O livro descreve a trajetória dos músicos do Clube da Esquina, como Milton Nascimento, Lô Borges e Fernando Brant, e como eles colocaram Belo Horizonte no mapa cultural mundial através de sua música. O autor, Márcio Borges, conta histórias e lembranças afetivas dos músicos e da época da ditadura militar. Ele também explica a gênese de canções emblemáticas e como o Clube da Esquina levou o nome de Belo Horizonte para além das fronteiras nacionais.
1. LIVRO
OS SONHOS NÃO ENVELHECEM –
AS HISTÓRIAS DO CLUBE DA
ESQUINA, DE MÁRCIO BORGES.
(GERAÇÃO EDITORIAL, 376 PÁGINAS).
Resenha: Luiz Henrique Dias Silva1
Belo Horizonte ainda tem um longo caminho a trilhar rumo ao reconhecimento como
cidade global. Isso, apesar de todos os esforços da prefeitura local e de grupos privados.
Porém, existe um marco que insere a capital mineira de forma definitiva no mapa da cultura
mundial. Em Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina é possível
acompanhar a trajetória de Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant, Beto Guedes,
Tavinho Moura, Ronaldo Bastos e Toninho Horta, entre outros, como se viajássemos em
etérea maria fumaça ao som de violões e vozes privilegiadas.
Trata-se, antes de tudo, de um apanhado de histórias sem rigor acadêmico, mas
principalmente centrado em lembranças afetivas, segundo o autor, Márcio Borges. E esse é o
grande trunfo do livro, pois assim podemos entrar sem cerimônia na casa dos Borges, e
conhecer o “quarto dos meninos”, local de confraternização e ensaios, uma espécie de
“camarim” antes das reuniões na esquina das ruas Divinópolis com Paraisópolis, no bairro
de Santa Tereza. Márcio Borges, poeta, letrista, escritor e cineasta é generoso e apresenta ao
leitor a juventude e a intimidade de seus companheiros, nossos heróis.
O fio condutor das histórias é a vida de Márcio Borges e sua amizade proporcionada
pelo irmão mais velho, Marilton , músico, com o Bituca, apelido de Milton Nascimento, cuja
trajetória desde a cidade de Três Pontas até os palcos internacionais, é minuciosamente
contada. Por meio de uma linguagem cinematográfica, o autor nos faz “ouvir” e “ver” Milton
e seus companheiros às portas do Edifício Levy, na esquina da Avenida Amazonas com rua
Curitiba, a um quarteirão da Praça Sete.
Percorremos a Avenida Afonso Pena; passamos em frente à Igreja São José; às portas
do Cine Metrópole, na Rua da Bahia; vemos Milton tocando na Boate Berimbau, do Bolão, no
edifício Archângelo Malleta, em companhia de Wagner Tiso e Paulinho Braga; no Mercado
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Bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni – BH).
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Municipal de Santa Tereza e em outros pontos bem conhecidos pelos mineiros e também por
estrangeiros desejosos de saber por onde andavam os integrantes do Clube da Esquina. Tudo
isso num ambiente conturbado cultural, social e politicamente devido à influência da ditadura
militar.
Outro ponto especialmente saboroso dos relatos de Márcio Borges diz respeito à
gênese de canções emblemáticas como San Vicente, Cais, Coragem, Travessia, Nuvem
Cigana e tantas outras obras memoráveis. As fotos históricas, retiradas de baús afetivos da
família Borges, são uma atração à parte. Sem falar nas letras das canções e a história por trás
de cada uma delas.
O Clube da Esquina e seus sucessores deram a Milton Nascimento o reconhecimento,
a amizade e a admiração de músicos internacionais tais como Paul Simon, Wayne Shorter,
Sarah Vaughan, James Taylor, Peter Gabriel, Pat Metheny e Quincy Jones, entre tantos
outros. Além disso, levou o nome de Belo Horizonte e seus bairros, em especial o de Santa
Teresa, suas ruas e monumentos para além das fronteiras nacionais. Mas nada ilustra melhor o
poder da arte em romper fronteiras como a fala de Jeanne Moreau, musa reconhecidamente
responsável pela trajetória de Milton, ao próprio em Nova Iorque:
- Como é bela a arte, Milton. Trabalhamos numa coisa aqui e vamos tocar a alma de
quem nem sabemos e nem onde. Ontem fui eu, Truffaut e agora você.
Somente lendo Os sonhos não envelhecem – As Histórias do Clube da esquina é que
se pode ter a real dimensão da beleza, da grandeza e da verdade contidas nestas frases.