou o índice para cima (0,65%).
A alta da inflação dos alimentos (dentro e fora do domicílio) foi resultado de fatores climáticos adversos, notadamente no sul do
país. Tais fatores reduziram a perspectiva de produção em 2012, em comparação à de 2011, de algumas culturas importantes na
dieta dos brasileiros, tais como o arroz, o trigo, o feijão e a batata.7
Desta forma, a inflação baixa de junho teve explicações distintas da que ocorreu em 2011. É de se notar a ausência de repasse aos preços
finais da desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, no primeiro semestre de 2012. A inflação dos bens comercializáveis no exterior
registroualtadeapenas3,2%noacumuladodosdozemesesterminadosemjunho(utilizandooIPCA-15comoproxyparaoIPCAdejunho).
A primeira razão para esse fenômeno é a continuidade da política de isenções tributárias, que atingiu o preço de bens duráveis neste
primeiro semestre do ano, registrando deflação (–4,1%) no acumulado dos doze meses terminados em junho (utilizando o IPCA-15
como proxy para o IPCA de junho). Especificamente, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis
foi determinante para a queda do preço dos automóveis novos (–3,5%) e usados (–2,62%), segundo o IPCA-15 de junho contra
maio. Nota-se que a nova estrutura de ponderação do IPCA pelo IBGE,8
com aumento da participação de automóveis, amplificou
o impacto deflacionista dos preços dos automóveis em relação ao que seria no ano passado.
A segunda razão é uma nova rodada de queda
dos preços de commodities, como os insumos
industriais, as commodities metálicas e as maté-
rias-primas brutas da agricultura, diante de um
cenáriodeprolongamentodacriseinternacional.
Isso explica a queda do preço do etanol, que,
segundo o índice do IPCA-15 de junho contra
maio, registrou variação de –1,47%, e, conse-
quentemente, da mistura que compõe a gasolina
(–1,48%). O gráfico 10 mostra as trajetórias de
aumento da taxa de câmbio e de queda do preço
das commodities – captadas pelo Índice de Com-
modities Brasil (IC-Br) em dólares. O resultado
dessarelaçãoinversaéaestabilidadedoIC-Brdo
BCB, que é medido em reais.
Oterceirofatorimportanteéareduçãonocustodofinanciamentodoprocessodeproduçãoedacomercializaçãodebenseserviços,istoé,a
quedadocustodocapitaldegiroedasprópriastaxasdocréditocobradasnocomércio,muitasvezesjáembutidasnospreçosfinaisdosbens.
A combinação desses três fatores mais do que compensou as pressões advindas da desvalorização cambial. Dessa forma, diante de um
cenário de queda da demanda interna, esses elementos juntos propiciam uma ausência de repasse aos preços finais das pressões altistas
da desvalorização cambial ou até mesmo políticas de promoções e descontos, como forma de as firmas preservarem ou aumentarem sua
parcela de mercado. É o que explica a deflação, segundo o IPCA-15 de junho contra maio, observada nos artigos de limpeza (–0,03%),
móveis e utensílios (–0,58%), cama mesa e banho (–1,12%) e TV, som e informática (–0,16%).
Setor Externo
Os números de maio do balanço de pagamentos brasileiro mostram um saldo global de US$ 1,1 bilhão, resultado de um déficit em tran-
sações correntes de US$ 3,5 bilhões (–17% em relação ao mesmo mês de 2011) e um saldo positivo da conta capital e financeira de US$
4,1 bilhões (–54,5%). O menor déficit em conta corrente deveu-se à redução das remessas de lucros e dividendos (–39,1%) e também do
saldo comercial (–16,2%). Na conta financeira, o destaque foi a reversão do saldo dos investimentos em carteira, que foram negativos em
US$ 3,1 bilhões, ao passo que os investimentos estrangeiros permaneceram vultosos (entradas de US$ 3,7 bilhões). Aliás, os investimentos
em carteira já acumulam no ano, até maio, saldo negativo de US$ 619 milhões. Neste mesmo período, o déficit em transações correntes
do país foi de US$ 20,9 bilhões, ou 2,19% do PIB, e o saldo da conta capital e financeira somou US$ 40,4 bilhões, com queda de 35,5%.
6. A expectativa para o IPCA de junho era de 0,20 de acordo com a pesquisa Focus de 15 de junho de 2012.
7. Ver o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE (atualização de 5 de junho de 2012).
8. Ver as publicações de janeiro e de fevereiro de 2012 do Conjuntura em Foco do Ipea/Dimac/GAP.
GRÁFICO 10
Taxa de câmbio e commodities
Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Obs.: Índices com base 100 em dezembro de 2005. O câmbio de junho (fim de período) foi aproximado pelo valor do dia 27 de
junho. Para o IC-Br em dólares de junho foi considerado o indicador da revista The Economist (all items).
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
2
2,1
2,2
2,3
2,4
2,5
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
fev/09
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jun/09
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abr/10
jun/10
ago/10
out/10
dez/10
fev/11
abr/11
jun/11
ago/11
out/11
dez/11
fev/12
abr/12
jun/12
IC-Br IC-Br em dólares Câmbio (eixo direito)
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 7
No mercado cambial, a reversão do fluxo financeiro em maio aumentou a pressão no sentido de valorização da moeda norte-
americana, que alcançou o patamar de R$ 2,00/US$ pela primeira vez desde 2009. De fato, a valorização do dólar tem sido uma
tendência mundial, tendo em vista o seu papel de porto seguro frente às incertezas da economia mundial. Diante desse cenário, o
Banco Central tem realizado emissão de swaps cambiais e venda de dólar, oferecendo maior liquidez e proteção ao mercado, além
de começar a remover uma série de medidas tomadas anteriormente no sentido de controlar a entrada de capitais.
Na comparação entre maio de 2012 e 2011, as exportações se mantiveram estáveis (aproximadamente US$ 23,2 bilhões) e as
importações apresentaram alta de 2,9%, o que explica a redução do saldo comercial de US$ 3,5 bilhões em maio de 2011 para
US$ 2,9 bilhões no mesmo mês de 2012. É importante observar, no entanto, que se trata do maior superávit do ano e, em termos
dessazonalizados, houve aumento de 24,4% na passagem de abril para maio de 2012. No acumulado do ano, o saldo é de US$ 6,3
bilhões, com redução de 26,6% em comparação a igual período de 2011.
O gráfico 11 ilustra que as exportações apre-
sentam ligeira tendência de queda, em termos
dessazonalizados, desde o final do ano passado,
ao passo que as importações estão razoavelmen-
te estabilizadas. O saldo comercial tem sido, em
média, de US$ 1,8 bilhão ao mês.
Merece destaque o desempenho positivo das
exportações de manufaturados que cresce-
ram, em maio, 2,7% em relação ao mesmo
mês de 2011, com destaque para itens como
automóveis e motores e geradores elétricos.
O resultado negativo dos produtos básicos
(–2,7% entre maio de 2011 e 2012), por sua
vez, foi diretamente afetado pela queda re-
cente no preço do minério de ferro, embora o
desempenho em termos de quantidade permaneça positivo. Com efeito, o quantum de produtos básicos acumula alta de 7,0% no
período janeiro-maio, ao passo que os manufaturados tiveram alta de apenas 0,9%.
Com relação à economia mundial, a incerteza continua a dominar o cenário. A despeito de as eleições na Grécia terem conduzido ao poder
um partido favorável à continuidade das reformas exigidas pela União Europeia (UE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco
Central Europeu, permanecem as dúvidas quanto à capacidade de o novo governo suportar politicamente o custo dessas reformas. Para-
lelamente, cresceram as preocupações com a situação de Espanha e Itália, refletidas no aumento dos spreads sobre seus bônus soberanos.
Na Espanha, há uma preocupação especial com a situação dos bancos, o que levou o país a iniciar negociações para obter um pacote de
ajuda de até 100 bilhões de euros para capitalizar o setor bancário do país.
Nos Estados Unidos, os indicadores mais recentes fizeram crescer as preocupações relacionadas à capacidade de o país sustentar taxas
de crescimento mais robustas, tendo em vista as perspectivas não muito positivas para o consumo (diante de um mercado de trabalho
ainda pouco dinâmico) e dos efeitos da retirada de alguns estímulos fiscais. Na China, há indícios de que a desaceleração do crescimento
poderá ser mais forte do que a esperada neste ano, e não se descarta uma desaceleração ainda maior em 2013. Adicionalmente, o Brasil
já está sentindo os efeitos dos problemas econômicos na Argentina e das restrições às importações impostas pelo país, refletindo-se em
forte redução das exportações brasileiras para o vizinho.
Crédito e Mercado Financeiro
O Comitê de Política Monetária (Copom) continuou o movimento de redução da taxa básica de juros em sua última reunião, com um
novo corte de 0,5 p.p. na meta SELIC – de 9% a.a. para 8,5% a.a. Na ata dessa reunião, divulgada em 8 de junho, o Copom consi-
derou que “permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação” e que “dada a fragilidade da economia global, a contribuição
do setor externo tem sido desinflacionária”. A ata sinaliza ainda que o comitê deve continuar reduzindo “com parcimônia” a taxa de
juros nas próximas reuniões.
O processo de flexibilização da política monetária está tendo efeito sobre as taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro. As taxas
médias cobradas de pessoa física e de pessoa jurídica caíram, respectivamente, de 45,1% a.a. e 28,7% a.a. em janeiro de 2012 para
38,8% a.a. e 25% a.a. em maio do mesmo ano – de acordo com os dados do BCB. Os dados da Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC) apontam na mesma direção. De acordo com a ANEFAC, as taxas médias para
pessoa física e para pessoa jurídica encontram-se nos menores valores da série histórica – iniciadas em 1995 e 1999, respectivamente. Esse
movimento de queda dos juros foi impulsionado também pelas significativas reduções lideradas pelos bancos públicos a partir de abril
deste ano. Um resultado direto dessa atitude dos bancos públicos foi o crescimento maior das operações de crédito em relação aos bancos
privados – como mostra o gráfico 12. Com isso, a participação de mercado das instituições públicas passou de 43,6% em janeiro de
2012 para 44,6% em maio deste ano. Outra consequência dessas quedas de juros foi a redução do spread bancário médio das operações
GRÁFICO 11
Exportações, importações e balança comercial: série dessazonalizada
(Em US$ milhões)
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
20.000
22.000
24.000 (Saldo)
(Exportações e importações)
Saldo Exportações Importações
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 8
consolidadas (prefixado, pós-fixado e flutuante),
de 27,8% a.a. em janeiro de 2012 para 24,6%
a.a. em maio do mesmo ano – como mostram
os dados do BCB.
Mesmo com essas reduções dos juros, o crédito
ainda não se acelerou como se esperava. O
crescimento interanual do estoque de crédito
continuouelevadoemmaio(18,3%),porémessa
taxa ainda está abaixo do patamar médio do ano
passado (20% a.a.). Como é possível ver pelos
dados da tabela 1, o destaque continua sendo o
crescimento do crédito direcionado habitacional,
que atingiu 5% do PIB em maio deste ano. Vale
lembrar que no início de 2009 o crédito habita-
cional representava apenas 2% do PIB.
TABELA 1
Saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional
(Em % do PIB)
Período
Recursos livres   Recursos direcionados
Total geral
Pessoa física Pessoa jurídica Total   BNDES1
Rural Habitação Outros Total
Jan./2011 14.8 14.6 29.3 9.5 2.3 3.5 0.4 15.6 45.0
Dez./2011 15.6 15.8 31.4 10.1 2.6 4.5 0.4 17.6 49.0
Mai./2012 16.0 16.1 31.6   10.0 2.5 5.0 0.4 18.0 50.1
Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Nota: 1
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Os fatores que vêm sendo apontados como possíveis responsáveis pela demora na resposta do crédito, especialmente do crédito com
recursos livres à pessoa física, ao estímulo da política monetária são os elevados níveis de inadimplência e de comprometimento da
renda familiar com os serviços da dívida. De acordo com os dados do BCB, a inadimplência de pessoa física manteve o movimento de
alta em maio, atingindo o maior nível (9%) desde maio de 2009. O indicador de inadimplência de pessoa física da Serasa Experian
também aponta para um crescimento expressivo dos devedores em atraso, com uma taxa acumulada de 20% de janeiro a maio de 2012
– na comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa piora tende a se reverter no segundo semestre do ano com o aumento
do rendimento médio real e a manutenção do emprego em níveis historicamente altos. O comprometimento da renda das famílias
com os serviços da dívida, por sua vez, manteve-se num patamar elevado, acima de 22%, em maio de 2012, segundo dados do BCB.
Finanças Públicas: a dinâmica recente do investimento público no Brasil
Após terem atingido, em 2010, os valores mais altos – em porcentagem do PIB – em várias décadas, a taxa de investimento
das administrações públicas (APU) e as despesas de investimentos das empresas estatais federais caíram fortemente em 2011
(gráfico 13).
É importante observar que os anos que se se-
guem às eleições de governadores e presidentes
são normalmente caracterizados por ajustes
fiscais e quedas substanciais nos investimentos
da APU. A magnitude dessas quedas vinha se
reduzindo (–0,9%, –0,7% e –0,2% do PIB nos
anos de 1999, 2003 e 2007, respectivamente),
mas mostrou nova ampliação no ano de 2011
(–0,5% do PIB). O gráfico 14 mostra a evo-
lução dos investimentos das APUs no período
2002-2011 desagregada por esfera de governo
(em porcentagem do PIB) e a tabela 2 mostra os
montantesinvestidosporcadaesferadegoverno,
sendoqueasinformaçõesdosgovernosestaduais
(GEs)edosgovernosmunicipaisGMs)em2011
são projeções preliminares da CFP/Ipea.
GRÁFICO 12
Taxa de crescimento das operações de crédito do sistema financeiro segundo
o controle de capital
(Variação interanual, mês/mesmo mês do ano anterior, em %)
Fonte: Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) Bovespa.
Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
jan/07
abr/07
jul/07
out/07
jan/08
abr/08
jul/08
out/08
jan/09
abr/09
jul/09
out/09
jan/10
abr/10
jul/10
out/10
jan/11
abr/11
jul/11
out/11
jan/12
abr/12
Total Instituições públicas
Instituições privadas nacionais Instituições estrangeiras
GRÁFICO 13
FBCF das APUs e despesas de investimento das empresas estatais federais entre 1995
e 2011
(Em % do PIB)
Fonte: Coordenação de Finanças Públicas (CFP) do Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Obs.: Os investimentos das estatais não consideram as empresas privatizadas no período, principalmente a CVRD e as empresas
do grupo Telebras.
2,2%
1,9%
2,4%
1,6%
1,7% 1,9%
2,2%
1,5%
1,6%
1,6%
2,0%
1,8%
2,2% 2,3%
2,8%
2,4%
0,6%
0,7%
0,8% 0,8% 0,8%
0,9%
1,1%
1,1% 1,0%
1,0% 1,0%
1,1%
1,4%
1,8%
1,9%
1,7%
0,0%
0,5%
1,0%
1,5%
2,0%
2,5%
3,0%
dez-95dez-96dez-97dez-98dez-99dez-00dez-01dez-02dez-03dez-04dez-05dez-06dez-07dez-08dez-09dez-10dez-11
Empresas estatais federais (sem privatizações) APU
Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 9
Observa-se, no gráfico 14, que os investimentos
federais foram os que registraram a maior expan-
são no período recente – saindo do patamar ínfi-
mo de 0,2% do PIB em 2003 até alcançar 0,8%
em 2010. Em 2011, entretanto, os investimentos
federais caíram para 0,6% do PIB – uma queda
quase tão brusca quanto a verificada em 2003
em relação a 2002. Os números mais recentes
sugerem que a queda deve se prolongar neste ano.
Com efeito, os investimentos do governo federal
nos cinco primeiros meses de 2012 totalizaram o
montante de R$ 8,5 bilhões, valor inferior aos R$
8,8 bilhões observados em igual período de 2011.
Os investimentos dos governos estaduais também
cresceram consideravelmente no período 2006-
2010, passando de 0,5% para 1,1% do PIB. Por
outro lado, os governos estaduais foram os maiores
responsáveis pela retração recente nos investimentos públicos – uma vez que seus investimentos caíram de 1,1% do PIB em 2010 para 0,8% do PIB
em 2011. Destaque-se, entretanto, que a redução de 0,3% do PIB verificada em 2011 foi semelhante àquela ocorrida nos investimentos públicos
estaduais nos demais anos pós-eleitorais (–0,3% do PIB em 2003 e –0,2% do PIB em 2007). Destaque-se, por fim, que os primeiros números dos
investimentos estaduais em 2012 também são pouco animadores. Com efeito, as execuções de investimentos do exercício corrente dos governos
estaduais caíram de R$ 4,7 bilhões nos primeiros quatro meses de 2011 para R$ 4,4 bilhões no mesmo período de 2012.9
TABELA 2
Investimento das APUs por entes federados
(Valores em R$ milhões)
Ano GF1
GE GM APU
2006 9.216 18.226 19.866 47.308
2007 11.459 14.138 21.974 47.570
2008 13.673 22.386 32.103 68.163
2009 19.873 30.551 25.270 75.694
2010 30.708 40.057 34.121 104.886
2011 26.278 31.878 40.692 98.848
Fonte: CFP/Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
Nota: 1
Governo Federal.
Ao contrário do que ocorreu com os demais entes federados, as APUs municipais aceleraram seus investimentos em 2011. As projeções preliminares
da CFP/Ipea sugerem que a taxa de investimento dos GMs alcançou 1% do PIB no ano de 2011, marca esta muito próxima do patamar mais eleva-
do da história recente (1,1% do PIB, atingida em 2008). Estas projeções foram construídas a partir de um indicador com as informações de 2.120
municípios para os quais os investimentos aumentaram de R$ 17,5 bilhões para R$ 21,1 bilhões entre 2010 e 2011. A expansão dos investimentos
municipais parece estar fortemente influenciada por grandes obras de infraestrutura de transportes e de urbanização, principalmente nas maiores
cidades do país e que serão sedes dos grandes eventos esportivos (destacando-se o município do Rio de Janeiro).
Observe-se, ainda, que o ano de 2012 é de eleições para prefeitos e o cenário mais provável é de expansão dos investimentos municipais nos próximos
trimestres. Com efeito, considerando-se uma amostra de 957 municípios com informações disponíveis, tem-se um volume de investimentos de R$ 2,5
bilhõesnoprimeiroquadrimestrede2012–valoreste38%superior(emtermosnominais)aoR$1,8bilhãoverificadonoprimeiroquadrimestrede2011.
Note-se, por fim, que os investimentos das empresas estatais federais também começaram a reagir. No primeiro quadrimestre de 2012 as despesas
de investimento das empresas estatais atingiram R$ 23,6 bilhões, valor este 19% superior (em termos nominais) aos R$ 19,8 bilhões verificados em
igual período de 2011.
Em suma, os primeiros dados de 2012 mostram o investimento público parcialmente em recuperação, puxado pelos investimentos dos GMs e das
empresas estatais federais. Uma recuperação mais forte do investimento público em 2012 dependerá, em grande medida, da aceleração dos investi-
mentos públicos federais e estaduais.
9. Não é possível dispor das informações atualizadas da FBCF dos governos subnacionais, somente projeções para 2011 e informações parciais para 2012. Os valores cita-
dos no texto para 2012 consideram apenas as execuções das despesas de investimento no exercício corrente, que incluem as transferências de capital dos estados para os
municípios e não incluem os investimentos realizados nos orçamentos de restos a pagar de exercícios anteriores. Os valores acima excluem, ainda, o Estado de Goiás (cujo
número divulgado no segundo bimestre de 2012 possivelmente inclui despesas que não devem ser contabilizadas como investimentos propriamente ditos, mas sim como
“inversões financeiras”). Infelizmente, o acesso a dados detalhados sobre a execução das despesas de investimento dos governos subnacionais ainda é difícil. Uma exceção,
digna de elogio por aumentar a transparência fiscal, é o Estado de São Paulo, que passou a disponibilizar estas informações no sítio da Secretaria da Fazenda estadual e
cujos pagamentos de investimentos (na modalidade “aplicações diretas”) mostraram queda de R$ 10,3 bilhões em 2010 para R$ 6,2 bilhões em 2011.
GRÁFICO 14
FBCF das APUs desagregada por ente federado entre 2002 e 2011
(Em % do PIB)
Fonte: CFP/Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP.
0,5%
0,2%
0,2%
0,3%
0,4% 0,4%
0,5%
0,6%
0,8%
0,6%
0,8%
0,6% 0,6%
0,7% 0,8%
0,5%
0,7%
0,9%
1,1%
0,8%
0,9%
0,8%
0,8%
0,6%
0,8% 0,8%
1,1%
0,8%
0,9%
1,0%
0,0%
0,2%
0,4%
0,6%
0,8%
1,0%
1,2%
dez-02 dez-03 dez-04 dez-05 dez-06 dez-07 dez-08 dez-09 dez-10 dez-11
Governo federal Governo estadual Governo municipal

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120703 conjunturaemfoco junho

  • 1. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 1 competitividade industrial, investimentos produtivos e retomada do crescimento econômico A economia brasileira vive hoje uma situação que não encontra paralelo em sua história recente. Considerando-se o período pós-real, o país viveu vários ciclos de stop and go em que as fases de interrupção do crescimento eram deflagradas por dois tipos de choques: crises externas, a exemplo da crise asiática de 1997 ou da crise financeira de 2008; ou apertos monetários que visavam à redução da inflação e/ou estancar fugas de capitais. Passados os efeitos dos choques, o relaxamento monetário e a recuperação da economia mundial induziam uma rápida retomada da atividade econômica doméstica. Desde o segundo semestre do ano passado, contudo, a economia enveredou em um novo ciclo de desaquecimento da atividade, mesmo na ausência de choques de grande magnitude. É verdade que a situação econômica internacional deteriorou-se de forma significativa, especialmente na Europa, mas seus efeitos sobre as contas externas brasileiras não foram, nem de longe, semelhantes aos observados em eventos anteriores. Não houve interrupção nos fluxos de financiamento externo, muito menos dos investimentos diretos, e a situação da balança comercial não apresentou deterioração significativa, a menos de uma redução dos preços de exportação. No front interno, o Banco Central do Brasil (BCB) tem reduzido continuamente a taxa básica de juros do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), para os níveis reais mais baixos de sua história recente, e a política fiscal persegue um perfil expansionista. Isso em meio a um quadro econômico com inflação declinante (rumo ao centro da meta de 4,5% ao ano (a.a.) estabelecida para o BCB), déficit e dívida pública sob controle, déficit em transações correntes em nível administrável – pouco acima de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) – e reservas internacionais crescentes. O consumo das famílias continua sendo impulsionado pelas condições favoráveis do mercado de trabalho e pelo crescimento da renda. A taxa de desemprego reduziu-se para 5,8% em maio último e o rendimento real dos trabalhadores teve crescimento de 4,7% nos primeiros quatro meses de 2012, taxa superior à registrada na média do período 2006-2011. A despeito desse quadro positivo, o ritmo de crescimento da economia vem sendo decepcionante. Os resultados das Contas Nacionais (CN) referentes aos primeiros três meses de 2012 mostram que o PIB avançou apenas 0,2% na comparação com o período imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais. Embora a indústria de transformação tenha tido alta de 1,9%, o resultado não chega a ser muito animador. Primeiro, porque contrasta com o desempenho do setor medido pela Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM- PF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que havia indicado estagnação nos primeiros três meses de 2012. Segundo, porque quando se analisa a tendência dos componentes da oferta desde 2010, fica claro que é a indústria de transformação o elemento que vem prejudicando a expansão do PIB. O gráfico 1 evidencia o desempenho recente da indústria de transformação, cujo PIB encontra- se em nível inferior ao observado antes da crise financeira internacional. Na agropecuária, na indústria extrativa mineral e nos serviços, ao contrário, houve uma retomada firme do cres- cimento, voltando à trajetória pré-crise. Não por acaso, o nível de utilização de capacidade da indústria sofreu queda, encontrando-se hoje em nível inferior à média dos últimos oito anos e bem abaixo dos níveis pré-crise (gráfico 2). Entender o que acontece hoje com o setor indus- trial e identificar os motivos que estão por trás desse estado de ânimo negativo é questão-chave no debate atual de política econômica, especial- mente no sentido de informar as decisões de política econômica. Um ponto que parece consensual diz respeito à competitividade. Com efeito, o desempenho da indústria de transformação continua sendo negativamente influenciado por uma série de fatores que, associados Análise Temática Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas | Diretora: Vanessa Petrelli Corrêa Uma publicação do gap – grupo de análise e previsões número 19 · ano 4 · junho de 2012 GRÁFICO 1 Componentes do PIB pelo lado da oferta: média móvel de quatro trimestres (1º trimestre de 2004 = 100) Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 90,0 100,0 110,0 120,0 130,0 140,0 150,0 2004.I 2004.III 2005.I 2005.III 2006.I 2006.III 2007.I 2007.III 2008.I 2008.III 2009.I 2009.III 2010.I 2010.III 2011.I 2011.III 2012.I Agropecuária Extrativa mineral Transformação Serviços
  • 2. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 2 a uma conjuntura internacional desfavorável, tem contribuído para a redução da sua capacidade de competir em condições de igualdade com a produção externa. Esse fato é bem ilustrado pelos dados apresentados no gráfico 3, que mostram um firme crescimento da participação de bens importados no consumo doméstico (o coeficiente de penetração de importações), alcançando quase 21,0% no primeiro trimestre de 2012, e pela estagnação da participação das exportações no fa- turamento industrial (coeficiente de exportação), que se situa na casa de 15,0%, após ter atingido quase 19% em 2005. Até algum tempo atrás, os problemas de com- petitividade eram atribuídos, primordialmente, à valorização real da taxa de câmbio, como elemento responsável por elevar o custo em dólares da produção industrial doméstica. Mais recentemente, entretanto, outro elemento fun- damental na determinação desse custo passou a chamar atenção: a produtividade. Após se recuperar da forte queda causada pela crise financeira internacional de 2008, os ní- veis de produtividade do trabalho na indústria passaram a apresentar uma trajetória declinante (gráfico 4).1 Na verdade, a crise internacional parece ter representado um ponto de inflexão na tendência da trajetória da produtividade. Embora esta última tenha apresentado crescimento até o primeiro trimestre de 2010 − em resposta à re- cuperação cíclica da produção após a forte queda motivada pela crise internacional −, tornou-se cadente a partir do segundo semestre daquele ano. Em abril de 2012, a produtividade do trabalho já estava 4,7% abaixo do nível de pico alcançado em abril de 2010. Grande parte deste comportamento pode ser atribuída à resiliência apresentada pelo emprego industrial nos últimos dois anos, período em que a produção física sofreu forte desaceleração. De fato, nos últimos doze meses encerrados em abril, a produção industrial registrou queda de 1,2% ratificando um período de estagnação iniciado no fim do primeiro trimestre de 2010. No entanto, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), mantendo-se esta mesma base de comparação, o pessoal ocupado na indústria de transformação ficou praticamente estável (–0,2%). Três hipóteses podem ser aventadas para explicar este descolamento entre produção física e emprego na indústria. Uma delas é o crescimento da formalização no mercado de trabalho nos últimos anos, o que, ao elevar os custos associados a possíveis demissões, confere uma maior inércia aos movimentos da população ocupada. A segunda hipótese considera a expectativa dos empresários industriais quanto a uma breve recuperação do crescimento da produção, levando à manutenção de empregados que serão necessários no momento da recuperação. Uma terceira hipótese está ligada à escassez de mão de obra qualificada em vários setores da indústria, o que tem levado as empresas a investir mais no treinamento dos novos funcionários, aumentando, assim, a sua eficiência e, consequentemente, seu custo de reposição ao longo dos ciclos do processo produtivo. Na verdade, as três hipóteses se reforçam mutuamente, mas deixam claro que a manutenção dos empregos está condicionada a uma efetiva recuperação da produção nos próximos meses. GRÁFICO 2 Utilização de capacidade instalada: indústria de transformação (Em %) Fonte: Confederação Nacional da Indústria (CNI). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. -6 -4 -2 0 2 4 6 74,0 76,0 78,0 80,0 82,0 84,0 Apr-04 Aug-04 Dec-04 Apr-05 Aug-05 Dec-05 Apr-06 Aug-06 Dec-06 Apr-07 Aug-07 Dec-07 Apr-08 Aug-08 Dec-08 Apr-09 Aug-09 Dec-09 Apr-10 Aug-10 Dec-10 Apr-11 Aug-11 Dec-11 Apr-12 Variação (p.p.) contra igual mês do ano anterior Índice dessazonalizado Média histórica 1. O índice de produtividade foi calculado com base na produção física (PIM-PF, IBGE) e no número de horas trabalhadas (Indicadores Industriais, CNI). Fonte: CNI/Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. GRÁFICO 3 Coeficientes de exportação e de penetração de importações da indústria de transformação: a preços constantes de 2007 (Em %) 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0 19,0 20,0 21,0 22,0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 I.10 II.10 III.10 IV.10 I.11 II.11 III.11 IV.11 I.12 Coeficiente de penetração de importações Coeficiente de exportação GRÁFICO 4 Evolução da produtividade: indústria de transformação (Índice dessazonalizado, julho de 2003 = 100) Fontes: IBGE e CNI. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 98 100 102 104 106 108 110 112 114 116 118 Jan-03 May-03 Sep-03 Jan-04 May-04 Sep-04 Jan-05 May-05 Sep-05 Jan-06 May-06 Sep-06 Jan-07 May-07 Sep-07 Jan-08 May-08 Sep-08 Jan-09 May-09 Sep-09 Jan-10 May-10 Sep-10 Jan-11 May-11 Sep-11 Jan-12
  • 3. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 3 Os efeitos negativos da queda na produtividade sobre o setor manufatureiro são magnificados pelo crescimento dos rendimentos auferidos pelos trabalhadores. Este quadro tem sido pro- vocado, sobretudo, pelo dinamismo dos setores de construção civil e de serviços, cujos níveis de ocupação continuam respondendo aos estímulos combinados dos custos de demissão frente às expectativas de comportamento da demanda. A ausência de competição externa, visto que, comercializam bens non-tradables, permite que possíveis aumentos de custos sejam mais facil- mente repassados para os preços finais. Sendo assim, num ambiente caracterizado por taxas relativamente baixas de desemprego, a pressão proveniente dos aumentos salariais nestes setores tem se espalhado para os demais ramos da econo- mia. Uma vez que os repasses no setor industrial manufatureiro encontram-se limitados, seja pela taxa de câmbio seja pela competição dos produtos importados, a combinação entre produtividade em queda e aumento dos salários tem elevado o custo unitário do trabalho (gráfico 5).2 É possível que grande parte da queda verificada na produtividade da indústria de transformação seja explicada pela estagnação da produção física. Portanto, na medida em que o nível de atividade passe a responder de forma mais efetiva a medidas discricionárias implementadas pelo governo e ao investimento público, este processo tende a se reverter, ou seja, a recuperação da produção tenderá a elevar os níveis de produtividade do trabalho, reduzindo, consequentemente, seu custo unitário. No curto prazo, contudo, a possibilidade de melhora no desempenho do setor manufatureiro, assumindo a hipótese de que o cenário externo não caminhe para uma situação de ruptura, está associada à reversão de dois fatores: a redução do nível de estoques, que, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) referente ao último mês de maio, ainda permanecem próximos dos níveis considerados normais no setor industrial; e a reaceleração do crescimento do crédito. A flexibilização da política monetária iniciada no segundo semestre do ano passado ainda não teve o efeito esperado sobre as vendas a prazo. Os elevados níveis de inadimplência e de comprometimento da renda com serviços da dívida são questões que podem estar atrapalhando a recuperação das vendas. Na verdade, nesse ponto o país também parece viver uma situação diferente da que se observava em outros momentos de recuperação econômica, relacionada à limitação da capacidade de endividamento das famílias. A razão entre endividamento das famílias e a renda acumulada nos últimos meses apresenta uma clara tendência de crescimento desde o início da série do BCB, passando de 18,4% no início de 2005 para 43,3% em abril de 2012 – como mostra o gráfico 6. Ainda, de acordo com este último, o percentual de comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas (com ajuste sazonal) também apresenta tendência de alta no período. Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da renda mensal e passou para mais de 22,1% da renda mensal em abril de 2012. O maior comprometimento da renda com juros e amortizações, juntamente com a alta da inadimplência, tem efeitos diretos sobre a capacidade de obtenção de novos créditos, uma vez que os bancos passam a restringir novas concessões para pessoas que já estão com um percentual de comprometimento muito elevado, e sobre a renda disponível para consumo. A reversão nas trajetórias destes fatores, eventualmente associada ao movimento recente de depreciação da taxa de câmbio, à redução das taxas de juros, à manutenção dos ganhos reais de renda, à baixa taxa de desemprego e à existência de capacidade ociosa na economia compõe um cenário que se mostra benéfico a uma rápida e vigorosa recuperação da atividade da indústria de transformação. E o cenário mais provável continua sendo o de que tal recuperação ocorrerá durante o segundo semestre deste ano, e se estenderá ao longo de 2013. No entanto, a conjuntura atual evidencia que estamos vivendo um momento diferente e mais complexo na economia. Longe de ser um fato negativo, a situação atual reflete o fato de que a economia brasileira atingiu um novo patamar, com melhoria do nível de vida da população, GRÁFICO 5 Evolução do custo unitário do trabalho: indústria de transformação (Índice dessazonalizado, janeiro de 2006 = 100) Fontes: IBGE e CNI. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. Obs.:A curva escura presente no gráfico é denominada linha de tendência (filtro HP). GRÁFICO 6 Endividamento das famílias e comprometimento da renda das famílias com o serviço das dívidas: dados dessazonalizados (Em %) Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 2. O índice de custo unitário foi calculado com base na produtividade e no rendimento médio real (Indicadores Industriais, CNI). 98,0 100,0 102,0 104,0 106,0 108,0 110,0 112,0 114,0 116,0 118,0 Feb-06 May-06 Aug-06 Nov-06 Feb-07 May-07 Aug-07 Nov-07 Feb-08 May-08 Aug-08 Nov-08 Feb-09 May-09 Aug-09 Nov-09 Feb-10 May-10 Aug-10 Nov-10 Feb-11 May-11 Aug-11 Nov-11 Feb-12 15 17 19 21 23 25 27 15 20 25 30 35 40 45 jan/05 abr/05 jul/05 out/05 jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 (Renda mensal) Endividamento/renda acumulada em doze meses Serviço das dívidas/renda mensal (Renda acumulada em doze meses)
  • 4. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 4 redução das desigualdades e inclusão de importante parcela da população no mercado consumidor. Esse novo contexto, porém, traz novos desafios ao crescimento econômico que exigem esforços inovadores, com novas iniciativas que vão além daquelas que tradicionalmente ajudaram a impulsionar a produção no passado. Não há respostas prontas para enfrentar esses desafios. Este texto destacou um elemento característico da conjuntura econômica atual, que deve ser estudado com maior profundidade: a queda da produtividade e seu descolamento em relação à evolução dos salários reais, com implicações negativas sobre o custo unitário do trabalho. Há que se entender melhor o que está por trás desses indicadores e suas implicações sobre o desempenho futuro da economia e da indústria de transformação em especial, sob pena de nos defrontarmos com dificuldades para concretizar uma recuperação sólida do crescimento. Nesse sentido, um fator reveste-se de vital importância: o crescimento mais vigoroso e sustentado dos investimentos, não somente em virtude de seu peso como um dos componentes da demanda agregada, mas porque os investimentos têm efeitos decisivos sobre a produtividade e, por consequência, sobre a competitividade do país e sobre sua capacidade de crescimento. No caso específico do Brasil, há uma clara necessidade de se ampliar os investimentos em infraestrutura para superar deficiências relevantes nos setores de transportes (portos, aeroportos, rodovias, hidrovias e ferrovias), de saneamento básico e de geração de energia. Esses investimentos devem ser ampliados de diversas maneiras: diretamente pelo setor público; por meio de parcerias público-privadas; pela via de conces- sões ao setor privado; e, principalmente, através da estruturação de um ambiente atrativo que ofereça previsibilidade e rentabilidade aos investimentos privados. Nível de Atividade De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, o PIB registrou avanço de 0,2% na passagem entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro trimestre de 2012, na série livre de influências sazonais. Este resultado, que correspondeu a uma expansão anualizada de 0,8%, manteve o PIB numa zona de estagnação, refletida num crescimento de apenas 0,2% no acumulado dos últimos três trimestres. Com isso, o carregamento estatístico para 2012 permaneceu reduzido, passando de 0,2% para 0,4%, ou seja, caso o PIB permaneça estagnado durante os próximos três trimestres, na série com ajuste sazonal, cresceria a esta taxa ao final do ano. Na com- paração em relação ao mesmo período do ano anterior, a taxa de crescimento do PIB sofreu redução pelo oitavo trimestre consecutivo, pas- sando de 1,4% para 0,8% (gráfico 7). O fraco desempenho da economia brasileira também pode ser visto na evolução da taxa de expansão acumulada em quatro trimestres, que recuou pelo sexto período consecutivo, passando de 2,7% para 1,9%. Por trás disso, a demanda interna3 manteve certo dinamismo e voltou a crescer acima do PIB, registrando alta de 0,6%4 na margem. Na análise do PIB pela ótica da demanda, o destaque negativo ficou por conta da FBCF, que apresentou variação negativa pelo terceiro trimestre consecutivo na comparação com ajuste sazonal, recuando 1,8% em relação ao período imediatamente anterior. Embora os fatores associados à deterioração da conjuntura internacional tenham aumentado os níveis de incerteza, impactando negativamente nas decisões de investimento, o resultado do primeiro trimestre deve ser relativizado, uma vez que refletiu, em grande medida, a forte queda da produção de bens de capital ocorrida em janeiro (–16,0%), provocada pela paralisação do setor automotivo. Na comparação interanual, a FBCF recuou 2,1% contra o mesmo período de 2011, sendo este o primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2009. Com isso, a taxa de investimento líquido a preços correntes sofreu pequena redução, passando de 18,8% para 18,7%. Os de- mais componentes pelo lado da demanda registraram variação positiva na série dessazonalizada. Enquanto o consumo privado repetiu o resultado verificado no trimestre anterior, avançando 1,0% na margem, o vazamento externo se elevou, refletindo o comportamento das exportações e importações, que registraram altas de 0,2% e 1,1%, respectivamente. Na análise pelo lado da oferta, o setor da Agropecuária se destacou pela forte contração na margem, tendo recuado 7,3% ante o trimestre anterior, na série ajustada. Pior resultado desde o terceiro trimestre de 2005, a produção do setor foi negativamente influenciada por fatores climáticos, que provocaram forte queda nas safras de lavouras com peso relevante no período, como foi o caso da produção de soja. Na mes- ma base de comparação, enquanto o setor Serviços acelerou de 0,4% para 0,6%, a Indústria avançou 1,7% ante o quarto trimestre de 2011, interrompendo uma sequência de três variações negativas, período no qual a produção encolheu 1,6%. Ainda em relação à indústria, com 3. Demanda interna (ou doméstica) = consumo das famílias + consumo do governo + formação bruta de capital fixo (FBCF). 4. Dessazonalização própria. Alguns números da conjuntura GRÁFICO 7 PIB: evolução das taxas de crescimento trimestral e dessazonalizado (Em %) Fonte: IBGE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 1,8 1,5 1,6 -3,9 -1,5 1,5 2,6 2,7 2,1 1,2 0,9 1,0 0,9 0,5 –0,1 0,2 0,2 6,3 6,5 7,1 1,0 -2,7 -2,4 -1,5 5,3 9,3 8,8 6,9 5,3 4,2 3,3 2,1 1,4 0,8 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 -5,0 -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 Trimestre contra timestre anterior Trimestre contra mesmo trimestre do ano anterior
  • 5. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 5 exceçãodaatividadeExtrativamineral,querecuou0,5%,todasasdemaisavançaramnamargem,comdestaqueparaadeTransformação,que registrou alta de 1,9%. Este resultado contrastou com o desempenho do setor medido pela PIM-PF, também do IBGE, que havia indicado estagnação nos primeiros três meses de 2012. Grande parte deste descolamento pontual, no entanto, pode ser explicada pelas diferenças no que diz respeito ao tamanho e à periodicidade entre as duas séries, condicionando os resultados do processo de dessazonalização. Ainda em relação aos dados da PIM-PF, a produção industrial iniciou o segundo trimestre com nova queda na margem, recuando 0,2% na passagem entre março e abril. Na comparação interanual, os resultados entre os setores da oferta no PIB foram heterogêneos. O destaque positivo ficou por conta do setor Serviços, que avançou 1,6% ante o primeiro trimestre de 2011. Por outro lado, enquanto a Indústria ficou estagnada, a Agropecuária retraiu 8,5%, sendo este o pior resultado da série histórica. CAGED Mostra Desaceleração em Maio. PME Mantém Bom Dinamismo De acordo com as duas principais fontes de dados de emprego no país, o mercado de trabalho apresentou, em maio, algumas dife- renças na trajetória da ocupação. Embora, nas duas pesquisas, a população ocupada tenha se expandido, esta expansão se deu a taxas decres- centes no caso do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a taxas crescen- tes, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada pelo IBGE. A partir das informações coletadas pelo CAGED, verifica-se que, em maio, o saldo líquido de emprego (admissões menos demis- sões) foi de 139,7 mil. Com este resultado, nos últimos doze meses, foram criados 1,25 milhão de novos postos de trabalho formal na econo- mia, o que corresponde a uma queda de quase 35% em relação ao observado no acumulado em maio de 2011 (gráfico 8). Mantendo-se esta mesma base de comparação (maio de 2012 contra maio de 2011), verifica-se que os setores que mais apresentaram retração no saldo líqui- do em doze meses foram: Indústria de trans- formação (–84%); Utilidade pública (–59%); Comércio (–33%); e Serviços (–21%). Noentanto,oquadroretratadopelaPMEapon- ta um cenário mais otimista, mostrando que em maio, na comparação interanual, a população ocupada com carteira apresentou um incremen- to de 3,9%, ante taxa de 2,3% observada em abril. Este aumento da população ocupada com carteira, aliada à contínua expansão da ocupação informal, fez a desocupação recuar pra 5,8%, em maio, o que representa uma queda de 0,06 p.p. em relação ao apontado no mesmo mês de 2011. Em termos dessazonalizados, a desocupação também retrocedeu, passando de 5,7% em abril para 5,5% em maio,5 mantendo-se em patamar historicamente baixo (gráfico 9). Como vem ocorrendo nos últimos anos, esta melhora do cenário é pautada não somente pela queda da desocupação, mas também pelo crescimento dos salários reais. Em maio, os rendimentos reais habitualmente recebidos pelos trabalhadores aumentaram 4,9% ante o verificado no mesmo mês de 2011, repetindo o resultado do ano, que acumula incremento de 4,8%. De fato, não é de hoje que os dados do CAGED e da PME vêm fornecendo informações um pouco distintas. A distorção entre estas estatísticas pode estar nas diferenças metodológicas das duas pesquisas. No caso da PME, a abrangência se restringe a seis regiões metro- politanas (RMs) do país, além de levar em conta dados relacionados ao setor informal da economia. No caso do CAGED, as informações coletadas cobrem todo o território nacional, no entanto, só abarcam os empregos formais. Dentro deste contexto, pode-se inferir, ainda, indícios de um maior aquecimento do mercado de trabalho nas regiões mais dinâmicas do país e de um crescimento maior do emprego nos setores informais da economia, o que explicaria uma queda da desocupação mesmo com a retração do emprego formal. GRÁFICO 8 CAGED: saldos acumulados em doze meses (Em unidades) Fonte: CAGED/MTE. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 2.000.000 2.200.000 2.400.000 jan./2010 mar./2010 mai./2010 jul./2010 set./2010 nov./2010 jan./2011 mar./2011 mai./2011 jul./2011 set./2011 nov./2011 jan./2012 mar./2012 mai./2012 GRÁFICO 9 Taxa de desocupação dessazonalizada (Em %) 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 jan./2010 mar./2010 mai./2010 jul./2010 set./2010 nov./2010 jan./2011 mar./2011 mai./2011 jul./2011 set./2011 nov./2011 jan./2012 mar./2012 mai./2012 Fonte: Ipea/Dimac/GAP. Obs.: Dessazonalização feita a partir dos dados primários da PME/IBGE. 5. Dados dessazonalizados pelo GAP.
  • 6. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 6 Inflação – Desvalorização cambial não inflacionária No primeiro semestre de 2012 a inflação ao consumidor apresentou trajetória de queda, recuando, dos 6,50% no acumulado dos doze meses terminados em dezembro de 2011, para 4,99% no acumulado dos doze meses terminados em maio de 2012, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A prévia para a inflação de junho (segundo o IPCA-15) apontou variação de 0,18%, contra maio, abaixo da expectativa do mercado,6 indicando a possibilidade de continuidade desse movimento de queda do IPCA. Junho é tipicamente um mês de inflação baixa, por razões sazonais. Porém, segundo o IPCA-15, enquanto em 2011 a inflação de junho foi baixa devido à deflação dos alimentos no domicílio (–0,18%), em 2012 esse grupo pressionou o índice para cima (0,65%). A alta da inflação dos alimentos (dentro e fora do domicílio) foi resultado de fatores climáticos adversos, notadamente no sul do país. Tais fatores reduziram a perspectiva de produção em 2012, em comparação à de 2011, de algumas culturas importantes na dieta dos brasileiros, tais como o arroz, o trigo, o feijão e a batata.7 Desta forma, a inflação baixa de junho teve explicações distintas da que ocorreu em 2011. É de se notar a ausência de repasse aos preços finais da desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, no primeiro semestre de 2012. A inflação dos bens comercializáveis no exterior registroualtadeapenas3,2%noacumuladodosdozemesesterminadosemjunho(utilizandooIPCA-15comoproxyparaoIPCAdejunho). A primeira razão para esse fenômeno é a continuidade da política de isenções tributárias, que atingiu o preço de bens duráveis neste primeiro semestre do ano, registrando deflação (–4,1%) no acumulado dos doze meses terminados em junho (utilizando o IPCA-15 como proxy para o IPCA de junho). Especificamente, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis foi determinante para a queda do preço dos automóveis novos (–3,5%) e usados (–2,62%), segundo o IPCA-15 de junho contra maio. Nota-se que a nova estrutura de ponderação do IPCA pelo IBGE,8 com aumento da participação de automóveis, amplificou o impacto deflacionista dos preços dos automóveis em relação ao que seria no ano passado. A segunda razão é uma nova rodada de queda dos preços de commodities, como os insumos industriais, as commodities metálicas e as maté- rias-primas brutas da agricultura, diante de um cenáriodeprolongamentodacriseinternacional. Isso explica a queda do preço do etanol, que, segundo o índice do IPCA-15 de junho contra maio, registrou variação de –1,47%, e, conse- quentemente, da mistura que compõe a gasolina (–1,48%). O gráfico 10 mostra as trajetórias de aumento da taxa de câmbio e de queda do preço das commodities – captadas pelo Índice de Com- modities Brasil (IC-Br) em dólares. O resultado dessarelaçãoinversaéaestabilidadedoIC-Brdo BCB, que é medido em reais. Oterceirofatorimportanteéareduçãonocustodofinanciamentodoprocessodeproduçãoedacomercializaçãodebenseserviços,istoé,a quedadocustodocapitaldegiroedasprópriastaxasdocréditocobradasnocomércio,muitasvezesjáembutidasnospreçosfinaisdosbens. A combinação desses três fatores mais do que compensou as pressões advindas da desvalorização cambial. Dessa forma, diante de um cenário de queda da demanda interna, esses elementos juntos propiciam uma ausência de repasse aos preços finais das pressões altistas da desvalorização cambial ou até mesmo políticas de promoções e descontos, como forma de as firmas preservarem ou aumentarem sua parcela de mercado. É o que explica a deflação, segundo o IPCA-15 de junho contra maio, observada nos artigos de limpeza (–0,03%), móveis e utensílios (–0,58%), cama mesa e banho (–1,12%) e TV, som e informática (–0,16%). Setor Externo Os números de maio do balanço de pagamentos brasileiro mostram um saldo global de US$ 1,1 bilhão, resultado de um déficit em tran- sações correntes de US$ 3,5 bilhões (–17% em relação ao mesmo mês de 2011) e um saldo positivo da conta capital e financeira de US$ 4,1 bilhões (–54,5%). O menor déficit em conta corrente deveu-se à redução das remessas de lucros e dividendos (–39,1%) e também do saldo comercial (–16,2%). Na conta financeira, o destaque foi a reversão do saldo dos investimentos em carteira, que foram negativos em US$ 3,1 bilhões, ao passo que os investimentos estrangeiros permaneceram vultosos (entradas de US$ 3,7 bilhões). Aliás, os investimentos em carteira já acumulam no ano, até maio, saldo negativo de US$ 619 milhões. Neste mesmo período, o déficit em transações correntes do país foi de US$ 20,9 bilhões, ou 2,19% do PIB, e o saldo da conta capital e financeira somou US$ 40,4 bilhões, com queda de 35,5%. 6. A expectativa para o IPCA de junho era de 0,20 de acordo com a pesquisa Focus de 15 de junho de 2012. 7. Ver o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE (atualização de 5 de junho de 2012). 8. Ver as publicações de janeiro e de fevereiro de 2012 do Conjuntura em Foco do Ipea/Dimac/GAP. GRÁFICO 10 Taxa de câmbio e commodities Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. Obs.: Índices com base 100 em dezembro de 2005. O câmbio de junho (fim de período) foi aproximado pelo valor do dia 27 de junho. Para o IC-Br em dólares de junho foi considerado o indicador da revista The Economist (all items). 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 fev/09 abr/09 jun/09 ago/09 out/09 dez/09 fev/10 abr/10 jun/10 ago/10 out/10 dez/10 fev/11 abr/11 jun/11 ago/11 out/11 dez/11 fev/12 abr/12 jun/12 IC-Br IC-Br em dólares Câmbio (eixo direito)
  • 7. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 7 No mercado cambial, a reversão do fluxo financeiro em maio aumentou a pressão no sentido de valorização da moeda norte- americana, que alcançou o patamar de R$ 2,00/US$ pela primeira vez desde 2009. De fato, a valorização do dólar tem sido uma tendência mundial, tendo em vista o seu papel de porto seguro frente às incertezas da economia mundial. Diante desse cenário, o Banco Central tem realizado emissão de swaps cambiais e venda de dólar, oferecendo maior liquidez e proteção ao mercado, além de começar a remover uma série de medidas tomadas anteriormente no sentido de controlar a entrada de capitais. Na comparação entre maio de 2012 e 2011, as exportações se mantiveram estáveis (aproximadamente US$ 23,2 bilhões) e as importações apresentaram alta de 2,9%, o que explica a redução do saldo comercial de US$ 3,5 bilhões em maio de 2011 para US$ 2,9 bilhões no mesmo mês de 2012. É importante observar, no entanto, que se trata do maior superávit do ano e, em termos dessazonalizados, houve aumento de 24,4% na passagem de abril para maio de 2012. No acumulado do ano, o saldo é de US$ 6,3 bilhões, com redução de 26,6% em comparação a igual período de 2011. O gráfico 11 ilustra que as exportações apre- sentam ligeira tendência de queda, em termos dessazonalizados, desde o final do ano passado, ao passo que as importações estão razoavelmen- te estabilizadas. O saldo comercial tem sido, em média, de US$ 1,8 bilhão ao mês. Merece destaque o desempenho positivo das exportações de manufaturados que cresce- ram, em maio, 2,7% em relação ao mesmo mês de 2011, com destaque para itens como automóveis e motores e geradores elétricos. O resultado negativo dos produtos básicos (–2,7% entre maio de 2011 e 2012), por sua vez, foi diretamente afetado pela queda re- cente no preço do minério de ferro, embora o desempenho em termos de quantidade permaneça positivo. Com efeito, o quantum de produtos básicos acumula alta de 7,0% no período janeiro-maio, ao passo que os manufaturados tiveram alta de apenas 0,9%. Com relação à economia mundial, a incerteza continua a dominar o cenário. A despeito de as eleições na Grécia terem conduzido ao poder um partido favorável à continuidade das reformas exigidas pela União Europeia (UE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu, permanecem as dúvidas quanto à capacidade de o novo governo suportar politicamente o custo dessas reformas. Para- lelamente, cresceram as preocupações com a situação de Espanha e Itália, refletidas no aumento dos spreads sobre seus bônus soberanos. Na Espanha, há uma preocupação especial com a situação dos bancos, o que levou o país a iniciar negociações para obter um pacote de ajuda de até 100 bilhões de euros para capitalizar o setor bancário do país. Nos Estados Unidos, os indicadores mais recentes fizeram crescer as preocupações relacionadas à capacidade de o país sustentar taxas de crescimento mais robustas, tendo em vista as perspectivas não muito positivas para o consumo (diante de um mercado de trabalho ainda pouco dinâmico) e dos efeitos da retirada de alguns estímulos fiscais. Na China, há indícios de que a desaceleração do crescimento poderá ser mais forte do que a esperada neste ano, e não se descarta uma desaceleração ainda maior em 2013. Adicionalmente, o Brasil já está sentindo os efeitos dos problemas econômicos na Argentina e das restrições às importações impostas pelo país, refletindo-se em forte redução das exportações brasileiras para o vizinho. Crédito e Mercado Financeiro O Comitê de Política Monetária (Copom) continuou o movimento de redução da taxa básica de juros em sua última reunião, com um novo corte de 0,5 p.p. na meta SELIC – de 9% a.a. para 8,5% a.a. Na ata dessa reunião, divulgada em 8 de junho, o Copom consi- derou que “permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação” e que “dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária”. A ata sinaliza ainda que o comitê deve continuar reduzindo “com parcimônia” a taxa de juros nas próximas reuniões. O processo de flexibilização da política monetária está tendo efeito sobre as taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro. As taxas médias cobradas de pessoa física e de pessoa jurídica caíram, respectivamente, de 45,1% a.a. e 28,7% a.a. em janeiro de 2012 para 38,8% a.a. e 25% a.a. em maio do mesmo ano – de acordo com os dados do BCB. Os dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC) apontam na mesma direção. De acordo com a ANEFAC, as taxas médias para pessoa física e para pessoa jurídica encontram-se nos menores valores da série histórica – iniciadas em 1995 e 1999, respectivamente. Esse movimento de queda dos juros foi impulsionado também pelas significativas reduções lideradas pelos bancos públicos a partir de abril deste ano. Um resultado direto dessa atitude dos bancos públicos foi o crescimento maior das operações de crédito em relação aos bancos privados – como mostra o gráfico 12. Com isso, a participação de mercado das instituições públicas passou de 43,6% em janeiro de 2012 para 44,6% em maio deste ano. Outra consequência dessas quedas de juros foi a redução do spread bancário médio das operações GRÁFICO 11 Exportações, importações e balança comercial: série dessazonalizada (Em US$ milhões) Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 20.000 22.000 24.000 (Saldo) (Exportações e importações) Saldo Exportações Importações
  • 8. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 8 consolidadas (prefixado, pós-fixado e flutuante), de 27,8% a.a. em janeiro de 2012 para 24,6% a.a. em maio do mesmo ano – como mostram os dados do BCB. Mesmo com essas reduções dos juros, o crédito ainda não se acelerou como se esperava. O crescimento interanual do estoque de crédito continuouelevadoemmaio(18,3%),porémessa taxa ainda está abaixo do patamar médio do ano passado (20% a.a.). Como é possível ver pelos dados da tabela 1, o destaque continua sendo o crescimento do crédito direcionado habitacional, que atingiu 5% do PIB em maio deste ano. Vale lembrar que no início de 2009 o crédito habita- cional representava apenas 2% do PIB. TABELA 1 Saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (Em % do PIB) Período Recursos livres   Recursos direcionados Total geral Pessoa física Pessoa jurídica Total   BNDES1 Rural Habitação Outros Total Jan./2011 14.8 14.6 29.3 9.5 2.3 3.5 0.4 15.6 45.0 Dez./2011 15.6 15.8 31.4 10.1 2.6 4.5 0.4 17.6 49.0 Mai./2012 16.0 16.1 31.6   10.0 2.5 5.0 0.4 18.0 50.1 Fonte: BCB. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. Nota: 1 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os fatores que vêm sendo apontados como possíveis responsáveis pela demora na resposta do crédito, especialmente do crédito com recursos livres à pessoa física, ao estímulo da política monetária são os elevados níveis de inadimplência e de comprometimento da renda familiar com os serviços da dívida. De acordo com os dados do BCB, a inadimplência de pessoa física manteve o movimento de alta em maio, atingindo o maior nível (9%) desde maio de 2009. O indicador de inadimplência de pessoa física da Serasa Experian também aponta para um crescimento expressivo dos devedores em atraso, com uma taxa acumulada de 20% de janeiro a maio de 2012 – na comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa piora tende a se reverter no segundo semestre do ano com o aumento do rendimento médio real e a manutenção do emprego em níveis historicamente altos. O comprometimento da renda das famílias com os serviços da dívida, por sua vez, manteve-se num patamar elevado, acima de 22%, em maio de 2012, segundo dados do BCB. Finanças Públicas: a dinâmica recente do investimento público no Brasil Após terem atingido, em 2010, os valores mais altos – em porcentagem do PIB – em várias décadas, a taxa de investimento das administrações públicas (APU) e as despesas de investimentos das empresas estatais federais caíram fortemente em 2011 (gráfico 13). É importante observar que os anos que se se- guem às eleições de governadores e presidentes são normalmente caracterizados por ajustes fiscais e quedas substanciais nos investimentos da APU. A magnitude dessas quedas vinha se reduzindo (–0,9%, –0,7% e –0,2% do PIB nos anos de 1999, 2003 e 2007, respectivamente), mas mostrou nova ampliação no ano de 2011 (–0,5% do PIB). O gráfico 14 mostra a evo- lução dos investimentos das APUs no período 2002-2011 desagregada por esfera de governo (em porcentagem do PIB) e a tabela 2 mostra os montantesinvestidosporcadaesferadegoverno, sendoqueasinformaçõesdosgovernosestaduais (GEs)edosgovernosmunicipaisGMs)em2011 são projeções preliminares da CFP/Ipea. GRÁFICO 12 Taxa de crescimento das operações de crédito do sistema financeiro segundo o controle de capital (Variação interanual, mês/mesmo mês do ano anterior, em %) Fonte: Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) Bovespa. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 Total Instituições públicas Instituições privadas nacionais Instituições estrangeiras GRÁFICO 13 FBCF das APUs e despesas de investimento das empresas estatais federais entre 1995 e 2011 (Em % do PIB) Fonte: Coordenação de Finanças Públicas (CFP) do Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. Obs.: Os investimentos das estatais não consideram as empresas privatizadas no período, principalmente a CVRD e as empresas do grupo Telebras. 2,2% 1,9% 2,4% 1,6% 1,7% 1,9% 2,2% 1,5% 1,6% 1,6% 2,0% 1,8% 2,2% 2,3% 2,8% 2,4% 0,6% 0,7% 0,8% 0,8% 0,8% 0,9% 1,1% 1,1% 1,0% 1,0% 1,0% 1,1% 1,4% 1,8% 1,9% 1,7% 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% dez-95dez-96dez-97dez-98dez-99dez-00dez-01dez-02dez-03dez-04dez-05dez-06dez-07dez-08dez-09dez-10dez-11 Empresas estatais federais (sem privatizações) APU
  • 9. Conjuntura em Foco | número 19 · ano 4 · junho de 2012 9 Observa-se, no gráfico 14, que os investimentos federais foram os que registraram a maior expan- são no período recente – saindo do patamar ínfi- mo de 0,2% do PIB em 2003 até alcançar 0,8% em 2010. Em 2011, entretanto, os investimentos federais caíram para 0,6% do PIB – uma queda quase tão brusca quanto a verificada em 2003 em relação a 2002. Os números mais recentes sugerem que a queda deve se prolongar neste ano. Com efeito, os investimentos do governo federal nos cinco primeiros meses de 2012 totalizaram o montante de R$ 8,5 bilhões, valor inferior aos R$ 8,8 bilhões observados em igual período de 2011. Os investimentos dos governos estaduais também cresceram consideravelmente no período 2006- 2010, passando de 0,5% para 1,1% do PIB. Por outro lado, os governos estaduais foram os maiores responsáveis pela retração recente nos investimentos públicos – uma vez que seus investimentos caíram de 1,1% do PIB em 2010 para 0,8% do PIB em 2011. Destaque-se, entretanto, que a redução de 0,3% do PIB verificada em 2011 foi semelhante àquela ocorrida nos investimentos públicos estaduais nos demais anos pós-eleitorais (–0,3% do PIB em 2003 e –0,2% do PIB em 2007). Destaque-se, por fim, que os primeiros números dos investimentos estaduais em 2012 também são pouco animadores. Com efeito, as execuções de investimentos do exercício corrente dos governos estaduais caíram de R$ 4,7 bilhões nos primeiros quatro meses de 2011 para R$ 4,4 bilhões no mesmo período de 2012.9 TABELA 2 Investimento das APUs por entes federados (Valores em R$ milhões) Ano GF1 GE GM APU 2006 9.216 18.226 19.866 47.308 2007 11.459 14.138 21.974 47.570 2008 13.673 22.386 32.103 68.163 2009 19.873 30.551 25.270 75.694 2010 30.708 40.057 34.121 104.886 2011 26.278 31.878 40.692 98.848 Fonte: CFP/Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. Nota: 1 Governo Federal. Ao contrário do que ocorreu com os demais entes federados, as APUs municipais aceleraram seus investimentos em 2011. As projeções preliminares da CFP/Ipea sugerem que a taxa de investimento dos GMs alcançou 1% do PIB no ano de 2011, marca esta muito próxima do patamar mais eleva- do da história recente (1,1% do PIB, atingida em 2008). Estas projeções foram construídas a partir de um indicador com as informações de 2.120 municípios para os quais os investimentos aumentaram de R$ 17,5 bilhões para R$ 21,1 bilhões entre 2010 e 2011. A expansão dos investimentos municipais parece estar fortemente influenciada por grandes obras de infraestrutura de transportes e de urbanização, principalmente nas maiores cidades do país e que serão sedes dos grandes eventos esportivos (destacando-se o município do Rio de Janeiro). Observe-se, ainda, que o ano de 2012 é de eleições para prefeitos e o cenário mais provável é de expansão dos investimentos municipais nos próximos trimestres. Com efeito, considerando-se uma amostra de 957 municípios com informações disponíveis, tem-se um volume de investimentos de R$ 2,5 bilhõesnoprimeiroquadrimestrede2012–valoreste38%superior(emtermosnominais)aoR$1,8bilhãoverificadonoprimeiroquadrimestrede2011. Note-se, por fim, que os investimentos das empresas estatais federais também começaram a reagir. No primeiro quadrimestre de 2012 as despesas de investimento das empresas estatais atingiram R$ 23,6 bilhões, valor este 19% superior (em termos nominais) aos R$ 19,8 bilhões verificados em igual período de 2011. Em suma, os primeiros dados de 2012 mostram o investimento público parcialmente em recuperação, puxado pelos investimentos dos GMs e das empresas estatais federais. Uma recuperação mais forte do investimento público em 2012 dependerá, em grande medida, da aceleração dos investi- mentos públicos federais e estaduais. 9. Não é possível dispor das informações atualizadas da FBCF dos governos subnacionais, somente projeções para 2011 e informações parciais para 2012. Os valores cita- dos no texto para 2012 consideram apenas as execuções das despesas de investimento no exercício corrente, que incluem as transferências de capital dos estados para os municípios e não incluem os investimentos realizados nos orçamentos de restos a pagar de exercícios anteriores. Os valores acima excluem, ainda, o Estado de Goiás (cujo número divulgado no segundo bimestre de 2012 possivelmente inclui despesas que não devem ser contabilizadas como investimentos propriamente ditos, mas sim como “inversões financeiras”). Infelizmente, o acesso a dados detalhados sobre a execução das despesas de investimento dos governos subnacionais ainda é difícil. Uma exceção, digna de elogio por aumentar a transparência fiscal, é o Estado de São Paulo, que passou a disponibilizar estas informações no sítio da Secretaria da Fazenda estadual e cujos pagamentos de investimentos (na modalidade “aplicações diretas”) mostraram queda de R$ 10,3 bilhões em 2010 para R$ 6,2 bilhões em 2011. GRÁFICO 14 FBCF das APUs desagregada por ente federado entre 2002 e 2011 (Em % do PIB) Fonte: CFP/Ipea. Elaboração: Ipea/Dimac/GAP. 0,5% 0,2% 0,2% 0,3% 0,4% 0,4% 0,5% 0,6% 0,8% 0,6% 0,8% 0,6% 0,6% 0,7% 0,8% 0,5% 0,7% 0,9% 1,1% 0,8% 0,9% 0,8% 0,8% 0,6% 0,8% 0,8% 1,1% 0,8% 0,9% 1,0% 0,0% 0,2% 0,4% 0,6% 0,8% 1,0% 1,2% dez-02 dez-03 dez-04 dez-05 dez-06 dez-07 dez-08 dez-09 dez-10 dez-11 Governo federal Governo estadual Governo municipal