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OBSERVANDO A VIDA SELVAGEM
WATCHING WILD LIFE
Criação				
Marcelo	Presotto
Argumentos
Marcelo	Presotto e		Victor	Navas
histórias	curtas	não	seriadas(*)	e	independentes	
com	10	minutos	de	duração.
Os	variados	personagens	vivem	situações	limite,	
às	vezes	causando,	em	outras	sofrendo	os	efeitos	
da	paixão,	da	ira,	do	desejo,	do	amor	
ou	simplesmente	da	estupidez.
(*)	alguns	personagens	poderão	ser	vistos	mais	de	uma	vez.
LOGLINE:	
crônicas	urbanas	contemporâneas;	
tragicomédias	investigativas	da natureza	humana,	
suas	grandezas	e	limitações.
GÊNERO:
As	histórias	de	“Observando	a	Vida	Selvagem”revelam e	surpreendem;	visitam	aqueles	momentos	em	que	normalmente	dizemos	
“Você	tá	brincando!	Isso	não	aconteceu!”	São	situações	movidas	pela	natureza	humana	naquilo	que	ela	tem	de	mais	instintivo,	
curioso	e	ambíguo;	peripécias	que	homens	e	mulheres	realizam	influenciados	por	seu	potente	arsenal	hormonal;	testosterona,	
progesterona,	adrenalina,	quem	sabe	até	ferormônios...	Secreções	correndo	nas	veias,	bem	vindas	ou	indevidas	e	que,	muitas	vezes,	
colocam	em	questão	quais	os	reais	limites	do	livre	arbítrio!	
Afinal,	quem	somos	nós?	Do	que	somos	capazes?	O	que	nos	atrai?	O	que	nos	causa	repulsa?	O	que	queremos?	Queremos	apenas	
aquilo	que	realmente	precisamos?	As	pequenas	e	grandiosas	aventuras	urbanas	dos	personagens	são	cotidianas;	
podem	acontecer	– e	acontecem	– com	qualquer	um,	especialmente	numa	megacidade	onde	vivem	apinhados	milhões	
da	nossa	espécie!	Infelizmente,	a	‘observação	da	vida	selvagem’	não	leva	sempre	a	um	conhecimento	esclarecedor	e	muito	menos	
à	criação	de	boas	regras	de	convivência.	O	mais	comum	é	a	incompreensão	diante	da	bestial	irracionalidade,	mas	para	nossa	sorte,	
também	acontece	muitas	vezes	dessas	experiências	iluminarem	nosso	caminho	e	nos	conduzirem	para	a	felicidade.	
Quer	seja	por	amor,	raiva,	tesão,	autoafirmação,	fetiche,	tara,	seja	lá	o	que	for	e	independente	da	opção	sexual,	
na	hora	“H”,	o	resultado	de	nossas	manobras	quase	sempre	é	grandioso,	emocionante,	hilário	e	até	desastroso...	
CONCEITO
Em	tempos	de	intolerância	e	radicalismo	sempre	é	bom	promovermos	um	canal	de	expressão	de	atitudes	aparentemente	
incompreensíveis	de	forma	a	oferecermos	à	sociedade	um	‘espelho’	através	do	qual	possamos	lidar,	entender	e	aceitar	
nossas	limitações.	A	idéia de	liberdade	deve	ser	incentivada	na	mesma	medida	em	que	compreendermos	que	ela	tem	
limites:	a	liberdade	alheia!	As	histórias	apresentadas	em	“Observando	a	Vida	Selvagem”	funcionam	como	um	alerta	para	a	
fragilidade	das	convenções,	dos	preconceitos	e	da	própria	Lei,	afinal,	não	temos	controle	absoluto	sobre	nossas	emoções,	
comportamentos	e	idéias.	Nos	atraem	as	narrativas	em	que	os	personagens	rompem	com	aquilo	que	se	espera	deles	e	
agem	de	forma	inusitada,	muitas	vezes	criando	situações	estranhas	e	até	bem	humoradas.	
JUSTIFICATIVA
O	caráter	não	episódico	das	histórias	resulta	justamente	do	fato	de	‘selecionarmos/focarmos’	um	evento	
na	vida	dos	personagens,	daí	a	associação	à	ideia	de	‘crônica’.	No	que	refere	ao	modelo	de	produção	isso	permite	
maior	liberdade	na	seleção	e	escalação	de	elenco	e,	consequentemente,	mais	objetividade	e	produtividade	no	set.	
O	plano	é	estruturar	um	elenco	de	atores	e	atrizes	que	possam,	cada	um	deles,	eventualmente	interpretar	mais	
de	um	personagem	ao	longo	da	jornada	de	produção	de	um	conjunto	de	filmes.	Uma	excelente	referência	
desse	modelo	de	produção	é	o	bem	sucedido	“Porta	dos	Fundos”.	
PRODUÇÃO
HISTÓRIAS
O	atual	repertório	de	situações/crônicas	é	resultado	- como	já	antecipa	o	título	da	série	– da	nossa	
‘observação	da	vida	selvagem’.	Na	medida	em	que	vivemos	novas	experiências,	vemos	notícias	ou	simplesmente	andamos	
pela	rua,	novas	histórias	surgem	e	procuramos	imediatamente	dar-lhes	uma	forma	narrativa.	Algumas	estão	estruturadas,	
em	outras	identificamos	aquilo	que	julgamos	essencial	e	arrebatador;	ainda	há	aquelas	que	mesmo	curtas	sabemos	
potencialmente	capazes	de	desdobramentos	e	- o	fundamental	- adequadas	para	adaptação	para	audiovisuais	com	
10	minutos	de	duração.	Nesse	documento,	indicamos	algumas	dessas	histórias	para	exemplificar	sua	diversidade,	
entre	elas	uma	que	já	‘traduzimos’	para	o	formato	de	roteiro.
Duas	amigas	na	noite	precisam	enfrentar	
o	assédio	de	um	trio	de	imbecis	
que	trasborda	anabolizantes.
1. GAROTAS DO FUSQUINHA TURQUESA
Um	infeliz	planeja	meticulosamente	
o	assédio	a	uma	garota	no	ônibus	
e	precisa	lidar	com	as	consequências	de	sua	escolha.
2. O CAÇADOR DA LOTAÇÃO
A	estranha	e	pervertida	abordagem	
que	um	sujeito	recebe	de	um	nerd japonês	
aparentemente	inofensivo.
3. FETICHE ORIENTAL
Ele	achava	que	atraía	todas	as	mulheres,	
estava	pronto	para	seduzi-las,	
mas	foi	arrebatado	por	uma	barata!	
4. SUPER MACHO
Ela	trabalhava	ajudando	aos	necessitados;	
um	deles	preferiu	roubar	seu	novo	celular	
e	provocou	uma	atitude	drástica!
5. ASSISTÊNCIA SOCIAL
O	moto-boy ia	e	vinha	sem	parar	
entre	a	pizzaria	e	os	clientes,	até	perder	a	paciência!
6. PIZZA E FÚRIA
A	vizinha	gostosa	entrou	no	elevador	justamente	
no	dia	que	ele	não	passava	bem,	o	elevador	quebrou,	
mas	ele	aguentou	o	quanto	pode...	
7. FLATULÊNCIA ASSASSINA
O	jovem	casal	é	feliz	e	parece	promissor,	
até	que	a	garota	se	interessa	pelo	cunhado!
8.TRIÂNGULO FAMILIAR
Eles	se	desentenderam	no	trânsito,	
o	conflito	evoluiu	até	um	ponto	aparentemente	sem	volta.
9. VELOZES E FURIOSOS
A	garota	aceitou	fazer	um	programa,	
mas	não	sabia	que	o	cliente	era	um	obsessivo,	
maníaco	por	limpeza!	
10. A RISONHA
o	casal	lida	com	o	luto	de	perder	uma	amiga	para	um	câncer	e	vai	
ao	show	da	cantora	preferida	da	falecida.	O	choro	da	mulher	faz	
todos	pensarem	que	é	seu	companheiro	que	a	faz	sofrer	e	a	
situação	sai	de	controle.
11. PERIGOSA HOMENAGEM
GAROTAS DO FUSQUINHA TURQUESA
R O T E I R O
01.	INT-EXT/NOITE	– FUSCA	TURQUESA	/	RUAS
RITINHA (31	anos),	dirige	seu	‘fusquinha’	turquesa	pelas	imediações	da	Rua	Augusta.	Ao	seu	lado,	no	banco	do	carona,	
está	sua	inseparável	amiga	MALU (30	anos).	As	duas	mulheres	sorridentes	são	atraentes,	usam	mini	vestidos	
com	decotes	generosos.	Da	pele	de	ambas,	“vemos	surgir”	um	tênue	‘aroma’	(pós-produção)	que	se	espalha	
pelo	carro	e	pelas	janelas	abertas.	Tal	como	num	‘desenho	animado’,	o	aroma	se	desloca	pela	calçada	e	invade	
as	narinas	de	pedestres,	principalmente	dois	homens.	Um	é	um	rapaz	entregador	de	pizza	que	se	prepara	para	dar	a	partida	
em	sua	moto,	mas	se	volta	rapidamente	para	as	mulheres	que	passam	no	Fusca.	O	outro	é	um	senhor	que,	
mesmo	bastante	idoso,	volta	o	olhar	interessado	para	Ritinha	e	Malu.									
Dentro	do	Fusca,	a	unha	perfeitamente	pintada	de	Malu	liga	o	rádio	do	carro	e	passamos	a	ouvir	um	samba-rock.
RITINHA
Esse	seu	Jorge	merece	acender	uma	ponta.	Você	tem?
MALU
Só	a	ponta?!	Eu	quero	aquilo	inteiro!	Ôôô negão	gostoso.
RITINHA
Chiiiii..Já	vi	tudo,	tá	afim	de	tirar	o	atraso.
MALU
Tô a	fim	de	dar	mesmo,	só	não	pode	ser	pro	Gui.	Escuta	bem	amiga:	
não	posso	dar	praquele	filha	da	puta	do	Guilherme.	Me	ajuda?
RITINHA
Quem	me	dera	ter	esse	poder.	Nem	seu	eu	der	antes	pra	ele!	Essa	tua	perereca	tem	vontade	própria	minha	amiga!	
Deve	ter	até	dentes	essa	desvairada,	põe	uma	fucinheira nela	e	acende	esse	baseado	que	eu	seu	que	você	trouxe!
MALU
Gostei:	Pit-perereca.	(pulando	no	banco,	olhando	para	o	próprio	sexo,	rosnando	e	latindo)
Rrrrgh!	Au,	au,	au!	
Ritinha	ri.	Malu	pega	um	baseado	já	queimado	pela	metade,	que	estava	escondido	entre	o	sutiã	preto	e	o	peitão.
MALU
O	melhor	era	melhor	fechar	o	vidro...	Se	você	tivesse	ar-condicionado	nessa	antiguidade.
RITINHA
Não	reclama	do	‘besourinho’	que	ele	nunca	deixou	a	gente	na	mão,	né?	Ele	escuta	e	fica	magoado…
MALU
(beijando	delicadamente	o	banco	de	couro	do	fusquinha)
Tá	bom	besourinho,	desculpe.
(alisando	o	câmbio	do	carro)
Se	eu	pudesse	te	fazia	um	boquete.
.
RITINHA
O	Gui	vai	te	comer	facinho vadia...O	câmbio	dele	é	desse	tamanho?
MALU
Bem	menor...	Acredita	que	até	disso	ele	conta	vantagem?	Diz	que	tudo	bem	engatar	de	ré!
As	duas	caem	no	riso.	Corta	para	tomada	externa	do	Fusca	seguindo	pela	rua.	
Das	janelas,	continua	a	exalar	o	‘aroma’	aplicado	em	pós	produção.	
02.	EXT/NOITE	– RUA	AUGUSTA
A	rua	está	congestionada,	carros	se	movimentam	lentamente	ao	longo	do	percurso.	Na	calçada,	todas	as	tribos	vão	e	vem:	metaleiros,	
alternativos,	punks	de	butique,	prostitutas,	travestis	etc.	ALFREDO (38	anos),	bombado,	exibicionista,	bebe	cerveja	e	tagarela	
para	MARCIO (26	anos)	e	MARCELO (23	anos),	ambos	também	musculosos.	Os	três	conversam	e	fazem	demonstrações	de	luta	na	calçada,	
diante	do	bar	com	poucos	fregueses.	No	balcão,	um	velho	que	passou	por	‘traqueostomia’	faz	seus	comentário	através	
do	pequeno	aparelho	que	leva	ao	orifício	na	garganta.	
ALFREDO
O	negócio	é	full fight!
MARCIO
O	que	é	isso,	Alfredo?	Video game?
ALFREDO
Qual	é,	bro?	É	o	mix perfeito:	karatê,	jiu-jitsu,	greco-romana.
Pro	nosso	perfil	é	mais	eficiente	que	Krag Maga!
.
MARCELO
Não	usa	boxe?
ALFREDO
Box?!	Porra,	box	é	dancinha!	Com	box	você	não	desenvolve	esse	peitoral!	
(para	o	velho	no	balcão)
Olha	esse	bíceps,	C3PO!
VELHO
(som	metalizado	pelo	aparelho	na	garganta)
C3PO	é	o	caralho!	E	eu	não	reparo	em	homem!	Vai	te	catá!	
MARCELO
Mostra	o	teu,	velho!	Olha	o	meu	braço!
VELHO
Vou	te	mostrar	uma	coisa	sim!
Os	três	amigos	marombados	riem.	Alfredo	aplica	um	golpe	de	jiujitsu em	Marcio.	
Os	dois	ficam	ali,	naquele	abraço	rude,	até	que	Marcio	bate	a	mão	na	parede	e	Alfredo	o	libera.
VELHO
(usando	o	aparelho,	para	Alfredo)
E	aí,	comeu?
Alfredo	levanta	o	dedo	do	meio	para	Velho	que,	indiferente,	sai	rindo	para	o	interior	do	bar.	
Os	três	amigos	são	repentinamente	‘tocados’	pela	‘fumacinha’	(pós	produção)	que	chega	flutuando	até	suas	narinas.	Marcio,	
volta	os	olhos	para	uma	das	extremidades	da	rua.
Corta	para	P.O.V.	de	Marcio:	o	Fusca	Turquesa	de	Ritinha	surge	fazendo	a	curva	para	entrar	
na	fila	de	carros	que	se	movimenta	muito	lentamente.	Dali	emana	a	arte	da	‘fumaça’	aplicada	sobre	a	imagem.	
MARCIO
Olha	a	fuquinha galera!	Com	essa	cor	é	boiola	ou	xoxota	velha	abandonada.
03.	INT-EXT/NOITE	– FUSCA	TURQUESA	/	RUA	AUGUSTA
Ritinha	solta	fumaça	e	faz	uma	expressão	de	contrariedade	quando	se	dá	conta	do	trânsito	congestionado	ao	entrar	na	Rua	Augusta.
MALU
Puta	que	o	pariu	Ritinha,	que	mania	de	pegar	a	Rua	Augusta!	Olha	o	transito!
RITINHA
Quer	dirigir?	Relaxa	e	apaga	esse	baseado,	pentelha!	Que	sem	vento	o	cheiro	vai	ficar	grudado	na	gente.
Corta	para	o	trio	de	amigos,	envolto	pela	‘fumaça’	exalada	pelas	mulheres	do	Fusca	Turquesa.	
Eles	tem	toda	a	atenção	tomada	pela	dupla	de	amigas.
ALFREDO
Se	liga!	São	duas	gostosas.	Mostrar	‘procês’	como	é	que	se	faz	‘bro’.	Aprendam	manés.
Alfredo	infla	o	peito,	empina	o	queixo	e	caminha	a	passos	firmes	em	direção	ao	fusca.
Corta	para	o	interior	do	Fusca.	As	mulheres	notam	a	aproximação	de	Alfredo	e	a	dupla	de	amigos	que	as	observa.
RITINHA
Ai	Santa	Rita,	me	poupa	desse	boladinho que	se	aproxima.	Olha	o	riiiiidículo!
MALU
Ave!	E	tá	com	a	turminha	de	‘badboiolas’.	Fecha	o	vidro	Ritinha!
RITINHA
Eu	hein?	Vai	que	o	gorila	fica	magoado.	Vou	dispensar	com	a	educação	francesa	que	recebi	da	vovó.
MALU
Cê que	sabe,	duquesa	da	Vila	Clementino!	Eu	não	tenho	paciência	pra	isso.
Alfredo	se	aproxima	e	apoia	os	braços	sobre	o	teto	do	fusca	do	lado	da	motorista,	deixando	assim	exalar	todo	cheiro	másculo	de	suas	
axilas	sobre	a	pobre	Ritinha.	Aqui,	uma	nova	‘animação’	aplicada	(pós	produção)	sai	das	axilas	de	Alfredo	e	invade	o	Fusca,	causando	
repulsa	quando	entra	nas	narinas	das	amigas.
ALFREDO
Boa	noite	princesas...Opa!	A	festa	já	começou	boa..	
(farejando	a	maconha)	
To convidado?
RITINHA
Desculpa	querido,	a	festa	é	particular.
ALFREDO
Gatinha,	te	juro	que	a	gente	pode	deixar	sua	festa	bem	mais	animada.	Me	fala	teu	nome	linda?
MALU
Amiguinho,	então...	Por	que	você	não	junta	sua	‘tchurma’	e	vão	animar	festinha	de	crianças?	A	fantasia	do	He-man vai	te	cair	super bem!
Ritinha	lança	um	olhar	repreensivo	pra	Malu.
MARCELO
Tá	mal	humorada	sua	amiga?
RITINHA
É	que	na	verdade	não	estamos	muito	a	fim	de	papo,	percebe?	Desculpa.
.
Márcio	se	aproxima	sorrateiro	pelo	lado	da	Malu.
MÁRCIO
Opa!	Cheguei!
(estendendo	a	mão	para	dentro	do	carro)	Márcio,	muito	prazer	
MALU
Aiiii que	susto!
MÁRCIO
Desculpa	gata.	Não	foi	a	intenção.	Eu	sou	grande,	mas	não	mordo	viu?	Não	vai	apertar	minha	mão?
MALU
Não,	tenho	herpes!	Ou	você	quer	pegar?
MARCIO
Você	vale	qualquer	sacrifício,	minha	Deusa.
MALU
“Minha	Deusa”?	Ritinha,	eu	mereço	um	Vando nessas	horas?
ALFREDO
Marcinho,	não	perde	tempo	que	ela	deve	tá	de	“chico”.
MALU
O	que?!	Que	cara	folgado!
RITINHA
Relaxa	pelo	amor	de	Deus,	Malu.	Amigo,	desculpa,	mas	não	estamos	MESMO	a	fim	de	conversar,	tá?	
Estamos	indo	pro	hospital	visitar	um	amigo	que	está	em	coma.	Não	estamos	no	clima,	entende?	
Vocês	até	que	são	bonitinhos,	mas…
MALU
Bonitinhos?	Tá	louca	Rita?	Olha	moço,	a	verdade	dói:	não	estou	de	‘chico’	e	estamos	animadas,	
indo	pra	uma	festa	cheia	de	gatinhos	inteligentes	e	bem	educados.	
Ou	seja,	não	precisamos	conversar	na	rua	com	uns	boladinhos que	mal	sabem	chegar	em	mulher.	
Podem	voltar	pro	seus	amiguinho	ali	e	dizer	que	a	cantada	não	deu	certo.
Séria,	Malu	sobe	o	vidro	manual	da	janela	diante	do	desconcertado	grandalhão	Márcio.	Ritinha	observa	o	farol	que,	embora	verde,	não	
implica	em	movimentação	no	trânsito	e	fica	novamente	vermelho.	Marcelo,	o	terceiro	amigo,	se	aproxima	sorridente	com	uma	garrafa
de	cerveja	nas	mãos	e	alguns	copos	descartáveis.	A	motorista	começa	a	sussurrar	sua	reza	para	Santa	Rita	de	Cássia.
ALFREDO
Já	entendi,	voces são	namoradinhas,	né?	Marcelão,	nem	adianta	colar	aqui.	As	mina	é	sapata	…
MARCELO
Tá	na	cara	seus	trouxa!	Fuca é	carro	de	sapata	ou	bicho	grilo.
RITINHA
Está	provado	que	anabolizante	deixa	brocha!
ALFREDO
Olha	aí	“rapeize”,	a	mina	chamou	a	gente	de	brocha!	Como	fica?
MÁRCIO
Tinha	que	dá	um	castigo	nessas	trouxas.
ALFREDO
É	isso	aí.	Topei!
Alfredo	caminha	para	a	parte	de	trás	do	carro.	Os	outros	dois	o	seguem	perplexos.	Alfredo	vira	as	costas	para	o	carro	e	se	agacha	
agarrando	o	parachoque com	as	duas	mãos.
ALFREDO
Ajuda	aí,	porra!	Quanto	voce faz	de	agachamento	Marcelão?	Guenta?
MARCELO
Aqui	tem	80	centímetros	de	coxa	manezão!
MÁRCIO
Ces tão	louco…
ALFREDO
Vai	amarelar?	Não	guenta?
MÁRCIO
Que	num	guento o	que?	To preocupado	é	com	tua	hérnia	boiola.
ALFREDO
Então	ajuda	antes	que	o	farol	abre..vai!
Unidos	os	tres gigantes	se	agarram	no	parachoque da	fuquinha e	bradam	seu	grito	de	guerra.
TODOS
Um,dois,	tres…vaaai!!!
O	trio	ergue	a	traseira	do	carro.	Lá	dentro	as	amigas	se	agitam	assustadas.
MALU
Puta	que	o	pariu	Ritinha!	Voce conseguiu	irritar	esses	babacas.	Agora	vão	virar	o	carro	com	a	gente	aqui	dentro.	Vou	ligar	pra	polícia.
RITINHA
A	culpa	é	minha	agora?	Voce tá	de	chico	sim!	E	fodeu	com	a	gente.	To de	saco	cheio	desse	teu	mau	humor.	Agora	como	sempre	vou	ter	
que	consertar.
(gritando	para	fora	do	carro)
Voces mexeram	com	a	mulher	errada,	seus	ogros.
MALU
O	que	cê vai	fazer	Ritinha?	Surtou	é?
Ritinha	põe	a	mandibula pra	frente	como	um	predador	prestes	a	esfacelar	a	vítima.	Liga	o	motor	1600,	aperta	a	embreagem	com	força	e	
engata	a	ré	com	violência.
MALU
Ritinha….
No	radio	começa	a	tocar	Cristina	Aguilera.
MALU
Baixou	a	pomba	gira	mexicana	meu	Deus!
Ritinha	acelera.	
Corta	para	o	trio	de	amigos	na	traseira	do	carro.
MARCELO
A	vadia	ligou	o	carro	e	pos a	ré...PQP!	Fodeu!
MARCIO
Minha	mão	ta doendo	pra	cacete
ALFREDO
Tá	começando	a	me	dar	cãimbra.	Vou	soltar	essa	merda	e	pular	pro	lado.
MARCELO
Tá	louco!	Se	soltar	te	encho	de	porrada.	
ALFREDO
Vamo solta	junto	então!	No	tres vai..um..dois..
MÁRCIO
Deixa	de	ser	burro,	se	soltar	o	carro	vem	pra	cima	da	gente.	
O	Velho	do	bar	vem	para	fora,	divertindo-se.
VELHO
(usando	o	microfone	na	garganta)
Acelera!	Passa	por	cima	mesmo!	Espalha	essa	merda	no	asfalto!
MARCELO
(quase	chorando)
Socorro!	Polícia!	São	duas	psicopatas!
ALFREDO
Cala	a	boca!	Olha	o	vexame!
Dentro	do	carro	as	garotas	discutem	o	próximo	passo.
MALU
Ritinha	voce vai	fazer	um	patê	de	anabolizante	e	nós	vamos	pra	cadeia.	Desliga	o	carro	pelo	amor	de	Deus!
RITINHA
Se	eu	parar	agora	eles	vem	putos	em	cima	da	gente.	O	plano	é	deixar	eles	sem	forças	pra	se	vingar.
MALU
Plano?	Que	Plano	Ritinha?	Voce tá	transtornada..Olha pra	mim!	Tem	maconha	no	carro.	Fusca	é	carro	de	pobre.	Nós	vamos	ter	que	
chupar	os	Pms pra	não	ir	pra	delegacia.	Me	escuta	sua	louca!
Lá	fora	os	gorilas	estão	banhados	em	suor	e	medo.
ALFREDO
E	se	a	gente	soltar	e	pular	pra	cima	do	pára choque??	Jesus	Cristo	não	aguento	mais.
MARCELO
Cala	a	boca	anta!	Socorro!	Por	favor,	pára moça!	Nos	desculpem!
Enquanto	isso	o	trânsito	desafoga	e	os	outros	carros	começam	a	buzinar.	Ritinha	põe	a	cabeça	pra	fora	e	grita	para	suas	vitimas.
RITINHA
Escuta	aqui	seus	machos	alfa	de	merda,	o	plano	é	o	seguinte	:	o	farol	vai	abrir,	eu	vou	engatar	a	primeira	e	vamos	seguir	nosso	caminho	
em	paz.	Ou	voces tem	uma	idéia melhor?
ALFREDO
Isso	mesmo	moça.	Por	favor!	Rápido.
O	farol	fica	verde.	Ritinha	engata	a	primeira.	O	trio	desce	o	Fusca	e	o	carro	segue	seu	caminho.
Dentro	do	carro	Malu	olha	fixamente	pra	Ritinha.
RITINHA
(abaixando	o	som)
E	faça- me	o	favor	de	dar	pro	Gui	hoje	e	tirar	esse	atraso	que	te	deixa	insuportável.
Corta	para	PG.	O	Fusca	Turquesa	segue	pela	rua.	Os	três	amigos	permanecem	estirados	na	calçada,	exaustos	e	sem	força	para	retrucar	o	
Velho	que	ri	usando	o	microfone	na	garganta.	
***
Outras	Histórias...
Fim
Roberto	tinha	22	anos	e	o	tesão	à	flor	da	pele.	Literalmente,	pois	só	de	encostar	o	braço	contra	a	pele	do	braço	de	uma	mulher	
lhe	vinha	uma	ereção.	Por	isso	Roberto	adorava	andar	de	ônibus,	principalmente	no	verão	onde	as	mulheres	punham	seus	braços	
e	pernas	pra	fora	despudoradamente.	Roberto	era	um	cara	bonito	e	se	achava	um	caçador	viril,	não	um	tarado.	Sempre	cuidando	
de	não	passar	dos	limites	e	ser	linchado.	E	ali	estava	sua	presa	indefesa	sentada	sozinha	com	a	pequena	cabeça	sonhadora	
apoiada	no	vidro	engordurado.	Vestia	um	saia	curta	e	uma	blusa	decotada,	o	que	para	Roberto	já	era	um		sinal	de	"to a	fim	de	dar"	
e	não	simplesmente	um	"to com		um	puta	calor".	Para	um	jovem	tarado	tudo	passa	por	uma	ótica	distorcida.	
A	moça	em	questão	estava	é	com	um	puta	calor.	Sonhava	chegar	em	casa	para	assistir	a	novela	tomando	
um	picolé	de	limão,	que	estava	cuidadosamente	escondido	atrás	do	pote	de	feijoada	congelada,	para	que	seu	irmão	não	o	encontrasse.		
Pediu	licença	para	sentar	ao	seu	lado.	O	fato	de	Roberto	ser	alto	e	ter	as	pernas	compridas	era	um	bom	álibi	
pra	ele	sentar	espaçosamente	bem	próximo,	porém	ainda	sem	contato	físico	para	não	assustar	a	moça.	
Sentou	precisamente	a	distância	de	2	centímetros	das	pernas	e	1	centímetro	e	meio	dos	braços...
bastava	uma	respiração	profunda	e	sincronizada	para	que	os	dois	braços	se	encostassem.	
Os	sentidos	aguçados	de	predador	de	Roberto	já	detectaram	o	roçar	imperceptível	dos	pelos,	
antes	das	peles	se	tocarem.	O	próximo	passo	só	seria	possível	graças	à	Prefeitura	de	São	Paulo	
e	seus	asfaltos	esburacados,	que	proporcionariam	um	solavanco,	perfeitamente	adequado	para	o	álibi	da	aproximação	total.	
Pronto,	um	sacolejo	dos	bons	e	os	corpos	se	aproximaram	num	balé	desajeitado.	Imóvel	como	um	leão	de	tocaia	na	savana	Wild	Life,	
Roberto	espera	pra	ver	se	a	moça	vai	se	ajeitar	no	banco,	pra	se	afastar.	Não	se	mexe.	
Então	ele	já	começa	a	preparar	o	bote	mais	arriscado,	em	três	movimentos.	
O	CAÇADOR	DA	LOTAÇÃO
Primeiro:	distraidamente	dar	uma	coçadinha	na	perna	e	deixar	a	mão	lá.	
Segundo:	como	quem	não	quer	nada,	ir	escorregando	a	mão	pro	lado,	até	que	a	lateral	do	mindinho	encoste	
levemente	na	perna	desnuda	da	moça.	
Terceiro:	constatada	a	aceitação	da	etapa	dois,	partir	para	o	golpe	de	misericórdia...por	as	mãos	na	coxa	da	vítima.	
Na	verdade	Roberto	nunca	chegou	a	esse	ponto,	porque	ele	ainda	não	é	um	tarado	profissional.	
Nem	o	mindinho	ele	conseguiu	encostar	em	ninguém,	porque	lhe	faltava	a	coragem.	
Coça	a	perna	Roberto,	coça	sem	medo!	Coçou...	e	deixou	a	mão	tremula	ali,	distante	dois	extensos	centímetros	da	perna	da	moça.	
E	que	pernas	perfeitas.		O	suor	frio	escorria	pelas	costas	de	Roberto.	Prefeitura	de	Jesus	me	dê	mais	um	solavanco	agora	por	favor!	
Roberto	sentia	todo	apoio	administrativo	e	divino	naquele	momento,	porque	o	solavanco	veio	imediatamente.	
Pronto!	O	dedinho	está	encostado	lá,	Roberto!	Imóvel	e	sugando	imperceptivelmente	todo	o	calor	daquelas	coxas,	
como	um	pernilongo	que	se	alimenta	da	sua	vítima	anestesiada.	Roberto	mal	conseguia	respirar,	e	seu	corpo	congelou.	
Até	agora	nada	contra	a	lei	do	município.	Mas	se	fosse	alguns	centímetros	para	o	lado	direito,	estaria	atravessando	
um	limite	que	poderia	não	ter	mais	volta.	Imaginou	a	multidão	em	frenesi	pisoteando	seu	belo	rosto	contra	aquele	
chão	áspero	e	metálico	do	ônibus.	Se	viu	desfigurado	na	cadeia,	espremido	entre	homens	brutais	numa	minúscula	cela.	
Mas	pensou	também	na	sua	mão	espremida	entre	aquelas	coxas	monumentais.	Roberto	pensou	então:	se	ele	colocasse	
a	mão	e	a	reação	fosse	negativa,	poderia	simular	um	ataque	epilético	logo	em	seguida,	como	se	a	mão	na	perna	fosse	
um	último	pedido	de	socorro	antes	da	convulsão	mental.	Isso	mesmo!	Um	epilético	sempre	causa	pena	e	desconforto!	
Bastaria	babar,	e	morder	a	mão	do	primeiro	infeliz	que	tentasse	desenrolar	sua	língua.
E	quem	sabe	teria	sorte	de	ser	a	moça	quem	primeiro	o	socorresse!	
E	ai	poderia	se	agarrar	a	suas	coxas	e	peitos	desesperadamente,	podendo	babar	à	vontade	sobre	eles.	
Que	boa	ideia	teve	Roberto	e	assim	tomou	coragem	para	colocar	a	mão	sobre	a	perna	da	moça,	
mas	antes	que	o	fizesse,	ela	virou-se	pra	ele	com	agitação	e	disse:
- Moço	por	favor	dá	licença!	Rapidinho!!	Me	distraí	e	vou	perder	meu	ponto!!...Obrigado..Motorista!
E	lá	se	foram	aquelas	coxas	pela	calçada	sob	o	olhar	decepcionado	de	Roberto,	encostado	agora	contra	a	janela	que	
outrora	pertenceu	a	musa.	Quase	podia	sentir	o	cheiro	doce	de	seu	hálito	condensado	no	vidro,	
e	o	calor	daquela	bunda	tostado	no	couro	azul	do	banco.	Esse	momento	nostálgico	é	interrompido	pela	aproximação	
de	um	gigante	musculoso,	que	pede	docemente	licença	para	se	sentar.	As	pernas	tão	compridas	quanto	
as	de	Roberto	ocupam	um	espaço	peculiar.	O	cheiro	de	colônia	Rastro	inunda	as	narinas	assustadas	de	Roberto.	
E	então	vem	o	solavanco.	Maldita	Prefeitura.
***
FETICHE	ORIENTAL
Paulo	saiu	da	academia	e	foi	dar	um	rolê pra	comprar	uma	cueca	nova.	Gostava	de	ir	na	Calvin	Klein,	
onde	tinha	só	vendedora	mulher.	Comprar	cuecas	com	mulheres	podia	constranger	alguns,	mas	Paulo,	pelo	contrário,	
se	excitava	com	a	ideia.	Vestia	uma	camiseta	regata,	pondo	a	mostra	os	músculos	inchados	pela	maromba,	
e	com	certeza	ia	chamar	a	atenção	das	vendedoras,	pelo	menos	era	o	que	esperava.	
(Vendedora)- Boa	tarde!	Tudo	bem?	Posso	te	ajudar?
(Paulo)- Tudo.	Queria	ver	umas	cuecas	tipo	boxeador.
(vendedora)- Olha	temos	essas	com	pacote	com	três	que	estão	em	promoção.	Deixa	eu	ver...	Você	deve	ser	M.
(Paulo)- Isso	mesmo.	A	cueca	é	M.
Paulo	se	sentiu	um	boçal	com	essa	leve	insinuação	ridícula	que	seu	pau	não	era	tamanho	M,	e	torceu	para	a	vendedora	
não	perceber	o	seu	ato	falho.	A	vendedora	não	pareceu	nem	um	pouco	interessada	na	sua	musculatura,	queria	mesmo	
era	vender	as	cuecas.	Nesse	instante	entrou	na	loja	um	executivo	japonês,	de	uns	40	anos.	Trazia	pela	mãozinha	escondida	
sob	o	terno	cinza,	mais	largo	do	que	deveria,	uma	pasta	007	imitação	de	couro.	Parecia	desconfortável	dentro	da	loja.	
Antes	que	a	outra	vendedora	o	abordasse	,dirigiu-se	rapidamente	para	a	mesma	que	atendia	Paulo,	interrompendo-a.
(Japonês)- Desculpa,	com	licença?	Queria	ver	meias	de	algodão.
(Vendedora)	- Nós	não	trabalhamos	com	meias	senhor,	mas	se	quiser	ver	outras	coisas	a	Bete	pode	lhe	atender.
O	Japonês	olhava	para	a	vendedora	constrangido,	e	rapidamente	voltava	os	olhos	para	Paulo	compulsivamente,	
quase	como	um	tique	nervoso.
(Japonês)- Não	tem	meia	é?
(Vendedora)- Não	meu	senhor,	meias	não.	Sinto	muito.	Com	licença.
(Japonês,	dirigindo-se	a	Paulo)- Por	gentileza,	o	senhor	sabe	me	dizer	onde	eu	encontro	uma	loja	de	meias	na	região?
(Paulo)- Amigo	pra	dizer	a	verdade	eu	quase	não	uso	meias.
Olha	só..ta vendo.?
Paulo	apontou	pro	tenis 44,	entornando	a	canela	grossa	e	peluda,	o	que	deixou	o	japonês	ainda	mais	sem	graça.	
Pediu	desculpas	e	se	esgueirou	para	fora	da	loja,	de	um	modo	suspeito.	Vinte	minutos	depois	Paulo	deixa	a	loja	com	10	cuecas,	
sendo	que	precisava	de	3,	finalmente	percebendo	porque	colocavam	mulheres	bonitas	para	vender	cuecas.	
Seguiu	em	frente	alguns	passos,	e	resolveu	inverter	a	direção	do	trajeto,	para	tomar	um	shake de	proteína	que	faziam	
ao	lado	da	academia.	Ao	se	virar,	teve	a	impressão	de	ver	o	executivo	japonês	entrando	rapidamente	numa	loja	
de	artigos	indianos	e	esotéricos.	Quando	passou	pela	vitrine,	viu	o	japonês	examinando	um	cristal	concentradamente,	
como	um	geológo profissional.	Teve	a	leve	impressão	que	os	olhinhos	apontavam	na	sua	direção	através	da	pedra	transparente.	
Paulo	sentou	no	balcão	da	lanchonete	e	pediu	o	enjoativo	shake de	proteína	sabor	morango.	Bebeu	à	contragosto,	
como	parte	obrigatória	do	treino	de	body-building.	Viu	passar	de	novo	na	calçada	o	maldito	japa,	carregando	sua	pastinha	
imitação	de	couro	preto	descascada.	Ele	parou	na	porta	da	lanchonete	e	ali	ficou	alguns	instantes,	atendendo	uma	suposta	l
igação num	celular	pós	pago	vagabundo.	Entrou	fingindo	não	ver	Paulo	e	sentou	numa	mesa	perto	da	porta.	
Paulo	começou	a	se	irritar	com	a	presença	nipônica.
Arrotou	o	shake,	pagou	a	conta	e	tomou	seu	rumo.	Ao	dobrar	a	esquina	seu	sexto	sentido	de	macho	alfa	guiou	sua	cabeça	
pra	vigiar	as	costas.	E	lá	estava	o	japonês,	à	uns	dez	passos	de	distância.	Paulo	colocou	o	queixo	pra	frente	instintivamente,	
sugerindo	um	ataque	primitivo.	O	japonês	paralisou	e	empalideceu.	Paulo	diminui	rapidamente	a	distância	entre	os	dois,	
com	passos	largos	e	decididos.
(Paulo)	– Você	tá	me	seguindo,	caralho?
(Japonês)- Calma	moço,	me	desculpe,	só	queria	um	minuto	do	seu	tempo.	Não	sou	bandido,	sou	uma	pessoa	honesta.
(Paulo)	– Que	você	não	é	bandido	tá	na	cara.	Tá	achando	que	sou	viado cara?		Qual	é?	Fala	porra!
(Japonês)- Não	moço,	com	todo	respeito.	Eu	sou	casado	e	o	senhor	parece	ser	bem	machão,	né?
(Paulo)	– Tá	me	tirando	japonês?	Explica	logo!	
(Japonês)	– Sabe,	não	me	entenda	mal,	mas	tenho	uma	coisa	que	me	apetece	muito,	e	queria	fazer	uma	oferta	respeitosa	ao	senhor.	
(Paulo)- Oferta	respeitosa?	Eu	lá	sou	Santo	pra	receber	oferta	respeitosa?	Vai	num	terreiro	japonês!
(Japonês)- Eu	sou	budista	moço.	A	oferta	é	um	dinheiro	para	eu	cheirar	o	seu	suvaco.
(Paulo)- O	queee!!?	Pirou	cara?
(Japonês)- Eu	gosto	muito,	muito	mesmo,	do	cheiro	de	suvaco de	homem	forte.	Só	isso.	E	pagaria	cem	reais,	para	com	todo	
respeito	cheirar	o	seu	suvaco.	Eu	nem	tocaria	o	senhor.	Palavra	de	honra.	Nós	podemos	ir	ali	no	banheiro	daquele	restaurante.	
Não	gastaria	mais	que	5	minutos	do	seu	tempo!!
(Paulo)	– É	brincadeira	uma	coisa	dessa?	Que	cara	de	pau	hein	japonês?	Voce não	tem	vergonha?	
Casado	e	tudo.	Budista.	O	que	diria	Buda..
(Japonês)	– Me	desculpe	moço.
(Paulo)- Duzentos	reais.
(Japonês)- Aceita	cheque?
***
Estava	eu	caminhando	pelo	largo	de	Pinheiros.	Era	fim	de	tarde	de	um	verão	extremamente	quente	e	eu	tinha	saído	de	um	treino	
de	boxe	tailandês,	o	que	fazia	sentir-me	extremamente	macho.	Camisetinha	regata	com	os	músculos	inchados	à	mostra,	cabeça	
recém	raspada	e	uma	grande	autoconfiança.	Resolvi	me	misturar	àquele	formigueiro	na	hora	do	rush,	para	lançar	olhares	sedutores	
sobre	as	mulheres	que	passavam	apressadas.	Quem	sabe	convencia	alguma	a	chegar	mais	tarde	em	casa.	
Porém,	quem	decidiu	interromper	o	caminho	de	casa,	sucumbindo	aos	meus	ferormônios,	foi	uma	enorme	barata	voadora	
que	estatelou	na	minha	testa.	A	mocinha	subiu	pela	careca	lustrosa	e	escorregou	com	sensualidade	lânguida	pela	minha	nuca,	
descendo	rapidamente	para	dentro	da	camiseta	regata	com	a	intenção	libidinosa	de	explorar	meu	abdômen	definido	
com	aquelas	patinhas	ásperas.	De	machão	latino	me	transmutei	imediatamente	numa	espécie	de	dançarino	de	flamenco	histérico.	
Gritei	e	me	contorci	num	balé	grotesco,	em	busca	da	barata	estupradora,	tudo	para	deleite	da	plateia	que	ali	estava.	
A	barata	desesperada	dava	voltas	no	meu	tronco	à	procura	de	um	esconderijo,	pois	àquela	altura	da	coreografia	
eu	já	tinha	arrancado	a	camiseta.	A	moda	fashion de	machão	eram	aquelas	calças	sem	cinto,	um	pouco	mais	largas	do	que	se	devia,	
com	a	intenção	sensual	de	mostrar	um	pedaço	da	cueca	Calvin	Klein.	A	barata	não	resistiu	a	tamanho	apelo	sexual	e	se	enfiou	
pra	dentro	das	minhas	calças,	para	o	meu	profundo	desespero.	E	lá	estava	o	badboy com	as	calças	arriadas,	dando	pulinhos	
sincronizados,	como	num	fado	português,	em	busca	da	barata	safada.	Na	altura	da	coxa	desferi	um	tapa	na	maldita,	que	finalmente	
me	abandonou,	seminocauteada,	alçando	seu	voo	trôpego	em	direção	ao	crepúsculo.	Subi	as	calças	rapidamente,	
sem	tirar	os	olhos	do	chão	e	segui	em	frente	pela	rua,	tão	desnorteado	quanto	a	barata,	que	me	havia	dado	uma	boa	lição	de	humildade.
***
SUPER	MACHO
Amanda	havia	economizado	para	comprar	seu	novo	celular.	Sua	mãe	insistira	para	que	ela	colocasse	no	seguro,	
mas	a	mulher	desdenhou	do	conselho.	Não	poderia	ter	sido	mais	imprevidente,	afinal	Amanda	trabalha	como	assistente	social	
e	justamente	no	centro	de	São	Paulo!	Conselho	de	mãe	vale	ouro!	Foi	como	tinha	de	ser:	depois	de	poucos	dias,	
Amanda	foi	assaltada	por	um	truculento	morador	local,	aliás,	um	velho	conhecido	do	pessoal	da	Secretaria	de	Assistência	Social.	
Coqueiro	era	um	magrão,	bem	alto	e	cabeludo,	sua	melhor	arma	era	a	cara	feia	e	ossuda,	mas	ninguém	duvidava	
que	levasse	uma	faca	na	cinta.	
Amanda	entregou	o	celular,	mas	não	se	conformou.	Retornou	minutos	depois,	mas	dentro	do	taxi	de	uma	motorista	amiga.		
Não	demorou	e	ela	avistou	o	ladrão.	Coqueiro	estava	tranquilo,	afinal	sabia	que	a	polícia	geralmente	não	tinha	tempo,	
recursos	e	paciência	para	correr	atrás	de	ladrão	pé	de	chinelo.	Amanda	não	tinha	exatamente	um	plano;	era	mais	uma	ideia	
nebulosa	sobre	como	reaver	seu	celular.	Ela	pediu	à	amiga	que	parasse	o	carro	bem	diante	de	Coqueiro	e,	
ali	do	banco	traseiro,	começou	a	observá-lo	sem	parar.	Lembrou	de	um	amigo	que	dizia	que	bastava	olhar	cinco	segundos	
para	a	nuca	de	alguém	que	a	pessoa	entrava	em	alerta	e	olhava	para	trás.	Isso	provavelmente	não	funcionava	
tão	bem	com	craqueiros!	Ainda	assim,	depois	de	um	tempo,	Coqueiro	reparou	em	Amanda.
ASSISTÊNCIA	SOCIAL
Nem	passou	pela	cabeça	dele	que	aquela	morena	era	uma	de	suas	vítimas,	até	porque	ela	parecia	interessada	nele.	
Interessada	a	ponto	de	não	tirar	o	olho,	sorrir	e	morder	os	lábios.	Impaciente,	Amanda	abaixou	o	decote	e	mostrou	
um	peito	para	Coqueiro.	O	homem	se	animou.	Foi	seco	para	o	táxi.	Amanda	abriu	a	porta	traseira,	Coqueiro	entrou,	
a	taxista	arrancou	com	o	carro.	Por	cinco	segundos	Coqueiro	soube	o	que	era	felicidade;	a	mão	cheia	naquele	peitão...	
Depois	veio	o	spray	de	pimenta,	ardendo	forte	no	olho.	Não	enxergou	nada.	Mas	entendeu	que	o	carro	parou.	
A	taxista	desferiu	o	primeiro	golpe	com	a	chave	de	roda	na	cabeça	de	Coqueiro.	De	leve,	que	ela	não	queria	sangue	no	carro.	
Amanda	arrancou	a	mochila	de	Coqueiro	e	se	certificou	dos	quatro	celulares	ali	dentro,	um	deles	o	seu,	novinho!	
Novas	doses	de	spray	de	pimenta	e	Coqueiro	mal	pode	resistir	quando	Amanda	abriu	a	porta	e	usou	as	pernas	para	empurrar	
o	sujeito	para	fora	do	carro.	Coqueiro	ali,	caído	na	sarjeta,	desnorteado;	Amanda	levantou	a	chave	de	roda	e	perguntou	
para	amiga	taxista:	“Posso	dar	mais	uma?” A	motorista	consentiu	apenas	balançando	a	cabeça.	
Amanda	desceu	a	chave	de	roda	bem	na	boca	de	Coqueiro,	dois	dentes	saltaram	para	o	asfalto	e	o	homem	urrou	de	dor,	
levando	a	mão	à	boca	ensanguentada	na	tentativa	de	segurar	a	mandíbula	deslocada.	Amanda	caprichou.	Pegou	de	jeito!
***
O	entregador	de	pizza	Miguel	sofre	para	manter	o	cronograma	em	seu	trajeto,	pois	o	atraso	é	penalizado	não	só	pela	insatisfação	
do	cliente	que	dificilmente	concede	uma	gorjeta,	mas	pelo	próprio	patrão	que	diminui	o	ganho	do	funcionário.	Quando	chega	
a	um	cliente,	se	depara	com	o	problema:	o	condomínio	não	autoriza	a	entrada	de	entregadores	e,	sendo	assim,	o	ritmo	
do	atendimento	dos	clientes	por	parte	de	Miguel	passa	a	depender	da	disposição	e	da	velocidade	do	morador	que	parece	
ter	se	perdido	no	trajeto	entre	o	sexto	andar	e	o	térreo!	Ansioso,	Miguel	aproveita	a	saída	de	outro	morador	para	ultrapassar	
o	primeiro	portão	da	‘gaiola’	de	segurança	que	separa	a	rua	pública	do	ambiente	privado	e	protegido	do	condomínio.	
A	voz	no	interfone	o	adverte	que	aquilo	é	proibido.	Miguel	deve	retornar	à	rua.	Mas	Miguel	tem	pressa	e,	parece,	
o	dono	da	pizza	já	está	chegando.	Era	ele	mesmo,	mas	a	iniciativa	de	passar	para	o	interior	da	gaiola	sem	convite,	
deixa	o	morador	atemorizado.	Além	disso	a	pressa,	a	irritação	e	a	contrariedade	de	Miguel	não	são	bem	vistas	pelo	cliente	
que	chega	sonolento	à	portaria	e,	protegido	pelas	grades,	decide	ali	mesmo	fazer	valer	seus	direitos	de	consumidor	e	desiste	da	pizza.	
Miguel	se	revolta	e	tem	um	ataque	de	fúria	dentro	da	gaiola.	O	cliente	ensaia	uma	reação,	mas	termina	por	desistir	
do	confronto	e	volta	ao	seu	apartamento.	Miguel	fica	ali	enjaulado	por	vontade	própria,	resiste	ao	zelador	do	turno	da	noite,	
aos	moradores	que	tentam	entrar	e	até	mesmo	aos	PMs	que	chegam	para	apaziguar	a	situação.	Ele	só	desiste	da	entrega	
quando	um	colega	seu	chega	com	um	garupa	e	uma	nova	pizza,	quentinha	e	a	pedido	do	mesmo	cliente	que	perdera	o	sono	
e	resolvera	telefonar	novamente	para	a	pizzaria.	Miguel	está	demitido,	a	moto	não	é	sua	e	ficará	com	o	garupa	enviado	
para	resgatar	o	veículo!	Miguel	só	tem	dinheiro	para	o	ônibus	que,	infelizmente,	só	voltará	ao	serviço	dali	a	algumas	horas.	
A	madrugada	está	fria,	assim	como	a	pizza	fatal	que	Miguel	ainda	carrega	consigo.	
É	a	única	coisa	que	sobrou	para	ele	naquela	madrugada	...	
***
PIZZA	E	FÚRIA
Zé	Antonio está	tomando	seu	café	da	manhã	enquanto	divaga	sobre	seus	problemas	intestinais.
(Pensamentos	do	Zé)	– Tenho	que	marcar	um	gastro essa	semana.	Não	tá	dando	esses	gases.	Ta piorando.	Ontem	escapei	por	pouco.
Zé	lembra	na	noite	anterior	seu	encontro	com	uma	gata.	Os	dois	esperando	uma	mesa	para	jantar	num	restaurante	
chique,	sentados	num	banco	de	madeira	na	parte	externa	do	lugar.	Conversavam	sedutoramente	e	ele	com	uma	puta	
vontade	de	peidar.	Chegava	a	dar	cólica.	Foda	fazer	cara	de	sedutor	numa	situação	dessa,	mas	o	Zé	tinha	muito	auto-controle
dos	músculos	faciais,	e	dos	do	esfincter também.	Aproveitando	que	estavam	ao	ar	livre,	e	o	lugar	estava	bem	barulhento	
com	música	e	pessoas	falando,	Zé	decidiu	abrir	a	portinhola	dos	gases	venenosos.	Desta	vez	a	bomba	podia	que	ser	das	ruidosas.	
Zé	tinha	a	habilidade	de	controlar	a	intensidade	do	volume,	seu	cu	era	um	verdadeiro	potenciometro.	Presumindo	a	concorrência	
sonora	do	local,	deixou	as	pregas	num	nível	de	contração	seguro	e	soltou	a	bomba.	O	banco	de	madeira	vibrou	como	uma	harpa	
e	imediatamente	a	gata	pegou	o	celular,	pedindo	licença	para	atender.
(Gata)- Ué!	Achei	que	era	meu	celular	vibrando.
Zé	tinha	um	puta	controle	dos	músculos	faciais	e	manteve-se	impassível.
Em	uma	outra	ocasião,	com	uma	outra	gata,	na	frente	de	um	barzinho	com	mesas	na	calçada	esperava	em	pé	por	uma	mesa.	
Puto	da	vida	e	com	dor	no	ciático,	estava	bem	ao	lado	de	um	casal	que	já	tinha	pago	a	conta,	
e	enrolava	num	papo	pentelho	sobre	um	filme	do	Lars	Von	Tries.
FLATULÊNCIA	ASSASSINA
Fim
Como	Zé	odiava	Lars	Von	Triers,	decidiu	apontar	o	rabo	na	direção	do	casal	cult	e	soltar	uma	flecha	silenciosa.	
Não	deu	dez	segundos	pros	pombinhos	baterem	asas.	Bom,	voltando	ao	café	da	manhã,	Zé	peidou.	Estava	com	muitos	
gases	essa	manhã.	Tinha	que	soltar,	senão	vinha	logo	uma	cólica.	Vestiu	o	terno,	pegou	seu	laptop	e	partiu	pro	trabalho.	
Entrou	no	elevador	e	deu	de	cara	com	aquela	loura	linda	do	décimo	quinto	andar.	Que	mulherão.	
E	que	vontade	de	soltar	outro	peido.	Zé	tem	que	marcar	um	gastro “ontem”.
(Pensamentos	do	Zé)- Que	gostosa	essa	vizinha!
(Zé)- Bom	dia,	tudo	bem?
(Loura)	– Bom	dia.
(Zé)- Cortou	o	cabelo?
(Loura)	– Ahh..cortei.
(Zé)- Ficou	muito	bonito
(Loura)- Gostou?	Que	bom	..Obrigada..não sei	se	gostei..
(Pensamentos	Zé)- Gostei	é	do	seu	peitão	pulando	do	decote.	Ai	que	vontade	de	peidar.
(Zé)	– Te	juro..tá bonito	mesmo
E	o	elevador	pára entre	os	andares,	com	uma	breve	piscada	das	luzes	do	teto.
(Loura)- Ahh não!	Só	faltava	essa!	To super atrasada!
(Zé)- Nem	me	fala.	Putz!
Fim
Só	pelo	nervoso	a	cólica	já	deu	sinal	de	vida.	E	para	piorar,	as	desgraçadas	das	glândulas	sudoríparas	começaram	a	funcionar	
a	todo	vapor.	Zé	tentou	aparentar	calma,	mas	se	entregou	ao	apertar	compulsivamente	o	botão	de	emergência.
(Loura)- Voce tem	claustrofobia?	Eu	tenho	um	pouco…
(Zé)- Não,	é	que	estou	atrasado.	Elevador!!!!	(gritando	contra	a	janelinha	da	porta	e	dando	bandeira	do	nervosismo)
(Loura)	– Espera,	tem	o	interfone	aqui	(abrindo	uma	portinha	abaixo	dos	botões	dos	andares)
(Zé)- É	mesmo,	esqueci,	desculpa	o	grito.
(Loura)	– Tudo	bem...Alo?	Seu	Gil?	Estamos	presos	aqui	no	elevador.	Dá	pra	vir	soltar	a	gente?	Ahhh..entendi…fazer	o	que	né?	
Mas	tem	que	falar	pro	síndico	seu	Gil,	segunda	vez	esse	mes.	Tá	,	tchau.
(Zé)- E	ai,	tudo	bem?	Ele	tá	vindo?
(Loura)	– Ele	falou	que	vai	demorar	uns	dez	minutos	porque	precisou	resetar o	sistema,	e	mudaram	a	senha	que	só	o	zelador	
tem…		O	zelador	tá	fazendo	compras	e	tá	sem	o	celular.	Volta	mais	ou	menos	em	10	minutos.	Fazer	o	que?	vamos	esperar,	né?
(Pensamentos	Zé)	– Fazer	o	que?	Tudo	menos	peidar	aqui	dentro.	Meu	Deus	tem	um	time	de	hockey patinando	no	meu	
intestino.	Aperta	o	cú Zé.	Fecha	o	portão	da	masmorra.
(Loura)	– E	o	ventilador	parou,	pra	piorar.	Que	calor.	Parce que	não	tem	ar	aqui	dentro.	Ainda	bem	que	voce está	aqui,	sozinha	
fico	meio	apavorada.	Parece	um	caixão!	Credo.
(Zé)- Ser	enterrado	vivo	a	dois	realmente	é	mais	gostoso.
(Loura)- Não	achei	graça!
(Zé)	– Desculpe.
Dez	minutos	torturantes	depois,	Zé	está	sem	terno	e	com	a	pele	quase	verde,	escutando	a	Loira	que	não	para	de	falar	no	celular.	
O	elevador	finalmente	anda.
(Loura)- Graças	a	Deus!
(Zé)- Louvado	seja.
Ele	abre	educadamente	a	porta	pra	donzela	que	deixa	cair,	em	sua	passagem	triunfal,	uma	encharpe rosa	que	estava	
presa	na	alça	da	bolsa.	Zé	abaixa-se	para	pega-la	e	o	peido	escapa,	rasgando	o	silencio	do	hall	como	um	cantogregoriano numa	
capela.	Cabisbaixo	como	um	vassalo,	Zé	entrega	a	encharpe,	sem	deixar	de	notar	a	desgraçada	contendo	o	riso.
***
Luiz	e	Pedro,	a	diferença	de	idade	entre	os	irmãos	não	chegava	a	dois	anos.	Não	eram	apenas	irmãos,	eram	companheiros;	
partilhavam	ideias,	amigos,	uniformes	de	futebol,	convites	para	festas,	a	barraca	de	camping	que	levavam	
nos	fins	de	semana	na	Ilha	Bela...	Eram	inseparáveis!	Até	que	Luiz	conheceu	Gabriela...	Gabi	ele	não	pretendia	dividir	
e	tampouco	Pedro	tinha	qualquer	ideia	e	muito	menos	impulso	que	o	levasse	na	direção	da	namorada	do	irmão.	
O	namoro	evoluiu	para	um	quase	casamento,	já	que	Gabi	passava	boa	parte	da	semana	dormindo	na	casa	dos	irmãos.	
Quando	ela	não	estava	lá	era	porque	Luiz	é	que	tinha	ido	para	a	casa	da	amada.	O	que	os	dois	não	tinham	como	prever	
e	muito	menos	saber	como	lidar	era	que	Gabi	‘atacasse’	o	caçula	Pedro!	Ela	não	enganou	Luiz	e	tampouco	pediu	segredo	à	Pedro.	
Ao	contrário,	a	garota	queria	os	dois!	Gabi	talvez	tenha	entendido	que	o	amor	e	a	amizade	entre	Luiz	e	Pedro	eram	totalmente	
justificados	e	benéficos.	Então	se	ela	tinha	um,	por	que	não	ter	os	dois?	Como	os	irmãos	se	arranjariam	nessa	inédita	situação?	
***
TRIÂNGULO	FAMILIAR
Ricardo,	41	anos	com		90	kg	de	músculos	e	10	de	pança,	está	puto	da	vida	sentado	na	sua	pickup Ranger,	entalado	
no	congestionamento.	Acabou	de	brigar	com	sua	mulher	no	celular,	e	vai	ter	que	buscar	o	filho	na	escola,	durante	o	mísero	
horário	de	almoço	que	tem	na	firma.	Provavelmente	não	vai	conseguir	almoçar,	porque	a	sua	mulher	está	uma	reunião	no	trabalho	
que	se	estendeu.	Sua	mulher	trabalha	mais	e	ganha	bem	mais	que	ele,	motivo	já	pra	deixa-lo	puto	todo	dia	ao	levantar-se.	
Ricardo	enfia	o	mãozão cheio	de	anéis	de	prata	na	buzina	da	Ranger,	porque	o	SUV	do	riquinho	à	sua	frente	demorou	5	segundos	
para	andar,	depois	que	o	transito	desafogou	um	pouco.
Cláudio,	43	anos	com	87	kg	de	músculos	e	zero	de	pança	está	puto	nas	calças	sentado	no	seu	SUV	novinho,	financiado	em	
prestações	
à	perder	de	vista.	Acabou	de	saber	que	seu	melhor,	e	praticamente	único	cliente,	realmente	trocara	de	fornecedor.	
Também	está	desconfiado	que	sua	mulher	vai	trocar	de	fornecedor.	E	o	gerente	do	banco	não	aceitou	uma	renegociação	
da	sua	dívida.	E	o	desgraçado	do	sertanejo	atrás	dele	não	pára de	aporrinhar	com	a	buzina.	
Ricardo	e	Cláudio	saem	sincronizadamente da	avenida,	pegam	à	direita	numa	rua	de	mão	única	com	duas	faixas	estreitas,	
com	carros	estacionados	nas	duas	margens.	Ricardo	impaciente	cola	na	bunda	de	Cláudio,	
querendo	impor	sua	velocidade	e	sofrendo	com	a	dificuldade	de	ultrapassar.
(Ricardo)- Vai	Playboy	molenga	do	cacete!	Anda	corno!
Cláudio	sente	a	pressão	pelo	retrovisor.	Os	vidros	“filmados”	de	ambos	os	carros	não	permitem	que	se	vejam	os	motoristas,	
fazendo	que	a	enorme	pickup vire	a	personalização	do	mal,	com	seus	grandes	olhos	e	bocarra	prestes	a	morder	seu	rabo.	
Cláudio	pensa	na	sua	mulher	dando	pra	outro	cara,	e	então	reduz	propositadamente	a	velocidade	para	irritar	mais	ainda	Ricardo.
VELOZES	E	FURIOSOS
(Cláudio	resmunga)	– Tá	com	pressa	vaqueiro?	Porque	não	saiu	ontem?
Vendo	que	a	pressão	não	faz	efeito,	Ricardo	desespera-se	por	ultrapassar,	piscando	o	farol	e	tocando	a	buzina.	No	cruzamento	
em	que	a	pista	ganha	um	breve	folego	de	espaço,	ele	acelera	e	passa	quase	raspando	por	Cláudio,	rosnando	o	motor	e	gritando	
a	buzina.	Cláudio	se	surpreende	com	a	manobra	e	começa	a	perseguir	o	cowboy	desvairado.	Esse	por	sua	vez	percebe	a	SUV	
colando	no	retrovisor,	prevendo	assim	um	desenlace	trágico.
(Ricardo)	– Agora	voce tá	com	pressa	desgraçado?	Vem	que	eu	to pronto	pra	te	encher	de	porrada.	
Ricardo	pensa	se	o	cara	pode	estar	armado.	Besteira.	Um	boyzinho	desses	não	anda	maquinado.	Mas	e	se	for	um	juiz?	Mas	dai	ele	
vai	dar	uma	“carteirada”	e	não	puxar	uma	arma.	E	se	for	um	desses	boladinhos lutadores	de	jiu-jítsu?	Ricardo	era	bom	de	briga,	mas	
não	sabia	nada	de	jiu-jítsu	e	tinha	medo	do	cara	agarrar	ele	antes	que	pudesse	dar	uma	porrada.	Era	só	o	que	faltava,	ter	um	braço	
quebrado	por	um	moleque	no	meio	da	rua.	E	o	seu	filho	esperando	na	escola?	Sua	mulher	ia	achar	ridículo	ele	brigar	na	rua,	ainda
mais	indo	buscar	o	filho	na	escola,	e	atrapalhando	sua	reunião.	Ia	ser	uma	zica do	caralho.	Pensou:	Porra	Ricardo,	porque	você	não	
se	controla?	Foda-se,	agora	vai	ter	que	encarar.	Não	ia	amarelar.
Virou	a	direita	pra	pegar	a	avenida,	e	a	SUV	veio	rasgando	na	sua	cola.	O	farol	fechou	e	ela	encostou	do	seu	lado.	
Ambos	vidros	elétricos	começaram	a	baixar,	e	o	batimento	cardíaco	de	Ricardo	a	aumentar.	Tirou	o	cinto	e	pôs	a	mão	na	maçaneta,	
se	a	porta	do	cara	começasse	a	abrir	ele	saia	antes,	para	não	ser	encurralado.
Os	dois	gigantes	se	encararam	imóveis,	numa	silenciosa	demonstração	de	força.
Então	Cláudio	falou:
(Cláudio)	– Seu..Seu…	Barbudo!
Ricardo	foi	pego	totalmente	de	surpresa	pelo	“xingamento”.	Aquela	frase	entrou	pelo	seu	ouvido	como	um	estranho	
bálsamo,	percorrendo	suas	veias	e	empurrando	pra	fora	a	adrenalina	venenosa.	Então	respondeu:
(Ricardo)	– Seu	careca!
O	farol	abriu,	os	dois	trocaram	um	sorriso	sincero	e	carregado	de	alívio.	Seguiram	em	frente	em	velocidade	de	cruzeiro.	
***
A	RISONHA
Lucia	era	uma	morena	bonita,	uma	falsa	magra	de	sorriso	fácil,	mas	o	que	realmente	chamava	atenção	na	garota	de	vinte	e	poucos	
anos	eram	os	olhos	verdes.	Estava	sempre	de	bem	com	a	vida,	apesar	da	vida	não	estar	tratando	tão	bem	dela.	Tinha	família,	tinha
amigos	e	tinha	sonhos,	todos	pobres	e	deixados,	pelo	menos	provisoriamente	para	trás,	lá	em	Cascavel,	interior	do	Paraná.	Estava
em	São	Paulo	por	um	motivo	bem	certeiro:	estudar	para	o	concurso	de	auditoria	fiscal	federal.	Não	demorou	e	Lucia	descobriu	que	
na	prática,	a	mesada	destinada	a	ela	pelos	pais	não	seria	suficiente.	Procurou	emprego,	mas	a	época	era	ingrata.	Sendo	linda, não	
demorou	para	que	uma	‘oportunidade’	chegasse	até	ela.	
O	sujeito	se	apresentou	como	sócio	numa	balada	que	estava	contratando	garotas.	O	salário	era	atraente	e	a	escala	de	trabalho	
permitiria	à	Lucia	continuar	seus	estudos.	Era	uma	chance	que	valia	o	empenho.	Lucia	não	era	ingênua	e	sabia	o	que	precisaria fazer	
para	garantir	aquele	posto	de	trabalho.	
Rogério	era	um	homem	sério,	mas	mesmo	assim,	brincava	com	Lucia	ao	dizer	que	não	acreditava	que	ela	tivesse	
paciência	com	um	quarentão.	Na	verdade,	Rogério	já	estava	mais	perto	dos	cinquenta	do	que	dos	quarenta.	Era	barrigudo,	enorme,	
sanguíneo,	peludo	e	boa	parte	dessa	cobertura	capilar	estava	branca.	Mas	Lucia	não	se	importava	com	esse	tipo	de	detalhe.	Em	
pouco	tempo	estaria	na	folha	de	pagamento	da	República,	com	estabilidade	garantida	e	os	benefícios	de	uma	aposentadoria	
especial.	Com	certeza	se	lembraria	daquela	aventura	apenas	como	uma	pedra	em	seu	caminho	de	sucesso...
Rogério	a	levou	para	jantar.	Sugeriu	que	fossem	cedo	para	depois	aproveitarem	a	noite	como	quisessem.	Como	ele	queria,	no	caso...	
Lucia	sabia	o	que	a	esperava.	Resolveu	entender	aquilo	como	uma	‘experiência	de	vida’,	mas	o	que	ela	não	imaginava	é	que	Rogério
tivesse	obsessão	por	limpeza.	Depois	do	jantar,	o	homem	a	levou	para	um	motel	sofisticado,	mas	lá	tirou	uma	mala	do	carro	com
lençol,	fronha,	edredon,	toalhas	e	uma	enorme	nécessaire	com	produtos	de	limpeza,	antissépticos,	lenços	úmidos	de	vários	
tamanhos,	preservativos,	óleos	e	alguns	brinquedinhos,	tudo	novo,	na	caixa!		Lucia	procurou	focar:	lembrou	que	lhe	disseram	que	
um	fiscal	da	receita	federal	normalmente	trabalha	uns	três	dias	por	semana...
A	situação	ficou	estranha	quando	Rogério	encheu	a	Jacuzzi com	água	fervendo:	
_	“É	pra	matar	as	bactérias”.
_	“Eu	li	que	nem	todas	as	bactérias	fazem	mal...”
_	“Você	sabe	como	escolher	as	boas?”	
Rogério	disse	isso	num	tom	algo	indignado,	como	se	estivesse	lidando	com	uma	completa	imbecil	ou	uma	louca	suicida	disposta	
a	entrar	na	água	com	bactérias	desconhecidas!	O	acidente	aconteceu	nesse	momento:	Rogério	tropeçou	e	caiu	de	bunda	na	água	
pelando;	ele	saltou	como	um	babuíno	louco,	por	sinal	com	o	traseiro	vermelho	e	escaldado.	Lucia	sabia	que	rir	naquela	hora	poderia	
representar	o	fim	de	sua	futura	carreira	na	Receita	Federal.	Pensou	nas	vantagens,	na	necessidade	de	dinheiro	para	financiar	seus	
estudos	e	não	teve	dúvidas.	Se	lançou	sobre	Rogério,	enfiando	um	beijo	suculento	em	sua	boca.	Aquilo	acalmou	o	homem,	mas	
ainda	assim,	a	queimadura,	mesmo	superficial,	abalou	o	desejo	do	homem.	Sem	graça,	Rogério	mal	disfarçava	seu	incomodo	e	usou
uma	toalha	de	banho	para	cobrir	seu	sexo.	Naquela	altura,	se	quisesse	poderia	ter	usado	um	lencinho	úmido,	daqueles	menorzinhos	
que	distribuem	em	aviões.	Lucia	sabia	que	se	quisesse	se	transformar	numa	boa	lembrança	na	mente	de	Rogério,	precisava	reverter	
aquele	baixo	astral.	Imaginou	que	o	melhor	seria	levar	o	sujeito	na	conversa,	fazer	ele	relaxar...
A	morena	sorriu	e	se	revelou	a	melhor	companheira:	colocou	uma	musiquinha,	ensaiou	uns	passos	de	dança	e,	enquanto	
se	esmerava	em	movimentos	sensuais,	cuidava	de	esticar	o	lençol	limpo	trazido	por	Rogério.	Fazia	isso	de	forma	perfeccionista,	
o	que	percebeu	deixava	o	homem	feliz	e	satisfeito.		Mas,	poxa	vida,	queimar	o	saco	em	água	fervendo	não	é	algo	que	a	gente	possa	
simplesmente	tirar	da	cabeça	e,	sendo	assim,	todo	o	esforço	de	Lucia	não	estava	fazendo	muito	efeito.	Ela	resolveu	apagar	a	luz.
Melhor	do	que	isso,	descobriu	que	o	quarto	tinha	lâmpadas	de	‘luz	negra’	e	experimentou.	
O	resultado	não	poderia	ter	sido	pior:	os	olhos,	os	dentes	e	todos	os	pelos	brancos	de	Rogério	reagiram	à	luz	negra	e	brilharam,	
transformando	o	sujeito	num	ridículo	urso	iridescente!	Lucia	não	aguentou.	Caiu	na	risada!	Começou	a	gargalhar	a	ponto	de	não
conseguir	parar.	O	constrangido	Rogério,		mesmo	com	a	dor	da	queimadura,	vestiu	a	calça,	a	camisa,	pegou	suas	coisas	e	abandonou
Lucia	no	quarto.		Esperando	seu	taxi	em	frente	ao	motel,	a	morena	ainda	ria	só	de	lembrar.	Afinal,	a	noite	não	tinha	sido	tão ruim	
quanto	poderia	ter	sido.
***
PERIGOSA	HOMENAGEM
Estou	há	algum	tempo	experimentando	um	amor	gostoso.	A	paixão	ainda	arde,	mas	também	é	acompanhada	daquela	sensação	
agradável	e	acolhedora	de	quem	senta	próximo	da	fogueira.	Eliane,	minha	companheira,	namorada,	mulher	- pouco	importa	que	
nome	prefiram	usar	– é	realmente	alguém	que	tenho	prazer	em	manter	ao	meu	lado.	A	recíproca	é	verdadeira,	pelo	menos	eu	
espero	que	seja.	Compartilhamos	tudo:	ideias,	sentimentos,	opiniões	e	decisões	estratégicas	e,	como	não	poderia	deixar	de	ser,	
dividimos	alegrias	e	dores.	Nesse	último	departamento,	fomos	recentemente	dominados	por	uma	tristeza	cortante:	uma	grande	
amiga	de	minha	garota	– ela	gosta	que	eu	a	chame	de	‘minha	garota’!	– sofreu	durante	meses	por	conta	de	um	câncer	fulminante.	
Passamos	um	bom	tempo	lidando	com	a	ingênua	expectativa	de	que	a	história	terminasse	bem	e	entrasse	para	o	rol	de	conquistas	
da	medicina,	milagres	divinos	ou	ambos.	Por	conta	disso,	havíamos	comprado	antecipadamente	ingressos	para	o	show	de	Ana	
Carolina,	a	cantora	preferida	da	amiga	de	Eliane.	Acreditávamos	que	ao	menos	poderíamos	estar	os	três	juntos	nesse	evento,	talvez	
fazendo	das	canções	a	trilha	sonora	da	retomada	da	vida	por	parte	da	doente.	Não	aconteceu...
A	amiga	de	Eliane	não	esperou	por	Ana	Carolina.	Partiu	dez	dias	antes	da	turnê	chegar	à	São	Paulo,	mas	decidimos	os	
dois	que	iríamos	ao	show.	Seria	uma	forma	de	homenagear	a	amiga	e	Eliane	poderia	assim	experimentar	momentos	próximos	à	
falecida.	Foi	um	erro.	Quando	chegamos	ao	show	sentamos	na	nossa	mesa	programada	anteriormente	para	três.	Eliane,	como	
sempre,	procurou	enxergar	o	lado	positivo	das	coisas.	Falou	da	amiga,	da	maneira	como	ela	enfrentou	a	vida	e	a	doença...	Para
quem	observasse	o	casal,	e	especialmente	minha	atitude	calada	e	condescendente	diante	das	lembranças	sinceras	e	doloridas,	era	
fácil	imaginar	que	a	falante	Eliane	estivesse	magoada.
E	com	quem	ela	estaria	magoada?	Claro	que	com	seu	companheiro!	O	problema	é	que	à	nossa	volta	a	maioria	dos	pagantes	eram	
mulheres;	dessas	boa	parte	era	homossexuais	assumidas	e	bem	resolvidas	e,	praticamente	todas	mulheres	‘empoderadas’,	para	as	
quais	era	impensável	aceitar	aquela	fragilidade	de	Eliane!	Ana	Carolina	começou	a	cantar	e,	nesse	ponto,	realmente	a	situação ficou	
muito	difícil	para	mim.	É	que	Eliane	não	suportou	as	lembranças	da	amiga	ausente	e	começou	a	chorar!	Todos	os	olhos,	inclusive	os	
de	Ana	Carolina,	se	voltaram	para	nós!	Afinal,	quem	era	aquele	monstro	que	fazia	a	companheira	se	debulhar	em	lágrimas?!	
Imaginando	que	Eliane	conseguiria	se	recompor,	eu	relevei	e	procurei	me	concentrar	no	show!	Para	as	demais	eu	ignorava	a	dor	de	
Eliane!	Eu	podia	ouvir	os	sussurros	de	indignação	acompanhados	de	olhares	de	desprezo	e	ódio!	Resolvi	tomar	uma	atitude	e,	de
forma	cautelosa,	tentei	segurar	a	mão	de	Eliane	para	consola-la.	Arisca	e	envergonhada,	ela	retirou	a	mão	de	forma	abrupta!	
Pronto!	Eu	havia	tentado	avançado	o	sinal!	Todas	e	até	mesmo	os	homens	presentes	– provavelmente	em	solidariedade	a	suas	
respectivas	companheiras,	pois	eu	faria	o	mesmo	– me	incendiavam	com	as	sobrancelhas	franzidas;	seus	dentes	rangiam.	Eliane	
soluçava	descontrolada.	Eu	antecipava	o	momento	em	que	seria	linchado!	Comecei	a	desesperar...	Notei	quando	uma	das	mulheres	
levantou-se	e	dirigiu-se	a	um	dos	seguranças;	ela	conversava	com	o	sujeito	de	terno	olhando	para	nossa	mesa,	vomitando	na	orelha
do	rapaz	suas	apreensões	acerca	da	segurança	física	e	emocional	de	Eliane!	Tomei	a	equivocada	atitude	de	me	levantar	
repentinamente	e	me	dirigir	até	a	queixosa	e	o	segurança.	Os	dois	identificaram	aquilo	como	um	desejo	de	agredir!	A	mulher	fugiu
atônita.	O	segurança,	embaraçado	pela	ameaça,	se	colocou	no	meu	caminho,	imediatamente	tentando	me	render	e	segurar	meus	
braços.	Agi	por	instinto	e	fiz	prevalecer	minhas	habilidades	em	artes	marciais.	Eu	não	queria	brigar!	Claro	que	não!	Mas	eu	gritava	
para	avisar	o	segurança		que	aquilo	era	um	mal	entendido!
Naturalmente	outros	dois	seguranças	se	aproximaram	rapidamente	e	não	pude	evitar	que	me	levassem	ao	chão.	Lembro	de	ter	
pensado	que	seria	correto	da	parte	da	amiga	morta	de	Eliane	retornar	do	além	para	me	ajudar.	Ana	Carolina	parou	de	cantar	e	fez	
um	comentário	maldoso:	“Dizem	que	os	brutos	também	amam.	Mas	era	melhor	que	não.	Era	melhor	que	eles	ficassem	sozinhos!”	
Fui	arrastado	para	fora	da	sala;	no	caminho,	uma	mulher	despejou	sobre	mim	um	copo	de	vinho!	Eliane,	que	não	entendera	nada,	se	
assustou	e	partiu	em	meu	auxílio.	Lembro	de	ouvir	uma	das	mulheres	comentar:	“No	fim	ela	ainda	apoia	o	filho	da	puta.	Ela	devia	
frequentar	o	MADA”	Diante	da	ignorância	de	alguém	na	mesa	ela	ainda	explicou:	“Mulheres	que	Amam	Demais.”	Dadas	as	
explicações	decidimos	não	retornar	ao	show.	Apesar	do	fedor	do	vinho,	da	camisa	perdida	e	de	tudo	o	mais,	se	servir	de	consolo	à
alguém	além	de	mim,	ao	menos	no	trajeto	de	volta,	repentinamente	Eliane	começou	a	gargalhar...	A	amiga	dela	havia	se	despedido	
de	nós	de	forma	inesquecível!	
***
111	CREATIVELAB
renata@centoeonze.com.br
marcelo.presotto@gmail.com
+55	11	30315988
11993739845
***

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