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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
ESCOLA DE MUSEOLOGIA
MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO II – INTEGRAL
DOCENTE: JULIA NOLASCO LEITÃO DE MORAES
DISCENTE: LUISY SARDINHA COSTA MARINS BARBOZA
VIAGEM AOS MUSEUS DO MUNDO: CONHECENDO O MUSEU
GUGGENHEIM BILBAO
Itaboraí
2017
Introdução
No intuito de exercitar o olhar acerca dos modelos arquitetônicos, expográficos e
comunicacionais, assim como o papel exercido no entorno, dos museus, desenvolveu-se uma
pesquisa sobre estes modelos aplicados em uma instituição específica.
A escolha se deu pelo Museu Guggenheim Bilbao, que traz em sua história um forte marco
para a cidade onde está localizado, tanto arquitetonicamente como no papel que desempenha
para a revitalização da região.
Bilbao: uma cidade em reconstrução
Bilbao está localizada no País Basco, uma comunidade independente situada entre Espanha
e França, com de cerca de 700 anos de existência e voltada, como aponta Pérez (2008, p.9), a
uma dinâmica industrial e comercial. Porém sofreu com um retrocesso na década de 1970,
resultado de uma “decadência econômica, ambiental e com os fluxos migratórios” (JANUZZI &
RAZENTE, 2007). Desta forma, partes da cidade, principalmente a sua zona portuária, foram
deixadas de lado, transformando áreas de trabalho e em uma região desapropriada de sua vida.
Seguindo então a tendência contemporânea de intervir com soluções urbanísticas em áreas
deterioradas, foi instituído um plano de revitalização em Bilbao (JANUZZI & RAZENTE, 2007).
Buscando recuperar a cidade, este plano contava com estruturas desenhadas por arquitetos
estrelas, como um aeroporto desenhado por Santiago Calatrava, e uma nova estação ferroviária,
de autoria de Norman Foster. Porém, como expressa Plaza (2007, p.2) a cereja do bolo desta
revitalização é o Museu Guggenheim Bilbao, assinado por Frank Gehry, que está localizado às
margens do rio Nervión.
O Museu Guggenheim e o “Efeito Bilbao”
O convite a Fundação Solomon R. Guggenheim para gerenciar um museu instalada às
margens do rio Nervión, juntamente com o a elaboração arquitetônica de Frank Gehry, foi
estratégica para impulsionar o processo de revitalização. A construção de um edifício que
evocasse um marco identitário para permitir aos habitantes de Bilbao a retomada do espaço
perdido com a decadência econômica, assim como a melhora em sua qualidade de vida, ao
estabelecer um espaço agradável à cultura do ócio.
Resultado da necessidade de um museu monumento que trouxesse um marco para a cidade.
Papel que foi cumprido com excelência pela instituição principalmente como reativador econômico,
como é descrito pelo trabalho de Plaza (2007). Ou, como aborda a autora, o museu foi uma jogada
arriscada para uma cidade empobrecida, mas que gerou um enorme retorno tanto financeiro
quanto social que auxiliou em sua revitalização, um processo denominado de efeito Bilbao.
O diálogo do Museu Guggenheim Bilbao
O edifício que abriga o museu é ponto de partida para abordar a comunicação exercida pela
instituição. Como já dito anteriormente, a concepção do projeto foi realizada por Frank Gehry, que
seguindo a tendência pós-moderna, utilizou soluções estruturais inusitadas no desenho da
estrutura (KIEFER, 2000). Uma complexidade tamanha para a época que, para possibilitar sua
construção, foi utilizado o auxílio tecnológico do software Catia, um programa da Agência
Aeroespacial Francesa para fabricar aeronaves (FALCÃO, 2003).
Este espaço brilhante e cheio de formas e volumes é um dos dois prédios que abriga as
atividades do museu, este em especial é utilizado para as exposições e atividades com o público,
subdividido por blocos e galerias que atendem as necessidades específicas do museu, assim
como possuem estruturas voltadas a acessibilidade. O segundo prédio é descrito por Falcão
(2003, p. 77) como “[...] de aparência mais convencional [...] à qual corresponde também a
aplicação de técnicas e matérias mais usais”, abrigando a administração e setores de apoio.
Também compreende ao museu uma área pública externa que traz o entorno para o seu espaço
ao promover uma área de passagem, onde pessoas podem transitar livremente, ainda que não
adentrem e visitem o museu.
A comunicação no interior do museu
O interior do Guggenheim Bilbao apresenta uma dinâmica diferente do seu exterior, com
galerias revestidas por paredes brancas e piso neutro, ainda que assimilando o traçado estrutural
do prédio. Enquanto as obras estão alocadas a certa distância uma da outra, permitindo um
espaço de descanso ao olhar. Estas características enquadram as galerias do museu no que
O’Doherty (2002) descreve como estética do cubo branco, um espaço que elimina visualmente o
mundo exterior em favor da obra.
E é falando sobre as obras que entramos no aspecto do modelo comunicacional adotado
pelo museu na apresentação de seu acervo. No que pôde ser observado, as obras estão
distribuídas no espaço sob a lógica do cubo branco, de forma que inicialmente o visitante possui
apenas placas explicativas como dispositivos de mediação para a compreensão da obra. De
forma que este museu foi enquadrado como majoritariamente inserido no modelo comunicacional
intramuseal descrito por Roque (2010, p. 49).
Contudo, para concluir, uma ressalva se faz muito necessária, como analisado nos vídeos
da série Desde dentro, produzida pelo próprio museu sobre as dinâmicas internas realizadas,
cada exposição é pensada independente as demais. De forma que é plausível que outros
modelos comunicacionais e expográficos sejam utilizados pelo museu, seguindo assim a
tendência contemporânea de mesclas destes modelos.
A comunicação no interior do museu
Conclusão
Durante o processo de formação acadêmica as oportunidades de treinar o olhar são
necessárias para a compreensão do conteúdo apreendido. No que corresponde a este trabalho,
analisar as tipologias e modelos aplicados no Museu Guggenheim Bilbao acrescem na forma como
se apreende o espaço de um museu, ainda que não se possa fisicamente observa-lo.
Em contrapartida, o museu em si é um exemplo de como se altera a percepção de um espaço,
trazendo a uma região outrora abandonada um local de lazer que fomenta a cultura. Alterando
também a noção de identidade e contribuindo para o restabelecimento financeiro e sociocultural de
uma cidade outrora em decadência. E dado o exposto, e reafirmando, é imprescindível treinar o
olhar para identificar mais do que tipologias e modelos aplicados, mas sim o seu propósito, o efeito
que geram no local onde estão inseridos.
Referências bibliográficas
COSTA, Robson Xavier da. Expografia moderna e contemporânea: diálogos entre arte e arquitetura. In: ASENSIO, M.; SABINO, P.R.; ASENJO,
E.; CASTRO, E. SIAM, vol. 8, 2012. p.67 a 78
DAVALLON, Jean. Comunicação e Sociedade: pensar a concepção da exposição. In: Museu e comunicação: exposição como objeto de
estudo. BENCHETRIT, Sarah; ZAMORANO, Rafael Bezerra; MAGALHÃES, Aline Montenegro. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2010.
P. 17 a 34
DEL RIO, Vicente. Voltando às origens. A revitalização de áreas portuárias nos centros urbanos. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 015.06,
Vitruvius, ago. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.015/859>.
DESCUBRE cómo se organiza una exposición. Realização de Museo Guggenheim Bilbao. Bilbao: Museo Guggenheim Bilbao, 2011. (3 min.),
son., color. Série Desde dentro. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fHUm0iZ4PS8>. Acesso em: 21 maio 2017.
EL MUSEO GUGGENHEIM DE BILBAO, FRANK GEHRYJ. Direção de Julien Donada. Produção de Julien Donada. Realização de Ministério da
Cultura e da Comunicação. [Paris]: Centro Georges Pompidou, 2004. (24 min.), son., color. Legendado. Série Arquiteturas. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=95qbLCgaKRo>. Acesso em: 21 maio 2017.
espana/espana-verde/noticia-museo-guggenheim-supero-octava-vez-millon-visitantes-2106-20170102151949.html>. Acesso em: 20 maio 2017.
EUROPA EXPRESS. El Museo Guggenheim superó por octava vez el millón de visitantes en 2016. Bilbao, p.1-1. 02 jan. 2017. Disponível em:
<http://www.europapress.es/turismo/destino-
EXPOSICIÓN "Selecciones de la Colección del Museo Guggenheim Bilbao II". Produção de Museo Guggenheim Bilbao. Bilbao: Museo
Guggenheim Bilbao, 2011. (6 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qz_JOb7ZX-0>. Acesso em: 21 maio 2017.
FALCÃO, Fernado Antônio Ribeiro. Uma reflexão sobre a utilização de museus como vetores de operações urbanas: Os casos dos museus
Iberê Camargo e Guggenheim-Bilbao. 2013. 123 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Arquitetura, Programa de Pesquisa e Pós-
graduação em Arquitetura - Propar, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013
FONTOVA, Rosario. Bilbao remata el cambio del ´efecto Guggenheim´. El Periódico de Aragón. Bilbao, p. 1-1. 20 out. 2007. Disponível em:
<http://www.elperiodicodearagon.com/noticias/escenarios/bilbao-remata-cambio-del-efecto-guggenheim-_358638.html>. Acesso em: 21 maio
2017.
JANUZZI, Denise de Cásia Rossetto; RAZENTE, Nestor. Intervenções urbanas em áreas deterioradas. Semina: Ciências Sociais e Humanas,
Londrina, v. 28, n. 2, p. 147-154, jul./dez. 2007.
Referências bibliográficas
KIEFER, Flavio. KIEFER, Flavio. Arquitetura de Museus. Arqtexto. 2000/2
MEIRELES, Maurício. Arquitetura da reconstrução. Época. [rio de Janeiro], p. 1-1. 13 jan. 2012. Disponível em:
<http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/01/arquitetura-da-reconstrucao.html>. Acesso em: 21 maio 2017.
O’DOHERTY, Brian (2002). No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte. São Paulo: Martins Fontes.
PÉREZ, José Antonio Pérez. Introdución. In: PÉREZ, José Antonio Pérez (Org.). Bilbao y sus barrios: una mirada desde la
historia. Bilbao: Bidebarrieta Kulturgunea, 2008. p. 9.
PLAZA, Beatriz. The Bilbao effect (Guggenheim Museum Bilbao). Bilbao: Faculty of Economics / University of the Basque
Country, 2007. Disponível em: <https://mpra.ub.uni-muenchen.de/12681/1/MPRA_paper_12681.pdf>. Acesso em: 21 maio
2017.
ROQUE, Maria Isabel Rocha. Comunicação no museu. In: Museu e comunicação: exposição como objeto de estudo.
BENCHETRIT, Sarah; ZAMORANO, Rafael Bezerra; MAGALHÃES, Aline Montenegro. Rio de Janeiro: Museu Histórico
Nacional, 2010. P. 47 a 68

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Museu Guggenheim Bilbao e seu papel na revitalização de Bilbao

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ESCOLA DE MUSEOLOGIA MUSEOLOGIA E COMUNICAÇÃO II – INTEGRAL DOCENTE: JULIA NOLASCO LEITÃO DE MORAES DISCENTE: LUISY SARDINHA COSTA MARINS BARBOZA VIAGEM AOS MUSEUS DO MUNDO: CONHECENDO O MUSEU GUGGENHEIM BILBAO Itaboraí 2017
  • 2. Introdução No intuito de exercitar o olhar acerca dos modelos arquitetônicos, expográficos e comunicacionais, assim como o papel exercido no entorno, dos museus, desenvolveu-se uma pesquisa sobre estes modelos aplicados em uma instituição específica. A escolha se deu pelo Museu Guggenheim Bilbao, que traz em sua história um forte marco para a cidade onde está localizado, tanto arquitetonicamente como no papel que desempenha para a revitalização da região.
  • 3. Bilbao: uma cidade em reconstrução Bilbao está localizada no País Basco, uma comunidade independente situada entre Espanha e França, com de cerca de 700 anos de existência e voltada, como aponta Pérez (2008, p.9), a uma dinâmica industrial e comercial. Porém sofreu com um retrocesso na década de 1970, resultado de uma “decadência econômica, ambiental e com os fluxos migratórios” (JANUZZI & RAZENTE, 2007). Desta forma, partes da cidade, principalmente a sua zona portuária, foram deixadas de lado, transformando áreas de trabalho e em uma região desapropriada de sua vida. Seguindo então a tendência contemporânea de intervir com soluções urbanísticas em áreas deterioradas, foi instituído um plano de revitalização em Bilbao (JANUZZI & RAZENTE, 2007). Buscando recuperar a cidade, este plano contava com estruturas desenhadas por arquitetos estrelas, como um aeroporto desenhado por Santiago Calatrava, e uma nova estação ferroviária, de autoria de Norman Foster. Porém, como expressa Plaza (2007, p.2) a cereja do bolo desta revitalização é o Museu Guggenheim Bilbao, assinado por Frank Gehry, que está localizado às margens do rio Nervión.
  • 4.
  • 5.
  • 6.
  • 7. O Museu Guggenheim e o “Efeito Bilbao” O convite a Fundação Solomon R. Guggenheim para gerenciar um museu instalada às margens do rio Nervión, juntamente com o a elaboração arquitetônica de Frank Gehry, foi estratégica para impulsionar o processo de revitalização. A construção de um edifício que evocasse um marco identitário para permitir aos habitantes de Bilbao a retomada do espaço perdido com a decadência econômica, assim como a melhora em sua qualidade de vida, ao estabelecer um espaço agradável à cultura do ócio. Resultado da necessidade de um museu monumento que trouxesse um marco para a cidade. Papel que foi cumprido com excelência pela instituição principalmente como reativador econômico, como é descrito pelo trabalho de Plaza (2007). Ou, como aborda a autora, o museu foi uma jogada arriscada para uma cidade empobrecida, mas que gerou um enorme retorno tanto financeiro quanto social que auxiliou em sua revitalização, um processo denominado de efeito Bilbao.
  • 8. O diálogo do Museu Guggenheim Bilbao O edifício que abriga o museu é ponto de partida para abordar a comunicação exercida pela instituição. Como já dito anteriormente, a concepção do projeto foi realizada por Frank Gehry, que seguindo a tendência pós-moderna, utilizou soluções estruturais inusitadas no desenho da estrutura (KIEFER, 2000). Uma complexidade tamanha para a época que, para possibilitar sua construção, foi utilizado o auxílio tecnológico do software Catia, um programa da Agência Aeroespacial Francesa para fabricar aeronaves (FALCÃO, 2003). Este espaço brilhante e cheio de formas e volumes é um dos dois prédios que abriga as atividades do museu, este em especial é utilizado para as exposições e atividades com o público, subdividido por blocos e galerias que atendem as necessidades específicas do museu, assim como possuem estruturas voltadas a acessibilidade. O segundo prédio é descrito por Falcão (2003, p. 77) como “[...] de aparência mais convencional [...] à qual corresponde também a aplicação de técnicas e matérias mais usais”, abrigando a administração e setores de apoio. Também compreende ao museu uma área pública externa que traz o entorno para o seu espaço ao promover uma área de passagem, onde pessoas podem transitar livremente, ainda que não adentrem e visitem o museu.
  • 9.
  • 10.
  • 11.
  • 12. A comunicação no interior do museu O interior do Guggenheim Bilbao apresenta uma dinâmica diferente do seu exterior, com galerias revestidas por paredes brancas e piso neutro, ainda que assimilando o traçado estrutural do prédio. Enquanto as obras estão alocadas a certa distância uma da outra, permitindo um espaço de descanso ao olhar. Estas características enquadram as galerias do museu no que O’Doherty (2002) descreve como estética do cubo branco, um espaço que elimina visualmente o mundo exterior em favor da obra. E é falando sobre as obras que entramos no aspecto do modelo comunicacional adotado pelo museu na apresentação de seu acervo. No que pôde ser observado, as obras estão distribuídas no espaço sob a lógica do cubo branco, de forma que inicialmente o visitante possui apenas placas explicativas como dispositivos de mediação para a compreensão da obra. De forma que este museu foi enquadrado como majoritariamente inserido no modelo comunicacional intramuseal descrito por Roque (2010, p. 49).
  • 13.
  • 14.
  • 15.
  • 16. Contudo, para concluir, uma ressalva se faz muito necessária, como analisado nos vídeos da série Desde dentro, produzida pelo próprio museu sobre as dinâmicas internas realizadas, cada exposição é pensada independente as demais. De forma que é plausível que outros modelos comunicacionais e expográficos sejam utilizados pelo museu, seguindo assim a tendência contemporânea de mesclas destes modelos. A comunicação no interior do museu
  • 17. Conclusão Durante o processo de formação acadêmica as oportunidades de treinar o olhar são necessárias para a compreensão do conteúdo apreendido. No que corresponde a este trabalho, analisar as tipologias e modelos aplicados no Museu Guggenheim Bilbao acrescem na forma como se apreende o espaço de um museu, ainda que não se possa fisicamente observa-lo. Em contrapartida, o museu em si é um exemplo de como se altera a percepção de um espaço, trazendo a uma região outrora abandonada um local de lazer que fomenta a cultura. Alterando também a noção de identidade e contribuindo para o restabelecimento financeiro e sociocultural de uma cidade outrora em decadência. E dado o exposto, e reafirmando, é imprescindível treinar o olhar para identificar mais do que tipologias e modelos aplicados, mas sim o seu propósito, o efeito que geram no local onde estão inseridos.
  • 18. Referências bibliográficas COSTA, Robson Xavier da. Expografia moderna e contemporânea: diálogos entre arte e arquitetura. In: ASENSIO, M.; SABINO, P.R.; ASENJO, E.; CASTRO, E. SIAM, vol. 8, 2012. p.67 a 78 DAVALLON, Jean. Comunicação e Sociedade: pensar a concepção da exposição. In: Museu e comunicação: exposição como objeto de estudo. BENCHETRIT, Sarah; ZAMORANO, Rafael Bezerra; MAGALHÃES, Aline Montenegro. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2010. P. 17 a 34 DEL RIO, Vicente. Voltando às origens. A revitalização de áreas portuárias nos centros urbanos. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 015.06, Vitruvius, ago. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.015/859>. DESCUBRE cómo se organiza una exposición. Realização de Museo Guggenheim Bilbao. Bilbao: Museo Guggenheim Bilbao, 2011. (3 min.), son., color. Série Desde dentro. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fHUm0iZ4PS8>. Acesso em: 21 maio 2017. EL MUSEO GUGGENHEIM DE BILBAO, FRANK GEHRYJ. Direção de Julien Donada. Produção de Julien Donada. Realização de Ministério da Cultura e da Comunicação. [Paris]: Centro Georges Pompidou, 2004. (24 min.), son., color. Legendado. Série Arquiteturas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=95qbLCgaKRo>. Acesso em: 21 maio 2017. espana/espana-verde/noticia-museo-guggenheim-supero-octava-vez-millon-visitantes-2106-20170102151949.html>. Acesso em: 20 maio 2017. EUROPA EXPRESS. El Museo Guggenheim superó por octava vez el millón de visitantes en 2016. Bilbao, p.1-1. 02 jan. 2017. Disponível em: <http://www.europapress.es/turismo/destino- EXPOSICIÓN "Selecciones de la Colección del Museo Guggenheim Bilbao II". Produção de Museo Guggenheim Bilbao. Bilbao: Museo Guggenheim Bilbao, 2011. (6 min.), son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qz_JOb7ZX-0>. Acesso em: 21 maio 2017. FALCÃO, Fernado Antônio Ribeiro. Uma reflexão sobre a utilização de museus como vetores de operações urbanas: Os casos dos museus Iberê Camargo e Guggenheim-Bilbao. 2013. 123 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Arquitetura, Programa de Pesquisa e Pós- graduação em Arquitetura - Propar, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013 FONTOVA, Rosario. Bilbao remata el cambio del ´efecto Guggenheim´. El Periódico de Aragón. Bilbao, p. 1-1. 20 out. 2007. Disponível em: <http://www.elperiodicodearagon.com/noticias/escenarios/bilbao-remata-cambio-del-efecto-guggenheim-_358638.html>. Acesso em: 21 maio 2017. JANUZZI, Denise de Cásia Rossetto; RAZENTE, Nestor. Intervenções urbanas em áreas deterioradas. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 28, n. 2, p. 147-154, jul./dez. 2007.
  • 19. Referências bibliográficas KIEFER, Flavio. KIEFER, Flavio. Arquitetura de Museus. Arqtexto. 2000/2 MEIRELES, Maurício. Arquitetura da reconstrução. Época. [rio de Janeiro], p. 1-1. 13 jan. 2012. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/01/arquitetura-da-reconstrucao.html>. Acesso em: 21 maio 2017. O’DOHERTY, Brian (2002). No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte. São Paulo: Martins Fontes. PÉREZ, José Antonio Pérez. Introdución. In: PÉREZ, José Antonio Pérez (Org.). Bilbao y sus barrios: una mirada desde la historia. Bilbao: Bidebarrieta Kulturgunea, 2008. p. 9. PLAZA, Beatriz. The Bilbao effect (Guggenheim Museum Bilbao). Bilbao: Faculty of Economics / University of the Basque Country, 2007. Disponível em: <https://mpra.ub.uni-muenchen.de/12681/1/MPRA_paper_12681.pdf>. Acesso em: 21 maio 2017. ROQUE, Maria Isabel Rocha. Comunicação no museu. In: Museu e comunicação: exposição como objeto de estudo. BENCHETRIT, Sarah; ZAMORANO, Rafael Bezerra; MAGALHÃES, Aline Montenegro. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2010. P. 47 a 68