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A hora de ensinar
ortografia
Ensinar ortografia é essencial desde as primeiras
séries. Você só precisa saber quando e como. E
conhecer bem as regras, claro
Paulo Araújo (novaescola@atleitor.com.br)
Compartilhe
Envie por email Imprima
Há vários motivos para você ensinar seus alunos a escrever de forma
correta. Além de estimular o aprendizado da língua oficial do país, o
conhecimento das normas ortográficas ajuda a garotada a superar o
medo de se expressar por escrito e, diferentemente do que muitos
acreditam, não afeta em nada a criatividade. Ao contrário. No momento
em que dominam as palavras com segurança, as crianças não precisam
parar a toda hora para verificar a grafia e podem voltar toda a atenção
para o desenvolvimento da história. E isso vale desde as primeiros anos
do Ensino Fundamental. Não perca tempo!
Leia mais sobre produção de texto
Os primeiros passos
O ensino da ortografia deve ter início assim que o estudante começa a
entender o sistema de escrita alfabética - de preferência ainda na 1ª
série. Isto é, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder
ler e escrever pequenos textos.
Segundo o professor Artur Gomes de Morais, do Centro de Educação da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é preciso deixar bem
claro para os alunos que todas as regras ortográficas são fruto de uma
convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo
objetivo é padronizar a escrita - e que, no mundo em que vivemos, quem
não domina essa convenção é discriminado. "Por isso, não deixe a
criança acreditar que vai aprender ‘na hora certa’. Desde os primeiros
momentos é papel do professor ajudá-la a refletir sobre os erros
ortográficos", afirma. "Só assim ela internaliza as regras, que, por serem
aparentemente complexas, vão desafiá-la por toda a vida."
Morais alerta também para o fato de que o domínio da escrita alfabética
nem sempre é homogêneo em cada sala de aula e que o número de
erros num texto nunca deve ser usado como parâmetro de avaliação.
Durante a última década, o professor pernambucano pesquisou o tema
em escolas espanholas e brasileiras sob a orientação da educadora
argentina Ana Teberosky e percebeu que explorava um terreno árido em
que coexistem falsas crenças, dúvidas, sentimentos de insegurança - e
muito autoritarismo -, tanto por parte de quem ensina a língua escrita
como de quem precisa usá-la na escola e fora dela. "Quem não cria
oportunidades de reflexão sobre as dificuldades ortográficas do idioma
não pode nunca exigir que o aluno escreva certo", ensina Morais em
seus livros de formação.
Refletir sobre a escrita
Estudo realizado há cinco anos em Pernambuco sob a orientação da
professora Lucia Lins Browne Rego e da psicóloga Lair Levi Buarque, do
Departamento de Psicologia da UFPE, detectou algumas fontes de
dificuldade na aprendizagem de regras ortográficas. No trabalho, 79
crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares do
Recife escreveram um ditado de palavras reais e inventadas, no meio de
frases, que exigiam o uso de r, rr, ç, s e outras letras consideradas
difíceis. O aluno recebia um papel com frases incompletas. Os
examinadores liam cada uma, ditavam as palavras faltantes e explicavam
caso a caso as irregularidades que porventura as crianças
encontrassem.
Quando comparadas com crianças que não tinham sido expostas a esse
tipo de intervenção (escrever refletindo sobre a grafia das palavras), as
pesquisadas demonstraram ampla superioridade no entendimento das
regras. "O desafio maior do professor é elaborar situações didáticas que
permitam à turma compreender as conexões entre a língua e a
ortografia", aconselha Lucia. "Com alguma criatividade, é possível
transformar esse ‘patinho feio’ que sempre foi a ortografia numa atividade
prazerosa."
Os especialistas falam
"A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que a
criança domina com a mera exposição à língua escrita, pois
nem sempre o universo de palavras a que ela tem acesso
permite abstrair os princípios da norma adequadamente"
Lucia Lins Browne Rego, professora de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal de Pernambuco.
"Assim como não se espera que um indivíduo descubra
sozinho as leis de trânsito - outro tipo de convenção social
-, não há por que esperar que os alunos das nossas
escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as
palavras"
Artur Gomes de Morais, professor de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros didáticos
"Pesquisas mostram que, no desbravamento do campo da
ortografia, as crianças empregam todos os meios que
estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento. O
professor deve acompanhar de perto esse processo"
Paulo Francisco Slomp, professor da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Psicogênese
O professor Paulo Francisco Slomp, do Departamento de Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolve desde 1996 um
trabalho para averiguar se é possível falar em psicogênese (origem e
evolução psíquica) da ortografia nas crianças, se existe um padrão no
modo pelo qual um recém-alfabetizado encara as normas ortográficas e
se há níveis de desenvolvimento cognitivo proporcionais à apropriação
dessas normas.
"Uma forma muito comum de enfrentar uma dúvida na hora de escrever é
não solucioná-la, substituindo a palavra que nos é difícil por um
sinônimo", exemplifica Slomp. "Com isso, o problema imediato se
resolve, mas chega um momento em que essa saída não é mais
possível." Ele também lembra um hábito quase natural de decidir a grafia
de certas palavras apresentando duas versões (pretenciosa/pretensiosa,
por exemplo) para chamar a atenção para o contraste e obter, de
memória, a grafia correta. "Desconheço a origem desse método de
resolução, mas acredito que ele não provém de nenhuma teoria clássica
sobre o conhecimento", relativiza Slomp, levantando uma questão para
ser pensada por todo professor.
Teoria
A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa
exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos
mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos.
Regulares — São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever,
mesmo sem conhecê-las, porque existe um "princípio gerativo", regra
que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As
correspondências regulares podem ser de três tipos:
Diretas — Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato,
bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a
criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da
pronúncia.
Contextuais — A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo
de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função
do som da letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no
início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de
consoante (genro). Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre
vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando
queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de "brando",
usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por
que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade.
Morfológico-gramaticais — Nesse caso são os aspectos ligados à
categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na
qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a
pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto
substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza,
de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas
(partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam
a família gramatical.
Irregulares — Não há regras que ajudem o estudante a escrever
corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao
dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita:
• do som do s (seguro, cidade, auxílio);
• do som do j (girafa, jiló);
• do som do z (zebu, casa);
• do som do x (enxada, enchente);
• o emprego do h inicial (hora, harpa);
• a disputa entre e, i , o e u em sílabas átonas que não estão no final de
palavras (seguro, tamborim);
• ditongos que têm pronúncia "reduzida" (caixa, madeira, vassoura etc.).
Texto adaptado do livro Ortografia: Ensinar e Aprender, de Artur Gomes
de Morais
A língua é viva, muda sempre
A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos,
línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso
da nossa língua — o português —, as normas de escrita das palavras,
tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm
sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de
1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia",
"architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os
acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como
"sòmente" e "fàcilmente".

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  • 1. A hora de ensinar ortografia Ensinar ortografia é essencial desde as primeiras séries. Você só precisa saber quando e como. E conhecer bem as regras, claro Paulo Araújo (novaescola@atleitor.com.br) Compartilhe Envie por email Imprima Há vários motivos para você ensinar seus alunos a escrever de forma correta. Além de estimular o aprendizado da língua oficial do país, o conhecimento das normas ortográficas ajuda a garotada a superar o medo de se expressar por escrito e, diferentemente do que muitos acreditam, não afeta em nada a criatividade. Ao contrário. No momento em que dominam as palavras com segurança, as crianças não precisam parar a toda hora para verificar a grafia e podem voltar toda a atenção para o desenvolvimento da história. E isso vale desde as primeiros anos do Ensino Fundamental. Não perca tempo! Leia mais sobre produção de texto Os primeiros passos O ensino da ortografia deve ter início assim que o estudante começa a entender o sistema de escrita alfabética - de preferência ainda na 1ª série. Isto é, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder ler e escrever pequenos textos.
  • 2. Segundo o professor Artur Gomes de Morais, do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é preciso deixar bem claro para os alunos que todas as regras ortográficas são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita - e que, no mundo em que vivemos, quem não domina essa convenção é discriminado. "Por isso, não deixe a criança acreditar que vai aprender ‘na hora certa’. Desde os primeiros momentos é papel do professor ajudá-la a refletir sobre os erros ortográficos", afirma. "Só assim ela internaliza as regras, que, por serem aparentemente complexas, vão desafiá-la por toda a vida." Morais alerta também para o fato de que o domínio da escrita alfabética nem sempre é homogêneo em cada sala de aula e que o número de erros num texto nunca deve ser usado como parâmetro de avaliação. Durante a última década, o professor pernambucano pesquisou o tema em escolas espanholas e brasileiras sob a orientação da educadora argentina Ana Teberosky e percebeu que explorava um terreno árido em que coexistem falsas crenças, dúvidas, sentimentos de insegurança - e muito autoritarismo -, tanto por parte de quem ensina a língua escrita como de quem precisa usá-la na escola e fora dela. "Quem não cria oportunidades de reflexão sobre as dificuldades ortográficas do idioma não pode nunca exigir que o aluno escreva certo", ensina Morais em seus livros de formação. Refletir sobre a escrita Estudo realizado há cinco anos em Pernambuco sob a orientação da professora Lucia Lins Browne Rego e da psicóloga Lair Levi Buarque, do Departamento de Psicologia da UFPE, detectou algumas fontes de dificuldade na aprendizagem de regras ortográficas. No trabalho, 79 crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares do Recife escreveram um ditado de palavras reais e inventadas, no meio de frases, que exigiam o uso de r, rr, ç, s e outras letras consideradas difíceis. O aluno recebia um papel com frases incompletas. Os
  • 3. examinadores liam cada uma, ditavam as palavras faltantes e explicavam caso a caso as irregularidades que porventura as crianças encontrassem. Quando comparadas com crianças que não tinham sido expostas a esse tipo de intervenção (escrever refletindo sobre a grafia das palavras), as pesquisadas demonstraram ampla superioridade no entendimento das regras. "O desafio maior do professor é elaborar situações didáticas que permitam à turma compreender as conexões entre a língua e a ortografia", aconselha Lucia. "Com alguma criatividade, é possível transformar esse ‘patinho feio’ que sempre foi a ortografia numa atividade prazerosa." Os especialistas falam "A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que a criança domina com a mera exposição à língua escrita, pois nem sempre o universo de palavras a que ela tem acesso permite abstrair os princípios da norma adequadamente" Lucia Lins Browne Rego, professora de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco. "Assim como não se espera que um indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito - outro tipo de convenção social -, não há por que esperar que os alunos das nossas escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as palavras" Artur Gomes de Morais, professor de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros didáticos "Pesquisas mostram que, no desbravamento do campo da ortografia, as crianças empregam todos os meios que estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento. O professor deve acompanhar de perto esse processo"
  • 4. Paulo Francisco Slomp, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Psicogênese O professor Paulo Francisco Slomp, do Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolve desde 1996 um trabalho para averiguar se é possível falar em psicogênese (origem e evolução psíquica) da ortografia nas crianças, se existe um padrão no modo pelo qual um recém-alfabetizado encara as normas ortográficas e se há níveis de desenvolvimento cognitivo proporcionais à apropriação dessas normas. "Uma forma muito comum de enfrentar uma dúvida na hora de escrever é não solucioná-la, substituindo a palavra que nos é difícil por um sinônimo", exemplifica Slomp. "Com isso, o problema imediato se resolve, mas chega um momento em que essa saída não é mais possível." Ele também lembra um hábito quase natural de decidir a grafia de certas palavras apresentando duas versões (pretenciosa/pretensiosa, por exemplo) para chamar a atenção para o contraste e obter, de memória, a grafia correta. "Desconheço a origem desse método de resolução, mas acredito que ele não provém de nenhuma teoria clássica sobre o conhecimento", relativiza Slomp, levantando uma questão para ser pensada por todo professor. Teoria A convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos. Regulares — São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um "princípio gerativo", regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As correspondências regulares podem ser de três tipos:
  • 5. Diretas — Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia. Contextuais — A "disputa" entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da letra. Por exemplo: para o som do "r forte", usamos r tanto no início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de consoante (genro). Quando o mesmo som de "r forte" aparece entre vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de "brando", usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade. Morfológico-gramaticais — Nesse caso são os aspectos ligados à categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical. Irregulares — Não há regras que ajudem o estudante a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita: • do som do s (seguro, cidade, auxílio); • do som do j (girafa, jiló); • do som do z (zebu, casa); • do som do x (enxada, enchente);
  • 6. • o emprego do h inicial (hora, harpa); • a disputa entre e, i , o e u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim); • ditongos que têm pronúncia "reduzida" (caixa, madeira, vassoura etc.). Texto adaptado do livro Ortografia: Ensinar e Aprender, de Artur Gomes de Morais A língua é viva, muda sempre A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos, línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso da nossa língua — o português —, as normas de escrita das palavras, tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de 1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia", "architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como "sòmente" e "fàcilmente".