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4
| 8 AGOSTO 2014
Reportagem
“Só desejo que neste Verão não ocorra
ser atribuível à falta de equipamento de
AuriNegra (AN) – Relativa-
mente aos meios disponibili-
zados pelo Governo no que diz
respeito à prevenção dos fogos
florestais e, numa fase posterior,
ao seu combate: são suficientes?
Domingos Xavier Viegas
(DXV) – Na minha opinião os
meios disponibilizados nunca são
suficientes, quer para a prevenção
quer para o combate,porque nun-
ca sabemos que ano nos espera.
Eu quero acreditar que os meios
são os possíveis, face à dimensão
e importância do problema para o
País. A questão mais importante
é saber se os meios estão a ser ou
não bem utilizados. No tocante à
prevenção estrutural, considero
que não. Isto é, o nosso País tem
tido ao seu dispor verbas, mesmo
comunitárias, que permitiriam fa-
zer um trabalho muito mais orga-
nizado, sistemático e extenso do
que tem sido feito.
No combate tem havido mais
investimento visível. Preocupam-
me os gastos com os meios aéreos,
porque rapidamente se podem
transformar num poço sem fundo,
em contraste com os gastos em
equipamento de protecção dos
Bombeiros, que por razões diver-
sas,não estão entregues,apesar de
o dinheiro estar disponibilizado
há mais de um ano e meio.
AN – Onde deveria haver
mais investimento?
DXV – A questão de saber
onde deve haver mais investimen-
to não é fácil de responder. Se se
utilizasse bem as verbas para se
fazer prevenção, certamente teria
de se gastar menos no combate.
Custa-me aceitar o argumento de
que se “gasta mais em combate
em vez de prevenção”. Antes de
mais porque nunca vi alguém que
me explicasse ou mostrasse o que
se gasta numa tarefa e noutra,para
se poder fazer a comparação. Em
segundo lugar porque há muitas
tarefas que deveriam ser contabili-
zadas no lado da prevenção e não
o são. Em terceiro porque, como
disse, há verbas disponíveis para
prevenção que não são gastas,
possivelmente por falta de vonta-
de ou de capacidade.
AN – As trágicas mortes de
bombeiros no Verão de 2013, e
mais concretamente os contor-
nos em que ocorreram, mere-
ceram algumas críticas da sua
parte à qualidade/adequação
do equipamento de protecção
individual utilizado. Considera
que estes equipamentos – em
que várias entidades (Governo,
CIM’s, Autarquias e as pró-
prias corporações) têm vindo a
investir milhões de euros – não
cumprem a função esperada?
Quais as suas principais defi-
ciências?
DXV – Esta é uma questão
muito importante e complicada.
Embora a questão tenha sido le-
vantada na sequência dos eventos
de 2013, o problema é muito anti-
go e tem vários contornos. Desde
logo na ausência de um conjunto
de especificações e de normas que
estabelecessem a obrigatoriedade
de critérios de qualidade neste
âmbito. Por outro lado a falta de
sensibilidade e de visão de muitos
dirigentes na área dos Bombeiros
– a diversos níveis – que não iden-
tificaram nem reconheceram a im-
portância de investir neste campo.
Facilmente se deu prioridade
a melhorar os quartéis, a adquirir
viaturas e outros investimentos,
em detrimento de um melhor
equipamento de protecção. Ad-
mito que nem sempre o mercado
tenha correspondido da melhor
forma, pois poderia estar a com-
prar-se ‘gato por lebre’, isto é os
Bombeiros poderiam estar a ad-
quirir um equipamento que con-
sideravam ser de boa qualidade e
este não o ser. Tal ter-se-á devido
também à falta de certificação dos
produtos e de fiscalização dos for-
necimentos.
Faço votos de que os equipa-
mentos que se irão adquirir com
os muitos milhões que irão ser
investidos neste processo corres-
pondam de facto às necessidades
dos Bombeiros. Lamento, uma
vez mais,que os atrasos neste pro-
cesso de aquisição tenham levado
a que os Bombeiros tenham de an-
dar a comprar estes equipamentos
fora do Concurso, por vezes à sua
própria custa.Só desejo que neste
Verão não ocorra qualquer inci-
dente que possa ser atribuível à
falta de equipamento de protec-
ção individual adequado.
AN – Considerou mesmo que
se o equipamento fosse adequa-
do – dando o exemplo concreto
das botas – algumas mortes de
bombeiros poderiam ter sido
evitadas. Deveria haver mais
controlo de qualidade ou certi-
ficação nesta área? O que pode
ser feito?
DXV – Confirmo a sua afirma-
ção. Deveria haver maior controle
e fiscalização em todo o processo.
Como cidadão considero que se
deveria investigar melhor como
foram adquiridos os equipamen-
tos no passado, porque estamos a
falar de verbas consideráveis que
foram gastas ao longo dos últimos
anos. Porque razão, apesar disso,
os nosso bombeiros não se encon-
tram bem equipados? Quando
falo de fiscalização não me refiro
apenas à componente financeira
mas também à técnica.Infelizmen-
te tendemos a desprezar a contri-
buição que a ciência e a técnica
podem dar a estes processos, en-
tregando-o a burocratas. O exem-
plo que referiu das botas ilustra
bem como através da colaboração
entre uma empresa industrial e
um centro de investigação se pode
progredir no desenvolvimento de
produtos que melhorem as cara-
terísticas de proteção dos equipa-
mentos utilizados pelos Bombei-
ros. Este é apenas um exemplo do
muito mais que poderia ser feito,
para ajudar não só os Bombeiros
como a industria nacional, uma
vez que existe o mito de que o que
é feito lá fora é melhor e não tem
de ser assim.
AN – Recentemente, o CI-
TEVE certificou equipamento
utilizado pelos bombeiros de
Carregal do Sal. Este Centro
Tecnológico tem capacidade
para emitir tais certificações?
DXV – O CITEVE, assim
Domingos Xavier Viegas, especialista na área dos incêndios florestais, em entrevista ao AuriNegra
Muito tem sido dito (e escrito) sobre incêndios florestais
nas últimas semanas, mais concretamente em relação
aos atrasos na entrega dos equipamentos de protecção
individual de bombeiros que foram adquiridos pelas
Comunidades Intermunicipais – e cujos concursos,
conforme noticiámos na nossa edição n.º 289 de 4 de
Julho, foram condicionados pela demora na aprovação do
financiamento necessário à aquisição do material.
Quisemos saber o que tem a dizer sobre este tema
Domingos Xavier Viegas, professor catedrático do
Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade
de Coimbra e um dos mais reputados especialistas na
matéria. São muitas as críticas e as questões levantadas
pelo investigador, que aponta o dedo à forma como têm
vindo a ser aplicadas as verbas destinadas à prevenção e
ao combate de fogos florestais.
Filipa do Carmo
filipadocarmo@aurinegra.pt
5
8 AGOSTO 2014 |
Reportagem
Foram entregues a cinco corporações de
bombeiros da Região Centro – incluindo
Cantanhede – botas com “elevada resistên-
cia ao fogo”, produzidas em Portugal pela
empresa Lavoro (de Guimarães) e que têm
vindo a ser aperfeiçoadas pela Associação
paraoDesenvolvimentodaAerodinâmicaIn-
dustrial(ADAI),daUniversidadedeCoimbra,
organismo liderado por Domingos Xavier
Viegas. Segundo adiantou o Comandante
dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede
ao nosso Jornal, o equipamento será agora
testado no terreno por dois elementos da
corporação, mas para Jorge Jesus, bastou
umaprimeiraavaliaçãoparaperceberquese
trata de “equipamento muito bom e muito
bem fabricado, sendo de enaltecer o facto
detersidofrutodeproduçãonacional”.Este
calçado técnico apresenta ainda a vantagem
de ser mais barato do que aquele que tem
vindo a ser usado, tendo sido apresentado
como capaz de resistir a temperaturas ele-
vadíssimas. “É uma mais-valia para todos os
homens e mulheres que combatem fogos.
Em Cantanhede não tenho registo da ocor-
rência de derretimento das solas de botas,
mas já se verificou sobreaquecimento”.
Quanto ao equipamento que os seus ho-
mens e mulheres irão receber por parte
da Comunidade Intermunicipal Região de
Coimbra, o Comandante assumiu que é
material que faz muita falta. “Não podíamos
ficaràespera,tivemosquefazeralguminves-
timentopróprionessaárea.Aprotecçãoindi-
vidual dos bombeiros é o mais importante e
será sempre uma prioridade nossa. Não ab-
dicamos disso”, garantiu. Contactada pelo
AuriNegra,aCIMfezsaberqueaentregado
materialreferenteàcandidaturaapresentada
em Maio de 2013 começou a ser entregue
na quarta-feira (6 de Agosto), em articula-
ção com as Autarquias. Mira, Condeixa,
Figueira da Foz e Soure foram as primeiras
corporações de Bombeiros a receberem o
equipamento de protecção individual con-
tratualizado.
Já está a ser comercializada a mochila
de combate criada pelos bombeiros de
Óbidos com o intuito de melhorar a pro-
tecção durante os incêndios florestais,
estando prevista para breve a criação
de uma “pasta de comando”. Os avul-
tados preços praticados pelas empresas
que fabricam equipamento de protec-
ção para bombeiros e a “insatisfação”
em relação às mochilas existentes no
mercado, que não cumpriam todos os
requisitos da legislação, foram, segundo
declarações do comandante Carlos Silva
à Agência Lusa, os motivos que levaram
a corporação a decidir criar a sua própria
mochila. Composta por um arnês onde
se acopla o abrigo de incêndio e o siste-
ma de hidratação, a mochila foi fabricada
respeitando toda a legislação em vigor
aplicável a este tipo de equipamentos.
Numa situação extrema, caso se veja ro-
deado pelas chamas, o bombeiro pode-
rá fechar-se dentro do abrigo, que repele
o calor, tendo ao seu dispor um depósito
com três litros de água para se hidratar.
Já foram vendidas cem unidades, estan-
do previsto o fabrico de outras tantas,
que serão vendidas a outras corpora-
ções. A mochila é fabricada numa fábri-
ca da Benedita, concelho de Alcobaça
e, segundo o responsável, pode ser
adaptada com melhorias sugeridas pe-
las corporações clientes. Uma “pasta de
comando”, cujo protótipo deverá estar
terminado ainda durante este mês, está
também a ser desenvolvida pelos bom-
beiros de Óbidos. O objectivo passa por
apoiar os elementos de comando ou de
chefia “no que diz respeito à organização
de um teatro de operações”, adiantou
Carlos Silva. Para além de ajudar a cus-
tear algumas despesas da corporação,
a criação destes artigos pretende ainda
melhorar a oferta nesta área, disponibi-
lizando produtos de qualidade a preços
mais competitivos.
Bombeiros de Cantanhede
testam botas de “elevada resistência”
Mochila “todo-o-terreno”
PUB
qualquer incidente que possa
protecção individual adequado”
como outros centros Tecnológicos, no-
meadamente o Centro Tecnológico do
Calçado são entidades muito idóneas e
com capacidade para certificar os equi-
pamentos de proteção dos Bombeiros,
respetivamente o vestuário e o calçado.
Conheço estas duas entidades e sei que
estão bem equipadas e dispõem de téc-
nicos muito qualificados para realizarem
estes trabalhos e de verificação da con-
formidade dos produtos em relação às
normas. Tenho no entanto as minhas
dúvidasacercadesaberseexisteumave-
rificação dos produtos adquiridos para
saber se correspondem ou não às espe-
cificações. Por outro lado questiono-me
se as normas serão as mais adequadas
para cobrir as situações em que os nos-
sos Bombeiros podem estar envolvidos,
como verificámos no caso das botas.
AN – E no que toca à formação?
Os nossos bombeiros estão bem pre-
parados?
DXV – Tem havido um esforço mui-
to grande para melhorar a formação dos
nossos Bombeiros,em especial ao longo
dos últimos anos. Mesmo assim creio
que não é suficiente e não tem chega-
do a todos os elementos. Refiro-me em
particular a aspetos relacionados com o
comportamento do fogo e da segurança,
que são os que conheço melhor. Temos
que distinguir entre o ter recebido a for-
mação e o saber aplicá-la nas situações
concretas. Não basta ter formação para
se tomar as decisões corretas na altura
própria,mas é quase certo que,se não se
tiver formação, dificilmente se fazem as
escolhas adequadas.
Tenho insistido neste ponto porque
temos visto casos em que nos parece
haver uma falta de conhecimentos ele-
mentares na avaliação das situações que
deram origem a acidentes no passado.
É isto que queremos evitar, dando a
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casos anteriores.

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  • 1. 4 | 8 AGOSTO 2014 Reportagem “Só desejo que neste Verão não ocorra ser atribuível à falta de equipamento de AuriNegra (AN) – Relativa- mente aos meios disponibili- zados pelo Governo no que diz respeito à prevenção dos fogos florestais e, numa fase posterior, ao seu combate: são suficientes? Domingos Xavier Viegas (DXV) – Na minha opinião os meios disponibilizados nunca são suficientes, quer para a prevenção quer para o combate,porque nun- ca sabemos que ano nos espera. Eu quero acreditar que os meios são os possíveis, face à dimensão e importância do problema para o País. A questão mais importante é saber se os meios estão a ser ou não bem utilizados. No tocante à prevenção estrutural, considero que não. Isto é, o nosso País tem tido ao seu dispor verbas, mesmo comunitárias, que permitiriam fa- zer um trabalho muito mais orga- nizado, sistemático e extenso do que tem sido feito. No combate tem havido mais investimento visível. Preocupam- me os gastos com os meios aéreos, porque rapidamente se podem transformar num poço sem fundo, em contraste com os gastos em equipamento de protecção dos Bombeiros, que por razões diver- sas,não estão entregues,apesar de o dinheiro estar disponibilizado há mais de um ano e meio. AN – Onde deveria haver mais investimento? DXV – A questão de saber onde deve haver mais investimen- to não é fácil de responder. Se se utilizasse bem as verbas para se fazer prevenção, certamente teria de se gastar menos no combate. Custa-me aceitar o argumento de que se “gasta mais em combate em vez de prevenção”. Antes de mais porque nunca vi alguém que me explicasse ou mostrasse o que se gasta numa tarefa e noutra,para se poder fazer a comparação. Em segundo lugar porque há muitas tarefas que deveriam ser contabili- zadas no lado da prevenção e não o são. Em terceiro porque, como disse, há verbas disponíveis para prevenção que não são gastas, possivelmente por falta de vonta- de ou de capacidade. AN – As trágicas mortes de bombeiros no Verão de 2013, e mais concretamente os contor- nos em que ocorreram, mere- ceram algumas críticas da sua parte à qualidade/adequação do equipamento de protecção individual utilizado. Considera que estes equipamentos – em que várias entidades (Governo, CIM’s, Autarquias e as pró- prias corporações) têm vindo a investir milhões de euros – não cumprem a função esperada? Quais as suas principais defi- ciências? DXV – Esta é uma questão muito importante e complicada. Embora a questão tenha sido le- vantada na sequência dos eventos de 2013, o problema é muito anti- go e tem vários contornos. Desde logo na ausência de um conjunto de especificações e de normas que estabelecessem a obrigatoriedade de critérios de qualidade neste âmbito. Por outro lado a falta de sensibilidade e de visão de muitos dirigentes na área dos Bombeiros – a diversos níveis – que não iden- tificaram nem reconheceram a im- portância de investir neste campo. Facilmente se deu prioridade a melhorar os quartéis, a adquirir viaturas e outros investimentos, em detrimento de um melhor equipamento de protecção. Ad- mito que nem sempre o mercado tenha correspondido da melhor forma, pois poderia estar a com- prar-se ‘gato por lebre’, isto é os Bombeiros poderiam estar a ad- quirir um equipamento que con- sideravam ser de boa qualidade e este não o ser. Tal ter-se-á devido também à falta de certificação dos produtos e de fiscalização dos for- necimentos. Faço votos de que os equipa- mentos que se irão adquirir com os muitos milhões que irão ser investidos neste processo corres- pondam de facto às necessidades dos Bombeiros. Lamento, uma vez mais,que os atrasos neste pro- cesso de aquisição tenham levado a que os Bombeiros tenham de an- dar a comprar estes equipamentos fora do Concurso, por vezes à sua própria custa.Só desejo que neste Verão não ocorra qualquer inci- dente que possa ser atribuível à falta de equipamento de protec- ção individual adequado. AN – Considerou mesmo que se o equipamento fosse adequa- do – dando o exemplo concreto das botas – algumas mortes de bombeiros poderiam ter sido evitadas. Deveria haver mais controlo de qualidade ou certi- ficação nesta área? O que pode ser feito? DXV – Confirmo a sua afirma- ção. Deveria haver maior controle e fiscalização em todo o processo. Como cidadão considero que se deveria investigar melhor como foram adquiridos os equipamen- tos no passado, porque estamos a falar de verbas consideráveis que foram gastas ao longo dos últimos anos. Porque razão, apesar disso, os nosso bombeiros não se encon- tram bem equipados? Quando falo de fiscalização não me refiro apenas à componente financeira mas também à técnica.Infelizmen- te tendemos a desprezar a contri- buição que a ciência e a técnica podem dar a estes processos, en- tregando-o a burocratas. O exem- plo que referiu das botas ilustra bem como através da colaboração entre uma empresa industrial e um centro de investigação se pode progredir no desenvolvimento de produtos que melhorem as cara- terísticas de proteção dos equipa- mentos utilizados pelos Bombei- ros. Este é apenas um exemplo do muito mais que poderia ser feito, para ajudar não só os Bombeiros como a industria nacional, uma vez que existe o mito de que o que é feito lá fora é melhor e não tem de ser assim. AN – Recentemente, o CI- TEVE certificou equipamento utilizado pelos bombeiros de Carregal do Sal. Este Centro Tecnológico tem capacidade para emitir tais certificações? DXV – O CITEVE, assim Domingos Xavier Viegas, especialista na área dos incêndios florestais, em entrevista ao AuriNegra Muito tem sido dito (e escrito) sobre incêndios florestais nas últimas semanas, mais concretamente em relação aos atrasos na entrega dos equipamentos de protecção individual de bombeiros que foram adquiridos pelas Comunidades Intermunicipais – e cujos concursos, conforme noticiámos na nossa edição n.º 289 de 4 de Julho, foram condicionados pela demora na aprovação do financiamento necessário à aquisição do material. Quisemos saber o que tem a dizer sobre este tema Domingos Xavier Viegas, professor catedrático do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra e um dos mais reputados especialistas na matéria. São muitas as críticas e as questões levantadas pelo investigador, que aponta o dedo à forma como têm vindo a ser aplicadas as verbas destinadas à prevenção e ao combate de fogos florestais. Filipa do Carmo filipadocarmo@aurinegra.pt
  • 2. 5 8 AGOSTO 2014 | Reportagem Foram entregues a cinco corporações de bombeiros da Região Centro – incluindo Cantanhede – botas com “elevada resistên- cia ao fogo”, produzidas em Portugal pela empresa Lavoro (de Guimarães) e que têm vindo a ser aperfeiçoadas pela Associação paraoDesenvolvimentodaAerodinâmicaIn- dustrial(ADAI),daUniversidadedeCoimbra, organismo liderado por Domingos Xavier Viegas. Segundo adiantou o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Cantanhede ao nosso Jornal, o equipamento será agora testado no terreno por dois elementos da corporação, mas para Jorge Jesus, bastou umaprimeiraavaliaçãoparaperceberquese trata de “equipamento muito bom e muito bem fabricado, sendo de enaltecer o facto detersidofrutodeproduçãonacional”.Este calçado técnico apresenta ainda a vantagem de ser mais barato do que aquele que tem vindo a ser usado, tendo sido apresentado como capaz de resistir a temperaturas ele- vadíssimas. “É uma mais-valia para todos os homens e mulheres que combatem fogos. Em Cantanhede não tenho registo da ocor- rência de derretimento das solas de botas, mas já se verificou sobreaquecimento”. Quanto ao equipamento que os seus ho- mens e mulheres irão receber por parte da Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra, o Comandante assumiu que é material que faz muita falta. “Não podíamos ficaràespera,tivemosquefazeralguminves- timentopróprionessaárea.Aprotecçãoindi- vidual dos bombeiros é o mais importante e será sempre uma prioridade nossa. Não ab- dicamos disso”, garantiu. Contactada pelo AuriNegra,aCIMfezsaberqueaentregado materialreferenteàcandidaturaapresentada em Maio de 2013 começou a ser entregue na quarta-feira (6 de Agosto), em articula- ção com as Autarquias. Mira, Condeixa, Figueira da Foz e Soure foram as primeiras corporações de Bombeiros a receberem o equipamento de protecção individual con- tratualizado. Já está a ser comercializada a mochila de combate criada pelos bombeiros de Óbidos com o intuito de melhorar a pro- tecção durante os incêndios florestais, estando prevista para breve a criação de uma “pasta de comando”. Os avul- tados preços praticados pelas empresas que fabricam equipamento de protec- ção para bombeiros e a “insatisfação” em relação às mochilas existentes no mercado, que não cumpriam todos os requisitos da legislação, foram, segundo declarações do comandante Carlos Silva à Agência Lusa, os motivos que levaram a corporação a decidir criar a sua própria mochila. Composta por um arnês onde se acopla o abrigo de incêndio e o siste- ma de hidratação, a mochila foi fabricada respeitando toda a legislação em vigor aplicável a este tipo de equipamentos. Numa situação extrema, caso se veja ro- deado pelas chamas, o bombeiro pode- rá fechar-se dentro do abrigo, que repele o calor, tendo ao seu dispor um depósito com três litros de água para se hidratar. Já foram vendidas cem unidades, estan- do previsto o fabrico de outras tantas, que serão vendidas a outras corpora- ções. A mochila é fabricada numa fábri- ca da Benedita, concelho de Alcobaça e, segundo o responsável, pode ser adaptada com melhorias sugeridas pe- las corporações clientes. Uma “pasta de comando”, cujo protótipo deverá estar terminado ainda durante este mês, está também a ser desenvolvida pelos bom- beiros de Óbidos. O objectivo passa por apoiar os elementos de comando ou de chefia “no que diz respeito à organização de um teatro de operações”, adiantou Carlos Silva. Para além de ajudar a cus- tear algumas despesas da corporação, a criação destes artigos pretende ainda melhorar a oferta nesta área, disponibi- lizando produtos de qualidade a preços mais competitivos. Bombeiros de Cantanhede testam botas de “elevada resistência” Mochila “todo-o-terreno” PUB qualquer incidente que possa protecção individual adequado” como outros centros Tecnológicos, no- meadamente o Centro Tecnológico do Calçado são entidades muito idóneas e com capacidade para certificar os equi- pamentos de proteção dos Bombeiros, respetivamente o vestuário e o calçado. Conheço estas duas entidades e sei que estão bem equipadas e dispõem de téc- nicos muito qualificados para realizarem estes trabalhos e de verificação da con- formidade dos produtos em relação às normas. Tenho no entanto as minhas dúvidasacercadesaberseexisteumave- rificação dos produtos adquiridos para saber se correspondem ou não às espe- cificações. Por outro lado questiono-me se as normas serão as mais adequadas para cobrir as situações em que os nos- sos Bombeiros podem estar envolvidos, como verificámos no caso das botas. AN – E no que toca à formação? Os nossos bombeiros estão bem pre- parados? DXV – Tem havido um esforço mui- to grande para melhorar a formação dos nossos Bombeiros,em especial ao longo dos últimos anos. Mesmo assim creio que não é suficiente e não tem chega- do a todos os elementos. Refiro-me em particular a aspetos relacionados com o comportamento do fogo e da segurança, que são os que conheço melhor. Temos que distinguir entre o ter recebido a for- mação e o saber aplicá-la nas situações concretas. Não basta ter formação para se tomar as decisões corretas na altura própria,mas é quase certo que,se não se tiver formação, dificilmente se fazem as escolhas adequadas. Tenho insistido neste ponto porque temos visto casos em que nos parece haver uma falta de conhecimentos ele- mentares na avaliação das situações que deram origem a acidentes no passado. É isto que queremos evitar, dando a conhecer as lições que retiramos dos casos anteriores.