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I Enconto Internacional TIC e Educação




                    Tecnologias da Informação e Comunicação:
                        A Lógica Instrumental do Acesso

                                                ROSILENE HORTA TAVARES
                                               Faculdade de Educação/UFMG
                                                 horta.rosilene@fae.ufmg.br



RESUMO: Este artigo analisa as políticas autodenominadas             evidenciar como objetivo principal a reflexão sobre a
de democratização das tecnologias da informação, também              importância de se analisar políticas (em sentido lato) em
escolares, que procuram ocultar a primazia das intenções de          curso que, com argumentos também de democratização,
acentuação de acumulação na sociedade atual. Sob uma                 parecem, entretanto, tentar ocultar a primazia das
metodologia dialética apontamos limites do acesso social às
                                                                     intenções de acentuação de acumulação de capital, já em
tecnologias, assim como reconhecemos possibilidades
emancipatórias. Esperamos com isso colaborar para novas              altíssimos patamares. Assim, tendo como base a crítica à
perspectivas de investigação da temática.                            lógica ou à racionalidade de tipo instrumental (Escola
                                                                     de Frankfurt1) – que está limitada pela eleição dos meios
Palavras-chave: Lógica Instrumental – Sociedade da                   adequados para alcançar os fins pretendidos – apresenta-
Informação – Tecnologias da Informação e Comunicação
                                                                     se, nos pontos seguintes, uma análise de como se
ABSTRACT: This paper examines the self-denominated                   processariam alguns dos eixos da orientação
policies of democratization of the information technologies,         hegemônica ou dominante de utilização das TIC na
also academic, which seek to occult the primal intentions of         pedagogia escolar.
accentuation of accumulation in the society today. We point
                                                                          Advém das formulações anteriores a importância e
some limits under a dialectic methodology to social access to
technologies, recognizing emancipatory possibilities. We             justificativa central para a elaboração deste artigo para o
expect to cooperate with new perspectives of thematic                I Encontro Internacional TIC e Educação (Lisboa, nov.,
investigation.                                                       2010).
Keywords: Instrumental logic – society of information –                   Uma abordagem em tal perspectiva parece ser
information and communication                                        importante para o entendimento e possíveis políticas e
                                                                     práticas em realidades de países pobres, como é o caso do
                            **                                       Brasil, assim como dos países da América Latina e
     Pode-se encontrar um – ou mais? – sentidos nas                  Caribe. Considerando que as alterações que se verificam a
práticas de integração e inovação curricular em curso nas            nível mundial na economia e na sociedade se manifestam
escolas? Consoante a orientação política, pode haver                 de diversas maneiras na realidade brasileira, definindo
intenções diferenciadas (ou quiçá antagônicas?) nas                  para este país um sentido diferenciado do que cobre nos
iniciativas de integração das tecnologias da informação e            países industrializados. A argumentação trazida neste
comunicação (TIC) à educação escolar. Uma destas                     trabalho pretende ter um grau de análise que possa refletir
orientações teria como fim a emancipação humana, um                  um debate social que, na realidade, ocorre em todo o
múltiplo desenvolvimento das possibilidades humanas e                mundo. Buscar desvelar alguns dos limites reais das
a criação de uma nova forma de associação digna da                   políticas de acesso às novas tecnologias se constitui,
condição humana; no interior de tal sociedade cada                   assim, em uma necessidade da praxis social Esta,
indivíduo teria necessariamente os meios de cultivar seus            entendida como síntese das relações entre a realidade e as
dotes e possibilidades em todos os sentidos. Talvez seja
este ideário um dos critérios que pautam o conceito de
democratização da ampliação qualitativa das formas de                1
utilização das TIC. Entretanto, esta orientação, apesar de             A Escola de Frankfurt foi criada na Alemanha em 1923,
                                                                     composta por um grupo de intelectuais com inspiração
que talvez possua uma adesão considerável de                         marxista, que formularam uma teoria social específica, como
educadores é a que define os rumos educacionais? Com                 crítica à sociedade industrial. Teve como principais
base nessa indagação, optou-se, neste trabalho, por                  representantes Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert
                                                                     Marcuse e Jürgen Habermas.

                                                                97
I Enconto Internacional TIC e Educação


ideias, em um embate pela transformação social, com                razão mistificada que se realiza como razão
vistas à emancipação humana (MARX, 1977).                          instrumental, pela qual a natureza, o útil-grátis, é
                                                                   espoliado pela máquina e pelo trabalho. Mistificada
Pressupostos de Análise e Metodologia
                                                                   porque é o lado abstrato da regularidade, da disciplina do
    As tecnologias da informação e comunicação se                  trabalho legitimador dessa prática de pilhagem – prática do
configuram como força produtiva essencial, ou seja, as             trabalho para o capital, da exploração dos homens para o
TIC são hoje elementos que atuam na sociedade                      capital.” (MATOS, 1989, 130).
exercendo signficativa influência para modificar ou
                                                                        Nesse papel de meio da razão instrumental as TIC
transformar a natureza, bem como produzir bens
                                                                   conseguiram sintetizar como nunca, por suas múltiplas
materiais. De fato, as TIC se investem de especial
                                                                   funções, a máxima economia de tempo com o máximo
estatuto sob o chamado sistema Toyota, modo de
                                                                   de produtividade. Supõe-se que, na educação, as
organização da produção capitalista originário do Japão,
                                                                   expressões hoje mais evidentes dessa síntese são aquelas
e que adquiriu projeção global, tendo sito criado na
                                                                   modalidades de Educação a Distância pautadas pela
fábrica da Toyota após a Segunda Guerra Mundial,
                                                                   lógica da economia de escalas; que organiza o processo
elaborado pelo engenheiro Taiichi Ohno. O importante a
                                                                   produtivo de maneira que se alcance a máxima
ressaltar para os fins deste artigo é que, no toyotismo, há
                                                                   utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo,
um abandono de um sistema em que se explorava
                                                                   procurando como resultado baixos custos de produção e o
predominantemente o trabalho manual para outro em
                                                                   incremento de bens e serviços. As TIC são, nesse sentido,
que se explora cada vez mais a componente intelectual
                                                                   um fator produtivo fundamental. E, à medida que são
do trabalho, correspondendo então, conforme Marx
                                                                   cada vez mais integradas também aos sistemas presenciais
(1989), a um aumento de mais-valia relativa;
                                                                   de educação, possivelmente, com isto, estão promovendo
mecanismo que propicia um trabalho a mais produzido,
                                                                   uma metamorfose no lugar social da escola.
mas não pago ao trabalhador (de que se origina o
capital). A mais-valia relativa é extraída do trabalhador               Para tanto, em outro nível de políticas, os
através da intensificação dos processos de trabalho, com           Organismos Internacionais e o Estado cumprem seu
a introdução de novas formas de produção, mais ágeis.              papel nesse contexto, elegendo a educação como meio
Isso se faz incrementando a tecnologia e aumentando a              de promover certa inclusão e justiça social, buscando
capacidade mental do trabalhador.                                  adequar os indivíduos ao mercado de trabalho, de acordo
                                                                   com a lógica atual do sistema em sua fase de “Sociedade
    Decorre das alterações nas formas de produção, sob
                                                                   da Informação ou do Conhecimento”.
o toyotismo, a configuração das atuais relações de
produção, que estão condicionando uma reengenharia                      Mas, a democracia posta em prática nessa sociedade,
geopolítica mundial, na qual se reformulam os papéis               no entanto, traz em seu bojo contradições explícitas em
dos Estados com relação aos das empresas                           uma ideologia difundida por tais políticas para a
transnacionais, estas possuindo de fato a supremacia. Ao           educação. Ideologia esta divulgada como meio de
mesmo tempo, há uma nova engenharia social, com as                 democratização; e que representaria igualdade, mas que
mudanças nas formas de organização e gestão do trabalho            reflete desigualdades em sua efetivação e resultados.
muito integradas à renovação dos meios de alienação                Nesse sentido, Borón (2000, p.68), ao analisar a
ideológica. (ANDREFF, 2000; BERNANRDO, 1998;                       democracia existente no capitalismo, afirma que ela é
KLEIN, 2002).                                                      operacionalizada como método e não como fim; não
                                                                   tendo demasiado sentido falar da democracia em sua
    Esses são os elementos de base das análises em
                                                                   abstração, quando na realidade do que se trata é de
investigações que se tem vindo a desenvolver – sob uma
                                                                   examinar a forma, as condições e os limites da
metodologia dialética (Marx), que parte das
                                                                   democratização em sociedades como a capitalista, que se
determinações abstratas que levam à reprodução do
                                                                   fundam em princípios constitutivos que lhes são
concreto no pensamento; e sob uma visão crítica (Escola
                                                                   irreconciliavelmente antagônicos.
de Frankfurt). Tais investigações têm como preocupação
central inquirir sob quais variantes as novas TIC se                    A despeito de nossos compromissos críticos,
constituem hoje tanto como um instrumento                          queremos destacar aqui a hipótese de que parece estar
fundamental de acumulação de capital, quanto com suas              em curso uma junção das políticas de cidadania ou da
funções maximizadas em seu viés de racionalidade                   democracia enquanto método, com as políticas de
instrumental. Ou seja, uma Razão que significa o “[...]            integração das TIC na escola.
triunfo da máquina, do trabalho, da natureza útil e grátis,


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I Enconto Internacional TIC e Educação


    Isso ocorre em um momento em que se assiste a uma            desmistificação do “poder milagroso” das tecnologias
intensificação das exigências de um novo perfil de               informacionais, Mattelart (2001, p.09) diz que “não se
trabalhador em suas características cognitivas, de               deve esquecer a obra de longo prazo. É testemunha disto
comportamento e plásticas, procedentes das inovações             o aparecimento precoce da utopia de uma língua
derivadas da dinâmica gestora, da microeletrônica, da            universal, muito antes que a língua da informática
automação e da robótica, como analisa Santos (2001,              cristalizasse este projeto. E, com a esperança da
p.02). Agora, o trabalhador deve exercer várias funções          possibilidade de estabelecer os princípios classificatórios
ao mesmo tempo; e também saber operar vários tipos de            de uma linguagem mundial, se reaviva o graal da
máquinas ou instrumentos, simultaneamente.                       “Biblioteca de Babel”, tão vasta como o universo,
    Nesse contexto, no tocante ao lugar da escola como           englobando todos os pensamentos humanos, abrigando
formadora de novos trabalhadores, a educação escolar se          todos os livros possíveis [...]”.
situaria como uma força produtiva, geral, para responder             Dantas (1993, p.19) analisa que a idéia de que a
aos desafios das empresas no processo de mundialização           tecnologia pudesse viabilizar uma apresentação cidadã
do capital. O investimento do setor empresarial e sua            autônoma, estendida ao espaço geopolítico da nação,
atuação, às vezes diretamente no interior da escola              seria recolocada na década de 1970 pelos franceses
pública, ante a amplitude que este movimento assume,             Simon Nora e Alain Minc (1978), que retomaram o
não têm precedentes, por exemplo, no Brasil, nas                 conceito grego de agora: assembléia popular, na qual os
décadas anteriores a 1990 (SILVA, 2001).                         cidadãos livres participavam diretamente na condução
    Mas, como essa realidade se relaciona com o fato de          democrática dos negócios de Estado.
ter ocorrido, nos últimos anos, uma criação ou produção              No entanto, no contexto histórico e político em que
– cujo sentido se verá adiante – da ideologia da chamada         Simon Nora e Alain Minc elaboraram estas idéias, a
“sociedade da informação”? Tendo como objetivo                   utopia da universalização do acesso de massas às
analisar quais são as implicações de tal ideologia para a        tecnologias da informação se desvanece de novo.
educação escolar, se passa, a seguir, ao desenvolvimento         Mattelart (2002, p.107-116) analisa o caráter prático que
da formação do conceito sobre a identidade da sociedade          cumpre o “Informe Nora-Minc” (ainda que não haja
contemporânea.                                                   sido esta a intenção de seus autores): o panorama
                                                                 internacional das estratégias de informatização dos
Sobre a Idéia de Sociedade da Informação
                                                                 grandes países industrializados. O ponto de partida da
    A idéia da sociedade da informação é hoje                    análise de Mattelart é o papel do Japão como modelo
dominante. Porém, tal noção, na realidade, segundo               político-administrativo que, desde o início da década de
analisa Mattelart (2001), foi construída ideologicamente         1970, havia instalado uma estratégia com o objetivo de
e pode ser revelada pela história. Como um “clichê”, o           responder ao desafio das novas tecnologias; e que, talvez
conceito de sociedade da informação encobre uma nova             por isto mesmo, haveria evitado a recessão econômica
ideologia, responsável pela definição de mudança e do            mundial a partir de 1979. A idéia de crise é exatamente a
“novo”, que tem um olhar voltado apenas para os                  que teria se “infiltrado” nos discursos das grandes
lugares em que há dispositivos técnicos. Instaura-se             economias mundiais sobre as estratégias de informatização.
assim um “sentido comum”, que legitima todas as
                                                                     O que pode levar a que se inferira que, nesse momento
eleições e recortes, que são, de fato, próprios de um
                                                                 histórico, as novas tecnologias são expressão ou resultam
regime particular de verdade, como se fossem os únicos
                                                                 das relações sociais que até então estavam estabelecidas.
possíveis e racionais. “Passe mágico, cujo segredo se
revela pela história: foi sob a da teoria dos fins,                  O Informe de Simon Nora e Alain Minc sobre a
começando com a do final da ideologia, a que foi                 informatização da sociedade, entregue ao presidente
incubada ao largo da Guerra Fria, a idéia da sociedade da        Giscard d'Estaing em janeiro de 1978, constitui “uma
informação aparece então como alternativa aos sistemas           rara exceção que confirma a regra da simples evolução
antagônicos.” (MATTELART, 2001, p.09).                           ritual” afirma Mattelart (2002, p.111). Esclarece que
                                                                 quando tal Informe iniciou seus trabalhos a ameaça de
    A noção de sociedade da informação se formaliza na
                                                                 penúria energética, no âmbito mundial, já revelava o
seqüência das “máquinas inteligentes” criadas ao largo
                                                                 espectro da crise. Neste contexto, Simon Nora e Alain
da Segunda Guerra Mundial, e entrou nas referências
                                                                 Minc “aprofundam a noção com o propósito de definir o
acadêmicas, políticas e econômicas a partir da década de
                                                                 estado dos lugares e de propor uma terapia,
1960. E, durante a década seguinte, já estaria
                                                                 reencontrando assim a doutrina sansimonista sobre a
“funcionando” plenamente. Convidando-nos à


                                                            99
I Enconto Internacional TIC e Educação


crise e o papel reorganizador atribuído à rede”, analisa                         direção, e não em outra. Orientam a formulação de
Mattelart (2002, p.113).2 Para Nora e Minc a                                     programas de ação e de investigação dos Estados e das
informatização crescente da sociedade estaria no coração                         instâncias supranacionais” (MATTELART, 2001, p.8).
da crise, e poderia agravá-la ou contribuir para sua                                 Apesar de que, por outro lado, a chamada “revolução
solução, já que revolucionaria o “sistema nervoso das                            digital” cumpre também a função de expansão na esfera
organizações e da sociedade por inteiro”, os cita                                da capacidade de comunicação humana em geral
Mattelart. A premissa de Nora e Minc era de que o novo                           (RAMONET, 2001; SILVEIRA, 2001). Porém, esta
modo global de regulação da sociedade que a                                      idéia ficará aqui somente como um enunciado, pois aqui
informatização ajudaria a instaurar seria capaz de combater                      o foco é a ponderação de que não é como meio de
a “perda de consenso social” e fazer que fosse reencontrada                      democratizar a sociedade que a informática tem sido
a adesão dos cidadãos às regras do jogo social.                                  priorizada. Vejamos um pouco, a seguir, de sua função
    A análise de Mattelart desmistifica assim a noção                            na economia e na esfera social.
hegemônica de “sociedade da informação”,
                                                                                 Articulação entre Economia e Sociedade
considerando que a telemática, como um “neologismo”
inventado naquele momento histórico para indicar a                                   A importância da revolução digital em termos
conexão entre as telecomunicações e a informática,                               econômicos é analisada por Beck (2001, p.73), quando
pressagiaria modos mais “brandos” de gestão de                                   argumenta que os movimentos da indústria da
consenso. E isto é o que teria aberto caminho à                                  comunicação, que em 1995 era de 1 bilhão de dólares,
“recriação de uma agora informacional”. Mattelart relata                         chegou a duplicar-se em cinco anos e a representar dez
então todo o processo desenvolvido a partir do Informe                           por cento da economia mundial. Porém, para chegar a
Nora-Minc na França que impulsiona uma doutrina                                  ser esta potência foi necessário que a telefonia e a
francesa em matéria de circulação dos fluxos. O que                              radiofonia cumprissem seu papel que, no princípio do
implicou que, em 1981, o governo socialista inaugurasse                          século XX, segundo Dantas (1993, p.34), já ultrapassam
uma estratégia industrial que confiara à investigação                            a esfera imediata dos negócios e
científica e ao progresso tecnológico os elementos                                  [...] penetram no espaço muito mais amplo da família e dos
motores para sair da crise.                                                         usos financeiros ou comerciais, exatamente porque serviam à
                                                                                    articulação ampla da produção social geral [...]. Através dos
    Assim, Mattelart (2001, p.07-08), analisa como                                  cabos telefônicos, se configura a forma mais primitiva de
simples “clichê” a narrativa da conquista da                                        mercado-rede: as unidades familiares, enquanto
ciberfronteira, representada pela formulação “sociedade                             “consumidoras”, passam a inter atuar, por um meio técnico
global da informação”, de onde se anunciam das mais                                 específico, com provedores e distribuidores de bens e
diversificadas maneiras, uma nova sociedade, “mais                                  serviços; além disto, articulam e acionam um amplo
solidária, mais aberta e mais democrática”. A noção de                              conjunto de atos sociais, geralmente de natureza contratual –
“futuro tecnoinformacional”, de tal maneira, se teria instalado                     como atividades de tempo livre, entretenimento e
sem polêmicas e distanciada dos debates cidadãos. Na                                convivência familiar ou comunitária – que agenciam novos
                                                                                    estímulos à produção e ao consumo de materiais simbólicos.
realidade, a referência de “sociedade global da informação”
seria o resultado de uma construção geopolítica.                                     Com isso, se pode compreender melhor como a
                                                                                 tecnologia atual “eliminou as distância geográficas e
    A efervescência da expansão ininterrupta das
                                                                                 sociais”, com a ajuda de aviões supersônicos,
inovações técnicas, entretanto, contribui com que se
                                                                                 computadores, satélites e todas as outras inovações que
“esquecesse” este fato. Assim, “a nova ideologia que não
                                                                                 permitem hoje, mais que nunca, que pessoas, idéias e
diz o próprio nome se naturalizou e foi levada à
                                                                                 produtos atravessem, tão rapidamente, como nunca,
categoria do paradigma dominante de mudança. As
                                                                                 tempo e espaço. Observe-se aqui a importância da
crenças que acompanham a noção de sociedade da
                                                                                 economia de tempo (valor de base do mecanismo da
informação mobilizam forças simbólicas que tanto
                                                                                 mais-valia) propiciada pelo atual sistema técnico que
fazem atuar como permitem atuar em determinada
                                                                                 possui a característica de ser invasor porque é susceptível
                                                                                 de presença em todas as partes. Tudo se junta e articula,
2
  A doutrina de Saint-Simon e de seus discípulos, principalmente                 pois, mediante a “inteligência” da firma; caso contrário,
Enfantin e Bazard, preconiza o coletivismo, que garantiria a retribuição         não poderia haver empresas transnacionais.
"a cada um conforme suas capacidades, a cada capacidade conforme                     Mas, como pode haver, por um lado, fragmentação
suas obras". Tal doutrina critica a propriedade privada porque esta
                                                                                 técnica da produção e, por outro, uma “unidade política
conduziria a uma organização anárquica da produção e consagraria a
exploração do homem pelo homem.                                                  de comando”, no interior das empresas? A partir da


                                                                           100
I Enconto Internacional TIC e Educação


unicidade das técnicas, da qual o computador é uma                 ignorado a criatividade e a capacidade empresarial de
peça central, surge então a possibilidade de que exista            agenciar a produção “sob formas mutantes”. Outrossim,
uma acumulação do porte atual. Sem ela, seria também               que a esquerda clássica tampouco percebera as
impossível a atual “unicidade do tempo, o acontecer                dimensões produtivas gerais da indústria da informação,
local sendo percebido como um elo do acontecer                     que crescia lado a lado aos complexos tecnológicos
mundial. Sem a mais-valia globalizada e sem esta                   siderometalúrgicos tayloristas e fordistas. Como, por
unicidade de tempo, a unicidade da técnica não teria               exemplo, o papel que “o cinema e o rádio poderiam
eficácia”, analisa Milton Santos (2000, p.26-27).                  exercer, não somente ao gerar milhões de empregos
    A relação contemporânea entre acumulação,                      mais ou menos qualificados e fomentar toda uma
tecnologia e controle social pode ser entendida a partir           indústria de bens de capital tecnologicamente sofisticada,
do que Dantas (1996) denomina como lógica do capital               senão, sobretudo, como formadores de hábitos de
informação; que, não obstante, está [tal lógica] oculta            consumo necessários para a expansão de uma produção
especialmente pelo fato de que a maior parte das pessoas           capitalista crescentemente midiatizada; isto não chegou
“pouco ou nada sabem” do funcionamento das                         a frenquentar as investigações das correntes principais da
comunicações “como meio através do qual se gera,                   economia e da sociologia do século XX, ainda que
registra e distribui a informação, obtendo daqui valores           interessasse a um crescente conjunto acadêmico que
econômicos e sociais que acumulam ou se apropriam                  desenvolvia estudos em torno da cultura moderna e dos
diversos agentes.” (DANTAS, 1993, p.13-16). Desta                  meios de expressão. Estes estudos não conseguiram
maneira, a organização das comunicações, como hoje as              influenciar as propostas políticas de então,
concebemos, não foi obra do azar ou da realização de               particularmente as de cunho revolucionário, direta ou
alguns indivíduos genais, e sim de uma “construção                 indiretamente baseadas na crença de uma “revolução do
social” – recorde-se a criação da idéia de “sociedade da           proletariado” fabril –revolução que, a rigor, nunca
informação” – procedente das opções políticas adotadas             ocorreu. As questões culturais se remeteram à
através de alianças e conflitos entre grupos e classes, em         “superestrutura...”. (DANTAS, 1993, p.30).
diferentes fases da história contemporânea.                            Por outro lado, o computador, como “ícone” da nova
    O próprio conceito de Comunicações já aponta,                  revolução informacional, conectado à rede, estaria
segundo o autor, à necessidade de alerta por parte das             alterando a relação das pessoas com o tempo e com o
lideranças, quadros e militantes comprometidos com os              espaço; inclusive “ressuscitando” a escrita ante a
movimentos sociais, além de intelectuais que investigam            supremacia dos meios audiovisuais, principalmente ante
o tema, do que seriam os “arranjos” capitalistas dos               o império da comunicação televisiva, como destaca por
sistemas de informação, que nos parecem “naturais e                sua vez Silveira (2001, p.15). Desta forma, as redes
espontâneos.” Dantas (1993, p.15) define comunicações              informacionais permitem “ampliar a capacidade de
como “[...] palavra plural que contém, em seu                      pensar de modo inimaginável”, segundo analisa o autor.
significado, tanto o que se entende por                            Mas vejamos alguns limites mais deste fato.
„telecomunicação‟ como por „radiofusão‟, „informática‟,            Limites da “Ampliação da Mente”
„mídia‟, etc. Em comunicações cabe tudo que se refere
                                                                       A idéia de ampliação da capacidade de pensar é
ao registro, tratamento e difusão da informação social.”
                                                                   desenvolvida amplamente por Pierre Lévy, que destaca
    Neste sentido, chegamos neste trabalho a uma                   em sua obra como a revolução informacional ampliara a
formulação central: a informação é um fenômeno social e            inteligência humana. Isto porque a tecnologia da
histórico. Tal conclusão, segundo Dantas, não havia sido           informação permite aumentar o armazenamento, o
possível a Marx desenvolver, devido às próprias                    processamento e a análise de informações, realizar
limitações de seu tempo, já que este analisou a informação         milhares de relações entre milhares de dados por
como sendo [meramente] uma força produtiva.                        segundo. De modo que há uma “ampliação da mente”,
    Entretanto, Dantas (1993, p.24-29) mostra o processo           exatamente porque tal tecnologia se funda nas
histórico de como se deu a evolução do capital                     tecnologias da inteligência que, por sua vez, ampliam
financeiro como grande responsável do financiamento                exponencialmente as diferenças na capacidade de tratar
das investigações científicas e técnicas que                       informações e transformá-las em conhecimento. Porém,
impulsionaram definitivamente o desenvolvimento das                será a realidade desta tecnologia tão espetacular e
tecnologias da informação. O autor cita Cattani (1995,             possível, para todas as pessoas?
p.18) em sua constatação de que a Esquerda havia



                                                             101
I Enconto Internacional TIC e Educação


    Há quem diga que se faz necessário relativizar este             cada vez mais autônoma. “A partir deste momento
papel “transformador” da tecnologia da informação.                  começamos a incorporar aparatos em nossas vidas, sem
Todavia, não se pode fazer uma apologia da inteligência             refletir como eles intervêm nas mesmas.”
alienada. A quem cabe, ao final, o controle social da               (BUSTAMANTE, 1993, p.132).
inteligência? Este é um dos pontos centrais a se discutir.                                      ***
As novas tecnologias informacionais ampliam a                           Nesse quadro geral de análise, qual seria então a
inteligência, mas majoritariamente (e proporcionalmente             função da escola e da integração das TIC em sua
à dos setores populares), a dos extratos sociais                    pedagogia? A hipótese aqui é a de que o capitalismo vem
dominantes. Ainda que, inegavelmente, existam                       imprimindo hoje à escola, como um de seus papéis, o de
possibilidades de estender as potencialidades                       sua função social como formadora de hábitos de consumo
emancipadoras das tecnologias informacionais para os                necessários para a expansão de uma produção capitalista
setores populares, inclusive no “terreno” da resistência à          crescentemente midiatizada. Além, evidentemente, de a
lógica dominante.(KLEIN, 2002; TAVARES, 2005).                      escola prosseguir qualificando mais ou menos para os
    Prosseguindo no campo dos limites impostos à                    postos de trabalho. Em conjunto com a escola, somar-se-
maioria da sociedade para o acesso à tecnologia, há                 ia o papel desempenhado pela televisão, o cinema, o rádio
outros problemas, a seguir destacados.                              e a Internet, em suas funções de meios de marketing de
    Norretranders (1998), afirma que aprendemos a                   produtos e de ideais dominantes (Escola de Frankfurt).
descartar a informação e não a obtê-la. Ainda que se viva           Assistiríamos então a uma aliança de papéis formadores
em um mundo onde se crê que a informação é o que há                 – mídias e escola – a fomentar toda uma indústria de
de mais importante. Segundo o autor, é certo que a                  bens de capital tecnologicamente sofisticada.
quantidade de informação disponível é muito maior do                    Mas, a técnica e a tecnologia podem ser tanto meios
que se pode assimilar, tendo em mente a tarefa de                   do capital, como meios de emancipação. Por isto, pode-
discriminar a que seria relevante ou interessante. A                se afirmar que há também espaço para a construção de
sociedade da informação seria a “sociedade da entropia”             lógicas emancipadoras de criação e utilização das
– uma sociedade da ignorância e da desordem. De outra               tecnologias da informação e comunicação na educação
forma, Kosko (1999), diz que «a ironia da era digital é             escolar, como são já muitas as experiências práticas
que as coisas são mais vagas que nunca. [...] A era digital         existentes neste sentido.
possui seu próprio princípio de incerteza: as coisas se
fizeram mais vagas à medida que as partes se fizeram
mais precisas”, como seria o caso flagrante da Internet.            REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aqui a fragmentação é a essência da alienação. Mas esta,            ANDREFF, Wladimir. Multinacionais globais. Bauru:
não obstante, está camuflada pela justificativa do acesso              EdUSP, 2000.
ao todo, possibilitado de fato pela Internet. Contudo, tal
acesso é para todos ou só para aqueles que possuem a                BECK, Ulrich. Qué es la globalización? falacias del
capacidade intelectual e material de ser autônomos, de                 globalismo: respuestas a la globalización. Barcelona:
dirigir suas próprias escolhas também na Rede?                         Ediciones Paidós Ibérica, 2001.
    É mister considerar, apesar dos limites apontados,              BERNARDO, João. Estado, a silenciosa multiplicação do
que, antes de converter-se em um meio de controle, a                   poder. São Paulo: EDUSP, 1998.
tecnologia se origina “em relação com sua incorporação
                                                                    BORÓN, Atílio. A sociedade civil depois do dilúvio
antropológica, como fruto da inteligência, da inquietude
                                                                       neoliberal. In.: Pós-neoliberalismo: As políticas sociais
e da inventiva do homem”, segundo análise sobre a
                                                                       e o estado democrático. RJ: Paz e Terra, 2000.
origem da “metáfora computacional” de Bustamante
(1993, p.122-150). O autor pondera que “a partir de                 BUSTAMANTE, Javier. Sociedad informatizada,
certo grau de desenvolvimento, quando a tecnologia se                  ¿sociedad deshumanizada? : uma visión crítica de la
desdobra em toda sua eficácia como instrumento e como                  influencia de la tecnología sobre la sociedad en la era
espelho que devolve ao homem sua imagem distorcida                     del computador. Madrid: Gaia, 1993.
ainda que todavia com traços humanos, ditas qualidade
                                                                    DANTAS, Marcos. A lógica do capital informação. Rio de
começam a ter um menor peso específico no resultado
                                                                       Janeiro: Ed. 34, 1993.
final, e o desejo do homem começa a ter uma menor
incidência sobre a configuração tecnológica do mundo,



                                                              102
I Enconto Internacional TIC e Educação


KLEIN, Naomi. Sem Logo: a tirania das marcas em um               NORRETRANDERS, Tor. The User Illusion. New York:
    planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002.                  Penguin Books, 1998.
KOSKO, B. The Fuzzy future: from society and science to          RAMONET, Ignácio. Los medios y la globalización. Rádio
   heaven in a chip. New York: Harmony Books, 1999.                 Nederland. 2001.
                                                                    http://www.mw.nl/cgibin/home/homeInforma.pl.
LAMIKIZ, Álex ¿Qué es la cibercultura? In: ALONSO,
   Andoni, ARZOZ, Iñaki. La nueva ciudade de Dios.               SANTOS, Milton. Rio de Janeiro: Record, 2000.
   Madrid: Ediciones Siruela, 2001.
                                                                 SILVA, Maria Vieira. O ethos empresarial na educação
LÉVY, Pierre. Cibercultura: educação e cibercultura. São             escolar: novos dispositivos, novas subjetividades.
   Paulo: Ed. 34, 1999.                                              Caxambú: Reunião Anual da Anped, 23, 2001.
MARX, Karl. Teses contra Feuerbach. In: Marx e                   SILVEIRA, Sérgio Amadeu. Exclusão Digital: a miséria na
   Engels. Textos, v.1. São Paulo: Edições                           era da informação. São Paulo: Fundação Perseu
   Sociais, 1977.                                                    Abramo, 2001.
__________. MARX, Karl. Processo de trabalho e                   TAVARES, Rosilene Horta. Trabajo, Tecnología de la
     processo de valorização. In: O Capital. São                    Información y Política de las Transnacionales como
     Paulo: Bertrand, 1989.                                         Factores de Análisis de la Desigualdad Digital en
                                                                    Brasil. 626f. 2004. Tese (Doutorado) – Faculdade de
MATTELART, Armand. História da sociedade da
                                                                    Filosofia, Universidade Complutense de Madri, Madri,
   informação. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
                                                                    Espanha, 2005.
MATOS, Olgária C.F. Os arcanos do inteiramente outro: A
   escola de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São
   Paulo: Brasiliense, 1989.




                                                           103
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Tecnologias da Informação: A Lógica Instrumental do Acesso

  • 1. I Enconto Internacional TIC e Educação Tecnologias da Informação e Comunicação: A Lógica Instrumental do Acesso ROSILENE HORTA TAVARES Faculdade de Educação/UFMG horta.rosilene@fae.ufmg.br RESUMO: Este artigo analisa as políticas autodenominadas evidenciar como objetivo principal a reflexão sobre a de democratização das tecnologias da informação, também importância de se analisar políticas (em sentido lato) em escolares, que procuram ocultar a primazia das intenções de curso que, com argumentos também de democratização, acentuação de acumulação na sociedade atual. Sob uma parecem, entretanto, tentar ocultar a primazia das metodologia dialética apontamos limites do acesso social às intenções de acentuação de acumulação de capital, já em tecnologias, assim como reconhecemos possibilidades emancipatórias. Esperamos com isso colaborar para novas altíssimos patamares. Assim, tendo como base a crítica à perspectivas de investigação da temática. lógica ou à racionalidade de tipo instrumental (Escola de Frankfurt1) – que está limitada pela eleição dos meios Palavras-chave: Lógica Instrumental – Sociedade da adequados para alcançar os fins pretendidos – apresenta- Informação – Tecnologias da Informação e Comunicação se, nos pontos seguintes, uma análise de como se ABSTRACT: This paper examines the self-denominated processariam alguns dos eixos da orientação policies of democratization of the information technologies, hegemônica ou dominante de utilização das TIC na also academic, which seek to occult the primal intentions of pedagogia escolar. accentuation of accumulation in the society today. We point Advém das formulações anteriores a importância e some limits under a dialectic methodology to social access to technologies, recognizing emancipatory possibilities. We justificativa central para a elaboração deste artigo para o expect to cooperate with new perspectives of thematic I Encontro Internacional TIC e Educação (Lisboa, nov., investigation. 2010). Keywords: Instrumental logic – society of information – Uma abordagem em tal perspectiva parece ser information and communication importante para o entendimento e possíveis políticas e práticas em realidades de países pobres, como é o caso do ** Brasil, assim como dos países da América Latina e Pode-se encontrar um – ou mais? – sentidos nas Caribe. Considerando que as alterações que se verificam a práticas de integração e inovação curricular em curso nas nível mundial na economia e na sociedade se manifestam escolas? Consoante a orientação política, pode haver de diversas maneiras na realidade brasileira, definindo intenções diferenciadas (ou quiçá antagônicas?) nas para este país um sentido diferenciado do que cobre nos iniciativas de integração das tecnologias da informação e países industrializados. A argumentação trazida neste comunicação (TIC) à educação escolar. Uma destas trabalho pretende ter um grau de análise que possa refletir orientações teria como fim a emancipação humana, um um debate social que, na realidade, ocorre em todo o múltiplo desenvolvimento das possibilidades humanas e mundo. Buscar desvelar alguns dos limites reais das a criação de uma nova forma de associação digna da políticas de acesso às novas tecnologias se constitui, condição humana; no interior de tal sociedade cada assim, em uma necessidade da praxis social Esta, indivíduo teria necessariamente os meios de cultivar seus entendida como síntese das relações entre a realidade e as dotes e possibilidades em todos os sentidos. Talvez seja este ideário um dos critérios que pautam o conceito de democratização da ampliação qualitativa das formas de 1 utilização das TIC. Entretanto, esta orientação, apesar de A Escola de Frankfurt foi criada na Alemanha em 1923, composta por um grupo de intelectuais com inspiração que talvez possua uma adesão considerável de marxista, que formularam uma teoria social específica, como educadores é a que define os rumos educacionais? Com crítica à sociedade industrial. Teve como principais base nessa indagação, optou-se, neste trabalho, por representantes Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Jürgen Habermas. 97
  • 2. I Enconto Internacional TIC e Educação ideias, em um embate pela transformação social, com razão mistificada que se realiza como razão vistas à emancipação humana (MARX, 1977). instrumental, pela qual a natureza, o útil-grátis, é espoliado pela máquina e pelo trabalho. Mistificada Pressupostos de Análise e Metodologia porque é o lado abstrato da regularidade, da disciplina do As tecnologias da informação e comunicação se trabalho legitimador dessa prática de pilhagem – prática do configuram como força produtiva essencial, ou seja, as trabalho para o capital, da exploração dos homens para o TIC são hoje elementos que atuam na sociedade capital.” (MATOS, 1989, 130). exercendo signficativa influência para modificar ou Nesse papel de meio da razão instrumental as TIC transformar a natureza, bem como produzir bens conseguiram sintetizar como nunca, por suas múltiplas materiais. De fato, as TIC se investem de especial funções, a máxima economia de tempo com o máximo estatuto sob o chamado sistema Toyota, modo de de produtividade. Supõe-se que, na educação, as organização da produção capitalista originário do Japão, expressões hoje mais evidentes dessa síntese são aquelas e que adquiriu projeção global, tendo sito criado na modalidades de Educação a Distância pautadas pela fábrica da Toyota após a Segunda Guerra Mundial, lógica da economia de escalas; que organiza o processo elaborado pelo engenheiro Taiichi Ohno. O importante a produtivo de maneira que se alcance a máxima ressaltar para os fins deste artigo é que, no toyotismo, há utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo, um abandono de um sistema em que se explorava procurando como resultado baixos custos de produção e o predominantemente o trabalho manual para outro em incremento de bens e serviços. As TIC são, nesse sentido, que se explora cada vez mais a componente intelectual um fator produtivo fundamental. E, à medida que são do trabalho, correspondendo então, conforme Marx cada vez mais integradas também aos sistemas presenciais (1989), a um aumento de mais-valia relativa; de educação, possivelmente, com isto, estão promovendo mecanismo que propicia um trabalho a mais produzido, uma metamorfose no lugar social da escola. mas não pago ao trabalhador (de que se origina o capital). A mais-valia relativa é extraída do trabalhador Para tanto, em outro nível de políticas, os através da intensificação dos processos de trabalho, com Organismos Internacionais e o Estado cumprem seu a introdução de novas formas de produção, mais ágeis. papel nesse contexto, elegendo a educação como meio Isso se faz incrementando a tecnologia e aumentando a de promover certa inclusão e justiça social, buscando capacidade mental do trabalhador. adequar os indivíduos ao mercado de trabalho, de acordo com a lógica atual do sistema em sua fase de “Sociedade Decorre das alterações nas formas de produção, sob da Informação ou do Conhecimento”. o toyotismo, a configuração das atuais relações de produção, que estão condicionando uma reengenharia Mas, a democracia posta em prática nessa sociedade, geopolítica mundial, na qual se reformulam os papéis no entanto, traz em seu bojo contradições explícitas em dos Estados com relação aos das empresas uma ideologia difundida por tais políticas para a transnacionais, estas possuindo de fato a supremacia. Ao educação. Ideologia esta divulgada como meio de mesmo tempo, há uma nova engenharia social, com as democratização; e que representaria igualdade, mas que mudanças nas formas de organização e gestão do trabalho reflete desigualdades em sua efetivação e resultados. muito integradas à renovação dos meios de alienação Nesse sentido, Borón (2000, p.68), ao analisar a ideológica. (ANDREFF, 2000; BERNANRDO, 1998; democracia existente no capitalismo, afirma que ela é KLEIN, 2002). operacionalizada como método e não como fim; não tendo demasiado sentido falar da democracia em sua Esses são os elementos de base das análises em abstração, quando na realidade do que se trata é de investigações que se tem vindo a desenvolver – sob uma examinar a forma, as condições e os limites da metodologia dialética (Marx), que parte das democratização em sociedades como a capitalista, que se determinações abstratas que levam à reprodução do fundam em princípios constitutivos que lhes são concreto no pensamento; e sob uma visão crítica (Escola irreconciliavelmente antagônicos. de Frankfurt). Tais investigações têm como preocupação central inquirir sob quais variantes as novas TIC se A despeito de nossos compromissos críticos, constituem hoje tanto como um instrumento queremos destacar aqui a hipótese de que parece estar fundamental de acumulação de capital, quanto com suas em curso uma junção das políticas de cidadania ou da funções maximizadas em seu viés de racionalidade democracia enquanto método, com as políticas de instrumental. Ou seja, uma Razão que significa o “[...] integração das TIC na escola. triunfo da máquina, do trabalho, da natureza útil e grátis, 98
  • 3. I Enconto Internacional TIC e Educação Isso ocorre em um momento em que se assiste a uma desmistificação do “poder milagroso” das tecnologias intensificação das exigências de um novo perfil de informacionais, Mattelart (2001, p.09) diz que “não se trabalhador em suas características cognitivas, de deve esquecer a obra de longo prazo. É testemunha disto comportamento e plásticas, procedentes das inovações o aparecimento precoce da utopia de uma língua derivadas da dinâmica gestora, da microeletrônica, da universal, muito antes que a língua da informática automação e da robótica, como analisa Santos (2001, cristalizasse este projeto. E, com a esperança da p.02). Agora, o trabalhador deve exercer várias funções possibilidade de estabelecer os princípios classificatórios ao mesmo tempo; e também saber operar vários tipos de de uma linguagem mundial, se reaviva o graal da máquinas ou instrumentos, simultaneamente. “Biblioteca de Babel”, tão vasta como o universo, Nesse contexto, no tocante ao lugar da escola como englobando todos os pensamentos humanos, abrigando formadora de novos trabalhadores, a educação escolar se todos os livros possíveis [...]”. situaria como uma força produtiva, geral, para responder Dantas (1993, p.19) analisa que a idéia de que a aos desafios das empresas no processo de mundialização tecnologia pudesse viabilizar uma apresentação cidadã do capital. O investimento do setor empresarial e sua autônoma, estendida ao espaço geopolítico da nação, atuação, às vezes diretamente no interior da escola seria recolocada na década de 1970 pelos franceses pública, ante a amplitude que este movimento assume, Simon Nora e Alain Minc (1978), que retomaram o não têm precedentes, por exemplo, no Brasil, nas conceito grego de agora: assembléia popular, na qual os décadas anteriores a 1990 (SILVA, 2001). cidadãos livres participavam diretamente na condução Mas, como essa realidade se relaciona com o fato de democrática dos negócios de Estado. ter ocorrido, nos últimos anos, uma criação ou produção No entanto, no contexto histórico e político em que – cujo sentido se verá adiante – da ideologia da chamada Simon Nora e Alain Minc elaboraram estas idéias, a “sociedade da informação”? Tendo como objetivo utopia da universalização do acesso de massas às analisar quais são as implicações de tal ideologia para a tecnologias da informação se desvanece de novo. educação escolar, se passa, a seguir, ao desenvolvimento Mattelart (2002, p.107-116) analisa o caráter prático que da formação do conceito sobre a identidade da sociedade cumpre o “Informe Nora-Minc” (ainda que não haja contemporânea. sido esta a intenção de seus autores): o panorama internacional das estratégias de informatização dos Sobre a Idéia de Sociedade da Informação grandes países industrializados. O ponto de partida da A idéia da sociedade da informação é hoje análise de Mattelart é o papel do Japão como modelo dominante. Porém, tal noção, na realidade, segundo político-administrativo que, desde o início da década de analisa Mattelart (2001), foi construída ideologicamente 1970, havia instalado uma estratégia com o objetivo de e pode ser revelada pela história. Como um “clichê”, o responder ao desafio das novas tecnologias; e que, talvez conceito de sociedade da informação encobre uma nova por isto mesmo, haveria evitado a recessão econômica ideologia, responsável pela definição de mudança e do mundial a partir de 1979. A idéia de crise é exatamente a “novo”, que tem um olhar voltado apenas para os que teria se “infiltrado” nos discursos das grandes lugares em que há dispositivos técnicos. Instaura-se economias mundiais sobre as estratégias de informatização. assim um “sentido comum”, que legitima todas as O que pode levar a que se inferira que, nesse momento eleições e recortes, que são, de fato, próprios de um histórico, as novas tecnologias são expressão ou resultam regime particular de verdade, como se fossem os únicos das relações sociais que até então estavam estabelecidas. possíveis e racionais. “Passe mágico, cujo segredo se revela pela história: foi sob a da teoria dos fins, O Informe de Simon Nora e Alain Minc sobre a começando com a do final da ideologia, a que foi informatização da sociedade, entregue ao presidente incubada ao largo da Guerra Fria, a idéia da sociedade da Giscard d'Estaing em janeiro de 1978, constitui “uma informação aparece então como alternativa aos sistemas rara exceção que confirma a regra da simples evolução antagônicos.” (MATTELART, 2001, p.09). ritual” afirma Mattelart (2002, p.111). Esclarece que quando tal Informe iniciou seus trabalhos a ameaça de A noção de sociedade da informação se formaliza na penúria energética, no âmbito mundial, já revelava o seqüência das “máquinas inteligentes” criadas ao largo espectro da crise. Neste contexto, Simon Nora e Alain da Segunda Guerra Mundial, e entrou nas referências Minc “aprofundam a noção com o propósito de definir o acadêmicas, políticas e econômicas a partir da década de estado dos lugares e de propor uma terapia, 1960. E, durante a década seguinte, já estaria reencontrando assim a doutrina sansimonista sobre a “funcionando” plenamente. Convidando-nos à 99
  • 4. I Enconto Internacional TIC e Educação crise e o papel reorganizador atribuído à rede”, analisa direção, e não em outra. Orientam a formulação de Mattelart (2002, p.113).2 Para Nora e Minc a programas de ação e de investigação dos Estados e das informatização crescente da sociedade estaria no coração instâncias supranacionais” (MATTELART, 2001, p.8). da crise, e poderia agravá-la ou contribuir para sua Apesar de que, por outro lado, a chamada “revolução solução, já que revolucionaria o “sistema nervoso das digital” cumpre também a função de expansão na esfera organizações e da sociedade por inteiro”, os cita da capacidade de comunicação humana em geral Mattelart. A premissa de Nora e Minc era de que o novo (RAMONET, 2001; SILVEIRA, 2001). Porém, esta modo global de regulação da sociedade que a idéia ficará aqui somente como um enunciado, pois aqui informatização ajudaria a instaurar seria capaz de combater o foco é a ponderação de que não é como meio de a “perda de consenso social” e fazer que fosse reencontrada democratizar a sociedade que a informática tem sido a adesão dos cidadãos às regras do jogo social. priorizada. Vejamos um pouco, a seguir, de sua função A análise de Mattelart desmistifica assim a noção na economia e na esfera social. hegemônica de “sociedade da informação”, Articulação entre Economia e Sociedade considerando que a telemática, como um “neologismo” inventado naquele momento histórico para indicar a A importância da revolução digital em termos conexão entre as telecomunicações e a informática, econômicos é analisada por Beck (2001, p.73), quando pressagiaria modos mais “brandos” de gestão de argumenta que os movimentos da indústria da consenso. E isto é o que teria aberto caminho à comunicação, que em 1995 era de 1 bilhão de dólares, “recriação de uma agora informacional”. Mattelart relata chegou a duplicar-se em cinco anos e a representar dez então todo o processo desenvolvido a partir do Informe por cento da economia mundial. Porém, para chegar a Nora-Minc na França que impulsiona uma doutrina ser esta potência foi necessário que a telefonia e a francesa em matéria de circulação dos fluxos. O que radiofonia cumprissem seu papel que, no princípio do implicou que, em 1981, o governo socialista inaugurasse século XX, segundo Dantas (1993, p.34), já ultrapassam uma estratégia industrial que confiara à investigação a esfera imediata dos negócios e científica e ao progresso tecnológico os elementos [...] penetram no espaço muito mais amplo da família e dos motores para sair da crise. usos financeiros ou comerciais, exatamente porque serviam à articulação ampla da produção social geral [...]. Através dos Assim, Mattelart (2001, p.07-08), analisa como cabos telefônicos, se configura a forma mais primitiva de simples “clichê” a narrativa da conquista da mercado-rede: as unidades familiares, enquanto ciberfronteira, representada pela formulação “sociedade “consumidoras”, passam a inter atuar, por um meio técnico global da informação”, de onde se anunciam das mais específico, com provedores e distribuidores de bens e diversificadas maneiras, uma nova sociedade, “mais serviços; além disto, articulam e acionam um amplo solidária, mais aberta e mais democrática”. A noção de conjunto de atos sociais, geralmente de natureza contratual – “futuro tecnoinformacional”, de tal maneira, se teria instalado como atividades de tempo livre, entretenimento e sem polêmicas e distanciada dos debates cidadãos. Na convivência familiar ou comunitária – que agenciam novos estímulos à produção e ao consumo de materiais simbólicos. realidade, a referência de “sociedade global da informação” seria o resultado de uma construção geopolítica. Com isso, se pode compreender melhor como a tecnologia atual “eliminou as distância geográficas e A efervescência da expansão ininterrupta das sociais”, com a ajuda de aviões supersônicos, inovações técnicas, entretanto, contribui com que se computadores, satélites e todas as outras inovações que “esquecesse” este fato. Assim, “a nova ideologia que não permitem hoje, mais que nunca, que pessoas, idéias e diz o próprio nome se naturalizou e foi levada à produtos atravessem, tão rapidamente, como nunca, categoria do paradigma dominante de mudança. As tempo e espaço. Observe-se aqui a importância da crenças que acompanham a noção de sociedade da economia de tempo (valor de base do mecanismo da informação mobilizam forças simbólicas que tanto mais-valia) propiciada pelo atual sistema técnico que fazem atuar como permitem atuar em determinada possui a característica de ser invasor porque é susceptível de presença em todas as partes. Tudo se junta e articula, 2 A doutrina de Saint-Simon e de seus discípulos, principalmente pois, mediante a “inteligência” da firma; caso contrário, Enfantin e Bazard, preconiza o coletivismo, que garantiria a retribuição não poderia haver empresas transnacionais. "a cada um conforme suas capacidades, a cada capacidade conforme Mas, como pode haver, por um lado, fragmentação suas obras". Tal doutrina critica a propriedade privada porque esta técnica da produção e, por outro, uma “unidade política conduziria a uma organização anárquica da produção e consagraria a exploração do homem pelo homem. de comando”, no interior das empresas? A partir da 100
  • 5. I Enconto Internacional TIC e Educação unicidade das técnicas, da qual o computador é uma ignorado a criatividade e a capacidade empresarial de peça central, surge então a possibilidade de que exista agenciar a produção “sob formas mutantes”. Outrossim, uma acumulação do porte atual. Sem ela, seria também que a esquerda clássica tampouco percebera as impossível a atual “unicidade do tempo, o acontecer dimensões produtivas gerais da indústria da informação, local sendo percebido como um elo do acontecer que crescia lado a lado aos complexos tecnológicos mundial. Sem a mais-valia globalizada e sem esta siderometalúrgicos tayloristas e fordistas. Como, por unicidade de tempo, a unicidade da técnica não teria exemplo, o papel que “o cinema e o rádio poderiam eficácia”, analisa Milton Santos (2000, p.26-27). exercer, não somente ao gerar milhões de empregos A relação contemporânea entre acumulação, mais ou menos qualificados e fomentar toda uma tecnologia e controle social pode ser entendida a partir indústria de bens de capital tecnologicamente sofisticada, do que Dantas (1996) denomina como lógica do capital senão, sobretudo, como formadores de hábitos de informação; que, não obstante, está [tal lógica] oculta consumo necessários para a expansão de uma produção especialmente pelo fato de que a maior parte das pessoas capitalista crescentemente midiatizada; isto não chegou “pouco ou nada sabem” do funcionamento das a frenquentar as investigações das correntes principais da comunicações “como meio através do qual se gera, economia e da sociologia do século XX, ainda que registra e distribui a informação, obtendo daqui valores interessasse a um crescente conjunto acadêmico que econômicos e sociais que acumulam ou se apropriam desenvolvia estudos em torno da cultura moderna e dos diversos agentes.” (DANTAS, 1993, p.13-16). Desta meios de expressão. Estes estudos não conseguiram maneira, a organização das comunicações, como hoje as influenciar as propostas políticas de então, concebemos, não foi obra do azar ou da realização de particularmente as de cunho revolucionário, direta ou alguns indivíduos genais, e sim de uma “construção indiretamente baseadas na crença de uma “revolução do social” – recorde-se a criação da idéia de “sociedade da proletariado” fabril –revolução que, a rigor, nunca informação” – procedente das opções políticas adotadas ocorreu. As questões culturais se remeteram à através de alianças e conflitos entre grupos e classes, em “superestrutura...”. (DANTAS, 1993, p.30). diferentes fases da história contemporânea. Por outro lado, o computador, como “ícone” da nova O próprio conceito de Comunicações já aponta, revolução informacional, conectado à rede, estaria segundo o autor, à necessidade de alerta por parte das alterando a relação das pessoas com o tempo e com o lideranças, quadros e militantes comprometidos com os espaço; inclusive “ressuscitando” a escrita ante a movimentos sociais, além de intelectuais que investigam supremacia dos meios audiovisuais, principalmente ante o tema, do que seriam os “arranjos” capitalistas dos o império da comunicação televisiva, como destaca por sistemas de informação, que nos parecem “naturais e sua vez Silveira (2001, p.15). Desta forma, as redes espontâneos.” Dantas (1993, p.15) define comunicações informacionais permitem “ampliar a capacidade de como “[...] palavra plural que contém, em seu pensar de modo inimaginável”, segundo analisa o autor. significado, tanto o que se entende por Mas vejamos alguns limites mais deste fato. „telecomunicação‟ como por „radiofusão‟, „informática‟, Limites da “Ampliação da Mente” „mídia‟, etc. Em comunicações cabe tudo que se refere A idéia de ampliação da capacidade de pensar é ao registro, tratamento e difusão da informação social.” desenvolvida amplamente por Pierre Lévy, que destaca Neste sentido, chegamos neste trabalho a uma em sua obra como a revolução informacional ampliara a formulação central: a informação é um fenômeno social e inteligência humana. Isto porque a tecnologia da histórico. Tal conclusão, segundo Dantas, não havia sido informação permite aumentar o armazenamento, o possível a Marx desenvolver, devido às próprias processamento e a análise de informações, realizar limitações de seu tempo, já que este analisou a informação milhares de relações entre milhares de dados por como sendo [meramente] uma força produtiva. segundo. De modo que há uma “ampliação da mente”, Entretanto, Dantas (1993, p.24-29) mostra o processo exatamente porque tal tecnologia se funda nas histórico de como se deu a evolução do capital tecnologias da inteligência que, por sua vez, ampliam financeiro como grande responsável do financiamento exponencialmente as diferenças na capacidade de tratar das investigações científicas e técnicas que informações e transformá-las em conhecimento. Porém, impulsionaram definitivamente o desenvolvimento das será a realidade desta tecnologia tão espetacular e tecnologias da informação. O autor cita Cattani (1995, possível, para todas as pessoas? p.18) em sua constatação de que a Esquerda havia 101
  • 6. I Enconto Internacional TIC e Educação Há quem diga que se faz necessário relativizar este cada vez mais autônoma. “A partir deste momento papel “transformador” da tecnologia da informação. começamos a incorporar aparatos em nossas vidas, sem Todavia, não se pode fazer uma apologia da inteligência refletir como eles intervêm nas mesmas.” alienada. A quem cabe, ao final, o controle social da (BUSTAMANTE, 1993, p.132). inteligência? Este é um dos pontos centrais a se discutir. *** As novas tecnologias informacionais ampliam a Nesse quadro geral de análise, qual seria então a inteligência, mas majoritariamente (e proporcionalmente função da escola e da integração das TIC em sua à dos setores populares), a dos extratos sociais pedagogia? A hipótese aqui é a de que o capitalismo vem dominantes. Ainda que, inegavelmente, existam imprimindo hoje à escola, como um de seus papéis, o de possibilidades de estender as potencialidades sua função social como formadora de hábitos de consumo emancipadoras das tecnologias informacionais para os necessários para a expansão de uma produção capitalista setores populares, inclusive no “terreno” da resistência à crescentemente midiatizada. Além, evidentemente, de a lógica dominante.(KLEIN, 2002; TAVARES, 2005). escola prosseguir qualificando mais ou menos para os Prosseguindo no campo dos limites impostos à postos de trabalho. Em conjunto com a escola, somar-se- maioria da sociedade para o acesso à tecnologia, há ia o papel desempenhado pela televisão, o cinema, o rádio outros problemas, a seguir destacados. e a Internet, em suas funções de meios de marketing de Norretranders (1998), afirma que aprendemos a produtos e de ideais dominantes (Escola de Frankfurt). descartar a informação e não a obtê-la. Ainda que se viva Assistiríamos então a uma aliança de papéis formadores em um mundo onde se crê que a informação é o que há – mídias e escola – a fomentar toda uma indústria de de mais importante. Segundo o autor, é certo que a bens de capital tecnologicamente sofisticada. quantidade de informação disponível é muito maior do Mas, a técnica e a tecnologia podem ser tanto meios que se pode assimilar, tendo em mente a tarefa de do capital, como meios de emancipação. Por isto, pode- discriminar a que seria relevante ou interessante. A se afirmar que há também espaço para a construção de sociedade da informação seria a “sociedade da entropia” lógicas emancipadoras de criação e utilização das – uma sociedade da ignorância e da desordem. De outra tecnologias da informação e comunicação na educação forma, Kosko (1999), diz que «a ironia da era digital é escolar, como são já muitas as experiências práticas que as coisas são mais vagas que nunca. [...] A era digital existentes neste sentido. possui seu próprio princípio de incerteza: as coisas se fizeram mais vagas à medida que as partes se fizeram mais precisas”, como seria o caso flagrante da Internet. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aqui a fragmentação é a essência da alienação. Mas esta, ANDREFF, Wladimir. Multinacionais globais. Bauru: não obstante, está camuflada pela justificativa do acesso EdUSP, 2000. ao todo, possibilitado de fato pela Internet. Contudo, tal acesso é para todos ou só para aqueles que possuem a BECK, Ulrich. Qué es la globalización? falacias del capacidade intelectual e material de ser autônomos, de globalismo: respuestas a la globalización. Barcelona: dirigir suas próprias escolhas também na Rede? Ediciones Paidós Ibérica, 2001. É mister considerar, apesar dos limites apontados, BERNARDO, João. Estado, a silenciosa multiplicação do que, antes de converter-se em um meio de controle, a poder. São Paulo: EDUSP, 1998. tecnologia se origina “em relação com sua incorporação BORÓN, Atílio. A sociedade civil depois do dilúvio antropológica, como fruto da inteligência, da inquietude neoliberal. In.: Pós-neoliberalismo: As políticas sociais e da inventiva do homem”, segundo análise sobre a e o estado democrático. RJ: Paz e Terra, 2000. origem da “metáfora computacional” de Bustamante (1993, p.122-150). O autor pondera que “a partir de BUSTAMANTE, Javier. Sociedad informatizada, certo grau de desenvolvimento, quando a tecnologia se ¿sociedad deshumanizada? : uma visión crítica de la desdobra em toda sua eficácia como instrumento e como influencia de la tecnología sobre la sociedad en la era espelho que devolve ao homem sua imagem distorcida del computador. Madrid: Gaia, 1993. ainda que todavia com traços humanos, ditas qualidade DANTAS, Marcos. A lógica do capital informação. Rio de começam a ter um menor peso específico no resultado Janeiro: Ed. 34, 1993. final, e o desejo do homem começa a ter uma menor incidência sobre a configuração tecnológica do mundo, 102
  • 7. I Enconto Internacional TIC e Educação KLEIN, Naomi. Sem Logo: a tirania das marcas em um NORRETRANDERS, Tor. The User Illusion. New York: planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002. Penguin Books, 1998. KOSKO, B. The Fuzzy future: from society and science to RAMONET, Ignácio. Los medios y la globalización. Rádio heaven in a chip. New York: Harmony Books, 1999. Nederland. 2001. http://www.mw.nl/cgibin/home/homeInforma.pl. LAMIKIZ, Álex ¿Qué es la cibercultura? In: ALONSO, Andoni, ARZOZ, Iñaki. La nueva ciudade de Dios. SANTOS, Milton. Rio de Janeiro: Record, 2000. Madrid: Ediciones Siruela, 2001. SILVA, Maria Vieira. O ethos empresarial na educação LÉVY, Pierre. Cibercultura: educação e cibercultura. São escolar: novos dispositivos, novas subjetividades. Paulo: Ed. 34, 1999. Caxambú: Reunião Anual da Anped, 23, 2001. MARX, Karl. Teses contra Feuerbach. In: Marx e SILVEIRA, Sérgio Amadeu. Exclusão Digital: a miséria na Engels. Textos, v.1. São Paulo: Edições era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Sociais, 1977. Abramo, 2001. __________. MARX, Karl. Processo de trabalho e TAVARES, Rosilene Horta. Trabajo, Tecnología de la processo de valorização. In: O Capital. São Información y Política de las Transnacionales como Paulo: Bertrand, 1989. Factores de Análisis de la Desigualdad Digital en Brasil. 626f. 2004. Tese (Doutorado) – Faculdade de MATTELART, Armand. História da sociedade da Filosofia, Universidade Complutense de Madri, Madri, informação. São Paulo: Edições Loyola, 2001. Espanha, 2005. MATOS, Olgária C.F. Os arcanos do inteiramente outro: A escola de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São Paulo: Brasiliense, 1989. 103
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