1) O documento descreve a condenação de João Paulo Cunha e dirigentes da agência SMP&B pelo STF em um caso envolvendo desvio de dinheiro da Câmara dos Deputados.
2) O relator Joaquim Barbosa usou principalmente informações após 2005 para condenar, desprezando investigações anteriores que provavam a inocência dos acusados.
3) Barbosa teve um momento de fúria durante o julgamento ao contradizer o TCU, sugerindo que a corte tentou armar a absolvição dos réus
EFEITOS DOS CUSTOS TRANSACIONAIS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GOVERNO
Revista Brasileiro sobre o Mensalão
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8 SUPREMA IRONIA
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de Mali, um dos países mais miseráveis do Entre em contato com a redação
planeta de Retrato do Brasil.
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12 PALESTINOS FORA as mensagens recebidas para
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Em Israel, com os partidos de centro
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levando a melhor nas eleições, a questão 28 AS LIÇÕES DO
árabe ficou de lado GUERRILHEIRO MARIGHELLA
Obra biográfica escrita por Mário Magalhães Retrato do BRASIL é uma publicação
[Tânia Caliari] mensal da Editora Manifesto S.A.
lembra, entre outros episódios, as ameaças
16 QUEM DEVE CONTROLAR atuais contra o PT
O SISTEMA QUE CONTROLA? [Markus Sokol] EDITORA MANIFESTO S.A.
PRESIDENTE
A “governabilidade da internet” provocou Roberto Davis
divisão na Conferência de Telecomunicações 31 CONCESSÕES À MODA ALEMÃ DIRETOR VICE-PRESIDENTE
de Dubai O governo estuda flexibilizar os direitos Armando Sartori
[Thiago Domenici] trabalhistas com apoio da CUT e dos DIRETOR EDITORIAL
Raimundo Rodrigues Pereira
metalúrgicos do ABC
18 A GRANDE ARTE DE [Téia Magalhães] EXPEDIENTE
JOAQUIM BARBOSA SUPERVISÃO EDITORIAL
34 SEIS FILMES E UMA HISTÓRIA Raimundo Rodrigues Pereira
Como o presidente do STF armou as
Safra de produções recentes ensaia formas EDIÇÃO
condenações de João Paulo Cunha e de Armando Sartori
dirigentes da agência SMP&B diversas de colocar na tela a História com
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
[Raimundo Rodrigues Pereira] letra maiúscula Thiago Domenici
[Leandro Saraiva] REDAÇÃO
Lia Imanishi • Sônia Mesquita • Tânia
Caliari • Téia Magalhães
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38 TEMPOS MODERNOS
EDIÇÃO DE ARTE
Os EUA querem tornar obsoleta a mão de Pedro Ivo Sartori
obra barata. China, Alemanha e outros REVISÃO
países também Silvio Lourenço [OK Linguística]
[Flávio de Carvalho Serpa] COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Caco Bressane • Flávio de Carvalho Serpa
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42 O FORRÓ E SUAS METAMORFOSES Pompeu • Ricardo Viel
ILUSTRAÇÃO DA CAPA
Livro sobre forrozeiros ajuda a entender as Caco Bressane
transformações das danças e músicas dos
camponeses nordestinos REPRESENTANTE EM BRASÍLIA
[Renato Pompeu] Joaquim Barroncas
44 “MINHA PÁTRIA É ADMINISTRAÇÃO
Mari Pereira • Maria Aparecida Carvalho •
A LÍNGUA PORTUGUESA” Mariluce Prado • Neuza Gontijo
O adiamento, pelo Brasil, da vigência
plena do acordo ortográfico com Portugal DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS
e demais países lusófonos criou celeuma Global Press
[Ricardo Viel, de Lisboa]
4 | retratodoBRASIL 68
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3. Mensalão
a grande arte de
joaquim barbosa
Como o atual presidente do Supremo Tribunal Federal armou as condenações de
João Paulo Cunha e dos dirigentes da agência SMP&B por um suposto desvio de
dinheiro da Câmara dos Deputados por Raimundo Rodrigues Pereira
Está no YouTube, na sessão do dia 16 de
de agosto no julgamento da Ação Penal
470 no STF. O ministro relator já falou
por mais de três horas apresentando
seu voto pela condenação de João Paulo
Cunha e da agência de publicidade SMP&B,
quando revela um argumento do Tribunal
de Contas da União que o contradiz
completamente. Então ele tem uma espécie de
surto, sai do script, gesticula freneticamente
18 | retratodoBRASIL 68 enquanto ataca a corte de contas
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4. O DIABO MORA nos detalhes, é o di- tem um valor maior, 11,32% do contrato. o contrário, isto é, que não houve desvio
tado. Para tentar entender a condenação E, então, de repente, como se percebesse de dinheiro da Câmara dos Deputados
de João Paulo Cunha e dos dirigentes da a extensão da diferença entre o que vinha no contrato da Câmara com a SMP&B.
agência de publicidade mineira SMP&B afirmando e o que o TCU diz – 11% é Cunha, um parlamentar com sete man-
por desvio de dinheiro público num mil vezes 0,01% –, interrompe a leitura, datos populares – de vereador, deputado
contrato de publicidade de 10,7 milhões ergue a cabeça, sai do script e, como se federal e estadual –, com uma carreira
de reais assinado pelo então presidente falasse diretamente para o espectador sem mácula, foi condenado a nove anos
da Câmara dos Deputados e a agência da TV Justiça, que transmite a sessão, e quatro meses de prisão. A SMP&B era
no final de 2003, sugerimos que o leitor fala, gesticulando rapidamente com o até então uma das principais empresas de
comece revendo um curto trecho da 31ª indicador da mão direita, com a mão publicidade do País, com mais de 30 anos
sessão do julgamento da Ação Penal 470 inteira e com todo o braço: “Uma secre- de atividades. Foi destruída: em menos
(AP 470) no Supremo Tribunal Federal, taria disse uma coisa... o que eu já citei”. de dois meses não tinha mais condições
no dia 16 de agosto do ano passado. Ri rapidamente e conclui: “Foi trocada de funcionamento e demitiu todos os
Esse detalhe está perto do final da fala toda a equipe, que posteriormente diz o seus quase 200 funcionários.
do ministro Joaquim Barbosa, o relator contrário”. A condenação de Cunha por corrup-
da ação. Barbosa falara praticamente Com isso, claramente, o ministro ção e o suposto desvio de dinheiro da
sozinho durante quase quatro horas. Sua Barbosa tentou passar para o País a Câmara, logo na primeira sentença da AP
fala fora repetitiva, pesada. Ele apresen- tese de que a absolvição de Cunha e 470, criaram o clima para o que alguns já
tou e reapresentou fatos que provariam da SMP&B pelo TCU fora armada. chamam hoje, como veremos no último
a justeza de sua condenação. Cunha, o No entender do repórter, isso é uma capítulo de nossa história, o “mentirão”,
principal acusado, teria cometido quatro insinuação grosseira, sem fundamento. um julgamento com condenações por
crimes: um de corrupção passiva, por ter E é pouco provável que Barbosa man- indícios, não por provas. No caso de
recebido propina de 50 mil reais; outro, tenha esse improviso no acórdão com Cunha foi até pior: ele foi condenado
de lavagem de dinheiro, por ter tentado a sentença a ser publicada, a princípio, contra as provas. Ele provou que os 50
ocultar o recebimento dessa vantagem; e até o final deste mês de março. Não foi mil reais recebidos eram de um esquema
dois de peculato: um por ter se beneficia- o TCU que tentou armar a absolvição de caixa dois do PT e apresentou as tes-
do de dinheiro público, cerca de 250 mil dos acusados. Foram as artes do ministro temunhas e os recibos de que gastou esse
reais da Câmara, através da contratação que construíram a condenação do STF. dinheiro com pesquisas eleitorais. Mas
de um assessor pessoal, e outro porque Para condenar, Barbosa selecionou, a maioria dos juízes preferiu condená-
teria repassado cerca de 1,1 milhão de basicamente, informações dos meses lo pelo que supunha ter acontecido. A
reais, também da Câmara, não para a após o 6 de junho de 2005, quando foi ministra Cármen Lúcia, por exemplo,
SMP&B, mas, na verdade, para o PT. feita a denúncia do deputado Roberto disse que achava que ele tentou esconder
Os 20 segundos escolhidos pelo Jefferson sobre a existência do chamado o fato de ter recebido os 50 mil por ter
repórter estão perto do final da sessão. “mensalão”, e desprezou as principais mandado sua esposa, Márcia Regina,
Podem ser vistos no YouTube: AP 470, investigações feitas – das quais a do TCU receber o dinheiro e tê-lo feito às claras,
16/08/12, 2/2. É a segunda parte da é apenas uma – que provam exatamente deixando recibo.
sessão. Barbosa está cansado, nervoso,
como se pode ver nos 11 fotogramas
da página ao lado tirados desses 20 se- A GRANDE INVESTIGAÇÃO DA CÂMARA
gundos. Ele vinha lendo pausadamente Ela resultou de pedido do próprio João Paulo Cunha. Foi de 2005
seu voto – longuíssimo, 159 páginas. a 2011 e concluiu: não houve qualquer desvio de dinheiro público
Teria provado, como escreveu à página
75 e leu para o plenário, que “o crime” Para entender os interesses políti- Curvelo como ele e diretor financeiro
estava “materializado”. Cunha teria cos por trás do escândalo chamado das empresas de publicidade DNA e
desviado a maior parte do dinheiro da “mensalão”, um episódio a ser revisto, SMP&B, a Delúbio Soares, o tesoureiro
Câmara para o PT por ter contratado mesmo que rapidamente, é a eleição do do PT, a quem Valério ajudou na tarefa
a agência SMP&B para que não fizesse pernambucano Severino Cavalcanti, do de obter dinheiro para o partido.
praticamente nada. Dos quase 11 mi- Partido Progressista (PP), a presidente Na nossa história, a candidatura de
lhões pagos pela Câmara no contrato, da Câmara dos Deputados em meados Virgílio contra o candidato oficial do
menos de um centésimo seria trabalho de fevereiro de 2005. Severino ganhou seu partido serve para ressaltar o fato
feito efetivamente pela agência. a eleição porque o PT se dividiu e apre- conhecido de que o PT é formado por
O cronômetro no YouTube marca sentou um candidato dissidente, Virgílio várias correntes. O grande apoio a Seve-
1h03min10s, ou seja, essa segunda parte Guimarães (PT-MG), no mesmo pleito. rino e a baixa votação de Greenhalgh no
da sessão já tem uma hora, três minutos Severino, com 124 votos, e Virgílio, segundo turno mostram ainda que a já
e dez segundos de duração. Aparente- com 117, tinham sido derrotados no então chamada base aliada estava longe
mente, então, Barbosa percebe que é primeiro turno pelo candidato oficial de ser petista. A vitória de Severino, a
preciso destacar também o contraditório, do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh, que rigor, foi o fato que puxou o enredo da
a defesa de Cunha. Cita, nesse sentido, tivera 207 votos. No segundo turno, trama política para um lado: contra o PT
um trecho da conclusão do acórdão 430 Severino bateu Greenhalgh por 300 a e a favor da invenção do “mensalão”.
do Tribunal de Contas da União (TCU), 195 votos. Virgílio foi o homem que No caso da Câmara, ajudou a criar a
de 2008: o trabalho efetuado pela agência apresentou Marcos Valério, mineiro de historinha contra o ex-presidente da
68 retratodoBRASIL | 19
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5. casa. Da assessoria do pernambucano fora uma propina para ele aprovar o de 1.929 páginas. Basicamente, ela se
emerge Alexis Souza, o operador na contrato com a SMP&B. Severino não desenvolve em três etapas: 1) a iniciada
produção do principal documento usado só encaminhou o pedido ao TCU como com o pedido de Cunha, a 7 de julho
por Barbosa na condenação de Cunha e deu ordem a Alexis, segundo o próprio de 2005, e comandada por Alexis, que
dos dirigentes da agência SMP&B. repete em seus depoimentos, para re- produz dois relatórios: um dois meses
Alexis é um funcionário da Câmara alizar uma investigação sobre o caso. depois, em setembro, e outro, a se-
ligado ao PP. Com Severino na presidên- E o chefe da Secin a fez, de imediato. guir, em outubro; 2) a conduzida pelo
cia, Alexis foi para a chefia da Secretaria Quando, de 25 de julho a 3 de agosto Núcleo Jurídico da administração da
de Controle Interno (Secin) da Câmara. de 2005, o TCU mandou uma equipe Câmara, entre o final de 2005 e mea-
Quando Severino renunciou à presidên- da sua Terceira Secretaria de Controle dos de 2006; 3) e a que se passa daí em
cia, sete meses depois, Alexis tornou-se Externo (3ª Secex) à Câmara para uma diante, conduzida por uma Comissão
assessor da bancada de deputados do PP. investigação inicial, Alexis repassou a de Sindicância (CS) criada pela direção
Até meados de fevereiro estava no gabi- essa equipe as conclusões a que tinha administrativa da Câmara na época em
nete da vice-presidência da Câmara, ocu- chegado. O trabalho da 3ª Secex seguiu que era presidente da Casa o deputado
pada pelo deputado Eduardo da Fonte, em frente e foi desembocar no acórdão Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Como as co-
também do PP de Pernambuco, como missões de sindicância só podem, pelo
Severino. Foi lá que Alexis conversou
com RB no início de fevereiro. Pouco
Cunha pediu que estatuto da Câmara, funcionar por 30
dias, prorrogáveis por mais 30, a rigor
antes, o repórter desta história tinha
revisto, no YouTube, a condenação de
Severino pedisse foram nomeadas oito dessas comissões,
sempre com o mesmo presidente e pra-
Cunha por Barbosa e citou para Alexis
o fato de o ministro ter destacado o seu
uma investigação ticamente com os mesmos funcionários,
o que permite considerá-las uma só.
documento na condenação. Aparente-
mente, Alexis ficou orgulhoso com o
ao TCU. Severino Nas suas conclusões finais, a CS diz
que sua investigação consumiu 480 dias
reconhecimento, mas pediu para que não
fossem registradas as avaliações que fez pediu esta e mais de trabalho, descontados os 1.115 dias
nos quais os autos tramitaram entre os
inicialmente sobre a natureza política do
“mensalão”. Sua presença se destaca na outra: a de Alexis diversos órgãos interessados, que são: a
Comissão de Ética e Decoro Parlamentar
história contada a seguir primeiro pelo da Câmara, na qual Cunha foi julgado
relatório e depois por seus depoimentos 430 do TCU, de 2008, que absolve e absolvido; a Comissão Parlamentar
nos autos da grande investigação feita Cunha e a SMP&B. Esse acórdão é Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios,
pela Câmara dos Deputados a respeito o mesmo torpedeado pela diatribe de cujo relatório foi publicado no início de
do contrato SMP&B-Câmara assinado Barbosa citada no início deste artigo. 2006 e enviado à Procuradoria-Geral da
em dezembro de 2003. A investigação e as conclusões do TCU República (PGR); a Polícia Legislativa
A investigação começou com um serão examinadas no segundo capítulo da Câmara, que fez inquéritos sobre a
pedido formal do deputado Cunha a de nossa história. Por enquanto, se denúncia de crimes que teriam sido co-
Severino: que a Câmara oficiasse ao descreverá a investigação da Câmara, metidos na apresentação de propostas e
Tribunal de Contas da União para ser que começa com o relatório de Alexis na execução dos contratos; a Procurado-
feita uma investigação do contrato. O e é a que o repórter considera mais ria-Geral da República, que apresentou
pedido foi feito a 7 de julho de 2005, importante. a denúncia contra Cunha e outras 39
logo que Cunha foi apontado como O relatório final dessa investigação pessoas do grupo dos chamados “men-
receptor de dinheiro do chamado é de 26 de fevereiro de 2010 e está ao saleiros” ao Supremo Tribunal Federal,
valerioduto e surgiu a tese de que isso final do oitavo volume de um conjunto logo depois do relatório da CPMI; e,
finalmente, o próprio STF, por meio do
ministro Joaquim Barbosa, que presidiu
ABr
o inquérito da PGR e, após a aceitação da
denúncia pela corte suprema, tornou-se
o relator da AP 470.
Não existe a menor dúvida de que
a CS foi criada para ajudar a esclarecer
a denúncia básica do “mensalão”: a de
que o PT usara dinheiro público para
realizar seu projeto político pela compra
de voto dos parlamentares. E, a esse
respeito, também não existe a menor
dúvida nas quase 2 mil páginas dos autos:
o contrato da Câmara com a SMP&B
foi absolutamente legal, os pagamentos
à agência estavam de acordo com os
termos contratados e todos os trabalhos
previstos nele foram realizados.
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6. Não é o que disse e repete Alexis. A
ABr
primeira parte do seu relatório, entre-
gue a 28 de setembro de 2005, condena
completamente a licitação feita durante
a gestão de Cunha. Ela não teria um
objeto bem definido, não incluiria um
indispensável parcelamento de tarefas
e teria a participação de empresas com
sinais de conluio entre si. A licitação
teria sido, ainda, julgada por critérios
subjetivos, entre os quais o preconceito
da comissão licitante contra uma das
concorrentes, a empresa Ogilvy, por ela
ter adquirido a Denison Propaganda,
vencedora de licitação semelhante rea-
lizada em 2001, quando o presidente da
Câmara era Aécio Neves (PSDB-MG).
No segundo documento, de outubro,
Alexis analisa sete de 52 processos de
compra de serviços conduzidos pela
SMP&B através de tomada de preços Alexis entregou esse segundo relató- era de um colegiado, a investigação da
entre três fornecedores para cada com- rio com Severino já fora do comando da Câmara não conseguiu esclarecer quem
pra e diz ter encontrado neles inúmeros Casa, depois da posse de Aldo Rebelo, a elaborou o relatório com ele, embora
sinais de irregularidade, entre os quais: 28 de setembro de 2005. Logo a seguir, repetidamente lhe tenha pedido esses
a presença de empresas de existência a revista Época, semanário das Organi- nomes. O relatório só tem a assinatura
duvidosa; a falsificação de propostas zações Globo, de 28 de novembro pu- de Alexis, que alega ter sido isso uma
de serviços para simular concorrência; blica matéria dizendo que Alexis havia decisão sua, para proteger de represálias
a introdução de elementos estranhos entregado, ao novo presidente, carta de os demais participantes.
em pesquisa de opinião pública, com renúncia a seu mandato na Secin, que O debate do relatório de Alexis
perguntas que citavam o ex-chefe da só terminaria em 2006. Seu relatório continuou na Câmara após sua saída da
Casa Civil José Dirceu e o próprio pre- é, visivelmente, a base da matéria, que Secin. No final de 2006, a Câmara deci-
sidente da Câmara, João Paulo Cunha; diz haver “fraudes e mais fraudes” no diu instalar a CS já citada, que só come-
e, finalmente, a falta de comprovação contrato em discussão. Tudo indica, çou a funcionar meio ano depois, como
da veiculação de anúncios em 76 jor- no entanto, que Alexis nem chegou a vimos. Enquanto isso não ocorria, a
nais do interior. Nesse segundo docu- ser efetivamente secretário de Controle 9 de novembro, o Núcleo Jurídico da
mento, Alexis faz também a avaliação Interno da Câmara. O deputado Cunha casa encaminhou o relatório de Alexis
que, depois, o ministro Barbosa usaria pretende entrar com um embargo ao para os cinco membros da Comissão
com, digamos, uma ênfase exagerada. acórdão a ser publicado pelo STF com Especial que havia realizado a licitação
Alexis diz que a SMP&B não tinha feito sua condenação, no qual declarará que do contrato. Num documento assina-
praticamente nada: 99,9% dos serviços o relatório de Alexis é nulo de pleno do por todos os cinco, essa comissão
do contrato teriam sido terceirizados. direito porque ele não foi nomeado refutou as acusações ponto por ponto.
Barbosa multiplicou isso por, como efetivamente diretor da Secin. Foi in- No essencial, disse que o contrato era
diriam os matemáticos, 10-1 (10 à po- dicado para o cargo por Severino, mas a cópia melhorada do que havia sido
tência menos 1): em vez de a agência a nomeação não se consumou porque usado pela Câmara para a licitação que
ter feito apenas 0,1%, um décimo por necessitava de aprovação dos outros acabara resultando na contratação da
cento dos serviços, teria feito apenas integrantes da mesa da Câmara e isso agência de publicidade Denison em
0,01%, um centésimo por cento dos não ocorreu. E, a despeito de Joaquim 2001, quando o presidente era o mi-
serviços. Barbosa dizer que o relatório de Alexis neiro Aécio Neves. Esse contrato
Reprodução
O PT SE DIVIDE, PERDE A CÂMARA E, DA BASE ALIADA, NASCE O “MENSALÃO”
A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) a presidente da Câmara dos Deputados,
em fevereiro de 2005, criou uma das bases para a invenção do “mensalão”. A vitó-
ria do pernambucano foi tornada possível pela divisão do PT, que apresentou dois
candidatos: Luiz Eduardo Greenhalgh, o oficial, e Virgílio Guimarães, o dissidente,
cujo cartaz se vê na foto. Severino era da chamada “base aliada”, mas o auxiliar
nomeado por ele para dirigir a Secretaria de Controle Interno da Câmara (Secin) foi
o articulador do relatório que é a principal peça do ministro Barbosa para torpedear
decisão do Tribunal de Contas da União de 2008 que absolveu tanto Cunha como a
SMP&B. A vitória de Cunha, em 2003, na foto da página à esquerda, a de Severino,
ao alto e, ao lado, numa montagem publicada na internet, Severino faz o V de Vitória
diante do cartaz de Virgílio, na campanha de 2005.
68 retratodoBRASIL | 21
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7. também previa o pagamento, por parte serviço de acompanhamento e plane- e o TCU, e não 0,1%, como diz o
da Câmara, de três tipos de serviços a jamento da veiculação de publicidade; relatório de Alexis, nem muito menos
serem produzidos ou supervisionados 129,5 mil reais pela comissão devida ao 0,01%, como disse Barbosa no seu
pela agência: 1) os de criação própria de acompanhamento de serviços de tercei- frenesi acusatório. Os cinco membros
peças publicitárias; 2) os de supervisão ros; e 14,6 mil reais pelos trabalhos pró- da Comissão de Licitação afirmaram
de serviços de terceiros, que não os de prios de criação (veja as conclusões de também que as eventuais fraudes na
veiculação de publicidade; e 3) os de Lewandowski no quadro com sua foto, apresentação de propostas tinham sido
veiculação de publicidade. Em relação nesta página). Por esse detalhamento encaminhadas para a Polícia Legislativa
à criação própria, a Câmara pagaria feito pelo ministro revisor, fica evidente da Câmara dos Deputados (PL-CD) e
com base numa tabela de preços do que a conta de Barbosa para chegar ao estavam sendo investigadas. A Secreta-
Sindicato das Agências de Propagan- 0,01% implicou excluir os outros dois ria de Comunicação Social da Câmara
da do Distrito Federal, e a SMP&B rendimentos aos quais a SMP&B tinha (Secom) tinha sido dirigida na gestão
daria um desconto de 80% sobre o direito pelo contrato e considerar ape- de Cunha por Márcio Araújo, também
total. Sobre os serviços de terceiros, a nas os 14,6 mil reais. Foi uma contabi- integrante da Comissão de Licitação e
agência receberia uma comissão de 5%. lidade criativa, digamos, mas não muito um dos principais responsáveis pelos
Quanto à veiculação de publicidade, honesta. Nos autos estava também, para problemas encontrados na licitação e
dos descontos de 20% normalmente comparação, o contrato feito antes, em aplicação do contrato, segundo Alexis.
concedidos pelos veículos – TVs, jor- 2001, pela Câmara, ganho pela agência O setor jurídico da Câmara mobili-
nais, revistas –, 5% seriam repassados Denison. Como deu um desconto de zou, então, a nova direção da Secom,
à Câmara pela agência. 100% nos trabalhos próprios, a Deni- da gestão Rebelo, para responder
Feitas as contas, como faria depois son, pelo critério de Barbosa, não fez às acusações de pagamentos feitos
o ministro revisor da AP 470, Ricar- absolutamente nada. indevidamente. Eram várias. Uma se
do Lewandowski, no julgamento do No total, o valor dos serviços da referia a campanha de cerca de 850 mil
caso, chega-se à conclusão de que os SMP&B, por contrato, é de 1,09 milhão reais com anúncios de promoção das
trabalhos da SMP&B, pelos termos do de reais, ou 11,32% do total de 10,7 atividades da Câmara em 153 jornais,
contrato, valeram: 948,3 mil reais pelo milhões, como dizem Lewandowski sendo 76 deles fora das capitais. Esse
A CONDENAÇÃO É “CEREBRINA”, NÃO TEM QUALQUER BASE quarto, com 251 mil. Na lista das editoras de jornais e
TÉCNICA, DIZ O MINISTRO revistas, a Abril, da revista Veja, ficou em primeiro, com
No voto com o qual reviu a condenação de Joaquim Barbosa 334 mil; os diários O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo
ao petista Cunha e à SMP&B, o ministro Ricardo Lewandowski aparecem em segundo, cada um com 247 mil; e a Editora
apresentou a relação minuciosa dos veículos de comunicação Globo, em terceiro, com 166 mil.
contratados pela Câmara por meio da agência, citando ex- Lewandowski disse que a acusação, repetida diversas
pressamente todos os principais jornais e redes de TV do País. vezes por Barbosa, de que a SMP&B realizara “serviços
Em sua lista, tirada dos recibos encontrados nos autos, ínfimos”, não dera “praticamente nenhuma contrapartida”
entre as empresas de TV, a Globo veio à frente, por ter pelo contrato, fora “mera recebedora de honorários” e
recebido 2,7 milhões de reais do total de 7 milhões gastos que a finalidade do contrato era “repassar dinheiro para
na campanha; o SBT ficou em segundo, com 708 mil reais; a agência”, era “cerebrina”, não tinha “qualquer base
a Record, em terceiro, com 418 mil; e a Bandeirantes, em técnica” e a licitação fora “absolutamente lícita e regular”.
Reprodução You Tube
22 | retratodoBRASIL 68
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8. montante correspondia a 21% do valor Chinaglia (PT-SP) como presidente da da Câmara para a compra de votos
total dos anúncios, mas seus compro- Câmara (2007-2008) e mais três no de pelo PT –, o caso estava liquidado.
vantes não tinham sido localizados e Michel Temer (2009-2010). A sindicância deveria prosseguir para
constava no relatório de Alexis a sus- No entanto, como a CS foi pratica- apurar todos os eventuais malfeitos nas
peita de que fossem falsos. Em meados mente a mesma, como se disse, o que 40 contratações, para descobrir se os
de janeiro de 2006, no entanto, a nova ela faz é basicamente eliminar uma lista seis que negaram ter feito as propostas
Secom encontrou a grande maioria das de problemas remanescentes, especial- tinham sido substituídos por falsários
comprovações e ficou faltando apenas mente quanto às fraudes porventura e se os 35 que não foram localizados
uma dúzia delas. existentes nas propostas perdedoras e ou não responderam tinham, talvez,
Perto do final de 2006, a CS apre- os anúncios da campanha da Câmara algo a esconder? Um exemplo de uma
sentou seu primeiro relatório. Resumiu publicados em jornais do interior cujos investigação dessas que foi bem longe
toda a história: as alegações do rela- comprovantes ainda não tinham sido sem qualquer resultado razoável foi fei-
tório de Alexis, o exame que o então todos encontrados. Os trabalhos nesse ta num contrato de produção de textos
diretor da Secin fez nos contratos de período têm esse sentido e a CS resolve para a primeira-secretaria da Câmara,
compra de serviços e materiais e das encerrá-los definitivamente no início na época ocupada pelo deputado Ged-
veiculações de publicidade e as primei- de 2010, como citado. Faz, então, um del Vieira Lima, vencido pela empresa
ras conclusões da 3ª Secex do TCU. E balanço final dessas pendências: tinham GLT com uma proposta de 10 mil
concluiu: 1) quanto à elaboração do sido analisados os 40 procedimentos reais mensais e perdido pelas empresas
edital: “nada” havia de desabonador; 2) de contratação de compras e serviços, Cogito e Agenda, que apresentaram
quanto ao tipo de licitação, com base impugnados, de modo geral, pelo rela- propostas de 11 mil e 11,3 mil reais
na chamada “melhor técnica”, que o tório de Alexis. Os ganhadores dessas mensais, respectivamente.
relatório de Alexis considerara muito contratações tinham executado todos O diligente Alexis diz, em depoi-
subjetivo: o tipo de melhor técnica, esses contratos e apresentado as notas mento de junho de 2008 à PL-CD, que
por se tratar de trabalho intelectual, teria sido avisado pelo TCU, logo após
era, de fato, o mais indicado, como já
fora na licitação de 2001. Além disso,
Não há ilegalidade, o início de sua investigação, de que a
proposta da Cogito tinha sido assinada
a SMP&B assumira o menor preço
entre os apresentados por mais sete
diz a Comissão de por uma funcionária da Câmara, o que
implicaria uma contravenção penal.
concorrentes; 3) e, quanto à avaliação
das propostas de compra de serviços
Sindicância Afirma ainda que, por esse motivo, ou-
viu a funcionária e a encaminhou para
e materiais: “não encontrou nenhuma
irregularidade administrativa”. Por fim,
convocada e exame grafotécnico depois de ela negar
ter assinado o documento.
a conclusão da CS era que o processo
deveria ser encerrado e os autos, ar- reconvocada Essa investigação prosperou. Foi
aberto um inquérito policial pela PL-
quivados.
A CS deixou aberta, no entanto, a oito vezes CD e localizados os dirigentes das três
empresas, que se submeteram a exame
questão da investigação de eventuais grafotécnico. Abriu-se também um in-
fraudes na apresentação de propostas fiscais correspondentes. À base de três quérito na Polícia Federal (PF). Dois de
para as compras de serviços e materiais, propostas para cada contratação, eram seus agentes foram a Belo Horizonte
a despeito de todas as compras e servi- 119 empresas – uma delas havia apre- para ouvir uma funcionária da SMP&B
ços terem sido considerados realmente sentado duas propostas. A CS oficia sobre o caso. Nos autos da investigação
feitos. Para saber se as propostas falsas então a todas as 79 empresas perde- da Câmara, essa história desaparece
existiram e se teriam falseado a concor- doras para saber se realmente tinham depois que o dirigente da GLT, a
rência em um conluio de perdedores apresentado as propostas derrotadas e, empresa da proposta vencedora, não
com ganhadores se deveria constituir assim, confirmar a existência, de fato, de comparece para prestar depoimento e
uma nova Comissão de Sindicância. concorrência. Resultado da consulta: 11 apresenta atestado médico creditando
Aparentemente, a investigação, do pon- empresas não foram localizadas, 24 não sua ausência ao fato de ter se subme-
to de vista da apuração do “mensalão”, mandaram resposta e 44 responderam, tido a operação de catarata. No enten-
o “crime histórico” do suposto desvio das quais 36 confirmaram as propostas der do repórter, quem tentar ir mais
de dinheiro público para o PT, estava em poder da comissão e seis não con- longe no esclarecimento de eventuais
encerrada. Restavam malfeitos de deta- firmaram. malfeitos semelhantes, que possam ter
lhe numa concorrência como muitas ou- Que mais a sindicância da Câmara existido no contrato SMP&B-Câmara,
tras. A apresentação de propostas falsas deveria fazer? Já tinha concluído que dizendo que faz isso para esclarecer o
para simular concorrência não deveria a licitação vencida pela SMP&B fora “mensalão”, confunde e não esclarece
ser tolerada, mas faria parte de outra benfeita e os serviços tinham sido nada. Embora possa até pensar que
investigação, menor. Possivelmente, é executados sem que tivesse havido está combatendo o desvio de dinheiro
a aceitação da denúncia do “mensalão” qualquer desvio de dinheiro público. público para fins políticos escusos, na
pelo STF, em agosto de 2007, que leva Do ponto de vista do que deveria ser o prática pode mesmo é estar desviando
à reinstalação da Comissão de Sindi- objetivo central do STF, provar ou não dinheiro público de atividades que
cância por mais seis períodos de dois se houve o famoso “mensalão” – em poderiam ser concebidas de modo
meses cada, três no mandato de Arlindo essência, o desvio de dinheiro público mais sensato.
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9. dois fatos embaralhados, e um deles é falso lerbach, Cristiano Paz e Marcos Valério.
A história de Simone, diretora da SMP&B, é outra prova: A “quadrilha publicitária” a que Simone
o STF desprezou o crime existente e inventou um outro “pertencia” foi subordinada a outra: a
“quadrilha política”, em que estaria o
Num ato recente, no auditório da Asso- enviava ao exterior, para uma conta de chefão de todos, José Dirceu, ex-ministro
ciação Brasileira de Imprensa, no Rio de Duda Mendonça no BankBoston, nas da Casa Civil do governo. Também teria
Janeiro, pela anulação do julgamento do Bahamas. havido o incentivo de uma terceira, a
“mensalão”, com a presença de cerca de Como também está nos autos, Duda, “quadrilha de banqueiros”, liderada pela
800 pessoas, a colunista social Hildegard que foi o publicitário da campanha de presidente do Banco Rural, Kátia Rebelo.
Angel deu um depoimento emocionante Lula para presidente em 2002 e fez outras E isso tudo porque três quadrilhas arti-
no qual misturou a história da morte campanhas para o PT em 2004, confes- culadas e com um propósito grandioso
de três parentes no período da ditadura sou ter recebido 15,5 milhões de reais do ficavam bem na teoria do “maior crime da
militar – sua mãe, Zuzu Angel, e dois partido, sendo 10,5 milhões na conta do história da República”. Simone parece ser
irmãos – com a defesa dos condenados BankBoston nas Bahamas. O que um pa- uma mulher forte. Tem noção das forças
no “mensalão”. Disse que, no julgamento gamento tem a ver com o outro? Ambos poderosas que foram desencadeadas para
militar de um de seus irmãos, quando ele são assinados por Simone, mas se ligam a construção da história do “mensalão” e
já estava morto, fatos levaram a junta mili- a duas histórias completamente distintas. o apoio entusiasmado dos seus familiares,
tar a decretar sua absolvição. Hildegard re- Uma, a da TV Globo, se refere a um além de uma leve esperança de que a
batizou o “mensalão” como “mentirão”, contrato absolutamente legal, analisado verdade seja restabelecida.
pelo fato de, no julgamento da AP 470, exaustivamente e aprovado por diversos O ministro Barbosa disse, na sua sen-
o STF ter ignorado direitos elementares órgãos. Foi vencido pela SMP&B em lici- tença contra Cunha e a SMP&B, que se
dos acusados e fatos básicos da história, tação com mais sete concorrentes, em que apoiava em três decisões colegiadas. Uma
que a própria ditadura levou em conta no nenhum contestou o resultado. O outro é delas, a de Alexis, como vimos no capítulo
caso de seu irmão, pelo menos para uma um pagamento pelo famoso “caixa dois”. anterior, tudo indica, não é válida e não
absolvição póstuma. Em nenhum momento, a despeito da fúria se sabe se é, de fato, colegiada. A terceira
A história de Simone Vasconcelos, da maioria dos juízes do STF e da quase é a do TCU, com a qual encerraremos
diretora da SMP&B, uma das pessoas unanimidade da grande mídia que os nossa história. E a segunda, por fim, é a
responsáveis pela administração do açulava, ninguém disse que Duda recebeu de uma equipe do Instituto Nacional de
dinheiro da agência, confirma essa ava- esse dinheiro porque estava envolvido no Criminalística, órgão da Polícia Federal
liação: fatos básicos da história na qual suposto “maior escândalo de corrupção encarregado, entre outras coisas, da aná-
ela foi envolvida e direitos elementares da história da República, no qual o PT lise de documentos. Nossa história não
de sua defesa foram ignorados pelo corrompeu o processo político brasileiro entrará em detalhes dessa investigação
Supremo. RB foi encontrá-la na casa de comprando voto de deputados”. por três motivos: 1) ela é confusa, tanto
parentes, no interior de Minas, durante o Por que Simone foi condenada a 12 que foi usada pelo ministro Barbosa para
Carnaval. Dores na coluna fizeram com anos e sete meses de prisão, inclusive por condenar os acusados e pelo ministro
que ela ficasse de pé durante a maior crime de evasão de divisas, se o próprio Lewandowski para absolvê-los; 2) os
parte do tempo da entrevista, de cerca Duda, que indubitavelmente recebeu o técnicos encarregados de realizá-la não
de uma hora. Simone trabalhou seis dinheiro que chegou a ele por meio da conseguiram separar as atividades da
anos na SMP&B, depois de 15 como assinatura de Simone num cheque, foi ab- SMP&B nas três modalidades previstas
funcionária administrativa no governo solvido? Porque o STF embaralhou dois expressamente no contrato – ao que tudo
de Minas. Assinou inúmeros pagamentos fatos: 1) o crime do caixa dois, que existiu, indica, por não serem especialistas no as-
pela agência. Na página ao lado, junto do qual Simone foi uma das executoras sunto, como insistem tanto os defensores
com sua foto, está o recibo de um deles, e no qual estão o dinheiro recebido por de Cunha como os da SMP&B; e 3) a
de 860.742,57 reais para a TV Globo, e Duda e mais o de duas dúzias de políticos principal acusação que é feita, a de que os
a história de outro, de 300 mil reais para e intermediários seus; e 2) o “mensalão”, trabalhos da empresa IFT – Ideias, Fatos
um certo Davi Rodrigues. O da Globo é uma criatura fictícia, batizada com esse e Textos, do jornalista Luiz Costa Pinto,
um dos que a emissora recebeu por pro- nome pelo deputado Roberto Jefferson de assessoria a Cunha, não foram confir-
paganda veiculada para a Câmara, pelo em junho de 2005 e animada finalmente mados, está em absoluta contradição com
contrato da SMP&B. Como se viu no pelo STF com sua sentença no julgamen- a avaliação do processo que resultou no
voto do ministro Lewandowski, citado to da AP 470 no final do ano passado. acórdão do TCU de 2008, em cujos autos
anteriormente, a veiculação de publici- O dinheiro que Simone disponi- estão, claramente, os comprovantes da
dade pela televisão, jornais, revistas e bilizava ao PT, por ordem de Marcos realização dos serviços.
internet corresponde a mais de 65% das Valério, era de empréstimos tomados Finalmente, quanto ao esforço de
despesas desse contrato. E a TV Globo pela SMP&B dos bancos mineiros Rural Barbosa para desmoralizar a conclusão do
foi a que mais recebeu: 2,73 milhões e BMG e repassados ao partido. Simone TCU, ele não a estudou, ao que tudo indi-
do total. O pagamento a Rodrigues é apenas cumpria ordens. Foi arrolada ca. O que cita como sendo uma decisão
igualmente muito significativo. Como como integrante de uma “quadrilha pu- colegiada da corte de contas é o relatório
está nos autos da AP 470, Rodrigues blicitária” porque o crime de formação preliminar apresentado pela equipe de
foi o intermediário de um doleiro que de quadrilha exige quatro integrantes e inspeção da 3ª Secex do tribunal, após a
recebia numa agência do Rural o dinhei- a acusação só tinha três donos efetivos visita à Câmara e a consulta ao trabalho
ro depositado por Simone e, depois, o na agência de publicidade: Ramon Hol- de Alexis Souza, já citadas. Inclusive, esse
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10. Aloísio Moraes
ELA FOI ENFIADA NUMA DAS TRÊS QUADRILHAS meio do qual saiu dinheiro do caixa da SMP&B para o PT
DO “MENSALÃO” POR FALTA DE QUÓRUM pagar uma parte do que devia a Duda Mendonça, o marque-
Simone, entre outras funções na SMP&B, administrava o teiro de Lula, na sua vitoriosa campanha para presidente em
caixa da agência por meio de instruções de Marcos Valério. 2002. O dinheiro para Duda vinha de empréstimos tomados
Nesse caixa basicamente entrava dinheiro de duas origens. pela SMP&B nos bancos mineiros Rural e BMG.
Uma delas eram os clientes, como a Câmara, com a qual O dinheiro que entra e sai de um caixa não tem nem carimbo
tinha o contrato ganho em dezembro de 2003. Desse di- de origem nem de destino, é certo. Porém, o STF embaralhou
nheiro saíam pagamentos como o feito pela TED que se vê as histórias: a do caixa dois, existente, e a do “mensalão”, do
ao lado da foto de Simone. É uma transferência eletrônica, “grande escândalo de corrupção da República”, inventada.
por meio do BRB, Banco de Brasília. Mostra 860.742,57 É claro, como no caso do dinheiro de Duda, que a SMP&B
reais sendo repassados da conta da SMP&B no Banco Rural operava um caixa dois para o PT. Mas ela tinha apenas três
para a TV Globo. Foi feita no dia 17 de janeiro de 2005. donos. Por lei, para uma quadrilha é preciso haver quatro
RB teve acesso, ainda, ao cheque, de 21 de fevereiro de 2003, pessoas. Simone, que era apenas funcionária, entrou no
no valor de 300 mil reais, também assinado por Simone, por enredo do “mensalão” por falta de quórum.
relatório da Secex, de agosto de 2005, de contas da Câmara dos Deputados do realizadas pelo TCU em diversos órgãos e
repetia o argumento apresentado depois exercício de 2004 e determinou à 3ª Secex entidades da administração pública federal
em forma exagerada por Barbosa, de que que acompanhasse o desdobramento na área de publicidade e propaganda no
os serviços do contrato tinham sido ter- das investigações na Câmara e analisasse segundo semestre de 2005, os contratos
ceirizados pela SMP&B em 99,9%. Pedia, especialmente a prestação de contas da examinados mostraram graus semelhantes
ainda, que fossem ouvidos, em 15 dias, o assessoria denunciada, a dos serviços de terceirização. Posteriormente, o TCU
presidente da Câmara, João Paulo Cunha; prestados pela IFT. aceitou a explicação dada pela Câmara
o diretor da Secom, Márcio Araújo; e o Com a criação da Comissão de Sindi- para praticamente todas as outras pen-
diretor-geral da Câmara, Sergio Contreras, cância da Câmara, em meados de 2006, e dências e, a 19 de março de 2008, o caso
e os ameaçava com multa de 252 mil reais, para verificar mais informações enviadas foi levado ao plenário do tribunal, tendo
equivalentes ao valor do trabalho do IFT ao TCU, o novo ministro relator do caso, como relator o ministro Raimundo Car-
prestado ao presidente da Câmara, serviço Benjamin Zymler, enviou nova equipe da reiro, que apresentou voto, acompanhado
esse que o relatório considerava ilegal. Secex para mais uma inspeção na Câmara, unanimemente pelos membros da corte,
Além disso, no detalhe, também pedia a feita nos primeiros dias de março de 2007. considerando as informações prestadas
Cunha, Araújo e Contreras explicações A preocupação principal era verificar a pela direção-geral da Câmara “suficientes
sobre os mesmos pontos cobrados na possibilidade de terem ocorrido paga- para demonstrar a regularidade nos atos
investigação da Secin. mentos por serviços não realizados. Em de gestão analisados”. Ao final, Carreiro
Essa posição foi sendo desmontada relação à IFT, que estava no topo das pre- lembrou que as eventuais propostas falsas
totalmente à medida que a investigação do ocupações, a Secex considerou corretas as apresentadas por perdedores de concor-
TCU evoluía. Já em meados de setembro explicações dadas pela Câmara e a suspeita rências, como a da Cogito Consultoria,
de 2005, o secretário da 3ª Secex decidiu foi afastada. Outras irregularidades, no deveriam ser analisadas em inquéritos po-
que todas as medidas determinativas do entanto, ainda continuaram em análise. liciais, como efetivamente, no exemplo, a
primeiro relatório deveriam aguardar o A questão das contratações de tercei- Câmara continuava fazendo. Por fim, após
exame do mérito da questão. No início de ros foi esclarecida logo depois. A 3ª Secex recomendar o aprimoramento do modelo
outubro, o então ministro relator do caso concordou com a avaliação da Câmara de de contrato da Câmara para as próximas
no TCU, Lincoln Rocha, reduziu ainda que elas correspondiam não aos 99,9% licitações que visarem a contratar agência
mais o caráter repressivo das propostas: apresentados pela Secin, mas a 88,68%, e de publicidade, deu o caso por encerrado
acolheu apenas a de sobrestar a prestação o relator Zymler disse que, nas auditorias e mandou arquivar os autos.
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